quinta-feira, dezembro 15, 2011

El-Rei D. Fernando II morreu há 126 anos

Fernando II de Portugal (batizado Fernando Augusto Francisco António de Saxe-Coburgo-Gota-Koháry; 29 de outubro de 1816 - 15 de dezembro de 1885), foi o Príncipe e, posteriormente, Rei de Portugal pelo seu casamento com a Rainha D. Maria II em 1836.
De acordo com as leis portuguesas, D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota-Koháry tornou-se Rei de Portugal jure uxoris, apenas após o nascimento do primeiro Príncipe, que foi o futuro D. Pedro V. Embora fosse D. Maria II a detentora do poder, D. Fernando evitava sempre que possível a política, preferindo envolver-se com a arte.
D. Fernando II foi regente do reino por quatro vezes, durante as gravidezes de D. Maria II, depois da sua morte em 1853 e quando seu segundo filho, o rei D. Luís I, e a rainha D. Maria Pia de Sabóia se ausentaram de Portugal para assistirem à Exposição de Paris em 1867.
Ele ficou conhecido na História de Portugal como "O Rei-Artista".
Era o primogénito do príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, irmão do duque Ernesto I e do rei Leopoldo I dos Belgas, e de sua esposa, Maria Antónia de Koháry. Tinha três irmãos mais novos: Augusto, Vitória e Leopoldo.
O príncipe cresceu em vários lugares: nas terras de sua família na actual Eslováquia e nas cortes austríacas e germânicas.
Em 1869, Fernando casou-se pela segunda vez, morganaticamente, com Elise Hensler, feita Condessa d'Edla, que era uma cantora de ópera e mãe solteira, a quem deixaria como herança o Palácio da Pena, cuja construção foi da sua inteira responsabilidade e entregue ao engenheiro alemão, Wilhelm Ludwig von Eschwege.
Em 1862, houve uma revolta na Grécia contra o Rei Oto I e foi oferecido o trono grego a D. Fernando II, mas este recusou.
Em 1868, uma revolução expulsou a Rainha Isabel II da Espanha e a sua família, e o governo provisório espanhol, não desejando estabelecer uma República, ofereceu a coroa a D. Fernando II, então com quarenta e nove anos. Também rejeitou a proposta.
O seu corpo jaz ao lado de D. Maria II, a sua primeira esposa, no Panteão dos Braganças, em São Vicente de Fora, Lisboa.


O Palácio Nacional da Pena, popularmente referido apenas por Palácio da Pena ou Castelo da Pena, localiza-se na vila de Sintra, freguesia de São Pedro de Penaferrim, concelho de Sintra, no distrito de Lisboa, em Portugal. Representa uma das melhores expressões do Romantismo arquitectónico do século XIX no mundo, constituindo-se no primeiro palácio nesse estilo na Europa, erguido cerca de 30 anos antes do carismático Castelo de Neuschwanstein, na Baviera. Em 7 de julho de 2007 foi eleito como uma das Sete Maravilhas de Portugal.
No século XIX a paisagem da serra de Sintra e as ruínas do antigo convento maravilharam o rei-consorte Fernando II de Portugal. Em 1838 este decidiu adquirir o velho convento, a cerca envolvente, o Castelo dos Mouros e quintas e matas circundantes.
No tocante à área do antigo convento, promoveu-lhe diversas obras de restauro, com o intuito de fazer do edifício a sua futura residência de Verão. O novo projecto foi encomendado ao mineralogista germânico Barão von Eschwege, arquiteto amador. Homem viajado, Eschwege, que nascera em Hessen, deveria conhecer, pelo menos em forma de projecto, as obras que Frederico Guilherme IV da Prússia empreendera com o concurso de Schinkel nos Castelos do Reno, tendo passado em viagem de estudo por Berlim, Inglaterra e França, pela Argélia e por Espanha (Córdova, Sevilha e Granada).
Em Sintra, os trabalhos decorreram rapidamente e a obra estaria quase concluída em 1847, segundo o projecto do alemão, mas com intervenções decisivas ao nível dos detalhes decorativos e simbólicos do rei-consorte. Muitos dos detalhes, nos planos construtivo e decorativo, ficaram a dever-se ao ecléctico e exótico temperamento romântico do próprio monarca que, a par de arcos ogivais, torres de sugestão medieval e elementos de inspiração árabe, desenhou e fez reproduzir, na fachada norte do Palácio, uma imitação do Capítulo do Convento de Cristo em Tomar.




