O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
Denisovanos: o que já se sabe sobre os nossos “primos” mais misteriosos
Reconstrução facial de um Denisovano
Já ouviu falar do Hominídeo de Denisova? É ainda mais misterioso do que os Neandertais.
Os Denisovanos são uma espécie de humanos e quase se extinguiu há, pelo menos, 20 mil anos. São conhecidos como o grupo irmão dos Neandertais.
Esta espécie também conviveu com o Homo sapiens na Euroásia, durante
partes do Paleolítico Inferior – que vai de 3,3 milhões de anos até 300 mil anos
atrás – e do Paleolítico Médio – que vai de 300 mil anos até 50 mil anos atrás.
Tal como os Neandertais, os Denisovanos são os nossos parentes extintos
mais próximos. Recentemente, ADN destes “primos” misteriosos foi
encontrado numa caverna tibetana.
A investigação indicou que os hominídeos ocuparam o planalto tibetano por um longo período de tempo e, provavelmente, conseguiram adaptar-se ao ambiente de grande altitude.
Há quem vá ainda mais longe e considere que o Denisovanos foram os primeiros humanos a chegar àquela região.
Como explica o IFLScience, acredita-se que Neandertais, Denisovanos e humanos modernos sejam descendentes de um ancestral comum do Homo heidelbergensis, que viveu há cerca de 600 mil a 750 mil anos.
Há uma teoria que diz que um grupo ancestral dessa espécie deixou
África e dividiu-se em dois grupos principais, pouco tempo depois: os
Neandertais que migraram para a Ásia Ocidental e Europa; e os Denisovanos que foram para Leste.
Os ancestrais do Homo heidelbergensis que permaneceram em África, provavelmente, deram origem aos humanos modernos.
Os nossos “primos” ainda são misteriosos
Em 2008, uma falange encontrada na Caverna de Denisova, na Sibéria,
revelou ao Mundo esta nova espécie humana, batizada apenas 2010 como “Hominídeo de Denisova”.
Desde então, segundo o IFLScience, já foram encontrados fósseis de cinco indivíduos Denisovanos, na Caverna de Denisova.
Uma descoberta, em 2018, de um fragmento de osso com 40 mil anos, de
uma rapariga com uma mãe Neandertal e um pai Denisovano, veio confirmar
que espécies híbridas humanas podem ter desempenhado um papel fundamental na evolução.
Não há ainda muita informação sobre a fisionomia dos Denisovanos,
mas, em 2019, os cientistas reconstruiram, pela primeira vez, o rosto de
uma mulher desta espécie.
Ao fazer um mapa metílico do genoma dos Denisovanos, ou seja, um mapa
que mostra como as alterações químicas na expressão genética podem
influenciar características físicas, os cientistas reconstruiram pela
primeira vez o rosto de uma Denisovana.
No total, os investigadores encontraram 56 traços
nos Denisovanos que previam ser diferentes dos Neandertais e dos humanos
modernos, sendo que 32 deles resultaram em claras diferenças
anatómicas.
A equipa descobriu, por exemplo, que estes hominídeos tinham arcadas dentárias
significativamente mais longas, assim como o topo do crânio era também
visivelmente mais largo, quando comparados com os Neandertais e com os
humanos modernos.
De forma mais específica, também perceberam que a pélvis e a caixa torácica
eram mais largas do que as dos humanos modernos e tinham também rostos
mais finos e planos quando comparados com os dos Neandertais.
A Origem das Espécies (em inglês: On the Origin of Species), do naturalistabritânicoCharles Darwin, é um dos livros mais importantes da história da ciência, apresentando a Teoria da Evolução, base de toda biologia moderna. O nome completo da primeira edição (1859) é On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life (Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida). Somente na sexta edição (1872), o título foi abreviado para The Origin of Species (A Origem das Espécies), como é popularmente conhecido.
Nesse livro, Darwin apresenta evidências abundantes da evolução das espécies, mostrando que a diversidade biológica é o resultado de um processo de descendência com modificação, onde os organismos vivos se adaptam gradualmente através da seleção natural e as espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais, como os galhos de uma grande árvore: a árvore da vida.
A primeira edição, publicada pela editora de John Murray em Londres no dia 24 de novembro de 1859
com tiragem de 1.250 exemplares, esgotou-se no mesmo dia, criando uma
controvérsia que ultrapassou o âmbito académico. Um exemplar da primeira
edição atinge hoje mais de 50 mil dólares em leilão.
A proposta de Darwin, que as espécies se originam por processos
inteiramente naturais, contradiz a crença religiosa na criação divina
tal como é apresentada na Bíblia, no livro de Génesis.
As discussões que o livro desencadeou se disseminaram rapidamente entre
o público, criando o primeiro debate científico internacional da
história.
Um estudo realizado por uma equipa internacional de
investigadores na Gruta da Oliveira, em Portugal, está a desafiar a
visão de longa data de que os neandertais são uma espécie separada dos
humanos modernos.
Os neandertais sabiam controlar o fogo e usavam-no para cozinhar, revela
um estudo conduzido por uma equipa internacional de investigadores, da
qual fazem parte os arqueólogos portugueses Mariana Nabais e João Zilhão.
O estudo, liderado por Diego Angelucci, arqueólogo da Universidade de Trento, baseia-se em descobertas na Gruta da Oliveira, em Torres Novas.
Este sítio arqueológico, uma jazida do Paleolítico Médio descoberta em
1989, foi habitado pelos neandertais há mais de 71.000 anos.
De acordo com os autores do estudo, publicado na PLOS One, os neandertais faziam um uso sofisticado e controlado do fogo para cozinhar e aquecer-se, de forma semelhante aos humanos modernos.
A conclusão é evidenciada pelo posicionamento consistente de uma lareira e de ossos queimados encontrados no local.
Esta descoberta está em linha com a ideia de que os neandertais, que chegaram a ser considerados intelectualmente inferiores aos humanos contemporâneos, tinham uma cultura complexa, com práticas como o enterro intencional dos mortos, a elaboração de joias e, possivelmente, a criação de arte.
A visão tradicional dos neandertais como uma espécie distinta, designada Homo neanderthalensis, remonta à sua descoberta inicial em 1864 e subsequente classificação pelo geólogo William King.
No entanto, esta perspetiva tem mudado à medida que análises mais sofisticadas revelaram ligações genéticas e culturais que aproximam os neandertais do Homo sapiens.
Pesquisas genéticas mostram que os neandertais acasalaram com antepassados dos humanos modernos, tornando ainda mais ténue a linha que em teoria separa as duas espécies.
Escavações arqueológicas na Gruta da Oliveira, Torres Novas
O uso controlado do fogo, marca da civilização
humana agora identificada na Gruta da Oliveira, apoia a ideia de que as
capacidades e práticas culturais dos neandertais não eram afinal assim
tão diferentes das nossas.
“Os achados do local da Gruta da Oliveira sugerem que os neandertais talvez devam ser vistos como diferentes formas de humanos e não como uma espécie completamente separada”, diz Diego Angelucci numa nota de imprensa publicada no site da Universidade de Trento.
