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quarta-feira, janeiro 22, 2014

O Abbé Pierre morreu há sete anos

Henri Antoine Groués, mais conhecido como Abbé Pierre (Lyon, 5 de agosto de 1912 - Paris, 22 de janeiro de 2007) foi um sacerdote católico francês, que morreu com 94 anos.
Revoltado ao constatar que num país rico como a França morriam, devido ao frio, pessoas que dormiam na rua, o Abbé Pierre, que se iniciou na ordem franciscana e passou pela dos capuchinhos, falou em 1954 aos microfones da Rádio Luxemburgo (RTL), para lançar alertas no sentido de recolher apoio para salvar os mais pobres de uma morte certa.
O seu trabalho de assistência iniciou-se durante a Segunda Guerra Mundial, tendo-se dedicado a salvar pessoas perseguidas pelos nazis. Organizou mesmo um grupo de resistência armada no seio da Resistência Francesa, tendo sido preso, mas conseguiu fugir escondido num saco do correio, num avião para a Argélia que fez escala na Suíça. Recebeu numerosas honrarias, distinções e condecorações militares, pelo combate em prol da França.
Com a paz, voltou a Paris e foi eleito deputado na Assembleia Nacional Francesa, que abandonou, em 1951, como forma de protesto contra uma lei eleitoral que ele julgava injusta. A partir daí dedicou-se inteiramente ao Movimento Emaús, que está hoje presente em mais de quarenta países de todo o mundo.
Abbe Pierre, vendo a exclusão pela qual os homens passavam naquele período de guerra, decidiu lutar contras as causas da injustiça, colocou homens a morar num abrigo e dai começou o acolhimento de Emaús, saiu depois disso do Parlamento e sustentou os acolhidos do abrigo por um determinado período com as suas economias, guardadas no período de seu mandato, só que um dia essas economias acabaram e o mesmo precisava sustentar os seus acolhidos de alguma forma, foi então que decidiu sair as ruas a pedir esmolas para ajudar na alimentação de casa, só que uma mulher, conhecendo seu trabalho de retirar mendigos das ruas, alertou os acolhidos que chamaram a atenção do padre, que alegou ter que sustentar a casa, foi então que um dos acolhidos teve a ideia de irem retirar os matérias deixados pelos moradores em suas casas durante a guerra e vendê-los para angariar rendas para o sustento, e assim fizeram, formando assim o primeiro bazar e a primeira comunidade Emaús na França, no ano de 1949. O nome Emaús corresponde a uma localidade da Palestina onde homens crentes e não crentes voltaram a encontrar a esperança (ver Lucas 7) e essa até hoje é a missão das 316 comunidades de Emaús de todo o mundo "Servir aos que mais sofrem, combatendo as causas da miséria e dar aos homens uma nova esperança de vida".

domingo, novembro 10, 2013

Álvaro Cunhal nasceu há um século

 Álvaro Cunhal, retratado por Henrique Matos

Álvaro Barreirinhas Cunhal (Coimbra, 10 de novembro de 1913 - Lisboa, 13 de junho de 2005) foi um político e escritor português, conhecido por ser um resistente ao Estado Novo, e ter dedicado a vida ao ideal comunista e ao seu partido, o Partido Comunista Português.

Devido aos seus ideais comunistas e à sua assumida e militante oposição ao Estado Novo, esteve preso em 1937, 1940 e 1949-1960, num total de 13 anos, 8 dos quais em completo isolamento sem nunca, incrivelmente, ter perdido a noção do tempo. Mesmo sob violenta tortura, nunca falou. Na prisão, como forma de passar o tempo, dedicou-se à pintura e à escrita. Uma das suas produções mais notáveis aquando da sua prisão, foi a tradução e ilustração da obra Rei Lear, de William Shakespeare. A 3 de janeiro de 1960, Cunhal, juntamente com outros camaradas, todos quadros destacados do PCP, protagonizaram a célebre "fuga de Peniche", possível graças a um planeamento muito rigoroso e a uma grande coordenação entre o exterior e o interior da prisão.
Em 1962 é enviado pelo PCP para o estrangeiro, primeiro para Moscovo, depois para Paris.
Ocupou o cargo de secretário-geral do Partido Comunista Português, sucedendo a Bento Gonçalves, entre 1961 e 1992, tendo sido substituído por Carlos Carvalhas.
Em 1968 Álvaro Cunhal presidiu à Conferência dos Partidos Comunistas da Europa Ocidental, o que é revelador da influência que já nessa altura detinha no movimento comunista internacional. Neste encontro, mostrou-se um dos mais firmes apoiantes da invasão da então Checoslováquia pelos tanques do Pacto de Varsóvia, ocorrida nesse mesmo ano.

Regressou a Portugal cinco dias depois do 25 de Abril de 1974. Nesse mesmo dia, passeou de braço dado com Mário Soares, por Lisboa, como forma de ambos comemorarem o início da Democracia em Portugal, pois mesmo que divergissem ideologicamente, apoiavam um Portugal livre e democrático.
Foi ministro sem pasta no I, II, III e IV governos provisórios e também deputado à Assembleia da República entre 1975 e 1992.
Em 1982, tornou-se membro do Conselho de Estado, abandonando estas funções dez anos depois, quando saiu da liderança do PCP.
Além das suas funções na direcção partidária, foi romancista e pintor, escrevendo sob o pseudónimo de Manuel Tiago, o que só revelou em 1995.
Nos últimos anos da sua vida sofreu de glaucoma, acabando por cegar.
Faleceu em 13 de junho de 2005, em Lisboa, e no seu funeral, a 15 de junho, participaram mais de 250.000 pessoas, segundo o PCP. Por sua vontade, o corpo foi cremado.
Da sua relação com Isaura Maria Moreira, teve uma filha, Ana Maria Moreira Cunhal, nascida a 25 de dezembro de 1960.
Álvaro Cunhal ficou na memória como um comunista que nunca abdicou do seu ideal.

quarta-feira, maio 22, 2013

Francisco Lucas Pires morreu há 15 anos

(imagem daqui)

Francisco António Lucas Pires GCC (Coimbra, 19 de outubro de 1944 - Pombal, 22 de maio de 1998) foi um professor, advogado e político português.
Lucas Pires licenciou-se em Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 1966, onde terminou o Curso Complementar de Ciências Político-Económicas, em 1968. Com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, foi investigador na área do Direito Público, com Otto Bachof, na República Federal da Alemanha. Quando regressou iniciou uma carreira académica em Coimbra, onde se doutorou em Ciências Jurídico-Políticas, em 1989, e chegou a professor associado, em 1997. Foi ainda professor no Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa e coordenador da licenciatura em Direito da Universidade Autónoma de Lisboa.
Aderiu ao Partido do Centro Democrático Social em 1974. Foi deputado da Assembleia da República, entre 1976 e 1986, pelos círculos do Porto, Coimbra e Lisboa; coordenador-geral da Aliança Democrática, de 1979 a 1980; ministro da Cultura e da Coordenação Científica no VIII Governo Constitucional, entre 1982 e 1983, sendo responsável político pela realização da XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura, subordinada ao tema Os descobrimentos portugueses e a Europa do renascimento; foi membro do Conselho de Estado, de 1983 a 1985. Entre fevereiro de 1983 e outubro de 1985 foi o presidente do CDS, tendo saído da presidência face aos fracos resultados obtidos nas eleições legislativas de outubro de 1985. Em 1991 entra em ruptura com o CDS, em discórdia com a posição do partido em relação à União Europeia. Lucas Pires era, à altura, deputado do Parlamento Europeu, eleito em 1987. Depois do CDS ser expulso do PPE, manteve-se no parlamento como deputado independente. Nas eleições seguintes para o Parlamento Europeu, integrou as listas do Partido Social Democrata. Foi o primeiro vice-presidente português do Parlamento Europeu, de 1987 a 1988 (e novamente em 1998), coordenou o Grupo Parlamentar do PPE e foi o primeiro vice-presidente da Fundação Democrata-Cristã Europeia para a Cooperação. Aderiu formalmente ao PSD, após a adesão deste ao PPE, em 1997. Integrou ainda o Grupo Permanente sobre a Constituição Europeia da Universidade de South Bank, em Londres, do Curatorium do Centro de Estudos Luso-Galaico da Universidade de Tréveris, na Alemanha, e do Conselho de Administração da Fundação Pégaso, com sede em Bruxelas
Publicou vários livros sobre assuntos jurídicos e políticos, entre os quais O Problema da Constituição (1970), Soberania e Autonomia (1974), Uma Constituição para Portugal (1975), Na Hora Europeia (1986), Teoria da Constituição de 1976: a transição dualista (1988), Tratados que Instituem a Comunidade e a União Europeias (2ª ed., 1994), Os Novos Direitos dos Portugueses (1994), O que é a Europa (1994), Portugal e o Futuro da União Europeia (2ª ed., 1995), Regionalização e Europa (1996), Schengen e a Comunidade de Países Lusófonos (1997) e Introdução ao Direito Constitucional Europeu (1997).
A 9 de junho de 1998 foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.
Casado com Maria Teresa Bahia de Almeida Garrett, foi pai de quatro filhos, entre eles o escritor Jacinto Lucas Pires. Morreu quando viajava de Lisboa para Coimbra, de doença cardiovascular súbita.

