terça-feira, outubro 23, 2012

O Padre Américo nasceu há 125 anos

 (imagem daqui)

Américo Monteiro de Aguiar, mais conhecido por Padre Américo (Galegos, Penafiel, 23 de outubro de 1887 - Porto, 16 de julho de 1956), foi um importante benfeitor português que dedicou a sua vida aos mais carenciados, principalmente jovens, que se traduziu em inúmeras realizações, das quais a mais conhecida e relevante é a Casa do Gaiato.

O Padre Américo nasceu a 23 de outubro de 1887 na freguesia de Galegos, Concelho de Penafiel, tendo sido baptizado em 4 de novembro do mesmo ano. Frequentou o Ensino Primário na sua terra natal, transitando, em 1898, para o Colégio do Carmo, em Penafiel, e no ano seguinte para o Colégio de Santa Quitéria, em Felgueiras. Terminado o liceu, em 1902, emprega-se, no Porto, numa loja de ferragens.
Em 1906, parte para Moçambique, estabelecendo-se em Chinde, onde trabalha na companhia The British Central Africa e na African Lakes, como despachante. Por essa altura trava conhecimento com o padre Rafael Maria da Assunção, que mais tarde siria nomeado Bispo de Cabo Verde.
Regressado a Penafiel, em 1923, contacta o pároco local de quem tinha sido companheiro de infância e comunica-lhe o desejo de entrar para um convento franciscano, dando como única explicação a frase "é uma martelada!". Dois meses depois entra no Convento de Santo António de Vilariño, em Tui (Espanha), onde permanece durante 9 meses como postulante, a estudar latim e ciências e mais um ano, depois da tomada do hábito.
As dificuldades em se adaptar à vida monástica conduzem à sua saída em Julho de 1925, mas tenta ingressar no seminário diocesano do Porto, mas o Bispo, D. António Barbosa Leão, não dá seguimento ao seu requerimento. Contacta então o Bispo de Coimbra, D. Manuel Luís Coelho da Silva, que o aceita.
Depois de se formar em Teologia no Seminário de Coimbra, foi nomeado Perfeito do Seminário e professor de Português. É igualmente capelão em Casais do Campo, freguesia de São Martinho do Bispo e designado pároco de São Paulo de Frades, não chegando a tomar posse, incapacitado por um esgotamento.
É quando D. Manuel Luís Coelho da Silva, Bispo de Coimbra, lhe entrega a Sopa dos Pobres, em 1932 que começa a revelar a sua verdadeira vocação. A partir daí não mais parou.
Em agosto de 1935 inicia as Colónias de Férias do Garoto da Baixa em Coimbra, estágio embrionário do que viria a ser posteriormente a Casa do Gaiato. Seguem-se Vila Nova do Ceira e Miranda do Corvo. A 7 de janeiro de 1940, finalmente, o Padre da Rua funda a primeira Casa do Gaiato no lugar de Bujos, em Miranda do Corvo. A segunda Casa do Gaiato, no mosteiro beneditino de Paço de Sousa, seria o local escolhido, para o surgimento da Aldeia do Gaiato para acolhimento e alojamento de jovens a que se seguiria o Lar do Gaiato, no Porto. No mesmo âmbito e sob o lema «cada freguesia cuide dos seus pobres» é o projecto de construção das primeiras casas do património dos pobres, também em Paço de Sousa, em fevereiro de 1951.
A Obra da Rua é consagrada ao Santíssimo Nome de Jesus, e o seu ex-líbris é o Quim Mau, o garoto de braços abertos que pede o amor do próximo.
A 1 de janeiro de 1941 abre o lar do Ex-Pupilo das Tutorias e dos Reformatórios, na Rua da Trindade, em Coimbra, instituição que será entregue aos Serviços Jurisdicionais de Menores em 1950; em junho do mesmo ano, publica o primeiro volume do Pão dos Pobres.
Em 1942, publica Obra da Rua.
A 5 de março de 1944 aparece o primeiro número do jornal O Gaiato, quinzenário da Obra da Rua, de que é fundador e director.
A 4 de janeiro de 1948 seria inaugurada a Casa do Gaiato de Lisboa, situada na quinta da Mitra, em Santo Antão do Tojal, em Loures.
Em 1950, saem a público o opúsculo Do Fundamento da Obra da Rua e do Teor dos seus Obreiros e o primeiro volume do livro Isto é a Casa do Gaiato.
Em 1952, viagem a África; publica um novo livro, O Barredo, a que se seguem, em 1954, Ovo de Colombo e Viagens, no ano em que toma posse da quinta da Torre, em Beire, freguesia de Paredes, para a instalação de uma Casa do Gaiato e do Calvário, para o abrigo de doentes incuráveis.
A 1 de julho de 1955, abre a Casa do Gaiato de Setúbal, em Algeruz.
Em 1956, morre vitima de acidente de viação. O seu processo de glorificação canónica teve início em 1986.

Michael Crichton nasceu há 70 anos

John Michael Crichton (Chicago, 23 de outubro de 1942 - Los Angeles, 4 de novembro de 2008) foi um escritor, produtor de filmes e de televisão norteamericano. O seus trabalhos mais conhecidos são novelas de ficção científica, dentre os quais, a sua obra mais conhecida, Parque Jurássico, adaptado para o cinema por Steven Spielberg com o título Jurassic Park, e a série de televisão ER.
Michael Crichton também dirigiu e/ou produziu vários filmes e programas de televisão. Entre outros, Crichton dirigiu o filme Coma, adaptado de uma novela de Robin Cook.
O seu género literário pode ser descrito como techno-thriller, que é, geralmente, a união de ação e de detalhes técnicos. Muitas das suas novelas têm termos médicos ou científicos, refletindo os seus conhecimentos médicos e científicos - Crichton era licenciado em Medicina pela Harvard Medical School.
Crichton morreu em 4 de novembro de 2008, aos 66 anos, por causa de um cancro.

segunda-feira, outubro 22, 2012

O Instituto de Meteorologia descobriu hoje que ouve, há 4 dias, um sismo no Faial...