Assim, embora a classificação taxonómica formal possa não mudar a
curto prazo, devido à natureza conservadora da taxonomia, o estudo agora
publicado reflete a ideia de que os neandertais são afinal mais como nossos irmãos do que primos distantes na árvore genealógica humana.
Um novo “supercontinente” pode dizimar todos os mamíferos (incluindo os humanos)
Os mamíferos existem em quase todos os principais habitats
terrestres, pelo que é difícil imaginar um mundo sem a sua presença.
Contudo, um novo estudo prevê que a formação de um novo
“supercontinente” vai acabar por determinar o fim da vida na Terra.
A nova investigação, levada a cabo por cientistas da Universidade de Bristol, concluiu que a formação de um novo “supercontinente” poderá extinguir todos os mamíferos (incluindo os seres humanos) dentro de 250 milhões de anos.
“A formação e a decomposição da Pangeia Ultima [nome
dado ao potencial supercontinente] limitarão e acabarão com a
habitabilidade dos mamíferos terrestres na Terra, ao excederem as suas
tolerâncias térmicas milhares de milhões de anos mais cedo do que se
supunha”, escreveram os investigadores, citados pelo Science Alert.
Os especialistas sabem muito pouco sobre o que acontece ao clima do
planeta quando os seus continentes se agregam numa grande massa de
terra. Por esse motivo, nesta investigação, basearam-se no último
supercontinente da Terra, a Pangeia, que surgiu há 310 milhões de anos,
para prever o que acontecerá durante a formação do próximo
supercontinente.
Os resultados sugerem que o clima irá tornar-se insuportavelmente quente:
o Sol irá emitir cerca de 2,5% mais radiação e a formação do
supercontinente alterará drasticamente o sistema climático global,
podendo secar grandes extensões de terra e reter mais dióxido de carbono
na atmosfera.
Durante o período da primeira Pangeia, os níveis de dióxido de
carbono atmosférico subiram de cerca de 200 partes por milhão para 2.100
ppm, um fenómeno que originou temperaturas extremas cerca de 10°C
superiores à média global atual.
Sendo que os atuais níveis de dióxido de carbono atmosférico
situam-se em cerca de 416 ppm em relação aos níveis pré-industriais, no
futuro, se o dióxido de carbono atmosférico voltar a ultrapassar os 560
ppm, mesmo que seja apenas durante um século, poderá provocar um fenómeno de extinção em massa.
Os modelos sugerem que é provável que tal aconteça quando a Pangea Ultima se formar, uma vez que as placas tectónicas criam feedbacks
climáticos e sistemas meteorológicos alterados. Ou seja, se for
transportada menos água doce para as regiões do interior, por exemplo,
as florestas poderão secar e os depósitos de carbono do interior poderão
transformar-se em torneiras de carbono.
No pior cenário, os investigadores preveem que a Pangea Ultima poderá originar uma temperatura média mensal de 46,5°C.
Tendo em conta o stress térmico dos mamíferos, estas temperaturas serão
provavelmente proibitivas para a grande maioria das espécies conhecidas.
“Embora não possamos descartar a adaptação evolutiva ao stress do
calor e do frio, estudos recentes mostraram que os limites superiores de
termotolerância dos mamíferos são conservados ao longo do tempo
geológico e não aumentaram durante os eventos de aquecimento rápidos ou
mais lentos do passado”, lê-se no estudo.
No fundo, e tendo em conta este contexto histórico, há poucas
hipóteses de os mamíferos evoluírem suficientemente depressa para fazer
face ao próximo supercontinente da Terra.
O artigo científico foi recentemente publicado na revista Nature Geoscience.
Uma barreira invisível na Indonésia separa dois mundos. Já sabemos porquê
A Linha de Wallace, que divide o Arquipélago Malaio em duas
zonas biogeográficas, terá sido criada após uma colisão continental há
35 milhões de anos ter desencadeado alterações climáticas extremas.
Era um enigma científico que persistia há mais de 160 anos. A Linha de Wallace,
que tem tanto de imaginária como de real, foi inicialmente descoberta
em 1863 pelo explorador britânico Alfred Russel Wallace, que notou que o
Arquipélago Malaio podia ser dividido em duas partes biogeográficas,
dadas as enormes diferenças nas espécies encontradas em cada uma das
regiões.
Durante mais de um século, os cientistas não conseguiram explicar a
causa de uma diferença tão grande na fauna nesta região. Mas um novo estudo publicado na Science pode ter finalmente solucionado este mistério.
De acordo com os autores, estas mudanças no clima terão sido causadas
pela atividade das placas tectónicas há cerca de 35 milhões de anos,
quando a Austrália se separou da Antártida e colidiu com a Ásia,
formando o Arquipélago Malaio.
Os cientistas chegaram a esta conclusão com a ajuda de um modelo computacional que simulou como os animais foram afetados
pelas alterações climáticas desencadeadas por esta colisão continental.
Os resultados mostraram que as espécies asiáticas estavam muito melhor
adaptadas para viver no arquipélago malaio naquela época, relata o Live Science.
As principais alterações climáticas foram causadas não pelo movimento
dos continentes em si, mas pela forma como isso afetou os oceanos. A
separação da Austrália da Antártida abriu uma área de oceano profundo
que atualmente aloja a Corrente Circumpolar Antártica (ACC), a maior corrente oceânica do mundo, alterando drasticamente o clima do planeta e tornando-o muito mais frio.
Este arrefecimento não afetou todas as espécies de igual forma. O
clima no sudeste da Ásia e no recém-formado arquipélago malaio continuou
muito mais quente e húmido do que na Austrália, que se tornou fria e
seca.
Como resultado, as criaturas da Ásia estavam bem adaptadas para viver
nas ilhas malaias e usaram-nas como “pedras de passagem” para se
deslocarem em direção à Austrália. Por outro lado, as espécies
australianas, que evoluíram num clima mais frio e seco, tiveram menos sucesso na expansão para as ilhas tropicais.
Os autores esperam que o modelo possa ser usado para prever como as
alterações climáticas modernas afetarão as espécies vivas, ajudando a
prever quais as espécies que poderão ser mais capazes de se adaptar aos
novos ambientes.
Uma explosão de lava 25 vezes maior que Portugal pode ter provocado a “Terra bola de neve”
Gigantescas erupções vulcânicas ocorridas há 717 milhões de
anos no norte do Canadá podem ter despoletado o congelamento do mundo,
que assim permaneceu durante 57 milhões de anos.
Durante vastas eras de gelo há milhões de anos, a Terra esteve coberta em gelo,
tendo passado por três ou quatro períodos de glaciação - cada um deles
durou aproximadamente 10 milhões de anos. Os investigadores estimam que,
durante estes períodos, a temperatura global tenha diminuído em média
até -50ºC. Tudo aconteceu entre 750 milhões e 580 milhões anos atrás.
Agora, cientistas acreditam que gigantescas erupções vulcânicas ocorridas há 717 milhões de anos podem ter despoletado o congelamento global do nosso mundo, conhecido como “Terra Bola de Neve”.
