Existem dúvidas sobre o local de nascimento de Eva. No registo de nascimento consta ter sido na
cidade de
Junín na
província de Buenos Aires.
Todavia, existem indícios de que na realidade nasceu em uma estância,
sessenta quilómetros a sul de Junín, próximo do povoado de Los Toldos
(no
município de
General Viamonte).
A infância em
Los Toldos e depois em
Junin foi pobre.
A mãe, Juana Ibarguren, era uma costureira obsessiva com limpeza,
extremamente organizada e amante do estancieiro Juan Duarte, que tinha
outra família, legítima, em Chivilcoy, com outros 6 filhos. Depois da
morte de Juan num acidente de automóvel, Juana mudou-se com os filhos,
todos dele, para Junin, para fugir das humilhações da condição de
amante. O estancieiro registrou todos os filhos bastardos que teve com a
costureira. Curiosamente não registou Eva e muitos historiadores
relacionam este facto, tido como uma frustração para Evita, aos
condicionantes psicológicos que a levariam a buscar afirmação e sucesso
na vida.
Talvez por isto, já no poder, foi marcante o traço de valorização dos
laços familiares dos pobres argentinos. Quando Juan Duarte morreu,
Juana e os filhos com ele, Eva,
Juancito,
Elisa, Blanca e Erminda, todos ainda muito pequenos, saíram da zona
rural onde moravam para visitar o pai morto e dar-lhe o último beijo.
Foram escorraçados do velório pela viúva e pelos filhos legítimos dele.
Juana bateu o pé e insistiu que os filhos tinham o direito de beijar o
pai morto. Depois de negociações e para evitar bate-boca numa cerimónia
fúnebre, foi-lhes permitido que o fizessem, na condição de em seguida
sumirem dali. E foi o que fizeram. Depois disso Juana partiu e se mudou
com os filhos com Juan para Junin, na província de Buenos Aires. Nessa
época Eva, como toda adolescente provinciana, sonhava em ser
artista, ser uma estrela do teatro, do cinema. Eva tinha verdadeira paixão pela atriz norte-americana
Norma Shearer,
o modelo de mulher e de artista desde a infância. Assistia dezenas de
vezes os filmes no cineminha de Junin e jurava para si mesma que ainda
teria uma casa com telefones brancos e lençóis de cetim, como Norma nos
filmes, sem se permitir, é claro, um mínimo de visão crítica que lhe
desse conta de que aquilo tudo era apenas de
celulóide e nada mais.
Saía das sessões com as as mãos suadas e com os olhos revirados. Mas
foi imbuída desta vontade de vencer, de ser Norma, de rolar com meias
longas de seda com costura atrás, cabelos louros cacheados, sobre altos
colchões de mola e lençóis de cetim rosa e principalmente de ter uma
identidade que a bastardia lhe roubou, que a estimulou a deixar Junin e
partir para tentar a carreira de atriz em Buenos Aires.
Adolescência
"Só me casarei com um príncipe ou um presidente", dizia Maria
Eva Duarte quando vivia em Los Toldos, sua cidade natal no meio do
pampa. Desprezada por todos como filha ilegítima, a criança almejava um
futuro radiante como ouvia nas novelas de rádio, lia nas revistas de
cinema e via nos filmes de Hollywood. O pai, Don Juan Duarte,
proprietário de terras, havia literalmente comprado a sua mãe, a bela
Juana Ibarguren, em troca de um burro e uma carroça. Da união nasceram
quatro meninas e um menino. Evita, a mais nova, a 7 de maio de 1919. Ela
mal conheceu o pai, que em seguida regressou ao católico lar onde o
esperavam a esposa e os filhos legítimos. Dona Juana enfrentou sozinha as
vicissitudes e, quando a filha mais nova, Evita, estava com onze anos, mudou-se com
os filhos para Junín, uma vila na mesma província de Buenos Aires. O
preconceito, porém, era igual. Os colegas de escola, por exemplo, não
tinham permissão de cortejar Evita, em razão da origem. Não obstante,
suas três irmãs mais velhas progrediram socialmente. Encontraram
trabalho e fizeram bons casamentos.Restaram os rebeldes: Juancito e Eva,
a sonhadora decidida a tentar a vida no mundo do espetáculo. Humilhações demais lhe renderam um caráter duplamente genioso e uma
vontade indomável. Aos 15 anos, no dia 2 de janeiro de 1935, ela
partiu para a capital, Buenos Aires. Apelidada de "Paris da América do
Sul", a cidade fora arruinada pela crise mundial de 1929-30 e dependia
das exportações de carne e de trigo, Eva, pálida e morena, batia
incansavelmente às portas dos teatros. O seu único trunfo, a obstinação.
