domingo, março 08, 2020

São João de Deus nasceu há 525 e morreu há 470 anos

Retrato de São João de Deus, da autoria de Murillo
  
São João de Deus, de seu nome João Cidade (Montemor-o-Novo, 8 de março de 1495Granada, 8 de março de 1550) é um santo da Igreja Católica Romana que se distinguiu na assistência aos pobres e aos doentes, através de um hospital por si fundado, em Granada, em 1539.
Criou a Ordem dos Irmãos Hospitaleiros para o ajudarem nessa missão e noutras extensões que viriam depois a surgir.


Biografia
João Cidade, filho de André Cidade e de sua mulher, Teresa Duarte, deixou Montemor-o-Novo aos oito anos de idade e dirigiu-se a Oropesa onde foi pastor de ovelhas. Alistou-se no exército e tomou parte na conquista de Fuenterabia, então ocupada pela França. Ao abandonar a vida militar, voltou ao ofício de pastor em Oropesa, Sevilha, Ceuta e Granada.
Depois de várias vicissitudes volta para casa, mas, encontrando os seus pais mortos, decide voltar a partir.
Há quem diga que terá feito a peregrinação à catedral de Santiago de Compostela e que, nessa altura, terá ficado tão impressionado e exaltando o seu espírito religioso.
Mais ainda, em Granada, quando ouviu os sermões do padre São João de Ávila e aí confessou publicamente todos os erros da sua vida passada e para mais clara demonstração do seu arrependimento, andou percorrendo a cidade ferindo o peito com pedras, e manchando o rosto com lama. Devido ao seu estado lastimoso foi dado como louco e internado num hospício, onde permaneceu muitos anos.
Com um espírito mais sereno, para o qual contribuiu o referido padre, João Cidade saiu do hospício e foi visitar o Mosteiro de Guadalupe. Voltando de seguida para Granada onde fundou em 1539 um hospital para doenças contagiosas e incuráveis. Daí em diante dedicou-se ao serviço deste hospital. Fundou assim a ordem dos Irmãos Hospitaleiros, a qual foi confirmada, debaixo da regra de Santo Agostinho, pelo Papa Pio V em 1 de janeiro de 1571.
João Cidade foi beatificado pelo Papa Urbano VIII em 28 de outubro de 1630 e canonizado em 16 de outubro de 1690, pelo Papa Alexandre VIII, sendo no entanto a sua bula expedida após a sua morte, pelo seu sucessor, o Papa Inocêncio XII
São João de Deus é o padroeiro dos hospitais, dos doentes e dos enfermeiros. A sua memória litúrgica é celebrada a 8 de março.
  
San Juan de Dios salvando a los enfermos de incendio del Hospital Real, Manuel Gómez-Moreno González (1880) - Museo de Bellas Artes de Granada
   

Tom Chaplin, o vocalista dos Keane, faz hoje 41 anos

  
Thomas Oliver Chaplin (Hastings, East Sussex, 8 de março de 1979), conhecido pelo nome "Tom Chaplin", é o vocalista - e também o mais novo - da banda britânica Keane. Ele também toca guitarra, viola e piano e já compôs algumas letras para a banda, mas o letrista oficial do ex-trio, agora quarteto (Tom Chaplin, Tim Rice-Oxley, Richard Hughes e Jesse Quin) é Tim Rice-Oxley.
Dono de uma potência vocal incrível, que contrasta com o timbre doce com o qual ele entoa o hit-hino da banda 'Somewhere Only We Know' do álbum Hopes and Fears, de 2004. No entanto, a musica «Somewhere Only We Know» não é a única que é alvo de sucesso. Músicas como This is The Last Time, It Is Any Wonder, Everybodys Changing e Silenced By The Night são igualmente músicas famosas.
Tom Chaplin, revelou no site oficial da banda no fim de 2007 que sente-se ainda o mesmo menino dos tempos iniciais da banda. "Sempre serei o mais novo, e por mais que fiquemos velhos, sempre sentirei que precisarei dos conselhos do Tim e do Richard", diz Chaplin. Também revelou que em 2008 estava muito animado com as gravações do terceiro CD, e que já têm uma canção favorita, Perfect Symmetry. "Foi a melhor música que Tim já compôs", disse Tom com exclusividade ao site oficial da banda.
Em julho de 1997, Chaplin foi para a África do Sul, para um ano sabático, durante o qual o resto dos membros da banda estavam se preparando para um show. Quando Hughes foi buscar Chaplin, um ano depois, em 3 de julho de 1998, as suas primeiras palavras foram: "Nós temos um show em 10 dias." Chaplin então começou a estudar para uma licenciatura em história da arte na Universidade de Edimburgo, antes de sair para prosseguir a sua carreira musical em Londres.
  
 

Ruy Cinatti nasceu há 105 anos

(imagem daqui)
   
Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes (Londres, 8 de março de 1915 - Lisboa, 12 de outubro de 1986) foi um poeta, antropólogo e agrónomo português.
  
Ruy Cinatti escreveu sobre São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Foi co-fundador de Os Cadernos de Poesia (1940).
A 10 de junho de 1992 foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
   
 
Quando o amor morrer dentro de ti
  
 
Quando o amor morrer dentro de ti,
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dá-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.
  
 
in Obra Poética - Ruy Cinatti

Porque hoje é dia de recordar João de Deus e a sua obra...



João de Deus nasceu há 190 anos

  
João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de março de 1830 - Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico e pedagogo, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.
  