O estudo, publicado
na Earth and Planetary Science Letters, sugere que estas erupções
libertaram enormes quantidades de lava e deram início a reações químicas
que “roubaram” dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, desencadeando uma era glacial que acabaria por durar 57 milhões de anos.
As erupções, segundo o Live Science, terão acontecido na região correspondente ao atual norte do Canadá e deram origem a um planalto vulcânico que se estenderia por uns surpreendentes 2,23 milhões de quilómetros quadrados — quase 25 vezes maior do que o tamanho de Portugal.
A chuva ácida resultante da atividade vulcânica terá dado asas a um processo conhecido como meteorização nas rochas frescas de lava, algo que, segundo os investigadores, terá levado ao congelamento global.
O degelo da Terra Bola de Neve libertou os nutrientes que provocaram a explosão das algas – e o aparecimento dos animais
A atividade vulcânica pode provocar arrefecimento global de duas
formas: através da libertação de partículas ricas em enxofre que
bloqueiam a luz solar - provocando descidas de temperatura - ou através
da meteorização, uma reação química na qual a água da chuva interage com
os minerais nas rochas, criando novos minerais e prendendo o CO2, gás
com efeito de estufa que acabaria por arrefecer o planeta.
Para perceber que processo levou à glaciação, a equipa de investigação analisou cristais provenientes da Grande Província Ígnea de Franklin
(LIP) - a área em que as erupções aconteceram. A análise sugeriu que as
erupções ocorreram entre 1 e 2 milhões de anos antes da glaciação,
indicando que a meteorização química foi mesmo a principal causa do congelamento global.
Numa altura em que os continentes da Terra faziam todos parte da Rodínia,
supercontinente que sofreu intensas precipitações, levando ao
aprisionamento adicional de CO2, o aumento da meteorização noutras
partes do mundo pode ter contribuído para este efeito.
Alguns especialistas acreditam que esta teoria pode não ser válida, reforçando que o timing da glaciação, ainda incerto, pode não coincidir com o recém-proposto timing das erupções.
Descoberta reescreve a história da Idade do Gelo e desafia a teoria da “Terra bola de neve”
A pesquisa concluiu que houve zonas do planeta que não
estavam totalmente congeladas, o que desafia a hipótese da “Terra bola
de neve”.
Um novo estudo publicado na Nature Communications desafia a teoria principal sobre a Idade do Gelo Marinoana, que ocorreu há 635 milhões de anos e terá sido a mais severa das cinco que já atingiram a Terra.
Até agora, os cientistas acreditam que esta Idade do Gelo criou um período de 15 milhões de anos em que a Terra estava totalmente congelada, um cenário conhecido como “Terra bola de neve“.
Mas as evidências mais recentes recolhidas na China sugerem que a Terra
não estava totalmente congelada, pelo menos no final desta Idade do
Gelo. Em vez disso, havia partes de água líquida em mares de pouca profundidade nas latitudes médias, de acordo com amostras geológicas deste período.
“Chamamos a esta Idade do Gelo “Terra bola de neve. Acreditávamos que
a Terra se tinha congelado totalmente durante esta longa Idade do Gelo.
Mas talvez tinha sido mais uma Terra “bola de neve meia derretida“”, explica Thomas Algeo, professor de geociência e co-autor do estudo.
Os cientistas encontraram macroalgas fototróficas bentónicas em xisto
preto que datam de há mais de 600 milhões de anos. Essa alga vive no
fundo do mar e precisa da luz do sol para converter a água e o dióxido de carbono em energia através da fotossíntese, escreve o SciTech Daily.
Uma equipa de geocientistas da China, Reino Unido e Estados Unidos
realizou uma análise isotópica e descobriu que as condições habitáveis
de oceano aberto eram mais extensas do que se pensava, estendendo-se
para oceanos que ficam entre os trópicos e as regiões polares e
fornecendo refúgio para organismos unicelulares e multicelulares durante
as partes finais da era glacial Marinoana.
Os autores acreditam assim que esta Idade do Gelo era dinâmica e que
terão havido periodicamente zonas com água líquida nas latitudes baixas e
médias, podendo a vida ter persistido nestas regiões.
Paradoxalmente, estes refúgios de vida provavelmente ajudaram a
aquecer o planeta, acabando com esta Idade do Gelo. As algas na água
liberataram dióxido de carbono na atmosfera ao longo do tempo, descongelando gradualmente a Terra.
Algeo acrescenta que o estudo levanta questões tentadoras sobre
outras eras glaciais, particularmente a segunda durante o Período
Criogeniano, que os cientistas também acreditam ter criado a glaciação
quase total do planeta.
“Uma das mensagens gerais para levar para casa é o quanto a biosfera
pode influenciar o ciclo do carbono e o clima. Sabemos que o dióxido de
carbono é um dos gases com efeito de estufa mais importantes. Assim,
vemos como as mudanças no ciclo do carbono têm impacto no clima global”, refere Algeo.
Como surgiram as borboletas? Mistério com cem milhões de anos foi resolvido
A pesquisa descobriu que as borboletas apareceram inicialmente na América do Norte e na América Central
Um novo estudo
publicado na Nature Ecology & Evolution resolveu o mistério sobre
onde apareceram as primeira borboletas e as plantas com que se
alimentavam.
Há cerca de 100 milhões de anos, um grupo de traças
começou a aventurar-se durante o dia, aproveitando as flores abundantes
em néctar que apareceram nas imediações das abelhas. Esta situação
originou a evolução de todas as espécies de borboletas, escreve o SciTech Daily.
Desde 2019, análises ao ADN indicaram a altura precisa em que esta
mudança aconteceu, desmentindo a teoria anterior que sugeria que o
aparecimento das borboletas teria sido causado pela pressão dos
morcegos, após a extinção dos dinossauros.
Agora, também já sabemos onde as borboletas apareceram e o que
comiam, graças à maior árvore da vida das borboletas do mundo, que foi
criada com o ADN de mais de 2000 espécies. Foi com estes dados que os
investigadores conseguiram acompanhar os movimentos e hábitos
alimentares das borboletas ao longo do tempo num puzzle de quatro
dimensões, até chegarem à América do Norte e Central.
“Este era um sonho de infância meu. É algo que eu queria fazer desde
que visitei o Museu Americano de História Natural quando era criança e
vi uma foto da filogenia de uma borboleta colada na porta de um curador.
É também o estudo mais difícil do qual já participei e
exigiu um esforço enorme de pessoas de todo o mundo para ser
concluído”, explica Akito Kawahara, autor principal do estudo.
Há cerca de 19 mil espécies de borboletas e, antes deste estudo, não
existia um sítio único onde os cientistas podiam aceder a informações
sobre todas elas. Para combater isto, os cientistas decidiram criar a sua própria base de dados pública, após traduzirem informações de livros, sites e coleções de museus em várias línguas.
