LinguísticaHumboldt
dedicou-se aos estudos linguísticos nos últimos quinze anos ativos de
sua vida. Sua morte, em 1835, ceifou sua carreira de pesquisador.
Entretanto, suas correspondências substanciaram a análise de sua obra
por várias outras gerações.
Segundo von Humboldt, existe profunda interdependência entre
palavra e pensamento. Deste modo, a língua seria um meio genuíno de
encontrar uma verdade previamente desconhecida em pensamento. Assim,
tem-se o objeto de estudo dos fundamentos e todas as investigações
acerca da linguagem do século XIX até a modernidade.
Durante os quinze anos em que Humboldt ficou em Tegel, ocupou-se
em estudar Linguística. Utilizou, para isso, seu amplo acervo recolhido
em suas viagens, além de captar materiais de estudo de suas
correspondências – dadas, em maioria, por missionários da Igreja e
padres em colónias ao redor do mundo, bem como os relatos de viagem de
seu irmão, Alexander.
Wilhelm percebeu que, de forma concomitante aos seus estudos, ele
impulsionara uma nova ciência da linguagem, cujas características se
assemelhavam a uma visão espiritualista da linguagem, correlacionando
uma abordagem humanista à língua. Seus estudos partiam pela seguinte
aceção: o mundo, o homem e a língua triangulados, interligados entre si
– eis o pensamento holístico humboldtiano. Também foi ele que estudou
de forma mais profunda a relação entre todas as línguas e sua influência
com a formação da humanidade.
Além das línguas aprendidas na juventude, Wilhelm aprendeu também
o inglês, o espanhol, o basco, o húngaro, o checo, o lituano, e o sânscrito,
língua que possibilitou sua maior perceção na visão holística, ligando
filosofia à linguagem. Os seus estudos se estenderam às línguas indígenas
da América, ao copta, ao egípcio antigo, ao chinês e ao japonês. A origem de
seu interesse linguístico explica-se por seus estudos anteriores ao
Direito, na área de Filosofia, onde a corrente antropológica o
interessou, de modo a corroborar para sua visão holística já
explicitada. Para ele, a linguagem era a chave de tudo. Em suas
palavras, a articulação dos elementos da língua representam sua real
essência. Em uma publicação sobre o caráter nacional das línguas,
diz-se, entre outras coisas, que:
"Ao se considerar a língua em sua função de substantivadora,
ela cria sua marca no pensamento. Sendo assim, o espírito é mobilizado,
criando, para tanto, muitas novas essências para as coisas. Alguns
países estão mais satisfeitos com a imagem de mundo que suas línguas
representam o que faz com que olhem com mais harmonia, luz e coerência
para suas linguagens nacionais. Outras nações, entretanto, são mais
resistentes ao aos conceitos incorporados deste pensamento –
desacreditando na real importância do conceito, negligenciando essa
ideia como um todo (…).".
Para as pessoas se entenderem completamente, é necessário uma
língua em comum; isso é, segundo Humboldt, o impulso e a via do
progresso científico:
Porque o processo de compreensão não pode ser compartilhado – ele
depende de uma interpretação individual. A união de compreensões,
entretanto, é como uma onda reverberando numa superfície lisa. Por mais
que as interferências sejam construtivas, elas divergem em algum ponto.
Assim, torna-se possível o progresso intelectual da humanidade, já que
cada expansão de pensamento alcançada pode ser transmitida aos outros,
por meio de uma língua comum, em processos de apropriação e suas
respetivas extensões de pensamento. A humanidade quer eliminar todas as
suas fronteiras causadas pelos preconceitos étnicos, raciais,
religiosos. Em vista disso, há a busca de uma comunidade fraterna comum,
que vise o desenvolvimento de suas forças interiores. Esta seria,
portanto, a última esfera a ser lapidada no desenvolvimento social. Ou
seja, o prolongamento do ser é o que pode ser compartilhado em seu meio.
Em A Short Story of Linguistics, Robert Henry Robins alega que
Wilhelm usava uma linguagem dificilmente compreendida, fator
determinante para a pouca disseminação de sua obra. Conforme o mesmo
autor, se Humboldt adequasse a sua escrita a maneiras mais simples e menos
difusas na transmissão de seu fluxo de consciência, certamente
colocar-se-ia com Saussure
nos beneméritos da linguística moderna. “Os textos de Humboldt não são
facilmente compreensíveis. Não por causa da estrutura lógica do seu
pensamento, expressa em meandros e numa dicção incomum” (Helmunt
Gipper). Tilman Borsche também discorre sobre Humboldt: “Ele não escreve
com intenções didáticas, mas o fez sim, a fim de adquirir clareza no
assunto”. E, por fim, Hans-Werner Scharf, atribui a Wilhelm a “fama
ambivalente de ser o mais difícil autor dessa disciplina questionável, a
linguística geral.” Além de sua linguagem obscura, o autor supracitado
fazia uso de períodos longos, normalmente sem pontos finais, apenas um
fluxo perene de pensamento. A exemplo, os próprios livros de Humboldt,
que não eram livros, mas escritos infindáveis em raciocínio e escrita – o
que determinou, inclusive, uma das alcunhas dele, “homem das
introduções”. Oposto à prolificidade de seu texto, a genialidade de sua
consciência é inegável.
Ainda em Humboldt, tem-se que a fala serve, ainda para o
desenvolvimento de pensamentos – isoladamente ou não. Além da função da
fala como instrumento de relações interpessoais, o autor define que a
língua de uma determinada sociedade diz muito sobre a constituição
social da mesma.
Num campo mais pragmático, Humboldt arrisca-se a dizer que para
se investigar completamente as línguas em seu organismo, é necessário se
saber, primeiramente, o seu uso.
Na sua obra, menciona que a complexidade de elementos da frase dissipa a real essência da língua, pois as categorias e outros conceitos
elementares estimulam outros tecidos de pensamento, de modo a associar
outras coisas àquela que seria, a priori, a forma essencial da língua.
Quanto mais elementos forem encontrados, mais conceitos assimilados e,
por conseguinte, menor será a presença da essência da língua.
Além de influências de Goethe, também há a forte presença da
filosofia sânscrita, dada na corrente hegeliana, onde o pensamento
filosófico de Humboldt teria conseguido superar o dualismo ocidental,
visando num direcionamento mais evolucionista, menos bilateral.