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Passos Manuel, brilhante parlamentar, político e primeiro ministro da monarquia constitucional, morreu há 151 anos

Manuel da Silva Passos (São Martinho de Guifões, Bouças, 5 de janeiro de 1801 - Santarém, 16 de janeiro de 1862), mais conhecido por Passos Manuel, bacharel formado em Direito, advogado, parlamentar brilhante, ministro em vários ministérios e um dos vultos mais proeminentes das primeiras décadas do liberalismo, encarnando a esquerda do movimento vintista na fase inicial da monarquia constitucional, tendo depois assumido o papel de líder incontestado dos setembristas. Foi seu irmão mais velho, e inseparável aliado na vida política, José da Silva Passos, um também proeminente político da esquerda liberal. Ficou célebre a sua declaração de princípios: A Rainha é o chefe da nação toda. E antes de eu ser de esquerda já era da Pátria. A Pátria é a minha política.

(...)

Em finais da década de 1850, os problemas de saúde que o afligiam há longos anos pioraram, remetendo-o definitivamente para a sua casa de Santarém. Falou pela última vez nas Cortes a 17 de fevereiro de 1857.
O rei D. Pedro V, que lhe tinha recusado em 1857 um lugar no Conselho de Estado, por carta régia de 17 de maio de 1861 nomeou-o Par do Reino, embora ele, aparentemente por razões de saúde, não tenha tomado assento na câmara alta.
Manuel da Silva Passos faleceu na sua casa de Santarém a 16 de janeiro de 1862, sem ter tomado posse na Câmara dos Pares. Nunca aceitou mercês ou títulos, embora a sua filha mais velha tenha sido elevada a viscondessa de Passos, em 1851, em atenção aos merecimentos do pai.
Quando a notícia do seu falecimento foi sabida em Lisboa, a Câmara dos Deputados, que estava reunida, lançou na acta um voto de sentimento pela morte do grande liberal e, por proposta de José da Silva Mendes Leal, determinou que na sala da biblioteca da câmara, fundada pelo eminente tribuno, se colocasse o seu busto, o qual ali perdura.
Anos depois, os seus conterrâneos do concelho de Bouças, hoje Matosinhos, erigiram-lhe uma estátua na Alameda de Leça. O mesmo lhe fez a cidade de Santarém, em cujo centro está uma estátua de Passos Manuel.
O seu nome é recordado na toponímia de múltiplas localidades, com destaque para a cidade do Porto, que lhe dedica várias estruturas. A Escola Secundária Passos Manuel é a mais antiga de Lisboa.

domingo, dezembro 09, 2012

Almeida Garrett morreu há 158 anos

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (Porto, 4 de fevereiro de 1799 - Lisboa, 9 de dezembro de 1854), 1.º Visconde de Almeida Garrett, foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, Par do Reino, ministro e secretário de estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.

Filho segundo do selador-mor da Alfândega do Porto, acompanhou a família quando esta se refugiou nos Açores, onde tinha propriedades, fugindo da segunda invasão francesa, realizada pelo exército comandado pelo marechal Soult que entrando em Portugal por Chaves se dirigiu para o Porto, ocupando-o.
Passou a adolescência na ilha Terceira,onde foi criado por familiares, tendo sido destinado à vida eclesiástica, devendo entrar na Ordem de Cristo, por sugestão do tio paterno, Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Malaca e depois de Angra.
Em 1816, tendo regressado a Portugal, inscreveu-se na Universidade, na Faculdade de Leis, sendo aí que entrou em contacto com os ideais liberais. Em Coimbra, organiza uma loja maçónica, que será frequentada por alunos da Universidade como Manuel Passos. Em 1818, começa a usar o apelido Almeida Garrett, assim como toda a sua família.
Participa entusiasticamente na revolução de 1820, de que parece ter tido conhecimento atempado, como parece provar a poesia As férias no campo, escrita em 1819. Enquanto dirigente estudantil e orador defende o vintismo com ardor escrevendo um Hino Patriótico recitado no Teatro de São João. Em 1821, funda a Sociedade dos Jardineiros, e volta aos Açores numa viagem de possível motivação maçónica. De regresso ao Continente, estabelece-se em Lisboa, onde continua a publicar escritos patrióticos e concluindo a Licenciatura em novembro deste ano.
Em Coimbra publica o poema libertino O Retrato de Vénus, que lhe vale ser acusado de materialista e ateu, assim como de «abuso da liberdade de imprensa», de que será absolvido em 1822. Torna-se secretário particular de Silva Carvalho, secretário de estado dos Negócios do Reino, ingressando em agosto na respectiva secretaria, com o lugar de chefe de repartição da instrução pública. No fim do ano, em 11 de novembro, casa com Luísa Midosi.
A Vilafrancada, o golpe militar de D. Miguel que, em 1823, acaba com a primeira experiência liberal em Portugal, leva-o para o exílio. Estabelece-se em março de 1824 em Le Havre, cidade portuária francesa na foz do Sena, mas em dezembro está desempregado, o que o leva a ir viver para Paris. Não lhe sendo permitido o regresso a Portugal, volta ao seu antigo emprego no Havre. Em 1826 está de volta a Paris, para ir trabalhar na livraria Aillaud. A mulher regressa a Portugal.
É amnistiado após a morte de D. João VI, regressando com os últimos emigrados, após a outorga da Carta Constitucional, reocupando em agosto o seu lugar na Secretaria de Estado. Em outubro começa a editar «O Português, diário político, literário e comercial», sendo preso em finais do ano seguinte. Libertado, volta ao exílio em junho de 1828, devido ao restabelecimento do regime absoluto por D. Miguel. De 1828 a Dezembro de 1831 vive em Inglaterra, indo depois para França, onde se integra num batalhão de caçadores, e mais tarde, em 1832, para os Açores integrado na expedição comandada por D. Pedro IV. Nos Açores transfere-se para o corpo académico, sendo mais tarde chamado, por Mouzinho da Silveira, para a Secretaria de Estado do Reino.
Participa na expedição liberal que desembarca no Mindelo e ocupa o Porto em julho de 1832. No Porto, é reintegrado como oficial na secretaria de estado do Reino, acumulando com o trabalho na comissão encarregada do projecto de criação do Códigos Criminal e Comercial. Em novembro parte com Palmela para uma missão a várias cortes europeias, mas a missão é dissolvida em janeiro e Almeida Garrett vê-se abandonado em Inglaterra, indo para Paris onde se encontra com a mulher. Só com a ocupação de Lisboa em julho de 1834, consegue apoio para o seu regresso, que acontece em outubro. Em novembro é nomeado secretário da comissão de reforma geral dos estudos. Em fevereiro do ano seguinte é nomeado cônsul-geral e encarregado de negócios na Bélgica, onde chega em Junho, mas é de novo abandonado pelo governo. Regressa a Portugal em princípios de 1835, regressando ao seu posto em maio. Estava em Paris, em tratamento, quando foi substituído sem aviso prévio na embaixada belga. Nomeado embaixador na Dinamarca, é demitido antes mesmo de abandonar a Bélgica.
Estes sucessivos abandonos por parte dos governos cartistas, levam-no a envolver-se com o Setembrismo, dando assim origem à sua carreira parlamentar. Logo em 28 de setembro de 1837 é incumbido de apresentar uma proposta para o teatro nacional, o que faz propondo a organização de uma Inspecção-Geral dos Teatros, a edificação do Teatro D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática. Os anos de 1838 e 1838, são preenchidos nas discussões políticas que levarão à aprovação da Constituição de 1838, e na renovação do teatro nacional.
Em 20 de dezembro é nomeado cronista-mor do Reino, organizando logo no princípio de 1839 um curso de leituras públicas de História. No ano seguinte o curso versa a «história política, literária e científica de Portugal no século XVI».
Em 15 de julho de 1841 ataca violentamente o ministro António José d'Ávila, num discurso a propósito da Lei da Décima, o que implica a sua passagem para a oposição, e o leva à demissão de todos os seus cargos públicos. Em 1842, opõem-se à restauração da Carta proclamada no Porto por Costa Cabral. Eleito deputado nas eleições para a nova Câmara dos Deputados cartista, recusa qualquer nomeação para as comissões parlamentares, como toda a esquerda parlamentar. No ano seguinte ataca violentamente o governo cabralista, que compara ao absolutista.
É neste ano de 1843 que começou a publicar, na Revista Universal Scalabitana, as Viagens na Minha Terra, descrevendo a viagem ao vale de Santarém começada em 17 de julho. Anteriormente, em 6 de maio, tinha lido no Conservatório Nacional uma memória em que apresentou a peça de teatro Frei Luís de Sousa, fazendo a primeira leitura do drama.
Continuando a sua oposição ao Cabralismo, participa na Associação Eleitoral, dirigida por Sá da Bandeira, assim como nas eleições de 1845, onde foi um dos 15 membros da minoria da oposição na nova Câmara. Em 17 de janeiro de 1846, proferiu um discurso em que considerava a minoria como representante da «grande nação dos oprimidos», pedido em 7 de maio a demissão do governo, e em Junho a convocação de novas Cortes.
Com o despoletar da revolução da Maria da Fonte, e da Guerra Civil da Patuleia, Almeida Garrett que apoia o movimento, tem que passar a andar escondido, reaparecendo em junho, com a assinatura da Convenção do Gramido.
Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida Garrett é afastado da vida política, até 1852. Em 1849, passa uma breve temporada em casa de Alexandre Herculano, na Ajuda. Em 1850, subscreve com mais de 50 outras personalidades um Protesto contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, mais conhecida por «lei das rolhas». Costa Cabral nomeia-o, em dezembro, para a comissão do monumento a D. Pedro IV.
Com o fim do Cabralismo e o começo da Regeneração, em 1851, Almeida Garrett é consagrado oficialmente. É nomeado sucessivamente para a redacção das instruções ao projecto da lei eleitoral, como plenipotenciário nas negociações com a Santa Sé, para a comissão de reforma da Academia das Ciências, vogal na comissão das bases da lei eleitoral, e na comissão de reorganização dos serviços públicos, para além de vogal do Conselho Ultramarino, e de estar encarregado da redacção do que irá ser o Acto Adicional à Carta.

