O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
Neandertais e Homo sapiens cruzaram-se numa montanha (em vários sentidos)
Reconstituição de um homo sapiens (esquerda) e neandertal (direita)
Uma equipa de arqueólogos identificou uma provável região de
cruzamento entre Neandertais e o Homo sapiens durante o Plistocénico tardio.
Diversos estudos mostraram já anteriormente que houve cruzamentos entre as populações de Neandertal e Homo sapiens — tendo mesmo sido encontrado ADN Neandertal no genoma de humanos modernos.
Um novo estudo usou agora modelação de nichos ecológicos
e um sistema de informação geográfica para identificar as localizações
dos Neandertais e dos Homo Sapiens que viviam em partes do sudeste da
Europa e do sudoeste da Ásia.
No estudo, publicado na semana passada no Scientific Reports,
os investigadores conseguiram identificar as regiões com maior
probabilidade de interação e, consequentemente, de cruzamento entre as
duas espécies de humanos durante o Plistocénico tardio.
Depois de estudar a distribuição geográfica do Neandertal e do Homo
sapiens durante esse período, os investigadores concluíram que tinha
havido cruzamento entre as duas espécies, e reduziram a lista de
possíveis locais a apenas uma região - as Montanhas Zagros, no Planalto Persa, cadeia montanhosa que se estende do Irão ao norte do Iraque e ao sudeste da Turquia.
A biodiversidade, topologia variada e clima quente do local teriam permitido um bom nível de vida para os sues habitantes.
Além disso, a região deve ter estado no caminho do Homo sapiens
quando este migrou para fora de África, por volta da altura em que os
Neandertais ainda lá viviam, o que tornaria possível encontro entre as
duas populações.
O local é considerado um tesouro de esqueletos de Neandertais e Homo sapiens, sendo a região onde foi encontrado o “enterro de flores” Neandertal e onde se descobriu um dos principais caminhos que o Homo sapiens percorreu quando começou a sair de África.
A equipa de investigação sugere que seria muito surpreendente se os dois
grupos não se tivessem encontrado - pelo que parece assim altamente
provável que se tenham cruzado, conta o Phys.org.
É de recordar que a relação entre neandertais e humanos modernos foi profundamente íntima,
com trocas genéticas significativas. Tal intimidade influenciou a
evolução de ambos os grupos, mas pode ter resultado na extinção dos
neandertais.
A paixão entre neandertais e homo sapiens foi muito mais forte do que se pensava
A relação entre neandertais e humanos modernos foi
profundamente íntima, com trocas genéticas significativas. Tal
intimidade influenciou a evolução de ambos os grupos, mas pode ter
resultado na extinção dos neandertais.
Há muitas teorias e (ainda) poucas certezas sobre a forma como se extinguiram os neandertais.
O que é certo é que o os neandertais – que desapareceram há 40.000 anos - e o homo sapiens tiveram um passado em comum.
Alguns cientistas até questionam a necessidade de classificar os
neandertais como uma espécie separada, dado o nível de interação.
Vários estudos recentes indicam que as duas espécies se cruzaram mais do que uma vez, sugerindo uma relação íntima – que poderá ter sido fatal para os neandertais.
A maioria dos estudos, até agora, tinha-se focado no fluxo genético
dos neandertais para os humanos, até porque temos muito ADN humano e
muito pouco neandertal para analisar.
No entanto, um estudo publicado na semana passada, na revista Science, incidiu a sua investigação no fluxo genético inverso, analisando o ADN que os humanos passaram para os Neandertais.
Os resultados confirmaram uma associação prolongada entre os dois grupos, datando de 250.000 anos atrás (muito antes do que se pensava). Além disso, descobriu-se que as relações podem ter sido bem mais intensas.
Esta investigação veio atestar essa hipótese de estudos anteriores que sugeriam que os neandertais foram “absorvidos” pelo Homo sapiens.
Como explica a equipa de investigação, liderada por Liming Li,
da Universidade de Princeton, a assimilação terá feito crescer a
população de Homo sapiens e reduzido a já pequena população neandertal.
“A assimilação dos Neandertais pelas populações humanas modernas, à
medida que se espalhavam pela Eurásia, teria efetivamente aumentado a
dimensão das populações humanas modernas e, simultaneamente, diminuído a
dimensão de uma população Neandertal já em risco”, escreve, citada pel a
Science Alert.
A substituição do cromossoma Y e do ADN mitocondrial neandertal
pelos humanos modernos foram dois eventos que marcaram um caminho
inevitável para o desaparecimento dos nossos “primos” da pré-história.
Além disso, o estudo indica que os cientistas podem ter sobrestimado a dimensão da população de neandertais em cerca de 20%.
“A nossa descoberta de que o tamanho da população de Neandertais era provavelmente ainda mais pequeno do que o estimado anteriormente apenas aceleraria o processo de assimilação”, pode ler-se.
Tudo isto “pode ter marcado um caminho irrevogável para o desaparecimento de uma das poucas linhagens de hominídeos que coexistiam com os humanos modernos”, acrescenta a equipa.
