segunda-feira, setembro 30, 2013

James Dean morreu há 58 anos

James Byron Dean (Marion, Indiana, 8 de fevereiro de 1931 - Cholame, Califórnia, 30 de setembro de 1955) foi um ator norte americano. É considerado um ícone cultural, como a melhor personificação da rebeldia e angústias próprias da juventude da década de 1950.

James Byron Dean era filho único e o seu nome foi uma homenagem da mãe ao poeta inglês Lord Byron. Filho de Wilton Dean, um protético, e de Mildred Dean, filha de agricultores metodistas, aos 8 anos ele já tocava violino e tinha aulas de sapateado. Em 1940 perdeu a mãe, vítima de cancro. Com a morte da mãe, foi morar com os tios Marcus e Ortence Winslow, em Fairmount. Considerado uma criança introspectiva, Jimmy, como era chamado, cresceu na fazenda de 300 acres dos tios, ali aprendeu a dirigir um trator e até a ordenhar vacas. Aos 14 anos, já participava no teatro escolar e aos 17 anos ganhou a sua primeira moto, uma Triumph, presente do seu tio Marcus.
Em 1949, Dean foi para Los Angeles, com a intenção de estudar arte dramática e morar com o pai e a madrasta. Ele deu-lhe um Chevrolet em segunda mão. Abandonou a faculdade e foi para Nova York fazer o lendário Actor's Studio de Lee Strasberg. Para se manter em Nova York, trabalhou como empregado de bar e cobrador de autocarro. Nesta mesma época conheceu Jane Deacy, que se tornou a sua agente.
Em 1951 fez a sua estreia no cinema, num pequeno papel não creditado do filme Fixed Bayonets!. Em 1952, começou a fazer pequenas papéis na TV. Em 1953, encenou na Broadway a peça de Richard Wash "See the Jaguar". A peça foi um fracasso, mas James Dean chamou a atenção da critica. Encenou a Peça "O Imoralista", baseada na obra de André Gide, interpretando um homossexual. Com a peça ganhou o Tony Award de melhor ator do ano.
Em 1954, para fazer o filme de Elia Kazan, "A Leste do Paraíso", baseado na obra de John Steinbeck, em que interpretava um jovem solidário e amargurado, teve que assinar um contrato com uma cláusula em que se comprometia a não dirigir carros de corrida durante as filmagens.
Enquanto James Dean era uma promessa, Marlon Brando já era um astro. As comparações eram inevitáveis. James Dean conheceu Brando no set de filmagem de "Desirée", ficando decepcionado com o seu ídolo, graças a um comentário feito por Brando sobre as roupas do jovem ator. Ele usava calças de jeans e camisa.
Em 1954, conheceu a jovem estrela de O Cálice Sagrado, Pier Angeli, para muitos o grande amor da sua vida, mas a mãe de Pier foi contra o relacionamento, pelo facto de ele não ser católico. Jimmy já era conhecido por seu temperamento difícil, pelo que o rompimento do namoro abalou o ator. Ao saber que a ex-namorada estava de casamento marcado com o cantor Vic Damone, apareceu na porta da Igreja Católica de São Timóteo e conseguiu chamar a atenção dos noivos, "arrancando" com a moto em alta velocidade. Só encontraria Pier quase um ano mais tarde, nas filmagens de O gigante.
Durante as gravações de O gigante, Dean circulava com uma loura exuberante, Ursula Andress, que se tornaria a primeira Bond Girl. Ela disse que ele era "como um animal selvagem".
Fora dos sets de filmagem, era conhecido por uma agitada vida social, fumava e bebia, e possuía um enorme fascínio por carros velozes e pela velocidade em si - paixão essa que lhe custou a vida.

Morte
Quando se dirigia para uma corrida, em 30 de setembro de 1955, envolveu-se num acidente fatal, partindo imediatamente a coluna vertebral e sofrendo de hemorragias internas. Quando foi colocado na ambulância, o passageiro que estava a seu lado, o mecânico Rolf Wütherich, ouviu "um grito suave emitido por Jimmy - a lamúria de um menino chamando a sua mãe ou de um homem encarando Deus."
No dia em que morreu, James Dean ainda esgotava os cinemas com o seu primeiro filme. A consagração final chegou poucos dias após a sua morte, quando Fúria de viver chegou aos cinemas. Recebeu duas indicações ao Óscar, postumamente. Em 1956, por A leste do paraíso (a primeira indicação póstuma na história dos prémios), e em 1957, por O gigante, ambas por melhor ator. Ganhou dois Globo de Ouro, em 1956 como melhor ator e, no ano seguinte, num prémio especial que o consagrou como ator favorito do público.

Sismo Sentido no Arquipélago dos Açores - informação do IPMA

Recebido via e-mail do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA):

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera informa que no dia 30.09.2013 pelas 13.12 (hora local e UTM) foi registado nas estações da Rede Sísmica do Arquipélago dos Açores, um sismo de magnitude 1.7 (Richter) e cujo epicentro se localizou próximo de Ribeira Grande (S. Miguel). 

De acordo com a informação disponível, este sismo foi sentido, devendo em breve ser emitido novo comunicado com informação instrumental e macrossísmica actualizada. 

Se a situação o justificar serão emitidos novos comunicados. 

Sugere-se o acompanhamento da evolução da situação através da página do IPMA na Internet (www.ipma.pt) e a obtenção de eventuais recomendações junto do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (www.prociv.azores.gov.pt).

Jack, o Estripador matou a sua terceira e quarta vítimas há 125 anos

Jack, o Estripador (em inglês: Jack the Ripper) foi o pseudónimo dado a um assassino em série não-identificado que agiu no distrito de Whitechapel, em Londres, na segunda metade de 1888. O nome foi tirado de uma carta, enviada à Agência Central de Notícias de Londres por alguém que se dizia o criminoso.
As suas vítimas eram mulheres que ganhavam a vida como prostitutas. Duas delas tiveram a garganta cortada e o corpo mutilado. Teorias sugerem que, para não provocar barulho, as vítimas eram primeiro estranguladas, o que talvez explique a falta de sangue nos locais dos crimes. A remoção de órgãos internos de três vítimas levou oficiais da época a acreditarem que o assassino possuía conhecimentos anatómicos ou cirúrgicos.
Os jornais, cuja circulação crescia consideravelmente durante aquela época, deram ampla cobertura ao caso, devido à natureza selvagem dos crimes e ao fracasso da polícia em efetuar a captura do criminoso - que tornou-se notório justamente por conseguir escapar impune.
Devido ao mistério em torno do assassino nunca ter sido desvendado, as lendas envolvendo os seus crimes tornaram-se um emaranhado complexo de pesquisas históricas genuínas, teorias conspiratórias e folclore duvidoso. Diversos autores, historiadores e detetives amadores apresentaram hipóteses acerca da identidade do assassino e de suas vítimas.