 Brasão do Visconde de Almeida Garrett (daqui)
Por decreto do Rei D. Pedro V de Portugal datado de 25 de junho de 1851 Garrett é feito Visconde de Almeida Garrett em vida (tendo o título sido posteriormente renovado por 5 vezes).
Em 1852 é eleito novamente deputado, e de 4 a 17 de agosto será ministro dos Negócios Estrangeiros (em governo presidido pelo Duque de Saldanha). A sua última intervenção no Parlamento será em março de 1854, em que ataca o governo na pessoa de Rodrigo de Fonseca Magalhães.
Falece em 1854, vítima de problemas intestinais, na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, Lisboa. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, tendo sido trasladado em 8 de março de 1926 para o Panteão Nacional, à data no Mosteiro dos Jerónimos. Encontra-se actualmente no Panteão Nacional, na Igreja de Santa Engrácia.

 in Wikipédia

As minhas asas

Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um Anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Bati-as, voava ao céu.

– Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.

Veio a cobiça da terra.
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.

– Veio a ambição, co'as grandezas,
Vinham para mas cortar
Davam-me poder e glória
Por nenhum preço as quis dar.

Porque as minhas asas brancas,
Asas que um Anjo me deu,
Em me eu cansando da terra
Batia-as, voava ao céu.

Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,

– Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.

E as minhas asas brancas,
Asas que um Anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.

Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!

– Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.

E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu
Pena a pena me caíram...
Nunca mais voei ao céu.

in
Flores sem Fruto (1845) - Almeida Garrett

sábado, maio 12, 2012

Manuel Alegre - 76 anos

(imagem daqui)
Manuel Alegre de Melo Duarte (Águeda, Águeda, 12 de maio de 1936) é um escritor e político português.
   
Biografia
Filho de Francisco José de Faria e Melo Ferreira Duarte e de Maria Manuela Alegre de Melo Duarte, a sua família tem referências na política e no desporto - o seu trisavô paterno, Francisco da Silva e Melo Soares de Freitas, fundador dos caminhos de ferro no Barreiro e primeiro visconde dessa localidade, esteve nas revoltas contra D. Miguel I, tendo sido decapitado na Praça Nova do Porto; o avô materno, Manuel Ribeiro Alegre, pertenceu à Carbonária e foi deputado à Assembleia Constituinte em 1911, bem como governador civil de Santarém; o bisavô paterno, Carlos de Faria e Melo, 1º barão de Cadoro, foi administrador do Concelho de Aveiro; o avô paterno, Mário Ferreira Duarte, introduziu, com Guilherme Pinto Basto, várias modalidades desportivas em Portugal, e deu o seu nome ao antigo Estádio de Futebol de Aveiro; o seu tio, Mário Duarte, foi também futebolista, e diplomata; o seu pai, Francisco José de Faria e Melo Ferreira Duarte, jogou na Académica e foi campeão de atletismo — o próprio Manuel Alegre sagrou-se campeão nacional de natação e foi atleta internacional da Associação Académica de Coimbra nessa modalidade; a avó paterna, Maria Teresa de Faria e Melo, foi a primeira baronesa da Recosta. A sua infância e juventude encontram-se retratadas no romance Alma (1995).
À excepção dos primeiros estudos, feitos em Águeda, frequentou diversos estabelecimentos de ensino: fez o primeiro ano do liceu no Passos Manuel, em Lisboa, no segundo esteve três meses como aluno interno no Colégio Almeida Garrett, no Cartaxo, seis meses no Colégio Castilho, em São João da Madeira, e depois foi para o Porto, concluindo os estudos secundários no Liceu Central Alexandre Herculano. Aí fundou, com José Augusto Seabra, o jornal Prelúdio.

Anos em Coimbra 
Em 1956 entra na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Pouco depois inicia o seu percurso político, nos grupos de oposição de estudantes ao Salazarismo. Torna-se militante do Partido Comunista Português em 1957, que viria a abandonar em 1968. Enquanto membro da Comissão da Academia, apoia a candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República, em 1958. Não teve menor relevo na actividade cultural: participou na fundação do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra e foi actor do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, deslocando-se para actuar em Bruxelas (1958), Cabo Verde (1959) e Bristol (1960).
Em 1960 publica poemas nas revistas Briosa (que dirigiu), Vértice e Via Latina, participando ainda na colectânea A Poesia Útil e Poemas Livres, juntamente com Rui Namorado, Fernando Assis Pacheco e José Carlos Vasconcelos.

Guerra Colonial
Em 1961 é chamado a cumprir serviço militar e assenta praça na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, de onde sai, pouco depois, para a Ilha de São Miguel. Aí desencadeia o movimento de Juntas de Acção Patriótica de Estudantes, constituídas por militares e civis. Além disso chega a traçar, com Melo Antunes e outros, um plano para tomar conta da ilha, que não se concretiza. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde é preso pela PIDE e condenado a seis meses de reclusão na Fortaleza de S. Paulo, em Luanda, acusado de tentativa de revolta militar contra à Guerra do Ultramar. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Regressa a Portugal em 1964. A ameaça de nova detenção e de julgamento pelo Tribunal Militar, por suspeita de traição, leva-o a passar à clandestinidade e a partir para o exílio, tendo sido auxiliado pelo poeta João José Cochofel, que o esconde no norte do país.


No exílio
Chegado a Paris em Julho de 1964, participa na Terceira Conferência e é eleito para a Direcção da Frente Patriótica de Libertação Nacional, presidida por Humberto Delgado. Isto dar-lhe-á a possibilidade de depor perante as Nações Unidas, como representante dessa organização, sobre a sua experiência em Angola, e contactar com os líderes dos movimentos africanos de libertação, como Agostinho Neto, Eduardo Mondlane, Samora Machel, Amílcar Cabral, Mário Pinto de Andrade e Aquino de Bragança. Em 1964 parte para o exílio, em Argel, onde é locutor da emissora de rádio A Voz da Liberdade. Nessa emissora difunde conteúdos destinados a lutar contra o Salazarismo, declarando apoio aos movimentos de guerrilha do Ultramar, que lutavam contra as Forças Armadas de Portugal, convertendo num símbolo de resistência e liberdade. Entretanto os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), são apreendidos pela censura, mas cópias manuscritas ou dactilografadas circulam de mão em mão, clandestinamente. Poemas seus, cantados, entre outros, por Amália Rodrigues, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luis Cília tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade.
Em 1968 entra em ruptura com o Partido Comunista Português, em consequência dos acontecimentos da Primavera de Praga e da invasão das forças do Pacto de Varsóvia naquele país.


