D. João III de Portugal (
Lisboa,
6 de junho de
1502 -
Lisboa,
11 de junho de
1557) foi o décimo quinto
Rei de Portugal, cognominado
O Piedoso ou
O Pio pela sua devoção religiosa. Filho do rei
Manuel I de Portugal, sucedeu-o em
1521, aos 19 anos. Herdou um império vastíssimo e disperso, nas ilhas atlânticas, costas ocidental e oriental de
África,
Índia,
Malásia, Ilhas do
Pacífico,
China e
Brasil. Continuou a política centralizadora do seu pai. Durante o seu reinado foi obrigado a negociar as
Molucas com Espanha, no
tratado de Saragoça, adquiriu novas colónias na Ásia - Chalé,
Diu,
Bombaim,
Baçaim e
Macau e um grupo de portugueses chegou pela primeira vez ao
Japão em 1543, estendendo a presença portuguesa de Lisboa até
Nagasaki. Para fazer face à pirataria iniciou a colonização efectiva do Brasil, que dividiu em
capitanias hereditárias, estabelecendo o governo central em
1548. Ao mesmo tempo, abandonou diversas cidades fortificadas em
Marrocos, devido ao custos da sua defesa face aos ataques muçulmanos. Extremamente religioso, permitiu a introdução da
inquisição em Portugal em
1536, obrigando à fuga muitos mercadores judeus e
cristãos-novos, forçando o recurso a empréstimos estrangeiros. Inicialmente destacado entre as potências europeias económicas e diplomáticas, viu a
rota do Cabo fraquejar, pois a rota do Levante recuperava, e em 1548 teve de mandar fechar a
feitoria Portuguesa de Antuérpia. Viu morrer os dez filhos que gerou e a crise iniciada no seu reinado amplificou-se sob o governo do seu neto e sucessor, o rei
Sebastião de Portugal.
Nascido em
Lisboa, era filho do rei
Manuel I de Portugal e de
Maria de Aragão, princesa de Espanha, filha dos
Reis Católicos. Na câmara da Rainha, parturiente,
Gil Vicente em trajes de vaqueiro representou sua primeira peça, o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro. O batismo em
15 de junho foi realizado na capela de São Miguel do Paço da Alcáçova, tendo como padrinho o doge de
Veneza, Leonardo Loredan, representado por
Pero Pasquaglio. Foram madrinhas uma tia paterna, a Rainha Dona Leonor, viúva de
Dom João II, e a avó paterna, a infanta Dona Beatriz, duquesa de
Beja. Nas Cortes a seguir convocadas para
15 de agosto, o príncipe foi jurado herdeiro.
Educado em Latim e nos clássicos pelo
bispo de Viseu, o castelhano
Diogo Ortiz de Villegas, que morreu em
1519, e depois por
Luís Teixeira, que lhe ensinou Direito Civil, pelo clérigo
Tomás de Torres, que lhe deu noções de
matemática,
astronomia e
geografia, e por
João de Menelau, grego. Teve casa própria após a morte da mãe em
1517. Iria casar com Leonor de Áustria, que depois foi escolhida terceira mulher do próprio pai, apesar de ser noiva destinada ao filho.
Sucedeu em
1521 ao pai, morto no auge de seu poder aos 52 anos de idade, que reinara 26 anos. Dom João III, aos 19 anos, foi aclamado a
22 de dezembro, no alpendre da igreja de São Domingos. Jovens dominavam então a dinâmica cena europeia: a viúva de seu pai tinha 23 anos, o imperador
Carlos V, 22 anos,
Francisco I de França, 28 anos,
Henrique VIII da Inglaterra tinha 31 anos.
