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domingo, abril 27, 2025

Às vezes é mesmo preciso mexer na porcaria para fazer descobertas...

Cocós e vómitos fossilizados explicam como dinossauros dominaram a Terra

Pesquisadores estudaram mais de 500 fósseis coletados ao longo de 25 anos em cerca de 10 locais na Bacia Polaca, no sul da Polónia 

 


 

Os primeiros dinossauros eram criaturas insignificantes, figurantes num supercontinente lotado de outros répteis antigos quando evoluíram pela primeira vez há cerca de 230 milhões de anos.

No entanto, 30 milhões de anos para frente, os dinossauros dominaram o planeta, vindo em todas as formas, tamanhos e tipos, enquanto muitos de seus pares reptilianos haviam desaparecido. Por que eles foram tão bem-sucedidos evolutivamente é um mistério de longa data, mas novas pesquisas sugerem que algumas respostas para essa pergunta podem estar contidas no que eles deixaram para trás: fezes de dinossauro.

“Sabemos muito sobre suas vidas e extinção, mas não sobre como eles surgiram”, disse Martin Qvarnström, autor principal de um estudo sobre a ascensão dos dinossauros publicado o ano passado na revista Nature e paleontólogo da Universidade de Uppsala, na Suécia.

Para entender melhor os gigantes extintos, Qvarnström e seus colegas investigaram fósseis negligenciados conhecidos como bromalitos: restos do sistema digestivo — ou seja, fezes e vómitos de dinossauro.

Eles estudaram mais de 500 fósseis coletados ao longo de 25 anos em cerca de 10 locais na Bacia Polaca, uma área no sul da Polónia. Os restos datavam de uma faixa de tempo que abrange o final do Triássico ao início do período Jurássico, de cerca de 247 milhões de anos atrás a 200 milhões de anos atrás.

Para entender melhor os gigantes extintos, Qvarnström e seus colegas investigaram fósseis negligenciados conhecidos como bromalitos: restos do sistema digestivo - ou seja, fezes e vómitos de dinossauro.

Eles estudaram mais de 500 fósseis coletados ao longo de 25 anos em cerca de 10 locais na Bacia Polaca, uma área no sul da Polónia. Os restos datavam de uma faixa de tempo que abrange o final do Triássico ao início do período Jurássico, de cerca de 247 milhões de anos atrás a 200 milhões de anos atrás.

“Os bromalitos contêm tanta informação paleoecológica, mas não acho que os paleontólogos tenham realmente reconhecido isso e os tenham visto principalmente como uma piada; você coleta alguns coprólitos porque é engraçado”, disse Qvarnström, referindo-se às fezes fossilizadas. Eles descobriram que as fezes e vómitos fossilizados — cientificamente conhecidos como coprólitos e regurgitalitos, respetivamente — aumentaram em tamanho e variedade ao longo do tempo, indicando o surgimento de animais maiores e dietas diferentes.

Ao estudar a forma e o conteúdo dos bromalitos e ligá-los a esqueletos fossilizados e pegadas encontrados nos locais, os pesquisadores puderam identificar e categorizar os animais que provavelmente os produziram.

Fazendo isso, os pesquisadores puderam entender quantos e que tipo e tamanho de dinossauros, bem como outros animais vertebrados, estavam na paisagem em um determinado momento. A análise, que levou 10 anos para ser concluída, permitiu que a equipe reconstruísse por que os dinossauros vieram à proeminência.

 

Revelações do cocó antigo

Em alguns casos, foi possível fazer uma avaliação visual do tipo de dinossauro responsável por um bromalito com base no tamanho e na forma do fóssil — um coprólito em forma de espiral provavelmente veio de um animal com um intestino em espiral. Mas, em muitos outros, foi necessário fazer uma varredura 3D detalhada da estrutura interna do bromalito usando equipamentos especializados para entender o que os fósseis continham.

Restos digestivos antigos podem “parecer algo deixado por seu cachorro no parque e é muito evidente o que eles são. Em outros casos, especialmente herbívoros, são mais difíceis de reconhecer”, disse ele.

A equipe scaneou a estrutura interna dos fósseis na European Synchrotron Radiation Facility em Grenoble, França. A instalação maciça, um sincrotrão em forma de anel com 844 metros de circunferência, gera feixes de raios-X 10 biliões de vezes mais brilhantes que os raios-X médicos e permite que os cientistas estudem a matéria no nível molecular e atómico.