Fora a teimosia, que se tornou lendária, ela não tinha grande coisa a
oferecer. Sem real talento artístico nem extraordinária beleza, ela era
ignorante, arredia. Às humilhações vividas, somaram-se outras. Histórias
bastante banais: diretores que exerciam a sedução, amantes de algumas
horas. À mãe e às irmãs, que lhe suplicavam a volta para Junín,
respondia sempre: "Primeiro, a celebridade".
Em janeiro de 1935, com apenas quinze anos de idade e acompanhada de
Agustín Magaldi, cantor de tangos e amigo da família, considerado o
Gardel
do interior argentino, Eva partiu para a capital com uma malinha
contendo suas poucas roupas, talvez apenas com um vestido "de sair" e
mais uns trapinhos cuidadosamente lavados e engomados por Dona Juana.
Com dezasseis anos, decidiu seguir a carreira artística em Buenos Aires.
Em
1937 estreou no
cinema no filme
Segundos Afuera e, em seguida, foi contratada para fazer radionovelas.
Casamento
Em
1944 conheceu
Juan Domingo Perón, então vice-presidente da
Argentina e ministro do Trabalho e da Guerra. No ano seguinte, Perón foi preso por
militares
descontentes com sua política, voltada para a obtenção de benefícios
para os trabalhadores. Evita, então apenas a atriz Eva Duarte, organizou
comícios populares que forçaram as autoridades a libertá-lo. Pouco
depois casou com Perón, que foi eleito presidente em
1946.
Famosa pela sua elegância e seu
carisma, Evita conquista para o
peronismo o apoio da população pobre, na maioria migrantes de origem rural a quem ela chamava de "
descamisados".
"Ligando a figura mundialmente conhecida, de “Evita”, uma glória
‘hollywoodiana’ de proporções desmedidas, com a moça simples, a criança
ultrajada, podemos chegar à conclusão de que Eva foi, possivelmente, uma
personalidade dividida. De um lado, repleto de altruísmo e
generosidade, há a moça simples, ‘revoltada com a injustiça’, de outro,
no entanto, a mulher seduzida pelo poder. No âmago de suas preocupações
sociais mais profundas, como o salário e as seguranças empregatícias
para a dona de casa, encontra-se uma infância pobre e uma mãe humilhada
pelas circunstâncias. Promovida pelo peronismo, e sendo principal fator
de legitimação deste, a figura de Eva irá se confundir com a de uma
grande estadista. Eva torna-se mais importante do que a própria imagem
da Argentina real, uma vez que esta imagem é representada revestida de
um aparato e de uma glória que não correspondem à realidade social da
época."
Eva e Juan Perón casaram a 22 de outubro de 1945
Carreira política
O mais impressionante na história da vida de Eva foi o caminho
meteórico que ela percorreu na vida pública. Entre a total obscuridade
ao mais absoluto resplendor pessoal e político da vida e em seguida a
morte, tudo ocorreu em apenas 7 anos. Nesse curto período ela saiu do
anonimato para se tornar uma das mulheres mais importantes e poderosas
do mundo. Na breve existência (morreu aos 33 anos de idade) há muitos
mistérios, muitos factos obscuros, mas há principalmente uma personalidade
tragicamente marcante.
"Figura chave de um regime ancorado no paternalismo e na demagogia,
Evita resiste, no entanto, como uma imagem ao mesmo tempo alheia e
superior ao mesmo. Mais do que uma estadista, mais do que um pivô ou um
esteio sobre o qual o governo de Perón se apoia, Evita ganha voz própria
porque ela encarnou em si uma série de ambições e de pretensões
sociais. A sua transcendência está consubstanciada na sua fantástica
ascensão sócio-política. Uma bela mulher, que venceu na vida através dos
mecanismos próprios a uma mulher, só poderia espelhar um sistema de
poder centrado na sedução. É só através da sedução coletiva das massas, e
do fascínio, da ascese que esta sedução acarreta, que pode firmar-se um
regime deste tipo."
Em Buenos Aires foi morar com Juancito, o seu irmão que servia o
exército na capital e já trabalhava como vendedor numa fábrica de sabão.