A pesquisa recorreu ainda a 11 fósseis de borboletas, que raramente
são preservadas no registo fóssil. Os resultados mostram que as
borboletas apareceram pela primeira vez na América Central e no oeste da
América do Norte. Na altura, a América da Norte e do Sul estavam separadas por uma extensa via marítima, com o atual México unidos aos Estados Unidos, Canadá e Rússia.
Apesar de a América do Norte ainda estar ligada à do Sul, as
borboletas tiveram pouca dificuldade em cruzar o estreito entre elas. No
entanto, a chegada a África foi bastante mais demorada, mesmo com a
proximidade à América do Sul. As borboletas foram primeiro para a Ásia,
estendendo-se para o sudeste asiático, o Médio Oriente e só depois
chegaram ao corno de África. Chegaram depois à Índia, que na altura era
uma ilha isolada.
A sua chegada à Austrália foi ainda mais surpreendente, que na altura
ainda estava ligada à Antártida. É possível que as borboletas tenham
vivido na Antártida quando as temperaturas eram mais quentes, tendo a
partir daí chegado à Austrália.
Já a migração para a Europa só deverá ter acontecido 45 milhões de anos depois
de as borboletas chegarem à Ásia ocidental. Até aos dias de hoje, a
Europa tem poucas borboletas em comparação com outras partes do mundo.
Relativamente à sua planta de eleição, a escolha parece ter sido a planta do feijão.
“Observamos essa associação numa escala de tempo evolutiva e, em
praticamente todas as famílias de borboletas, os feijões tornaram-se os
hospedeiros ancestrais”, remata Kawahara.
Paleontólogos identificam fóssil de flor com 170 milhões de anos
Uma equipa de cientistas chineses identificou o fóssil de uma
planta com cerca de 170 milhões de anos, tornando-a no mais antiga
angiospérmica conhecida no noroeste da China.
A equipa da Academia Chinesa de Ciências Instituto de Geologia e
Paleontologia de Nanjing, da Universidade de Lanzhou, do Museu Geológico
de Ningxia e da Universidade do Noroeste anunciou recentemente a
descoberta revolucionária na Life.
No estudo, citado pelo All That’s Interesting, os investigadores relataram ter encontrado botões de flores num fóssil com 17 milímetros de comprimento por nove milímetros de largura, com formato oval, ligados a um talo de 15 milímetros.
O líder do estudo, Wang Xin, disse ao Global Times
que o fóssil pertencia a um grupo de plantas conhecidas como
angiospérmicas, as plantas mais evoluídas e diversificadas da Terra.
“Existem mais de 300.000 espécies de angiospérmicas no mundo atual”,
referiu.
Este não foi, porém, o primeiro estudo a examinar este fóssil com 170
milhões de anos. Em 1998, os investigadores examinaram-no e
classificaram a planta como uma gimnospérmica, uma planta com sementes
desprotegidas por flores ou frutos, semelhante a coníferas. Essa equipa
deu-lhe o nome Drepanolepis formosa Zhang.
No entanto, uma nova análise do fóssil com recurso a tecnologia
micro-CT – uma técnica de raios X que captura estruturas 3D com
resolução à escala de micrómetros – revelou que a planta tinha na
realidade um pequeno óvulo invertido protegido por uma camada exterior
resistente. Esta é uma característica das angiospérmicas.
Com base nesta nova informação, a equipa deu um novo nome à flor: Qingganninginfructus formosa.
“A Qingganninginfructus formosa é encontrada em grandes
quantidades numa vasta área no noroeste da China, incluindo Qinghai,
Gansu, e Ningxia. A sua descoberta indica que as angiospérmicas surgiram e
foram amplamente distribuídas já há cerca de 170 milhões de anos, ou
seja, durante o Jurássico Médio, e atingiram um certo grau de
prosperidade. Fornece também uma nova base de referência para a
comunidade científica continuar a rastrear a origem e evolução das
angiospérmicas”, disse Xin.
A época do Jurássico Médio foi marcada por uma mudança significativa na topografia da Terra. A Pangeia tinha começado a dividir-se e a vida terrestre e marinha também viu evoluções.
Curiosamente, este período foi também definido por uma abundância de
gimnospérmicas, especificamente coníferas. Esta informação torna a
classificação original de 1998 talvez mais compreensível – e também
torna a Qingganninginfructus formosa uma planta mais única para o seu tempo.
Encontrado o elo perdido que explica porque os dinossauros eram gigantes
Os Macrocollum itaquii tinham sacos ocos que permitiram o seu crescimento
O elo perdido entre os dinossauros mais antigos, cujo tamanho
variava de alguns centímetros até três metros de comprimento, e os
gigantes mais recentes, que podiam ser maiores do que dois autocarros,
acaba de ser encontrado.
Num novo estudo, investigadores da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), no Brasil, apontam a evidência mais antiga do traço evolutivo
que favoreceu o gigantismo dos dinossauros: um fóssil de Macrocollum itaquii.
Este dinossauro bípede é um sauropodomorfo, grupo ancestral de dinossauros quadrúpedes gigantes de pescoço longo.
A descoberta foi apresentada num artigo publicado em março na revista científica TheAnatomical Record.
Enterrado há 225 milhões de anos no que hoje é o município de Agudo, no Rio Grande do Sul, o Macrocollum itaquii é o dinossauro com estruturas conhecidas como sacos aéreos mais antigo estudado até hoje.
Estes espaços ocos nos ossos, que ainda se encontram atualmente
presentes nas aves, ajudavam os dinossauros a obter mais oxigénio,
arrefecer melhor o corpo, suportar as duras condições do planeta na
altura - e a tornar-se gigantes, como é o caso dos famosos Tyrannosaurus rex e Brachiosaurus.
“Os sacos aéreos tornavam os ossos menos densos, permitindo que os dinossauros pudessem superar os 30 metros de comprimento”, explica o paleontólogo Tito Aureliano, primeiro autor do estudo, realizado durante o seu doutoramento no Instituto de Geociências da Unicamp.
“O Macrocollum itaquii foi o maior de seu tempo, com cerca de três metros
de comprimento, e poucos milhões de anos antes os maiores dinossauros
tinham cerca de um metro. Foram certamente os sacos aéreos do Macrocollum que lhe permitiram atingir tamanho”, completa.
“Este foi um dos primeiros dinossauros a pisar na Terra, no período
Triássico. Essa adaptação possibilitou que crescessem e resistissem ao
clima quer desse período quer dos posteriores, o Jurássico e o
Cretácico”, explica Fresia Ricardi Branco, professora do IG-Unicamp e co-autora do estudo.
“Os sacos aéreos foram uma vantagem evolutiva sobre
outros grupos, como os mamíferos, permitindo aos dinossauros
diversificar-se mais rapidamente”, acrescenta a investigadora.
Num estudo anterior, a equipa de investigadores tinha mostrado que os
fósseis mais antigos até agora encontrados não tinham evidências de
sacos aéreos, o que sugere que esta característica evoluiu pelo menos
três vezes de forma independente.
“É como se a evolução tivesse feito experiências diferentes até
chegar a uma configuração definitiva, em que os sacos aéreos iam desde a
região cervical até à cauda. Não foi um processo linear”, conclui Aureliano.