Custódia de Belém, cuja autoria é atribuída a Gil Vicente, 1506, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

A Custódia de Belém foi tomada como saque pelas tropas francesas durante a Guerra Peninsular, sendo levada para França, sendo devolvida após o termo da guerra. Foi enviada para a Casa da Moeda, aparentemente para fusão, destino do qual foi resgatada pela intervenção de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, rei consorte de Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria II de Portugal.

O Homem que escreveu a certidão de nascimento do Brasil morreu há 511 anos

 Reprodução da carta de Vaz de Caminha a Manuel I de Portugal

Pero Vaz de Caminha (Galaico-português: Pero Uaaz de Camjnha; Porto, Portugal, 1450 - Calecute, Índia, 15 de Dezembro de 1500), às vezes popularmente chamado de Pedro Vaz de Caminha, foi um escritor português que se notabilizou nas funções de escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral.
Era filho de Vasco Fernandes de Caminha, cavaleiro do duque de Bragança. Seus ancestrais seriam os antigos povoadores de Neiva à época do reinado de D. Fernando (1367-1383).
Letrado, Pero Vaz foi cavaleiro das casas de D. Afonso V (1438-1481), de D. João II (1481-1495) e de D. Manuel I (1495-1521). Pai e filho, para melhor desempenhar seus cargos, precisavam exercitar a prática e desenvolver o conhecimento da escrita, distinguindo-se a serviço dos monarcas.
Teria participado da batalha de Toro (2 de Março de 1475). Em 1476 herdou do pai o cargo de mestre da balança da Casa da Moeda, um cargo equivalente ao de escrivão e tesoureiro, posição de responsabilidade em sua época. Em 1497 foi escolhido para redigir, na qualidade de Vereador, os Capítulos da Câmara Municipal do Porto, a serem apresentados às Cortes de Lisboa. Afirma-se que D. Manuel I, que o nomeou para o cargo no Porto, lhe tinha afeição.
Em 1500, foi nomeado escrivão da feitoria a ser erguida em Calecute, na Índia, razão pela qual se encontrava na nau capitânia da armada de Pedro Álvares Cabral em Abril daquele mesmo ano, quando a mesma descobriu o Brasil. Caminha eternizou-se como o autor da carta, datada de 1 de Maio, ao soberano, um dos três únicos testemunhos desse achamento (os outros dois são a Relação do Piloto Anónimo e a Carta do Mestre João Faras).
Mais conhecido dentre os três, a Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a certidão de nascimento do Brasil embora, dado o segredo com que Portugal sempre envolveu relatos sobre sua descoberta, só fosse publicada no século XIX, pelo Padre Manuel Aires de Casal em sua "Corografia Brasílica", Imprensa Régia, Rio de Janeiro, 1817. O texto de Mestre João demoraria mais ainda: veio à luz em 1843 na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e isso graças aos esforços do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen.
Tradicionalmente se aceita que Caminha pereceu em combate durante o ataque muçulmano à feitoria de Calecute, em construção, no final de 1500.
Caminha desposou D. Catarina Vaz, com quem teve, pelo menos, uma filha, Isabel.

