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quinta-feira, fevereiro 29, 2024

A Universidade de Coimbra, alma mater dos Geopedrados, celebra hoje 734 anos!


A Universidade de Coimbra é uma universidade localizada na cidade de Coimbra, em Portugal. É uma das universidades mais antigas do mundo ainda em operação, sendo a mais antiga e uma das maiores do país. Composta por 3 polos, 8 faculdades e 18 museus, a instituição conta ainda com o Jardim Botânico e o Estádio Universitário de Coimbra, num espaço com 25.188 alunos em 2020.

A sua história remonta ao século seguinte ao da própria fundação da nação portuguesa, dado que foi criada a 1 de março 1290, quando o Rei D. Dinis I assinou em Leiria o documento Scientiae thesaurus mirabilis, o qual criou a própria universidade, que foi intermediada e foi confirmada pelo Papa. Fixada definitivamente em Coimbra em 1537, sete anos mais tarde todas as suas Faculdades se instalam no antigo Paço Real da Alcáçova (denominado Paço das Escolas após a sua aquisição pela Universidade de Coimbra em 1597).
Organizada em oito faculdades, de acordo com uma variedade de campos de conhecimento, a universidade oferece todos os graus académicos em Arquitetura, Educação, Engenharia, Humanidades, Direito, Matemática, Medicina, Ciências Naturais, Psicologia, Ciências Sociais e Desporto.
A Universidade de Coimbra possui aproximadamente 25 mil estudantes, abrangendo uma das maiores comunidades de estudantes internacionais em Portugal, sendo a sua universidade mais cosmopolita. Além disso, é o membro-criador do chamado Grupo Coimbra, uma rede de universidades europeias cujo objetivo é a colaboração académica entre os elementos do grupo. Em 22 de junho de 2013 foi declarada Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
A nível mundial, a Universidade de Coimbra destaca-se ainda pelo seu alinhamento com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, tendo alcançado a 21.º posição no ranking publicado pela Times Higher Education (THE) o qual inclui mais de 1000 universidades e politécnicos de todo o mundo. 
  
    

   


terça-feira, fevereiro 20, 2024

Vitorino Nemésio morreu há 46 anos...

Obra artística realizada na Escola Secundária Vitorino Nemésio
 
Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (Praia da Vitória, 19 de dezembro de 1901 - Lisboa, 20 de fevereiro de 1978) foi um poeta, escritor e intelectual de origem açoriana que se destacou como romancista, autor de Mau Tempo no Canal, e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
  
Biografia
Filho de Vitorino Gomes da Silva e Maria da Glória Mendes Pinheiro, na infância a vida não lhe correu bem em termos de sucesso escolar, uma vez que foi expulso do Liceu de Angra e reprovou no 5.º ano, facto que o levou a sentir-se incompreendido pelos professores. Do período do Liceu de Angra, apenas guardou boas recordações de Manuel António Ferreira Deusdado, professor de História, que o introduziu na vida das Letras.
Com 16 anos de idade, Nemésio desembarcou pela primeira vez na cidade da Horta para se apresentar a exames, como aluno externo do Liceu Nacional da Horta. Acabou por concluir o Curso Geral dos Liceus, em 16 de julho de 1918, com a qualificação de dez valores.
A sua estadia na Horta foi curta, de maio a agosto de 1918. A 13 de agosto o jornal O Telégrafo dava notícia de que Nemésio, apesar de ser um fedelho, um ano antes de chegar à Horta, havia enviado um exemplar de Canto Matinal, o seu primeiro livro de poesia (publicado em 1916), ao diretor de O Telégrafo, Manuel Emídio.
Apesar da tenra idade, Nemésio chegou à Horta já imbuído de alguns ideais republicanos, pois em Angra do Heroísmo já havia participado em reuniões literárias, republicanas e anarco-sindicalistas, tendo sido influenciado pelo seu amigo Jaime Brasil, cinco anos mais velho (primeiro mentor intelectual que o marcou para sempre) e por outras pessoas tal como Luís da Silva Ribeiro, advogado, e Gervásio Lima, escritor e bibliotecário.
Em 1918, ao final da Primeira Guerra Mundial, a Horta possuía um intenso comércio marítimo e uma impressionante animação noturna, uma vez que se constituía em porto de escala obrigatória, local de reabastecimento de frotas e de repouso da marinhagem. Na Horta estavam instaladas as companhias dos Cabos Telegráficos Submarinos, que convertiam a cidade num "nó de comunicações" mundiais. Esse ambiente cosmopolita contribuiu, decisivamente, para que ele viesse, mais tarde a escrever uma obra mítica que dá pelo nome de Mau Tempo no Canal, trabalhada desde 1939 e publicada em 1944, cuja ação decorre nas ilhas Faial, Pico, São Jorge e Terceira, sendo que o núcleo da intriga se desenvolve na Horta.
Este romance evoca um período (1917-1919) que coincide em parte com a sua permanência na ilha do Faial e nele aparecem pessoas tais como o Dr. José Machado de Serpa, senador da República e estudioso, o padre Nunes da Rosa, contista e professor do Liceu da Horta, e Osório Goulart, poeta.
Em 1919 iniciou o serviço militar, como voluntário na arma de Infantaria, o que lhe proporcionou a primeira viagem para fora do arquipélago. Concluiu o liceu em Coimbra (1921) e inscreve-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Três anos mais tarde, Nemésio trocou esse curso pelo de Ciências Histórico Filosóficas, da Faculdade de Letras de Coimbra, e, em 1925, matriculou-se no curso de Filologia Românica.
Na primeira viagem que faz à Espanha, com o Orfeão Académico, em 1923, conheceu Miguel Unamuno, escritor e filósofo espanhol (1864-1936), intelectual republicano e teórico do humanismo revolucionário antifranquista, com quem trocará correspondência anos mais tarde.
A 12 de fevereiro de 1926 desposou, em Coimbra, Gabriela Monjardino de Azevedo Gomes, com quem teve quatro filhos: Georgina (novembro de 1926), Jorge (abril de 1929), Manuel (julho de 1930) e Ana Paula (dezembro de 1931).
Em 1930 transferiu-se para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde, no ano seguinte, concluiu o curso de Filologia Românica, com elevadas classificações, começando desde logo a lecionar literatura italiana. A partir de 1931 deu inicio à carreira académica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde lecionou Literatura Italiana e, mais tarde, Literatura Espanhola.
Em 1934 doutorou-se em Letras pela Universidade de Lisboa com a tese A Mocidade de Herculano até à Volta do Exílio.
Entre 1937 e 1939 lecionou na Universidade Livre de Bruxelas, tendo regressado, neste último ano, ao ensino na Faculdade de Letras de Lisboa.
Em 1958 lecionou no Brasil.
A 19 de julho de 1961 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e a 17 de abril de 1967 Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
A 12 de setembro de 1971, atingido pelo limite legal de idade para exercício de funções públicas, profere a sua última lição na Faculdade de Letras de Lisboa, onde ensinara durante quase quatro décadas.
Foi autor e apresentador do programa televisivo Se bem me lembro, que muito contribuiu para popularizar a sua figura e dirigiu ainda o jornal O Dia entre 11 de dezembro de 1975 a 25 de outubro de 1976.
Foi um dos grandes escritores portugueses do século XX, tendo recebido em 1965, o Prémio Nacional da Literatura e, em 1974, o Prémio Montaigne.
Faleceu a 20 de fevereiro de 1978, em Lisboa, no Hospital da CUF, e foi sepultado em Coimbra. Pouco antes de morrer, pediu ao filho para ser sepultado no cemitério de Santo António dos Olivais, em Coimbra. Mas pediu mais: que os sinos tocassem o Aleluia, em vez do dobre a finados. O seu pedido foi respeitado.
A 30 de agosto de 1978 foi elevado a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, a título póstumo.