Originário da baixa nobreza (daí o título de 'chevalier'), Lamarck pertenceu ao exército, interessou-se por história natural e escreveu uma obra de vários volumes sobre a flora da França.
Isto chamou a atenção do Conde de Buffon que o indicou para o Museu de
História Natural de Paris. Depois de ter trabalhado durante vários anos
com plantas, Lamarck foi nomeado curador dos invertebrados (mais um termo introduzido por ele), e começou uma série de conferências públicas. Antes de 1800, ele era um essencialista que acreditava que as espécies eram imutáveis. Mas graças ao seu trabalho sobre os moluscos
da Bacia de Paris, ficou convencido da transmutação das espécies ao
longo do tempo, e desenvolveu a sua teoria da evolução (apresentada ao
público em 1809 na sua Philosophie Zoologique).
Menino do Lapedo. O esqueleto português que sugere que neandertais e humanos se cruzaram
Reconstrução visual do menino do Lapedo
No Lagar Velho, no vale do Lapedo, a cerca de 150 km de
Lisboa, foi descoberto em 1998 o esqueleto conhecido como menino do
Lapedo. Com cerca de 4 anos, foi enterrado neste local em Portugal há
cerca de 29 mil anos.
Algo diferente no seu corpo chamou a atenção dos arqueólogos que começaram a escavar o local.
“Havia algo estranho na anatomia da criança. Quando
encontramos a mandíbula, sabíamos que seria um humano moderno, mas
quando expusemos o esqueleto completo […] vimos que tinha as proporções corporais de um Neandertal”, explicou à BBC João Zilhão, arqueólogo e líder da equipa que trabalhou na descoberta.
“A única coisa que poderia explicar essa combinação de características é
que a criança era, de facto, evidência de que os neandertais e os
humanos modernos se cruzaram”.
Se voltarmos ao que se pensava sobre a evolução dos humanos no final
dos anos 90 — quando se supunha que os neandertais e os humanos modernos
eram espécies diferentes e, portanto, o cruzamento era impensável — não
surpreende que a grande maioria dos especialistas tenha acreditado que a
interpretação de Zilhão e sua equipa era um tanto exagerada.
Mas a sua teoria provocou uma revolução nos estudos evolutivos. A
comunidade à qual o menino pertencia era de caçadores-coletores e de
natureza nómada.
Conforme explicou à BBC Reel a arqueóloga Ana Cristina Araújo, quando
o menino morreu, o grupo cavou um buraco no chão, queimou um galho de
pinheiro e depositou o seu corpo envolto numa mortalha tingida de ocre
sobre as cinzas.
“Não sabemos (com certeza) se era menino ou menina, mas há indícios de que era menino”.
Sobre a causa da morte, a arqueóloga diz que não há pistas que apontem para uma doença ou queda. Portanto, é possível imaginar uma diversidade de cenários. “O menino pode ter comido um cogumelo venenoso ou pode ter-se afogado”.
O seu corpo permaneceu enterrado por milénios até que, em 1998, foi
descoberto por acaso e estava com o esqueleto quase intacto quando os
donos do terreno começaram a escavar para construir uma série de
estruturas em terraços.
Depois de transferido para o Museu Nacional de Lisboa, começaram a estudá-lo detalhadamente.
“Os ossos das pernas eram mais curtos do que o normal
para uma criança da idade dele. Como é que as pernas poderiam parecer
de um neandertal? Alguns dentes também pareciam de um neandertal,
enquanto outros pareciam de um humano moderno. Como explicar isso?”,
questionou Zilhão.
Os investigadores lidaram com duas hipóteses. Uma delas era que a
criança era o resultado de um cruzamento entre um neandertal e um humano
moderno.
Zilhão, porém, não se convenceu disso. Se esse foi um evento único,
raro e esporádico, a possibilidade de encontrá-lo 30 mil anos depois era quase impossível.
A segunda hipótese sugeria que os neandertais e os sapiens mantinham relações sexuais regulares entre si.
“Sabíamos que na Península Ibérica o momento do contacto [entre os
dois] foi […] há cerca de 37 mil anos. Se o esqueleto pertencesse a essa
época, a primeira teoria poderia funcionar. Mas se o menino era de um
período muito mais tardio, as implicações tinham que ser que estávamos a
olhar para um processo em nível populacional, não um encontro casual entre dois indivíduos”, diz Zilhão.
A datação por radiocarbono resolveu a questão: a criança do Lapedo tinha 29 mil anos.
“Se tantos milénios após o tempo de contacto, as pessoas que vivem
nesta parte do mundo ainda apresentam evidências anatómicas dessa
população ancestral de neandertais, deve ser porque o cruzamento não
aconteceu apenas uma vez, foi a norma”, apontou o arqueólogo.
A força das evidências encontradas pela equipa em Portugal fez com que outros especialistas tivessem que considerar seriamente essa hipótese.
Graças a esta descoberta, houve uma mudança na nossa compreensão dos neandertais como espécie.
A investigação dá a entender que os neandertais não são uma espécie
diferente. “Nós sobreinterpretamos pequenas diferenças no esqueleto
facial ou na robustez do esqueleto”, diz Zilhão.
Outras descobertas de fósseis feitas posteriormente com características semelhantes às do menino do Lapedo deram mais peso à teoria do cruzamento, que mais tarde foi reforçada quando os investigadores sequenciaram todo o genoma neandertal.
É assim que sabemos que é possível que europeus e asiáticos tenham até 4% de ADN neandertal.
“Isso não quer dizer que em cada um de nós 2% ou 4% seja
[neandertal]. Na realidade, se juntar todas as partes do genoma
neandertal que ainda persistem, isso é quase 50% ou 70% do que era
especificamente neandertal. Portanto, o genoma neandertal persistiu
quase na sua totalidade”, explica o investigador.
Esse conhecimento “enriquece a nossa compreensão da evolução humana”,
diz Zilhão, em vez de “pensar que apenas descendemos de uma população
muito pequena que viveu nalgum lugar de África há 250 mil anos e que
todo o resto das pessoas que viveram nessa época simplesmente
desapareceram”.
Os peixes evoluíram para caminhar. Num caso, até se tornaram humanos
Quando pensa sobre a evolução humana, há uma boa
probabilidade de imaginar chimpanzés a explorar florestas antigas ou os
primeiros humanos a pintar mamutes lanosos nas paredes das cavernas.
Mas nós, humanos, junto com ursos, lagartos, beija-flores e tiranossauros rex, somos na verdade peixes com barbatanas lobadas.
Pode parecer bizarro, mas a evidência está nos nossos genes, anatomia e fósseis. Pertencemos a um grupo de animais chamados sarcopterígios terrestres, mas uma grande quantidade de mudanças evolutivas obscureceu a nossa aparência.
Pensamos nos peixes como nadadores experientes, mas na verdade eles desenvolveram a capacidade de “andar”
pelo menos cinco vezes. Algumas espécies puxam-se para a frente usando
barbatanas dianteiras bem desenvolvidas, enquanto outras “caminham” ao
longo do fundo do oceano.