Biografia
João de Deus nasceu em São Bartolomeu de Messines em 8 de março de 1830, filho de Isabel Gertrudes Martins e de Pedro José dos Ramos, modestos proprietários dali naturais e residentes. O pai, também comerciante, era conhecido entre os seus patrícios por Pedro Malgovernado, não que merecesse o cognome pelo mau governo da sua casa, mas pela facilidade em satisfazer as vontades dos filhos, com os quais gastava mais do que podia.
 
O seminário e os anos de Coimbra
João de Deus, o quarto de catorze irmãos, não lhe permitindo a situação sócio-económica da família aspirar a uma carreira universitária, estudou latim na sua terra natal e ingressou no Seminário de Coimbra, então o único caminho para prosseguir estudos aberto aos menos abonados. Em 1850, aos dezanove anos, não tendo vocação para a vida eclesiástica, ingressou na Universidade de Coimbra como estudante de Direito.
Preferindo as belas artes à ciência do direito, envolvido na vida boémia coimbrã, teve na universidade um percurso académico conturbado, com diversas interrupções e reprovações por faltas. Apenas se formou dez anos depois de ter ingressado, em 13 de julho de 1859, e mesmo assim por instâncias e ameaças dos seus condiscípulos, entre os quais se incluía a melhor intelectualidade da época.
Logo no ano de ingresso na universidade revelou o seus dotes líricos, escrevendo versos que circularam manuscritos no meio académico e com os quais obtinha modestos rendimentos que ajudavam na sua parca subsistência. De 1851 conhece-se o poema Pomba e a elegia Oração, a qual foi a sua primeira obra publicada, tendo saído a público na Revista Académica em 1855, tendo merecido imediata aclamação pública.
Nos anos seguintes, os fracos recursos familiares, a melancolia e passividade do seu carácter e o insucesso académico levaram a que João de Deus vivesse em Coimbra numa quase indigência. Como forma de ajuda, os amigos e condiscípulos coligiram as suas poesias, as quais foram aparecendo na imprensa coimbrã da época. São desta fase os poemas publicados na Estreia Literária, na Ateneu e no Instituto de Coimbra.
Com aquelas publicações a sua reputação de poeta lírico foi crescendo, com a sua obra a merecer, já em 1858, uma crítica fortemente elogiosa no artigo A propósito de um Poeta, publicado no Instituto de Coimbra por Antero de Quental.
Em 1859, terminado o curso, opta por permanecer em Coimbra, praticando pouca advocacia e continuando a escrever, agora produzindo poesia de carácter satírico, entre as quais ressalta A lata (publicada em 1860 e a sua primeira obra em separata) e A Marmelada.
 
Beja, Messines e Lisboa
Não tendo interesse pela advocacia, em 1862 aceita o convite para ir para Beja como redactor do periódico O Bejense, então o jornal de maior expansão no Alentejo. Neste período colaborou em diversos periódicos da imprensa regional do sul de Portugal. Permaneceu em Beja até 1864, regressando nesse ano à sua terra natal.
Mantendo colaboração com a imprensa regional alentejana e algarvia e redigindo a Folha do Sul, em São Bartolomeu de Messines e em Silves tentou sem sucesso a advocacia, tendo em 1868 optado por partir para Lisboa, cidade onde passou a residir.
Em Lisboa levou uma vida de grandes privações. Passava o tempo nos cafés, em particular no Martinho da Arcada, em constantes tertúlias, sem nunca procurar encontrar uma forma estável de ganhar a vida. Para sobreviver recorria à realização de traduções, à escrita de sermões e hinos para cerimónias religiosas e a colaborações literárias várias. Neste período diz-se que, entre outras actividades, costurou roupas de senhora.
    
A passagem pelas Cortes
Numa dessas tertúlias surgiu a ideia, talvez no contexto do tradicional bota abaixo dos políticos (o poema Eleições de João de Deus indicia isso mesmo), de tentar a eleição de João de Deus como deputado às Cortes e por esta via obter uma subvenção que lhe permitisse viver.
A ideia foi levada avante, e João de Deus apresentou-se às eleições gerais de 22 de março de 1868 (para a 16:ª legislatura da monarquia constitucional) como candidato independente pelo Círculo de Silves.
Apesar da sua candidatura ser apoiada por José António Garcia Blanco e Domingos Vieira, a eleição não foi fácil, tendo havido lugar a uma votação de desempate no dia 5 de abril imediato. Saindo vitorioso, presta juramento nas Cortes a 18 de maio de 1868, iniciando relutantemente a sua actividade parlamentar.
Sobre o Parlamento, em declarações que foram publicadas pelo Correio da Noite em 1869, terá dito: Que diacho querem vocês que eu faça no Parlamento? Cantar? Recitar versos? Deve ser (…) gaiola que talvez sirva para dormir lá dentro a ouvir a música dos outros pássaros. Dormirei com certeza!. Essas palavras retratam a sua atitude perante a actividade parlamentar: em 1868 ainda participou, embora sem intervir, na maioria das sessões, mas no ano seguinte, faltou a 10 das 13 sessões que se realizaram.
 
