quarta-feira, junho 22, 2022

O linguista alemão Wilhelm von Humboldt nasceu há 255 anos

 
Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand, Barão von Humboldt (Potsdam, Prússia, 22 de junho de 1767 - Berlim, Prússia, 8 de abril de 1835), foi um funcionário do governo, diplomata, filósofo, fundador da Universidade de Berlim (hoje, Humboldt-Universität), amigo de Goethe e especialmente de Schiller, sendo principalmente conhecido como um linguista prussiano que fez importantes contribuições para a filosofia da linguagem, à teoria e prática pedagógicas e influenciou o desenvolvimento da filologia comparativa. É particularmente reconhecido como tendo sido o pai do sistema educacional alemão, que foi usado como modelo como os Estados Unidos e Japão. Era irmão mais velho de Alexander von Humboldt (1769-1859), um dos nomes mais influentes da história da Geografia e das ciências sociais.
Humboldt é reconhecido como sendo o primeiro linguista europeu a identificar a linguagem humana como um sistema governado por regras, e não simplesmente uma coleção de palavras e frases acompanhadas de significados. Essa ideia é uma das bases da teoria da linguagem de Noam Chomsky (gramática transformacional). Chomsky frequentemente cita a descrição de Humboldt da linguagem como um sistema que "faz infinitos usos de meios finitos", significando que um número infinito de frases pode ser criado usando um número finito de palavras.

 
 
Universidade

Humboldt é um dos pioneiros nas reflexões sobre a Universidade com o texto Sobre a Organização Interna e Externa das Instituições Científicas Superiores em Berlim. Sua argumentação parte do pressuposto de que às Instituições Científicas cabe a responsabilidade pelo "enriquecimento da cultura moral da Nação." Afirma ainda que a organização interna destas instituições é caracterizada "pela combinação de ciência objetiva e formação subjetiva." A organização externa teria uma finalidade pragmática, ao preparar para a saída da escola e o ingresso na Universidade. Apresenta também uma conceção de ciência pura, que assim deve permanecer para não ser deturpada pelas demandas sociais.

 
Linguística

Humboldt dedicou-se aos estudos linguísticos nos últimos quinze anos ativos de sua vida. Sua morte, em 1835, ceifou sua carreira de pesquisador. Entretanto, suas correspondências substanciaram a análise de sua obra por várias outras gerações.

Segundo von Humboldt, existe profunda interdependência entre palavra e pensamento. Deste modo, a língua seria um meio genuíno de encontrar uma verdade previamente desconhecida em pensamento. Assim, tem-se o objeto de estudo dos fundamentos e todas as investigações acerca da linguagem do século XIX até a modernidade.

Durante os quinze anos em que Humboldt ficou em Tegel, ocupou-se em estudar Linguística. Utilizou, para isso, seu amplo acervo recolhido em suas viagens, além de captar materiais de estudo de suas correspondências – dadas, em maioria, por missionários da Igreja e padres em colónias ao redor do mundo, bem como os relatos de viagem de seu irmão, Alexander.

Wilhelm percebeu que, de forma concomitante aos seus estudos, ele impulsionara uma nova ciência da linguagem, cujas características se assemelhavam a uma visão espiritualista da linguagem, correlacionando uma abordagem humanista à língua. Seus estudos partiam pela seguinte aceção: o mundo, o homem e a língua triangulados, interligados entre si – eis o pensamento holístico humboldtiano. Também foi ele que estudou de forma mais profunda a relação entre todas as línguas e sua influência com a formação da humanidade.

