Uma barreira invisível na Indonésia separa dois mundos. Já sabemos porquê
A Linha de Wallace, que divide o Arquipélago Malaio em duas
zonas biogeográficas, terá sido criada após uma colisão continental há
35 milhões de anos ter desencadeado alterações climáticas extremas.
Era um enigma científico que persistia há mais de 160 anos. A Linha de Wallace,
que tem tanto de imaginária como de real, foi inicialmente descoberta
em 1863 pelo explorador britânico Alfred Russel Wallace, que notou que o
Arquipélago Malaio podia ser dividido em duas partes biogeográficas,
dadas as enormes diferenças nas espécies encontradas em cada uma das
regiões.
Durante mais de um século, os cientistas não conseguiram explicar a
causa de uma diferença tão grande na fauna nesta região. Mas um novo estudo publicado na Science pode ter finalmente solucionado este mistério.
De acordo com os autores, estas mudanças no clima terão sido causadas
pela atividade das placas tectónicas há cerca de 35 milhões de anos,
quando a Austrália se separou da Antártida e colidiu com a Ásia,
formando o Arquipélago Malaio.
Os cientistas chegaram a esta conclusão com a ajuda de um modelo computacional que simulou como os animais foram afetados
pelas alterações climáticas desencadeadas por esta colisão continental.
Os resultados mostraram que as espécies asiáticas estavam muito melhor
adaptadas para viver no arquipélago malaio naquela época, relata o Live Science.
As principais alterações climáticas foram causadas não pelo movimento
dos continentes em si, mas pela forma como isso afetou os oceanos. A
separação da Austrália da Antártida abriu uma área de oceano profundo
que atualmente aloja a Corrente Circumpolar Antártica (ACC), a maior corrente oceânica do mundo, alterando drasticamente o clima do planeta e tornando-o muito mais frio.
Este arrefecimento não afetou todas as espécies de igual forma. O
clima no sudeste da Ásia e no recém-formado arquipélago malaio continuou
muito mais quente e húmido do que na Austrália, que se tornou fria e
seca.
Como resultado, as criaturas da Ásia estavam bem adaptadas para viver
nas ilhas malaias e usaram-nas como “pedras de passagem” para se
deslocarem em direção à Austrália. Por outro lado, as espécies
australianas, que evoluíram num clima mais frio e seco, tiveram menos sucesso na expansão para as ilhas tropicais.
Os autores esperam que o modelo possa ser usado para prever como as
alterações climáticas modernas afetarão as espécies vivas, ajudando a
prever quais as espécies que poderão ser mais capazes de se adaptar aos
novos ambientes.
in ZAP