Faz hoje trinta anos, era eu um miúdo no oitavo ano, com quase 14 anos, que morreu o meu avô materno e padrinho de baptismo. Morreu numa bonita data, ele que amava a garotada e (diz a minha mãe...) era um autêntico garoto.
De pai severo e autoritário passou a avô que tudo consentia aos netos (lembro-me de, uma vez, era eu um rapaz de 5 ou 6 anos, numa bulha qualquer por causa de rapar um tacho de arroz, lhe ter espetado com um garfo e ele me ter defendido ferozmente, dizendo que a culpa era dele e que o meu pai não me podia castigar). Recordo-me ainda das muitas vezes que, antes de eu entrar na Escola Primária (e me tornar um aluno modelo...) ele, que vivia com os meus pais (foi ele e a minha avô materna que nos criaram e educaram, antes de entrar na Escola) ameaçar ir-se embora por o meu pai me querer castigar pelas minhas traquinices.
Era um avô especial - tinha tido milhentas profissões (cabo do exército, taberneiro, agricultor, emigrante, ferroviário, padeiro, mineiro, barbeiro, sapateiro e comerciante, entre muitas outras), era culto (embora só tivesse a 3ª classe sabia imenso e até tinha aprendido a falar francês sozinho). Politicamente era um católico conservador (era monárquico e guardava sempre uma foto da última família real reinante portuguesa), tinha sido sidonista (o Presidente-Rei Sidónio Pais tinha-o impedido de ir à I Guerra Mundial) e era salazarista, como muitos os que viveram o turbilhão que foi a I república, que ele abominava.
Com ele aprendi imenso - e hoje, quando passaram trinta anos sobre a sua partida, quero aqui deixar a minha alegria pelos bons anos que dedicou a mim e aos meus irmãos e por tudo o que fez por mim...