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domingo, novembro 24, 2024

Darwin publicou A Origem das Espécies há 165 anos...!

 

A Origem das Espécies (em inglês: On the Origin of Species), do naturalista britânico Charles Darwin, é um dos livros mais importantes da história da ciência, apresentando a Teoria da Evolução, base de toda biologia moderna. O nome completo da primeira edição (1859) é On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life (Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural ou a Preservação de Raças Favorecidas na Luta pela Vida). Somente na sexta edição (1872), o título foi abreviado para The Origin of Species (A Origem das Espécies), como é popularmente conhecido.
Nesse livro, Darwin apresenta evidências abundantes da evolução das espécies, mostrando que a diversidade biológica é o resultado de um processo de descendência com modificação, onde os organismos vivos se adaptam gradualmente através da seleção natural e as espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais, como os galhos de uma grande árvore: a árvore da vida.
A primeira edição, publicada pela editora de John Murray em Londres no dia 24 de novembro de 1859 com tiragem de 1.250 exemplares, esgotou-se no mesmo dia, criando uma controvérsia que ultrapassou o âmbito académico. Um exemplar da primeira edição atinge hoje mais de 50 mil dólares em leilão.
A proposta de Darwin, que as espécies se originam por processos inteiramente naturais, contradiz a crença religiosa na criação divina tal como é apresentada na Bíblia, no livro de Génesis. As discussões que o livro desencadeou disseminaram-se rapidamente entre o público, criando o primeiro debate científico internacional da história.
     

terça-feira, setembro 24, 2024

As coisas que os humanos fazem - somos mais neandertais do que pensávamos...

Neandertais e Homo sapiens cruzaram-se numa montanha (em vários sentidos)

 

Reconstituição de um homo sapiens (esquerda) e neandertal (direita)

 

Uma equipa de arqueólogos identificou uma provável região de cruzamento entre Neandertais e o Homo sapiens durante o Plistocénico tardio. 

Diversos estudos mostraram já anteriormente que houve cruzamentos entre as populações de Neandertal e Homo sapiens — tendo mesmo sido encontrado ADN Neandertal no genoma de humanos modernos.

Um novo estudo usou agora modelação de nichos ecológicos e um sistema de informação geográfica para identificar as localizações dos Neandertais e dos Homo Sapiens que viviam em partes do sudeste da Europa e do sudoeste da Ásia.

No estudo, publicado na semana passada no Scientific Reports, os investigadores conseguiram identificar as regiões com maior probabilidade de interação e, consequentemente, de cruzamento entre as duas espécies de humanos durante o Plistocénico tardio.

Depois de estudar a distribuição geográfica do Neandertal e do Homo sapiens durante esse período, os investigadores concluíram que tinha havido cruzamento entre as duas espécies, e reduziram a lista de possíveis locais a apenas uma região - as Montanhas Zagros, no Planalto Persa, cadeia montanhosa que se estende do Irão ao norte do Iraque e ao sudeste da Turquia.

 

  

A biodiversidade, topologia variada e clima quente do local teriam permitido um bom nível de vida para os sues habitantes.

Além disso, a região deve ter estado no caminho do Homo sapiens quando este migrou para fora de África, por volta da altura em que os Neandertais ainda lá viviam, o que tornaria possível encontro entre as duas populações.

O local é considerado um tesouro de esqueletos de Neandertais e Homo sapiens, sendo a região onde foi encontrado o “enterro de flores” Neandertal e onde se descobriu um dos principais caminhos que o Homo sapiens percorreu quando começou a sair de África.

 

 

A equipa de investigação sugere que seria muito surpreendente se os dois grupos não se tivessem encontrado - pelo que parece assim altamente provável que se tenham cruzado, conta o Phys.org.

É de recordar que a relação entre neandertais e humanos modernos foi profundamente íntima, com trocas genéticas significativas. Tal intimidade influenciou a evolução de ambos os grupos, mas pode ter resultado na extinção dos neandertais.

 

in ZAP

sexta-feira, setembro 06, 2024

Pretensas novidades sobre o local onde apareceram os humanos...

Afinal, o berço da humanidade pode não ser onde pensávamos

  

 

Durante décadas, o Rift Africano Oriental tem sido aclamado como o “Berço da Humanidade”, a região onde se acredita que os nossos primeiros antepassados evoluíram.

Esta crença baseia-se em numerosas descobertas de fósseis no Vale do Rift, que forneceram informações valiosas sobre as primeiras fases da evolução humana.

No entanto, um novo estudo, cujos resultados foram publicados em agosto na revista Natura Ecology & Evolution, sugere que esta narrativa pode estar incompleta.

O Rift Africano Oriental, uma formação geológica que se estende por toda a África Oriental, é conhecida pelos seus depósitos de rochas sedimentares que preservaram fósseis antigos durante milhões de anos.

Locais importantes como o desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia, revelaram fósseis dos primeiros hominídeos, como o Paranthropus boisei e o Homo habilis, que datam de há cerca de 2 milhões de anos.

No entanto, este foco no Vale do Rift pode ter levado a uma compreensão distorcida da história inicial da nossa espécie.

“Como as provas da evolução humana inicial provêm de um pequeno número de sítios, é importante reconhecer que não temos uma imagem completa do que aconteceu em todo o continente”, explica W. Andrew Barr, primeiro autor do estudo, em comunicado publicado no EurekAlert.

O Rift Africano Oriental cobre menos de 1% do continente africano, enquanto os primeiros seres humanos provavelmente vagueavam muito para além desta estreita faixa de terra.

A preservação dos fósseis depende fortemente de condições geológicas específicas, e muitas regiões fora do Vale do Rift podem ter sido menos propícias à preservação a longo prazo dos restos mortais dos hominídeos.

Como resultado, grande parte do registo fóssil de outras partes de África provavelmente perdeu-se no tempo.

Num novo estudo, investigadores analisaram as áreas de distribuição dos mamíferos modernos no Vale do Rift e descobriram que, para os animais de médio e grande porte, o Rift Africano Oriental constituía apenas 1,6% do seu habitat. Isto sugere que os primeiros seres humanos, tal como outros animais, não se teriam confinado a esta pequena área.

O estudo também examinou a variação do tamanho do crânio e do corpo dos primatas africanos modernos, revelando que espécies como os babuínos são geralmente maiores na África Central do que na África Oriental.

Se os primeiros hominídeos apresentassem padrões semelhantes de variação morfológica, o registo fóssil do Vale do Rift não captaria esta diversidade, levando a uma imagem incompleta e potencialmente enganadora dos nossos antepassados.

 

in ZAP

quinta-feira, agosto 08, 2024

Notícia interessante sobre a (não) extinção dos neandertais...

A paixão entre neandertais e homo sapiens foi muito mais forte do que se pensava

 

 

 

A relação entre neandertais e humanos modernos foi profundamente íntima, com trocas genéticas significativas. Tal intimidade influenciou a evolução de ambos os grupos, mas pode ter resultado na extinção dos neandertais.

Há muitas teorias e (ainda) poucas certezas sobre a forma como se extinguiram os neandertais.

O que é certo é que o os neandertais – que desapareceram há 40.000 anos - e o homo sapiens tiveram um passado em comum.

Alguns cientistas até questionam a necessidade de classificar os neandertais como uma espécie separada, dado o nível de interação.