O casamento e a mudança de vida
Em 1868, pouco depois da sua eleição parlamentar, casa com Guilhermina das Mercês Battaglia, uma senhora de boas famílias, ganhando estabilidade na sua vida pessoal.
Deste casamento nasceram Maria Isabel Battaglia Ramos, José do Espírito Santo Battaglia Ramos, que vira a ser visconde de São Bartolomeu de Messines, João de Deus Ramos, que continuaria a obra pedagógica de seu pai, e Clotilde Battaglia Ramos.
Com o casamento e a passagem pelas Cortes, reflectindo uma maior disponibilidade, inicia a publicação sistemática da sua obra poética e dramática. Logo nesse ano publica a colectânea Flores do campo, a que se segue uma pequena recolha de 14 poemas intitulada Ramo de flores (1869), considerada a sua melhor obra poética.
Ambas recolhas resultaram da selecção feita por José António Garcia Blanco entre os poemas publicados na imprensa periódica. São obras com laivos de ultra-romantismo, representativas da sua primeira fase de produção poética de João de Deus.
Estes textos seriam depois reunidos e organizados por Teófilo Braga. A compilação dos seus textos líricos, satíricos e epigramáticos foi editada com o título de Campo de Flores (1893), e os textos de prosa com o título de Prosas (1898). Na colectânea Campo de Flores foi incluído o poema algo lascivo Cryptinas, o que na altura foi motivo de algum escândalo.
Ao longo dos anos seguintes manterá colaboração com a imprensa periódica e continuará a produzir traduções e adaptações de obras de diversos autores, com destaque para as comédias Amemos o nosso próximo, Ser apresentado, Ensaio de Casamento e A viúva inconsolável
O poema Horácio e Lydia (1872), uma tradução da obra homónima de Pierre de Ronsard, demonstra a perícia de João de Deus na versificação e na manutenção do ritmo discursivo.
Demonstrando a mutação espiritual entretanto ocorrida, publica em 1873 os textos em prosa Ana, Mãe de Maria, A Virgem Maria e A Mulher do Levita de Ephraim, traduções livres da obra Femmes de la Bible do arcebispo francês Georges Darboy. Na mesma linha vão as obras Grinalda de Maria (1877), Loas da Virgem (1878) e Provérbios de Salomão.
Também por esta altura, talvez por influência do seu amigo Antero de Quental, adere ao ideário socialista, vindo e publicar na edição de 29 de agosto de 1880 do jornal católico Cruz do Operário uma carta onde se afirma socialista dizendo que (…) é socialista porque é cristão, é socialista porque ama os seus semelhantes (…).
 
A Cartilha Maternal e o método de ensinar a leitura às crianças
Entretanto, em 1876, menos de um ano depois da morte de António Feliciano de Castilho e perante a descrença em que caíra o Método Português de Castilho, João de Deus envolveu-se nas campanhas de alfabetização, escrevendo a Cartilha Maternal, um novo método de ensino da leitura, que o haveria de distinguir como pedagogo.
A Cartilha, num processo muito semelhante aos esforços que 25 anos antes António Feliciano de Castilho empreendera com o seu método, incorpora, para além daquela experiência, os trabalhos de Johann Heinrich Pestalozzi e Friedrich Wilhelm August Fröbel, dando-lhe um carácter menos infantilizante.
A obra foi recebida de forma encomiástica, sendo saudada como utilíssima e genial pelos principais intelectuais da época, entre os quais Alexandre Herculano e Adolfo Coelho.
Este método, relativamente inovador na época, foi dois anos depois, e por proposta do deputado Augusto de Lemos Álvares Portugal Ribeiro, aprovado como o método nacional de aprendizagem da escrita da língua portuguesa. Graças a esta decisão, João de Deus teria a nomeação vitalícia de "Comissário Geral da Leitura" para essa forma de ensinar, com uma pensão anual de 900$000 réis.
Para complementar o seu método, João de Deus publicou uma tradução adaptada da obra Des devoirs des enfants envers leurs parents, de Theodore-Henri Barraus, a que se seguiram múltiplos artigos de natureza pedagógica contento exortações e instruções dirigidas aos mestres que deveriam aplicar o método.
 
Os anos finais
A expansão do método da Cartilha Maternal foi seguida de um autêntico fenómeno de culto pela figura do poeta, tornando-o numa das figuras mais populares do último quartel do século XIX português. Nesse contexto foi organizada em 1895 uma grande homenagem nacional ao poeta, alegadamente iniciativa dos estudantes de Coimbra. Durante a homenagem o rei D. Carlos impôs-lhe a grã-cruz da Ordem de Santiago da Espada e por todo o país foram realizadas iniciativas comemorativas.
Na sequência da homenagem nacional, o Diário de Notícias, de 8 de março de 1895, publicou o seguinte texto laudatório: João de Deus é uma das personificações mais belas do nosso carácter peninsular; vivo e indolente, devaneador e apaixonado, crente e sentimental. É uma flor do meio-dia, cheia de seiva e colorido, dos poetas e nunca ninguém sentiu entre nós mais ardente a sua imortalidade do que Bocage. Com que entusiasmo ele exclamava ao ver os seus versos elogiados na boca de Filinto: - Zoilos tremei; posteridade, és minha! Sob este ponto de vista, João de Deus é a antítese completa de Bocage. Este tinha a inspiração orgulhosa, cheia de fogo, rebentando quase num caudal de ironia e de sarcasmo. João de Deus tem a inspiração serena, espontânea, quase inconsciente. João de Deus é como a flor do campo, que rebenta formosa sem cultivo, velada apenas pela graça de Deus, o jardineiro supremo. As suas poesias são verdadeiras flores do campo, mas das mimosas, das encantadoras na sua singeleza, das que, guardadas num álbum, conservam perfeitamente a delicadeza da forma, o colorido transparente da corola, o aveludado do cálice, a disposição encantadora das pétalas.
Apesar da fama, o método da Cartilha Maternal tinha adversários e pouco depois da homenagem nacional, por iniciativa de Joaquim Pedro de Oliveira Martins, o Ministério do Reino decidiu mandar retirar das salas de aula os quadros da Cartilha. Pouco depois desta polémica decisão, João de Deus caiu doente com uma enfermidade cardíaca.
João de Deus viria a falecer, aos 65 anos, no dia 11 de Janeiro de 1896.
Por decreto de Governo presidido por Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, datado de 13 de janeiro de 1896, foi concedida à viúva e filhos do poeta uma pensão vitalícia, isenta de impostos, de 1000$000 réis anuais.
João de Deus é recordado em Lisboa pelo Museu João de Deus e em São Bartolomeu de Messines por uma casa-museu e por um grupo escultórico. A modestíssima casa onde nasceu ostenta na sua fachada uma lápide alusiva.
Em 1930, aquando da comemoração do centenário do seu nascimento, foi-lhe erigida um estátua no Jardim da Estrela, em Lisboa.
Em 1966, o seu corpo fora solenemente trasladado do Mosteiro dos Jerónimos para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, após o término da sua edificação. A cerimónia decorreu entre os dias 1 e 5 de dezembro, em conjunto com as de outras ilustres figuras portuguesas.
 