“É um pouco como um scanner de tomografia computadorizada no hospital. Funciona da mesma maneira, mas com energia muito maior. Precisamos disso para obter essa resolução muito alta e também um bom contraste”, disse Qvarnström.

Os coprólitos continham restos de peixes, insetos e plantas, e às vezes outros animais de presa. Alguns restos estavam lindamente preservados, incluindo pequenos besouros e peixes meio acabados. Outros coprólitos continham ossos esmagados por predadores.

“Os fósseis de esqueleto, pegadas e bromalitos de locais na Polónia fornecem uma série de instantâneos temporais discretos que demonstram uma transição de um mundo com poucos dinossauros para um em que eles dominavam”, disse Lawrence H. Tanner, paleontólogo do departamento de ciências biológicas e ambientais da Le Moyne College, em Nova York. Tanner não esteve envolvido no estudo.

“Usando as técnicas deste estudo em outros locais, poderíamos fornecer um contexto mais global e construir uma imagem mais detalhada”, escreveu Tanner em um artigo de comentário que foi publicado junto com a pesquisa.

 

 Reconstruindo a ascensão dos dinossauros

Os autores chegaram a cinco fases para explicar a ascensão dos dinossauros: osseus ancestrais eram omnívoros, comendo plantas e animais. Eles evoluíram para os primeiros dinossauros carnívoros e herbívoros.

Um ponto de virada fundamental ocorreu quando o aumento da atividade vulcânica pode ter levado a uma gama mais diversa de plantas para se alimentar, seguido pelo surgimento de dinossauros herbívoros maiores e mais diversos.

Por sua vez, essa fase levou à evolução dos dinossauros carnívoros gigantes, amados por diretores de cinema e livros infantis, no início do período Jurássico, há 200 milhões de anos. A supremacia dos dinossauros durou até que um asteroide que atingiu a costa do que hoje é o México, há 66 milhões de anos, e condenou os dinossauros à extinção.

Antes desta última pesquisa, duas teorias foram propostas para explicar a transição de um mundo dominado por répteis não dinossaurianos para um em que os dinossauros eram ascendentes, observou o estudo.

Um modelo sugeriu que os dinossauros evoluíram para superar fisicamente seus rivais, segundo o estudo. A postura ereta dos dinossauros, resultante do posicionamento de seus membros posteriores diretamente abaixo de seu corpo, combinada com tornozelos flexíveis, os tornou altamente ágeis e mais eficientes do que seus concorrentes evolutivos, como répteis com pernas abertas.

Alternativamente, alguns pesquisadores acreditam que os dinossauros foram, por acaso, mais capazes de se adaptar às mudanças climáticas dramáticas que ocorreram no final do Triássico.

Qvarnström disse que a pesquisa baseada nos fósseis polacos sugeriu que uma combinação das duas hipóteses fornecia uma explicação mais provável, com uma “interação complexa de vários processos” que significava que os dinossauros eram mais capazes de lidar com a forma como as mudanças ambientais alteraram a disponibilidade de alimentos.

Por exemplo, o estudo descobriu que os resíduos alimentares extraídos de bromalitos pertencentes a dicinodontes, um parente antigo de mamíferos com cabeça em forma de tartaruga, sugeriam que a criatura tinha uma dieta restrita, alimentando-se principalmente de coníferas. Ele desapareceu do registo fóssil há cerca de 200 milhões de anos.

Os dinossauros, por outro lado, pareciam comer uma ampla variedade de plantas. Por exemplo, a equipe descobriu que o conteúdo dos coprólitos dos primeiros grandes dinossauros herbívoros, os sauropodomorfos, continha grandes quantidades de fetos arborescentes, mas também muitos outros tipos de plantas e carvão vegetal. A equipe suspeita que o carvão ajudou a desintoxicar dos fetos, que podem ser tóxicos.

Grzegorz Niedźwiedzki, autor sénior do estudo e paleontólogo do departamento de biologia do organismo; evolução e desenvolvimento da Uppsala, disse que a razão por trás do sucesso evolutivo dos dinossauros era uma mensagem que ainda se aplica hoje: “Coma seus vegetais e viva mais tempo”.


in CNN Brasil

sábado, abril 19, 2025

Às vezes a paleontologia é muito divertida...