Arqueólogas portuguesas desvendam os segredos da cozinha à la Neandertal
Mariana Nabais depena uma ave com técnicas neandertais. Foi mais difícil do que parecia…
Três arqueólogas, incluindo as portuguesas Marina Igreja e
Mariana Nabais, tentaram reproduzir os antigos métodos usados pelos
Neandertais para cozinhar aves e assim compreenderem melhor a dieta
destes humanos primitivos.
O que é que os Neandertais gostavam de comer? Os arqueólogos que
estudam os nossos primos extintos fazem esta pergunta muitas vezes.
Mas descobrir detalhes sobre a dieta dos Neandertais é muito parecido com vasculhar os caixotes do lixo
do vizinho - estudando cuidadosamente os ossos e utensílios de abate
que usavam, em sítios onde se sabe que estas populações viviam.
Nos últimos anos, diferentes estudos foram apresentando resultados
divergentes sobre os hábitos alimentares do Neandertais: em 2014,
consumiam mais vegetais do que se pensava; eram pescadores; mas a carne fresca era a base da sua dieta; eram carnívoros, mas odiavam sangue e ossos.
Agora, uma equipa de arqueólogas, incluindo as investigadores portuguesas Marina Igreja e Mariana Nabais,
do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, tentaram cozinhar
pratos neandertais - para melhor compreender a sua dieta.
A equipa incluiu também Anna Rufà Bonache, investigadora do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano da Universidade do Algarve.
Os resultados do estudo foram publicados esta quarta-feira na revista Frontiers in Environmental Archaeology.
As autoras testaram métodos de preparação de alimentos que os Neandertais poderiam ter usado para verificarem que vestígios deixariam nos ossos das aves, e como se comparavam com danos causados por processos naturais ou por ação de outros animais.
Durante a experiência, a equipa confrontou-se com dificuldades imprevistas, como utilizar lascas de sílex
para cortar carne. A borda das lascas era mais afiada do que as
investigadoras pensavam, o que exigiu a sua manipulação com cuidado para
fazer cortes precisos sem causar ferimentos nas mãos.
As arqueólogas utilizaram cinco aves selvagens que morreram
de causas naturais no Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de
Animais Selvagens, em Gouveia: dois corvos, duas rolas-turcas e um
pombo-torcaz, espécies semelhantes às consumidas pelos Neandertais.
A equipa selecionou métodos culinários a partir de provas arqueológicas e dados etnográficos. Todas as aves foram depenadas à mão.
O corvo e uma rola-turca foram esquartejados em cru com uma lasca de
sílex e as restantes aves foram assadas sobre brasas e depois
desmembradas.
Posteriormente, as arqueólogas limparam e secaram os ossos e examinaram-nos ao microscópio à procura de marcas de cortes, fraturas e queimaduras, tendo analisado a lasca de pedra usada para procurar sinais de desgaste.
Os cortes feitos para extrair a carne das aves cruas não deixaram marcas nos ossos, mas os dirigidos aos tendões criaram marcas semelhantes às dos ossos de aves encontrados em sítios arqueológicos.
Ossos recuperados das aves cozinhadas “À la Neandertal”
Os ossos das aves assadas eram mais quebradiços e
quase todos apresentavam queimaduras compatíveis com a exposição ao
calor. As manchas negras no interior de alguns ossos sugerem que o
conteúdo da cavidade interna também tinha sido queimado.
Segundo o estudo, estes indícios lançam luz sobre como a preparação
dos alimentos dos Neandertais pode ter funcionado e quão visível pode
ser essa preparação no registo arqueológico.
Embora o acesso à carne seja facilitado quando é assada, a maior fragilidade dos ossos leva a que não sejam encontrados pelos arqueólogos durante as escavações.
As autoras do trabalho ressalvam que a investigação feita deve ser aprofundada com estudos que incluam mais espécies de presas pequenas, para se compreender melhor o regime alimentar dos Neandertais.
Estes hominídeos, sobreviviam à custa da caça e da recolha de
vegetais e frutos, e dominavam o fogo. Surgiram há cerca de 230 mil anos
e extinguiram-se há quase 30 mil anos, por razões ainda desconhecidas - há quem diga que pelo frio, ou genocídio, ou mera má sorte.
Uma criança Neandertal polaca foi comida por um gigantesco pássaro pré-histórico
Minúsculos ossos com 115 mil anos encontrados na Polónia
revelam o trágico destino de uma criança Neandertal. Os investigadores
perceberam que a porosidade invulgar dos ossos tinha uma explicação:
passaram pelo sistema digestivo de uma ave enorme.
Há alguns anos, uma equipa de investigadores na Polónia encontrou um par de ossos de Neandertal que guardavam um segredo macabro: o seu proprietário tinha sido comido por uma ave gigante.
Segundo a Science In Poland,
os dois ossos dos dedos pertenciam a uma criança Neandertal que tinha
morrido há cerca de 115 mil anos, o que torna estes ossos os restos humanos mais antigos conhecidos da Polónia.
Os investigadores que analisaram os dois ossos da mão concluíram que a sua porosidade era maior do que o habitual porque, infelizmente para a criança a que pertenciam, tinham passado pelo sistema digestivo de uma ave de grandes dimensões.