 

 

 
Tenho uma Saudade tão Braba

Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.

Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.

Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.

Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.


in Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga (2003) - Vitorino Nemésio

 

sábado, fevereiro 17, 2024

Cotelo Neiva, o geólogo que foi Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, nasceu há 107 anos...


Nasceu a 18 de fevereiro de 1917 na freguesia de Cedofeita, Porto, foi nomeado Professor Catedrático da Universidade de Coimbra em 1949 e seu Reitor entre 1971 e 1974, tendo-se Jubilado como Professor Catedrático do Departamento de Ciências da Terra em 1987.
Licenciado em Ciências Geológicas com distinção, pela Universidade do Porto, em 1938, onde foi contratado em 1939 como assistente do Grupo de Ciências Geológicas. Doutorado nesta Universidade em 1944, com a tese “Jazigos Portugueses de Cassiterite e Volframite”, onde passou a exercer funções de 1º assistente de 1945 a 1948. Prestou provas públicas para professor extraordinário com a tese “Rochas e minérios da região de Bragança-Vinhais”, em 1948, na Universidade do Porto. Foi Professor Extraordinário nesta Universidade de 1948 a 1949. Em 1949, prestou provas públicas para Professor Catedrático na Universidade de Coimbra, tendo dado a lição “Geologia dos minérios de ferro portugueses – seu interesse para a siderurgia”.
Entre 1950 e 1974, dirigiu o Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra. Foi diretor dos Centro de Estudos Geológicos (1950-1975), do Agrupamento de Estudos Geológicos do Ultramar (1954-1974) e do Centro de Estudos de Mineralogia e Geologia de Coimbra (1958-1974).
Colaborou com os Serviços Geológicos de Portugal desde 1940, Serviço de Fomento Mineiro (1945-1963) e Laboratório Nacional de Engenharia Civil (1962-1964). Foi membro do Conselho Superior de Minas e Serviços Geológicos (1958-1974), do Centro de Investigação Científica do Instituto de Alta Cultura (1964-1973) e da Junta Nacional de Educação (1971-1974).
Foi diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, entre 1963 e 1971, onde se destacou pela reforma das várias licenciaturas, pelo desenvolvimento da investigação e pelo apetrechamento didático.
Entre 1971 e 1974, assumiu o cargo de Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, tendo protagonizado o crescimento físico e orgânico da Universidade, com a transformação da Faculdade de Ciências em Faculdade de Ciências e Tecnologia, a criação da Faculdade de Economia e deixou organizado o processo de criação da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Desenvolveu os Serviços Sociais para os funcionários e estudantes, tendo sido responsável pela instalação de serviços de benefícios múltiplos.
A sua atividade académica é marcada pela investigação nos domínios dos recursos geológicos, nomeadamente, das mineralizações e dos jazigos minerais e dos processos geoquímicos associados, bem como da geologia de engenharia, relacionada com a cartografia geológica e geotécnica e com o comportamento geomecânico dos materiais.
Realizou estudos geológicos e petrográficos em Portugal continental, Porto Santo, Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Macau e Timor. Estudou jazigos minerais e pedreiras em Portugal, Angola, Moçambique e Goa.
Foi consultor dos principais projetos hidroelétricos em Portugal e nas ex-colónias, desde 1957, onde marcou as equipas multidisciplinares de projeto e construção das principais barragens, tendo mantido essa atividade até 2002.
A sua bibliografia é composta por 203 trabalhos científicos publicados e 334 relatórios de Geologia Económica e de Geologia Aplicada, os quais tiveram impacto nacional e internacional.
Foi um dos fundadores da Sociedade Geológica de Portugal (1941) e da Sociedad Española de Cristalografia e Mineralogia (1975).
Na Academia das Ciências de Lisboa, foi Membro Correspondente de 1983 a 1987, Membro Efetivo de 1987 a 2013 e Sócio Emérito de 2013 a 2015. Foi Sócio Emérito da Academia de Engenharia de 2009 a 2015.
Foi-lhe concedido o grau da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública por Sua Excelência o Presidente da República, em 2003.
Em 2015, a Sociedade Geológica de Portugal instituiu o Prémio Cotelo Neiva destinado a homenagear e distinguir a carreira científica e/ou profissional de um geólogo português.
   
