Filho de Paulo Leminski
II e Áurea Pereira Mendes, um
mestiço de pai
polaco e mãe
negra,
Paulo Leminski foi um filho que sempre chamou a atenção pela sua
intelectualidade, cultura e genialidade. Estava sempre à beira de uma
explosão e assim produziu muito. É dono de uma extensa e relevante obra.
Desde muito cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever
poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo
haicais, trocadilhos, ou brincando com ditados franceses.
Em 1958, aos catorze anos, foi para o
Mosteiro de São Bento em
São Paulo e lá ficou um ano inteiro. Participou do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda, em
Belo Horizonte, onde conheceu
Haroldo de Campos,
amigo e parceiro em várias obras. Leminski casou-se, aos dezassete
anos, com a desenhadora e artista plástica Neiva Maria de Sousa (da qual
se separou em 1968). Estreou-se em 1964 com cinco poemas na revista
Invenção, dirigida por
Décio Pignatari, em São Paulo, porta-voz da
poesia concreta paulista. Em 1965 tornou-se professor de
História e de
Redação
em cursos pré-vestibulares, e também era professor de judo. Obteve, em
1966, o primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna.
Casou-se em 1968 com a também poetisa
Alice Ruiz,
com quem viveu durante vinte anos. Algum tempo depois de começarem a
namorar, Leminski e Alice foram morar com a primeira mulher do poeta e o
seu namorado, numa espécie de comunidade hippie. Ficaram lá por mais
de um ano, e só saíram com a chegada do primeiro dos seus três filhos:
Miguel Ângelo (que morreu com dez anos de idade, vítima de um
linfoma). Eles também tiveram duas meninas, Áurea (em homenagem a sua
mãe) e
Estrela Ruiz Leminski. De 1969 a 1970 decidiu morar no
Rio de Janeiro, retornando a Curitiba para se tornar diretor de criação e redator publicitário.
De entre as suas atividades, criou habilidade de letrista e músico.
Verdura, de 1981, foi gravada por
Caetano Veloso no disco
Outras Palavras. A própria
bossa nova resulta, em partes iguais, da evolução normal da
MPB
e do feliz acidente de ter o modernismo criado uma linguagem poética,
capaz de se associar com as suas letras mais maleáveis e
enganadoramente ingénuas, às tendências de então da música popular
internacional. A
jovem guarda e o
tropicalismo,
à sua maneira, atualizariam esse processo ao operar com outras
correntes musicais e poéticas. Por sua formação intelectual, Leminski é
visto por muitos como um poeta de vanguarda, todavia por ter aderido à
contracultura e ter publicado em revistas alternativas, muitos o
aproximam da geração de
poetas marginais, embora ele jamais tenha sido próximo de poetas como
Francisco Alvim,
Ana Cristina César ou
Cacaso. Por sua vez, em muitas ocasiões declarou a sua admiração por
Torquato Neto, poeta tropicalista e que antecipou muito da estética da década de 1970.
Na década de 1970, teve poemas e textos publicados em diversas revistas - como
Corpo Estranho,
Muda Código (editadas por
Régis Bonvicino) e
Raposa. Em 1975 lançou o seu ousado
Catatau,
que denominou "prosa experimental", em edição particular. Além de
poeta e prosista, Leminski era também tradutor (traduziu para o
castelhano e o inglês alguns trechos de sua obra Catatau, a qual foi
traduzida na íntegra para o castelhano).
Na poesia de Paulo Leminski, por exemplo, a influência da MPB é tão
clara que o poeta paranaense só poderia mesmo tê-la reconhecido
escrevendo belas letras de música, como Verdura.
Músico e letrista, Leminski fez parcerias com Caetano Veloso, o grupo
A Cor do Som e o a banda de punk rock
Beijo AA Força, entre 1970 e 1989. Teve influência da poesia de
Augusto de Campos,
Décio Pignatari,
Haroldo de Campos, convivência com
Régis Bonvicino,
Gilberto Gil, Caetano Veloso,
Moraes Moreira,
Itamar Assumpção,
José Miguel Wisnik,
Arnaldo Antunes,
Wally Salomão,
Antônio Cícero,
Antonio Risério,
Julio Plaza,
Reinaldo Jardim,
Regina Silveira,
Helena Kolody, Turiba e Ivo Rodrigues.
A música estava ligada às obras de Paulo Leminski, uma de suas paixões, proporcionando uma discografia rica e variada.
Entre 1984 e 1986, em Curitiba, foi tradutor de
Petrônio,
Alfred Jarry,
James Joyce,
John Fante,
John Lennon,
Samuel Beckett e
Yukio Mishima,
pois falava 6 línguas estrangeiras (inglês, francês, latim, grego,
japonês, espanhol). Publicou o livro infanto-juvenil ‘’Guerra dentro da
gente’’, em 1986 em São Paulo.
Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de
Bashô. Além de escritor, Leminski também era cinturão preto de
judo. A sua obra literária tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos no Brasil.
Morreu a 7 de junho de 1989, em consequência do agravamento de uma
cirrose hepática que o acompanhou por vários anos.
Poetas Velhos
Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.
Paulo Leminski