Antecedentes
Em meados do século XIX, a Inglaterra experimentou um rápido influxo de imigrantes irlandeses, que incharam a população de desfavorecidos tanto no interior quanto nas principais cidades inglesas. A partir de 1882, refugiados judeus, escapando dos pogroms da Rússia czarista e do leste europeu, aumentaram ainda mais os índices de superpopulação, desemprego e falta de moradia. Londres, particularmente nas regiões do East End e Whitechapel, tornou-se cada vez mais sobrepovoada, resultando no desenvolvimento de uma imensa sub-classe económica. Esta situação de pobreza endémica levou várias mulheres à prostituição. Em outubro de 1888, a Polícia Metropolitana de Londres estimou a existência de 1.200 prostitutas de "classe muito baixa" vivendo em Whitechapel e em aproximadamente 62 bordéis. Os problemas económicos vieram acompanhados por uma elevação contínua das tensões sociais. Entre 1886 e 1889, manifestações de famintos e desempregados eram uma constante nas ruas londrinas.
Os assassinatos geralmente atribuídos a Jack o Estripador ocorreram na metade final de 1888, apesar da série de mortes brutais em Whitechapel persistirem até 1891. Parte dos assassinatos envolveram atos extremamente pavorosos, como mutilação e evisceração, narrados em detalhes pelos media. Rumores de que os crimes poderiam estar conectados intensificaram-se em setembro e outubro, quando diversos órgãos de imprensa e a Scotland Yard receberam uma série de cartas perturbadoras de um remetente ou vários, assumindo responsabilidade por todos ou alguns dos assassinatos. Uma carta em particular, recebida por George Lusk do Comité de Vigilância de Withechapel, incluía metade de um rim humano preservado. Principalmente devido à natureza excessivamente brutal dos crimes e a cobertura mediática dos eventos, o público passou a crer cada vez mais em um único assassino em série a aterrorizar os moradores de Whitechapel, apelidado de "Jack o Estripador" após a assinatura de um cartão-postal recebido pela Agência Central de Notícias. Apesar de as investigações não terem sido capazes de conectar as mortes posteriores aos assassinatos de 1888, a lenda de Jack o Estripador já havia se consolidado.

Vítimas
Os arquivos da Polícia Metropolitana mostram que a investigação teve início em 1888, eventualmente abrangendo onze assassinatos ocorridos entre 3 de abril de 1888 e 13 de fevereiro de 1891. Além destes, escritores e historiadores conectaram pelo menos sete outros assassinatos e ataques violentos a Jack o Estripador. Entre as onze mortes investigadas ativamente pela polícia, chegou-se a um consenso de que cinco foram praticadas por um único criminoso, vítimas que são, conjuntamente, chamadas de "cinco canónicas":
  • Mary Ann Nichols (nome de solteira: Mary Ann Walker; alcunha: Polly), nascida em 26 de agosto de 1845 e morta em 31 de agosto de 1888, uma sexta-feira.  (...)
  • Annie Chapman (nome de solteira: Eliza Ann Smith; alcunha: Dark Annie), nascida em setembro de 1841 e morta em 8 de setembro de 1888, um sábado. (...)
  •  Elizabeth Stride (nome de solteira: Elisabeth Gustafsdotter; apelido: Long Liz), nascida na Suécia a 27 de novembro de 1843 e morta a 30 de setembro de 1888, um domingo. O corpo de Stride foi descoberto próximo da 01.00 hora da madrugada, no chão da Dutfield's Yard, na Berner Street (hoje Henriques Street), em Whitechapel. Havia uma incisão direta no pescoço; a causa da morte foi perda excessiva de sangue, a partir da artéria principal do lado esquerdo. O corte nos tecidos do lado direito foi mais superficial, estreitando-se próximo da mandíbula direita. A ausência de mutilações no abdómen lançaram incerteza sobre a identidade do assassino, além de sugerir que ele poderia ter sido interrompido durante o ataque.
  • Catherine Eddowes (usava os nomes “Kate Conway” e “Mary Ann Kelly”, com os sobrenomes obtidos dos seus dois ex-maridos, Thomas Conway e John Kelly), nascida em 14 de abril de 1842 e morta a 30 de setembro de 1888, no mesmo dia da vítima anterior, Elizabeth Stride. O seu corpo foi encontrado na Mitre Square, na Cidade de Londres. A garganta, assim como nos dois primeiros casos, foi aberta por dois cortes, e o abdómen aberto por um corte longo, profundo e irregular. O rim esquerdo e grande parte do útero foram removidos. Os media e moradores de Londres referiram-se ao episódio como "o duplo evento" (The Double Event).

Novidades sobre paleontologia e a evolução dos vertebradoste

Este pequeno peixe viveu há 419 milhões de anos e tinha uma cara (quase) igual à nossa
Ana Gerschenfeld - 26.09.2013

Em cima, visão artística do peixe primitivo agora descoberto; em baixo, duas vistas da sua cabeça fóssil


Descoberta de fóssil muito bem conservado de peixe primitivo pode obrigar a rever a história dos vertebrados