 

 

NOTA: Faleceu a 19 de março de 2015 este grande Geólogo, que não tive a honra e o prazer de ser  aluno (jubilou-se pouco após eu ter entrado na Universidade) mas recordo-o ainda com muito carinho, bem como à sua filha, a já falecida Professora Doutora Ana Neiva, que deu aulas a todos Geopedrados...

quinta-feira, fevereiro 08, 2024

Notícia sobre a nova coordenadora científica do Estrela Geopark


Helena Freitas é a nova coordenadora científica do Estrela Geopark

Nova coordenadora ressalva que tem acompanhado e participado em diversos eventos e que "estaria sempre com o Geopark em qualquer circunstância".

A professora da Universidade de Coimbra e coordenadora geral do Parque de Serralves, Helena Freitas, é a nova coordenadora científica do Estrela Geopark, com sede em Manteigas, distrito da Guarda, foi esta quinta-feira anunciado.

Em comunicado enviado à agência Lusa, o Estrela Geopark Mundial da UNESCO revela que Helena Freitas substitui Gonçalo Vieira, professor do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, da Universidade de Lisboa, coordenador científico entre 2016 e 2023, que cessou funções "por vontade própria".

O Estrela Geopark destaca que Gonçalo Vieira cessa funções "depois de um ciclo determinante para a classificação da serra da Estrela pela UNESCO e a revalidação desta distinção, em 2023, com a pontuação máxima de 1.000 pontos".

Em declarações à agência Lusa, Helena Freitas, realça que o Estrela Geopark é um projeto que acarinha e acompanha com muito interesse desde a sua génese. "Sempre entendi que era estruturante neste território com potencial para agregar um conjunto de municípios que têm uma matriz territorial muito forte".

A nova coordenadora científica ressalva que tem acompanhado e participado em diversos eventos e que "estaria sempre com o Geopark em qualquer circunstância".

"Farei a mesma coisa, mas agora com a responsabilidade também de participar de forma mais formal no sucesso e no processo de construção do Geopark na ligação à UNESCO", sublinhou.

Ao assumir as novas funções, Helena Freitas defende que é "uma oportunidade de estar mais presente" e de "ajuda a continuar a fazer o caminho positivo que tem sido feito e agora talvez valorizando mais a componente de educação e ciência para a sustentabilidade".

A professora da Universidade de Coimbra aponta que poderá ter uma atividade "mais expressiva" será nos projetos de educação ambiental, educação para a sustentabilidade e na questão climática.

A nova coordenadora científica é doutorada em Ecologia e professora catedrática na área da Biodiversidade e Ecologia na Universidade de Coimbra, coordenadora da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento, coordenadora do Centro de Ecologia Funcional e coordenadora Científica do Laboratório de Fitossanidade do Instituto Pedro Nunes.

O Estrela Geopark destaca ainda que Helena Freitas pertence ao Mission Board for Climate Change Adaptation, da Comissão Europeia, e é Ponto Focal de Portugal para o Intergovernmental Platform for Biodiversity and Ecosystem Services, das Nações Unidas.

O Estrela Geopark, classificado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) desde julho de 2020, tem uma área de 2.216 quilómetros quadrados (km2), pertencentes a nove municípios dos distritos da Guarda, Castelo Branco e Coimbra (Belmonte, Celorico da Beira, Covilhã, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Seia e Oliveira do Hospital).

Os geoparks mundiais da UNESCO têm como missão a valorização e a preservação do património Geológico, através da Educação, da Ciência e do Turismo Sustentável, construindo estratégias de desenvolvimento territorial. Atualmente existem 195 geoparks em todo o mundo, cinco dos quais em Portugal.

 

in CM

sexta-feira, fevereiro 02, 2024

O Doutor Luis Nabais Conde morreu há um ano...

Luis Nabais Conde (1937-2023) nos Himalaias (fotografia de autor desconhecido cedida por Pedro Dinis)

  

Luís Eduardo Nabais Conde (Estoril, 1 de fevereiro de 1937 - Barreiro, 2 de fevereiro de 2023) foi licenciado em Ciências Geológicas na Universidade de Coimbra, naturalista no Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da mesma Universidade, sob orientação do João Cotelo Neiva (2017-2015). Ingressou nos Serviços Geológicos onde desenvolveu trabalhos de cartografia geológica, com destaque para a carta tectónica da Ibéria (1974). Nos anos 70 assume responsabilidades na área da prospeção na antiga Sociedade Mineira de Santiago (Aljustrel). Foi o sócio nº 2 da Associação Portuguesa de Geólogos e membro durante 30 anos até 2007. 
 