O ex-baixista dos The Clash, Paul Simonon, faz hoje 56 anos

Paul Simonon (Londres, 15 de dezembro de 1955) é um baixista britânico e co-fundador (baixo/vocais) da banda britânica de punk rock The Clash.
Depois do fim do The Clash, Paul Simonon entrou para um grupo chamado Havana 3AM, que gravou somente um álbum no Japão e se separou. Posteriormente Simonon voltaria às suas raízes de artista visual, organizando várias galerias de arte. Sua relutância em voltar a tocar foi citado como a principal razão de o Clash ter sido uma das poucas bandas punks britânicas dos anos 70 que não se aproveitou da febre de nostalgia punk que assolou o final dos anos 90 para tentar relançar a carreira. Atualmente Paul Simonon toca junto com Damon Albarn e seu antigo companheiro Mick Jones, na banda virtual de rock Gorillaz fazendo as aparições ao vivo.


O arquiteto Oscar Niemeyer faz hoje 104 anos!

Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares (Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1907) é um arquiteto brasileiro, considerado um dos nomes mais influentes na Arquitetura Moderna internacional. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado.
Seus trabalhos mais conhecidos são os edifícios públicos que desenhou para a cidade de Brasília.

Sede da ONU, projeto conjunto com Le Corbusier de 1947


O padre e poeta José Tolentino Mendonça nasceu há 46 anos

(imagem daqui)

José Tolentino Calaça Mendonça (Machico, 15 de Dezembro de 1965) é um sacerdote e poeta português.
Deu início ao estudo de Teologia em 1982. Uma vez ordenado padre, em 28 de Julho de 1990, deslocou-se para a Roma, onde terminou o seu mestrado em Ciências Bíblicas. Regressado a Portugal ingressou na Universidade Católica Portuguesa, onde foi capelão e leccionou as disciplinas de Hebraico e Cristianismo e Cultura. Aí se doutorou em Teologia Bíblica, tornando-se professor auxiliar. Dirige o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e a revista Didaskalia, editada pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Em dezembro de 2011 foi nomeado consultor do Conselho Pontifício da Cultura.


A casa onde às vezes regresso é tão distante

A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração

in
A Que Distância Deixaste o Coração (1998) - José Tolentino Mendonça

Eiffel nasceu há 179 anos

Alexandre Gustave Eiffel (Dijon, 15 de dezembro de 1832 - Paris, 27 de dezembro de 1923), também conhecido por Gustavo Eiffel, foi um engenheiro francês que participou da construção da Estátua da Liberdade em Nova Iorque e da Torre Eiffel de Paris. Ele está sepultado no cemitério de Levallois-Perret em Paris.
O pai de Eiffel construiu através dos anos uma sólida fortuna pessoal. Gustave Eiffel primeiro estudou no Colégio Sainte-Barbe, um dos mais antigos de Paris. Em 1852 entrou na Escola Central de Paris, uma escola prestigiada de engenharia, também conhecida como Escola Central de Artes e Manufacturas. Terminou os estudos em 1855, formando-se em engenheiro químico.
Iniciou a sua carreira trabalhando numa empresa belga de construção de caminhos-de-ferro. Em 1856, Eiffel conheceu Charles Nepveu, empresário especialista em construções metálicas. Aos 26 anos, Gustave chefiou o seu primeiro grande trabalho construindo a ponte ferroviária em Bordeaux. Na construção, Gustave utilizou pela primeira vez, a técnica de fundação de ar comprimido na execução de pilhas tubulares.
Gustave Eiffel chegou a viver em Portugal, em Barcelinhos, de onde projectou as construções em Portugal que lhe estão associadas.
Já experiente, resolveu fundar a sua própria empresa. Em 1866 adquiriu um atelier de construção metálica, próximo de Paris.
Destacam-se os projectos:
Das suas construções mais conhecidas, salienta-se a estrutura metálica da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque (1886) e a Torre Eiffel.