Vários estudos recentes indicam que as duas espécies se cruzaram mais do que uma vez, sugerindo uma relação íntima – que poderá ter sido fatal para os neandertais.

A maioria dos estudos, até agora, tinha-se focado no fluxo genético dos neandertais para os humanos, até porque temos muito ADN humano e muito pouco neandertal para analisar.

No entanto, um estudo publicado na semana passada, na revista Science, incidiu a sua investigação no fluxo genético inverso, analisando o ADN que os humanos passaram para os Neandertais.

Os resultados confirmaram uma associação prolongada entre os dois grupos, datando de 250.000 anos atrás (muito antes do que se pensava). Além disso, descobriu-se que as relações podem ter sido bem mais intensas.

Esta investigação veio atestar essa hipótese de estudos anteriores que sugeriam que os neandertais foram “absorvidos” pelo Homo sapiens.

Como explica a equipa de investigação, liderada por Liming Li, da Universidade de Princeton, a assimilação terá feito crescer a população de Homo sapiens e reduzido a já pequena população neandertal.

“A assimilação dos Neandertais pelas populações humanas modernas, à medida que se espalhavam pela Eurásia, teria efetivamente aumentado a dimensão das populações humanas modernas e, simultaneamente, diminuído a dimensão de uma população Neandertal já em risco”, escreve, citada pel a Science Alert.

A substituição do cromossoma Y e do ADN mitocondrial neandertal pelos humanos modernos foram dois eventos que marcaram um caminho inevitável para o desaparecimento dos nossos “primos” da pré-história.

Além disso, o estudo indica que os cientistas podem ter sobrestimado a dimensão da população de neandertais em cerca de 20%.

“A nossa descoberta de que o tamanho da população de Neandertais era provavelmente ainda mais pequeno do que o estimado anteriormente apenas aceleraria o processo de assimilação”, pode ler-se.

Tudo isto “pode ter marcado um caminho irrevogável para o desaparecimento de uma das poucas linhagens de hominídeos que coexistiam com os humanos modernos”, acrescenta a equipa.

 

in ZAP

segunda-feira, agosto 05, 2024

Até em rochas do Câmbrico se pode fazer achados excecionais...!

“O meu queixo caiu”. Encontrado fóssil com 520 milhões de anos de larva com cérebro preservado

 

 

O fóssil tem a anatomia interna totalmente intacta, incluindo o cérebro e os sistemas digestivo e circulatório.

Numa descoberta notável, um novo estudo publicado na Nature revela um fóssil não maior do que uma semente de sésamo foi desenterrado na China, fornecendo informações profundas sobre a história evolutiva dos artrópodes. Esta larva, que remonta a há cerca de 520 milhões de anos, ao período Câmbrico, representa um novo género e uma nova espécie denominada Youti yuanshi.

Embora diminuto, o significado deste fóssil é monumental. A sua preservação quase perfeita, incluindo a anatomia interna intacta, oferece um raro vislumbre do desenvolvimento inicial dos artrópodes – um filo que engloba as aranhas, caranguejos e insetos atuais.

O paleontólogo Martin Smith, da Universidade de Durham, no Reino Unido, mostrou-se surpreendido com o achado, salientando a improbabilidade de se descobrir um fóssil larvar tão bem preservado. “Quando vi as estruturas espantosas preservadas sob a sua pele, fiquei de queixo caído“, comentou Smith.

O fóssil foi descoberto na Formação Yu’anshan, uma formação rochosa de xisto conhecida pelos seus ricos depósitos de fósseis. Extraído com ácido acético e submetido a um exame de alta resolução, o fóssil revelou estruturas internas pormenorizadas, incluindo o cérebro, as glândulas digestivas, o sistema circulatório e o sistema nervoso. Estas características são cruciais para compreender a trajetória evolutiva dos artrópodes, relata o Live Science.

A geóloga Katherine Dobson, da Universidade de Strathclyde, no Reino Unido, destacou a preservação excecional, afirmando: “A fossilização natural conseguiu uma preservação quase perfeita nesta incrível larva minúscula”.

O significado do Y. yuanshi vai para além da sua notável preservação. Como um estágio de desenvolvimento raramente visto em fósseis antigos, oferece uma visão única sobre os estágios iniciais da evolução dos artrópodes. O protocérebro do fóssil, uma região cerebral primitiva, sugere a complexa anatomia craniana que evoluiria nos artrópodes posteriores. Do mesmo modo, os seus sistemas circulatório e digestivo fornecem ligações às características sofisticadas observadas nos artrópodes atuais.

Esta descoberta sublinha o sucesso evolutivo dos artrópodes, ilustrando a sua capacidade de diversificação e adaptação a vários nichos ecológicos em todo o mundo.

 

in ZAP

Há sempre novidades na área da Paleontologia...

Fóssil raro de cobra de 38 milhões de anos desafia o que sabemos sobre a evolução

 

 

A nova espécie descoberta será uma antepassada das jiboias atuais e hibernava, um hábito extremamente raro nos répteis.

Há cerca de 38 milhões de anos, três cobras juntaram-se no que é hoje o Wyoming, possivelmente para se aquecerem e se protegerem. Os seus fósseis, descobertos em 1976 na Formação de White River, intrigaram os investigadores durante décadas.

Um novo estudo, publicado no Zoological Journal of the Linnean Society, identificou finalmente estas cobras como uma nova espécie, lançando luz sobre o seu comportamento social único.

Os fósseis foram notados pela primeira vez pelo seu comportamento de agrupamento num estudo de 1986, que sugeriu que as cobras poderiam ter hibernado juntas. Este agrupamento foi considerado a primeira prova clara do comportamento social dos répteis no registo fóssil, aponta o Live Science.

Utilizando tomografias computorizadas de alta resolução, os cientistas examinaram de perto os fósseis e concluíram que as cobras estão relacionadas com as jiboias atuais. Batizaram a nova espécie de Hibernophis breithaupti, combinando a palavra latina “hibernare” (hibernar) com a palavra grega “ophis” (serpente), refletindo o presumível comportamento de hibernação das serpentes.

“Isto é realmente invulgar nos répteis”, disse Michael Caldwell, paleontólogo de vertebrados e biólogo evolutivo da Universidade de Alberta e co-autor do estudo. “Dos quase 15.000 tipos diferentes de espécies de répteis existentes atualmente, nenhum deles hiberna da forma como as cobras-liga o fazem.”

As cobras-liga, que se encontram em toda a América do Norte, reúnem-se em tocas comuns entre outubro e abril para se manterem quentes, percorrendo por vezes longas distâncias para chegar a essas tocas. Ao hibernarem em grupos, conservam o calor durante os meses frios. A H. breithaupti pode ter adotado uma estratégia semelhante, com os seus fósseis a fornecerem um retrato deste comportamento social na altura da sua morte.

Os investigadores acreditam que estas serpentes antigas foram apanhadas e mortas por uma pequena inundação enquanto estavam na sua toca de inverno. A inundação envolveu-as rapidamente em lama fina e arenosa, preservando os seus esqueletos completos e articulados. Esta preservação é particularmente rara para as cobras, uma vez que os seus esqueletos, compostos por centenas de vértebras, se dispersam facilmente.

“Existem provavelmente, nas coleções de museus de todo o mundo, cerca de um milhão de vértebras desarticuladas de serpentes”, observou Caldwell. “São fáceis de encontrar. Mas encontrar a cobra inteira? Isso é raro”.