 

 
Nasceu em 1937 e, após a licenciatura em Ciências Geológicas na Universidade de Coimbra, ocupou o lugar de naturalista no então Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico, atual Departamento de Ciências da Terra, sob orientação do Professor Cotelo Neiva. Ulteriormente, e dada a sua natural aptidão para a geologia de campo, ingressa nos Serviços Geológicos de Portugal onde desenvolve trabalhos de cartografia geológica em diferentes regiões do país. Mais tarde, assume responsabilidades na área da prospeção na antiga Sociedade Mineira de Santiago (Aljustrel) e, após uma breve experiência no apoio a trabalhos de construção de túneis rodoviários na ilha da Madeira, ingressa novamente na Universidade de Coimbra onde, durante alguns anos, foi responsável por várias disciplinas, com destaque para a Deteção Remota, Depósitos Minerais e Cartografia Geológica. Durante este período realizou também prestações se serviço de relevância, em especial na área da energia.


in Professores in memoriam (DCT - UC)

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

O barão de Eschwege morreu há 168 anos

 
Wilhelm Ludwig von Eschwege (Auer Wasserburg, Hesse, 10 de novembro de 1777 - Kassel, 1 de fevereiro de 1855), também conhecido por barão de Eschwege, Guilherme von Eschwege ou por Wilhelm Ludwig Freiherr von Eschwege, foi um geólogo, geógrafo, arquiteto e metalurgista alemão.
Foi contratado pela coroa portuguesa para proceder ao estudo do potencial mineiro do país. Encontrava-se em Portugal quando, em 1808, a Corte se transferiu para o Brasil, devido à invasão francesa comandada por Junot. Seguiu posteriormente para o Brasil, onde se viria a notabilizar-se pela realização da primeira exploração geológica de carácter científico feita naquele país.
  
Biografia
Wilhelm Ludwig von Eschwege nasceu a 10 de novembro de 1777, em Aue bei Eschwege, Hessen, Alemanha, filho de família aristocrática. Destinado à carreira militar, estudou na Universidade de Göttingen (1796-1799), tendo sido contemporâneo de Georg Heinrich von Langsdorff. Em Marburg tomou contacto com a engenharia de minas, e tornou-se consultor em Clausthal e Richelsdorf, em 1801.
Apesar de alguns afirmarem que foi aluno de Abraham Gottlob Werner (1749-1817), o fundador da moderna Mineralogia, não há nos anais de Freiberg referência a sua passagem por lá. Destinado à vida militar, a sua curiosidade intelectual levou-o a adquirir a formação académica eclética, característica da intelectualidade europeia do século XIX. Estudou direito, ciências naturais, arquitetura, ciência e economia política, economia florestal, mineralogia e paisagismo.

Em Portugal
José Bonifácio de Andrada e Silva foi o responsável, embora indireto, pela vinda do Barão de Eschewege para Portugal, conforme nos explica o próprio barão nos seus registos. Bonifácio solicitara a vinda de operários alemães especializados para a exploração de minas, sendo-lhe enviados cientistas alemães e entre eles um barão. Após reação adversa e explosiva de acolhimento, no seu habitual mau génio, Bonifácio recompôs-se, felicitando os recém-chegados e considerando-os seus hóspedes. É o Barão que nos traça o modo como José Bonifácio vivia na Quinta do Almegue, nos arredores de Coimbra, com pouco conforto, no período em que foi professor de Metalurgia na Universidade. Este encontro merece ser destacado, pela importância que ambos vieram a ter nos destinos de Portugal e do Brasil.
Em 1802, Eschwege parte para Portugal, país onde permanece até 1810, ocupando o cargo de diretor de minas. Da sua experiência em Portugal, e das viagens de prospeção que empreendeu por todo o país, recolheu informação geológica e paleontológica, além de informação sobre técnicas de mineração e de administração das minas em Portugal e nas colónias, que lhe permitiram iniciar a publicação de diversas obras de carácter científico e integrar uma rede intelectual abrangente, que incluía, entre outros, sumidades como Goethe, Karl Marx e Alexander von Humboldt.
Durante a sua estada em Portugal catalogou inúmeros aspetos da mineralogia portuguesa e publicou um estudo sobre as conchas fossilizadas da região de Lisboa.
De 1803 a 1809 o barão de Eschwege esteve à testa da fábrica de artilharia e aprestos de ferro na Arega, Figueiró dos Vinhos, onde se fabricavam, entre muitas outras obras em ferro, os canhões para as forças armadas portuguesas.

 
No Brasil

Depois de ter trabalhado em Portugal, o barão de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil, a convite do príncipe regente D. João VI, para reanimar a decadente mineração de ouro e para trabalhar na nascente indústria siderúrgica. Foi ainda encarregado do ensino das ciências da engenharia aos futuros oficiais do exército e de continuar, agora naquele território, os seus trabalhos de exploração mineira e de metalurgia.
Em 1810 foi criado pelo príncipe regente D. João o Real Gabinete de Mineralogia do Rio de Janeiro, sendo ele chamado para o dirigir e ensinar aos mineiros técnicas avançadas de extração mineral. Permaneceu até 1821 no Brasil, com a patente de tenente-coronel engenheiro, nomeado "Intendente das Minas de Ouro" e curador do Gabinete de Mineralogia.
Nesse mesmo ano Eschwege iniciou, em Congonhas do Campo, Minas Gerais, os trabalhos de construção de uma fábrica de ferro, denominada de "Patriótica", empreendimento privado, sob a forma de sociedade por ações. Em 1811 a sua siderurgia já produzia em escala industrial.
No ano de 1812, em Itabira do Mato Dentro (actual Itabira, Minas Gerais), foi pela primeira vez extraído ferro por malho hidráulico, com a ajuda de Eschwege, que ali inovou a mineração de ouro introduzindo os pilões hidráulicos na lavra do coronel Romualdo José Monteiro de Barros, futuro Barão de Paraopeba, em Congonhas do Campo.
Em 1817 foram aprovados pelo governo os estatutos das sociedades de mineração, que estabeleciam as bases para a fundação da primeira companhia mineradora do Brasil, sugeridas por Eschwege.
Nos campos da geologia e da mineralogia, empreendeu viagens de exploração das quais resultou uma vasta obra escrita de pesquisas geológicas e mineralógicas. Foram importantes suas expedições de exploração científica aos estados de São Paulo e Minas Gerais, o primeiro a assinalar a presença de manganés.
Da obra escrita, publicada na Europa, sobressaem Pluto Brasiliensis (Berlim, 1833) a primeira obra científica sobre a geologia brasileira, e Contribuições para a Orografia Brasileira.
Com Francisco de Borja Garção Stockler, teve papel importante na estruturação do ensino nas áreas da matemática e da física na Academia Militar do Rio de Janeiro, escola militar criada por carta régia de 4 de dezembro de 1810, que iniciou atividades a 23 de abril de 1811, e é uma das instituições antecessoras da atual Academia Militar das Agulhas Negras e a primeira escola de engenharia no Brasil.
   