Os nossos antepassados sarcopterígios desenvolveram pulmões e outros mecanismos de respiração aérea,
membros ossudos e uma coluna vertebral mais forte antes de se
aventurarem na terra. Estas adaptações foram úteis não apenas em
ambientes aquáticos, mas permitiram que nossos antepassados explorassem a
terra – eram “pré-adaptações” para a vida na terra.
A transição da água para a terra foi um dos eventos mais significativos na evolução
dos vertebrados. Pode ter começado como uma forma de escapar de
predadores, mas a paisagem que os nossos antepassados descobriram já era
rica em plantas como musgos, cavalinhas e samambaias, além de
artrópodes (milípedes) que tinham colonizado a terra milhões de anos
antes.
Não estamos sozinhos
Andar independentemente evoluiu várias vezes em peixes, tornando-se um exemplo de convergência evolutiva
(características semelhantes que evoluem independentemente, como asas
em morcegos e pássaros). A evolução de caminhar em peixes é rara.
Existem mais de 30 000 espécies de peixes como os conhecemos hoje (não
no sentido evolutivo), das quais apenas um punhado pode “andar”.
Os sarcopterígios diferem de outros tipos de peixes de várias
maneiras importantes. Por exemplo, as nossas barbatanas (membros) têm suportes ósseos e lóbulos musculares que nos permitem mover em terra.
Acredita-se que esta adaptação tenha sido crucial para a evolução dos
tetrápodes (anfíbios, mamíferos, répteis e aves) durante a nossa
transição da água para a terra no período Devónico Superior, há cerca
de 375 milhões de anos. Muitos dos genes envolvidos na formação de
membros e dedos em tetrápodes também são encontrados em sarcopterígios
aquáticos, como peixes pulmonados, o que indica que essas
características evoluíram no nosso antigo antepassado comum.
Não sabemos de que espécie era esse antepassado, mas provavelmente se parecia com o celacanto, que tem um rico registo fóssil e é um “fóssil vivo” que hoje habita o Oceano Índico Ocidental e a Indonésia.
Os peixes sarcopterígios ambulantes estão extintos, como o Tiktaalik,
ou tão altamente evoluídos que não os reconhecemos mais como peixes
(tetrápodes).
Um exemplo de peixe vivo que anda é o saltador-do-lodo (da família
Oxudercidae). Estes peixes vivem em manguezais e planícies de maré e
usam as suas barbatanas peitorais para caminhar em terra.
Essas barbatanas ajudam-nos a escapar de predadores aquáticos, procurar
comida (eles consomem material orgânico na lama) e até interagir uns
com os outros em terra, encontrando parceiros.
Outro exemplo é o bagre ambulante (Clarias batrachus), que usa as
suas barbatanas peitorais para se deslocar em terra, ajudando-o a
escapar de lagoas secas e encontrar novos habitats.
Como é que os genes relacionados com a caminhada evoluíram pela primeira vez?
A raia-de-verão (Leucoraja erinacea) é um peixe cartilaginoso parente
das raias e tubarões (ao contrário dos peixes ósseos, incluindo os
sarcopterígios). É outro peixe que “anda” debaixo de água sobre
barbatanas como pernas, imitando os movimentos de animais terrestres.
A raia-de-verão é de grande interesse para os cientistas que
pesquisam a evolução da locomoção porque evoluiu andando com barbatanas
independentemente dos sarcopterígios. No entanto, até agora, a genética
por trás do andar da raia era difícil de estudar devido à falta de dados
de qualidade.
Isso mudou recentemente, quando investigadores de Seul e Nova York
usaram tecnologia de ponta para construir uma montagem de alta qualidade
do genoma da raia-de-verão. Os cientistas descobriram que ela usa apenas dez músculos para andar com barbatanas, enquanto os tetrápodes geralmente usam 50 músculos para mover seus membros.
Uma grande questão sobre a evolução dos vertebrados é: quais genes
são importantes para desenvolver os músculos que permitem a caminhada?
Para descobrir, a equipa analisou quais genes estavam ativos nos nervos
que controlam os músculos dos membros (nervos motores) num rato,
numa galinha e numa raia-de-verão.
Eles descobriram padrões de expressão genética semelhantes
nos nervos motores que ajudam esses músculos a funcionar. Assim, os
peixes ambulantes podem ter seguido vários caminhos evolutivos
diferentes, mas este estudo recente sugere um mecanismo genético comum.
Os humanos evoluíram para serem os melhores caminhantes
No final do período Triássico, há cerca de 201 milhões de anos, tanto os dinossauros quanto os mamíferos desenvolveram excelentes habilidades de corrida.
Os humanos refinaram estes poderes locomotores, desenvolvendo inúmeras
adaptações que nos tornam uma das espécies de corrida mais eficientes e
capazes do planeta.
Essas adaptações incluem um tendão de Aquiles semelhante a uma mola
que ajuda a armazenar energia, uma passada longa e centro de gravidade
equilibrado e suor para arrefecer. Estas adaptações permitem-nos
percorrer longas distâncias com grande resistência, embora em velocidades lentas.
Os nossos antepassados costumavam correr para caçar, escapar de
predadores e forragear. Isto moldou a nossa anatomia, fisiologia e
cultura. E muitos estudos mostram que caminhar e correr são cruciais
para o nosso bem-estar e saúde física.
Foi um longo caminho desde a origem da caminhada nos nossos
antepassados semelhantes a peixes que primeiro colonizaram a terra. Mas
caminhar e correr continuam a ser uma parte central de nossas vidas e do
nosso sucesso evolutivo.
Durante a sua vida, Mendel publicou dois grandes trabalhos agora clássicos: "Ensaios com plantas híbridas" (Versuche über Pflanzen-hybriden), que não abrangia mais de trinta páginas impressas e "Hierácias obtidas pela fecundação artificial".
Em 1865, formula e apresenta, em dois encontros da Sociedade de História Natural de Brno, as leis da hereditariedade, hoje chamadas Leis de Mendel, que regem a transmissão dos caracteres hereditários. Após 1868,
as tarefas administrativas mantiveram-no tão ocupado que não pode dar
continuidade às suas pesquisas, vivendo o resto da sua vida em relativa
obscuridade. É atualmente conhecido como "Pai da Genética".
Encontrada misteriosa “linhagem fantasma” no ADN de africanos
Uma linhagem humana extinta, que representava uma relação
mais distante do que a dos Neandertais, pode ter-se misturado com os
antepassados dos modernos africanos ocidentais, contribuindo
significativamente para o seu património genético, revelou um novo
estudo.
Embora os humanos modernos sejam a única linhagem sobrevivente da
humanidade, outros viveram na Terra. Alguns conseguiram sair de África
antes de nós, incluindo os Neandertais na Eurásia e as novas linhagens
Denisovan na Ásia e Oceânia.
Segundo o Discover, não se sabe se estas linhagens seriam consideradas espécies ou subespécies, mas os grupos tinham diferenças genéticas identificáveis.