A descoberta do Hibernophis breithaupti não só acrescenta uma nova espécie à árvore genealógica das serpentes, como também fornece informações valiosas sobre os comportamentos sociais dos répteis antigos.

 

in ZAP

quinta-feira, agosto 01, 2024

Lamarck nasceu há 280 anos

 

  
Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck (Bazentin, 1 de agosto de 1744 - Paris, 28 de dezembro de 1829) foi um naturalista francês que desenvolveu a teoria dos caracteres adquiridos, uma teoria da evolução agora desacreditada. Lamarck personificou as ideias pré-darwinistas sobre a evolução. Foi ele que, de facto, introduziu o termo biologia.
Originário da baixa nobreza (daí o título de 'chevalier'), Lamarck pertenceu ao exército, interessou-se por história natural e escreveu uma obra de vários volumes sobre a flora da França. Isto chamou a atenção do conde de Buffon, que o indicou para o Museu de História Natural de Paris. Depois de ter trabalhado durante vários anos com plantas, Lamarck foi nomeado curador dos invertebrados (mais um termo introduzido por ele), e começou uma série de conferências públicas. Antes de 1800, ele era um essencialista que acreditava que as espécies eram imutáveis. Mas graças ao seu trabalho sobre os moluscos da Bacia de Paris, ficou convencido da transmutação das espécies ao longo do tempo, e desenvolveu a sua teoria da evolução (apresentada ao público em 1809 na sua Philosophie Zoologique).

   

sábado, julho 20, 2024

Gregor Mendel nasceu há 202 anos

           
Durante a sua vida, Mendel publicou dois grandes trabalhos agora clássicos: "Ensaios com plantas híbridas" (Versuche über Pflanzen-hybriden), que não abrangia mais de trinta páginas impressas e "Hierácias obtidas pela fecundação artificial".
Em 1865, formula e apresenta, em dois encontros da Sociedade de História Natural de Brno, as leis da hereditariedade, hoje chamadas Leis de Mendel, que regem a transmissão dos caracteres hereditários. Após 1868, as tarefas administrativas mantiveram-no tão ocupado que não pode dar continuidade às suas pesquisas, vivendo o resto da sua vida em relativa obscuridade. É atualmente conhecido como "Pai da Genética".
         

segunda-feira, julho 15, 2024

A vida na Terra pode ser mais antiga do que pensávamos...

O último ancestral de todas as formas de vida surgiu muito antes do que se pensava

 

 

O organismo que deu origem a todas as formas de vida atuais na Terra – LUCA – pode ter aparecido muito mais cedo do que se pensava. O novo estudo revelou que esta forma de vida era, afinal, bastante sofisticada.

LUCA foi o último antepassado comum universal. Ou seja, foi a entidade que deu origem a todas as formas de vida atuais.

Um novo estudo, publicado esta sexta-feira na Nature Ecology & Evolution, teoriza que o LUCA surgiu muito mais cedo do que se pensava.

A nova estimativa acredita que este organismo viveu cerca de 4,2 mil milhões de anos atrás, logo após a formação da Terra, que data de 4,5 mil milhões de anos.

Conceções anteriores apontavam para o aparecimento de LUCA após o bombardeamento pesado tardio, um período de intensa colisão de meteoritos há aproximadamente 3,8 mil milhões de anos.

O estudo analisou a continuidade genética das várias formas de vida atuais.

Cerca de 2600 genes codificadores de proteínas (um número muito superior às estimativas anteriores de apenas 80) foram rastreados até LUCA. Isto sugere que este ancestral possuía uma complexidade biológica significativamente maior do que se pensava.

 

Mais sofisticado do que se pensava

Os genes estudados indicam que LUCA possuía mecanismos de defesa contra raios UV, sugerindo que habitava à superfície dos oceanos, e se alimentava primariamente de hidrogénio. Estes genes, juntamente com outros, indicam a presença de um ecossistema de células primitivas ao redor de LUCA, contrariando a ideia de que este antepassado existia isoladamente.

Surpreendentemente, os resultados também apontam para a presença de uma versão primitiva do sistema de defesa bacteriano CRISPR em LUCA, indicativo de que já há 4,2 mil milhões de anos, os organismos já enfrentavam ameaças virais.

“Mesmo há 4,2 mil milhões de anos, os nossos antepassados mais antigos lutam contra os vírus”, disse o líder da investigação, Edmund Moody, da Universidade de Bristol, à New Scientist.

Patrick Forterre, do Instituto Pasteur em Paris, França, criador do termo LUCA, considera esta teoria irrealista: “A afirmação de que o LUCA estava a viver antes do bombardeamento tardio há 3,9 mil milhões de anos é completamente irrealista para mim. Tenho a certeza de que a sua estratégia para determinar a idade e o conteúdo genético do LUCA tem algumas falhas”, disse, citado pela mesma revista.

 

in ZAP

 

NOTA - LUCA é um acrónimo - significa Last Universal Common Ancestor...

domingo, julho 14, 2024

Notícia a debater se a existência de extraterrestres inteligentes é influênciada pela Tectónica de Placas...

A resposta sobre a existência de aliens pode ter estado escondida na Terra este tempo todo

  

  

A existência de placas tectónicas pode ser fundamental para o desenvolvimento da vida complexa, o que pode explicar porque é que ainda não encontramos extraterrestres.

As placas tectónicas podem ter sido a chave para o desenvolvimento da vida complexa no nosso planeta, responsáveis por nós mesmos existirmos, mas também noutros planetas - e é essa possibilidade que cientistas da Universidade do Texas estão a levar em conta.

Num estudo publicado na revista científica Scientific Reports, foi calculada a probabilidade de outros planetas terem placas tectónicas, e isso foi adicionado à Equação de Drake, que calcula as probabilidades de encontrarmos civilizações alienígenas avançadas na nossa galáxia, a Via Láctea.


Placas tectónicas e a vida

Tudo começou com a questão do porquê a vida na Terra levou tanto tempo para sair dos organismos simples, o que só ocorreu após 4 mil milhões de anos de pequenos organismos a viver no mar. Criaturas complexas como os animais surgiram só há 600 milhões de anos, não muito tempo depois depois da dinâmica moderna das placas tectónicas aparecer.

Robert Stern, da Universidade do Texas, juntou-se a Taras Gerya, do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, para propor que o atrito do movimento tectónico ao longo das eras geológicas ajudou no desenvolvimento da vida complexa. Isso teria ocorrido, basicamente, porque a dinâmica tectónica tornou os terrenos continentais adequados para a transição das criaturas do mar para a terra.

Cinco processos diferentes participaram dessa adequação - o aumento no abastecimento de nutrientes, a aceleração da oxigenação atmosférica e oceânica, o aumento da temperatura climática, um alto ciclo de formação e destruição de habitats e a pressão ambiental não-catastrófica que forçou a adaptação de organismos.

A partir disso, podemos concluir que, para que outras formas de vida em planetas distantes possam evoluir até conseguir desenvolver tecnologias avançadas com a capacidade de sair do planeta, seriam necessárias as mesmas condições.

A Terra é o único planeta do sistema solar com dinâmica tectónica. Planetas como Vénus, Marte e a lua Io têm atividade vulcânica, mas a sua crosta é uma casca única, não fragmentada e em movimento como a nossa. Não há como ter certeza de que mundos distantes possuem placas tectónicas, já que nossos telescópios não são tão potentes, mas, com base no que já conhecemos, há como estimar.