Dormir em “conchinha”: tudo começou há 250 milhões de anos, com um abraço eterno

 


 

Amizade improvável entre anfíbio e um mamífero na Grande Morte: ficaram para sempre juntos numa pequena toca, na África do Sul, que foi descoberta há 50 anos. Momento eternizado ficou para a história como “O Aconchego Triássico”.

Há 250 milhões de anos, em plena Grande Morte, um momento único de partilha foi eternizado.

Descobrimo-lo em 1975 - ou melhor, o paleontólogo James Kitching descobriu-o - quando uma toca fossilizada foi desenterrada perto da base do desfiladeiro de Oliviershoek, na África do Sul.

Se inicialmente só se via a cabeça de um Thrinaxodon - um pequeno réptil semelhante a um mamífero - um exame mais minucioso revelou uma presença inesperada na pequena toca: um anfíbio raro, conhecido como Broomistega. Fossilizaram em contacto próximo, num repouso eterno que viria a ser conhecido como “The Triassic Cuddle” (“O Abraço/Aconchego Triássico”).

 


 

O Thrinaxodon ficou para sempre enrolado na forma típica de uma toca, enquanto o Broomistega ficou deitado de barriga para cima sobre o mamífero.

Mas como é que esta amizade tão improvável sequer aconteceu?

Os cientistas queriam responder a esta pergunta e especularam que o anfíbio, parecido com uma salamandra, e o principal ocupante da toca - o mamífero - teria sido enterrado pela lama. Mas era muita coincidência, a lama escorrer e levar um anfíbio para a toca do mamífero.

Olhando para o ponto de situação, a posição de”conchinha” não foi acidental. O anfíbio poderia na verdade ter sido arrastado para a toca pelo outro animal, maior e mais forte, mas o estado dos ossos e a orientação do fóssil sugeriam o contrário.

O Broomistega apresentava sinais de ferimentos sarados, incluindo costelas partidas, mas não correspondiam aos dentes daquele a quem ficou agarrado para sempre, lembra o National Geographic.

Restava uma hipótese: o anfíbio entrou propositadamente no refúgio subterrâneo num sinal de desespero, durante a dura estação seca da “Grande Morte”, a extinção mais devastadora do planeta Terra, que dizimou cerca de 90% das espécies marinhas e 70% da vida terrestre.

O Thrinaxodon, possivelmente num estado de sono profundo, pode não ter notado ou simplesmente não se incomodou com o hóspede não convidado.

 


 

Amor ou não, o que é certo é que os dois animais acabaram por ser sepultados juntos por um súbito fluxo de lama e outros sedimentos.

 

 

in ZAP

quarta-feira, abril 09, 2025

No tempo em choveu durante dois milhões de anos...

Choveu durante 2 milhões de anos. A Crise Carniana deixou marcas na Terra

 

 


Um novo estudo sobre a Crise Carniana, conduzida por uma equipa liderada por Alexander Lukeneder, paleontólogo do Museu de História Natural de Viena, revela acontecimentos surpreendentes relacionados com as alterações climáticas globais durante o período Triássico.

A chamada Crise Carniana“, ou Evento Pluvial Carniano, foi um período de alterações climáticas significativas que ocorreu há 234 a 232 milhões de anos, durante o Carniano, uma dos andares do período Triássico.

Este evento foi marcado por significativas mudanças climáticas, com um grande impacto na vida terrestre e marinha da época, e por um aumento drástico e global da precipitação: choveu durante 2 milhões de anos.

O estudo, publicado o ano passado na Scientific Reports, revela pormenores surpreendentes sobre a forma como o clima global mudou há 233 milhões de anos, levando a uma extinção maciça nos mares da era Mesozoica.

A Crise Carniana global deixou a sua marca nas rochas da Bacia de Reiflinger, perto de Lunz am See, na Áustria, e o vulcanismo maciço no Canadá e no norte dos EUA desencadeou a formação de uma camada de basalto com mais de mil metros de espessura.

Estas erupções vulcânicas libertaram enormes quantidades de CO2 para a atmosfera, alterando drasticamente o clima.

O Triássico tardio caracterizou-se por um clima de estufa com precipitações monçónicas, aumentando o fluxo de lama para o o Mar de Tétis, um enorme oceano que na altura existia entre a África e a Eurásia.