Obra
Na literatura da sua época, João de Deus ocupou uma posição singular e destacada. Surgido nos finais do ultra-romantismo, aproximou-se da tradição folclórica de forma mais conseguida que qualquer outro escritor romântico português. A sua poesia distinguiu-se, sobretudo, pela grande riqueza musical e rítmica.
Grande parte da sua obra poética está presente em Flores do Campo (publicada em 1868), Folhas Soltas (1876) e Campos de Flores. Esta última obra, publicada em 1893, além de conter outros poemas, engloba também o conteúdo de Flores do Campo e Folhas Soltas, pelo que funciona como uma colectânea da sua obra poética.
Foi, ainda, autor de fábulas e de obras destinadas ao teatro, estas na maior parte dos casos traduções e adaptações de autores estrangeiros. Grande parte da sua produção em prosa foi reunida na colectânea Prosas.
Mas a sua obra mais importante viria a ser a Cartilha Maternal, um método destinado a ajudar a aprendizagem da leitura a criança, que ainda hoje mantém seguidores.
Para além das obras mencionadas, deixou um Dicionário Prosódico de Portugal e Brasil (1870), e as obras poéticas Ramo de Flores (1869) e Despedidas de Verão (1880).
Algumas composições em prosa que se encontravam dispersas e parte importante da sua correspondência foram editadas postumamente por Teófilo Braga (Lisboa, 1898).
João de Deus colaborou também em algumas publicações periódicas, de que são exemplo O Panorama (1837-1868), A Mulher (1879), Ribaltas e gambiarras (1881), A imprensa (1885-1891), A comedia portugueza (1888-1902) e A semana de Lisboa (1893-1895).
O folheto avulso Cryptinas, normalmente atribuído a João de Deus, foi publicado em fac-símile pelas Edições Ecopy em 2008.
 
A Associação de Escolas Móveis e Jardins Escolas João de Deus
Em maio de 1882, por iniciativa de Casimiro Freire, (…) reuniram-se algumas dezenas de cidadãos e fundaram a Associação de Escolas Móveis, com o fim de ensinar a ler, escrever e contar pelo método de admirável rapidez, do Senhor Dr. João de Deus, os indivíduos que o solicitarem, até onde permitam os seus meios económicos, enviando nesse intuito às diversas povoações da nação portuguesa professores devidamente habilitados – não se envolvendo em assuntos políticos, nem quaisquer outros alheios ao seu fim.
A Associação é hoje a Associação de Jardins-Escolas João de Deus, uma Instituição Particular de Solidariedade Social dedicada à educação e à cultura. No seu âmbito funciona o Museu João de Deus e a Escola Superior de Educação João de Deus e múltiplos jardins-escolas.
Em 2002 a Associação tinha ao seu serviço quase 1000 pessoas, entre educadores, professores, auxiliares de educação e outros colaboradores, cuja actividade se repartia pela Escola Superior de Educação João de Deus e por 34 jardins-escolas distribuídos por todo o país.
Desde a sua fundação até 2003 passaram pelas Escolas da Associação aproximadamente 164 mil crianças.



LÁGRIMA CELESTE
 
 
Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar!
 
Ah! se tu não fosses
lágrima do céu,
lágrimas tão doces
não chorava eu.
 
Se eu nunca te visse,
bonina do vale,
talvez não sentisse
nunca amor igual.
 
Pomba debandada,
que é dos filhos teus?
Luz da madrugada,
luz dos olhos meus!
 
Meu suspiro eterno,
meu eterno amor,
de um olhar mais terno
que o abrir da flor.

Quando o néctar chora
que se lhe introduz
ao romper da aurora
e ao raiar da luz!
 
Esta voz te enleve,
este adeus lá soe,
o Senhor to leve
e Deus te abençoe.
 
O Senhor te diga
se te adoro ou não,
minha doce amiga
do meu coração!
 
Se de ti me esqueço
ou já me esqueci,
ou se mais lhe peço
do que ver-te a ti!
 
A ti, que amo tanto
como a flor a luz,
como a ave o canto,
e o Cordeiro a Cruz;
 
A campa o cipreste,
a rola o seu par,
lágrima celeste,
pérola do mar.
 
Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar?
 
 
in
Campo de Flores (1893) - João de Deus

Hoje é o Dia Internacional da Mulher!

Poster alemão de 1914, de comemoração do Dia Internacional da Mulher, que reclama o direito ao voto feminino
   
O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, tem como origem as manifestações das mulheres russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Essas manifestações marcaram o início da Revolução de 1917. Entretanto a ideia de celebrar um dia da mulher já havia surgido desde os primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos e na Europa, no contexto das lutas de mulheres por melhores condições de vida e trabalho, bem como pelo direito de voto. O Dia Internacional das Mulheres e a data de 8 de março são comumente associados a dois factos históricos que teriam dado origem à comemoração. O primeiro deles seria uma manifestação das operárias do setor têxtil novaiorquino ocorrida em 8 de março de 1857 (segundo outras versões em 1908). O outro acontecimento é o incêndio de uma fábrica têxtil ocorrido na mesma data e na mesma cidade. Não existe consenso entre a historiografia para esses dois factos, nem sequer sobre as datas, o que gerou mitos sobre esses acontecimentos.
No Ocidente, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado no início do século XX, até à década de 20.
Na antiga União Soviética, durante o estalinismo, o Dia Internacional da Mulher tornou-se elemento de propaganda partidária.
Nos países ocidentais, a data foi esquecida por longo tempo e somente recuperada pelo movimento feminista, já na década de 60. Na atualidade, a celebração do Dia Internacional da Mulher perdeu parcialmente o seu sentido original, adquirindo um caráter festivo e comercial. Nessa data, os empregadores, sem certamente pretender envocar o espírito das operárias grevistas do 8 de março de 1917, costumam distribuir rosas vermelhas ou pequenos mimos entre suas empregadas.
Em 1975, foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres.
   

sábado, março 07, 2020

Stanley Kubrick morreu há 21 anos

  
Stanley Kubrick (Nova Iorque, 26 de julho de 1928 - St Albans, 7 de março de 1999) foi um cineasta, roteirista, produtor de cinema e fotógrafo americano. Considerado um dos mais importantes cineastas de todos os tempos, foi autor de grandes clássicos do cinema, como Spartacus (1960), Dr. Stangelove (1964), 2001 - Odisseia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971) e Shining (1980), entre outros.
  
Infância e adolescência
Em sua infância, o jovem do Bronx não era o que se podia chamar de "aluno exemplar". Raramente fazia os trabalhos de casa e as suas notas não eram das melhores. Mas apesar disso, tinha reconhecimento do pai em sua mente criativa. Foi este quem o encorajou a aprender xadrez (tornou-se um especialista no desporto) e deu-lhe a sua primeira máquina fotográfica. Ainda na adolescência, visando a carreira como fotógrafo, conseguiu emprego na conceituada revista Look, mas logo Kubrick descobriu que o seu futuro estava ligado a outro tipo de câmara.
  
Auto retrato na década de 50 para a revista Look
  
Primeiros trabalhos
Estreou como cineasta de curta-metragens aos 22 anos. Aos 25, obteve uma grande ajuda financeira do pai, que penhorou a casa para a produção de Fear and Desire, de 1953, sua primeira longa-metragem. Considerou o trabalho amador e, mesmo com algumas boas críticas, logo tratou de retirá-lo de circulação. Até hoje, o filme permanece fora de catálogo, tendo sido exibido poucas vezes em festivais ou distribuído ilegalmente. Logo após, Kubrick realizaria outro longa, Killer's Kiss, de 1955, outro filme pouco divulgado e de difícil acesso. Mas é a partir de The Killing, de 1956, que a sua carreira começa a funcionar. O trama sobre um plano de assalto ganhou a atenção de alguns produtores. Apesar disso, teve dificuldades com a adaptação da novela Paths of Glory. O filme homónimo foi estrelado pelo astro Kirk Douglas, que ajudou a levantar o projeto após ele ter sido rejeitado pelos estúdios. Kubrick fez um dos filmes antiguerra mais poderosos que o mundo do cinema já viu. Focado não em heróis, mas sim em cobardes. Apesar das excelentes críticas, Paths of Glory (Horizontes de Glória), de 1957, foi proibido em alguns países, incluindo a França.
  