Além das línguas aprendidas na juventude, Wilhelm aprendeu também o inglês, o espanhol, o basco, o húngaro, o checo, o lituano, e o sânscrito, língua que possibilitou sua maior perceção na visão holística, ligando filosofia à linguagem. Os seus estudos se estenderam às línguas indígenas da América, ao copta, ao egípcio antigo, ao chinês e ao japonês. A origem de seu interesse linguístico explica-se por seus estudos anteriores ao Direito, na área de Filosofia, onde a corrente antropológica o interessou, de modo a corroborar para sua visão holística já explicitada. Para ele, a linguagem era a chave de tudo. Em suas palavras, a articulação dos elementos da língua representam sua real essência. Em uma publicação sobre o caráter nacional das línguas, diz-se, entre outras coisas, que:

"Ao se considerar a língua em sua função de substantivadora, ela cria sua marca no pensamento. Sendo assim, o espírito é mobilizado, criando, para tanto, muitas novas essências para as coisas. Alguns países estão mais satisfeitos com a imagem de mundo que suas línguas representam o que faz com que olhem com mais harmonia, luz e coerência para suas linguagens nacionais. Outras nações, entretanto, são mais resistentes ao aos conceitos incorporados deste pensamento – desacreditando na real importância do conceito, negligenciando essa ideia como um todo (…).".

Para as pessoas se entenderem completamente, é necessário uma língua em comum; isso é, segundo Humboldt, o impulso e a via do progresso científico:

Porque o processo de compreensão não pode ser compartilhado – ele depende de uma interpretação individual. A união de compreensões, entretanto, é como uma onda reverberando numa superfície lisa. Por mais que as interferências sejam construtivas, elas divergem em algum ponto. Assim, torna-se possível o progresso intelectual da humanidade, já que cada expansão de pensamento alcançada pode ser transmitida aos outros, por meio de uma língua comum, em processos de apropriação e suas respetivas extensões de pensamento. A humanidade quer eliminar todas as suas fronteiras causadas pelos preconceitos étnicos, raciais, religiosos. Em vista disso, há a busca de uma comunidade fraterna comum, que vise o desenvolvimento de suas forças interiores. Esta seria, portanto, a última esfera a ser lapidada no desenvolvimento social. Ou seja, o prolongamento do ser é o que pode ser compartilhado em seu meio.

Em A Short Story of Linguistics, Robert Henry Robins alega que Wilhelm usava uma linguagem dificilmente compreendida, fator determinante para a pouca disseminação de sua obra. Conforme o mesmo autor, se Humboldt adequasse a sua escrita a maneiras mais simples e menos difusas na transmissão de seu fluxo de consciência, certamente colocar-se-ia com Saussure nos beneméritos da linguística moderna. “Os textos de Humboldt não são facilmente compreensíveis. Não por causa da estrutura lógica do seu pensamento, expressa em meandros e numa dicção incomum” (Helmunt Gipper). Tilman Borsche também discorre sobre Humboldt: “Ele não escreve com intenções didáticas, mas o fez sim, a fim de adquirir clareza no assunto”. E, por fim, Hans-Werner Scharf, atribui a Wilhelm a “fama ambivalente de ser o mais difícil autor dessa disciplina questionável, a linguística geral.” Além de sua linguagem obscura, o autor supracitado fazia uso de períodos longos, normalmente sem pontos finais, apenas um fluxo perene de pensamento. A exemplo, os próprios livros de Humboldt, que não eram livros, mas escritos infindáveis em raciocínio e escrita – o que determinou, inclusive, uma das alcunhas dele, “homem das introduções”. Oposto à prolificidade de seu texto, a genialidade de sua consciência é inegável.

Ainda em Humboldt, tem-se que a fala serve, ainda para o desenvolvimento de pensamentos – isoladamente ou não. Além da função da fala como instrumento de relações interpessoais, o autor define que a língua de uma determinada sociedade diz muito sobre a constituição social da mesma.

Num campo mais pragmático, Humboldt arrisca-se a dizer que para se investigar completamente as línguas em seu organismo, é necessário se saber, primeiramente, o seu uso.

Na sua obra, menciona que a complexidade de elementos da frase dissipa a real essência da língua, pois as categorias e outros conceitos elementares estimulam outros tecidos de pensamento, de modo a associar outras coisas àquela que seria, a priori, a forma essencial da língua. Quanto mais elementos forem encontrados, mais conceitos assimilados e, por conseguinte, menor será a presença da essência da língua.

Além de influências de Goethe, também há a forte presença da filosofia sânscrita, dada na corrente hegeliana, onde o pensamento filosófico de Humboldt teria conseguido superar o dualismo ocidental, visando num direcionamento mais evolucionista, menos bilateral.


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