Palácio Nacional da Pena
    
Era amante da arquitetura e colaborou, a convite de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, rei-consorte de Portugal, casado com a rainha D. Maria II, na elaboração dos planos para o Palácio Nacional da Pena. Tal colaboração deu-se entre 1836 e 1840, muito depois do seu regresso do Brasil. Regressou à Alemanha, onde faleceu em Kassel-Wolfsanger, Hessen, a 1 de fevereiro de 1855.
  

Saudades de Edmundo Bettencourt...

Edmundo Bettencourt morreu há cinquenta e um anos...

(imagem daqui)

  

Edmundo Alberto Bettencourt (Funchal, 7 de agosto de 1899 - Lisboa, 1 de fevereiro de 1973) foi um cantor e poeta português notavelmente conhecido por interpretar o Fado e a Canção de Coimbra e pelo seu papel determinante na introdução de temas populares neste género musical. Notabilizou-se pela composição musical "Saudades de Coimbra" a qual é ainda hoje uma referência da música portuguesa universitária.  

Edmundo era neto de Júlio César de Bettencourt, Morgado da Calheta. Caso os morgadios não tivessem sido extintos, Edmundo teria sido o Morgado. 

Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra, foi funcionário público, até ser despedido, por o seu nome figurar entre os milhares de signatários das listas do MUD, desenvolvendo, então, a atividade de delegado de propaganda médica. Integrou o grupo fundador de Presença, cujo título sugerira, e em cujas edições publica O Momento e a Legenda. Dissocia-se do grupo presencista em 1930, subscrevendo com Miguel Torga e Branquinho da Fonseca uma carta de dissensão, onde é acusado o risco em que a revista incorria de enquadrar o "artista em fórmulas rígidas", esquecendo o princípio de "ampla liberdade de criação" defendido nos primeiros tempos" (cf. "O Modernismo em Portugal", entrevista de João de Brito Câmara a Edmundo de Bettencourt, reproduzida in A Phala, n.° 70, maio de 1999, p. 114). A redação de Poemas Surdos, entre 1934 e 40, alguns dos quais publicados na revista lisboeta Momento, permite antedatar o surto do surrealismo em Portugal, enquanto adesão a um "sistema de pensamento, no que ele tem de fuga à chamada realidade, repúdio dos valores duma civilização e esperança de ação num domínio onde por tradição ela é quase sempre negada", embora não seja possível esclarecer com especificidade qual foi o conhecimento que Bettencourt teve da lição surrealista francesa.

Frequentou os cafés Royal e Gelo, onde se reuniu a segunda geração surrealista, vindo a publicar seis inéditos no n.° 3 da revista Pirâmide (1959-1960), em cujas páginas, entre 59 e 60, foram dadas à luz algumas das produções do grupo do Gelo. Publicou ainda esparsamente outros poemas em Momento, Vértice, Búzio. Depois de um silêncio, que deve ser compreendido não como desistência "mas sim [como] uma peculiar forma de revolta que o poeta defende carinhosamente", colige toda a sua produção, permitindo a edição, em 1963, dos Poemas de Edmundo de Bettencourt, prefaciados por Herberto Helder, poeta que, pela primeira vez, faz justiça à originalidade do autor de Poemas Surdos, considerando-o "uma das pouquíssimas vozes modernas entre o milagre do Orpheu e o breve momento surrealista português" (HELDER, Herberto - "Relance sobre a Poesia de Edmundo de Bettencourt", prefácio a Poemas de Edmundo de Bettencourt, Lisboa, Portugália, 1963, p. XXXII). Com efeito, o versilibrismo, o imagismo e certa atmosfera onírica e irreal conferem à sua poesia um lugar de destaque no segundo modernismo, estabelecendo, simultaneamente, a ponte com o vanguardismo de Orpheu e com tendências surrealistas e imagistas verificadas em gerações posteriores à Presença.

 

in Wikipédia

 


quarta-feira, janeiro 31, 2024

Fernando Namora morreu há trinta e cinco anos...

  
Fernando Namora (Condeixa-a-Nova, 15 de abril de 1919 - Lisboa, 31 de janeiro de 1989) de nome completo Fernando Gonçalves Namora, foi um médico e escritor português, autor de uma extensa obra, das mais divulgadas e traduzidas nos anos 70 e 80.
 