De regresso a Portugal
Uma década depois regressa a Portugal, onde chega a 2 de maio de 1974. Entra nos quadros da Radiodifusão Portuguesa, como director dos Serviços Recreativos e Culturais, e é um dos fundadores (com Piteira Santos, Nuno Bragança e outros) dos Centros Populares 25 de Abril, uma organização que pretendia um papel cívico, complementar ao dos partidos.
Ainda em 1974 adere ao Partido Socialista, de que foi dirigente nacional. Estreia-se como deputado na Assembleia Constituinte, em 1975. É deputado à Assembleia da República a partir de 1976, integrando também o I Governo Constitucional (de Mário Soares), primeiro como Secretário de Estado da Comunicação Social, depois como Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro para os Assuntos Políticos. Também no Parlamento foi presidente da Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros, vice-presidente da Delegação Parlamentar Portuguesa ao Conselho da Europa, vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS e vice-presidente da Assembleia da República. Em 2004 foi candidato a secretário-geral do PS, perdendo para José Sócrates. Em 2006 foi candidato independente às eleições presidenciais, tendo obtido mais votos que Mário Soares, então candidato oficial do PS. Após essas eleições funda o Movimento de Intervenção e Cidadania. Em 2009 cessa o seu último mandato como deputado à Assembleia da República, após trinta e quatro anos no Parlamento. Mantém-se como membro do Conselho de Estado e das Ordens Honoríficas de Portugal. Em 2010 anuncia a sua candidatura às eleições presidenciais de 2011, conseguindo o apoio do PS, do BE, bem como dos dirigentes do MIC.
No total, foi deputado 34 anos. Reforma-se após deixar o parlamento. Aufere uma reforma de 3219,95€ (para a qual contaram os descontos efectuados como deputado), uma subvenção vitalícia superior a dois mil euros mensais. A sua reforma foi motivo de diversos boatos nos meios de comunicação social, que foram levados a Tribunal, culminando no pagamento a Manuel Alegre de uma indemnização no valor de quarenta mil euros, como compensação por danos morais em virtude de notícia publicada em Junho de 2006, no jornal diário Correio da Manhã, e que lhe imputava o recebimento de uma reforma superior a três mil euros por escassos meses de trabalho na RDP, esquecendo os mais de 30 anos em que Manuel Alegre descontou para a Caixa Geral de Aposentações enquanto deputado na Assembleia da República. Manuel Alegre ganhou os recursos em sede de tribunal de primeira instância, de novo na relação de Lisboa, e de novo em sede de Supremo Tribunal de Justiça. Acumula ainda uma subvenção vitalícia superior a dois mil euros mensais, aplicada a todos os titulares de cargos públicos com desempenhos superiores a 12 anos.
Casou duas vezes, primeiro com Isabel de Sousa Pires, de quem não teve filhos, e depois com Mafalda Maria de Campos Durão Ferreira (Lisboa, 13 de Dezembro de 1947), de quem tem dois filhos e uma filha.
   
Obra literária
Além da actividade política, saliente-se o seu proeminente labor literário, quer como poeta, quer como ficcionista. Entre os seus inúmeros poemas musicados contam-se a Trova do vento que passa, cantada por Adriano Correia de Oliveira, Amália Rodrigues, entre muitos outros. Reconhecido além fronteiras, é o único autor português incluído na antologia Cent poemes sur l'exil, editada pela Liga dos Direitos do Homem, em França (1993). Em abril de 2010, a Universidade de Pádua, em Itália, inaugurou a Cátedra Manuel Alegre, destinada ao estudo da Língua, Literatura e Cultura Portuguesas. Pelo conjunto da sua obra recebeu, entre outros, o Prémio Pessoa (1999) e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1998). É sócio-correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, eleito em 2005.

Poesia
  • 1965 - Praça da Canção
  • 1967 - O Canto e as Armas
  • 1971 - Um Barco para Ítaca
  • 1976 - Coisa Amar (Coisas do Mar)
  • 1979 - Nova do Achamento
  • 1981 - Atlântico
  • 1983 - Babilónia
  • 1984 - Chegar Aqui
  • 1984 - Aicha Conticha
  • 1991 - A Rosa e o Compasso
  • 1992 - Com que Pena — Vinte Poemas para Camões
  • 1993 - Sonetos do Obscuro Quê
  • 1995 - Coimbra Nunca Vista
  • 1996 - As Naus de Verde Pinho
  • 1996 - Alentejo e Ninguém
  • 1997 - Che
  • 1998 - Pico
  • 1998 - Senhora das Tempestades
  • 2001 - Livro do Português Errante
  • 2008 - Nambuangongo, Meu Amor
  • 2008 - Sete Partidas

Ficção

Literatura Infantil
  • 2007 - BARBI-RUIVO, O meu primeiro Camões, ilustrações de André Letria, Publicações Dom Quixote, 1ª edição, Novembro de 2007.
  • 2009 - O PRÍNCIPE DO RIO, ilustrações de Danuta Wojciechowska, Publicações Dom Quixote, Abril de 2009.

Outros
  • 1997 - Contra a Corrente (discursos e textos políticos)
  • 2002 - Arte de Marear (ensaios)
  • 2006 - O Futebol e a Vida, Do Euro 2004 ao Mundial 2006 (crónicas)


Pedro Soldado - Manuel Freire
Música de Manuel Freire e poesia de Manuel Alegre

Já lá vai Pedro Soldado
Num barco da nossa armada
E leva um nome bordado
Num saco cheio de nada
Triste vai Pedro Soldado


Branda rola não faz ninho
Nas agulhas do pinheiro
Não é Pedro Marinheiro
Nem no mar é seu caminho


Nem anda a branca gaivota
Pescando peixes em terra
Nem é de Pedro essa rota
Dos barcos que vão à guerra


Onde não anda ceifando
Já o campo se faz verde
E em cada hora se perde
Cada hora que demora
Pedro no mar navegando


Não é Pedro pescador
Nem no mar vindimador
Nem soldado vindimando
Verde vinha vindimada
Triste vai Pedro Soldado


Já lá vai Pedro Soldado
Num barco da nossa armada
Deixa um nome bordado
E era Pedro Soldado


Branda rola não faz ninho
Nas agulhas do pinheiro
Não é Pedro Marinheiro
Nem no mar é seu caminho


Deixa um nome bordado
E era Pedro Soldado
E era Pedro Soldado

sábado, fevereiro 25, 2012

A ética republicana e socialista - o estranho caso do deputado ladrão que, afinal, só atenta contra a liberdade de imprensa




(imagens daqui)

Crime de atentado à liberdade de imprensa
Caso dos gravadores: Ricardo Rodrigues julgado em Maio

A 30 de abril de 2010 Ricardo Rodrigues abandonou a entrevista levando os gravadores dos jornalistas

Ricardo Rodrigues, deputado do PS que a 30 de abril de 2010 abandonou uma entrevista da revista ‘Sábado’, levando os gravadores dos jornalistas nos bolsos, vai ser julgado a 15 de Maio, estando acusado do crime de atentado à liberdade de imprensa, revelam documentos a que o CM teve acesso. 

Público decidiu avançar com a acusação após concluir que o deputado levou consigo os gravadores para "obstar a que as declarações por si prestadas fossem utilizadas e publicadas". O arguido contesta, considerando que os factos que praticou não preenchem a "tipicidade objectiva e subjectiva" do crime de que é acusado.
Em caso de condenação, Ricardo Rodrigues pode enfrentar uma pena de prisão de três meses a dois anos, ou multa de 25 a 100 dias. O deputado não vai responder pelo crime de furto.
O caso remonta a abril de 2010, durante uma entrevista dos jornalistas Maria Henrique Espada e Fernando Esteves. Após uma pergunta sobre o envolvimento do deputado num escândalo de pedofilia nos Açores, Ricardo Rodrigues levantou-se, pegou em dois gravadores e meteu-os no bolso, abandonando a sala onde estava no Parlamento. Só depois de o deputado ter saído, é que os jornalistas se aperceberam que este tinha levado os gravadores. Um facto que ficou registado pela câmara da ‘Sábado' que filmava a entrevista.
Até ao fecho desta edição não foi possível contactar Ricardo Rodrigues. 

in CM - ler notícia

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Passos Manuel morreu há 150 anos

Manuel da Silva Passos (São Martinho de Guifões, Bouças, 5 de janeiro de 1801 - Santarém, 16 de janeiro de 1862), mais conhecido por Passos Manuel, bacharel formado em Direito, advogado, parlamentar brilhante, ministro em vários ministérios e um dos vultos mais proeminentes das primeiras décadas do liberalismo, encarnando a esquerda do movimento vintista na fase inicial da monarquia constitucional, tendo depois assumido o papel de líder incontestado dos setembristas. Foi seu irmão mais velho, e inseparável aliado na vida política, José da Silva Passos, um também proeminente político da esquerda liberal. Ficou célebre a sua declaração de princípios: A Rainha é o chefe da nação toda. E antes de eu ser de esquerda já era da Pátria. A Pátria é a minha política.