Levavam uma vida difícil, simples, entre as obrigações da sobrevivência
e fins de semana em bares. Quando sobrava algum dinheiro desfrutavam o
prazer de um
puchero regado a cerveja Quilmes com os amigos da cidade grande. Eva passava o dia a procura de trabalho em rádios, revistas e,
principalmente, tentando obter uma chance de trabalhar no teatro e no
cinema. Depois de passar fome, se submeter aos assédios de homens importantes do mundo artístico, que lhe prometiam chances
condicionadas a algumas horas nas camas vagabundas de pensões portenhas,
Eva acabou por ter a primeira chance concreta no cinema, no filme
Segundos Afuera. Nesse filme, no qual teve um pequeno papel secundário, obtido graças à intervenção de Emilio Kartulowicz, dono da revista
Sintonía, ela teve chance de mostrar ao mundo artístico argentino a total falta
de talento para a carreira de atriz. Mas como o destino sempre se impõe,
foi na relação com este mundo que ela teve a grande chance: conhecer um
coronel chamado Juan, o mesmo nome do seu pai, do seu irmão, da mãe, da
sogra, da parteira e e da cidade que motivou o encontro do casal: San
Juan. Era o Coronel
Juan Domingo Perón. San Juan havia sido atingida por um terrível terramoto.
O Coronel Perón,
vice-presidente da República e Ministro da Guerra e Chefe da Secretaria de Trabalho e Previdência, organizou, no ginásio do
Luna Park, em
Buenos Aires, um evento artístico para angariar fundos para as vítimas do terramoto. Eva, que nessa época já tinha um programa de rádio onde declamava
versos, participava de rádio-novelas e falava sobre a biografia de
mulheres famosas, foi ao evento acompanhada de uma amiga com quem
dividia um quarto de pensão. No evento Eva se aproveitou de um ligeiro
descuido de uma outra atriz principiante que se sentava ao lado do
Coronel na primeira fila de cadeiras. Ela precisou se levantar e Eva
sentou-se nesta poltrona, ao lado do vice-presidente. Encantada e
embevecida por ter ao seu lado aquele homem de 1,90 de altura, porte
atlético, sorriso irresistível e envergando um uniforme militar branco
impecavelmente passado, ficou com as mãos suando, trémula, mas segura o
bastante para dizer a ele a frase que provavelmente tenha servido para
mudar a história da Argentina pelos futuros 40 anos:"- Coronel, obrigada
por existir." Era 22 de janeiro de 1944.
O
escritor argentino
Tomás Eloy Martínez, autor de
Santa Evita
(1995) garante que a frase "Voltarei e serei milhões", atribuída a
Evita e inscrita em bronze em seu túmulo, nunca foi pronunciada. Embora
defenda esse ponto de vista, o escritor acha que isso pouco importa pois
escrever a História difere pouco de inventar história e que a realidade
e a ficção, principalmente na América Latina, se confundem.
Em 1945, durante a festa de comemoração de seus 50 anos, Perón, em
companhia de Eva, Juancito, Domingo Mercante, além de alguns poucos
casais e amigos ouviu soar a campainha da porta de entrada de seu
apartamento. Já sem gravata e em mangas de camisa branca o coronel foi
atender a porta. Nesse momento o apartamento foi invadido pelo Coronel
Ávalos que, em marcha, informou ao aniversariante, fria e formalmente,
que não havia mais como o exército dar-lhe apoio político e que a
indicação do amigo Nicolini para os Correios fora a gota de água. No bolso
da camisa branca de Perón, que tinha as mangas arregaçadas até o
cotovelo, se via o alfinete da caneta de pena de ouro há pouco recebida
como presente de aniversário de Juan Ramón Duarte, o Juancito.
Depois da saída do coronel Ávalos, Perón disse a Juan, com um sorriso
enigmático: "Parece que seu presente veio em boa hora. Pelo jeito vou
precisar usá-la para assinar minha renúncia." Embora Juancito não
conseguisse naquele momento entender como poderia alguém dizer uma frase
dessas com um sorriso nos lábios, seu sangue gelou e sentiu que iria
desmaiar. Juancito ainda não havia descoberto como decifrar essa carta
enigmática, a juntar as peças desse quebra-cabeças que atendia pelo nome
de Juan Domingo Perón.