Parece um capitel medieval, finamente esculpido na pedra no mais puro estilo naturalista. Mas é na realidade a cabeça fossilizada - e excepcionalmente bem preservada - de um peixe que viveu há 419 milhões de anos, durante o período Silúrico. Descoberto em 2010 nas rochas sedimentares marinhas da Formação Kuanti, no Sul da China, esta primitiva criatura é descrita hoje, na revista Nature, pela equipa internacional que a achou e que agora analisou as suas surpreendentes características anatómicas.
Segundo estes cientistas, trata-se do mais antigo animal com uma mandíbula moderna - ou seja, dono de uma cara muito parecida com a dos vertebrados actuais, entre os quais se incluem os seres humanos. Se assim for, esta descoberta contradiz uma ideia há muito enraizada em paleontologia: a de que o antepassado comum a todos os vertebrados modernos (que era um peixe) era fisicamente parecido com os tubarões actuais.
A equipa, liderada por Min Zhu, do Instituto de Paleontologia e de Paleoantropologia dos Vertebrados em Pequim, baptizou o novo animal Entelognathus primordialis, o que significa "mandíbula completa primordial".
O Entelognathus tinha cerca de 20 cm de comprimento (o tamanho de uma sardinha). Era um peixe da classe dos já extintos placodermos, cuja cabeça e ombros estavam cobertos por placas ósseas e que são considerados como o tipo mais primitivo de peixes com maxilares. Mas - e é aí que está a novidade -, embora à primeira vista os maxilares de Entelognathus parecessem bastante banais, afinal não eram. Tinham a estrutura dos nossos próprios maxilares, algo inédito num peixe como este. "É a primeira vez que vemos ossos [faciais] deste tipo num placodermo. Até aqui, os placodermos conhecidos tinham maxilares essencialmente feitos de cartilagem", explicou ao PÚBLICO Min Zhu num email.
Ora, se o antepassado de todos os vertebrados com maxilares era um placodermo, o seu aspecto não podia ter nada a ver com o dos tubarões, que possuem quanto a eles um esqueleto cartilaginoso e uma "couraça" de pequenas escamas a cobrir a totalidade do corpo. Resumindo, a confirmarem-se os resultados, o novo fóssil poderá vir a pôr em causa a história natural dos vertebrados tal como ela é contada há mais de cem anos.
"Esta é de facto uma descoberta surpreendente!", diz-nos Philippe Janvier, paleontólogo do Museu Nacional de História Natural de Paris. "A ideia de que o antepassado comum a todos os vertebrados com maxilares era parecido com os tubarões, com um exosqueleto formado por pequenas escamas, estava fortemente enraizada entre os especialistas de peixes desde o século XIX, sendo confortada pelo facto que todos os vertebrados conhecidos do Silúrico com maxilares eram "pequenos tubarões com espinhas", e portanto prováveis precursores dos tubarões", salienta este cientista. "Aqui, a grande novidade é a presença, no mesmo animal, de uma estrutura bastante típica dos placodermos associada a mandíbulas com um maxilar, um premaxilar, um jugal, etc., o que permite concluir que os primeiros vertebrados com maxilares possuíam uma organização corporal mais próxima dos placodermos e dos peixes com esqueleto ósseo do que dos tubarões."
Philippe Janvier disse-nos ainda que já estava a par do achado "através do seu colega Min Zhu" e que ficara "impacientemente" à espera da publicação do artigo. "Há muito tempo, eu também encontrei placas isoladas de placodermos do Silúrico, deste mesmo tipo, no Vietname (e até publiquei os resultados). Mas não conseguia imaginar o aspecto do animal inteiro. Agora, tudo se ilumina!"

in Público - ler notícia

domingo, setembro 29, 2013

Jerry Lee Lewis - 78 anos!

Jerry Lee Lewis (29 de setembro de 1935) é um cantor, compositor e pianista norte-americano de rock and roll, considerado um dos pioneiros do género. Esteve no Hall of Fame do Rock And Roll em 1986 e em 2005. Em 2004, a revista Rolling Stone colocou-o em vigésimo quarto lugar no seu ranking dos 100 melhores artistas de todos os tempos.

História
Nascido em Ferriday, Louisiana, Jerry Lee Lewis demonstrou um talento natural para o piano desde cedo. Apesar da pobreza, os seus pais conseguiram um empréstimo para comprar um piano hipotecando a própria casa, e com um ano Jerry já desenvolvera o seu próprio estilo de tocar. Assim como Elvis Presley, ele cresceu cantando música gospel nas igrejas pentecostais sulistas. Em 1950, ele entrou para o Southwestern Bible Institute, em Texas, mas foi expulso por má-conduta (como, por exemplo, por tocar versões rock and roll de cânticos da igreja).
Deixando a música religiosa para trás, ele tornou-se parte do recém-surgido movimento rock and roll, lançando a sua primeira gravação em 1954. Lewis desenvolveu um som com uma mistura de rhythm and blues, boogie-woogie, gospel e country. Dois anos depois, no estúdio da Sun Records em Memphis, Tennessee, o produtor e engenheiro-de-som Jack Clement gravou com Lewis, pelo selo, enquanto seu dono, Sam Phillips, viajava para a Flórida. Como consequência, Lewis juntou-se a Elvis Presley, Roy Orbison, Carl Perkins e Johnny Cash na lista de astros que começaram a sua carreira no Sun Studios na mesma época.
A primeira gravação de Lewis nos estúdios da Sun foi a sua distinta versão da balada country “Crazy Arms”. Em 1957, o seu piano e o puro som rock de “Whole Lotta Shakin’ Goin’ On” renderam-no fama internacional. Logo viria a música Great Balls Of Fire, o seu maior sucesso. Vendo e ouvindo Jerry Lee Lewis tocar, Elvis disse que, se conseguisse tocar piano daquele jeito, não cantava nunca mais.
As apresentações de Lewis eram dinâmicas. Ele chutava o banquinho do piano da sua frente para poder tocar de pé, deslizava e batia as suas mãos pelas teclas, subia para cima do piano, pisava as teclas e até se sentava em cima delas. Chegou a deitar fogo a um piano, jogando fluido de isqueiro dentro da cauda do mesmo, por ter de deixar Chuck Berry encerrar um show, facto que ele não aceitava. O seu estilo frenético pode ser conferido em filmes como High School Confidential e The Girl Can't Help It.
A turbulenta vida pessoal de Lewis era mantida em segredo do público até que, durante uma turnê britânica em 1958, a imprensa descobriu que a esposa do astro (então com 23 anos) era Myra Gale Brown, sua prima de segundo grau, de apenas 13 anos. A situação provocou um escândalo público e a turnê foi cancelada, depois de apenas três shows.
O escândalo seguiu Lewis para a sua casa na América e, como resultado, ele quase foi banido do cenário musical. O seu único sucesso durante a época foi uma versão de “What’d I Say”, de Ray Charles, lançada em 1961. A sua popularidade ia se reerguendo aos poucos na Europa, especialmente no Reino Unido e na Alemanha. Um álbum ao vivo desta época, ‘’Live At The Star Club, Hamburg” (1964), gravado com o The Nashville Teens, é considerado como um dos melhores discos ao vivo de rock de todos os tempos. Entretanto, a fama afastava-se dele cada vez mais nos Estados Unidos. Depois de mais de uma década tocando rock and roll, em 1968 Lewis começou a focar a sua carreira na música country, obtendo sucesso considerável. Embora continuasse a tocar e viajar em turnê, ele nunca mais conseguiria alcançar o nível de sucesso que tinha antes do escândalo de 1958 (apesar do sucesso internacional do compacto “Chantilly Lace” em 1973).
Marcado por problemas com álcool e drogas depois de se separar de Myra em 1970, as tragédias continuariam quando o seu filho Jerry Lee Lewis Jr., de 19 anos, morreu num acidente automobilístico em 1973. No começo dos anos sessenta ele já havia perdido o seu primeiro filho, Steve Allen Lewis, que se afogou numa piscina. O próprio comportamento irresponsável de Lewis no final dos anos 70 o levou a ser internado depois de quase morrer por causa de uma úlcera. Depois disso, a sua quarta esposa morreu afogada numa piscina, em circunstâncias suspeitas. Depois, pouco mais de um ano após a tragédia anterior, a sua quinta esposa seria encontrada morta de overdose de metadona. Também viciado em drogas, Jerry Lee Lewis decidiu recuperar-se na Betty Ford Clinic.
Enquanto celebrava o seu quadragésimo-primeiro aniversário em 1976, Lewis baleou acidentalmente o seu baixista Butch Owens na barriga. Pensando que a arma estava descarregada, ele apontou-a para o colega, por brincadeira, e apertou o gatilho. Owens milagrosamente sobreviveu. Poucas semanas depois, em 23 de novembro, Lewis foi preso novamente num incidente com armas, desta vez na mansão de Elvis Presley, em Graceland. Lewis fora convidado por Presley, mas os seguranças não sabiam da visita. Quando questionado por eles o que fazia na frente do portão, Lewis mostrou uma arma e disse, a brincar, que estava ali para matar Elvis.
Apesar de seus problemas pessoais, o seu talento musical nunca foi questionado. Apelidado The Killer (O Matador) pela sua voz poderosa e a sua técnica no piano, ele foi descrito pelo seu colega Roy Orbison como o melhor artista ao vivo da história da música rock. Em 1986 Jerry Lee Lewis foi incluído na primeira leva de artistas a serem homenageados no Hall da Fama do Rock and Roll.
No mesmo ano ele voltou ao Sun Studios, em Memphis, para reunir-se com Orbison, Cash e Perkins e gravar o álbum Class of '55. Mas aquela não era a primeira vez que ele se juntava a Cash e Perkins no Sun Studios. Em 4 de dezembro de 1956 Elvis Presley apareceu para visitar Phillips. Na altura Perkins estava no estúdio, gravando algumas canções, com Lewis no piano. Os três então começaram uma jam sessiom, e Phillips deixou a fita a gravar. Mais tarde elefonou a Cash e trouxe-o para juntar-se aos outros. Essas gravações, a maioria de canções gospel, sobreviveriam e seriam lançadas anos depois, num CD, sob o título de Million Dollar Quartet. Entre as faixas também estavam “Brow Eyed Handsome Man”, de Chuck Berry, “Don’t Forgive Me”, de Pat Boone e Elvis fazendo uma imitação de Jackie Wilson, que participava então do grupo Billy Ward and the Dominoes, cantando “Don’t Be Cruel”.
Em 1989 um longa metragem baseado no começo da carreira de Lewis, intitulado Great Balls of Fire!, trouxe Jerry de volta aos holofotes. O filme foi baseado em um livro escrito por sua ex-esposa Myra, e no papel principal estava Dennis Quaid, com participações de Winona Ryder e Alec Baldwin.
Lewis nunca deixou de fazer turnês, e os fãs que o viram se apresentar dizem que ele ainda consegue fazer um show único, sempre imprevisível, empolgante e pessoal. Depois de anos sem gravar nada, Lewis lançou um novo álbum, em 2006,  chamado "Last Man Standing" (último homem em pé). O álbum teve um grande sucesso no público e na crítica, sendo considerado por muitos como um dos melhores álbuns da carreira de Lewis. Em fevereiro de 2005, ele ganhou um “Prémio Pelo Conjunto da Obra” da Record Academy, que também organiza o Grammy. Na cerimónia foi anunciado que o seu novo álbum seria gravado com uma formação que incluiria Eric Clapton, B. B. King, Bruce Springsteen, Mick Jagger e Keith Richards.