Licenciado em Medicina (1942) pela Universidade de Coimbra, pertenceu à geração de 40, grupo literário que reuniu personalidades marcantes como Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado ou João José Cochofel, moldando-o, certamente, como homem, à semelhança do exercício da profissão médica, primeiro na sua terra natal, depois nas regiões da Beira Baixa e Alentejo, em locais como Tinalhas, Monsanto e Pavia, até que, em 1951, acabaria por se instalar em Lisboa - onde, curiosamente, muito jovem estudara, no Liceu Camões - como médico assistente do Instituto Português de Oncologia.
O seu volume de estreia foi Relevos (1937), livro de poesia, porventura sob a influência de Afonso Duarte e do grupo da Presença. Mas já publicara em conjunto com Carlos de Oliveira e Artur Varela, um pequeno livro de contos Cabeças de Barro. Em (1938) surge o seu primeiro romance As Sete Partidas do Mundo que viria a ser galardoado com o Prémio Almeida Garrett no mesmo ano em que recebe o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves, de artes plásticas - na categoria de pintura. Ainda estudante e com outros companheiros de geração funda a revista Altitude e envolve-se ativamente no projeto do Novo Cancioneiro (1941), coleção poética de 10 volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra, assinalando o advento do neo-realismo, tendo esta iniciativa coletiva, nascida nas tertúlias de Coimbra, de João José Cochofel, demarcado esse ponto de viragem na literatura portuguesa. Na mesma linha estética, embora em ficção, é lançada a coleção dos Novos Prosadores (1943), pela Coimbra Editora, reunindo os romances Fogo na Noite Escura, do biografado, Casa na Duna, de Carlos de Oliveira, Onde Tudo Foi Morrendo, de Vergílio Ferreira, Nevoeiro, de Mário Braga ou O Dia Cinzento, de Mário Dionísio, entre outros.
Com uma obra literária que se desenvolve ao longo de cinco décadas é de salientar a sua precoce vocação artística, de feição naturalista e poética, tal como a importância do período de formação em Coimbra, mais as suas tertúlias e movimentos estudantis. Ao dar-se o amadurecimento estético do neo-realismo e coincidente com as vivências dos anos 50, enveredaria por novos caminhos, através de uma interpretação pessoal da narrativa, que o levaria a situar-se entre a ficção e a análise social. Os muitos textos que escreveu, nos diferentes momentos ou fases da vida literária, apresentam retratos com aspetos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo. Independentemente do enquadramento, Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, inseparável de uma grande sensibilidade e linguagem poética. Escreveu, para além de obras de poesia e romances, contos, memórias e impressões de viagem, com destaque para os cadernos de um escritor, que proporcionam um diálogo vivo com o leitor, a abertura a outras culturas, terras e gentes, a visão de um mundo em transformação, de uma realidade emergente, expressa em Estamos no Vento (Fevereiro de 1974).
Entre os muitos títulos que publica em prosa contam-se Fogo na Noite Escura (1943), Casa da Malta (1945), As Minas de S. Francisco (1946), (capítulo inédito publicado no nº 16 da revista Mundo literário existente entre 1946 e 1948), Retalhos da Vida de um Médico (1949 e 1963), A Noite e a Madrugada (1950), O Trigo e o Joio (1954), O Homem Disfarçado (1957), Cidade Solitária (1959), Domingo à Tarde (1961, Prémio José Lins do Rego), Os Clandestinos (1972), Resposta a Matilde (1980) e O Rio Triste (1982, Prémio Fernando Chinaglia, Prémio Fialho de Almeida e Prémio D. Dinis). Ou, as biografias romanceadas de Deuses e Demónios da Medicina (1952). Além dos títulos já referidos, publicou em poesia Mar de Sargaços (1940), Marketing (1969) e Nome para uma Casa (1984) . Toda a sua produção poética seminal foi reunida numa antologia(1959) denominada As Frias Madrugadas. Escreveu ainda sobre o mundo e a sociedade em geral, na forma de narrativas romanceadas ou de anotações de viagem e reflexões críticas, sendo disso exemplo Diálogo em Setembro (1966), Um Sino na Montanha (1968), Os Adoradores do Sol (1971), Estamos no Vento (1974), A Nave de Pedra (1975), Cavalgada Cinzenta (1977), URSS, Mal Amada, Bem Amada e Sentados na Relva, ambos de (1986). Porém, foram romances como os Retalhos da Vida de um Médico, O Trigo e o Joio, Domingo à Tarde, O Homem Disfarçado ou O Rio Triste, que vieram a ser traduzidos em diversas línguas, tendo inclusive, em 1981, sido proposto para o Prémio Nobel da Literatura, pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo PEN Clube.
    

 

A Mais Bela Noite do Mundo 
  
  
Hoje,
será o fim!
 
Hoje
nem este falso silêncio
dos meus gestos malogrados
debruçando-se
sobre os meus ombros nus
e esmagados!
  
Nem o luar, pano baço de cenário velho,
escutando
a minha prisão de viver
a lição que me ditavam:
- Menino! acende uma vela na tua vida,
que o sol, a luz e o ar
são perfumes de pecado.
Tem braços longos e tentadores – o dia!
  
- Menino! recolhe-te na sombra do meu regaço
que teus pés
são feitos de barro e cansaço!
  
(Era esta a voz do papão
pintado de belo
na máscara de papelão).
  
Eram inúteis e magoadas as noites da minha rua...
Noites de lua
que lembravam as grilhetas
da minha vida parada.
  
- Amanhã,
terás os mestres, as aulas, os amigos e os livros
e o espectáculo da morgue
morando durante dias
nos teus sentidos gorados.
  
Amanhã,
será o ultrapassar outra curva
no teu caminho destinado.
  
(Era esta a voz do papão
que acendia a vela, tinha regaço de sombra
e velava
as noites da minha rua e a minha vida
e pintava-se de belo
na máscara de papelão).
  
Hoje,
será o fim!
  
Hoje,
nem a sombra do que há-de vir,
nem os mestres, nem os amigos, nem os livros,
nem a fragilidade dos meus pés
feitos de barro e cansaço!
Todas as minhas revoltas domadas,
todos os meus gestos em meio
e as minhas palavras sufocadas
terão a sua hora de viver e amar!
  
Hoje,
nem o cadáver a sorrir na morgue,
nem as mãos que ficaram angustiosas,
arrepiadas
no seu medo de findar!
  
Hoje,
será a mais bela noite do mundo!

  
 
 
in Mar de Sargaços (1940) - Fernando Namora

domingo, janeiro 28, 2024

Hoje é dia de recordar o ultra-romantismo...