Recebemos hoje, às 17.11 horas, via e-mail, do Instituto de Meteorologia (IM) a seguinte informação sobre o sismo no Faial e sobre o qual nós aqui publicámos um post há 3 dias:

O Instituto de Meteorologia informa que no dia 18.10.2012 pelas 13.43 (hora local) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 3.1 (Richter) e cujo epicentro se localizou próximo de Matriz (Faial). 

De acordo com a informação disponível, este sismo foi sentido, devendo em breve ser emitido novo comunicado com informação instrumental e macrossísmica actualizada. 

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados. 

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IM na Internet (www.meteo.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).

NOTA: o IM dá um valor de magnitude superior ao determinado pelo SIVISA/CVARG e não fala da sua intensidade...

O Processo do Sismo de L'Aquila visto pelo jornal espanhol El País

E os professores bambos lá do sítio ficam cá fora...?!? (parte dois)

Sismo causou a morte de 309 pessoas em 2009
Seis cientistas condenados a seis anos de prisão por subestimarem riscos do terramoto de Áquila

A acusação sublinhou que Bernardo De Barnardinis, na foto, disse aos jornalistas que a actividade sísmica na região não representava “qualquer perigo”

Um tribunal italiano condenou nesta segunda-feira a seis anos de prisão seis cientistas e um antigo responsável governamental por homicídio involuntário, depois de ter considerado que subestimaram os riscos relativos ao terramoto em Áquila, que causou a morte de 309 pessoas. 

O terramoto de 6,3 de magnitude ocorreu a 6 de abril de 2009 e devastou a cidade italiana de Áquila. Os seis cientistas especialistas em sismos e o subdirector da protecção civil, Bernardo De Barnardinis, foram depois acusados de desvalorizar os riscos. A acusação pediu que fossem condenados a quatro anos de prisão, mas o Tribunal de Abruzzes, em Itália, anunciou hoje uma sentença de seis anos de prisão.

A defesa alegou que não haveria forma de prever um terramoto daquela dimensão, mas a acusação defendeu que os sete membros da Comissão Nacional para a Previsão e Prevenção de Grandes Riscos não informaram a população sobre a possibilidade de um terramoto para que esta pudesse proteger-se.

Os seis cientistas e o antigo responsável da protecção civil foram acusados de ter fornecido informação “incompleta e contraditória” sobre os perigos relativos aos abalos que se sentiram antes do sismo de 6 de abril, segundo a imprensa italiana. Este caso inédito alarmou a comunidade científica e levou cerca de 5000 cientistas a assinar uma carta aberta ao Presidente italiano, Giorgio Napolitano, em defesa dos acusados.

“Estou desencorajado, desesperado. Pensei que seria absolvido e não compreendo de todo de que sou acusado”, disse um dos cientistas, Enzo Boschi, que até há pouco tempo era presidente do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia italiano. “Este julgamento é injusto, iremos apresentar recurso”, adiantou à saída do tribunal Alessandra Stefano, advogada de um dos condenados, Gian Michel Calvi.

A acusação, por outro lado, congratulou-se com o que considerou ser “uma sentença histórica, antes de mais para as vítimas”. Wanie della Vigna, advogada representante 11 partes civis que participaram na acusação, entre elas a família de um estudante israelita que morreu na sequência no terramoto, considerou, citada pela AFP, que esta sentença “é um passo em frente para o sistema judicial e conduzirá certamente a mudanças, não só em Itália como no mundo inteiro”.

Na sala de audiências, onde o juiz Marco Billi leu a sentença durante quase quatro horas, estiveram presentes vários familiares de vítimas, como Aldo Scimia, que perdeu a mãe no terramoto e agora disse à AFP: “Continuo a dizer que isto foi um massacre cometido pelo Estado, mas pelo menos espero que os nossos filhos possam ter vidas mais seguras.”

A acusação sublinhou que Bernardo De Barnardinis chegou a dizer aos jornalistas que a actividade sísmica que se registava na região não representava “qualquer perigo”. A comissão para a prevenção de risco reuniu-se poucos dias antes do terramoto, a 31 de março de 2009, para avaliar a actividade sísmica nos meses anteriores e dar indicações às autoridades locais sobre eventuais medidas a adoptar, tendo sublinhado a impossibilidade de prever um sismo mais forte e a necessidade de respeitar medidas anti-sísmicas relacionadas com a construção de edifícios.

in Público - ler notícia

NOTA: a partir de agora, em Itália, se um médico falhar no diagnóstico, poderá ser preso - esperemos que a medida se aplique também aos políticos que não ouvem os geólogos quando estes referem problemas geológicos de certas regiões ou aos astrólogos, quiromantes e afins...

E os professores bambos lá do sítio ficam cá fora...?!?

Tragédia causou a morte a mais de 300 pessoas
Seis anos de prisão por não terem previsto sismo

O sismo destruiu edifícios e monumentos históricos e causou a morte a mais de 300 pessoas na cidade de L'Aquila

Seis cientistas italianos e um ex-responsável governamental, acusados de subestimar os riscos antes do mortífero sismo de L’Aquila, em 2009, foram esta segunda-feira condenados a seis anos de prisão por homicídio por negligência.

No final de setembro, a procuradoria tinha pedido quatro anos de cadeia para a comissão italiana de “grandes riscos”, que, se reuniu a 31 de março de 2009, apenas seis dias antes do sismo que vitimou mais de 300 pessoas.
A Justiça considerou que os acusados não informaram a população do risco que corria de modo a tomar medidas de precaução.
Entre os sete acusados estão grandes figuras da ciência em Itália, como o professor Enzo Boschi, que até há pouco tempo presidiu ao Instituto Nacional de Geofísica, e o professor de Física Claudio Eva.
Mais de 400 sismos abalaram a região durante quatro meses, mas as autoridades não tomaram medidas específicas para alertar a população.

in CM - ler notícia

NOTA: há algo de estranho nesta notícia e nesta sentença - pois não se pode (ainda...) prever sismos. Se foi por outro motivo, seria preciso que o clarificassem na notícia, pois quem prevê sismos são os astrólogos e outros charlatães (e quando erram não vão para a prisão).