Samora Machel nasceu há 80 anos

Samora Moisés Machel (Chilembene, Gaza, 29 de setembro de 1933 - Mbuzini, Montes Libombos, 19 de outubro de 1986) foi um militar moçambicano, líder revolucionário de inspiração socialista, que liderou a Guerra da Independência de Moçambique e se tornou o seu primeiro presidente após a sua independência, de 1975 a 1986.
Carinhosamente conhecido como "Pai da Nação", morreu quando o avião em que regressava ao Maputo se despenhou em território sul-africano. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o Prémio Lenine da Paz.

Início de vida
Samora Moisés Machel nasceu em 29 de setembro de 1933, em Madragoa, na zona de Gaza. Filho de um agricultor relativamente abastado, Mandande Moisés Machel, da aldeia de Madragoa (actualmente Chilembene), Samora entrou na escola primária com nove anos, quando o governo colonial português entregou a "educação indígena" à Igreja Católica. Quando terminou a escola primária, o jovem de cerca de 18 anos quis continuar a estudar, mas os padres só lhe permitiam estudar teologia e Samora decidiu ir tentar a vida em Lourenço Marques, actual Maputo. Teve a sorte de encontrar trabalho no Hospital Miguel Bombarda (o principal hospital da cidade) e, em 1952, começou o curso de enfermagem. Em 1956, foi colocado como enfermeiro na ilha da Inhaca, em frente da cidade de Maputo, onde casou com Sorita Tchaicomo, de quem teve quatro filhos: Joscelina, Edelson, Olívia e Ntewane.
Neto de um guerreiro de Gungunhana, Samora Machel foi educado como nacionalista e, como estudante, foi sempre um «rebelde» e tomou conhecimento dos importantes acontecimentos que se davam no mundo: a formação da República Popular da China com Mao Tse-Tung, em 1949, a independência do Gana com Kwame Nkrumah, em 1957, seguida da independência de vários outros países africanos. Mas foi o seu encontro com Eduardo Mondlane, de visita a Moçambique em 1961 e que nessa altura trabalhava no Departamento de Curadoria da ONU como investigador dos acontecimentos que levavam à independência dos países africanos, que, juntamente com a perseguição política de que estava a ser alvo, levou à decisão de Samora de abandonar o país em 1963 e juntar-se à FRELIMO na Tanzânia. Para lá chegar, teve a sorte de, no Botswana, encontrar Joe Slovo (que, mais tarde, foi presidente do Partido Comunista Sul-Africano) com um grupo de membros do ANC sul-africano, os quais lhe ofereceram transporte num avião que tinham fretado.