 

 

Cântico da Noite

Sumiu-se o sol esplêndido
Nas vagas rumorosas!
Em trevas o crepúsculo
Foi desfolhando as rosas!
Pela ampla terra alargar-se
Calada solidão!
Parece o mundo um túmulo
Sob estrelado manto!
Alabastrina lâmpada,
Lá sobe a lua! Entanto
Gemidos d’aves lúgubres
Soando a espaços vão!
Hora dos melancólicos,
Saudosos devaneios!
Hora que aos gostos íntimos
Abres os castos seios!
Infunde em nossos ânimos
Inspiração da fé!
De noite, se um revérbero
De Deus nos alumia,
Destila-se de lágrimas
A prece, a profecia!
A alma elevada em êxtase
Terrena já não é!
Antes que o sono tácito
Olhos nos cerre, e os sonhos
Nos tomem no seu vórtice,
Já rindo, e já medonhos,
Hora dos céus, conserva-me
No extinto e no porvir.
Onde os que amei? sumiram-se.
Onde o que eu fui? deixou-me.
Deles, só vãs memórias;
De mim, só resta um nome:
No abismo do pretérito
Desfez-se choro e rui
Desfez-se! e quantas lágrimas
Brotaram de alegrias! Desfez-se!
e quantos júbilos
Nasceram de agonias!
Teu curso, ó Providência,
Quem no previu jamais?
Que horas dest’hora tácita
Me irão desabrochando?
Quantos nos fêz cadáveres
Num leito o sono brando!
Vir-me-ão co’a aurora próxima
As saudações, os ais?
Se o penso, tremo, aterro-me;
Porém, se ao Pai Supremo
Remonto o meu espírito,
Exulto; já não tremo,
A alma lhe dou; reclino-me
No sono sem pavor. Chama-me?
Ascendo à pátria; Poupa-me?
Aspiro a ela.
Servir-te! ou ver-te e amarmo-nos!
Que sorte, ó Deus, tão bela!
Vem, cerra as minhas pálpebras,
Virgem do casto amor!

 


António Feliciano de Castilho

António Feliciano de Castilho nasceu há 224 anos

  
António Feliciano de Castilho, 1.º visconde de Castilho, (Lisboa, 28 de janeiro de 1800 - Lisboa, 18 de junho de 1875) foi um escritor romântico português, polemista e pedagogo, inventor do Método Castilho de leitura. Em consequência de sarampo perdeu a visão quase completamente aos 6 anos de idade. Licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Viveu alguns anos em Ponta Delgada, Açores, onde exerceu uma grande influência entre a intelectualidade local. Contra ele se rebelou Antero de Quental (entre outros jovens estudantes coimbrões) na célebre polémica do Bom-Senso e Bom-Gosto, vulgarmente chamada de Questão Coimbrã, que opôs os jovens representantes do realismo e do naturalismo aos vetustos defensores do ultra-romantismo.
   
     
 
OS TREZE ANOS
(Cantilena)


Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro:
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já bailo ao Domingo
com as mais no terreiro.

Já não sou Anita,
como era primeiro;
sou a Senhora Ana,
que mora no outeiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.

Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda,
de cima do outeiro.

E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co’as patas
Ao pé do salgueiro.

Miro-me nas águas,
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.

Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
já por derradeiro
me vejo mui outra
da que era primeiro.

O meu gibão largo,
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,

dizendo-lhe: «Toma
gibão, domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.

A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co’as outras
e eu danço em terreiro».

Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro.

Já não sou Anita,
sou a Ana do outeiro;
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras
e olhar sobranceiro.

O mineiro é velho,
não quero o mineiro:
Mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.

Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro.

Que em ele assomando
co’o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro.

Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se ainda é solteiro.

E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
Ai, céu verdadeiro!
Ai, Páscoa florida,
que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
Casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.

 

António Feliciano de Castilho

segunda-feira, janeiro 22, 2024

O matemático e historiador Luís de Albuquerque morreu há trinta e dois anos...


(imagem daqui)
      
Luís Guilherme Mendonça de Albuquerque, igualmente conhecido como Luís de Albuquerque (Lisboa, 6 de março de 1917 - Lisboa, 22 de janeiro de 1992) foi um professor universitário de matemática e de engenharia geográfica, e um historiador dos descobrimentos portugueses.
    
Nascimento e formação
   
Carreira profissional
Iniciou a sua carreira como docente na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, em 1941, onde também foi um especialista em história da educação; nesta mesma instituição ascendeu, por concurso público, a professor catedrático, em 9 de julho de 1966.
Foi aclamado como um dos principais vultos da historiografia do século XX no estudo dos Descobrimentos Portugueses, tendo escrito para jovens e crianças, e analisado a história da náutica e da marinha. Exerceu, igualmente, a posição de presidente da Comissão Científica da Comissão dos Descobrimentos Portugueses. Na sequência da Revolução de 25 de Abril, foi nomeado governador civil do distrito de Coimbra, cargo que ocupou entre 1974 e 1976.
Entre 1978 e a sua jubilação, em 1987, foi diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Em 1983 colaborou na organização da XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura, e, em 25 de novembro de 1984, apresentou a comunicação Gil Eanes, e o Cabo Bojador, na Academia da Marinha. Faleceu na cidade de Lisboa, em 1992.
    

domingo, janeiro 21, 2024

Hoje é dia de ouvir fado de Coimbra...

Saudades de Barros Madeira...

 

Fado da Ansiedade - João Barros Madeira

 

O mundo dá tanta volta
Quem dera que fora assim
E se numa dessas voltas
Tu viesses para mim

Depois de Deus só é grande
O teu amor para mim
Não é Deus por ter princípio
Quase Deus por não ter fim

 

Barros Madeira morreu há três anos...

  

Chega-nos a notícia do falecimento do Dr. JOÃO BARROS MADEIRA (Loulé, 03.08.1934 - 21.01.2021), filho de David Mendes Madeira e de Joana d'Aragão Barros, associado que foi do Orfeon Académico e da TAUC, dirigente associativo em Coimbra e reputado cantor-serenateiro na década de 50 e nos inícios dos anos sessenta. Deixou discos gravados com os grupos de Jorge Tuna e António Portugal.