Ponte D. Maria Pia - Porto

Torre Eiffel - Paris

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Agulha e Dedal

Fernando Pessoa e o Presidente-Rei

(imagem daqui)

À Memória do Presidente-Rei Sidónio Pais


LONGE DA FAMA e das espadas,
Alheio às turbas ele dorme.
Em torno há claustros ou arcadas?
Só a noite enorme.

Porque para ele, já virado
Para o lado onde está só Deus,
São mais que Sombra e que Passado
A terra e os céus.

Ali o gesto, a astúcia, a lida,
São já para ele, sem as ver,
Vácuo de ação, sombra perdida,
Sopro sem ser.

Só com sua alma e com a treva,
A alma gentil que nos amou
Inda esse amor e ardor conserva?
Tudo acabou?
No mistério onde a Morte some
Aquilo a que a alma chama a vida,
Que resta dele a nós - só o nome
E a fé perdida?

Se Deus o havia de levar,
Para que foi que no-lo trouxe -
Cavaleiro leal, do olhar
Altivo e doce?

Soldado-rei que oculta sorte
Como em braços da Pátria ergueu,
E passou como o vento norte
Sob o ermo céu.

Mas a alma acesa não aceita
Essa morte absoluta, o nada
De quem foi Pátria, e fé eleita,
E ungida espada.

Se o amor crê que a Morte mente
Quando a quem quer leva de novo
Quão mais crê o Rei ainda existente
O amor de um povo!
Quem ele foi sabe-o a Sorte,
Sabe-o o Mistério e a sua lei.
A Vida fê-lo herói, e a Morte
O sagrou Rei!

Não é com fé que nós não cremos
Que ele não morra inteiramente.
Ah, sobrevive! Inda o teremos
Em nossa frente.

No oculto para o nosso olhar,
No visível à nossa alma,
Inda sorri com o antigo ar
De foça calma.

Ainda de longe nos anima,
Inda na alma nos conduz -
Gládio de fé erguido acima
Da nossa cruz!

Nada sabemos do que oculta
O véu igual de noite e dia.
Mesmo ante a Morte a Fé exulta:
Chora e confia.
Apraz ao que em nós quer que seja
Qual Deus quis nosso querer tosco,
Crer que ele vela, benfazeja
Sombra conosco.

Não sai da nossa alma a fé
De que, alhures que o mundo e o fado,
Ele inda pensa em nós e é
O bem-amado.

Tenhamos fé, porque ele foi.
Deus não quer mal a quem o deu.
Não passa como o vento o herói
Sob o ermo céu.

E amanhã, quando queira a Sorte,
Quando findar a expiação,
Ressurecto da falsa morte,
Ele já não.

Mas a ânsia nossa que encarnara,
A alma de nós de que foi braço,
Tornará, nova forma clara,
Ao tempo e ao espaço.
Tornará feito qualquer outro,
Qualquer cousa de nós com ele;
Porque o nome do herói morto
Inda compele;

Inda comanda, e a armada ida
Para os campos da Redenção,
Às vezes leva à frente, erguida
'Spada, a Ilusão.

E um raio só do ardente amor,
Que emana só do nome seu,
Dê sangue a um braço vingador,
Se esmoreceu.

Com mais armas que com Verdade
Combate a alma por quem ama.
É lenha só a Realidade:
A fé é a chama.

Mas ai, que a fé já não tem forma
Na matéria e na cor da Vida,
E, pensada, em dor se transforma
E a fé perdida!
P'ra que deu Deus a confiança
A quem não ia dar o bem?
Morgado da nossa esperança,
A Morte o tem!

Mas basta o nome e basta a glória
Para ele estar conosco, e ser
Carnal presença de memória
A amanhecer;

'Spectro real feito de nós,
da nossa saudade e ânsia,
Que fala com oculta voz
Na alma, a distância;

E a nossa própria dor se torna
Uma vaga ânsia, 'sperar vago,
Como a erma brisa que transtorna
Um ermo lago.