Ao rever a equação, os investigadores consideraram novos fatores - a fração de exoplanetas habitáveis com grandes continentes e oceanos e a fração desses que têm placas tectónicas com duração de mais de 500 milhões de anos. Isso exclui muito mais planetas do que o cálculo original, que considerava que qualquer vida simples, em todos planetas capazes de abrigá-la, se desenvolveria até formar uma civilização tecnológica.

A nova equação reduz a percentagem de planetas capazes de desenvolver vida complexa para 0,003%, no mínimo, e 0,2%, no máximo, algo muito menor do que o cálculo original, que simplesmente trabalhava com 100% (a partir da existência de vida simples).

Juntando isso com outros fatores, como o número de estrelas formadas anualmente, a quantidade de estrelas com planetas e planetas habitáveis entre estes, as probabilidades de achar vida inteligente na galáxia diminuem bastante, o que pode explicar não termos achado alienígenas até hoje - e mostrar que a Terra é, de fato, mais especial do que pensávamos.

 

in ZAP

Notícia divertida, a misturar fronteiras políticas, Camões, tectónica de placas e evolução...

Portugal já fez fronteira com o Canadá e a Gronelândia

 

 

Uma nova simulação de como seria o mapa do antigo super-continente Pangeia com as fronteiras políticas atuais sugere que o território onde atualmente se encontra Portugal já esteve colado ao atual Canadá e à Gronelândia.

A Pangeia formou-se há cerca de 335 milhões de anos e começou a dividir-se há 175 a 200 milhões de anos, originando, de forma gradual, a configuração atual dos continentes.

O movimento de junção e separação dos pedaços de terra do nosso planeta já ocorreu várias vezes ao longo da história.

As placas tectónicas e a crosta terrestre, tal como “todo o mundo”, são compostas de constantes mudanças.

Aliás, como disse Luís Vaz de Camões, “O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria”.

No caso de Portugal, essa passagem do poema “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, aplica-se mesmo (pelo menos, metaforicamente), uma vez que Portugal já fez fronteira com o Canadá e a Gronelândia.

Quem o indica é uma nova ilustração da Pangeia da autoria de Massimo Pietrobon. No mapa que se segue, o cartógrafo representa as fronteiras políticas atuais no mapa do supercontinente.

 

O mapa da Pangeia com as fronteiras políticas atuais representadas

 

 

Quase no centro da imagem podemos ver Portugal a laranja, colado a Espanha, Canadá e Gronelândia.

O continente “unificado” proporcionou ainda outras junções curiosas como, por exemplo, Brasil com Angola, Marrocos com Estados Unidos, Moçambique com Antártida e África do Sul com Argentina, ou Senegal com Cuba.

As massas terrestres tendem a juntar-se a cada 400 ou 500 milhões de anos, mas sempre de forma distinta; ou seja, como diz o poeta supracitado, “Tomando sempre novas qualidades”.

A constante mudança de que Camões falava provocará, daqui a 250 milhões de anos, a formação de uma “nova Pangeia”.

De acordo com o El Confidencial, as novas transformações provocarão “quase de certeza” a extinção da espécie humana. Além disso, as condições do planeta também serão incompatíveis com a vida dos mamíferos.

   

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

 

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.”

 

in “Sonetos” - Luís Vaz de Camões

 

in ZAP

quarta-feira, maio 29, 2024

Mais novidades sobre hominídeos...

Misterioso crânio com 1 milhão de anos na China pode ser da linhagem do “Homem Dragão”

 

 

Uma reconstrução de um dos crânios descobertos em Yunyang sugere que pertencerá ao último antepassado comum entre o Homo sapiens e o Homem-Dragão.

Em 1989 e 1990, dois crânios com cerca de 1 milhão de anos, pertencentes a uma espécie humana desconhecida, foram descobertos no distrito de Yunyang, na província de Hubei, na China Central.

Um terceiro crânio semelhante foi encontrado nas proximidades em 2022, mas a identidade desses fósseis continuou a ser um mistério: seriam Homo erectus ou primeiros Homo sapiens? Ou talvez estivessem relacionados à enigmática linhagem asiática do “Homem-Dragão”?

um novo estudo – que está ainda a ser revisto por pares – cientistas reconstruiram um dos crânios e fizeram a intrigante afirmação de que o indivíduo pode estar próximo do último ancestral comum entre Homo sapiens e a linhagem do Homem-Dragão.

O Homem-Dragão, cientificamente conhecido como Homo longi, é uma espécie extinta de humano arcaico, conhecida por um crânio com 146.000 anos encontrado na província chinesa de Heilongjiang. Alguns sugerem que o Homem-Dragão é a mesma espécie dos Denisovanos – a misteriosa “espécie irmã” extinta dos humanos que viveu ao lado do H. sapiens na Eurásia – embora o seu lugar exato na árvore genealógica da humanidade seja incerto.

Curiosamente, parece que o Homem-Dragão pode ter uma relação intrigante com os três crânios encontrados em Yunyang, conhecidos como o “Homem de Yunxian”.

Para chegar a essa conclusão, os investigadores reconstruíram o crânio do Homem de Yunxian, utilizando principalmente o espécime melhor preservado (Yunxian 2). Eles então estudaram a forma do crânio reconstruido para ver como ele se comparava com outros membros da família Homo.

Embora o crânio de Yunxian apresentasse uma mistura de características, muitos aspetos do seu crânio pareciam pertencer a um membro inicial da linhagem do Homem-Dragão, relata o IFLScience.

“Yunxian 2 reconstruido sugere que ele é um membro inicial da linhagem asiática do ‘Homem-Dragão’, que provavelmente inclui os Denisovanos, e é o grupo irmão da linhagem Homo sapiens. Ambas as linhagens, H. sapiens e Homem-Dragão, têm raízes profundas que se estendem além do Pleistoceno Médio, e a posição basal do crânio fóssil de Yunxian sugere que ele representa uma população próxima ao último ancestral comum das duas linhagens,” escrevem os autores do estudo.

Com cerca de 940.000 a 1,1 milhão de anos, o Homem de Yunxian é significativamente mais antigo que a linhagem do Homem-Dragão e H. sapiens. No entanto, a sua datação coincide com o tempo teórico de origem dessas duas linhagens, por volta de 1,13 milhões e 930.000 anos atrás, respetivamente.

Portanto, os investigadores ponderam que o Homem de Yunxian pode ser algo como um último ancestral comum entre a nossa espécie e o chamado Homem-Dragão da Ásia Oriental.

 

in ZAP

terça-feira, maio 21, 2024

Mais uma notícia sobre dinossáurios...

Edmontossauro: a vida fascinante do gigante que viveu há milhões de anos

 

 

O Edmontossauro viveu durante o período Cretácico, há cerca de 73 a 66 milhões de anos atrás, no oeste da América do Norte. Pesava cerca de 4 toneladas e podia medir até 13 metros de comprimento.

O dinossauro alimentava-se de folhas, frutas, sementes e ramos de plantas que cresciam até uma altura de 4 metros.

Este herbívoro partilhou o seu habitat com os Tiranossauro e Triceratops e viveu até ao evento de extinção Cretácico-Paleogénico.