Trabalhos anteriores estimaram que os antepassados dos humanos modernos
se separaram há cerca de 700.000 anos da linhagem que deu origem aos
Neandertais e Denisovans, e os antepassados dos Neandertais e Denisovans
divergiram uns dos outros há cerca de 400.000 anos.
A história é um pouco mais confusa do que a linha do tempo sugere,
pois a análise genética dos fósseis dessas linhagens extintas revelou
que outrora se cruzaram com humanos modernos, uniões que podem ter
dotado a nossa linhagem de mutações úteis à medida que começámos a
expandir-nos pelo mundo, há 194.000 anos.
O ADN Neandertal representa aproximadamente 1,8% a 2,6% dos genomas dos humanos modernos de fora de África, enquanto que o ADN Denisovan representa 4% a 6% dos melanésios modernos.
Linhagens humanas agora extintas que outrora existiam em África pode
também ter-se misturado com os humanos modernos. No entanto, a natureza
esparsa do antigo registo fóssil humano em África torna difícil a
identificação do ADN de tais “linhagens fantasmas” nos humanos modernos.
Ao invés de procurarem fósseis humanos antigos em toda a África, os
cientistas procuraram vestígios genéticos de linhagens de fantasmas nos
africanos modernos. Compararam 405 genomas de pessoas da África Ocidental com os de fósseis de Neandertais e Denisovans.
No estudo, publicado recentemente Science Advances,
os investigadores detetaram anomalias que sugerem o cruzamento entre os
africanos ocidentais e uma linhagem humana antiga desconhecida, cujos
antepassados divergiram dos humanos modernos antes da divisão entre
estes e os Neandertais.
Em quatro grupos da África Ocidental – Yoruba no sudoeste da Nigéria,
Esan no sul da Nigéria, Gambianos na Gâmbia ocidental, e Mende na Serra
Leoa – 2% a 19% do seu ADN pode derivar de uma linhagem fantasma,
disseram os investigadores.
“A reprodução cruzada entre populações altamente divergentes
tem sido comum através da evolução humana”, disse Sriram Sankararaman,
um dos autores do estudo e geneticista computacional da Universidade da
Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Várias variantes genéticas da linhagem fantasma eram invulgarmente
comuns nos genomas Yoruba e Mende, sugerindo que poderiam conferir
algumas vantagens evolutivas. Estas incluíam genes envolvidos na
supressão de tumores, reprodução masculina e regulação hormonal.
Pesquisas anteriores também sugeriram o cruzamento com linhagens fantasmas em África, como aconteceu com um estudo
publicado em janeiro deste ano. A linhagem fantasma examinada nessa
investigação “é provavelmente a linhagem fantasma que estamos a ver”,
disse Sankararaman.
Para Omer Gokcumen, genómico evolucionista na Universidade de
Buffalo, em Nova Iorque, estas descobertas sublinham como não se trata
de “uma questão de saber se os nossos antepassados interagiram com outros hominídeos, mas sim uma questão de quando, onde, e com quem”.
Os cientistas estimaram que esta linhagem fantasma divergia dos
antepassados dos Neandertais e dos humanos modernos até há 1,02 milhões
de anos e que se encontrava cruzada com os antepassados dos africanos
ocidentais modernos desde há 124.000 anos até aos dias de hoje.
“Uma das limitações do nosso estudo é que temos principalmente
amostras das populações atuais da África Ocidental”, disse Sankararaman.
A equipa ainda não sabe até que ponto a linhagem fantasma espalhou-se
por toda a África.
Os cientistas pretendem analisar as pessoas em toda a África em busca
de sinais de linhagem fantasma. “Estamos a começar a compreender
algumas das complexidades da história humana, mas o verdadeiro quadro é quase de certeza ainda mais complicado”, acrescentou Sankararaman.
Um estudo sugere que todos os humanos atualmente vivos são descendentes de um grupo que habitou o nordeste do atual Sudão.
Investigadores do Big Data Institute da Universidade de Oxford mapearam a maior árvore genealógica
humana de todos os tempos, usando as relações genéticas entre os
humanos. A conclusão é, no mínimo, arrojada: todos os humanos vivos
atualmente vieram daquilo que é hoje o Sudão.
Mais especificamente, descendemos de antigos humanos que viveram no nordeste do Sudão, perto do rio Nilo. Os cientistas concluíram isto após combinarem dados modernos e de genomas de oito bancos de dados diferentes.
“Basicamente construímos uma enorme árvore genealógica, uma
genealogia para toda a humanidade que modela como é que exatamente
podemos entender a história que gerou toda a variação genética que
encontramos hoje nos humanos”, disse o coautor do estudo Yan Wong, num
comunicado citado pela IFLScience.
“Esta genealogia permite-nos ver como é que a sequência genética de
cada pessoa se relaciona com as outras, ao longo de todos os pontos do
genoma”, acrescentou.
Os investigadores realçam ainda que as regiões genómicas individuais são herdadas apenas de um dos pais, da mãe ou do pai.
“Essencialmente, estamos a reconstruir os genomas dos nossos
antepassados e a usá-los para formar uma vasta rede de relacionamentos”,
disse o autor principal do estudo, Anthony Wilder Wohns. “Podemos então estimar quando e onde esses antepassados viveram”.
Os antepassados mais antigos que os cientistas identificaram remontam a uma localização geográfica no atual Sudão.
“Esses antepassados viveram até e há mais de 1 milhão de anos — o que é muito mais antigo do que as estimativas atuais para a idade do Homo sapiens — 250.000 a 300.000 anos atrás”, disse Wohns em fevereiro à agência Reuters. “Portanto, partes do nosso genoma foram herdadas de indivíduos que não reconheceríamos como humanos modernos”.
Darwin começou a se interessar por história natural na universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia. A sua viagem de cinco anos a bordo do brigue HMS Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo
e fama como escritor. Suas observações da natureza levaram-no ao
estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da
teoria da Seleção Natural.
Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos
por sugerir ideias como aquela, ele as confiou apenas a amigos próximos
e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objeções.
Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta das suas teorias em 1858.
Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural. Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana, notavelmente "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex, 1871) e "A Expressão da Emoção em Homens e Animais" (The Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872).
Em reconhecimento da importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, próximo dos túmulos de Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton. Foi uma das cinco pessoas não ligadas à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século XIX.
Dawkins é conhecido principalmente pela sua visão evolucionista centrada nos genes, exposta no seu livroO Gene Egoísta, publicado em 1976. O livro também introduz o termo "meme", o que ajudou na criação da memética. Em 1982 deu uma grande contribuição para a teoria da evolução com a hipótese, apresentada no seu livro O Fenótipo Estendido, de que o efeito fenotípico não se limita ao corpo de um organismo, mas sim de que o efeito influencia o ambiente em que vive o organismo. Desde então escreveu outros livros sobre evolução e apareceu em vários programas de televisão e rádio para falar de temas como biologia evolutiva, criacionismo e religião.
Um “detalhe” na evolução salvou as plantas da escassez de água
Era um mistério com mais de cem anos. Descoberta pode ajudar a criar programas de plantação mais adaptados a terrenos e e climas secos esclarecendo como as plantas se adaptam à falta de água.