Georges Brassens nasceu há 91 anos

Georges-Charles Brassens (Sète, 22 de outubro de 1921 - Saint-Gély-du-Fesc, 29 de outubro de 1981) foi um autor de canções, compositor e cantor francês simpatizante e entusiasta do anarquismo.

A I Dinastia terminou, com a morte de El-Rei D. Fernando I, há 629 anos

D. Fernando I de Portugal, nono rei de Portugal, (Lisboa, 31 de outubro de 1345 - 22 de outubro de 1383). Era filho do rei D. Pedro I de Portugal e sua mulher, a princesa D. Constança de Castela. D. Fernando sucedeu a seu pai em 1367. Foi cognominado O Formoso ou O Belo (pela beleza física que inúmeras fontes atestam) e, alternativamente, como O Inconsciente ou O Inconstante (devido à sua desastrosa política externa que ditou três guerras com a vizinha Castela, e até o perigo, após a sua morte, de o trono recair em mãos estrangeiras). Com apoio da nobreza local, descontente com a coroa castelhana, Dom Fernando chegou a ser aclamado Rei em diversas cidades importantes de Norte a Sul da Galiza.

O início do reinado de D. Fernando foi marcado pela política externa. Quando D. Pedro I de Castela (1350-1369) morreu sem deixar herdeiros masculinos, D. Fernando, como bisneto de D. Sancho IV de Castela, por via feminina, declara-se herdeiro do trono. Outros interessados eram os reis de Aragão e Navarra, bem como o duque de Lencastre casado com D. Constança, a filha mais velha de D. Pedro de Castela. Entretanto D. Henrique da Trastâmara, irmão bastardo de Pedro, havia-se declarado rei. Depois de duas campanhas militares sem sucesso, as partes aceitam a intervenção do Papa Gregório XI. Entre os pontos assentes no tratado de 1371, D. Fernando é prometido a D. Leonor de Castela, mas antes que o casamento pudesse ser concretizado, o rei apaixona-se por D. Leonor Teles de Menezes, mulher de um dos seus cortesãos. Após a rápida anulação do primeiro casamento de D. Leonor, D. Fernando casa com ela, publicamente, a 15 de Maio de 1372 no Mosteiro de Leça do Balio. Este acto valeu-lhe forte contestação interna, mas não provocou reacção em D. Henrique de Castela, que prontamente promete a filha a Carlos III de Navarra.
Após a paz com Castela, dedicou-se D. Fernando à administração do reino, mandou reparar muitos castelos e construir outros, e ordenou a construção de novas muralhas em redor de Lisboa e do Porto. Com vista ao desenvolvimento da agricultura promulgou a Lei das Sesmarias. Por esta lei impedia-se o pousio nas terras susceptíveis de aproveitamento e procurava-se aumentar o número de braços dedicados à agricultura.
Durante o reinado de D. Fernando alargaram-se, também, as relações mercantis com o estrangeiro, relatando Fernão Lopes a presença em Lisboa de numerosos mercadores de diversas nacionalidades. O desenvolvimento da marinha foi, por tudo isto, muito apoiado, tendo o rei tomado várias medidas dignas de nota, tais como: autorização do corte de madeiras nas matas reais para a construção de navios a partir de certa tonelagem; isenção total de direitos sobre a importação de ferragens e apetrechos para navios; isenção total de direitos sobre a aquisição de navios já feitos; etc. Muito importante, sem qualquer dúvida, foi a criação da Companhia das Naus, na qual todos os navios tinham que ser registados, pagando uma percentagem dos lucros de cada viagem para a caixa comum. Serviam depois estes fundos para pagar os prejuízos dos navios que se afundassem ou sofressem avarias.
A partir do casamento, D. Leonor Teles tornara-se cada vez mais influente junto do rei, manobrando a sua intervenção política nas relações exteriores, e ao mesmo tempo cada vez mais impopular. Aparentemente, D. Fernando mostra-se incapaz de manter uma governação forte e o ambiente político interno ressente-se disso, com intrigas constantes na corte. Em 1382, no fim da guerra com Castela, estipula-se que a única filha legítima de D. Fernando, D. Beatriz de Portugal, case com o rei D. João I de Castela. Esta opção significava uma anexação de Portugal e não foi bem recebida pela classe média e parte da nobreza portuguesa.
Quando D. Fernando morre em 1383, a linha da dinastia de Borgonha chega ao fim. D. Leonor Teles é nomeada regente em nome da filha e de D. João de Castela, mas a transição não será pacífica. Respondendo aos apelos de grande parte dos Portugueses para manter o país independente, D. João, mestre de Aviz e irmão bastardo de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado foi a crise de 1383-1385, um período de interregno, onde o caos político e social dominou. D. João tornou-se no primeiro rei da Dinastia de Aviz em 1385.
Os restos mortais de D. Fernando estiveram no Convento de São Francisco, em Santarém. Depois, foram transladados para o Convento do Carmo, em Lisboa, onde se encontram actualmente.

El-Rei D. João V nasceu há 323 anos

D. João V de Portugal (nome completo: João Francisco António José Bento Bernardo de Bragança; 22 de outubro de 1689 - 31 de julho de 1750), foi Rei de Portugal desde 1 de janeiro de 1707 até à sua morte.

Era filho de Pedro II e de Maria Sofia, condessa palatina de Neuburgo (1666-1699). Recebeu os cognomes de O Magnânimo ou O Rei-Sol Português, em virtude do luxo de que se revestiu o seu reinado; alguns historiadores recordam-no também como O Freirático, devido à sua conhecida apetência sexual por freiras (de algumas das quais chegou inclusivamente a gerar diversos filhos - como a Madre Paula, mãe de Gaspar de Bragança, um dos Meninos de Palhavã).
Nasceu em Lisboa, no Palácio da Ribeira, em 22 de outubro de 1689 e morreu em Lisboa em 31 de julho de 1750, estando sepultado em São Vicente de Fora. Foi jurado príncipe herdeiro em 1 de dezembro de 1697 e tornou-se o 24º Rei de Portugal em 9 de dezembro de 1706. Morto seu irmão mais velho, do mesmo nome, em 30 de agosto de 1688, tinha apenas um mês de vida quando foi proclamado Príncipe Herdeiro em ato solene na presença da Corte, e por morte de seu pai, em Dezembro de 1706, subiu ao Trono, solenemente aclamado no dia 1 de janeiro de 1707.
 