Não está claro se a ave matou a criança e depois a comeu ou se o animal simplesmente se alimentou do corpo já morto da criança, mas os investigadores dizem que “nenhuma das opções pode ser excluída neste momento”.
Independentemente do que aconteceu, estes ossos são uma descoberta notável. Este é o primeiro exemplo conhecido de ossos da Idade do Gelo que passaram pelo sistema digestivo de uma ave.
Os Neandertais, que são parentes muito próximos dos humanos contemporâneos, terão aparecido na Polónia há cerca de 300.000 anos e extinguiram-se há cerca de 35.000.
Segundo Paweł Valde-Nowak, investigador da Universidade Jaguelónica, em Cracóvia, podemos contar pelos dedos de uma mão o número de restos Neandertais descobertos, incluindo os ossos dos dedos desta criança.
Esta descoberta inovadora foi quase ignorada porque, quando os ossos das falanges foram encontrados pela primeira vez na caverna, foram acidentalmente misturados com ossos de animais. Só após uma análise laboratorial posterior aos ossos é que os cientistas perceberam a sua importância.
A porosidade pouco habitual dos ossos sugere que tinham passado pelo sistema digestivo de uma ave de grandes dimensões
As análises aos ossos mostraram que a criança tinha entre cinco e sete anos quando morreu. Os ossos são minúsculos,
com menos de um centímetro de comprimento, e estão mal preservados,
pelo que, infelizmente, os cientistas não conseguem realizar análises de
ADN.
Apesar deste contratempo, os cientistas estão seguros de que se trata
de um Neandertal. “Não temos dúvidas de que estes são restos de
Neandertais porque vêm de uma camada muito profunda da caverna,
a alguns metros abaixo da superfície atual,” explica Valde-Nowak. “Esta
camada também contém ferramentas de pedra tipicamente usadas pelos
Neandertais”.
Segundo o investigador, o facto de os ossos terem sido descobertos na
caverna, não significa necessariamente que os Neandertais a usassem
como residência permanente. “É possível que a usassem apenas
sazonalmente”, diz Valde-Nowak.
“É notável pensar que uma pobre criança, que pode ter sido morta por uma ave gigante há milhares de anos, deu à Polónia uma das suas maiores descobertas arqueológicas de todos os tempos”, conclui o arqueólogo.
Para onde foram os primeiros humanos depois de África? Novo estudo dá a resposta
O novo estudo aponta que os humanos ancestrais foram para o
Planalto Persa antes de iniciarem a colonização generalizada da Eurásia.
Um estudo
revolucionário recentemente publicado na Nature Communications lança
luz sobre um dos mistérios mais duradouros da pré-história humana: para
onde foram primeiros humanos após deixarem África e antes de se
dispersarem pela Eurásia?
A pesquisa, uma colaboração entre a Universidade de Pádua, a
Universidade de Bolonha (Departamento de Património Cultural), a
Universidade Griffith de Brisbane, o Instituto Max Planck de Jena e a
Universidade de Turim, aponta o Planalto Persa como uma região chave durante as fases iniciais da colonização eurasiática.
As evidências genéticas combinadas com modelos paleoecológicos sugerem
que, após saírem da África há entre 70 a 60 mil anos, os ancestrais das
atuais populações eurasianas, americanas e oceânicas permaneceram como
uma população homogénea no Planalto Persa por vários milénios antes de se expandirem por todo o continente e além.
Este período de estagnação, antes da divergência genética que deu
origem às populações europeias e asiáticas orientais de hoje, é datado
de há cerca de 45 mil anos, relata o Ancient Origins.
“A parte mais difícil foi desemaranhar os vários fatores
de confusão constituídos por 45 mil anos de movimentos e misturas
populacionais que ocorreram após a colonização do Centro”,
afirma Leonardo Vallini, o primeiro autor do estudo.
A pesquisa também confirmou que as características paleoecológicas da
área naquela época a tornavam adequada para ocupação humana,
potencialmente capaz de sustentar uma população maior do que outras partes da Ásia Ocidental.
Este achado abre novas portas para a pesquisa arqueológica e
paleoantropológica. O Planalto Persa será até o foco do projeto ERC
Synergy, ‘Last Neanderthals‘, recentemente atribuído ao co-autor Stefano Benazzi, professor da Universidade de Bolonha.
O projeto busca explorar os eventos bioculturais complexos que ocorreram há entre 60.000 e 40.000 anos, com um foco especial no Planalto Persa.
Esta fase da jornada humana fora da África é particularmente
fascinante, pois também incluiu o encontro e a mistura genética com os
Neandertais.
A descoberta não apenas enriquece nosso entendimento sobre as migrações primitivas mas também enfatiza a importância do Planalto Persa como um ponto de convergência na pré-história global.
Entretanto, ficámos também a saber que a primeira coisa que os humanos que saíram de África fizeram ao chegar à Europa foi… “invadir” a Ucrânia.