Reconhecimento e clássicos
Kirk Douglas gostou de trabalhar com Kubrick. Foi ele quem o chamou para dirigir o épico Spartacus (1960), após a tensa demissão do veterano diretor Anthony Mann. Mann já havia filmado boa parte da produção quando Kubrick, com apenas 29 anos, assumiu o seu lugar. A boa relação com Douglas viria por água a baixo quando as diferenças criativas os fizeram confrontar. Kubrick perdeu a batalha e viu obrigado-se a filmar sem poder colocar algumas das suas ideias em prática. Mesmo com o sucesso do filme, ele decidiu que dali por diante só iria aceitar projetos que pudesse ter total liberdade criativa. E foi com esse pensamento que se muda para a Inglaterra em 1962. No mesmo ano começa as filmagens de Lolita (1962), clássico da literatura escrita por Vladimir Nabokov. A curiosidade sobre a adaptação da obra de Nabokov dá grande visibilidade ao filme, que mesmo imerso em polémicas (a relação entre um homem de meia-idade e uma adolescente era a principal delas) se torna outro grande sucesso de crítica. Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto: Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (1964) (Doutor Fantástico no Brasil; Doutor Estranhoamor em Portugal). Tendo como tema a ameaça nuclear, o filme é uma comédia de humor negro com atuações e roteiro primorosos. Para atuar, Kubrick chamou o comediante inglês Peter Sellers, que se desdobra em três papéis, incluindo o de presidente dos Estados Unidos e George C. Scott (que alguns anos mais tarde se destacaria em Patton, Rebelde ou Herói?). Entre os vários momentos clássicos, está o final, com direito a um major cowboy montado sobre uma bomba atómica no ar. Esse trabalho rendeu a Kubrick a sua primeira nomeação para o Óscar de melhor diretor.
Cinco anos de produção foram necessários para o desenvolvimento de 2001: A Space Odyssey (2001: Odisseia no Espaço), de 1968, para muitos a melhor ficção científica já filmada. Foi escrito ao mesmo tempo em que o livro homónimo de Arthur C. Clarke estava a se escrito. Clarke, inclusive, deu assistência na criação do roteiro. 2001 teve uma recepção fria da crítica, mas obteve um enorme sucesso junto do público. Até hoje, possui na sua força maior, as músicas de Richard Strauss, Assim falou Zaratustra e Johann Strauss II, Danúbio Azul. Os efeitos especiais, inovadores para a época, garantiram ao filme um Óscar da categoria.
Novamente indicado para melhor diretor, Kubrick vê o seu prémio escapar. Logo após, chateado com o cancelamento do filme sobre Napoleão Bonaparte, ele segue para mais uma adaptação. Dessa vez o livro é A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), de 1971, de Anthony Burgess, focado na violência humana e, principalmente, na da juventude. Causou grande polémica na época de seu lançamento e foi acusado de incitar a barbárie. Na história, quatro jovens de classe trabalhadoras passam as noites cometendo as maiores atrocidades: lutar, roubar, violar… são apenas algumas delas. A vida de um deles, Alex, (Malcolm McDowell) toma um rumo diferente quando o mesmo vai para a cadeia. Disparado o trabalho mais controverso do diretor, que deu-lhe outra nomeação para o prémio da Academia e outra derrota.
Nos anos seguintes, três filmes totalmente diferentes: um longuíssimo filme de época, um terror de gelar a espinha e a sua visão da Guerra do Vietname. O primeiro é Barry Lyndon (1975). Linda obra saída de uma novela de William Makepeace Thackeray. Apesar de ser pouco conhecido, o filme é considerado por muito dos fãs de Kubrick, entre eles Martin Scorsese, como seu melhor trabalho. Pois nele é perfeitamente visível o seu perfecionismo, característica marcante em sua carreira. Barry Lyndon, interpretado magistralmente por Ryan O'Neal, é uma espécie de "talentosa fraude" que inevitavelmente é expulso de onde quer que se meta. A fotografia do filme, dirigida por John Alcott - trabalhando sob a orientação técnica de Kubrick - e vencedora do Óscar, é outro momento inesquecível. Kubrick usou lentes criadas pela NASA para poder filmar alguns interiores. Detalhe: iluminados apenas com velas. Mesmo com todo o cuidado da produção, Barry Lyndon fracassou nos Estados Unidos, mas fez relativo sucesso na Europa. Levou quatro estatuetas douradas, mas de novo o admirável trabalho de Stanley como diretor não foi reconhecido pela maioria votante. Ele voltaria a ter um novo sucesso mundial com o clássico Shining (1980) (The Shining), adaptação da obra de Stephen King. A história de uma família que passa uma época num hotel nas montanhas até hoje faz sucesso onde quer que seja exibida. Quase no final dos anos 1980, Kubrick resurgiria dando ênfase a guerra. Dessa vez a do Vietname. Saída do livro de Gustav Hasford, Full Metal Jacket (Nascido Para Matar), de 1987, quase que uma versão "kubrickiana" de Apocalypse Now. O filme é praticamente dividido em duas partes: a preparação para a guerra e o ambiente de combate. Kubrick disse que ficou frustrado com o facto de que antes da estreia do filme dois outros longas sobre o tema já tinham sido lançados com sucesso: The Killing Fields (Terra sangrenta), de 1984, e Platoon (Platoon - Os Bravos do Pelotão), de 1986. Ainda como destaque da produção está o imenso set erguido em Londres, para a batalha final.
  
Final de carreira
Do seu último longa-metragem até Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados), de 1999, passou-se um longo período sem nada assinado por Stanley. Lançado em 1999, o filme protagonizado pelo (até então) casal número um dos Estados Unidos, causou uma grande comoção entre os amantes da sétima arte. Tom Cruise e Nicole Kidman interpretam um casal em crise e foi adaptada de romance escrito por Arthur Schnitzler, chamado Traumnovelle. Dois anos foi o período de filmagem, tempo que o perfecionismo de Kubrick achou necessário para a conclusão do filme, mas não o necessário para agradar à crítica e público. Kubrick faleceu enquanto dormia, devido a um ataque cardíaco, no dia 7 de março de 1999, não testemunhando a fria recepção que seu último trabalho obteve. O último projeto cinematográfico em que esteve envolvido, mas que por questões de saúde não dirigiu, foi AI: Inteligência Artificial, de Steven Spielberg. Encontra-se sepultado em Childwickbury Manor, Hertfordshire na Inglaterra.
   

Ravel nasceu há 145 anos!