(...)
 
Quando iniciou o Reinado, estava-se em plena Guerra da Sucessão de Espanha, que para Portugal significava o perigo da ligação da Espanha à grande potência continental, a França. Quando o Rei subiu ao trono o exército português estava na Catalunha, comandado pelo Marquês das Minas, apoiado por tropas inglesas e holandesas para dar batalha às tropas do duque de Berwick. Mas os franco-espanhóis obtiveram uma grande vitória em Almansa, em 24 de abril de 1707. Alcântara foi reconquistada, o Duque de Ossuna atacou a fronteira do Alentejo, conquistou Serpa e Moura. O perigo espreitava o alto Minho e o tesouro público ficou exausto, diz Veríssimo Serrão, página 238 «História de Portugal 1640-1750», volume V. A política régia tornou-se apenas defensiva, recuperando as praças ocupadas e devolvendo à Espanha Alcântara e Valença. «A ânsia de paz era grande nos dois reinos» e havia dissensões de alto nível entre os comandantes, o marquês de Fronteira, general do Alentejo, e o inglês Galloway. Mas como Luís XIV de França se recusava a assinar a paz em desfavor do neto, a guerra permanecia ateada em Flandres e na Catalunha até que a França propôs um novo encontro para acabar com o conflito.
A subida ao trono austríaco do antigo pretendente ao Trono Espanhol como Imperador Carlos VI da Germânia, ao morrer seu irmão o Imperador José I em 17 de abril de 1711, facilitou a paz assinada em Utreque, em 1714. Desequilibrou-se o sistema de alianças, pois à Inglaterra não convinha que seu aliado tivesse um duplo trono. Os ingleses preferiram aceitar o predomínio dos Bourbons no trono espanhol ao dos Habsburgos.
Na cidade flamenga de Utreque ou Utrecht, juntaram-se os ministros dos dois blocos. Portugal assinou um tratado com a França em 11 de abril de 1713 e com a Espanha a 6 de fevereiro de 1715. Comentam cronistas lusos que «Portugal não retirou da paz as merecidas compensações». O Conde de Tarouca escreveu mesmo que «a Inglaterra só cuida da sua paz, sem consideração alguma aos interesses dos mais aliados.» Portugal restituiu Puebla e Albuquerque à Espanha, viu reconhecida sua soberania sobre as terras amazónicas e a restituição da colónia do Sacramento.
Aprendeu D. João V com a guerra a não dar um apreço muito grande às questões europeias e à sinceridade dos acordos; daí em diante permaneceu fiel a seus interesses atlânticos, comerciais e políticos, reafirmando a aliança com a Inglaterra. Em relação ao Brasil, que foi sem dúvida a sua principal preocupação, não pode impedir D. João V o enorme afluxo de emigrantes, pois se havia descoberto ouro nas Minas. Ampliou os quadros administrativos, militares e técnicos, tudo com vistas a evitar o descaminho dos quintos, o imposto sobre o ouro, reformou os impostos e ampliou a cultura do açúcar. Pode escrever-lhe o Duque de Cadaval, quando procurou - e conseguiu - impedir a projetada viagem do Monarca pelo continente, com medo de uma sublevação no Brasil: «...pois do Brazil depende hoje absolutamente muita parte da conservação de Portugal.» (Veríssimo Serrão, «História de Portugal», volume V, página 247. Apesar disso, Portugal entra numa fase de dificuldades económicas, devidas ao contrabando do ouro e às dificuldades do Império do Oriente.
A este estado de coisas procurou o Rei responder com o fomento industrial, mas outros problemas surgiram, de carácter social: insubordinação de nobres, quebras de disciplina conventual, conflitos de trabalho, intensificação do ódio ao judeu. Por outro lado, o facto da máquina administrativa e política do absolutismo não estar de maneira nenhuma preparada para a complexidade crescente da vida da nação, só veio agravar as dificuldades citadas.
Em 1715, aceitando convite do Papa Clemente XI, fez armar uma frota para defender Corfu. Foi comandada por Lopo Furtado de Mendonça, Conde do Rio Grande. Tal socorro foi impedido pelos ventos de chegar a tempo, voltando a entrar na barra do Tejo. Obteve porém grande vitória no ano seguinte no cabo de Matapão. A criação da Basílica Patriarcal, em Lisboa, em 1717, se deve muito a tal êxito. Roma, aliás, sempre foi para D. João V o verdadeiro fiel da balança europeia, Portugal sendo um país em que Estado e Igreja continuavam a ser um bloco homogéneo. Houve conflito em 1720, melhorado em 1730 com a eleição de Clemente XII e o reatamento diplomático. Em 1747 D. João V alcançou grande vitória ao lhe ser concedido o título de «Fidelíssimo» pela Cúria.
As relações com a Espanha correram muito bem, graças sobretudo à atuação de D. Luís da Cunha, grande diplomata, embaixador em 1719 e 1720. Desde 1725 a diplomacia espanhola viu em D. José, príncipe do Brasil, herdeiro da coroa, o noivo ideal para a Infanta Maria Ana Vitória, filha de Filipe V. A aliança foi transformada em consórcio duplo, oferecendo-se a Infanta portuguesa D. Maria Bárbara de Bragança como esposa de D. Fernando, Príncipe das Astúrias. Criaram-se portanto condições excepcionais para a unidade peninsular. A troca das Princesas ocorreu em Caia, em 19 de janeiro de 1729.
Corriam também perfeitas as relações com a Inglaterra, pois «era na força marítima dos ingleses que Portugal encontrava apoio contra a ambição continental franco-espanhola». «Londres foi para nossa diplomacia», diz Veríssimo Serrão, «o terreno ideal para rebater as pretensões francesas aos territórios do Amazonas e do Maranhão». Como enviado português a Londres surge aliás, em 1739, o Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo.