Não mente a alma ao coração.
Se Deus o deu, Deus nos amou.
Porque ele pôde ser, Deus não
Nos desprezou.
Rei-nato, a sua realeza,
Por não podê-la herdar dos seus
Avós, com mística inteireza
A herdou de Deus;

E, por direta consonância
Com a divina intervenção,
Uma hora ergueu-nos alta a ânsia
De salvação.

Toldou-o a Sorte que o trouxera
Outra vez com noturno véu.
Deus pr'a que no-lo deu, se era
P'ra o tornar seu?

Ah, tenhamos mais fé que a esp'rança!
Mais vivo que nós somos, fita
Do Abismo onde não há mudança
A terra aflita.

E se assim é; se, desde o Assombro
Aonde a Morte as vidas leva,
Vê esta pátria, escombro a escombro,
Cair na treva;
Se algum poder do que tivera
Sua alma, que não vemos, tem,
De longe ou perto - por que espera?
Por que não vem?

Em nova forma ou novo alento,
Que alheio pulso ou alma tome,
Regresse como um pensamento,
Alma de um nome!

Regresse sem que a gente o veja,
Regresse só que a gente o sinta -
Impulso, luz, visão que reja
E a alma pressinta!

E qualquer gládio adormecido,
Servo do oculto impulso, acorde,
E um novo herói se sinta erguido
Porque o recorde!

Governa o servo e o jogral.
O que íamos a ser morreu.
Não teve aurora matinal
'Strela do céu.
Vivemos só de recordar.
Na nossa alma entristecida
Há um som de reza a invocar
A morta vida;

E um místico vislumbre chama
O que, no plaino trespassado,
Vive ainda em nós, longínqua chama -
O DESEJADO.

Sim, só há a esp'rança, como aquela
- E quem sabe se a mesma? - quando
Se foi de Aviz a última estrela
No campo infando.

Novo Alcacer-Kibir na noite!
Novo castigo e mal do Fado!
Por que pecado novo o açoite
Assim é dado?

Só resta a fé, que a sua memória
Nos nossos corações gravou,
Que Deus não dá paga ilusória
A quem amou.
Flor alta do paul da grei,
Antemanhã da Redenção,
Nele uma hora encarnou o el-rei
Dom Sebastião.

O sopro de ânsia que nos leva
A querer ser o que já fomos,
E em nós vem como em uma treva,
Em vãos assomos,

Bater à porta ao nosso gesto,
Fazer apelo ao nosso braço,
Lembrar ao sangue nosso o doesto
E o vil cansaço,

Nele um momento clareou,
A noite antiga se seguiu,
Mas que segredo é que ficou
No escuro frio?

Que memória, que luz passada
Projeta, sombra, no futuro,
Dá na alma? Que longínqua espada
Brilha no escuro?
Que nova luz virá raiar
Da noite em que jazemos vis?
Ó sombra amada, vem tornar
A ânsia feliz.

Quem quer que sejas, lá no abismo
Onde a morte vida conduz,
Sê para nós um misticismo
A vaga luz

Com que a noite erma inda vazia
No frio alvor da antemanhã
Sente, da esp'rança que há no dia,
Que não é vã.

E amanhã, quando houver Hora,
Sendo Deus pago, Deus dirá
Nova palavra redentora
Ao mal que há,

E um novo verbo ocidental
Encarnado em heroísmo e glória,
Traga por seu broquel real
Tua memória!
Precursor do que não sabemos,
Passado de um futuro abrir
No assombro de portais extremos
Por descobrir,

Sê estrada, gládio, fé, fanal,
Pendão de glória em glória erguido!
Tornas possível Portugal
Por teres sido!

Não era extinta a antiga chama
Se tu e o amor puderam ser.
Entre clarins te a glória aclama,
Morto a vencer!

