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quarta-feira, abril 24, 2024

A coisas estranhas que a Evolução faz...

Os nossos ombros evoluíram do maxilar de peixes que reinavam nas águas da pré-história

 

 

Placodermo

 

Das mandíbulas de um peixe com 407 milhões de anos, investigadores descobriram informações críticas sobre a evolução da cintura escapular, composta pelas sete peças ósseas a que chamamos ombros.

Um estudo inovador publicado na revista científica Nature forneceu novas perspetivas sobre as origens evolutivas do ombro humano.

A estrutura anatómica, fundamental para o movimento dos braços, tem sido um ponto de intenso debate entre os biólogos evolucionistas devido à sua evolução complexa - de criaturas aquáticas para seres terrestres.

Durante anos, a hipótese dos “arcos branquiais” sugeriu que os ombros dos animais terrestres evoluíram das estruturas que suportam as brânquias dos peixes. Esta teoria, embora antiga, enfrentou escrutínio pela falta de evidência fóssil.

Uma alternativa, a hipótese “fin-fold”, postulou que as barbatanas pareadas e ombros evoluíram a partir de linhas musculares ao longo dos lados dos peixes, denota o Earth. No entanto, não explicava totalmente a evolução da cintura escapular.

Um esforço colaborativo entre a Faculdade Imperial de Londres e o Museu de História Natural lançou alguma luz sobre este enigma evolutivo.

Ao examinar os fósseis de um peixe placodermo com 407 milhões de anos chamado Kolymaspis sibirica, os investigadores descobriram informações críticas sobre a evolução da cintura escapular.

 

 

Predominantes nos oceanos do Paleozoico, há cerca de 420 a 360 milhões de anos, especialmente no período Devónico, os placodermos caracterizavam-se principalmente pela presença de partes do corpo fortemente blindadas, sendo alguns dos primeiros vertebrados a desenvolver mandíbulas verdadeiras.  A sua extinção misteriosa no final do período Devónico deixou muitas questões sem resposta.

O seu estudo tem-se mostrado essencial para compreender a evolução dos vertebrados, especialmente o desenvolvimento de características anatómicas fundamentais, como as mandíbulas e os dentes e agora… os ombros.

 

As origens do nosso ombro

O estudo encontrou semelhanças entre a articulação cabeça-ombro do placodermo e os arcos branquiais de peixes ancestrais sem mandíbula, sugerindo que os arcos branquiais foram um componente fundamental no desenvolvimento do ombro. Curiosamente, a pesquisa propõe que um sexto arco branquial, agora extinto, serviu como um elemento crucial na demarcação da cabeça do corpo, levando à formação dos ombros.

Mesmo com a transformação dos ossos, os músculos podem manter as suas funções, segundo o estudo, que também sugere uma potencial convergência das hipóteses dos arcos branquiais e “fin-fold”.

O estudo sublinha a importância da pesquisa interdisciplinar em biologia evolutiva. Integrando registos fósseis com biologia do desenvolvimento e anatomia comparativa, os cientistas estão a montar as origens da nossa estrutura do ombro.

 

in ZAP

segunda-feira, setembro 30, 2013

Novidades sobre paleontologia e a evolução dos vertebradoste

Este pequeno peixe viveu há 419 milhões de anos e tinha uma cara (quase) igual à nossa
Ana Gerschenfeld - 26.09.2013

Em cima, visão artística do peixe primitivo agora descoberto; em baixo, duas vistas da sua cabeça fóssil


Descoberta de fóssil muito bem conservado de peixe primitivo pode obrigar a rever a história dos vertebrados

Parece um capitel medieval, finamente esculpido na pedra no mais puro estilo naturalista. Mas é na realidade a cabeça fossilizada - e excepcionalmente bem preservada - de um peixe que viveu há 419 milhões de anos, durante o período Silúrico. Descoberto em 2010 nas rochas sedimentares marinhas da Formação Kuanti, no Sul da China, esta primitiva criatura é descrita hoje, na revista Nature, pela equipa internacional que a achou e que agora analisou as suas surpreendentes características anatómicas.
Segundo estes cientistas, trata-se do mais antigo animal com uma mandíbula moderna - ou seja, dono de uma cara muito parecida com a dos vertebrados actuais, entre os quais se incluem os seres humanos. Se assim for, esta descoberta contradiz uma ideia há muito enraizada em paleontologia: a de que o antepassado comum a todos os vertebrados modernos (que era um peixe) era fisicamente parecido com os tubarões actuais.
A equipa, liderada por Min Zhu, do Instituto de Paleontologia e de Paleoantropologia dos Vertebrados em Pequim, baptizou o novo animal Entelognathus primordialis, o que significa "mandíbula completa primordial".
O Entelognathus tinha cerca de 20 cm de comprimento (o tamanho de uma sardinha). Era um peixe da classe dos já extintos placodermos, cuja cabeça e ombros estavam cobertos por placas ósseas e que são considerados como o tipo mais primitivo de peixes com maxilares. Mas - e é aí que está a novidade -, embora à primeira vista os maxilares de Entelognathus parecessem bastante banais, afinal não eram. Tinham a estrutura dos nossos próprios maxilares, algo inédito num peixe como este. "É a primeira vez que vemos ossos [faciais] deste tipo num placodermo. Até aqui, os placodermos conhecidos tinham maxilares essencialmente feitos de cartilagem", explicou ao PÚBLICO Min Zhu num email.
Ora, se o antepassado de todos os vertebrados com maxilares era um placodermo, o seu aspecto não podia ter nada a ver com o dos tubarões, que possuem quanto a eles um esqueleto cartilaginoso e uma "couraça" de pequenas escamas a cobrir a totalidade do corpo. Resumindo, a confirmarem-se os resultados, o novo fóssil poderá vir a pôr em causa a história natural dos vertebrados tal como ela é contada há mais de cem anos.
"Esta é de facto uma descoberta surpreendente!", diz-nos Philippe Janvier, paleontólogo do Museu Nacional de História Natural de Paris. "A ideia de que o antepassado comum a todos os vertebrados com maxilares era parecido com os tubarões, com um exosqueleto formado por pequenas escamas, estava fortemente enraizada entre os especialistas de peixes desde o século XIX, sendo confortada pelo facto que todos os vertebrados conhecidos do Silúrico com maxilares eram "pequenos tubarões com espinhas", e portanto prováveis precursores dos tubarões", salienta este cientista. "Aqui, a grande novidade é a presença, no mesmo animal, de uma estrutura bastante típica dos placodermos associada a mandíbulas com um maxilar, um premaxilar, um jugal, etc., o que permite concluir que os primeiros vertebrados com maxilares possuíam uma organização corporal mais próxima dos placodermos e dos peixes com esqueleto ósseo do que dos tubarões."
Philippe Janvier disse-nos ainda que já estava a par do achado "através do seu colega Min Zhu" e que ficara "impacientemente" à espera da publicação do artigo. "Há muito tempo, eu também encontrei placas isoladas de placodermos do Silúrico, deste mesmo tipo, no Vietname (e até publiquei os resultados). Mas não conseguia imaginar o aspecto do animal inteiro. Agora, tudo se ilumina!"

in Público - ler notícia