Manuel da Silva Passos nasceu na freguesia de Guifões, no então julgado de Bouças, hoje concelho de Matosinhos, filho de Antónia Maria da Silva Passos e de seu marido Manuel da Silva Passos, lavrador com interesses na Real Companhia dos Vinhos do Alto Douro e em casas comerciais do Porto. Era o segundo filho do casal. No dizer de Oliveira Martins, os seus pais, pequenos proprietários rurais do Minho, tinham na Companhia dos Vinhos e em casas de comércio do Porto o melhor de sessenta mil cruzados de riqueza móvel. Tal permitiria mais tarde a Manuel Passos, e a seu irmão primogénito José Passos, serem mandados a Coimbra, onde só iam os abastados.
Como Manuel e o seu irmão José desde cedo manifestassem inteligência e vontade de estudar, seus pais, reconhecendo que o melhor legado que poderiam deixar-lhes era a instrução, empregaram todos os possíveis esforços para que recebessem uma boa educação. Depois de frequentarem os estudos menores no Porto, os dois irmãos matricularam-se em 1817 nas Faculdades de Cânones e de Leis da Universidade de Coimbra.
Na Universidade, Manuel da Silva Passos revelou-se um estudante brilhante, passando a receber um prémio pecuniário de 40$000 réis anuais, envolvendo-se profundamente na vida académica, então particularmente intensa dada a instabilidade política e social que Portugal atravessava.
Na verdade, o fermento deixado pela Revolução Francesa e pela Guerra Peninsular, a que se associava inquietação causada pela continuada ausência da Corte, que entretanto se fixara no Rio de Janeiro, tinham causado o aparecimento de grandes tensões na sociedade portuguesa. Reflexo dessa realidade, a Universidade de Coimbra era um viveiro de ideais revolucionários e de novas tendências de organização social e política, ambiente a que os irmãos Passos não foram imunes.
Assim que ocorreu a Revolução de 1820, Manuel Passos, e José Passos, seu companheiro inseparável, aderiram entusiasticamente aos seus objectivos, revelando-se ardentes liberais.
Apesar da perturbação causada pela revolução e pelo estado de efervescência em que vivia a Universidade de Coimbra, Manuel Passos em 1822 formou-se em Leis (Direito), mantendo-se contudo estudante em Coimbra, onde em parceria com o irmão, editou no primeiro semestre de 1823 um periódico intitulado Amigo do Povo.
O Amigo do Povo teve apenas 4 números, já que pouco depois cessou a sua publicação, por nesse mesmo ano de 1823 ter a reacção triunfado na Vilafrancada e, em consequência, a edição ter sido proibida. Era uma folha de carácter académico, onde, entre citações latinas, se exaltavam os ideais democráticos da Revolução Francesa, ao mesmo tempo que se procurava minimizar os excessos sanguinários de Marat e dos seus seguidores. Assumindo uma postura simultaneamente radical e conciliadora, que aliás marcaria o seu percurso político posterior, os irmãos Passos assumiam-se como democratas e amigos do povo enquanto procuravam mostrar não ser inimigos de quem quer que fosse.

Exílio
Quando a 16 de Maio de 1828 os liberais do Porto se levantaram contra o governo de D. Miguel, depois do golpe de Estado que este dera em Lisboa restabelecendo a monarquia absoluta, e malograda a Belfastada, viu-se obrigado a procurar refúgio, com seu irmão e outros, no exército liberal que retirou para a Corunha, onde se juntou à primeira vaga dos emigrados liberais.
Da Corunha partiu para Plymouth, onde chegou a 26 de setembro de 1828, data que registou num soneto escrito por ele, com o pseudónimo arcádio de Almeno Damoeta, e dedicado à rainha D. Maria II.
De Plymouth seguiu depois para a Bélgica, onde chegou a 30 de janeiro de 1829, e daí para França. Instalou-se em Eaubonne, nos arredores de Paris, onde passou a frequentar a tertúlia de emigrados portugueses que se reunia no Café da La Paix, com a qual viveu intensamente o movimento revolucionário que abalou a França em julho de 1830. No entretanto, a Europa abriu-lhes os olhos para o atraso do seu país e para a necessidade de reformas inadiáveis, que os irmão Passos passam a defender ardentemente em textos panfletários.
Foi entre os emigrados que tinham procurado refúgio naquele país que os irmãos Passos, com destaque para Manuel, se foram tornando conhecidos e estabelecendo relacionamentos e cumplicidades políticas que perdurariam por toda a vida. Ali se relacionou de perto, entre outros, com João Oliveira e Daun, o futuro marechal e duque de Saldanha, a quem dirigiu um soneto laudatório com o atrás referido pseudónimo de Almeno Damoeta e a quem mais tarde defenderia, em opúsculos e na imprensa, de acusações de traição durante a Belfastada, que lhe foram feitas aquando da sua ruptura com o grupo anglófilo do movimento liberal e com o regente D. Pedro IV.
Em colaboração com o irmão, iniciou em Paris a publicação de opúsculos versando matérias da política portuguesa, entre os quais se destacam, pelo seu impacto entre os emigrados, dois Memoriaes sobre o estado do país e sobre a necessidade de destruir o governo de D. Miguel e de restabelecer o trono da rainha D. Maria II. Tiveram também ampla divulgação os opúsculos intitulados Breve razoamento a favor da liberdade lusitana e Exame de algumas opiniões e doutrinas de Filipe Ferreira de Araújo e Castro e de Silvestre Pinheiro Ferreira.
Todos estas publicações começaram a dar uma certa notoriedade ao seu nome, a qual foi amplificada com a sua intervenção na grave desinteligência que se levantou entre o ministro da guerra liberal Cândido José Xavier e o coronel Rodrigo Pinto Pizarro, seu amigo dos tempos do Porto. Tal disputa deu origem a que os dois irmãos Passos emitissem opinião num opúsculo impresso em Paris em 1832, e intitulado Parecer de dois advogados da Casa do Porto. Nesse mesmo ano, publicaram, em português e francês, uma resposta a novas acusações de concluio e traição durante a Belfastada, veiculadas pelo Times contra o futuro 1.º duque de Saldanha. Tudo isto foi dando aos irmãos Passos reputação e prestígio, colocando-os entre as vozes mais escutadas da corrente saldanhista, então os liberais mais radicais e francófilos, a verdadeira esquerda dos emigrados.
Manuel Passos assumia-se como um democrata incorrigível e adepto intransigente da soberania popular, recusando por isso a solução de liberalismo outorgado, materializada pela Carta Constitucional da Monarquia Portuguesa de 1826, a qual em seu entender era ilegítima por ter emanado da vontade do soberano e não da vontade, essa sim soberana, do povo. Por isso defendia, para depois da vitória, a convocação imediata de um novo congresso constituinte destinado a reformar a Carta.
Nos seus panfletos é clara a sua cisão com o corpo principal do movimento liberal, aconselhando repetidamente o imperador D. Pedro IV a separar-se dos maus amigos que ele investira na Regência da Terceira. Contudo, fazendo jus ao seu espírito conciliador, já antes patente no Amigo do Povo, defende coerentemente a fusão entre moderados e radicais em torno dos objectivos principais do liberalismo.
Quando D. Pedro organizou em Belle Isle a expedição de socorro aos liberais da ilha Terceira, os irmãos Passos, dada a sua inimizade em relação à Regência instalada naquela ilha, foram dos que ficaram para trás, não tendo passado pelo exílio nos Açores nem tido parte no Desembarque do Mindelo.
Consolidado a presença liberal no Porto, apresentou-se ali a 9 de agosto de 1832, onde foi integrado, por ordem de Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, o futuro marquês de Sá da Bandeira, como oficial no Batalhão de Voluntários de Leça, estacionado na Foz do Douro, passando a participar intensamente na actividade política que se desenvolveu durante o cerco do Porto, iniciando o percurso que o levaria ao Parlamento e ao Governo.