FRELIMO
Dado que, nessa altura, já a FRELIMO tinha chegado à conclusão de que não seria possível conseguir a independência de Moçambique sem uma guerra de libertação, o jovem enfermeiro Samora Machel foi integrado num grupo de recrutas para receber treino militar na Argélia. No seu regresso à Tanzânia, ascendeu imediatamente ao posto de comandante. Em novembro de 1966, na sequência do assassinato de Filipe Samuel Magaia, então Chefe do Departamento de Defesa e Segurança da Frelimo (o órgão que comandava a luta armada), Samora foi nomeado chefe do novo Departamento de Defesa, com as mesmas funções do anterior, enquanto Joaquim Chissano era nomeado chefe do Departamento de Segurança, tratando dos problemas de espionagem que minavam o movimento.
Em 1967, Samora Machel criou o Destacamento Feminino (DF) para envolver as mulheres moçambicanas na luta de libertação e, em 1969, casou-se oficialmente com Josina Muthemba, uma guerrilheira (com ensino secundário) do DF, de quem teve um filho, Samora Machel Jr.
Josina morreu de leucemia, a 7 de abril de 1973. Em sua homenagem, depois da independência de Moçambique, o antigo Liceu Salazar, na capital, passou a chamar-se «Escola Secundária Josina Machel» e o 7 de abril tornou-se feriado nacional (Dia da Mulher Moçambicana).
Em 1968, foi reaberta a «Frente de Tete», a forma como Samora respondeu a dissidências dentro do movimento, reforçando a moral dos guerrilheiros.
Em 3 de fevereiro de 1969, Eduardo Mondlane, então presidente da FRELIMO, foi assassinado com uma encomenda-bomba. O vice-presidente, Uria Simango, assumiu a presidência, mas o Comité Central, reunido em Abril, decidiu rodeá-lo de duas figuras – Machel e Marcelino dos Santos –, formando um triunvirato. Em Novembro desse ano, Simango publicou um documento dando apoio aos antigos dissidentes (que não tinham sido ainda afastados do movimento) e acusando Samora e vários outros dirigentes de conspirarem para o matar. Em Maio de 1970, noutra sessão do Comité Central, Simango foi expulso da FRELIMO e Samora Machel foi eleito Presidente, com Marcelino como Vice-Presidente. Segundo certos investigadores da actualidade, Samora Machel não foi eleito após a morte de Mondlane, mas ascendeu ao poder por circunstâncias associadas à situação que a FRELIMO então atravessava. Como corolário, a violação dos estatutos do movimento, ao não aceitar que Uria Simango fosse presidente da Frelimo após a morte de Eduardo Mondlane em 1969.
 
Preparativos para a Independência
Nos anos seguintes, até 1974, Samora conseguiu organizar a guerrilha, de forma a neutralizar a ofensiva militar portuguesa – comandada pelo General Kaúlza de Arriaga, um homem de grande visão militar, a quem foi dado um enorme exército de 70.000 homens e mais de 15.000 toneladas de bombas –, e a organizar aquelas a que a FRELIMO chamava «zonas libertadas». Na verdade, a FRELIMO chamava «libertadas» a quaisquer zonas de algum modo afetadas por ações bélicas e que abrangiam cerca de 30% do território. Como as ações bélicas eram essencialmente potenciais ou muito ligeiras na maioria dos casos, estando o verdadeiro foco da guerra confinado a bolsas bem restritas das províncias (então «distritos») de Cabo Delgado, Niassa e Tete, as «zonas libertadas» – ou melhor, as zonas sob o efetivo controlo da FRELIMO – não tinham a dimensão que esta reivindicava.
Samora dirigiu também uma ofensiva diplomática em que granjeou apoios, não só dos aliados socialistas, mas inclusive do Vaticano, um aliado tradicional de Portugal (o Papa era então Paulo VI).
A seguir ao golpe-de-estado militar de 25 de abril de 1974 («Revolução dos Cravos»), em Portugal, que tivera como causa imediata a incapacidade de resolver a questão colonial pelas armas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Mário Soares, encabeçou uma delegação a Lusaca, em que propôs à FRELIMO o cessar-fogo e um referendo para decidir se os moçambicanos (certamente incluindo os habitantes de origem portuguesa) queriam a independência, conforme pretendia o General António de Spínola, primeiro Presidente da República Portuguesa depois do 25 de abril. Samora recusou, afirmando que «a paz é inseparável da independência», e expandiu as operações militares, contando com a desmotivação dos militares portugueses, aos quais o 25 de abril prometera o fim da guerra. Em julho, aproveitando a inação em que as forças armadas portuguesas tinham caído, cercou um destacamento, que se rendeu, no posto de Omar, junto à fronteira da Tanzânia. Entretanto, a ala mais radical do Movimento das Forças Armadas (MFA), que fizera o golpe de 25 de abril de 1974 em Portugal, chamou a si as negociações com os movimentos autonomistas das colónias. Com a mudança de atitude de Lisboa, acabou por ser assinado, em 7 de setembro de 1974, o Acordo de Lusaca, entre o governo provisório português (cuja delegação era então dirigida por Melo Antunes, Ministro sem Pasta) e a FRELIMO. Nos termos deste acordo, formar-se-ia no mesmo mês um governo de transição, com elementos nomeados por Portugal e pela FRELIMO, e a independência teria lugar a 25 de junho de 1975.
A FRELIMO decidiu que o primeiro-ministro do governo de transição não devia ser Samora, mas Chissano, ainda chefe do Departamento de Segurança. Entretanto, Samora fez várias viagens aos países socialistas e a países vizinhos de Moçambique, para agradecer o seu apoio durante a luta armada e solicitar apoio para a construção do Moçambique independente. Durante uma sessão do Comité Central, realizada na praia do Tofo (Inhambane) e dirigida por Samora, foi aprovada a Constituição da República Popular de Moçambique e decidido que Samora Machel seria o Presidente da República.