Culturalmente, o reinado de D. João V tem aspectos de interesse. O barroco manifesta-se na arquitectura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria, com grande riqueza. No campo filosófico surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar e, no campo literário, António José da Silva.
Foi fundada a Real Academia portuguesa de História e a ópera italiana introduzida em Portugal.
O nome do Rei está ligado ao do Aqueduto das Águas Livres, para o regular abastecimento de água de Lisboa, que trouxe água de Belas. Teve início em 1731 mas só mostraria sua completa imagem sob D. José I de Portugal. Assim como, foi responsável pela construção do Real Convento de Mafra Palácio Nacional de Mafra. Tornou-se no mais importante monumento do barroco português, cujo os projectos e direcção da obra couberam a João Frederico Ludovice, ourives alemão, com formação de arquitectura em Itália. As obras iniciaram-se em 1717. A 22 de outubro de 1730, dia do 41º aniversário do Rei, procedeu-se à sagração da Basílica.

Sempre teve saúde delicada, tendo mesmo em 1709 sangrado devido a uns caroços no pescoço. Em 1711 convalesceu de uma queixa de flatos. Em 1716 foi restabelecer-se em Vila Viçosa de doença de cariz melancólico. No dia 10 de maio de 1742, porém, teve um forte ataque que uma testemunha descreveu assim: «um estupor o privou dos sentidos e ficou teso de toda a parte esquerda, com a boca à banda.» Melhorou porém, com o passar dos dias, foi mesmo aos banhos nas Caldas e ao Santuário da Nazaré. Voltou ao governo, mas já era um homem diminuído.
Nessa altura, subiu ao poder Alexandre de Gusmão, nascido em Santos, no Brasil, em 1695, a grande figura revelada nos anos finais de seu governo, ligado ao último grande tratado internacional de D. João, o Tratado de Madrid assinado em 13 de janeiro de 1750. Obteve para Portugal o reconhecimento europeu da realidade das fronteiras do Brasil, pois o uti possidetis e não Tordesilhas traçavam as linhas, a ação dos bandeirantes era mais forte do que as linhas do século XV. Restabeleceu-se o princípio do equilíbrio geográfico, ficando para Portugal a bacia fluvial do Amazonas e à Espanha a do rio da Prata.
O Rei faleceu em 31 de julho de 1750 após quase meio século de governo. Jaz no Panteão dos Braganças, ao lado da esposa, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.


 

Liszt nasceu há 201 anos

Franz Liszt, em húngaro Liszt Ferenc, (Raiding/Doborján, Reino da Hungria, 22 de outubro de 1811 - Bayreuth, 31 de julho de 1886) foi um compositor e pianista húngaro do Romantismo. Liszt foi famoso pela genialidade de sua obra, pelas suas revoluções ao estilo musical da época e por ter elevado o virtuosismo pianístico a níveis nunca antes imaginados. Ainda hoje é considerado um dos maiores pianistas de todos os tempos, em especial pela contribuição que deu ao desenvolvimento da técnica do instrumento.


Cézanne morreu há 106 anos

Auto-retrato com fundo rosa, 1875

Paul Cézanne (Aix-en-Provence, 19 de janeiro de 1839 - 22 de outubro de 1906) foi um pintor pós-impressionista francês, cujo trabalho forneceu as bases da transição das conceções do fazer artístico do século XIX para a arte radicalmente inovadora do século XX. Cézanne pode ser considerado como a ponte entre o impressionismo do final do século XIX e o cubismo do início do século XX. A frase atribuída a Matisse e a Picasso, de que Cézanne "é o pai de todos nós", deve ser levada em conta.
Após uma fase inicial dedicada aos temas dramáticos e grandiloquentes próprios da escola romântica, Paul Cézanne criou um estilo próprio, influenciado por Delacroix. Introduziu nas suas obras distorções formais e alterações de perspectiva em benefício da composição ou para ressaltar o volume e peso dos objetos. Concebeu a cor de um modo sem precedentes, definindo diferentes volumes que foram essenciais para suas composições únicas.
Cézanne não se subordinava às leis da perspectiva, e, sim, as modificava. A sua conceção da composição era arquitetónica; segundo as suas próprias palavras, o seu próprio estilo consistia em ver a natureza segundo as suas formas fundamentais: a esfera, o cilindro e o cone. Cézanne preocupava-se mais com a captação destas formas do que com a representação do ambiente atmosférico. Não é difícil ver nesta atitude uma reação de carácter intelectual contra o gozo puramente colorido do impressionismo.
Sobre ele, Renoir escreveu, rebatendo o crítico de arte Castagnary: Eu enfureço-me ao pensar que ele [Castagnary] não entendeu que Uma Moderna Olympia, de Cézanne, era uma obra prima clássica, mais próxima de Giorgione que de Claude Monet, e que diante dele estava um pintor já fora do Impressionismo.
Cézanne cultivava sobretudo a paisagem e a representação de naturezas mortas, mas também pintou figuras humanas em grupo e retratos. Antes de começar as suas paisagens estudava-as e analisava os seus valores plásticos, reduzindo-as depois a diferentes volumes e planos que traçava à base de pinceladas paralelas. Árvores, casas e demais elementos da paisagem subordinam-se à unidade de composição. As suas paisagens são sutilmente geométricas. Cézanne pintou, sobretudo, a sua Provença natal (O Golfo de Marselha e as célebres versões sucessivas de O Monte de Sainte-Victoire).
Nas suas numerosas naturezas mortas, tipicamente compostas por maçãs, levava a cabo uma exploração formal exaustiva que é a matriz de onde surgirá o cubismo, poucos anos depois. Entre as representações de grupos humanos, são muito apreciadas as suas cinco versões de Os Jogadores de Cartas. A Mulher com Cafeteira, pela sua estrutura monumental e serena, marca o grande momento classicista de Cézanne.

(...)