Os recifes foram sufocados, as plataformas de carbonato morreram e o oxigénio tornou-se escasso no fundo do mar, criando zonas mortas.

 



Nestas condições, conta o LBV, formaram-se depósitos com fósseis incrivelmente bem preservados, incluindo amonites, lulas, mexilhões, caracóis, caranguejos, isópodes marinhos e vermes de cerdas.

Entre os fósseis excecionais encontram-se peixes voadores, o celacanto Coelocanthus e o peixe-pulmão Tellerodus.

O mar da bacia de Reiflinger estava rodeado de ilhas com as primeiras florestas de coníferas, como a Voltzia, que cresciam em condições quentes e húmidas. A proximidade de água doce é confirmada por vestígios aluviais de plantas terrestres e por numerosos achados de crustáceos do género Euestheria.

A “Crise Carniana” é observada numa estreita faixa geológica na Áustria, que se estende de Mödling, na Baixa Áustria, até ao norte da Estíria, perto de Großreifling.

A investigação permitiu explorar o ambiente do Triássico tardio e compreender melhor as condições ambientais, as cadeias alimentares e as relações predador-presa da época.

A cadeia alimentar começou com pequenos crustáceos, seguida de pequenos peixes e lulas predadoras, e culminou com amonites predadas por peixes predadores maiores. Os ictiossauros eram os principais predadores deste ecossistema.

 


 

 

A equipa internacional de investigadores, liderada por Alexander Lukeneder e composta por especialistas de várias instituições, efetuou análises exaustivas de rochas e fósseis utilizando métodos avançados. Foram estudados macrofósseis como amonites, lulas e peixes, bem como representantes da flora.

Foram também analisadas as associações polínicas e as suas alterações durante a “Crise Carniana”. Estes estudos mostram uma mudança de condições marinhas para influências de água doce, com um aumento de planícies aluviais e pântanos com vegetação pioneira.

Graças aos microfósseis e às análises geoquímicas e geofísicas, os autores do estudo obtiveram uma imagem pormenorizada do ambiente de há 233 milhões de anos nos Alpes calcários austríacos.

O vulcanismo causou uma forte emissão de CO2, alterando a composição isotópica global do carbono, e esta pegada química é detetada em rochas perto de Lunz am See.

As medições geofísicas mostram um aumento das partículas radiantes e dos minerais magnetizáveis durante a “Crise Carniana”, bem como uma alteração na composição dos minerais argilosos.

Estas condições refletem uma maior entrada de resíduos orgânicos e produtos de meteorização de plantas terrestres devido ao aumento da precipitação.

 

 

O estudo, que revelou a forma como o material arrastado de terra alterou permanentemente a química da água, criando condições hostis e pobres em oxigénio no fundo do mar,  oferece uma compreensão profunda sobre como um dos maiores desastres ambientais da história da Terra afetou o ecossistema do planeta, e deixou a sua marca nas rochas austríacas.

A “Crise Carniana” é um momento crucial na história da vida na Terra. O evento levou a transformações significativas nos ecossistemas, permitindo que novas formas de vida aparecessem, evoluíssem e se expandissem — e marcou o início de uma nova era: a do domínio dos dinossauros.


in ZAP

terça-feira, abril 23, 2024

Mais um fóssil fantástico descoberto no Reino Unido...

 O maior réptil marinho alguma vez encontrado “engole” dois autocarros

 

Conceito artístico da nova espécie Ichthyotitan severnensis

 

Um peixe-lagarto gigante, com 25 metros, descoberto numa praia do Reino Unido pode ser o maior réptil marinho alguma vez encontrado.

Um ictiossauro recém-descoberto, que viveu há 200 milhões de anos no mar Triássico, é provavelmente o maior de sempre, dizem os autores de um novo estudo, publicado recentemente na PLOS One.

Os restos fossilizados agora encontrados, com 200 milhões de anos, sugerem que o gigantesco monstro marinho teria cerca de 25 metros - algo como duas vezes o tamanho de um autocarro.

A criatura recém-descoberta faz parte da ordem Ichthyosauria, cujos membros estavam entre os predadores marinhos dominantes durante a era Mesozoica, de 251,9 milhões a 66 milhões de anos. A espécie agora descrita viveu durante o final do período Triássico, que vai de 251,9 milhões a 201,4 milhões de anos .

Os ictiossauros já tinham atingido enormes dimensões no início do Mesozoico, mas foi só no final do Triássico que surgiram as maiores espécies.