Segundo o ZME Science, o nome Edmontosaurus tem origem na área de Edmonton, no Canadá, onde os seus fósseis eram abundantes. Inicialmente, os espécimes que mais tarde pertenceriam ao género, foram classificados em vários géneros, incluindo Claosaurus, Thespesius e Trachodon.

A história do animal começa no final do século XIX, com a descoberta inicial e posterior designação por Lawrence Lambe em 1917. O século XX trouxe mais detalhes e novidades para a compreensão do Edmontosaurus, com contribuições de diversos paleontólogos.

Além disso, esta era testemunhou a descoberta de numerosos espécimes bem preservados, incluindo dinossauros “mumificados”, que trouxeram conhecimentos sobre a textura da pele e possíveis tecidos moles.


 

File:Edmontosaurus skull 7.jpg

Molde de crânio de Edmontosaurus

 

File:Paleo Hall at HMNS Edmontosaurus.jpg

Montagem de museu de Edmontosaurus adulto com juvenil

 

Os espécimes, bem preservados, revelam impressões de pele marcadas por escamas variáveis. A preservação pormenorizada destes padrões de pele permitiu aos cientistas fazer suposições fundamentadas sobre a sua aparência em vida, retratando o Edmontosaurus como um animal bem adaptado ao seu ambiente.

Estes trabalhos tentaram desvendar a sua complexa taxonomia, levando a uma distinção mais clara do dinossauro no seio da família Hadrosauridae.

Este animal percorreu toda a atual América do Norte, o que revelou a sua enorme adaptabilidade a diferentes ambientes. As angiospérmicas, as coníferas, os fetos e as cicadáceas dominavam as paisagens que habitava.

Os recentes avanços tecnológicos, incluindo a digitalização 3D e a modelação digital, permitiram aos cientistas simular a mastigação do Edmontosaurus. Esta análise mostrou que os animais podiam realizar movimentos complexos da mandíbula, necessários para a sua dieta herbívora.

As simulações sugerem que as mandíbulas do dinossauro podiam mover-se não só verticalmente mas também lateralmente, aumentando a sua capacidade de triturar material vegetal duro.

Identificaram também que estes movimentos ajudavam a distribuir o desgaste pelas várias filas de dentes, prolongando a sua utilidade.

 

 

O Edmontosaurus ocupa um lugar mais modesto na cultura popular do que os seus contemporâneos. No entanto, o seu género não é estranho aos ecrãs de cinema pois já apareceu em diferentes séries e filmes bem como em videojogos. 

Por exemplo, na série da BBC “Walking with Dinosaurs“, o Edmontosaurus é retratado no seu habitat natural, ilustrando a sua vida quotidiana e os desafios da sobrevivência. O documentário destaca ainda o comportamento de manada e a forma como estas estruturas sociais ajudavam a proteger os indivíduo.

A sua vida já foi retratada em filmes, séries, documentários e videojogos, o que revela um claro fascínio por esta espécie que se extinguiu há milhões de anos.

 

in ZAP

segunda-feira, maio 20, 2024

Stanley Miller morreu há dezassete anos

  
Stanley Lloyd Miller (Oakland, 7 de março de 1930 - National City, 20 de maio de 2007) foi um cientista norte americano.
Formou-se em Química na Universidade da Califórnia em Berkeley em 1951 e fez doutoramento na Universidade de Chicago, concluído em 1954. Passou um ano com uma bolsa no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) e outros cinco anos na Universidade de Columbia, antes de se instalar na Universidade da Califórnia, em San Diego, onde terminou a sua carreira científica.
Ficou conhecido pelos seus trabalhos sobre a origem da vida. Notabilizou-se, pela primeira vez, aos 23 anos de idade, pelo seu trabalho, feito em colaboração com Harold Clayton Urey, que ficou conhecido como a Experiência de Urey-Miller, ou mesmo como a "Sopa Orgânica".

quinta-feira, maio 16, 2024

Somos mesmo um espécie bizarra...

Os humanos ancestrais evoluíram de forma bizarra (e diferente das outras espécies)

 

Crânios de Homo erectus, Homo floresiensis e Homo heidelbergensis

 

De acordo com um novo estudo, a competição inter-espécies nos humanos antigos registou uma tendência evolutiva completamente oposta à de quase todos os outros vertebrados.

Durante anos, os cientistas assumiram que o principal motor da ascensão e queda das espécies de hominídeos, que inclui os humanos e os nossos antepassados diretos, eram as alterações climáticas.

Sabe-se, no entanto, que a competição inter-espécies também esteve em jogo, tal como acontece na maioria dos vertebrados.

Um novo estudo, publicado na revista Nature Ecology & Evolution examinou agora o ritmo a que surgiram novas espécies de hominídeos ao longo de 5 milhões de anos.

Esta especiação na nossa linhagem, segundo os investigadores, é diferente de quase tudo o resto.

“Temos estado a ignorar a forma como a competição entre espécies moldou a nossa própria árvore evolutiva”, afirma Laura van Holstein, investigadora da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e autora principal do estudo.

“O efeito do clima nas espécies de hominídeos é apenas uma parte da história“, salienta a paleoantropóloga, que em 2020 descobriu que as subespécies de mamíferos desempenham um papel mais importante na evolução do que aquilo que se pensava, provando uma das teorias de Charles Darwin.

Na maioria dos vertebrados, as espécies evoluem para preencher “nichos” ecológicos. “O padrão que observamos em muitos dos primeiros hominídeos é semelhante ao de todos os outros mamíferos”, explica van Holstein, citada pela Cosmos.

“As taxas de especiação aumentam e depois estabilizam, altura em que as taxas de extinção começam a aumentar. Isto sugere que a competição entre espécies foi um fator evolutivo importante“, acrescenta a investigadora.

Mas van Holstein descreve como “bizarra” a evolução do grupo Homo, que inclui os humanos modernos e que surgiu há cerca de 2 milhões de anos com o Homo habilis. A tendência de especiação foi completamente invertida.

“Quanto mais espécies de Homo existiam, maior era a taxa de especiação. Assim, quando esses nichos foram preenchidos, algo levou ao aparecimento de ainda mais espécies. Isto é quase sem paralelo na ciência evolutiva”.

A comparação mais próxima é com as espécies de escaravelhos que vivem em ilhas, onde os ecossistemas contidos podem produzir tendências evolutivas invulgares.

“Os padrões de evolução que observamos nas espécies de Homo que conduziram diretamente aos humanos modernos estão mais próximos dos dos escaravelhos que vivem em ilhas do que dos outros primatas, ou mesmo de qualquer outro mamífero”, explica van Holstein.

 

A autora principal do estudo, Laura Van Holstein, provou em 2020 uma das teorias da evolução de Darwin

 

A investigadora criou uma base de dados de todas as espécies de hominídeos encontradas e datadas até à data: 385 registos no total, colmatando as lacunas no registo fóssil através da modelização. Isto deu-lhe novas linhas de tempo para o aparecimento e desaparecimento das espécies.

Entre as descobertas de van Holstein está o facto de várias espécies que se pensava terem evoluído através da anagénese, quando uma espécie se transforma lentamente noutra, poderem, na verdade, ter “brotado”, ou seja, a nova espécie ramificou-se da já existente.

Por exemplo, acreditava-se que a espécie de hominídeo Australopithecus afarensis tinha evoluído a partir do Australopithecus anamensis por anagénese. Mas o modelo sugere que se sobrepuseram em cerca de meio milhão de anos.