Após a morte de Cézanne em 1906, as suas pinturas foram exibidas em Paris em uma grande retrospectiva, em setembro de 1907, no Salon D’Automne. A mostra causou um grande impacto nas mentes mais brilhantes da vanguarda parisiense, tornando-o um dos artistas mais influentes do século XIX e o responsável pelo advento do cubismo.
As explorações de simplificação geométrica e dos fenómenos óticos inspiraram Picasso, Braque, Gris e outros, que passaram a experimentar múltiplas visões, mais complexas, de um mesmo objeto chegando, finalmente, à fratura da forma. Cézanne, assim, abriu uma das mais revolucionárias possibilidades de exploração artística no século XX, influenciando profundamente o desenvolvimento da arte moderna.

A Subversão de Vila Franca destruiu a antiga capital dos Açores há 490 anos

(imagem daqui)

Subversão de Vila Franca ou Terramoto de Vila Franca são as designações que na historiografia açoriana tradicionalmente se dá ao grande sismo que na noite de 21 para 22 de outubro de 1522 provocou grandes movimentos de terra e destruição generalizadas das habitações na ilha de São Miguel, em especial em Vila Franca do Campo, então a capital da ilha. O sismo teve epicentro alguns quilómetros a NNW de Vila Franca, atingindo a localidade com intensidade máxima de grau X da Escala Macrossísmica Europeia de 1998, derrubou a maioria dos edifícios e desencadeou movimentos de vertente com origem nas encostas sobranceiras à vila que mobilizaram cerca de 6,75 milhões de metros cúbicos de material que formou um lahar que soterrou as ruínas do povoado. Em consequência estima-se que morreram de 3 000 e 5 000 pessoas na vila, a quase totalidade dos habitantes de então. Para além da destruição causada em Vila Franca do Campo, o terramoto atingiu as povoações vizinhas, com destaque para Ponta Garça, e o norte da ilha, com destaque para a Maia e Porto Formoso, onde também fez centenas de mortos. Um tsunami desencadeado pela entrada no mar do material carreado pelo deslizamento de terras causou a destruição de vários navios que estavam surtos junto ao ilhéu de Vila Franca e algumas dezenas de mortos (centenas segundo algumas crónicas). Gaspar Frutuoso, escrevendo cerca de 70 anos após a ocorrência, recolheu uma completa notícia dos eventos e um romance oral a eles referente.

Os acontecimentos
Ao entre finais do século XV e as primeiras décadas do século XVI o povoado de Vila Franca do Campo foi-se afirmando paulatinamente como a capital da ilha de São Miguel. Elevada à categoria de sede de município em 1472, a vila era fixara as principais instituições civis e religiosas da ilha, sendo o local de residência do capitão do donatário na ilha e por consequência o centro das actividades da poderosa família Gonçalves da Câmara, que mais tarde obteria o título de condes de Vila Franca. A presença da alfândega e o abrigo relativo que o ilhéu de Vila Franca propicia ao seu porto, fez do povoado o local de partida e chegada dos navios que demandavam a ilha.
Sem nunca ter sofrido qualquer calamidade de monta, nem nunca ter experimentado a guerra, Vila Franca do Campo chegou a 1522 próspera e em franco desenvolvimento, fixando na sua malha nascente urbana cerca de 5 000 habitantes, cerca de 25% das 20 000 pessoas que se estima então viverem na ilha de São Miguel.
O povoado instalou-se no litoral da ilha, aproveitando a zona aplanada e de costa baixa que circunda a enseada sita entre a foz da Ribeira da Mãe de Água e a Ribeira Seca. Sobranceiros à vila ficam os contrafortes do maciço de Água de Pau, com dois montes, o Rabaçal e o Louriçal, separados pelo vale da Ribeira da Mãe de Água, a qual providenciava abundante abastecimento à vila. Frente à costa, a pouco mais de 600 m de distância, fica o ilhéu de Vila Franca, que além de fornecer um marco fácil de localizar pelas embarcações que demandavam a ilha, dava algum abrigo ao porto.
Dada a falta de material de onde se pudesse obter cal e a fraca qualidade dos barros da ilha, as construções eram de alvenaria de pedra solta, construída com dupla face e enchimento a cascalho. Apenas as casas mais abastadas e as fachadas principais dos melhores imóveis levavam um reboco em barro, de muito fraca consistência dadas as características dos materiais locais, que depois era caiado. A dificuldade em produzir localmente telha, levava a que apenas as casas mais abastadas e as igrejas tivessem telhado, contentando-se os populares com tectos de colmo recobertos com palha de trigo.
A elevada dureza das rochas basálticas levava a que as pedras fossem pouco aparelhadas, mantendo superfícies arredondadas que fragilizam a alvenaria, a que se juntava o elevado peso das paredes, resultando em construções muito vulneráveis ao derrubamento pela aceleração induzida pelos sismos.
Era esta a vila que assistiu a um calmo anoitecer no dia 21 de Outubro de 1522, quando, de acordo com o Romance de Vila Franca,

Quarto de Lua seria:


Era uma quarta-feira,


Quarta-feira triste dia,


E em a noite mais serena


Que o céu fazer podia,


Inda que corre Levante


Nada d’ele se sentia;


Não corre bafo de vento,


Nem folha d’árvore bolia,


Estrelado estava o céu,


Nuvem não o escurecia.