Embora o Mesozoico seja conhecido como a era dos dinossauros, os ictiossauros não eram eles próprios dinossauros. Em vez disso, explica o Live Science, evoluíram a partir de outro grupo de répteis.

O seu percurso evolutivo reflete de perto o das baleias, que evoluíram a partir de mamíferos terrestres que mais tarde regressaram ao mar. E, tal como as baleias, respiravam ar e davam à luz crias vivas.

A recém-descoberta espécie de ictiossauro foi desenterrada em pedaços entre 2020 e 2022 em Blue Anchor, Somerset, no Reino Unido.

O primeiro pedaço do fóssil foi observado no topo de uma rocha na praia, indicando que um transeunte o encontrou e o colocou lá para que outros o examinassem, explicaram os investigadores no artigo.

Os restos mortais do réptil são constituídos por uma série de 12 fragmentos de um osso surangular, que se encontra na parte superior do maxilar inferior. Os investigadores estimam que o osso tinha 2 metros de comprimento e que o animal vivo teria, nesse caso, cerca de 25 metros de comprimento.

Os investigadores deram ao monstro marinho o nome de Ichthyotitan severnensis, que significa peixe-lagarto gigante do Severn, em homenagem ao estuário do Severn, onde foi encontrado.

A equipa acredita que não se trata apenas de uma nova espécie, mas de um género inteiramente novo de ictiossauro - do qual são já conhecidas mais de 100 espécies.

 

in ZAP

segunda-feira, abril 15, 2024

Novidades na paleontologia europeia...

Desvendado mistério de fósseis gigantes na Europa que intrigam cientistas há 150 anos

 

Reconstituição de um ictiossauro gigante

 

Um estudo da Universidade de Bona encontrou finalmente explicação para a origem misteriosa de vários fragmentos de ossos fósseis de grandes dimensões que intrigam os paleontólogos há 150 anos.

Durante a segunda metade do século XIX foram descobertos de grandes dimensões, muito semelhantes,  em várias regiões da Europa Ocidental e Central.

O grupo animal a que pertenciam foi até agora objeto de grande debate na comunidade científica.

Um novo estudo, conduzido por investigadores da Universidade de Bona e  publicado esta semana na revista PeerJ, concluiu agora que a microestrutura dos fósseis indica que provêm da mandíbula inferior de ictiossauros.

Estes animais podiam atingir 25 a 30 metros de comprimento, um tamanho semelhante ao da baleia azul atual.

Em 1850, o naturalista britânico Samuel Stutchbury relatou numa revista científica um misterioso achado: um grande fragmento de osso cilíndrico tinha sido descoberto em Aust Cliff, um depósito de fósseis perto de Bristol.

Desde então, foram encontrados fragmentos de ossos semelhantes em vários locais diferentes da Europa, incluindo Bonenburg, na Renânia do Norte – Vestefália, na Alemanha, e na região da Provença, em França.

Há mais de 200 milhões de anos, estas zonas estavam submersas num enorme oceano que cobria vastas áreas da Europa Ocidental e Central. Os restos fósseis do mundo animal dessa época, incluindo os habitantes marinhos e costeiros, estão preservados nos sedimentos.

Ainda hoje se discute a que grupo animal pertenciam estes grandes ossos fossilizados. Stutchbury supôs, ao examinar os primeiros achados, que eram provenientes de um labyrinthodontia, uma criatura terrestre extinta, semelhante a um crocodilo.

No entanto, esta hipótese foi contestada por outros investigadores, que acreditavam que os fósseis provinham de dinossauros de pescoço comprido (saurópodes), de estegossauros ou de um grupo de dinossauros ainda completamente desconhecido.

“Já no início do século XX, outros investigadores tinham teorizado que os fósseis poderiam pertencer a um ictiossauro gigantesco“, explica em comunicado da Universidade de Bona o autor principal do estudo, Marcello Perillo.

O investigador tem estado a estudar esta teoria no âmbito da sua tese de mestrado no grupo de investigação liderado pelo Professor Martin Sander no Instituto de Geociências da Universidade de Bona.

No  seu trabalho, examinou a microestrutura do tecido ósseo fossilizado. “Os ossos de espécies semelhantes têm geralmente uma estrutura semelhante. Desta forma, a osteohistologia, ou análise do tecido ósseo, permite tirar conclusões sobre o grupo de animais de onde provém o achado”, explica Perillo.