   
Joseph-Maurice Ravel (Ciboure, 7 de março de 1875Paris, 28 de dezembro de 1937) foi um compositor e pianista francês, conhecido sobretudo pela subtileza das suas melodias instrumentais e orquestrais, entre elas, o Bolero, que considerava trivial e descreveu como "uma peça para orquestra sem música".
Começou a manifestar interesse pela música aos 7 anos. Desde então, dedicou-se ao estudo do piano, mas só começou a frequentar o Conservatório de Paris aos 14. Posteriormente, em 1895, passou a estudar só e retornou ao Conservatório em 1898, quando estudou composição com Gabriel Fauré. Concorreu no Prix de Rome, mas não foi bem sucedido.
Foi influenciado significativamente por Claude Debussy, mas também por compositores anteriores, como Mozart, Liszt e Strauss, mas logo encontrou seu próprio estilo, que ficou, porém, marcado pelo Impressionismo.
É mundialmente conhecido pelo seu Bolero, ainda hoje a obra musical francesa mais tocada no mundo. A composição foi encomendada pela bailarina Ida Rubinstein e estreou na Ópera de Paris em 1928.
Faleceu das consequências de uma doença cerebral orgânica, PiD, agravada por um acidente de táxi ocorrido em 1932. Durante o período que precedeu a sua morte, havia perdido parte da sua capacidade de compor devido às lesões cerebrais causadas pelo acidente. A sua inteligência sempre se manteve intacta mas o seu corpo já não respondia adequadamente, por causa de graves problemas motores.
   
Casa onde nasceu Ravel, em Ciboure
    
Uma infância feliz
Em 1875, a Terceira República Francesa de Patrice Mac-Mahon curava-se das feridas causadas pela derrota na Guerra Franco-Prussiana. Contudo, respirava um ressurgimento espiritual, a França seria testemunha de um período bastante fecundo na Artes. Quatro dias após a fria estreia de Carmen de Bizet, nasceu Ravel, em 7 de março, na casa número 12 do Quai de la Nivelle, em Ciboure (Ziburu em basco), comuna dos Pirineus Atlânticos, parte do País Basco francês. O seu pai, Joseph Ravel (1832-1908), era um engenheiro civil de renome, de ascendência suíça e da Saboia (Ravez). A sua mãe, Marie Delouart-Ravel (1840-1917), era de origem basca, descendente de uma antiga família espanhola (Deluarte ou Eluarte). Teve um irmão, Édouard Ravel (1878-1960), com quem manteve em toda a sua vida uma forte relação afetiva.
Poucos meses depois, em junho de 1875, a família Ravel se mudou para Paris. As afirmações insistentes de que a influência da Espanha sobre o imaginário musical de Maurice Ravel está vinculada a suas origens bascas são, então, exageradas, ainda mais porque o músico não retornou ao País Basco antes dos 25 anos. Entretanto, mais tarde regressaria regularmente para residir em Saint-Jean-de-Luz, para passar as férias ou trabalhar.
A infância de Ravel foi feliz. Os seus pais, atentos e cultos, frequentavam o meio artístico, fomentando os primeiros passos de seu filho que tão logo se revelou um talento musical excepcional. Começou os estudos de piano aos seis anos, sob a guia de Henry Ghys. Criança ajuizada, ainda que também caprichoso e teimoso, logo demonstrou o seu talento natural para a música, ainda que, para desespero de seus pais e professores, reconheceu mais tarde ter adicionado aos seus numerosos talentos «a mais extrema preguiça.» De facto, no início seu pai, para obrigá-lo a praticar o piano, tinha que lhe prometer pequenos pagamentos. Em 1887, recebeu precocemente aulas de Charles René (harmonia, contraponto e composição). O clima artístico e musical prodigiosamente fértil de Paris do fim do século XIX não podia, senão, estimular o desenvolvimento do jovem.
Cquote1.svg Toda criança é sensível à música - a todo tipo de música. O meu pai, muito mais culto nesta arte que a maioria dos aficionados, soube desenvolver meus gostos e estimular precocemente a minha paixão. Cquote2.svg
- Ravel, Esquisse autobiographique, 1928
  
Um futuro promissor
Ao ingressar no Conservatório de Paris em 1889, Ravel foi aluno de Charles de Bériot. Ali conheceu o pianista espanhol Ricardo Viñes, que acabou sendo um grande amigo e o intérprete escolhido para suas melhores obras. Os dois participariam do grupo conhecido como Les Apaches que causou agitação na estreia de Pelléas et Mélisande de Claude Debussy, em 1902. Impressionado com a música do Extremo Oriente na Exposição Universal de 1889, entusiasmado com a dos rebeldes Emmanuel Chabrier e Erik Satie, admirador de Mozart, Saint-Saëns e Debussy, influenciado pela leitura de Baudelaire, Edgar Poe, Condillac, Villiers de L’Isle-Adam e, sobretudo, de Stéphane Mallarmé, Ravel manifestou precocemente um caráter firme e um espírito musical muito independente. As suas primeiras composições provavam que eram já demonstrações de uma personalidade e uma mestria tal que seu estilo só evoluiria com o tempo: Ballade de la reine morte d’aimer (Balada da rainha morta de amor, 1894), Sérénade grotesque (Serenata grotesca, 1894), Menuet antique (1895), Habanera (1895 - para dois pianos).
Em 1897, Ravel entrou para a classe de contraponto de André Gedalge. Nesse mesmo ano, Gabriel Fauré foi também seu professor. Este julgou o compositor benevolente e o saudou como «muito bom aluno, laborioso e pontual» e sua «sinceridade que desarma». No final de seus estudos compôs a Abertura para Shéhérazade (cuja estreia ocorreu em maio de 1899, entre os assobios do público) e a famosa Pavane pour une infante défunte (Pavana para uma infanta defunta) de título curioso, que continua sendo a sua obra para piano mais tocada pelos melómanos aficionados, ainda que o seu autor não a tivesse em muita estima.
  