Aquela calma seria de pouca dura, já que pelas duas da madrugada, tempo local, de acordo com as Saudades da Terra de Gaspar Frutuoso, ... estando o céu estrelado e claro, sem aparecer nuvem alguma, se sentiu em toda a ilha um grandíssimo e espantoso tremor de terra, que durou por espaço de um credo, em que parecia que os elementos, fogo, ar e água, pelejavam no centro dela, fazendo-a dar grandes abalos, com roncos e movimentos horrendos, como ondas de mar furioso, parecendo a todos os moradores da ilha que se virava o centro dela para cima e que o céu caía. E acabando o espaço do credo ou de um pater-noster e ave-maria a todo o mais, e ainda não foi tanto, tornou outra vez a tremer mais brandamente outro tanto. Durante a madrugada e até ao meio-dia do fatídico 22 de outubro, as réplicas foram muitas e rijas.
O grande sismo, que a tecnologia actual permite estimar ter tido epicentro a alguns quilómetros a NNW da vila, na zona do Monte Escuro, e ter nela atingido grau X da EMS-98, desencadeou movimentos de massa generalizados por toda a ilha, provavelmente devido aos solos se encontrarem então saturados de água em resultado de chuvas intensas ocorridas nos dias anteriores. Aliás, os terrenos vulcânicos, em particular os constituídos por materiais piroclásticos de baixa densidade, como são os profundos depósitos pomíticos que constituem as encostas do Maciço de Água de Pau, por estimulação sísmica são em extremo propícios a gerar grandes movimentos de massa, autênticos lahars. Veja-se o que ocorreu na encosta NE da Caldeira do Faial aquando do sismo de Julho de 1998.
Ainda nas palavras de Gaspar Frutuoso, os movimentos de massa foram generalizados e de volume assustador: ... não houve grota nenhuma, assim da parte sul como do nordeste, por onde não corressem ribeiras de lodo. Entre as múltiplas derrocadas verificadas, que também fizeram vítimas noutros lugares da ilha, em especial na Maia, destaca-se a gigantesca avalanche de lodo que desceu das encostas do Monte Rabaçal, seguindo o curso da Ribeira da Mãe de Água e depois espraiando-se sobre toda a vila. Diz Gaspar Frutuoso: ... da ribeira para a parte do oriente, onde estava a vila, tudo foi assolado e os moradores todos quase mortos. Somente da mesma ribeira para o poente, escaparam algumas casas, a maioria delas caídas, onde ficaram vivas até 70 pessoas pouco mais ou menos, as quais todas começaram a dar grandes gritos, chamando por Deus e outros por Santa Maria....
A massa de lodo soterrou o porto e entrou mar adentro, arrastando muita gente consigo e gerando um tsunami que destruiu as embarcações que ali estavam surtas. Ainda nas palavras de Gaspar Frutuoso: ... havia no porto então quatro ou cinco navios abrigados no ilhéu para partirem para Portugal, o que foi causa de morrer mais gente ali onde se ajuntava de toda a ilha para fazer aquela viagem.
Um estudo recente dos depósitos resultantes dos movimentos de vertente de 1522 permite estimar que a escoada de detritos que soterrou Vila Franca teve origem nas cabeceiras da Ribeira da Mãe d’Água, a NW de Vila Franca, ao sul do Pico da Cruz, então o Monte Rabaçal. A partir de uma face de rotura esventrada para SSE libertaram-se cerca de 6,75 milhões de metros cúbicos de detritos que correram ao longo da ribeira, com uma velocidade que hoje se estima ser de 1 a 3 m/s, atingindo em poucos minutos o centro da vila e recobrindo-o completamente. A corrente de alta densidade assim gerada arrasou as construções ainda existentes e carreou tudo o que encontrou, incluindo os infelizes vilafranquenses, até ao mar.
Outra torrente, embora de menor dimensão, gerou-se nas cabeceiras da Ribeira Seca, percorrendo o seu leito e espraiando-se sobre o arrabaldes leste da vila, na zona que corresponde à actual parte ocidental da freguesia de Ribeira Seca.
As consequências foram trágicas: entre 3 000 e 5 000 mortos só na vila, a maior parte dos quais soterrados em lama ou arrastados ao mar pela avalanche. Toda a parte central da vila ficou soterrada e o porto desapareceu sob uma espessa camada de pedra-pomes. Novamente a descrição de Gaspar Frutuoso é eloquente: ... e sendo já dia claro, se ajuntaram algumas pessoas que viviam pelos montes e nas quintas, e os que ficaram vivos no arrabalde, espantados todos dos grandes tremores e estrondos que ouviram; e vendo a vila no estado em que se encontrava, pasmavam. Muitas pessoas de toda a ilha que ali tinham as suas casas, parentes, amigos e conhecidos, mandaram cada um cavar onde lhes soía, uns para tirar os corpos dos mortos, outros para ver se achavam dinheiro e alfaias que tinham em suas casas, outros para fazer o mesmo aos corpos e haveres dos seus parentes e conhecidos. E assim se cavava em muitas partes da vila, e uns achavam mortos pelas ruas e outros em suas casas e leitos, entre os quais achavam alguns vivos. E conclui: ... Em uma só triste noite foram acabadas muitas vidas e ficou tudo tão coberto, que nem nobres casas, nem altos edifícios, nem sumptuosos templos, nem nobres ou vulgares pessoas pela manhã apareceram, ficando tudo raso e chão, sem sinal nem mostra de onde a vila estivera.
Esta catástrofe, que ficou conhecida pela subversão de Vila Franca, marcou profundamente o desenvolvimento da ilha de São Miguel, fazendo migrar o centro político e económico para a nascente vila de Ponta Delgada, que em breve seria a capital de ilha e continuaria a crescer até ser hoje maior cidade açoriana e o principal centro político e económico de todo o arquipélago. Não fora o terramoto e esse papel caberia a Vila Franca, vila melhor situada e com um melhor porto natural.


NOTA: para perceber melhor este evento, sugere-se a leitura do seguinte artigo científico:


Há 50 anos, os americanos souberam que estavam perto de uma guerra mundial

U-2 reconnaissance photograph of Soviet nuclear missiles in Cuba. Missile transports and tents for fueling and maintenance are visible. Photo taken by the CIA