O paleobiólogo começou por recolher amostras de ossos que até agora não tinham sido classificados.

“Comparei espécimes do sudoeste de Inglaterra, de França e de Bonenburg. Todos eles apresentavam uma combinação muito específica de propriedades. Esta descoberta indicou que poderiam provir do mesmo grupo animal”, conta o investigador.

Em seguida, Marcello Perillo verificou, com um microscópio especial, que a parede do osso tinha uma estrutura muito invulgar: continha longos fios de colagénio mineralizado, uma fibra proteica, que se entrelaçavam de uma forma caraterística que ainda não tinha sido encontrada noutros ossos.

Curiosamente, os grandes fósseis de ictiossauros do Canadá também têm uma estrutura de parede óssea muito semelhante. É assim provável que os fósseis provenham da mandíbula inferior de uma criatura marinha.

“No entanto, esta estrutura não se encontra em amostras de fósseis de outros grupos animais que estudei”, sublinha Perillo. “Por isso, parece muito provável que os fragmentos também pertençam a um ictiossauro e que os resultados refutem a afirmação de que os ossos são de um dinossauro terrestre.”

Comparando o tamanho dos fragmentos com as mandíbulas de outras espécies deste grupo animal, é possível deduzir o comprimento dos animais: poderiam ter atingido um comprimento de 25 a 30 metros, como inicialmente proposto pelos defensores da teoria dos ictiossauros. especulado num estudo anterior.

“No entanto, este valor é apenas uma estimativa e está longe de ser certo, até encontrarmos restos fósseis mais completos”, diz Perillo. Mas eram certamente excecionalmente grandes.

Os primeiros ictiossauros viveram nos oceanos antigos, no início do Triássico, há cerca de 250 milhões de anos. Espécies tão grandes como as baleias existiram desde o início, mas as maiores criaturas só apareceram há cerca de 215 milhões de anos. Quase todas as espécies de ictiossauros foram extintas no final do período Triássico, há mais de 200 milhões de anos.

A estrutura invulgar das suas paredes ósseas, semelhante a materiais reforçados com fibra de carbono, manteve provavelmente o osso muito estável e, ao mesmo tempo, permitiu um crescimento rápido.

“Estas enormes mandíbulas teriam sido expostas a forças de cisalhamento significativas, mesmo quando o animal estava a comer normalmente”, diz Perillo.

“É possível que estes animais também usassem o focinho para abocanhar as presas, à semelhança das orcas atuais. No entanto, isto continua a ser pura especulação, nesta altura”, conclui o investigador.

 

in ZAP

quinta-feira, fevereiro 29, 2024

Notícia sobre um fóssil interessante...

“Dragão Chinês” fossilizado com 240 milhões de anos revelado na totalidade pela primeira vez

 

 

Um trabalho de 10 anos permitiu aos paleontólogos reconstruir na totalidade o Dinocephalosaurus orientalis pela primeira vez.

Um novo estudo publicado na Earth and Environmental Science: Transactions of the Royal Society of Edinburgh relata a reconstrução pela primeira vez dos restos de um réptil marinho com 240 milhões de anos, cuja aparência lembra incrivelmente um dragão mítico chinês. Conhecido como Dinocephalosaurus orientalis, este animal de 5 metros de comprimento habitava o sudoeste da China durante o período Triássico.

Embora a espécie tenha sido identificada inicialmente em 2003, a sua aparência permanecia incerta devido aos seus restos não terem sido encontrados na totalidade. No entanto, descobertas mais recentes permitiram aos cientistas montar um único espécime, revelando pela primeira vez a magnificência da criatura em toda a sua glória, explica o IFLScience.

O espécime reconstruído baseia-se em sete exemplares, incluindo cinco restos recentemente descobertos, um dos quais está totalmente articulado. Todos foram descobertos na província de Guizhou, uma região do sul da China conhecida pelas suas descobertas paleontológicas incríveis.

Ao juntar os diversos exemplares, a equipa revelou que o D. orientalis possuía um pescoço significativamente mais longo do que se pensava anteriormente, conferindo ao animal uma aparência elegante e semelhante à de um dragão.