Os neandertais caçavam elefantes com o dobro do tamanho dos atuais
Os Neandertais, os nossos parentes ancestrais mais próximos,
eram caçadores hábeis e mostravam uma notável organização social na
forma como, durante os períodos interglaciais da Europa, há cerca de
125.000 anos, caçavam enormes animais terrestres — como elefantes de
presas retas.
Um estudo recente Pesquisas conduzido pela professora Sabine Gaudzinski-Windheuser, investigadora do Centro de Pesquisa Arqueológica MONREPOS, lança luz sobre este aspeto da vida dos Neandertais.
A equipa de investigadores descobriu inicialmente marcas de corte em ossos de elefante no sítio Neumark-Nord 1, na Alemanha, que sugeriam que os Neandertais caçavam ativamente estes animais massivos - em vez de simplesmente recolher os seus restos.
Segundo o IFLS,
esta descoberta foi entretanto reforçada por evidências semelhantes de
outros dois sítios arqueológicos na Alemanha, Gröbern e Taubach, que
sugerem que a caça a elefantes gigantes era uma prática comum entre os Neandertais.
Os dois sítios, datados do mesmo período interglacial, revelaram padrões consistentes nas matanças e uma preferência pela caça de elefantes machos adultos.
Esta prática sugeriu um nível elevado de planeamento e organização, desafiando as suposições anteriores sobre as capacidades dos Neandertais.
Sabine
Gaudzinski-Windheuser, autora principal do estudo, posa no Landesmuseum
für Vorgeschichte, em Halle (Alemanha) ao lado de uma reconstrução em
tamanho natural dos elefantes caçados pelos Neandertais
A presença de marcas de dentes de grandes carnívoros em alguns ossos também indica que os Neandertais competiam com sucesso com outros predadores, mantendo acesso às suas presas por períodos prolongados.
O tamanho imenso destes elefantes significa que uma única peça de
caça poderia fornecer enormes quantidades de carne, suficientes para
satisfazer as necessidades calóricas diárias de um só Neandertal durante
quase 7 anos.
Esta abundância apresentou desafios para a preservação e consumo das presas, pelo que ou os Neandertais tinham técnicas de preservação desconhecidas ou se reuniam em grandes grupos para consumir a carne.
As conclusões do estudo, publicado esta segunda-feira na PNAS, implicam que os Neandertais tinham uma estrutura social e estilo de vida mais complexos do
que se pensava anteriormente - possivelmente envolvendo estadias
prolongadas numa dada área para processamento e consumo da carne obtida
nas caçadas.
Denisovanos: o que já se sabe sobre os nossos “primos” mais misteriosos
Reconstrução facial de um Denisovano
Já ouviu falar do Hominídeo de Denisova? É ainda mais misterioso do que os Neandertais.
Os Denisovanos são uma espécie de humanos e quase se extinguiu há, pelo menos, 20 mil anos. São conhecidos como o grupo irmão dos Neandertais.
Esta espécie também conviveu com o Homo sapiens na Euroásia, durante
partes do Paleolítico Inferior – que vai de 3,3 milhões de anos até 300 mil anos
atrás – e do Paleolítico Médio – que vai de 300 mil anos até 50 mil anos atrás.
Tal como os Neandertais, os Denisovanos são os nossos parentes extintos
mais próximos. Recentemente, ADN destes “primos” misteriosos foi
encontrado numa caverna tibetana.
A investigação indicou que os hominídeos ocuparam o planalto tibetano por um longo período de tempo e, provavelmente, conseguiram adaptar-se ao ambiente de grande altitude.
Há quem vá ainda mais longe e considere que o Denisovanos foram os primeiros humanos a chegar àquela região.
Como explica o IFLScience, acredita-se que Neandertais, Denisovanos e humanos modernos sejam descendentes de um ancestral comum do Homo heidelbergensis, que viveu há cerca de 600 mil a 750 mil anos.
Há uma teoria que diz que um grupo ancestral dessa espécie deixou
África e dividiu-se em dois grupos principais, pouco tempo depois: os
Neandertais que migraram para a Ásia Ocidental e Europa; e os Denisovanos que foram para Leste.
Os ancestrais do Homo heidelbergensis que permaneceram em África, provavelmente, deram origem aos humanos modernos.
Os nossos “primos” ainda são misteriosos
Em 2008, uma falange encontrada na Caverna de Denisova, na Sibéria,
revelou ao Mundo esta nova espécie humana, batizada apenas 2010 como “Hominídeo de Denisova”.
Desde então, segundo o IFLScience, já foram encontrados fósseis de cinco indivíduos Denisovanos, na Caverna de Denisova.
Uma descoberta, em 2018, de um fragmento de osso com 40 mil anos, de
uma rapariga com uma mãe Neandertal e um pai Denisovano, veio confirmar
que espécies híbridas humanas podem ter desempenhado um papel fundamental na evolução.
Não há ainda muita informação sobre a fisionomia dos Denisovanos,
mas, em 2019, os cientistas reconstruiram, pela primeira vez, o rosto de
uma mulher desta espécie.