Os primeiros hominídeos podem assim ter evoluído para expandir o seu nicho. Por exemplo, o Paranthropus pode ter adaptado os seus dentes para consumir diferentes alimentos. Mas o padrão das espécies Homo sugere que a tecnologia desempenhou um papel muito mais importante na especiação.

“A adoção de ferramentas de pedra ou de fogo, ou de técnicas de caça intensiva, são comportamentos extremamente flexíveis. Uma espécie que os consiga utilizar pode rapidamente criar novos nichos e não tem de sobreviver durante vastos períodos de tempo enquanto desenvolve novos planos corporais”, conclui van Holstein.

 

in ZAP

sexta-feira, maio 03, 2024

É sempre interessante quando a Paleontologia, a Evolução e a Genética se cruzam...

Há 700 milhões de anos, uma criatura simples criou as bases para a evolução humana

 

 

 

Uma nova pesquisa indica que um antepassado comum, há 700 milhões de anos, moldou os genes de várias espécies bilateria.

Um estudo recente publicado na revista Nature Ecology and Evolution por investigadores do Centro de Regulação Genómica (CRG), em Barcelona, fornece informações inovadoras sobre a forma como os eventos de duplicação de genes, ocorridos há centenas de milhões de anos, moldaram a evolução de formas de vida complexas, incluindo vertebrados e invertebrados.

Esta investigação traça o caminho evolutivo até um antepassado comum, há cerca de 700 milhões de anos, que exibiu o plano corporal básico que a maioria dos animais complexos herda atualmente.

Este último antepassado comum dos bilateria - um supergrupo que inclui diversas espécies, desde os seres humanos aos insetos - deixou um legado genético que ainda é observável em mais de 7.000 grupos de genes em 20 espécies estudadas.

Bilateria é um dos mais importantes grupos animais, cujos representantes apresentam simetria bilateral: Os seus corpos são divididos verticalmente em duas metades, direita e esquerda que se espelham uma na outra.

Estas espécies vão desde os humanos e os tubarões até aos polvos. O estudo salienta a forma como estes genes ancestrais foram adaptados e especializados, particularmente no cérebro e nos tecidos reprodutivos, para satisfazer as exigências de adaptação de vários organismos ao longo de milénios.

Uma das principais conclusões do estudo é que cerca de metade destes genes ancestrais foram adaptados para funções específicas em determinadas partes do corpo, desviando-se dos seus papéis generalistas originais.

Esta adaptação foi facilitada por erros fortuitos de “copiar-colar” durante a evolução, particularmente através de eventos de duplicação de todo o genoma. Estas duplicações permitiram que os organismos mantivessem uma cópia de um gene para funções essenciais enquanto desenvolviam a segunda cópia para novos papéis especializados.

Federica Mantica, investigadora do CRG e autora do estudo, compara este processo a ter duas cópias de uma receita. Uma pode manter o original, enquanto a outra pode ser modificada ao longo do tempo para criar algo bastante diferente, mas ainda assim relacionado, como a evolução de uma receita de paella para uma de risoto.

A especialização destes genes conduziu a inovações evolutivas significativas. Por exemplo, o estudo refere o desenvolvimento de genes críticos para a formação de bainhas de mielina em vertebrados, melhorando a transmissão de sinais nervosos, e a especialização de genes em polvos que permitem a perceção da luz na sua pele, ajudando na camuflagem e na comunicação.

Da mesma forma, nos insetos, genes específicos evoluíram para apoiar a função muscular e a formação da cutícula, crucial para o voo, explica o SciTech Daily.

Além disso, o estudo explora a forma como certos genes, como os genes TESMIN e tomb, evoluíram para desempenhar papéis especializados nos testículos em diferentes espécies, como os vertebrados e os insetos. Esta especialização é tão crítica que qualquer perturbação nestes genes pode levar a problemas de fertilidade.

 

in ZAP

sexta-feira, abril 26, 2024

Foi descoberto mais um fóssil interessante câmbrico...

“Besta do terror” com 500 milhões de anos descoberta na Gronelândia

 

 

Ilustração do predador gigante que viveu há cerca de 518 milhões de anos no que é hoje a Gronelândia

 

A criatura só tinha até 30 centímetros, mas era um dos maiores predadores da sua época, sendo comparável a tubarões e focas modernas na cadeia alimentar marinha. 

Há cerca de 518 milhões de anos, um longo, um artrópode assombrou as águas do Câmbrico.

Conhecido como a “besta do terror” (Timorebestia koprii), o fóssil do animal marinho pré-histórico foi descoberto no norte da Gronelândia, mais especificamente na formação Sirius Passet. Foi encontrado excecionalmente bem preservado, o que permitiu uma análise detalhada da sua anatomia e dieta.

O predador, dominante no seu ecossistema, media até 30 centímetros de comprimento. Parece pouco, mas na época, lembra o Live Science, estas dimensões fariam da “besta” um dos maiores animais nadadores do mundo pré-histórico. Aliás, era comparável a tubarões e focas modernas na cadeia alimentar marinha, sublinha o estudo publicado na Science Advances.

“Eram gigantes do seu tempo e estariam perto do topo da cadeia alimentar”, disse Jakob Vinther, paleontólogo da Universidade de Bristol, em comunicado. “Isso torna-os equivalentes em importância a alguns dos principais carnívoros dos oceanos modernos, como tubarões e focas, no período Câmbrico.”

Com uma fileira de barbatanas e antenas longas, adaptava-se facilmente ao estilo de vida predatório. A sua dieta consistia principalmente em Isoxys, artrópode marinho já extinto, mas muito comum nos mares do período Câmbrico.

A descoberta de um espécime de Isoxys ainda alojado na região da mandíbula de um fóssil deu as provas necessárias aos investigadores dos hábitos alimentares da Timorebestia. Apesar das espinhas defensivas destes pequenos organismos, eram uma presa comum para os antigos vermes dominantes.

Outro aspeto notável da “besta de terror” é o seu gânglio ventral, um centro nervoso revelado através da análise por feixe de eletrões realizada pela equipa. Este gânglio sugere uma relação evolutiva próxima com os quetognatas modernos (ou vermes-flecha), pequenos animais marinhos, conhecidos pelos seus dois “pentes” de espinhos quitinosos e retráteis na cabeça, que usam para capturar as suas presas.

Mas o que distingue, sem margem para dúvidas, a velha besta é a localização das suas mandíbulas: eram internas, ao contrário das cerdas externas vistas nos quetognatas atuais.

“Hoje em dia, os vermes-flecha têm cerdas ameaçadoras no exterior das suas cabeças para capturar presas, enquanto a Timorebestia tinha mandíbulas dentro da cabeça”, explica o coautor do estudo, Luke Parry, paleobiólogo da Universidade de Oxford.

A descoberta, fascinante por si só, pode também vir a oferecer novos conhecimentos e perspetivas sobre as conexões evolutivas entre organismos marinhos antigos - especialmente aqueles que remetem ao período Câmbrico - e modernos.

“A Timorebestia e outros fósseis semelhantes fornecem ligações entre organismos estreitamente relacionados que hoje parecem muito diferentes”, sublinha Parry.

 

in ZAP

quarta-feira, abril 24, 2024

Novidades sobre o maior primata de todos os tempos geológicos...

Foi o maior primata de todos os tempos. Cientistas descobrem por que se extinguiu

 

 

Conceito artístico de um Gigantopithecus blacki

 

Um estudo recente lançou luz sobre as causas da extinção do Gigantopithecus blacki, o maior primata conhecido até hoje.