Actividade parlamentar inicial
Na fase anterior à Convenção de Évora-Monte, e coerente com a tónica conciliadora que sempre pôs na sua intervenção política, apesar do radicalismo dos objectivos que perseguia, liderou a oposição ao Decreto de 31 de agosto de 1833, assinado por D. Pedro IV, que obrigava os miguelistas a responder com os seus bens pessoais para ressarcimento dos prejuízos causados aos liberais durante os governos da usurpação. Na opinião de Manuel Passos, que depois levou para as Cortes, os liberais, como verdadeiros democratas, deveriam defender indemnizações pagas pelo Estado aos vencedores, evitando novas perseguições e esbulhos, agora de sinal contrário.
Também nesse período, assume a chefia da Maçonaria do Norte e, aproveitando as primeiras eleições municipais do regime liberal, faz campanha para a eleição de seu irmão José da Silva Passos, o qual encabeçava a lista patriótica que venceu a eleição municipal realizada a 21 de fevereiro de 1834 no Porto.
Com uma reputação de homem de esquerda, logo em 1834 foi eleito deputado pelo Douro, prestando juramento a 23 de agosto de 1834, para a primeira legislatura das Cortes após o termo das guerras liberais. Aí, o seu talento parlamentar rapidamente o conduziu à ribalta do campo saldanhista, passando a representar nas Cortes a esquerda mais radical do vintismo.
Quando as Cortes abriram, em 15 de agosto de 1834, parecia talhada para o seu talento parlamentar a questão da legitimidade da regência de D. Pedro IV, que então surgia cravada de dificuldades e cercada de perigos. Coerente com o que defendia desde o exílio, combateu a regência e assumiu definitivamente o papel de líder da oposição constitucional, o chamado partido popular.
A questão da regência resultava de D. Pedro ter assumido o poder ditatorialmente, isto é sem confirmação parlamentar, e Manuel Passos e a esquerda vintista entenderem que, segundo a Carta Constitucional, não o podia ele exercer.
Nas Cortes, logo nas primeiras palavras que pronunciou, se reconheceu que estava ali um orador admirável com todo o fogo da palavra tribunícia, e ao mesmo tempo com toda a urbanidade da palavra académica. Na sua relação com D. Pedro, tratava com toda a consideração e respeito o homem que prestara tão relevantes serviços à causa da Liberdade, mas punha acima de todas as considerações o respeito pela lei: Um bom princípio, dizia ele, vale mais do que um homem, mesmo quando esse homem é o imperador, poder-se-ia acrescentar. Essas questões de princípio foram a norma constante de toda a sua vida política.
Mantendo a defesa da recusa do confisco dos bens pessoais dos vencidos da guerra civil, enfrentou, logo na estreia dos debates parlamentares, outro orador de peso, na pessoa de Rodrigo da Fonseca Magalhães, de quem teria de ser muitas vezes adversário político, mas sempre amigo pessoal. Nunca Manuel Passos subiria tão alto em eloquência e verve como nesse pleito da lei de indemnizações, com a qual se pretendia arrancar aos bens dos vencidos o necessário para indemnizar as vítimas do regime anterior. Segundo Manuel Passos, era mentir às tradições generosas do partido liberal, era arrolar para satisfazer vindictas e caprichos de momento, os grandes princípios do novo regime.
Com estas posições de conciliação, Manuel Passos, ou Passos Manuel, como então lhe começaram a chamar, para o distinguirem de seu irmão José Passos, começou por inspirar simpatias aos próprios adversários e ardente entusiasmo aos seus correlegionários da ala esquerda.
Nessa primeira legislatura do novo regime, fazendo sempre cerrada oposição, primeiro ao governo de transição de Bento Pereira do Carmo e, depois da morte de D. Pedro IV, ao ministério presidido por Pedro de Sousa Holstein, conhecido pelo ministério dos devoristas, e aos que se lhe seguiram.
Neste processo, Manuel Passos foi, de todos os políticos novos postos em evidência pela eleição de 1834, aquele que se mostrou mais conhecedor dos assuntos políticos, o parlamentar mais brilhante e o democrata mais ardente. E fê-lo sem perder as suas grandes qualidades de urbanidade e cortesia.
Entretanto sucediam-se os ministérios uns aos outros, sem estabilidade nem firmeza. Ao primeiro ministério, formalmente da iniciativa da rainha D. Maria II, mas na realidade indigitado por disposição testamentária de Pedro IV, presidido pelo duque de Palmela, que caíra face à grande onda de contestação que varria o país, segue-se novo ministério de transição, presidido D. Vitório Maria Francisco de Sousa Coutinho Teixeira de Andrade Barbosa, conde de Linhares, que conduz ao primeiro governo claramente cartista presidido por João Oliveira e Daun, o marechal Saldanha.
Com o aparecimento do cartismo no poder, Manuel Passos redobrou a sua oposição, sendo dentro em breve secundado por uma crescente adesão militar, particularmente quando, obrigado pelos compromissos da Quádrupla Aliança, o governo se vê forçado ao envio de um corpo expedicionário português de 6 000 homens para Espanha, a pedido de Juan Álvarez Mendizábal, para combater os carlistas. O descontentamento é tal que os militares se pronunciam, impondo pela força a queda do governo. Saldanha caía na ponta das espadas e estavam inaugurados os pronunciamentos militares em Portugal, iniciando uma sequência de eventos que se repetiria dezenas de vezes durante os 150 anos seguintes.
Foi por essa altura nasceu a expressão comer à mesa do orçamento, para designar a política de desenfreado favoritismo na distribuição de empregos e subsídios públicos, de que com demasiada frequência tem enfermado a governação portuguesa. A expressão nasceu de uma declaração de Rodrigo da Fonseca Magalhães, que foi Ministro do Reino entre 15 de julho e 18 de novembro de 1835, durante o governo de Saldanha, onde este dizia, referindo-se aos adversários políticos, que postos todos a comer à mesma mesa depressa passariam de convivas satisfeitos a amigos dedicados.
A aplicação da política subjacente à mesa do orçamento teve especial desenvolvimento em 1835 e 1836, levando a uma distribuição sem precedentes de títulos nobiliárquicos e de prebendas várias, que foi bem glosada na célebre tirada de Almeida Garrett: foge, cão, que te fazem barão. Para onde? Se me fazem visconde…. Também significativos são os seguintes versos do Brás Tisana:
Uma nação de empregados
é Portugal? Certamente:
Até D. Miguel, do trono
De Maria… é pretendente.
Em Lisboa, o Clube dos Camilos, assim chamado por celebrar as suas sessões no antigo convento dos Camilos, tocava as raias da demagogia. O ministério que tinha pouca confiança no seu apoio parlamentar, proibiu as sessões, e com isso ainda mais exacerbou o país.
Ao governo presidido por Saldanha sucedeu novo ministério de carácter transitório, agora presidido por José Jorge Loureiro, o qual caiu em consequência da atitude indecisa que adoptou na questão da nomeação do rei-consorte D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota para comandante em chefe do exército. O ministério seguinte, presidido pelo 1.º duque da Terceira, resolveu a questão, nomeando D. Fernando para o lugar. Este e outros actos do ministério, porém, levantaram grande agitação entre a esquerda, capitaneada por Manuel Passos, a qual foi endurecendo a suas posições anti-cartistas e preparando uma fortíssima campanha para o acto eleitoral marcado para 17 e 31 de Julho de 1836.
Contudo, em boa parte graças ao caciquismo e à manipulação das urnas, as eleições foram claramente favoráveis ao governo cartista em toda a parte, excepto em duas circunscrições, o distrito do Porto e o distrito de Viseu. As novas câmaras tinham sido convocadas para 5 de agosto de 1836, mas o governo resolveu adiá-las para 11 de setembro.
Porém, quando no dia 9 de setembro (de 1836) desembarcaram em Lisboa os deputados oposicionistas vindos do Porto, foram estes, entre os quais Manuel Passos, recebidos com o mais vivo entusiasmo. Em breve, a ovação que lhes foi feita acabaria por tomar o carácter de uma clara manifestação política anticartista, pondo em causa o resultado das eleições. Quando, nesse mesmo dia, a Guarda Nacional pegou em armas contra o governo, tinha rebentado a revolução.

A Revolução de Setembro e a subida ao poder
Quando a 9 de setembro de 1836 a Guarda Nacional, capitaneada por Francisco Soares Caldeira, pegou em armas e tratou de ocupar a capital, proclamando que a Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822, estava novamente em vigor, embora com as modificações que as Cortes lhes introduzissem, estava desencadeada a Revolução de Setembro.
Aquela revolução mudaria de forma decisiva o panorama político português. Os seus aderentes, entre os quais Passos Manuel, passariam a ser conhecidos pelos setembristas, graças à coincidência do mês da Revolução com o da aprovação da Constituição de 1822, que pretendiam restaurada. Em contraposição, os apoiantes do governo, e por consequência da Carta Constitucional, passaram a ser conhecidos pelos cartistas.
A reacção governamental e da rainha foram ineficazes e as tropas de linha, enviadas para sufocar o movimento, fraternizaram com a Guarda Nacional. A rainha, obrigada a ceder a um movimento que não pudera reprimir, chamou em 10 de setembro ao seu conselho os homens que representavam a opinião predominante. Formou-se novo ministério, presidido por D. José Manuel da Cunha Faro Menezes Portugal Gama Carneiro e Sousa, 4.º conde de Lumiares, que também ficou com a pasta da Guerra, que integrava Vieira de Castro na Justiça; o visconde de Sá da Bandeira, na Fazenda e interino dos Negócios Estrangeiros; Vasconcelos Correia, na Marinha; e Passos Manuel, no poderoso Ministério do Reino.
Produto de um pronunciamento militar e constituído ao arrepio do resultados das eleições, e portanto sem base parlamentar, este ministério tinha forçosamente de assumir a ditadura, isto é de governar sem legitimação parlamentar. Assumiu-se a ditadura, cancelou-se a convocatória das Cortes, tratando-se ao mesmo tempo de convocar imediatamente eleições para novas Cortes, agora com poderes constituintes.
Não demoraram as reacções contra o ministério setembrista. Logo no dia 18 de Setembro, 27 membros da câmara alta protestaram contra a revolução, ao mesmo tempo que corriam boatos de uma iminente contra-revolução.
No dia 5 de Outubro constou ao governo que o Batalhão de Caçadores n.º 5 se preparava para se rebelar. O Batalhão foi de imediato mandado para o Algarve, ostensivamente para combater as guerrilhas do Remexido, as quais pareciam operar de forma coordenada com os movimentos carlistas da Andaluzia. Como o Batalhão de Caçadores n.º 5 não inspirava confiança, logo atrás marchou para sul do rio Tejo uma divisão comandada pelo general José Lúcio Travassos Valdez, 1.º barão de Bonfim.
Contudo, o maior desafio à ditadura setembrista veio da própria monarca, a qual, decididamente partidária da Carta Constitucional de 1826, tudo fazia para evitar a elaboração de nova Constituição e suportava mal os anseios de soberania do povo manifestados pelos setembristas.
Sob o impulso de D. Maria II e dos seus conselheiros cartistas, estava o ministério no poder há nem dois meses, quando a 3 de novembro rebentou o movimento da Belenzada. Naquele dia, a rainha retirou-se para Belém, demitiu o ministério, organizou outro gabinete, e fez proclamar nos arredores do Paço a restauração da Carta Constitucional.
Conhecedor do que se passava, Manuel Passos tratou logo de apelar à Guarda Nacional, e achou-a pronta a acompanhá-lo. A tropa de linha; que estava em Lisboa, manteve-se também fiel ao ministério. Com este apoio, os membros do governo não aceitaram as suas demissões. Em presença desta atitude, a rainha desanimou, voltou para Lisboa, e continuou a funcionar o regime estabelecido.
O movimento da Belenzada malogrou-se, além de outras causas, pela intervenção dos marinheiros de dois navios de guerra britânicos que estavam fundeados no Tejo. Os britânicos desembarcaram, diziam eles, com o fim de proteger a rainha, o que irritou profundamente os próprios cartistas. Foi Manuel Passos quem primeiro protestou, e com toda a energia, contra a intervenção inglesa, mais ou menos disfarçada. Estava detido em Belém, onde a rainha o mandara chamar.
Na sequência da tentativa de contra-revolução, a 5 de novembro a rainha nomeava presidente do conselho de ministros o visconde de Sá da Bandeira, que chamou logo para seu lado Vieira de Castro e Passos Manuel. Até 1 de Junho do 1837, pois tanto se dilatou esta situação, Manuel Passos teve a seu cargo, ora alternada, ora simultaneamente, as pastas do Reino, da Fazenda e da Justiça.
No interim, José Bernardino de Portugal e Castro, marquês de Valença e conde de Vimioso, foi formalmente presidente do ministério durante um dia, de 4 para 5 de novembro de 1836, o que seguramente garante ao seu governo um lugar entre os recordistas do mais curto mandato político.
Entretanto a 20 de novembro de 1836 realizaram-se novas eleições gerais, e as cortes constituintes, que haviam sido convocadas a 12 de outubro de 1836, reuniram-se pela primeira vez no dia 18 de janeiro de 1837, numa sessão legislativa que se prolongaria até 4 de abril de 1838. Para elas Manuel Passos foi eleito deputado pelo Porto, prestando juramento a 25 de janeiro de 1837.
No entretanto a sua actuação à frente dos setembristas, e a forma como dirigiu a revolução de setembro, com o proclamado desígnio de a encaminhar no sentido dos interesses do país, depressa alienaram os seus apoiantes mais radicais, os quais se foram lentamente distanciando do governo. Apesar disso, enquanto permaneceu no ministério, Manuel Passos desenvolveu uma acção governativa de uma energia e capacidade de inovação sem precedentes.