Frequentou a FM da UC entre 1953-1962, com passagem prévia pelo Liceu João de Deus (Faro). Concluído curso, exerceu medicina no Algarve, teve militância política e dedicou-se à criação, treino e venda de pombos correios. 

Foi autor de pelo menos duas composições coimbrãs famosas e teve uma gravação censurada pela moral da época por conta de um verso onde se dizia que Nossa Senhora tivera inveja de uma moça sortuda. 

Tem uma pequena biografia em Niza (1999: I, 94), com erros na datação dos registos fonográficos.

Barros Madeira foi, no vulto e na voz, uma espécie de Luciano Pavarotti da Academia de Coimbra, tenor dotado de pontentíssimo registo que em 1962 fez um sucesso estrondoso na digressão do Orfeon Académico aos USA com o tema Fado de Santa Clara (em cuja gravação faz umas lentificações curiosas).

Deixa amigos, admiradores e muitas saudades.

Divulgação de uma fotografia tirada em 1959 junto da República Boa-Bay-Ela, onde também figura o popular "Teixeira" que vendia o Poney, https://www.facebook.com/photo/?fbid=3603026223067804&set=a.101096153260846


in Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis)



terça-feira, janeiro 16, 2024

João de Lemos morreu há 134 anos


João de Lemos Seixas Castelo Branco, (Peso da Régua, 6 de maio de 1819 - Maiorca, Figueira da Foz, 16 de janeiro de 1890), foi um jornalista, poeta e dramaturgo português.

O «trovador» João de Lemos, como era conhecido desde o tempo de Coimbra, onde se formou em direito, pela publicação do jornal poético O Trovador, interessantíssimo repositório das produções poéticas dum grupo de moços estudantes. Além dele, alma e diretor dessa publicação, faziam parte do Trovador Luís da Costa Pereira, António Xavier Rodrigues Cordeiro, Luís Augusto Palmeirim, José Freire de Serpa, Augusto Lima e Couto Monteiro.

Ultra romântico e intrépido miguelista, adepto furibundo do ancien-regime e da monarquia absoluta que sempre ansiou, com todo o ardor que ressuscitasse, nasceu muito prosaicamente no Peso da Régua, em 1819, às vésperas, portanto, da Revolução de 1820. Mas toda a sua vida dedicou-a ele ao seu ideal político, tendo usufruído de grande prestígio dentro da corte dos talassas da época.

Colaborou em diversas outras publicações periódicas, de que são exemplo o jornal humorístico A Comédia Portuguesa começado a publicar em 1888, a Revista Universal Lisbonense (1841-1859) e a Revista Contemporânea de Portugal e Brasil (1859-1865).

 

in Wikipédia

  

A lua de Londres

É noite. O astro saudoso
Rompe a custo um plúmbeo céu,
Tolda-lhe o rosto formoso
Alvacento, húmido véu,
Traz perdida a cor de prata,
Nas águas não se retrata,
Não beija no campo a flor,
Não traz cortejo de estrelas,
Não fala de amor às belas,
Não fala aos homens de amor.

Meiga Lua! Os teus segredos
Onde os deixaste ficar?
Deixaste-os nos arvoredos
Das praias de além do mar?
Foi na terra tua amada,
Nessa terra tão banhada
Por teu límpido clarão?
Foi na terra dos verdores,
Na pátria dos meus amores,
Pátria do meu coração!

Oh! que foi!... Deixaste o brilho
Nos montes de Portugal,
Lá onde nasce o tomilho,
Onde há fontes de cristal;
Lá onde viceja a rosa,
Onde a leve mariposa
Se espaneja à luz do sol;
Lá onde Deus concedera
Que em noite de Primavera
Se escutasse o rouxinol.

Tu vens, ó Lua, tu deixas
Talvez há pouco o país
Onde do bosque as madeixas
Já têm um flóreo matiz;
Amaste do ar a doçura,
Do azul e formosura,
Das águas o suspirar.
Como hás-de agora entre gelos
Dardejar teus raios belos,
Fumo e névoa aqui amar?

Quem viu as margens do Lima,
Do Mondego os salgueirais;
Quem andou por Tejo acima,
Por cima dos seus cristais;
Quem foi ao meu pátrio Douro
Sobre fina areia de ouro
Raios de prata esparzir
Não pode amar outra terra
Nem sob o céu de Inglaterra
Doces sorrisos sorrir.

Das cidades a princesa
Tens aqui; mas Deus igual
Não quis dar-lhe essa lindeza
Do teu e meu Portugal.
Aqui, a indústria e as artes;
Além, de todas as partes,
A natureza sem véu;
Aqui, ouro e pedrarias,
Ruas mil, mil arcarias;
Além... a terra e o céu!

Vastas serras de tijolo,
Estátuas, praças sem fim
Retalham, cobrem o solo,
Mas não me encantam a mim.
Na minha pátria, uma aldeia,
Por noites de lua cheia,
É tão bela e tão feliz!...
Amo as casinhas da serra
Co'a Lua da minha terra,
Nas terras do meu país.

Eu e tu, casta deidade,
Padecemos igual dor;
Temos a mesma saudade,
Sentimos o mesmo amor.
Em Portugal, o teu rosto
De riso e luz é composto;
Aqui, triste e sem clarão.
Eu, lá, sinto-me contente;
Aqui, lembrança pungente
Faz-me negro o coração.

Eia, pois, ó astro amigo,
Voltemos aos puros céus.
Leva-me, ó Lua, contigo,
Preso num raio dos teus.
Voltemos ambos, voltemos,
Que nem eu nem tu podemos
Aqui ser quais Deus nos fez,
Terás brilho, eu terei vida,
Eu já livre e tu despida
Das nuvens do céu inglês.

  
  
João de Lemos