Ascendeu ao trono quando Portugal possuía cidades fortificadas no Norte de África e os seus marinheiros tinham navegado nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, espalhando-se pelas ilhas atlânticas, pelas costa ocidental e oriental de
África,
Índia,
Malásia, Ilhas do Pacífico e possivelmente
Austrália,
China e
Brasil. Destacava-se entre as potências europeias do ponto de vista económico e diplomático, mas o país não chegava a um milhão e meio de habitantes. Durante o seu reinado Portugal adquiriu novas colónias na Ásia - Chalé,
Diu,
Bombaim,
Baçaim e
Macau.
António Mota,
Francisco Zeimoto e
António Peixoto chegaram ao
Japão sendo os primeiros europeus a visitar este arquipélago. Começou a
colonização do Brasil. Ao mesmo tempo deu-se o abandono de algumas cidades fortificadas em
Marrocos, como
Safim,
Azamor,
Arzila,
Aguz e
Alcácer-Ceguer, devido ao custos da sua defesa contra os ataques dos xerifes muçulmanos. João III era, no entanto, extremamente religioso, o que o tornou subserviente ao poder da igreja e permeável à introdução da
inquisição em
1536, pois o movimento luterano era já uma realidade europeia. As consequências sociais foram desastrosas, pois provocou insegurança nos cristãos novos, obrigando à fuga muitos mercadores judeus, forçando o recurso a empréstimos estrangeiros.
Com a
Inglaterra intensificam-se as relações comerciais, o mesmo acontecendo com os países do Báltico e
Flandres. Teve como amigo e conselheiro
António de Ataíde, 1.º Conde da Castanheira, que fez embaixador em Paris e que viria a aconselhar na criação do sistema de Capitanias-hereditarias no Brasil em 1534.
Herdou «um império vastíssimo mas demasiado disperso», de modo que o reavaliou com ajuda de conselheiros, abandonando o projeto imperial de seu pai. O novo homem forte dos assuntos relativos à expansão marítima passou a ser
Vasco da Gama, que se incompatibilizara com Dom Manuel, nomeado em
1524 vice-rei da
Índia, onde morreu.
Em
1541 um acontecimento precipitou sua decisão, pois perdeu Santa Cruz de Cabo de Gué. Os xerifes do norte da África em 1518 haviam proclamado a guerra santa contra o infiel, apoderando-se em
1524 de
Marraquexe (em
1549, finalmente, retomaram
Fez). Cercaram
Safim em
1533, forçando Dom João a abandonar
Azamor, Safim, Alcácer Céguer, Arzila. Havia ao mesmo tempo crise no estado da Índia, descrito como «um conjunto de territórios, estabelecimentos, bens, pessoas e interesses, administrados, geridos ou tutelados pela Coroa portuguesa no Oceano Índico e mares adjacentes ou nos territórios ribeirinhos, do
Cabo da Boa Esperança ao
Japão» (Luiz Filipe Thomaz). No Índico surgira o perigo otomano, estimulando os chefes locais a lutarem contra os portugueses. Pacém e Calecute foram abandonados. Economicamente a
rota do Cabo começava a fraquejar, pois a rota do Levante recuperava lentamente. Em
1548 D. João III mandou fechar a feitoria de
Antuérpia. Havia concorrência castelhana no Extremo Oriente e Pacífico mas o maior perigo vinha de outras potências como a
França.Foi, entretanto, um rei que geriu muitas crises - a financeira, pois em seu reinado as despesas ordinárias da Coroa incluíam tenças, moradias, benesses pias, ordenados, obras públicas, universidade, obras em Belém e em Tomar, houve dotes a pagar, a compra do arquipélago do Maluco, socorros às praças do Norte da África, as armadas à Índia, a defesa das costas do Brasil e África, a aquisição de trigo nos anos maus. Crise política, pois seu reinado assistiu à emergência de duas potências, a Espanha de Carlos V e o Império Otomano, que tomou
Buda e cercou Viena em
1529. Tudo isso em meio à proliferação de peste, maus anos agrícolas, instabilidade meteorológica, até o grande terremoto de Lisboa de
26 de janeiro de
1531.Como governante coube-lhe a gestão de várias crises: crise financeira, ameaça protestante, perigo turco, concorrência francesa e inglesa no império, crises no estado da
Índia, peso da vizinhança demasiado forte de Carlos V.