Caule fossilizado de Dernbachia brasiliensis, um feto arbóreo com 250 a 300 milhões de anos, com o tecido do lenho destacado (a azul)
Ludwig Luthardt/Museu de História Natural de Berlim
As plantas são muito vulneráveis à escassez de água – começam a secar e morrem rapidamente. Quando não há água em volta, como pode uma planta sobreviver? Ao longo dos últimos 400 milhões de anos, as plantas evoluíram, tornaram-se mais resistentes à seca e isso deve-se a algumas alterações genéticas que ajudam a criar um sistema de defesa mais eficaz. Perceber como algumas plantas se adaptaram à falta de água pode vir a ser uma informação muito útil para lidar com as alterações climáticas que hoje enfrentamos.
Não sabíamos tudo (e continuamos sem saber), mas há outra evolução neste longo período de tempo que explica um mistério com mais de cem anos: a forma de estrela nas células do tecido (lenho) que transporta água e nutrientes da raiz para o caule e as folhas não é obra do acaso – é uma resposta à falta de água.
Não é só mais um detalhe de uma geringonça colocada em movimento para dar uma esperança de vida maior às plantas. Sem esta evolução no lenho, a natureza verde que conhecemos hoje seria improvável.
Todas as plantas, com exceção das mais pequenas, precisam de tecidos vasculares para levar a água a todo o seu corpo. Quando há água suficiente, ela flui pela planta como uma cadeia contínua de moléculas. As moléculas de água do fundo desta cadeia evaporam e, ato seguinte, outras moléculas de água são puxadas para as substituir.
Comparação entre a forma estelar (à direita) que protege as plantas e a
forma cilíndrica que permite maior disseminação da embolia
Ora, se o solo secar, esta substituição torna-se mais difícil e a cadeia de moléculas é interrompida. “Quando esta cadeia quebra, uma bolha de gás expande-se na conduta (a célula do lenho). Esta bolha é uma embolia, que bloqueia o transporte de água e, se se expandir a todo o tecido, a planta não conseguirá trazer mais água e irá morrer”, explica Martin Bouda, investigador do Instituto Botânico da Academia Checa de Ciências (República Checa).
Este é o problema que afecta estas plantas vasculares quando não há água. A solução é adaptar-se. “Estas plantas tiveram de ultrapassar este problema construindo os seus tecidos vasculares muito cuidadosamente, para prevenir que a embolia se espalhasse”, aponta. No estudo que liderou, publicado na revista científica Nature, Martin Bouda percebeu precisamente que o formato estelar (e alguns outros também complexos) das células do lenho foi a solução encontrada pelas plantas no seu processo de evolução.
“As plantas que encontraram soluções para contrariar a embolia foram as que prosperaram, disseminaram-se e sobreviveram às extinções cataclísmicas na História da Terra”, diz. E há vários exemplos: “Os fetos geralmente têm um lenho muito fino e com formas alongadas. As flores herbáceas tendem a dividir o lenho em feixes separados muito pequenos, o que impede totalmente a propagação da embolia.
Há outros exemplos inversos: as Protolepidodendrales eram plantas vasculares primitivas que mantiveram o lenho num grande cilindro no centro do caule e, portanto, só podiam crescer em pântanos. Morreram antes do final do período Devoniano [entre 420 e 360 milhões de anos atrás]”, nota o investigador checo.
Mistério centenário
A observação de que os tecidos vasculares de plantas maiores tinham formas complexas (muitas vezes em estrela) já data de 1920, apresentada pelo botânico Fredrick Bower e o seu estudante Claude Wardlaw. Com estes resultados, esta dupla demonstrava que a organização do lenho se tornava mais complexa (e com formatos diferentes) quanto maior fosse a planta. Mas faltava uma explicação para o fenómeno.
Há faltavam duas peças neste puzzle, como aponta Martin Bouda. “Primeiro, apenas pudemos observar a embolia a espalhar-se no lenho e os efeitos que isso tem nas últimas décadas. A ciência sobre o stress das plantas com a seca tem amadurecido ao longo do tempo e só vimos uma explosão no conhecimento a partir dos anos 1990”, diz.
“A segunda peça são as técnicas computacionais. Nós desenvolvemos algumas métricas topológicas originais para este trabalho e uma simulação numérica da disseminação do embolismo que tem de ser feita em computadores. Infelizmente, não havia forma de os investigadores poderem fazer isso em 1920.”
E há outra peça, acrescentada à “última hora” pelo investigador checo na conversa com o público. “O stress da seca é estudado experimentalmente em plantas vivas. A ideia de comparar estas plantas com outras plantas que morreram há 400 milhões de anos não era óbvia para nós hoje, mesmo que o Bower e o Wardlaw tenham feito exatamente isso há cem anos. Ironicamente, aqui eles tinham uma perspetiva muito melhor que a ciência moderna”, atenta.
A comparação entre plantas com uma diferença temporal tão grande permitiu aos investigadores compreender a morte das Protolepidodendrales – que não se adaptaram e mantiveram a forma cilíndrica nas células do lenho. “Por incrível que pareça, temos fósseis com cerca de 407 milhões de anos com as células do caule da planta suficientemente preservadas para podermos entender como o tecido funcionava”, refere Bouda.
A partir daqui, olharam para a forma como as células estavam dispostas nestas plantas e desenvolveram uma simulação para testar a disseminação de embolia nessa planta. “O momento-chave aconteceu quando percebemos que todas as nossas plantas tinham uma organização diferente do tecido a nível macroscópico do que as primeiras plantas vasculares. Na verdade, essa organização original é extremamente rara atualmente.”
Nova ode à evolução
Abre-se mais um capítulo para abordar a evolução – agora no reino das plantas. Essa evolução já tinha determinado algumas alterações genéticas e, agora, sabemos que criou alterações na organização das células do lenho. Tudo para sobreviver à escassez de água e poder “povoar” novos espaços, com menos acesso a água.
Antes do estudo a ideia vigente era outra. “A explicação clássica diz que não há razão direta para os tecidos do lenho evoluírem de uma determinada maneira. O aumento da complexidade ao longo do tempo era apenas um bom exemplo da coincidência na evolução”, diz ao PÚBLICO. Por exemplo, à medida que os ramos de uma planta cresciam, as hormonas que guiam o crescimento dos ramos também determinariam o padrão do lenho.
Este exemplo, dado pelo investigador checo, acontece nalgumas plantas – mas não em todas e não é a única explicação para os padrões das células do lenho. “No entanto, se a complexidade vascular é selecionada independentemente pela sobrevivência à seca devido à disseminação da embolia, a teoria clássica não é válida como explicação”, realça Martin Bouda.
E esta não é apenas uma correção à cronologia biológica das plantas. Isto também nos pode ajudar a criar programas de plantação mais adaptados a terrenos e climas secos, que beneficiem do conhecimento adquirido sobre como as plantas se adaptam à falta de água – um piscar de olho às alterações climáticas. Este pode ser o futuro, mas, para já, ainda parece distante, confessa Martin Bouda.