Com um peso aproximado de 250 quilogramas e uma altura de 3 metros, o Gigantopithecus blacki foi o maior primata que se conhece.

O gigantesco primo afastado dos humanos, que habitou as florestas do que é hoje o sul da China durante milhões de anos, extinguiu-se há cerca de 300.000 anos.

Ninguém sabia porquê.

Um novo estudo, publicado esta quarta-feira na revista Nature, proporciona agora uma compreensão abrangente da forma como as mudanças ambientais e as limitações dietéticas contribuíram para o desaparecimento do G. blacki.

O Gigantopithecus blacki foi trazido à atenção da ciência pela primeira vez em 1935, depois de o antropólogo Gustav von Koenigswald ter descoberto um enorme dente numa loja de medicina em Hong Kong.

Inicialmente, os cientistas acreditaram que a espécie tivesse laços com os gorilas, mas um estudo de 2019 revelou que o G. blacki estava geneticamente mais próximo dos orangotangos.

Apesar de o enorme primata partilhar o seu habitat com uma espécie de orangotango, o Pongo weidenreichi, apenas o G. blacki se extinguiu - e a sua extinção é um mistério de longa data na paleontologia.

O novo estudo, liderado por Yingqi Zhang , investigador da Academia Chinesa de Ciências, e Kira Westaway, paleontóloga da Universidade de Macquarie, na Austrália, usou seis técnicas de datação independentes em fósseis provenientes de 22 cavernas.

Os resultados do estudo permitiram concluir que, entre 295.000 e 215.000 anos atrás, a população de G. blacki diminuiu de uma área outrora vasta para uma pequena região na Região Autónoma de Guangxi Zhuang.

A análise das condições ambientais da região durante este período mostrou mudanças significativas, nomeadamente uma escassez de água.

Estudos de pólen revelaram também ter ocorrido, há cerca de 700.000 a 600.000 anos, uma transição de florestas densas para áreas de arbustos e pastagens, levando à escassez da dieta preferida de frutas do G. blacki e de fontes de água.

À medida que as florestas que constituíam o seu habitat diminuíam, o G. blacki recorreu a uma dieta menos nutritiva de casca e ramos. E, ao contrário do P. weidenreichi, que se adaptou expandindo sua dieta para incluir folhas, insetos e pequenos animais, o grande tamanho do G. blacki impediu-o de se adaptar a essas mudanças.

A incapacidade de escalar ou perseguir pequenas presas, combinada com o stress de uma dieta limitada, levou finalmente à extinção do maior primata de todos os tempos.

 

Conceito artístico de um Gigantopithecus blacki

 

Apesar do progresso significativo na compreensão das razões da extinção do G. blacki que o estudo nos trás, a sua aparência exata continua a ser um mistério, pois até agora foram encontrados muito poucos registos fósseis da espécie.

Tendo apenas ossos da mandíbula e dentes para estudar, a aparência real deste enorme macaco ainda é um enigma para resolvermos’, diz Zhang, citado pela revista Science.

“Assim, a busca continua. Estamos a ficar melhores a encontrar cavernas com vestígios do G. blacki‘, afirma o investigador. “Ainda não encontrámos ossos, mas acho que estamos a chegar mais perto”.


in ZAP

A coisas estranhas que a Evolução faz...

Os nossos ombros evoluíram do maxilar de peixes que reinavam nas águas da pré-história

 

 

Placodermo

 

Das mandíbulas de um peixe com 407 milhões de anos, investigadores descobriram informações críticas sobre a evolução da cintura escapular, composta pelas sete peças ósseas a que chamamos ombros.

Um estudo inovador publicado na revista científica Nature forneceu novas perspetivas sobre as origens evolutivas do ombro humano.

A estrutura anatómica, fundamental para o movimento dos braços, tem sido um ponto de intenso debate entre os biólogos evolucionistas devido à sua evolução complexa - de criaturas aquáticas para seres terrestres.

Durante anos, a hipótese dos “arcos branquiais” sugeriu que os ombros dos animais terrestres evoluíram das estruturas que suportam as brânquias dos peixes. Esta teoria, embora antiga, enfrentou escrutínio pela falta de evidência fóssil.

Uma alternativa, a hipótese “fin-fold”, postulou que as barbatanas pareadas e ombros evoluíram a partir de linhas musculares ao longo dos lados dos peixes, denota o Earth. No entanto, não explicava totalmente a evolução da cintura escapular.

Um esforço colaborativo entre a Faculdade Imperial de Londres e o Museu de História Natural lançou alguma luz sobre este enigma evolutivo.

Ao examinar os fósseis de um peixe placodermo com 407 milhões de anos chamado Kolymaspis sibirica, os investigadores descobriram informações críticas sobre a evolução da cintura escapular.

 

 

Predominantes nos oceanos do Paleozoico, há cerca de 420 a 360 milhões de anos, especialmente no período Devónico, os placodermos caracterizavam-se principalmente pela presença de partes do corpo fortemente blindadas, sendo alguns dos primeiros vertebrados a desenvolver mandíbulas verdadeiras.  A sua extinção misteriosa no final do período Devónico deixou muitas questões sem resposta.

O seu estudo tem-se mostrado essencial para compreender a evolução dos vertebrados, especialmente o desenvolvimento de características anatómicas fundamentais, como as mandíbulas e os dentes e agora… os ombros.

 

As origens do nosso ombro

O estudo encontrou semelhanças entre a articulação cabeça-ombro do placodermo e os arcos branquiais de peixes ancestrais sem mandíbula, sugerindo que os arcos branquiais foram um componente fundamental no desenvolvimento do ombro. Curiosamente, a pesquisa propõe que um sexto arco branquial, agora extinto, serviu como um elemento crucial na demarcação da cabeça do corpo, levando à formação dos ombros.

Mesmo com a transformação dos ossos, os músculos podem manter as suas funções, segundo o estudo, que também sugere uma potencial convergência das hipóteses dos arcos branquiais e “fin-fold”.

O estudo sublinha a importância da pesquisa interdisciplinar em biologia evolutiva. Integrando registos fósseis com biologia do desenvolvimento e anatomia comparativa, os cientistas estão a montar as origens da nossa estrutura do ombro.

 

in ZAP

sábado, abril 20, 2024

Notícia sobre quirópteros madeirenses...

Pequenos, peludos e voadores: os morcegos caçam pragas agrícolas na Madeira

 

Morcego-arborícola-da-madeira, uma subespécie endémica da ilha Ricardo Rocha

 

Estudo de cientistas portugueses conclui que 40% da dieta das três espécies destes mamíferos da ilha da Madeira é composta por insetos prejudiciais para a agricultura.

Na ilha da Madeira, há três espécies de morcegos que se alimentam de insetos. E uma equipa de cientistas portugueses investigou a dieta destes pequenos mamíferos voadores, recorrendo a uma avançada técnica genética, e concluiu que pelo menos 40% dos insetos que fazem parte da sua dieta são pragas agrícolas ou florestais, ou até vetores para a transmissão de doenças aos seres humanos.