E, porque foste, confiando
Em QUEM SERÁ porque tu foste,
Ergamos a alma, e com o infando
Sorrindo arroste,

Até que Deus o laço solte
Que prende à terra a asa que somos,
E a curva novamente volte
Ao que já fomos,
E no ar de bruma que estremece
(Clarim longínquo matinal!)
O DESEJADO enfim regresse
A Portugal!


Fernando Pessoa

Dinah Washington morreu há 48 anos

Dinah Washington, pseudónimo de Ruth Lee Jones (Tuscaloosa, Alabama, EUA, 29 de agosto de 1924 - 14 de dezembro de 1963), americana, cantora de jazz, blues e música religiosa.
De família de baixos rendimentos, mudou-se para Chicago aos quatro anos. Teve uma infância solitária, já que seu pai, um apreciador de casinos, raramente estava em casa, e sua mãe passava os dias na rua atrás do dinheiro para sustentar Dinah, suas irmãs e pagar as frequentes dívidas do marido.
Sozinhas em casa, as meninas começaram a se refugiar na igreja, onde passavam as tardes. Dinah tocava piano, assim como sua mãe, e todas cantavam no coral.
Antes da adolescência, Dinah começou a fazer sucesso nas redondezas do bairro onde vivia, e logo tocava piano e cantava gospel por toda Chicago, até vencer um concurso de novatos cantando blues. O concurso lhe rendeu um convite para participar do conjunto vocal Sarah Martin Singers, pouco antes de completar doze anos. Aos quinze anos, diante das proibições de sua mãe, começou a fugir pela janela de seu quarto para cantar à noite em bares e clubes, onde também começou desenvolver seu gosto pela bebida.
Apesar da pouca idade, seu fantástico senso de fraseado, tonalidade e ataque fizeram com que o bandleader Lionel Hampton a contratasse imediatamente quando a viu cantar no ano de 1943. Foi nessa época que mudou seu nome de Ruth Lee Jones (nomes comuns nos EUA) para o mais pomposo Dinah Washington. Depois do debut com o bandleader, Dinah Washington conquistou prestígio pleno, gravando, apresentando-se e vendendo muito até sua morte. Passou três anos junto a banda de Hampton.
Gravou diversos estilos de música, um de seus grandes sucessos foi a canção do famoso cantor country Hank Williams Senior “Cold Cold Heart”, apenas não gostando de gravar gospel, pois dizia que não gostava de misturar assuntos espirituais com profanos.
Apesar de seus discos lhe renderem bastante dinheiro, possuía um estilo de vida bastante dispendioso, comprando jóias e carros, além de querer dar para a filha uma infância de luxo, diferente da sua.
Morreu aos 39 anos de idade, após ingerir inibidores de apetite com bebidas alcoólicas.


Louis Agassiz morreu há 138 anos

Jean Louis Rodolphe Agassiz (Môtier, 18 de maio de 1807 - Cambridge, 14 de dezembro de 1873) foi um zoólogo e geólogo suíço, notório por sua Expedição Thayer.

Louis Agassiz nasceu em Môtier (Vully), no Cantão de Friburgo, Suíça. O início da sua educação começou em casa, seguido de quatro anos numa escola secundária em Bienne (alemão Biel), completou os seus estudos elementares na academia de Lausanne. Seleccionando a medicina como a sua profissão, estudou nas universidades de Zurique, Heidelberg e Munique. Em seguida aumentou o seu conhecimento nos processos biológicos, especialmente na Botânica. Em 1829, doutorou-se em Erlangen e em 1830 doutorou-se em medicina em Munique.
Mudou-se para Paris e ficou sobre a tutela de Alexander von Humboldt e de Georges Cuvier, que o lançaram nas suas carreiras da Geologia e do Zoologia respectivamente. Até esta altura não prestou nenhuma atenção especial ao estudo da Ictiologia, a qual se transformou na grande ocupação de sua vida, ou pelo menos na área em que actualmente é mais recordado.