The Cuban missile crisis - known as the October crisis in Cuba and the Caribbean crisis in the USSR - was a 13-day confrontation between the Soviet Union and Cuba on one side and the United States on the other; the crisis occurred in October 1962, during the Cold War. In August 1962, after some unsuccessful operations by the US to overthrow the Cuban regime (Bay of Pigs, Operation Mongoose), the Cuban and Soviet governments secretly began to build bases in Cuba for a number of medium-range and intermediate-range ballistic nuclear missiles (MRBMs and IRBMs) with the ability to strike most of the continental United States. This action followed the 1958 deployment of Thor IRBMs in the UK (Project Emily) and Jupiter IRBMs to Italy and Turkey in 1961 – more than 100 US-built missiles having the capability to strike Moscow with nuclear warheads. On October 14, 1962, a United States Air Force U-2 plane on a photoreconnaissance mission captured photographic proof of Soviet missile bases under construction in Cuba.
Not only does the ensuing crisis rank with the Berlin Blockade, the Suez Crisis and the Yom Kippur War as one of the major confrontations of the Cold War, it is generally regarded as the moment in which the Cold War came closest to turning into a nuclear conflict, or possibly World War III, with an American research center estimating that 100 million Americans and over 100 million Russians would have perished. The crisis served as the first documented instance of the threat of mutual assured destruction (MAD) being discussed as a determining factor in a major international arms agreement.
The United States considered attacking Cuba via air and sea, but decided on a military blockade instead, calling it a "quarantine" for legal and other reasons. The US announced that it would not permit offensive weapons to be delivered to Cuba and demanded that the Soviets dismantle the missile bases already under construction or completed in Cuba and remove all offensive weapons. The Kennedy administration held only a slim hope that the Kremlin would agree to their demands, and expected a military confrontation. On the Soviet side, Premier Nikita Khrushchev wrote in a letter to Kennedy that his blockade of "navigation in international waters and air space" constituted "an act of aggression propelling humankind into the abyss of a world nuclear-missile war".
The Soviets publicly balked at the US demands, but in secret back-channel communications initiated a proposal to resolve the crisis. The confrontation ended on October 28, 1962, when President John F. Kennedy and United Nations Secretary-General U Thant reached a public and secret agreement with Khrushchev. Publicly, the Soviets would dismantle their offensive weapons in Cuba and return them to the Soviet Union, subject to United Nations verification, in exchange for a US public declaration and agreement never to invade Cuba. Secretly, the US agreed that it would dismantle all US-built Jupiter IRBMs deployed in Turkey and Italy.
Only two weeks after the agreement, the Soviets had removed the missile systems and their support equipment, loading them onto eight Soviet ships from November 5–9. A month later, on December 5 and 6, the Soviet Il-28 bombers were loaded onto three Soviet ships and shipped back to Russia. The blockade was formally ended at 6:45 pm EDT on November 20, 1962. Eleven months after the agreement, all American weapons were deactivated (by September 1963). An additional outcome of the negotiations was the creation of the Moscow–Washington hotline, a direct communications link between Moscow and Washington, D.C.

(...)

At 3:00 pm EDT on October 22, President Kennedy formally established the Executive Committee (EXCOMM) with National Security Action Memorandum (NSAM) 196. At 5:00 pm, he met with Congressional leaders who contentiously opposed a blockade and demanded a stronger response. In Moscow, Ambassador Kohler briefed Chairman Khrushchev on the pending blockade and Kennedy's speech to the nation. Ambassadors around the world gave advance notice to non-Eastern Bloc leaders. Before the speech, US delegations met with Canadian Prime Minister John Diefenbaker, British Prime Minister Harold Macmillan, West German Chancellor Konrad Adenauer, and French President Charles de Gaulle to brief them on the US intelligence and their proposed response. All were supportive of the US position.
On October 22 at 7:00 pm EDT, President Kennedy delivered a nation-wide televised address on all of the major networks announcing the discovery of the missiles.
It shall be the policy of this nation to regard any nuclear missile launched from Cuba against any nation in the Western Hemisphere as an attack by the Soviet Union on the United States, requiring a full retaliatory response upon the Soviet Union.
Kennedy described the administration's plan:
To halt this offensive buildup, a strict quarantine on all offensive military equipment under shipment to Cuba is being initiated. All ships of any kind bound for Cuba, from whatever nation or port, will, if found to contain cargoes of offensive weapons, be turned back. This quarantine will be extended, if needed, to other types of cargo and carriers. We are not at this time, however, denying the necessities of life as the Soviets attempted to do in their Berlin blockade of 1948.
During the speech a directive went out to all US forces worldwide placing them on DEFCON 3. The heavy cruiser USS Newport News was designated flagship for the blockade, with the USS Leary (DD-879) as Newport News'destroyer escort.

domingo, outubro 21, 2012

Dizzy Gillespie nasceu há 95 anos

John Birks Gillespie, conhecido como Dizzy Gillespie, (Cheraw, 21 de outubro de 1917 - Englewood, 6 de janeiro de 1993) foi um trompetista, líder de orquestra, cantor e compositor de jazz, sendo, a par de Charlie Parker, uma das maiores figuras no desenvolvimento do movimento bebop no jazz moderno.
Nascido na Carolina do Sul, Dizzy era um instrumentista virtuoso e um improvisador dotado. A juntar às suas capacidades instrumentais, os seus óculos, a sua forma de cantar e tocar (com as bochechas extremamente inchadas), o seu trompete recurvo e a sua personalidade alegre faziam dele uma pessoa especial, dando um aspecto humano àquilo que muitos, incluindo alguns dos seus criadores, classificavam como música assustadora.
Em relação à forma de tocar, Gillespie construiu a sua interpretação a partir do estilo "saxofónico" de Roy Eldridge indo depois muito além deste. As suas marcas pessoais eram o seu trompete (com a campânula inclinada 45º em vez de ser a direito) e as suas bochechas inchadas (tradicionalmente os trompetistas são ensinados a não fazer “bochechas”).
Para além do seu trabalho com Parker, Dizzy Gillespie conduziu pequenos agrupamentos e big bands e aparecia frequentemente como solista com a Norman Granz's Jazz at the Philharmonic. No início da sua carreira tocou com Cab Calloway, que o despediu por tocar “música chinesa”, a lendária big band de Billy Eckstine deu a estas harmonias atípicas uma melhor cobertura.
Nos anos 1940, Gillespie liderou o movimento da música afro-cubana, trazendo elementos latinos e africanos para o jazz, e até para a música pop, em particular a salsa. Das suas numerosas composições destacam-se os clássicos do jazz "Manteca", "A Night in Tunisia", "Birk's Works", e "Con Alma".
Dizzy Gillespie publicou a sua autobiografia em 1979, To Be or not to Bop, e seria vítima de um cancro no início de 1993, sendo sepultado no Flushing Cemetery em Queens, Nova Iorque.
Tem uma estrela com o seu nome na Calçada da Fama em Hollywood, número 7057 Hollywood Boulevard.