Consolidação do poder
Ainda antes da independência, sob a vigência do governo de transição partilhado com Portugal, a FRELIMO cilindrou toda a oposição. Os antigos militantes Lázaro Nkavandame, Uria Simango, Paulo Unhai, Kambeu e Padre Mateus Gwengere foram detidos, a pretexto de se terem aliado a elementos da comunidade branca no levantamento de 7 de setembro de 1974 contra a entrega do poder à FRELIMO (Mateus Gwengere foi raptado no Quénia, onde se encontrava exilado, e trazido secretamente para Moçambique). A mesma onda apanhou Joana Simeão que, apesar de nunca ter pertencido à FRELIMO, criara um partido (GUMO – Grupo Unido de Moçambique) alegadamente de tendências pró-ocidentais, propondo um modelo baseado no pluralismo e no mercado livre (ironicamente, a FRELIMO viria a adotar esse modelo anos mais tarde, quando acabou por renunciar ao marxismo). Classificados como «traidores» e «inimigos», foram sujeitos a um julgamento sumário presidido pelo próprio Machel nos moldes ditos «revolucionários» e «populares».
Segundo revelam os jornalistas José Pinto de Sá e Nélson Saúte ,no diário português «Público», Joana Simeão, o reverendo Uria Simango, Lázaro Nkavandame, Raul Casal Ribeiro, Arcanjo Kambeu, Júlio Nihia, Paulo Gumane e o padre Mateus Gwengere encontravam-se internados no «campo de reeducação» de M’telela, no Niassa (noroeste de Moçambique), quando, a 25 de junho de 1977 (segundo aniversário da independência de Moçambique), lhes foi comunicado que iriam ser transportados para a capital, Maputo, onde o presidente Samora Machel discutiria a sua libertação. Seguiam numa coluna de jipes que, a dada altura, parou. À beira da picada, os soldados tinham aberto com uma escavadora mecânica uma grande vala e tinham-na enchido parcialmente de lenha. Amarraram os prisioneiros, atiraram-nos para dentro da vala e regaram-nos com gasolina, ateando-lhes fogo. Os prisioneiros políticos da Frelimo foram queimados vivos, enquanto os soldados entoavam hinos revolucionários em redor da vala. Só dezoito anos mais tarde, em 1995, vieram a lume os macabros pormenores do massacre, perante o silêncio da Frelimo, cujos sucessivos governos se tinham até então sistematicamente negado a fornecer informações sobre o paradeiro daqueles elementos do chamado «grupo dos reacionários».
Um outro dissidente da FRELIMO, Miguel Murupa, conseguiu refugiar-se em Portugal, tal como Máximo Dias (n.º 2 do GUMO) e dois antigos contestatários do regime colonial, Domingos Arouca e Pereira Leite. O advogado Willem Gerard Pott, com atividade considerada progressista durante a época colonial, caiu em desgraça por não demonstrar fidelidade incondicional à FRELIMO, acabando por morrer na prisão em consequência de tratamentos aviltantes (como, por exemplo, ser obrigado a correr semi-nu na via pública).

A mudança de política de Machel em relação aos Portugueses
É quase consensualmente admitido que uma das principais razões do colapso da economia moçambicana após a independência foi a partida precipitada da maioria dos cerca de 200.000 portugueses residentes no país nas vésperas do 25 de abril de 1974, e que esse êxodo terá sido provocado por uma mudança brusca de atitude por parte de Samora Machel.
Com efeito, o governo de transição que iria dirigir o país entre o acordo de cessar-fogo (assinado a 7 de setembro de 1974 em Lusaca) e a independência (prevista para 25 de junho do ano seguinte) tinha-se mostrado bastante conciliador. O primeiro-ministro, Joaquim Chissano (que se tornaria presidente da República depois da morte de Machel, doze anos mais tarde), conseguiu convencer a maior parte dos brancos de que somente os que tivessem graves responsabilidades nas páginas mais sombrias da época colonial poderiam recear o governo da Frelimo.
Um mês antes da independência, ou seja, em meados de maio de 1975, Samora Machel entrou em Moçambique pela fronteira norte, vindo da Tanzânia, e encetou um périplo com destino à capital, situada no extremo sul, aonde deveria chegar na véspera da independência. Ao longo dessa viagem, inflamava literalmente as massas com os seus discursos, nos quais não cessava de repisar os aspectos mais odiosos e humilhantes do colonialismo na perspectiva dos colonizados. O mal-estar instalou-se progressivamente entre a comunidade portuguesa, numerosos membros da qual decidiram ir refazer a vida noutras paragens.
Têm sido propostas diversas explicações para esta mudança de atitude. No seu livro Quase Memórias, o Dr. António de Almeida Santos, célebre advogado de Lourenço Marques que, após a queda do regime de Marcello Caetano, foi Ministro da Coordenação Interterritorial e que conheceu Machel de perto, sustenta que o presidente da Frelimo teria sido muito afectado por dois episódios de violência, o primeiro dos quais causado por um levantamento na capital, com tomada das instalações do Rádio Clube de Moçambique, na sequência da assinatura do Acordo de Lusaca de 7 de setembro de 1974 entre o governo provisório português e a FRELIMO, prevendo a concessão do poder, sem partilha, ao movimento nacionalista: este levantamento foi dirigido pela FICO (Frente Integracionista de Continuidade Ocidental), um movimento maioritariamente branco ao qual se tinham aliado dissidentes da FRELIMO e outros membros da comunidade negra que não viam com bons olhos a instauração de um regime de partido único em nome da FRELIMO. Como represália, eclodiram então motins sangrentos nos bairros negros da cidade e, durante vários dias, milhares de habitantes, sobretudo portugueses, foram barbaramente massacrados por apoiantes da FRELIMO. O segundo episódio de violência ocorreu poucas semanas mais tarde, a 21 de outubro de 1974, na sequência de uma querela entre comandos portugueses e guerrilheiros da FRELIMO, provocando também motins sangrentos nos bairros de maioria negra, com o assassinato de dezenas de brancos e negros. Segundo Almeida Santos, Machel ter-se-ia possivelmente convencido de que a presença de uma numerosa comunidade portuguesa em Moçambique constituiria sempre uma fonte de instabilidade e uma ameaça potencial contra o poder da FRELIMO. A isso ter-se-iam juntado as pressões da União Soviética, para com quem a FRELIMO tinha contraído uma pesada dívida, sobretudo política, e que teria interesse em se desembaraçar dos Portugueses a fim de melhor exercer a sua influência a todos os níveis.