Poucos dias depois Perón foi preso por ordem de Edelmiro Farrel,
então presidente provisório da República. A revolta popular foi
incontrolável e o presidente viu-se com uma batata quente nas mãos.
Fraco e adoentado, Farrel, vendo a temperatura política subir
rapidamente resolveu trasladar Perón da prisão para o hospital militar
em Buenos Aires onde ficou custodiado. Dali Perón negociou e impôs
condições para a própria libertação. Político habilíssimo usou a prisão
como fórmula de vitimização e de mobilização popular a seu favor. Eva,
desesperada, mergulhou de cabeça numa campanha furiosa, desenfreada e
descabelada pela libertação de Perón. Dois dias depois e onze dias após a
prisão, era possível ver de novo, na sacada do Palácio do Governo um
vulto acenando para a multidão de dezenas de milhares de simpatizantes,
sorriso nos lábios, os dois braços ao alto. Era Perón.
Perón, um homem das planícies da
Patagônia,
um solitário que nunca deixava saber exatamente o que sentia, tinha uma
personalidade peculiar e ambígua. Era uma pessoa externamente e outra,
que nem ele conhecia bem, internamente. Sempre sorria, conquistava pelo
sorriso, mas o que lhe marcava a complexa e ao mesmo tempo tosca
personalidade era o olhar, o olhar do caçador de
guanacos.
Animal típico da Patagónia, o guanaco exigia do seu caçador extrema
habilidade em dissimular. Para fugir do cuspo venenoso o caçador
precisava distrair o animal, fazer algum gesto ou movimento para desviar o
seu olhar. Só assim seria possível abatê-lo. Como hábil caçador de
guanacos, o coronel Perón ouviu a declaração encantada de Eva no Luna
Park. Só não sabia que também ela era uma caçadora proverbial de
guanacos e naquele momento pactuou-se ali uma sociedade de ideias e
interesses que os levou aos limites do poder, da glória, da riqueza e
por fim, da ruína, da desmoralização mas jamais do esquecimento e da
indiferença. Os nomes de Eva Perón, a Evita, e Juan Domingo Perón
impregnaram-se de forma definitiva no imaginário do povo argentino, como
ocorre com nossas
imagos mais primitivas, lembranças arquetípicas
indeléveis como os registos do
DNA nas nossas células.
“Mas nem Mussolini nem Hitler levaram a sua loucura auto-induzida
ao ponto de tentarem publicamente usurpar o lugar de Deus. Perón
tentou.(...)Foi nesse ponto que começou a divinização de Perón. Evita
deu o tom: ‘Só há um Perón... Ele é um Deus para nós...Nosso sol, nosso
ar, nossa vida.’ Um ministro de governo equiparou Perón a Cristo, Maomé e
Buda, como fundador de uma grande doutrina religiosa! A máquina de
propaganda começou a espalhar folhetos e alusões dessa espécie. Ao mesmo
tempo, empreendia-se uma campanha para canonizar Evita. Em outubro de
1951, ela foi apresentada a uma multidão peronista como ‘Nossa Senhora
da Esperança’ e o próprio Perón rematou a reunião, proclamando um novo
feriado, o ‘Dia de Santa Evita’. Depois da morte de Evita, em 1952, a
neurose deliberada se agravou. Um porta-voz peronista, falando da sacada
do palácio do governo, dirigiu-se a ela como ‘mãe nossa que estais no
céu’. Exibiu-se um filme intitulado Evita imortal e a revista Mundo
Peronista divulgou na capa uma Evita santificada, a quem não faltava a
auréola.”
Por causa da personalidade arrebatada e por ser uma defensora
incansável dos pobres, miseráveis e explorados Eva muitas vezes foi
confundida como sendo uma militante de esquerda, embora nunca o tenha
sido. Ela rejeitava ferrenhamente este rótulo, tendo inclusive muitas
vezes
estado indisposta com os comunistas ortodoxos da Argentina, que viam
na ação assistencialista até mesmo um fator de atraso nas conquistas da
classe operária. O voto feminino, por exemplo, reivindicação histórica
das mulheres comunistas argentinas, foi implantado por um golpe de
voluntarismo de Evita. Isso irritou profundamente a militância
comunista, como Julieta Lanteri, Carolina Musill, Victoria Ocampo,
Alicia Moreau, que defendiam a tese de que a conquista deveria ser
historicamente conduzida. Quando a lei do voto feminino foi sancionada
por Perón elas disseram: "agora não queremos mais votar".