Ao fazer um mapa metílico do genoma dos Denisovanos, ou seja, um mapa
que mostra como as alterações químicas na expressão genética podem
influenciar características físicas, os cientistas reconstruiram pela
primeira vez o rosto de uma Denisovana.
No total, os investigadores encontraram 56 traços
nos Denisovanos que previam ser diferentes dos Neandertais e dos humanos
modernos, sendo que 32 deles resultaram em claras diferenças
anatómicas.
A equipa descobriu, por exemplo, que estes hominídeos tinham arcadas dentárias
significativamente mais longas, assim como o topo do crânio era também
visivelmente mais largo, quando comparados com os Neandertais e com os
humanos modernos.
De forma mais específica, também perceberam que a pélvis e a caixa torácica
eram mais largas do que as dos humanos modernos e tinham também rostos
mais finos e planos quando comparados com os dos Neandertais.
Trinkaus
has been concerned primarily with the biology and behavior of
Neandertals and early modern humans through the Middle and Late
Pleistocene, in order to shed light on these past humans and to
understand the emergence and establishment of modern humans. His work
therefore has been primarily concerned with the comparative and
functional anatomy, paleopathology, and life history of these past
humans. At the same time, because it dominates paleoanthropology, he has
been involved in debates concerning the ancestry of modern humans,
being one of the first to argue for an African origin of modern humans
but with substantial Neandertal ancestry among modern Eurasian human
populations.
Although his early work emphasized differences between the
Neandertals (and other archaic humans) and early modern humans, his work
since the 1990s has documented many similarities across these human
groups in terms of function, levels of activity and stress, and
abilities to cope socially with the rigors of a Pleistocene foraging
existence. His research therefore involves the biomechanical analysis of cranio-facial
and post-cranial remains, patterns of tooth wear, interpretations of
ecogeographical patterning, life history parameters (growth and
mortality), differential levels and patterns of stress (paleopathology),
issues of survival, and the interrelationships between these patterns.
Research projects
Trinkaus
has conducted a series of comparative analyses, with colleagues and
students, on the regional functional anatomy of Neandertals and other
Pleistocene humans. He has contributed to the direct radiocarbon dating
of original human fossils, and through that work to insights into their
diets through the analysis of carbon (C) and nitrogen (N) stable
isotopes.
He has been involved in the primary paleontological descriptions of a
number of Middle and Late Pleistocene human remains, of both archaic and
early modern humans. The first project was his monograph on the
Shanidar Neandertals from Iraqi Kurdistan. Subsequent major projects
concerned with early modern humans include the Abrigo do Lagar Velho
(Portugal) Dolní Věstonice and Pavlov Moravia, Czech Republic,
Peştera cu Oase (Romania), Peştera Muierii (Romania), Mladeč (Czech
Republic), Tianyuandong (China), and Sunghir (Russia). Additional
Neandertal descriptions include those from Krapina (Croatia), Oliveira
(Portugal), Kiik-Koba (Crimea), and Sima de las Palomas (Spain). To
these can be added Middle Pleistocene human remains from Aubesier
(France), Broken Hill (Zambia) and Hualongdong (China), plus late
archaic humans remains from Xujiayao and Xuchang (China). These
paleontological descriptions include both primary data on these fossils
and a diversity of paleobiological interpretations of the remains and
the Pleistocene human groups from which they derive.
Trinkaus’s analyses of early modern human remains, especially
those from Dolní Věstonice, Pavlov, Lagar Velho and Sunghir, have raised
a series of questions regarding the nature and diversity of mortuary
practices among these early modern humans. And his paleopathological
analyses of Pleistocene human remains have raised questions concerning
the levels and natures of trauma and developmental abnormalities among
these people.
25 anos depois, o “Menino do Lapedo” vai ou não ser mostrado ao público?
Menino de Lapedo (conceito artístico)
Vinte e cinco anos depois da sua descoberta, o esqueleto do
“Menino do Lapedo”, a criança neandertal portuguesa descoberta em 1998,
permanece depositado no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa — e
está por decidir se algum dia será exposto ao público.
No Lagar Velho, no vale do Lapedo, a cerca de 150 km de Lisboa, foi descoberto em 1998 o esqueleto conhecido como Menino do Lapedo - o esqueleto português que sugere que neandertais e humanos se cruzaram.
Com cerca de 4 anos, a criança foi enterrada neste local há cerca de 29 mil anos.
Na altura da descoberta, algo diferente no seu corpo chamou a atenção
dos arqueólogos que começaram a escavar o sítio arqueológico.
“Havia algo estranho na anatomia da criança. Quando
encontramos a mandíbula, sabíamos que seria um humano moderno, mas
quando expusemos o esqueleto completo […] vimos que tinha as proporções corporais de um Neandertal”, explica João Zilhão, arqueólogo e líder da equipa que trabalhou na descoberta.
“A única coisa que poderia explicar essa combinação
de características é que a criança era, de facto, evidência de que os
neandertais e os humanos modernos se cruzaram”.
Mas a teoria do cientista português provocou então uma revolução
nos estudos evolutivos, e imortalizou o Menino de Lapedo — que está
depositado, desde então, nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia
(MNA).