“Esta descoberta permite-nos ver este notável animal de pescoço longo na íntegra pela primeira vez. É mais um exemplo do mundo estranho e maravilhoso do Triássico que continua a confundir os paleontólogos,” disse num comunicado Nick Fraser, guardião de Ciências Naturais nos Museus Nacionais da Escócia.

“Estamos certos de que capturará a imaginação em todo o mundo devido à sua aparência impressionante, reminiscente do dragão chinês mítico, longo e serpenteante,” explica Fraser.

O projeto de pesquisa foi um esforço internacional envolvendo cientistas da Escócia, Alemanha, EUA e China, que estudaram os fósseis durante mais de 10 anos no Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia em Pequim.

Como indicado pelos seus membros adaptados à natação, esta espécie pré-histórica estava bem adaptada à vida oceânica. Além disso, os investigadores descobriram ossos de peixe na área do estômago de alguns espécimes, fornecendo uma visão clara de sua dieta baseada em frutos do mar.

Apesar dos seus estilos de vida aquáticos e pescoços longos, os investigadores explicam que o “dragão chinês” não estava relacionado de perto com os plesiossauros, que evoluíram cerca de 40 milhões de anos depois.

“Este notável réptil marinho é mais um exemplo dos impressionantes fósseis que continuam a ser descobertos na China”, acrescentou o Professor Robert Ellam, Editor-Chefe das Transactions e Fellow da Royal Society of Edinburgh.

 

in ZAP

quinta-feira, agosto 10, 2023

Notícia interessante sobre paleontologia brasileira...

Encontrado o elo perdido que explica porque os dinossauros eram gigantes

 

Os Macrocollum itaquii tinham sacos ocos que permitiram o seu crescimento

 

O elo perdido entre os dinossauros mais antigos, cujo tamanho variava de alguns centímetros até três metros de comprimento, e os gigantes mais recentes, que podiam ser maiores do que dois autocarros, acaba de ser encontrado.

Num novo estudo, investigadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no Brasil, apontam a evidência mais antiga do traço evolutivo que favoreceu o gigantismo dos dinossauros: um fóssil de Macrocollum itaquii.

Este dinossauro bípede é um sauropodomorfo, grupo ancestral de dinossauros quadrúpedes gigantes de pescoço longo.

A descoberta foi apresentada num artigo publicado em março na revista científica The Anatomical Record.

Enterrado há 225 milhões de anos no que hoje é o município de Agudo, no Rio Grande do Sul, o Macrocollum itaquii é o dinossauro com estruturas conhecidas como sacos aéreos mais antigo estudado até hoje.

Estes espaços ocos nos ossos, que ainda se encontram atualmente presentes nas aves, ajudavam os dinossauros a obter mais oxigénio, arrefecer melhor o corpo, suportar as duras condições do planeta na altura - e a tornar-se gigantes, como é o caso dos famosos Tyrannosaurus rex e Brachiosaurus.

“Os sacos aéreos tornavam os ossos menos densos, permitindo que os dinossauros pudessem superar os 30 metros de comprimento”, explica o paleontólogo Tito Aureliano, primeiro autor do estudo, realizado durante o seu doutoramento no Instituto de Geociências da Unicamp.

“O Macrocollum itaquii  foi o maior de seu tempo, com cerca de três metros de comprimento, e poucos milhões de anos antes os maiores dinossauros tinham cerca de um metro. Foram certamente os sacos aéreos do Macrocollum que lhe permitiram atingir tamanho”, completa.

“Este foi um dos primeiros dinossauros a pisar na Terra, no período Triássico. Essa adaptação possibilitou que crescessem e resistissem ao clima quer desse período quer dos posteriores, o Jurássico e o Cretácico”, explica Fresia Ricardi Branco, professora do IG-Unicamp e co-autora do estudo.

“Os sacos aéreos foram uma vantagem evolutiva sobre outros grupos, como os mamíferos, permitindo aos dinossauros diversificar-se mais rapidamente”, acrescenta a investigadora.

Num estudo anterior, a equipa de investigadores tinha mostrado que os fósseis mais antigos até agora encontrados não tinham evidências de sacos aéreos, o que sugere que esta característica evoluiu pelo menos três vezes de forma independente.

“É como se a evolução tivesse feito experiências diferentes até chegar a uma configuração definitiva, em que os sacos aéreos iam desde a região cervical até à cauda. Não foi um processo linear”, conclui Aureliano.

 

in Wikipédia