A maior componente da dieta das três espécies de morcegos nativas da Madeira é composta por borboletas noturnas. Mas, embora a contribuição dos morcegos não seja muito conhecida, dão uma enorme ajuda aos agricultores, e ao controlo de outros insetos prejudiciais para a saúde humana. “Não estávamos à espera de que uma percentagem tão grande de presas correspondesse a pragas agrícolas ou florestais, prováveis, ou confirmadas”, disse Angelina Gonçalves, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e do laboratório associado CIBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, citada num comunicado de imprensa.

“As presas dos morcegos alimentam-se de um vasto leque de espécies, incluindo muitas de elevado interesse económico, como a bananeira, a estrelícia, e a cana-de-açúcar”, explicou ao Azul Ricardo Rocha, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, coordenador do trabalho publicado na semana passada na revista científica Journal of Mammology. Uma delas é a traça-da-bananeira (Opogona sacchari), que não só afecta as plantações de bananeiras, como também várias espécies ornamentais, como a famosa flor da Madeira, a estrelícia.

Mas quem são os morcegos madeirenses? “O morcego-da-madeira (Pipistrellus maderensis) habita apenas na Macaronésia, nos arquipélagos da Madeira, Canárias e provavelmente Açores”, explicou ao Azul Ricardo Rocha, “explorador” da National Geographic.

O morcego-arborícola-da-madeira (Nyctalus leisleri verrucosus) é uma subespécie endémica da Madeira. “Isto quer dizer que, apesar de a espécie ter uma distribuição mais ampla, as populações na Madeira são suficientemente diferentes para terem uma classificação própria”, indicou Ricardo Rocha.

 

Morcego-orelhudo-cinzento: existe em toda a Europa ocidental, mas é o menos abundante na Madeira
 

Por fim, o morcego-orelhudo-cinzento (Plecotus austriacus), que tem uma distribuição muito mais alargada, pois existe em grande parte da Europa Ocidental, é o menos abundante na Madeira.

 

Código de barras genético

 Como é que os cientistas analisaram a dieta destes voadores noturnos? Começaram por ter de apanhar um número significativo de morcegos das três espécies, usando redes colocadas em vários locais no Parque Ecológico do Funchal. “Foram muitas noites de trabalho árduo, mas com muito esforço conseguimos capturar mais de cem morcegos, o que nos permitiu examinar as diferenças alimentares entre as várias espécies”, adiantou Angelina Gonçalves, que é a primeira autora do estudo publicado na revista científica Journal of Mammology.

O método tradicional para perceber de que se alimenta um animal é analisar as suas fezes, quer por observação direta, quer ao microscópio, procurando vestígios daquilo de que se alimentou. “Mas como a maior parte dos morcegos caça no ar à noite e mastiga os fragmentos maiores das suas presas, estes métodos não são particularmente eficazes para analisar a sua dieta”, escrevem os investigadores no artigo.

Decidiram, portanto, usar uma técnica desenvolvida nos primeiros anos do século XXI, o código de barras de ADN. “Esta técnica tem vindo a ser cada vez mais usada em estudos de dieta”, comentou Ricardo Rocha, que dá uma explicação simples do que se trata: “De forma muito resumida, identificam-se segmentos de ADN que permitem diagnosticar determinados grupos taxonómicos – atuam como uma espécie de código de barras. Com isso, conseguimos perceber que presas foram consumidas pelos morcegos com uma resolução muito maior do que conseguíamos no passado.

“Este estudo foi um dos primeiros a usar este método do código de barras genético para avaliar a dieta de morcegos que vivem em ilhas, salientam os autores do artigo. Assim, avança em muito o conhecimento relativo à ecologia trófica [de alimentação] e serviços de supressão de pragas prestados por estes mamíferos ainda mal conhecidos”, escrevem no artigo científico.

 

Discretos e pouco estudados
Porque são os morcegos mal conhecidos? Responde Ricardo Rocha: “No geral, os morcegos são pouco estudados. Tendem a ser espécies pequenas, noturnas, e bastante discretas.” No caso de espécies insulares, que vivem em ilhas, essa falta de estudos é particularmente aguda, salienta.

“Este não é o padrão exclusivo dos morcegos. É um padrão geral dos vertebrados em ilhas. Salvo raras exceções, como por exemplo os tentilhões das Galápagos [aves], ou algumas aves marinhas, as espécies insulares tendem a ser particularmente pouco estudadas, se compararmos com as as espécies continentais”, explica Ricardo Rocha.

Os demais mamíferos da Madeira não são nativos. Alguns, como os gatos, são predadores de morcegos e outras espécies nativas, o que pode afetar eventuais serviços de ecossistema – como o potencial controlo de pragas, associado ao consumo de insetos nefastos à agricultura

Ricardo Rocha


 Os morcegos que comem insetos, tal como os que ocorrem na Madeira, são de captura particularmente difícil, salienta o cientista português. “A sua ecolocalização é bastante desenvolvida, pelo que são muito bons a evitar as redes que usamos para os estudar”, justifica.

A equipa esforçou-se, por isso, para obter cem amostras de fezes dos morcegos capturados, que submeteu depois à técnica do código de barras de ADN. Os resultados revelaram uma variedade de 110 presas, artrópodes, na dieta dos morcegos madeirenses, 40% dos quais são pragas agrícolas como a traça-da-bananeira, ou até causadoras de doença nos seres humanos, como a mosca Psychoda albipennis, um parasita que causa miíase, uma doença produzida pela infestação de larvas de moscas na pele ou outros tecidos.

“No Porto Santo existe apenas uma espécie de morcego (Pipistrellus maderensis), mas também aí os morcegos se alimentam de pragas agrícolas”, salientou Eva Nóbrega, co-autora do artigo e estudante de doutoramento do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, citada no comunicado de imprensa. “Além disso, num estudo que publicámos em 2023, detetámos que no Porto Santo [o morcego] consome insetos vectores de doenças, incluindo mosquitos Culex.” 

Muitas das espécies de insetos com efeitos nefastos na agricultura da Madeira não são nativas da ilha. “Foram introduzidas, relativamente recentemente, por mão humana”, sublinha Ricardo Rocha. Mas muitos dos insetos consumidos pelos morcegos na Madeira são nativos da ilha. “Algumas são mesmo endémicas, o que quer dizer que ocorrem apenas na região. Já devem fazer parte do menu destes mamíferos noturnos há muitos milhares, ou mesmo milhões de anos (bem antes da chegada dos humanos!)”, adianta o cientista.

Morcego-da-madeira, uma espécie que vive apenas nas ilhas da Macaronésia

 

Colonizadores de ilhas

Os morcegos são, na verdade, os únicos mamíferos nativos da ilha da Madeira. “Pela sua capacidade de voar, [os morcegos] tendem a ser bons colonizadores de ilhas oceânicas”, explica Ricardo Rocha. Outros grupos de mamíferos terrestres não têm a capacidade de colonizar ilhas que não tenham estado ligadas ao continente. Exceções raras são, por exemplo, os musaranhos das ilhas de São Tomé e Príncipe, pequenos animais, com cerca de 15 gramas, mas capazes de atacar, matar e devorar animais que têm o dobro do seu tamanho.

“Os demais mamíferos que correm na Madeira não são nativos. Alguns, como os gatos, são predadores de morcegos e outras espécies nativas, o que pode afetar eventuais serviços de ecossistema aos quais estejam associadas espécies nativas – como, por exemplo, o potencial controlo de pragas, associado ao consumo de insetos nefastos à agricultura, que reportamos no estudo agora publicado”, alerta Ricardo Rocha.


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