Agora, no âmbito das comemorações dos 25 anos da descoberta, o MNA organizou uma visita ao esqueleto.
O MNA está encerrado ao público há mais de um ano,
para remodelação no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR),
mas algumas das obras e coleções, como o esqueleto do “Menino do
Lapedo”, e laboratórios estão depositados em oito contentores
climatizados, numa área ao ar livre do edifício.
Na visita conduzida pelo diretor do MNA, António Carvalho, foi possível ver as caixas onde estão colocadas as dezenas de fragmentos e ossos da “Criança do Lapedo”, com cerca de 29.000 anos, classificados como tesouro nacional.
A descoberta marcou a paleoantropologia internacional, por se tratar
do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica e
porque a criança apresenta traços de ‘Neandertal’ e de ‘homo sapiens‘.
Questionado pela Lusa, António Carvalho disse que ainda está a ser debatido, e não há uma decisão tomada,
sobre o futuro deste achado arqueológico: se permanecerá nas reservas
do museu nacional, se poderá integrar a exposição permanente quando
reabrir, ou se regressará ao sítio arqueológico, classificado como monumento nacional.
“No quadro da intervenção do museu certamente que esta questão e
outras vão ser debatidas, porque é normal. Um museu que depois se
oferece com todas as condições de conservação e de alguma projeção das suas reservas que vá ser objeto de reflexão, se se vão juntar determinados bens arqueológicos”, disse.
“Até para respeitar um princípio legal que é a da não-dispersão dos bens arqueológicos. Vamos ver”, detalhou António Carvalho.
Presente na visita, a antropóloga Cidália Duarte,
que em 1998 fez parte da equipa de escavações, e que atualmente ainda
trabalha no projeto de conservação, falou na “enorme responsabilidade”
em lidar com este tesouro nacional.
“É uma descoberta tão importante que é uma responsabilidade
que recai em cima de nós se isto se deteriora por alguma ação que
queiramos fazer. Já o imaginei exposto de várias maneiras, mas eu tenho receio, todos nós temos de tratar dessa memória para o futuro”, acrescentou a antropóloga.
A antropóloga recordou que o esqueleto só esteve uma vez exposto
ao público, numa exposição temporária, na Alemanha, no âmbito da
exposição de 2011 que assinalou os 150 anos da descoberta do Homem de
Neandertal nesse país.
A visita realizada esta quinta-feira é uma das várias iniciativas que
assinalam os 25 anos da descoberta do Menino do Lapedo — agora também
conhecido como a “Criança do Lapedo”.
O programa prolongar-se-á até ao final de 2024 e
“inclui conferências, conversas, mesas-redondas, exposições, residências
artísticas, publicações, em vários formatos, percursos pedestres e
atividades performativas e educativas, de distintas naturezas”, anunciou
a Câmara de Leiria.
Um estudo realizado por uma equipa internacional de
investigadores na Gruta da Oliveira, em Portugal, está a desafiar a
visão de longa data de que os neandertais são uma espécie separada dos
humanos modernos.
Os neandertais sabiam controlar o fogo e usavam-no para cozinhar, revela
um estudo conduzido por uma equipa internacional de investigadores, da
qual fazem parte os arqueólogos portugueses Mariana Nabais e João Zilhão.
O estudo, liderado por Diego Angelucci, arqueólogo da Universidade de Trento, baseia-se em descobertas na Gruta da Oliveira, em Torres Novas.
Este sítio arqueológico, uma jazida do Paleolítico Médio descoberta em
1989, foi habitado pelos neandertais há mais de 71.000 anos.
De acordo com os autores do estudo, publicado na PLOS One, os neandertais faziam um uso sofisticado e controlado do fogo para cozinhar e aquecer-se, de forma semelhante aos humanos modernos.
A conclusão é evidenciada pelo posicionamento consistente de uma lareira e de ossos queimados encontrados no local.
Esta descoberta está em linha com a ideia de que os neandertais, que chegaram a ser considerados intelectualmente inferiores aos humanos contemporâneos, tinham uma cultura complexa, com práticas como o enterro intencional dos mortos, a elaboração de joias e, possivelmente, a criação de arte.
A visão tradicional dos neandertais como uma espécie distinta, designada Homo neanderthalensis, remonta à sua descoberta inicial em 1864 e subsequente classificação pelo geólogo William King.
No entanto, esta perspetiva tem mudado à medida que análises mais sofisticadas revelaram ligações genéticas e culturais que aproximam os neandertais do Homo sapiens.
Pesquisas genéticas mostram que os neandertais acasalaram com antepassados dos humanos modernos, tornando ainda mais ténue a linha que em teoria separa as duas espécies.
Escavações arqueológicas na Gruta da Oliveira, Torres Novas
O uso controlado do fogo, marca da civilização
humana agora identificada na Gruta da Oliveira, apoia a ideia de que as
capacidades e práticas culturais dos neandertais não eram afinal assim
tão diferentes das nossas.
“Os achados do local da Gruta da Oliveira sugerem que os neandertais talvez devam ser vistos como diferentes formas de humanos e não como uma espécie completamente separada”, diz Diego Angelucci numa nota de imprensa publicada no site da Universidade de Trento.