Presidente
No plano interno, Samora sempre assumiu uma política autocrática e populista, tentando utilizar nos meios urbanos os métodos usados na guerrilha e promover o desenvolvimento do país em bases socialistas, com repressão de qualquer dissidência interna. Menos de um mês depois da independência, Samora anunciou a nacionalização da saúde, da educação e da justiça; passado um ano, a nacionalização das casas de rendimento, criando a APIE (Administração do Parque Imobiliário do Estado), que alugava as casas com rendas de acordo com o rendimento do agregado familiar. Lançou grandes programas de socialização do campo, com o apoio dos países socialistas, envolvendo-se pessoalmente numa campanha de colheita do arroz. Conseguiu ainda o apoio popular, principalmente dos jovens, para operações de grande vulto, tais como o recenseamento da população, em 1980, e a troca da moeda colonial pela nova moeda, o metical, no mesmo ano. Outras políticas populares foram as «ofensivas» a favor do aumento da produtividade e contra a corrupção, geralmente anunciadas em grandes comícios, para os quais a população era maciçamente convocada.
No entanto, poucas destas campanhas tiveram êxito e, em parte, levaram à partida de grande número de residentes de origem estrangeira, portugueses na sua maioria, o que provocou a paralisação temporária de muitas empresas e, mais tarde, por falta de capacidade de gestão, o colapso de muitos setores, como as indústrias têxtil, metalúrgica e química. Outras medidas impopulares foram o encarceramento nos chamados «campos de reeducação» das Testemunhas de Jeová, dos «improdutivos» e das prostitutas e a colocação em locais remotos de jovens com cursos superiores, medidas com o alegado objectivo de desenvolver regiões onde havia pouca população. A instalação do aparelho policial e repressivo gerou também desencanto entre a população, sobretudo urbana, em expansão rápida nos anos 70 e 80, e as próprias bases do partido Frelimo.
Sob a iniciativa do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e da PIC (Polícia de Investigação Criminal), proliferaram as detenções, quer em penitenciárias tradicionais, como a da Machava, quer em «campos de reeducação» perdidos no mato do Norte e do Centro do país. A própria primeira mulher de Machel, que ele abandonara quando partira para a Tanzânia em 1963, foi detida, mau grado a sua ausência total de atividade política. A vida quotidiana dos cidadãos passou a ser vigiada pelos «grupos dinamizadores», células de controlo criadas a nível dos bairros e locais de trabalho.
Foi imposta uma reforma agrária, que visava agrupar os camponeses em «aldeias comunais» segundo o modelo dos kolkhozes e sovkhozes. Para o efeito, o novo regime moçambicano não hesitou em utilizar os antigos «aldeamentos», pequenos aglomerados nos quais o exército português tentara confinar a população rural, tradicionalmente dispersa em unidades unifamiliares no campo, a fim de a subtrair à influência da FRELIMO nas zonas do Norte afectadas pela guerra (paradoxalmente, a própria FRELIMO classificava então esses «aldeamentos» como «campos de concentração»). A reforma agrária baseada no conceito das «aldeias comunais» redundou num fiasco colossal.
Na frente externa, Samora sempre seguiu uma política de angariar amizades e apoio para Moçambique, não só entre os «amigos» tradicionais, os países do «bloco soviético» e os países vizinhos unidos numa frente de integração regional, a SADCC, mas até entre os seus «inimigos», sendo inclusivamente recebido (embora com frieza) por Ronald Reagan e tendo assinado um acordo de boa-vizinhança com Pieter Botha, presidente da África do Sul nos últimos anos do apartheid (o Acordo de Nkomati). Apesar disso, Samora não conseguiu suster a guerra que, iniciada logo a seguir à independência pelos vizinhos regimes racistas (a África do Sul e a Rodésia de Ian Smith), se tornou uma verdadeira guerra civil dirigida por um movimento de resistência armada (a RENAMO). A guerra civil durou 16 anos, provocou cerca de um milhão de mortos e cinco milhões de deslocados e destruiu grande parte das infraestruturas do país.
A partida da comunidade portuguesa, o insucesso da política de socialização e a guerra levaram a um colapso económico, e Samora, nos últimos anos, teve de abrandar a política de orientação comunista, permitindo aos «quadros» acesso a bens que estavam vedados ao comum dos cidadãos, encetando conversações com a RENAMO e, finalmente, organizando acordos com o Banco Mundial e o FMI, no sentido de estancar a guerra e relançar a economia.
A 30 de agosto de 1982 recebeu o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique.

Morte
Samora Machel não conseguiu, no entanto, ver realizados os seus propósitos, uma vez que, em 19 de outubro de 1986, quando se encontrava de regresso de uma reunião internacional em Lusaka, o Tupolev 134 cedido pela União Soviética em que seguia, junto com muitos dos seus colaboradores, despenhou-se em Mbuzini, nos montes Libombos (território sul-africano, perto da fronteira com Moçambique). O acidente foi atribuído a erros do piloto russo, mas ficou provado que este tinha seguido um rádio-farol, cuja origem não foi determinada. Este facto levou a especulações sobre uma possível cumplicidade do governo sul-africano, que nunca se conseguiu provar.
Em 2010, o jornalista português José Milhazes, que vive em Moscovo desde 1977 e trabalha atualmente para o diário português Público e como correspondente da cadeia portuguesa de televisão SIC, publicou o livro «Samora Machel: Atentado ou Acidente?», no qual sustenta que a queda do avião nada teve a ver com um atentado ou uma falha mecânica, mas sim com diversos erros da tripulação russa: em lugar de executar corretamente as operações de voo, os membros da tripulação, incluindo o piloto, estavam entretidos com futilidades, como a partilha de bebidas alcoólicas e outras, que não era possível obter em Moçambique e que eles traziam da Zâmbia. Segundo Milhazes, tanto os soviéticos como os moçambicanos teriam interesse em divulgar a tese de um atentado perpetrado pelo governo racista da África do Sul: a URSS quereria salvaguardar a sua reputação (qualidade mecânica do aparelho e profissionalismo da tripulação), ao passo que o governo de Moçambique quereria criar um herói.
No entanto, em 2007, Jacinto Veloso, um dos mais fieis aliados de Machel no seio da Frelimo, tinha já publicado as suas Memórias em Voo Rasante, nas quais sustenta que a morte do presidente de Moçambique se deveu a uma conspiração entre os serviços secretos sul-africanos e os soviéticos, que, uns e outros, teriam razões para o eliminar.
Segundo Veloso, o embaixador soviético pediu certa vez uma audiência ao Presidente para lhe comunicar a apreensão da URSS face ao aparente «deslizamento» de Moçambique para o Ocidente, ao que Machel teria respondido «Vai à merda!», ordenando em seguida ao intérprete que traduzisse e abandonando a sala. Convencidos de que Machel se afastara irrevogavelmente da sua órbita, os soviéticos não teriam hesitado em sacrificar o piloto e toda a equipagem do seu próprio avião.
A viúva de Samora, Graça Machel (Simbine de seu nome de solteira), com quem ele se casara em 1977 sendo ela Ministra da Educação, casou-se em 1998 com Nelson Mandela.

O Massacre de Babi Yar começou há 72 anos


Ravina de Babi Yar, em Kiev
 
Babi Yar é uma ravina existente em Kiev, capital da Ucrânia, que ficou conhecida na história como local de um dos maiores massacres de judeus e civis da então União Soviética pelos nazis, durante a II Guerra Mundial.
Em 29 e 30 de setembro de 1941, 92.771 civis ucranianos judeus foram levados a Babi Yar e assassinados coletivamente, num dos maiores massacres de massa da história. Nos meses que seguiram, milhares de outros judeus e não-judeus russos foram capturados, trazidos à ravina e fuzilados, num total de cerca de 100.000 mortos.