Ação governativa
Apesar de posições parlamentares mais moderadas assumidas a partir de 1835, Passos Manuel foi nomeado Ministro do Reino após o movimento dos Guardas Nacionais e foi sempre considerado como uma das figuras chave do Setembrismo. Esteve no poder durante 9 meses, de 10 de setembro de 1836 a 1 de junho de 1837.
Foi um período curto, durante o qual, favorecido pela situação de ditadura que dispensava a apreciação parlamentar, deixou um extraordinário conjunto de reformas, algumas delas seminais para aspectos ainda hoje visíveis na sociedade portuguesa. Alguns dos relatórios que precedem os seus decretos são verdadeiras obras-primas de análise social e de perspicácia na procura de soluções para alguns dos principais bloqueios da sociedade portuguesa.
Passos Manuel, como Ministro do Reino, ao tempo responsável pelas políticas educativas, começou logo a tratar da instrução pública. Pelo decreto de 18 de novembro de 1836, criou em Lisboa um depósito geral de máquinas, modelos, utensílios, desenhos, descrições, e livros relativos às diferentes artes e ofícios, com a denominação de Conservatório das Artes e Ofícios de Lisboa, e com o fim principal de promover a instrução prática em todos os processos industriais por meio da imitação. Por decreto de 5 de janeiro de 1837 foi também criado no Porto um depósito geral com a designação de Conservatório Portuense de Artes e Ofícios, com o mesmo fim, método de organização, administração e regulamento que o de Lisboa. Foi o embrião do ensino técnico em Portugal.
Deve-se também a Passos Manuel a fundação da Academia de Belas Artes, pois foi ele quem referendou os três decretos de 25 de outubro de 1836, todos relativos àquela Academia: o primeiro daqueles decretos teve por fim criar a Academia; o segundo, colocá-la numa parte do edifício do extinto convento de São Francisco da Cidade, criando uma biblioteca especial de Belas Artes no mesmo edifício; e o terceiro nomeou para os diversos empregos da Academia as pessoas constantes duma relação que acompanhava o mesmo decreto. A Academia ficava sob a alta protecção da rainha D. Maria II e do rei D. Fernando.
Nesse mesmo ano de 1836, também por iniciativa de Passos Manuel, foi criada, por decreto de 27 de outubro, a Casa Pia de Évora. Por decreto de 12 de janeiro de 1837, referendado pelos ministros Passos Manuel e visconde de Sá da Bandeira, foi criada uma Casa Pia, com a denominação de Asilo Rural Militar, destinada exclusivamente a recolher, alimentar e educar 80 alunos, filhos de praças de pré do exército. O asilo ficaria assente no edifício do extinto Convento do Varatojo, aplicando-se-lhe também a respectiva cerca e uma porção de terreno não muito distante do estabelecimento.
A 28 de setembro de 1836, Manuel da Silva Passos encarregou Almeida Garrett de elaborar e propor ao governo um plano para a fundação e organização do Teatro Nacional de Lisboa, devendo ao mesmo tempo informar acerca das providências necessárias para efectuar os melhoramentos necessários nos teatros existentes. Do plano elaborado por Almeida Garrett resultou o decreto de 15 de novembro, criando a Inspecção-Geral de Teatros e simultaneamente estabelecendo um Conservatório Geral da Arte Dramática.
A 17 de novembro de 1836 publicou um decreto criando liceus nas capitais de distrito, lançando assim as bases do actual sistema de ensino. Apesar do decreto apenas ter tido execução mais de uma década depois, ficou lançada a semente do sistema de ensino secundário, que ainda persiste.
Por decreto de 29 de Dezembro de 1836 deu uma nova organização às escolas de cirurgia de Lisboa e Porto, dando-lhes a denominação de Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Também se deve a Passos Manuel, a fundação, em janeiro de 1837, da Academia Politécnica do Porto em substituição da antiga Academia Real de Marinha.
Ainda em matéria de políticas de educação, transformou os estudos da Universidade, formou um novo plano para as escolas de instrução primária, recomendou a criação de associações agrícolas, fabris e industriais nas terras mais importantes do reino. No contexto desta reforma, por decreto de 5 de dezembro de 1836, é criada a primeira faculdade de Direito portuguesa, pela fusão das anteriores faculdades de Cânones e de Leis da Universidade de Coimbra. Já em 1833, no âmbito de uma comissão encarregada de propor uma reforma da instrução pública, Alexandre Tomás de Morais Sarmento, havia proposto a junção das escolas, sem sucesso.
Além das grandes medidas já citadas, Passos Manuel resolveu, reformar o sistema tributário, com destaque para as questões aduaneiras. Para tal, numa linha proteccionista e desenvolvimentista, promulgou as pautas de 10 de janeiro de 1837, das quais tentou fazer instrumento para combater o devorismo das classes mais abastadas. Deu com isso um novo fôlego ao comércio externo, que andava ainda regulado pela pauta aduaneira de 14 de fevereiro de 1782, a qual, deixava de fora a Inglaterra, a principal origem das importações portuguesas. Com esta medida, que fora laboriosamente preparada pelos governos cartista, que contudo foram incapazes de a pôr em prática, Portugal recuperou a sua soberania alfandegária e ficou dotado de medidas proteccionista que atingiam, pela primeira vez, os interesses comerciais britânicos.
Em 31 de dezembro de 1836 promulgou um novo Código Administrativo, no qual também colaborou seu irmão José da Silva Passos. Esse Código inspirava-se nas reformas iniciais de Mouzinho da Silveira e orientava-se por uma filosofia democrática e descentralizadora da administração pública, ainda não atingida no Portugal de hoje.
Tratou também o notável ministro de providenciar com relação ao modo de facilitar aos devedores à fazenda o pagamento dos seus débitos, sem prejuízo do tesouro, e a respeito da exportação dos vinhos do Douro, da redução de tenças e de pensões e da extinção do papel-moeda. Outra importante reforma foi a criação do registo hipotecário.
O ímpeto reformista de Passos Manuel ia-lhe granjeando um crescente número de adversários, até nas fileiras esquerdistas, prontas para contestar a situação mas incapazes de afrontar os interesses instalados. Foi um deles, José Estêvão, que se estreou na tribuna combatendo o ministério, afirmando que todas as leis publicadas não prestavam e que Passos Manuel, ao governar em ditadura, violara a Constituição de 1822, razão pela qual o queria ver enforcado.
A moderação alienara-lhe o apoio da esquerda, sem lhe trazer a confiança da direita. A maioria dos parlamentares considerava perfeitamente transitórias e efémeras as reformas de Passos Manuel, mesmo aquelas que ainda subsistem quase dois séculos depois, e a sua base de apoio foi sendo sucessivamente reduzida.
Quando a 5 de abril se começou a discutir-se a Constituição, as propostas reformistas de Passos Manuel já agradavam a poucos. A ruptura surgiu na sessão de 10 de maio de 1837, quando se discutia a criação de lugares de Secretários de Estado e a proposta de Passos Manuel foi rejeitada pela Câmara que vota 63 contra 33. Triunfou uma maioria de ordeiros e dissidentes. Costa Cabral vota contra Passos Manuel.
Aquela votação tornava patente o isolamento do governo e conduziu à sua rápida desagregação. Naquela mesma data desapareceu o espaço de liderança de Passos Manuel, e terminou, na prática, a meteórica carreira política que iniciara uma década antes.
Nesse mesmo dia Passos Manuel e os seus colegas de governo pediram a demissão, mantendo-se um ministério de apenas dois ministros, cada um acumulando meia dúzia de pastas, só governando nominalmente. A tudo isto, veio juntar-se, três dias depois, a Conspiração das Marnotas, de cariz miguelista.
Face ao aprofundar da crise política, a 2 de junho de 1837, é nomeado um ministério presidido por António Dias de Oliveira, com claro carácter de transição. Passos Manuel abandona em definitivo a governação.
Desencantado com a política, com a saúde debilitada, afasta-se de todos, incluindo do seu irmão, e recolhe-se à vida privada, constituindo família e dedicando-se à lavoura no Ribatejo. Apesar desta saída, diz-se que acompanhou lealmente os seus amigos, sem despertar a cólera dos inimigos.