Assim, embora a classificação taxonómica formal possa não mudar a
curto prazo, devido à natureza conservadora da taxonomia, o estudo agora
publicado reflete a ideia de que os neandertais são afinal mais como nossos irmãos do que primos distantes na árvore genealógica humana.
Menino do Lapedo. O esqueleto português que sugere que neandertais e humanos se cruzaram
Reconstrução visual do menino do Lapedo
No Lagar Velho, no vale do Lapedo, a cerca de 150 km de
Lisboa, foi descoberto em 1998 o esqueleto conhecido como menino do
Lapedo. Com cerca de 4 anos, foi enterrado neste local em Portugal há
cerca de 29 mil anos.
Algo diferente no seu corpo chamou a atenção dos arqueólogos que começaram a escavar o local.
“Havia algo estranho na anatomia da criança. Quando
encontramos a mandíbula, sabíamos que seria um humano moderno, mas
quando expusemos o esqueleto completo […] vimos que tinha as proporções corporais de um Neandertal”, explicou à BBC João Zilhão, arqueólogo e líder da equipa que trabalhou na descoberta.
“A única coisa que poderia explicar essa combinação de características é
que a criança era, de facto, evidência de que os neandertais e os
humanos modernos se cruzaram”.
Se voltarmos ao que se pensava sobre a evolução dos humanos no final
dos anos 90 — quando se supunha que os neandertais e os humanos modernos
eram espécies diferentes e, portanto, o cruzamento era impensável — não
surpreende que a grande maioria dos especialistas tenha acreditado que a
interpretação de Zilhão e sua equipa era um tanto exagerada.
Mas a sua teoria provocou uma revolução nos estudos evolutivos. A
comunidade à qual o menino pertencia era de caçadores-coletores e de
natureza nómada.
Conforme explicou à BBC Reel a arqueóloga Ana Cristina Araújo, quando
o menino morreu, o grupo cavou um buraco no chão, queimou um galho de
pinheiro e depositou o seu corpo envolto numa mortalha tingida de ocre
sobre as cinzas.
“Não sabemos (com certeza) se era menino ou menina, mas há indícios de que era menino”.
Sobre a causa da morte, a arqueóloga diz que não há pistas que apontem para uma doença ou queda. Portanto, é possível imaginar uma diversidade de cenários. “O menino pode ter comido um cogumelo venenoso ou pode ter-se afogado”.
O seu corpo permaneceu enterrado por milénios até que, em 1998, foi
descoberto por acaso e estava com o esqueleto quase intacto quando os
donos do terreno começaram a escavar para construir uma série de
estruturas em terraços.
Depois de transferido para o Museu Nacional de Lisboa, começaram a estudá-lo detalhadamente.
“Os ossos das pernas eram mais curtos do que o normal
para uma criança da idade dele. Como é que as pernas poderiam parecer
de um neandertal? Alguns dentes também pareciam de um neandertal,
enquanto outros pareciam de um humano moderno. Como explicar isso?”,
questionou Zilhão.
Os investigadores lidaram com duas hipóteses. Uma delas era que a
criança era o resultado de um cruzamento entre um neandertal e um humano
moderno.
Zilhão, porém, não se convenceu disso. Se esse foi um evento único,
raro e esporádico, a possibilidade de encontrá-lo 30 mil anos depois era quase impossível.
A segunda hipótese sugeria que os neandertais e os sapiens mantinham relações sexuais regulares entre si.
“Sabíamos que na Península Ibérica o momento do contacto [entre os
dois] foi […] há cerca de 37 mil anos. Se o esqueleto pertencesse a essa
época, a primeira teoria poderia funcionar. Mas se o menino era de um
período muito mais tardio, as implicações tinham que ser que estávamos a
olhar para um processo em nível populacional, não um encontro casual entre dois indivíduos”, diz Zilhão.
A datação por radiocarbono resolveu a questão: a criança do Lapedo tinha 29 mil anos.
“Se tantos milénios após o tempo de contacto, as pessoas que vivem
nesta parte do mundo ainda apresentam evidências anatómicas dessa
população ancestral de neandertais, deve ser porque o cruzamento não
aconteceu apenas uma vez, foi a norma”, apontou o arqueólogo.
A força das evidências encontradas pela equipa em Portugal fez com que outros especialistas tivessem que considerar seriamente essa hipótese.
Graças a esta descoberta, houve uma mudança na nossa compreensão dos neandertais como espécie.
A investigação dá a entender que os neandertais não são uma espécie
diferente. “Nós sobreinterpretamos pequenas diferenças no esqueleto
facial ou na robustez do esqueleto”, diz Zilhão.
Outras descobertas de fósseis feitas posteriormente com características semelhantes às do menino do Lapedo deram mais peso à teoria do cruzamento, que mais tarde foi reforçada quando os investigadores sequenciaram todo o genoma neandertal.
É assim que sabemos que é possível que europeus e asiáticos tenham até 4% de ADN neandertal.