 

O bioquímico Stanley Miller nasceu há noventa anos

   
Stanley Lloyd Miller (Oakland, 7 de março de 1930 - National City, 20 de maio de 2007) foi um cientista norte americano.  Ele formou-se em Química na Universidade da Califórnia, em Berkeley, em 1951 e fez o doutoramento na Universidade de Chicago, concluído em 1954. Passou um ano com uma bolsa no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) e outros cinco anos na Universidade de Columbia, antes de se instalar na Universidade da Califórnia em San Diego - onde terminou a sua carreira científica.
Ficou conhecido pelos seus trabalhos sobre a origem da vida. Notabilizou-se, pela primeira vez, aos 23 anos de idade, por seu trabalho feito em colaboração com Harold Clayton Urey, que ficou conhecido como a Experiência de Urey-Miller.
  
A sua experiência
O grande feito do cientista foi realizado em 1952 (alguns dizem 1953), sob a supervisão de Harold Urey (1893-1981), quando ambos estavam na Universidade de Chicago. Num recipiente projetado para ser uma versão artificial da [suposta] atmosfera terrestre primitiva - uma mistura de hidrogénio, água, amónia e metano -, a dupla disparou cargas elétricas para simular o efeito de raios, e o resultado, após uma semana, aconteceu o aparecimento espontâneo de glicina e alanina, que são aminoácidos - moléculas orgânicas não complexas.
Esta experiência é considerada um marco histórico nas pesquisas a respeito da origem da vida, embora novos enfoques tenham questionado a sua validade, devido, em parte, à improbabilidade de uma atmosfera altamente redutora na terra primitiva, porém muitas pessoas já refizeram a experiência, e em todos os casos aconteceu a mesma coisa.
Desde então conhecido como "Experiência de Urey-Miller", foi publicado em 15 de maio de 1953 pela revista científica Science, com um impacto notável - era a primeira demonstração de como moléculas orgânicas poderiam ter surgido nas condições especiais da Terra primitiva.
  
A sua morte
Stanley Miller morreu no dia 20 de maio de 2007, aos 77 anos. Desde 1999, Miller estava lutando contra os efeitos de uma série de derrames, que o impediam de prosseguir na carreira académica. Segundo declaração de seu irmão, Donald, ao jornal americano "The New York Times", a causa da morte foi paragem cardíaca. Ele nunca se casou, nem deixou filhos.
"Stanley Miller foi o pai da química da origem da vida", disse Jeffrey Bada, professor de química marinha da Universidade da Califórnia em San Diego e foi orientado em sua pós-graduação pelo famoso cientista. "E ele foi um líder naquele campo por muitas décadas, mantendo-se ativo até mesmo após seu primeiro derrame, em novembro de 1999. Foi o experimento de Miller que quase da noite para o dia transformou o estudo da origem da vida num campo respeitável de investigação."
  

sexta-feira, março 06, 2020

Morais nasceu há 85 anos

  
João Pedro Morais, conhecido como Morais  (Cascais, 6 de março de 1935 - Vila do Conde, 27 de abril de 2010) foi um futebolista português que jogava como lateral.
   
Carreira
Iniciou a sua carreira no Caldas tendo passado posteriormente pelo Torreense, ingressando no Sporting em 1954.
Morais ficou na história do futebol português ao marcar um belo golo na final da Taça dos Clubes Vencedores de Taças de 1963–64 contra o MTK Budapest. Essa foi a única Taça dos Clubes Vencedores de Taças conquistada por um clube português. Este feito, conhecido como Cantinho do Morais daria origem à canção homónima popularizada pela cantora Maria José Valério.
Morais deixou o Sporting em 1969, jogando ainda no Rio Ave, clube do qual seria também treinador e no Paços de Ferreira
Em 19 de dezembro de 1966 foi agraciado com a Medalha de Prata da Ordem do Infante D. Henrique.
Morais estabeleceu-se em Vila do Conde - a cidade de seu penúltimo clube - depois de se retirar, indo trabalhar como funcionário da Câmara Municipal. Morreu em 27 de abril de 2010, aos 75 anos, após uma longa batalha contra a doença.
  
SeleçãoFez 10 jogos pela Seleção Portuguesa, incluindo três jogos na fase final do Campeonato do Mundo de 1966 na Inglaterra.
Morais jogou contra à Hungria (3-1), contra o Brasil (3-1) e contra à Coreia do Norte (5-3). Ele lesionou Pelé durante o jogo Portugal 3-1 Brasil, após uma entrada com violência por ter sido, também alegadamente, agredido minutos antes, através de uma cabeçada pelo mesmo Pelé.
Depois de terminado o Mundial, Morais jogou mais quatro vezes pela seleção, três delas em jogos de qualificação para o Campeonato da Europa de 1968.
  
Títulos
   
 

David Gilmour - 74 anos


David Jon Gilmour (Cambridge, 6 de março de 1946) é um guitarrista e cantor britânico, vocalista da banda inglesa Pink Floyd, tendo também editado álbuns a solo, bem como colaborado com outros artistas. Depois da saída de Roger Waters, a meio da década de 80, tornou-se a principal figura da banda. Foi considerado o 14º melhor guitarrista do mundo pela revista norte-americana Rolling Stone.
   
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