Evita
Em determinado momento, fruto de criação da atriz Eva Duarte, surgiu a
personagem "Evita". A própria Eva tinha consciência da existência
autónoma da sua personagem, que ela transformou quase numa segunda
personalidade. Assim, Eva Péron se referia a
Evita:
|
Quando escolhi ser "Evita" sei que escolhi o caminho do meu povo.
Agora, a quatro anos daquela eleição, fica fácil demonstrar que
efetivamente foi assim. Ninguém senão o povo chama-me de "Evita". Somente aprenderam a me chamar assim os "descamisados".
Os homens do governo, os dirigentes políticos, os embaixadores, os
homens de empresa, profissionais, intelectuais, etc., que me visitam
costumam me chamar de "Senhora"; e alguns inclusive me chamam
publicamente de "Excelentíssima ou Digníssima Senhora" e ainda, às
vezes, "Senhora Presidenta". Eles não vêem em mim mais do que a Eva
Perón. Os descamisados, no entanto, só me conhecem como "Evita". Eu me
apresentei assim para eles, por outra parte, no dia em que saí ao
encontro dos humildes da minha terra dizendo-lhes que preferia ser a
"Evita" a ser a esposa do Presidente se esse "Evita" servia para mitigar
alguma dor ou enxugar uma lágrima. E, coisa estranha, se os homens do
governo, os dirigentes, os políticos, os embaixadores, os que me chamam
de "Senhora" me chamassem de "Evita" eu acharia talvez tão estranho e
fora de lugar como que se um garoto, um operário ou uma pessoa humilde
do povo me chamasse de "Senhora". Mas creio que eles próprios achariam
ainda mais estranho e ineficaz. Agora se me perguntassem o que é que eu
prefiro, minha resposta não demoraria em sair de mim: gosto mais do meu
nome de povo. Quando um garoto me chama de "Evita" me sinto mãe de todos
os garotos e de todos os fracos e humildes da minha terra. Quando um
operário me chama de "Evita" me sinto com orgulho "companheira" de todos
os homens.
|
|
As divergências ideológicas não impediram, depois da sua morte, que
as bandeiras que ela defendia de ódio aos ricos e poderosos, que ela
chamava de oligarcas e da mais absoluta e intransigente defesa dos
pobres e oprimidos fossem violentamente disputadas pela direita, pelo
centro e até pela extrema esquerda, personificada no grupo guerrilheiro
Tupamaro. No entanto, para esses pobres que ela carinhosamente chamava
de
grasitas, Evita nunca foi uma líder ideológica. Para eles ela
era muito mais. Era mais que a mulher do grande Perón, mais que uma
benfeitora, mas a líder espiritual da nação argentina, quase uma santa.
Essa ambiguidade conce
ptual foi sabiamente usada por todas as correntes
ideológicas argentinas que usaram o justicialismo peronista para chegar
ou tentar chegar ao poder depois da chamada Revolução Libertadora, o
golpe de Estado que depôs Perón em 1955.
Às 20.25 horas de
26 de julho de
1952, morre aos 33 anos, de
cancro do útero. Embalsamado, o seu corpo ficou exposto à visitação pública até que, durante o
golpe de Estado que derrubou Perón em
1955, o seu cadáver foi roubado e enterrado no
Cemitério Monumental de Milão,
Itália. Dezasseis anos mais tarde, em
1971, o corpo foi exumado e transladado para a
Espanha. Ali foi entregue ao ex-
presidente Perón, que vivia exilado em
Madrid.
O médico argentino que embalsamou Evita revelou que fora um trabalho
perfeito, uma vez que, Evita parecia "uma boneca" devido a sua baixa
estatura, pele alva e vestido de cetim branco. Após a vinda do esquife
da Espanha numa caixa de vidro... Evita parecia adormecida.
"Evita havia se diluído, estava em todos os lugares! A sua
identificação à sua pátria fora tão completa e consumada que agora,
morta enquanto integridade física coesa, ela vivia, enquanto mito, em
todos os recantos da Argentina."
Perón voltou à Argentina em
1973 e foi reeleito
presidente, tendo a terceira mulher,
Isabelita Perón, como vice. Após sua morte, em
1974, Isabelita Perón trouxe o corpo de Evita para a
Argentina onde foi exposto novamente por um breve período. Foi então enterrada novamente no mausoléu da família Duarte no
cemitério da Recoleta, na cidade de
Buenos Aires.