Família
Retirado da vida política, Manuel da Silva Passos casou a 28 de ezembro de 1838 com D. Gervásia de Sousa Falcão, filha de João de Sousa Falcão e de sua mulher D. Maria Xavier Farinha Falcão, uma rica herdeira descrita como senhora de porte gentil e grave. Deste consórcio houve duas filhas: D. Beatriz de Passos Manuel, que teve o título de viscondessa de Passos, em atenção aos serviços de seu pai, e D. Antónia de Passos Manuel, que casou com Pedro de Sousa Canavarro, neto do 1.º barão de Arcossó.
Na sequência do seu casamento, em 1840 instalou-se em Constância e depois nas suas propriedades de Alpiarça. Em 1841 adquiriu a Alcáçova de Santarém, em tempos residência real, nas proximidades da Porta do Sol, onde fixou a sua residência permanente e onde haveria de falecer.
Como depois diria, a 18 de outubro de 1844, nas Cortes, não há melhor antídoto para as paixões políticas do que o casamento e a gordura. Apesar de assim o fazer crer, não parece ser verdade que tenha abdicado voluntariamente da política. Antes parece ter retirado devido à perda de apoios a que o seu reformismo e vontade de conciliação o conduziu.
Tanto assim é que voltou a ser eleito pelo Porto nas eleições gerais realizadas a 12 de Agosto de 1838, tendo prestado juramento a 8 de janeiro de 1839. Deixou de ser liderante, retraiu-se na participação política, mas manteve uma constante actividade política.

Anos finais
A Constituição acabou de se discutir e promulgou-se, e Passos Manuel foi eleito senador, tendo prestado juramento a 16 de julho de 1841. No Senado pronunciou alguns discursos notáveis, mas persistiu em se abster de entrar na parte verdadeiramente política dos debates.
Depois da contra-revolução do Porto, em 1842, da qual resultou o restabelecimento da Carta Constitucional com a consequente extinção da câmara dos senadores, Passos Manuel voltou a concorrer nas eleições gerais de Junho de 1842 e foi reeleito deputado, desta feita por Nova Goa, prestando juramento a 10 de abril de 1843 e assentando-se nos bancos da oposição.
No entretanto, poucas vezes apareceu na câmara, e poucas vezes também usou da palavra. Estava completamente entregue às suas ocupações agrícolas; tornara-se lavrador no Ribatejo, e entregava-se com entusiasmo aos cuidados da lavoura. O seu nome adquirira, por isso mesmo, um extraordinário prestígio.
Esse homem que atravessara o poder sem se demorar, e que deixara, contudo, um rasto brilhantíssimo da sua passagem, que servira sempre desinteressadamente o seu país, que dele não recebera nem honras, nem empregos, nem benefícios, que se mostrara sempre liberal sincero, patriota ardente, que ligara o seu nome uma série de reformas notáveis, e que nunca entrara nas lutas mesquinhas da política, que nunca se metera nas suas intrigas, que tivera o mais constante e o mais nobre desprendimento, a mais nobre altivez de ânimo, que falara alto aos reis nos seus paços, e quando eles tinham por si a força e a vontade de a empregar, que nunca lisonjeara baixamente o povo, que fora levantado ao poder por uma revolução que ele não provocara, e que o levantara nos escudos como ao mais digno, cuja palavra se levantara sempre a favor das causas sagradas da liberdade e da tolerância, e que depois de tudo isso fora entregar-se tranquilamente aos modestos trabalhos da agricultura, adquirira no país um grande prestígio. Simultaneamente distanciava-se do irmão, assumindo-se cada vez mais como senador afastado da política activa.
Apesar desse distanciamento, a 10 de Outubro de 1844 pronunciou nas Cortes um discurso sobre a abortada revolta de Torres Novas que à época foi considerado como do melhor que a oratória parlamentar tinha produzido. Naquela intervenção, a puxar ao sentimentalismo, apela ao amor e compaixão do governo para com os revoltosos derrotados, recomendando a estes paciência e confiança nas leis e apresentando como exemplo a seguir o seu comportamento em 1836-1837, período durante o qual considerava ter tratado os adversários com honra e distinção.
Concorreu novamente nas eleições gerais de 17 de Agosto de 1845 (6.ª legislatura), sendo desta feita eleito pelo Alentejo. Contudo, face àquilo que considerava ter sido a inaceitável manipulação das eleições perpetrada pelo governo de Costa Cabral, em sinal de protesto decidiu não assumir o lugar nas Cortes, retirando-se para os seus afazeres agrícolas no Ribatejo.
Quando na Primavera de 1846 rebenta a Revolução da Maria da Fonte e se constituem Juntas revolucionárias pelo país, encabeça a 21 de Maio a Junta da Província da Estremadura, que se havia constituído em Santarém, mas mais uma vez dá mostras de brandura e vontade de conciliação, iniciando de imediato conversações com o governo com vista a uma resolução pacífica do conflito, promovendo a rendição, a 5 de Junho, das forças sob o controlo daquela Junta.
Dissolvido o parlamento, volta a candidatar-se pelo Alentejo, defendendo um programa moderado que evitava as questões candentes da reforma constitucional e do destino a dar à Carta Constitucional.
Tendo-se dado a Emboscada e iniciado a guerra civil da Patuleia, parte para o Porto, onde se junta ao irmão, José da Silva Passos, que entretanto se havia assumido como um dos líderes patuleias daquela cidade. Contudo, continua a agir discretamente, assumindo-se sempre como um mero auxiliar do irmão.
Celebrada a Convenção de Gramido e terminada a guerra civil, regressa aos seus afazeres de lavrador ribatejano, apenas para reaparecer nas eleições gerais de Novembro de 1851 (8.ª legislatura), nas quais foi novamente eleito por Santarém, tendo prestado juramento a 17 de janeiro de 1852. Tendo-se iniciado a Regeneração, a qual causou uma rápida desagregação dos velhos partidos políticos e absorção da maioria dos setembristas pelo emergente Partido Progressista Histórico, os irmãos Passos ficariam cada vez mais isolados, com Manuel Passos, mais moderado, a saudar as reformas constitucionais e assumir uma oposição colaborante, embora crítica, ao governo. Reeleito por Santarém nas eleições gerais de 12 de dezembro de 1852, ocupou um lugar na esquerda parlamentar, embora votasse com o governo quando a consciência o ditava. Confessando-se cansado de lutas civis, declarava na Câmara: a oposição que faço aos actuais senhores ministros é uma oposição amigável.
Cada vez mais arredado dos debates políticos, a partir de 1855 deixou de ser encarado como figura liderante da oposição progressista, participando pouco e parecendo hesitar entre o apoio e oposição ao governo, dando sinais de cansaço e desinteresse, talvez resultado da doença de que há muito padecia.
Em finais da década de 1850, os problemas de saúde que o afligiam há longos anos pioraram, remetendo-o definitivamente para a sua casa de Santarém. Falou pela última vez nas Cortes a 17 de fevereiro de 1857.
O rei D. Pedro V, que lhe tinha recusado em 1857 um lugar no Conselho de Estado, por carta régia de 17 de maio de 1861 nomeou-o Par do Reino, embora ele, aparentemente por razões de saúde, não tenha tomado assento na câmara alta.
Manuel da Silva Passos faleceu na sua casa de Santarém a 17 de janeiro de 1862, sem ter tomado posse na Câmara dos Pares. Nunca aceitou mercês ou títulos, embora a sua filha mais velha tenha sido elevada a viscondessa de Passos, em 1851, em atenção aos merecimentos do pai.
Quando a notícia do seu falecimento foi sabida em Lisboa, a Câmara dos Deputados, que estava reunida, lançou na acta um voto de sentimento pela morte do grande liberal e, por proposta de José da Silva Mendes Leal, determinou que na sala da biblioteca da câmara, fundada pelo eminente tribuno, se colocasse o seu busto, o qual ali perdura.