“Isso não quer dizer que em cada um de nós 2% ou 4% seja
[neandertal]. Na realidade, se juntar todas as partes do genoma
neandertal que ainda persistem, isso é quase 50% ou 70% do que era
especificamente neandertal. Portanto, o genoma neandertal persistiu
quase na sua totalidade”, explica o investigador.
Esse conhecimento “enriquece a nossa compreensão da evolução humana”,
diz Zilhão, em vez de “pensar que apenas descendemos de uma população
muito pequena que viveu nalgum lugar de África há 250 mil anos e que
todo o resto das pessoas que viveram nessa época simplesmente
desapareceram”.
Encontrada misteriosa “linhagem fantasma” no ADN de africanos
Uma linhagem humana extinta, que representava uma relação
mais distante do que a dos Neandertais, pode ter-se misturado com os
antepassados dos modernos africanos ocidentais, contribuindo
significativamente para o seu património genético, revelou um novo
estudo.
Embora os humanos modernos sejam a única linhagem sobrevivente da
humanidade, outros viveram na Terra. Alguns conseguiram sair de África
antes de nós, incluindo os Neandertais na Eurásia e as novas linhagens
Denisovan na Ásia e Oceânia.
Segundo o Discover, não se sabe se estas linhagens seriam consideradas espécies ou subespécies, mas os grupos tinham diferenças genéticas identificáveis.
Trabalhos anteriores estimaram que os antepassados dos humanos modernos
se separaram há cerca de 700.000 anos da linhagem que deu origem aos
Neandertais e Denisovans, e os antepassados dos Neandertais e Denisovans
divergiram uns dos outros há cerca de 400.000 anos.
A história é um pouco mais confusa do que a linha do tempo sugere,
pois a análise genética dos fósseis dessas linhagens extintas revelou
que outrora se cruzaram com humanos modernos, uniões que podem ter
dotado a nossa linhagem de mutações úteis à medida que começámos a
expandir-nos pelo mundo, há 194.000 anos.
O ADN Neandertal representa aproximadamente 1,8% a 2,6% dos genomas dos humanos modernos de fora de África, enquanto que o ADN Denisovan representa 4% a 6% dos melanésios modernos.
Linhagens humanas agora extintas que outrora existiam em África pode
também ter-se misturado com os humanos modernos. No entanto, a natureza
esparsa do antigo registo fóssil humano em África torna difícil a
identificação do ADN de tais “linhagens fantasmas” nos humanos modernos.
Ao invés de procurarem fósseis humanos antigos em toda a África, os
cientistas procuraram vestígios genéticos de linhagens de fantasmas nos
africanos modernos. Compararam 405 genomas de pessoas da África Ocidental com os de fósseis de Neandertais e Denisovans.
No estudo, publicado recentemente Science Advances,
os investigadores detetaram anomalias que sugerem o cruzamento entre os
africanos ocidentais e uma linhagem humana antiga desconhecida, cujos
antepassados divergiram dos humanos modernos antes da divisão entre
estes e os Neandertais.
Em quatro grupos da África Ocidental – Yoruba no sudoeste da Nigéria,
Esan no sul da Nigéria, Gambianos na Gâmbia ocidental, e Mende na Serra
Leoa – 2% a 19% do seu ADN pode derivar de uma linhagem fantasma,
disseram os investigadores.
“A reprodução cruzada entre populações altamente divergentes
tem sido comum através da evolução humana”, disse Sriram Sankararaman,
um dos autores do estudo e geneticista computacional da Universidade da
Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Várias variantes genéticas da linhagem fantasma eram invulgarmente
comuns nos genomas Yoruba e Mende, sugerindo que poderiam conferir
algumas vantagens evolutivas. Estas incluíam genes envolvidos na
supressão de tumores, reprodução masculina e regulação hormonal.
Pesquisas anteriores também sugeriram o cruzamento com linhagens fantasmas em África, como aconteceu com um estudo
publicado em janeiro deste ano. A linhagem fantasma examinada nessa
investigação “é provavelmente a linhagem fantasma que estamos a ver”,
disse Sankararaman.
Para Omer Gokcumen, genómico evolucionista na Universidade de
Buffalo, em Nova Iorque, estas descobertas sublinham como não se trata
de “uma questão de saber se os nossos antepassados interagiram com outros hominídeos, mas sim uma questão de quando, onde, e com quem”.
Os cientistas estimaram que esta linhagem fantasma divergia dos
antepassados dos Neandertais e dos humanos modernos até há 1,02 milhões
de anos e que se encontrava cruzada com os antepassados dos africanos
ocidentais modernos desde há 124.000 anos até aos dias de hoje.
“Uma das limitações do nosso estudo é que temos principalmente
amostras das populações atuais da África Ocidental”, disse Sankararaman.
A equipa ainda não sabe até que ponto a linhagem fantasma espalhou-se
por toda a África.
Os cientistas pretendem analisar as pessoas em toda a África em busca
de sinais de linhagem fantasma. “Estamos a começar a compreender
algumas das complexidades da história humana, mas o verdadeiro quadro é quase de certeza ainda mais complicado”, acrescentou Sankararaman.