História
A ravina de Babi Yar é mencionada por registos históricos desde 1401 e através dos tempos sua área foi usada para diferentes propósitos, incluindo campos militares e cemitérios, um dos quais, judeu, foi fechado em 1937. Após a invasão da URSS pelas tropas nazis, em junho de 1941, a cidade de Kiev acabou caindo em mãos alemães depois de 45 dias de batalha, em 19 de setembro. Poucos dias após a ocupação, as execuções começaram com o fuzilamento de 700 pacientes de um hospital psiquiátrico da cidade.
Em 28 de setembro, um aviso foi afixado pelos postes e muros de Kiev, dirigido aos judeus:
Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanças que compareçam à esquina das ruas Melnyk e Dokterivsky, às 8 horas da manhã de segunda-feira, 29 de setembro de 1941 portando documentos, dinheiro, roupas de baixo, etc. Aqueles que não comparecerem serão fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas casas serão fuzilados.
Os judeus levados à ravina esperavam ser embarcados em comboios. A multidão de homens, mulheres e crianças era grande o bastante para que ninguém tomasse conhecimento do que estava para acontecer a não ser tarde demais. Todos passavam por um corredor de soldados gritando, em grupos de dez, e de seguida fuzilados; ao escutarem o barulho das metralhadoras do grupo logo à frente, já não tinham como escapar.
O massacre foi realizado em dois dias, a cargo da unidade C do Einsatzgruppen, o esquadrão da morte das SS, apoiados por membros de um batalhão das Waffen-SS; unidades da polícia ucraniana também foram usadas para agrupar e conduzir os judeus até ao local de fuzilamento, o que provocaria uma grande discussão na Ucrânia após a guerra.
Além deste massacre, Babi Yar foi alvo de milhares de outras execuções durante os dois anos de ocupação nazi de Kiev. O número total de mortos na ravina não é exato, mas o número mais aceito, cerca de 100 mil, foi fornecido pelo cálculo de moradores obrigados a enterrar os corpos. Tempos depois, o campo de concentração de Syrets foi erguido no local e nele internados prisioneiros de guerra russos, civis comunistas e combatentes da resistência, que ali eram executados.
Quando os nazistas se retiraram de Kiev, fizeram tentativas de esconder os sinais das atrocidades cometidas durante os anos de ocupação. Entre agosto e setembro de 1943, o campo de Syrets foi parcialmente demolido e diversos corpos exumados e queimados, com as cinzas espalhadas pelas áreas vizinhas. Na noite de 29 de setembro de 1943, quando o campo estava a ser desmantelado, houve uma revolta entre os prisioneiros e quinze deles conseguiram escapar; após retomar o controle da situação, os alemães fuzilaram os 311 sobreviventes.

Selo ucraniano, recordando os 70 anos do Massacre de Babi Yar

Memória
Quando o Exército Vermelho retomou o controle de Kiev em novembro de 1943, o campo foi transformado num local de internamento de prisioneiros alemães e utilizado até 1946, quando foi totalmente demolido. Nos anos 50 e 60, a área tornou-se um grande parque e um complexo de apartamentos.
O governo soviético sempre desencorajou que se desse ênfase ao massacre de judeus em Babi Yar, preferindo oficialmente que a tragédia fosse lembrada como um crime cometido contra todo o povo soviético e a população de Kiev. Diversas tentativas de se erguer um memorial judeu no local dos massacres foram adiadas. Em 1976 foi erguido um memorial em honra de todos os cidadãos soviéticos ali fuzilados, mas apenas em 1991, com o fim da URSS, os judeus puderam finalmente erguer seu próprio monumento.
Sobre Babi Yar, o escritor e sobrevivente do Holocausto Elie Wiesel escreveu:
As testemunhas oculares disseram que, meses após as mortes, o solo de Babi Yar continuava a esguichar geyseres de sangue.

Lech Walesa nasceu há 70 anos

Lech Wałęsa (Popowo, 29 de setembro de 1943) é um político polaco e ativista dos Direitos Humanos. Foi um dos fundadores do sindicato Solidarność (Solidariedade) e presidente da Polónia, entre 1990 e 1995, sendo o primeiro após a derrocada do comunismo e tendo sido agraciado com o Prémio Nobel da Paz em 1983.
Em 1967 começou a trabalhar como electricista no estaleiro naval de Gdansk, onde assistiu à repressão de manifestações operárias pela força das armas. Estes acontecimentos trágicos levaram-no a lutar pela constituição de sindicatos livres no país.
Wałęsa tornar-se-ia, com efeito, fundador e líder do Solidariedade, a organização sindical independente do Partido Comunista que obteve importantes concessões políticas e económicas do Governo polaco em 1980-1981, sendo nessa altura ilegalizado e passando à clandestinidade.
Em 1980, Wałęsa liderou o movimento grevista dos trabalhadores do estaleiro de Gdansk, cerca de 17.000 grevistas que protestavam contra a carestia de vida e as difíceis condições de trabalho. A greve alargou-se rapidamente a outras empresas.
Com dificuldade, as reivindicações dos trabalhadores acabaram por ser concedidas. As reivindicações sociais dos trabalhadores tomaram consequências claramente políticas quando foi assinado um acordo que lhes garantia o direito de se organizarem livremente, bem como a garantia da liberdade política, de expressão e de religião.
O facto de ter liderado as paralisações dos grevistas e de ser católico deu a Wałęsa uma grande base de apoio popular, mas os seus ganhos tiveram um carácter efémero ante a resistência do regime. Em 13 de dezembro de 1981 o Governo impôs a lei marcial, e a maioria dos líderes foram presos, incluindo Wałęsa, até 14 de novembro de 1982. Em 8 de outubro de 1982 o Solidariedade foi considerado ilegal.
O país passou a ser governado pelo general Wojciech Jaruzelski. A agitação operária continuou, embora de forma mais contida. Wałęsa só seria libertado em 1982. Um ano depois era-lhe atribuído o Nobel da Paz. Ele foi incapaz de aceitá-lo pessoalmente, temendo que o governo polaco o impedisse de voltar ao país. Então, sua esposa Danuta aceitou o prémio em seu lugar.
O Solidariedade saiu da clandestinidade após negociações com o Governo em 1988-1989, assim como outras organizações sindicais. Com o desmoronamento do Bloco de Leste e a liberalização democrática do regime, ficou consagrada a realização de eleições livres.
Em 9 de dezembro de 1990 Wałęsa foi eleito presidente. Em 1995 realizaram-se novas eleições presidenciais, mas Wałęsa foi derrotado por uma diferença de 3 pontos percentuais na segunda volta. Nas eleições presidenciais de 2000 não conseguiu para além de 1% dos votos, devido a uma crescente insatisfação da opinião polaca em relação às suas posições.
A 11 de maio de 1993 recebeu o Grande-Colar da Ordem da Liberdade e, a 18 de outubro de 1994, recebeu o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2006 Wałęsa saiu do Solidariedade, manifestando diferenças com o partido Lei e Justiça, e a ascensão ao poder de Lech e Jarosław Kaczyński.