Dom João preocupou-se efetivamente com o pleno domínio do
Brasil, que dividiu em capitanias-donatárias, as conhecidas
capitanias hereditárias, estabelecendo um governo central em
1548. «Foi o verdadeiro criador do Brasil, que rapidamente se tornou o elemento fundamental do império português, assim o sendo até o início do
século XIX» (Paulo Drumond Braga, op. cit, pg 145).
Mapa do Império Português no reinado de D. João III
Houve sem dúvida um ar de renovação cultural em seu reinado, preponderante na afirmação do renascimento português. Na literatura apareceu o poeta mais conhecido mundialmente
Luís Vaz de Camões, como também
Garcia de Resende,
Sá de Miranda,
Bernardim Ribeiro e
João de Barros. Na náutica surgiu
Pedro Nunes, na botânica
Garcia da Orta, na arquitetura
Francisco de Holanda,
Miguel de Arruda,
João de Castilho. Outros nomes foram
Luís Vives,
André de Resende,
Damião de Góis,
João de Ruão e
Nicolau Chanterene.
Erasmo dedicou-lhe uma de suas obras e o rei teria pensado em o contratar para professor da nova universidade de Coimbra, criada em
1537. No seu reinado, a conselho de
Diogo de Gouveia, criou numerosas bolsas de estudo no estrangeiro, enviando cerca de 300 bolseiros para França, e fundou o
Real Colégio das Artes e Humanidades em Coimbra. Foi também o responsável pela vinda dos missionários
Jesuítas, uma ordem recém formada, que teria um papel determinante no contexto do
padroado português em todo o império português.
João III era, no entanto, extremamente religioso, o que o tornou subserviente ao poder da igreja e permeável à introdução da
inquisição em
1536, pois o movimento luterano era já uma realidade europeia. As consequências sociais foram desastrosas, pois provocou insegurança nos cristãos novos, obrigando à fuga muitos mercadores judeus, forçando o recurso a empréstimos estrangeiros.
Continuou a política centralizadora e absolutista do seu pai, convocando apenas três cortes em períodos bem espaçados:
1525,
1535 e
1544. A estagnação que caracterizou seu reinado amplificou-se sob seu neto e sucessor, o rei
Sebastião de Portugal.
Afirma-se que sua alegada neutralidade era na verdade política de apoio ao cunhado,
Carlos V, e que teria mesmo pensado em uma união ibérica, o que é indefensável face às teorias atuais. Sempre desejou claramente a independência de Portugal, pois jamais fechou as portas à França, à Inglaterra e até à Polónia. Foi, entretanto, um rei que geriu muitas crises - a financeira, pois em seu reinado as despesas ordinárias da Coroa incluíam tenças, moradias, benesses pias, ordenados, obras públicas, universidade, obras em Belém e em Tomar, houve dotes a pagar, a compra do arquipélago do Maluco, socorros às praças do Norte da África, as armadas à Índia, a defesa das costas do Brasil e África, a aquisição de trigo nos anos maus. Crise política, pois seu reinado assistiu à emergência de duas potências, a Espanha de Carlos V e o Império Otomano, que tomou
Buda e cercou Viena em
1529. Tudo isso em meio à proliferação de peste, maus anos agrícolas, instabilidade meteorológica, até o grande terremoto de Lisboa de
26 de janeiro de
1531.
Psicologicamente, foram características pessoais sua enorme bondade, a lentidão na tomada de decisões, a dissimulação no relacionamento com os súditos ou como arma diplomática, a piedade (recebeu do papa em dezembro de 1525 a 'rosa de ouro'). Filho de um génio político, Dom
Manuel I de Portugal, foi neto de dois outros, os
Reis Católicos de Espanha.