In 1832 he was appointed professor of natural history in the University of Neuchâtel. The fossil fish there soon attracted his attention. The fossil-rich stones furnished by the slates of Glarus and the limestones of Monte Bolca were known at the time, but very little had been accomplished in the way of scientific study of them. Agassiz, as early as 1829, planned the publication of the work which, more than any other, laid the foundation of his worldwide fame. Five volumes of his Recherches sur les poissons fossiles ("Research on Fossil Fish") appeared at intervals from 1833 to 1843. They were magnificently illustrated, chiefly by Joseph Dinkel. In gathering materials for this work Agassiz visited the principal museums in Europe, and meeting Cuvier in Paris, he received much encouragement and assistance from him. They had known him for seven years at the time.
Agassiz found that his palaeontological labours made necessary a new basis of ichthyological classification. The fossils rarely exhibited any traces of the soft tissues of fish. They consisted chiefly of the teeth, scales and fins, even the bones being perfectly preserved in comparatively few instances. He therefore adopted a classification which divided fish into four groups: Ganoids, Placoids, Cycloids and Ctenoids, based on the nature of the scales and other dermal appendages. While Agassiz did much to place the subject on a scientific basis, this classification has been superseded by later work.
As Agassiz's descriptive work proceeded, it became obvious that it would over-tax his resources unless financial assistance could be found. The British Association came to his aid, and the Earl of Ellesmere — then Lord Francis Egerton — gave him yet more efficient help. The 1,290 original drawings made for the work were purchased by the Earl, and presented by him to the Geological Society of London. In 1836 the Wollaston Medal was awarded to Agassiz by the council of that society for his work on fossil ichthyology; and in 1838 he was elected a foreign member of the Royal Society. Meanwhile invertebrate animals engaged his attention. In 1837 he issued the "Prodrome" of a monograph on the recent and fossil Echinodermata, the first part of which appeared in 1838; in 1839–40 he published two quarto volumes on the fossil Echinoderms of Switzerland; and in 1840–45 he issued his Etudes critiques sur les mollusques fossiles ("Critical Studies on Fossil Mollusks").
Before his first visit to England in 1834, the labours of Hugh Miller and other geologists brought to light the remarkable fish of the Old Red Sandstone of the northeast of Scotland. The strange forms of the Pterichthys, the Coccosteus and other genera were then made known to geologists for the first time. They were of intense interest to Agassiz, and formed the subject of a special monograph by him published in 1844–45: Monographie des poissons fossiles du Vieux Gres Rouge, ou Systeme Devonien (Old Red Sandstone) des Iles Britanniques et de Russie ("Monograph on Fossil Fish of the Old Red Sandstone, or Devonian System of the British Isles and of Russia"). In the early stages of his career in Neuchatel, Agassiz also made a name for himself as a man who could run a scientific department well. Under his care, the University of Neuchâtel soon became a leading institution for scientific inquiry.
In 1837 Agassiz was the first to scientifically propose that the Earth had been subject to a past ice age. In the same year, he was elected a foreign member of the Royal Swedish Academy of Sciences. Prior to this proposal, Goethe, de Saussure, Venetz, Jean de Charpentier, Karl Friedrich Schimper and others had made the glaciers of the Alps the subjects of special study, and Goethe, Charpentier as well as Schimper had even arrived at the conclusion that the erratic blocks of alpine rocks scattered over the slopes and summits of the Jura Mountains had been moved there by glaciers. The question having attracted the attention of Agassiz, he not only discussed it with Charpentier and Schimper and made successive journeys to the alpine regions in company with them, but he had a hut constructed upon one of the Aar Glaciers, which for a time he made his home, in order to investigate the structure and movements of the ice.
These labours resulted, in 1840, in the publication of his work in two volumes entitled Etudes sur les glaciers ("Study on Glaciers"). In it he discussed the movements of the glaciers, their moraines, their influence in grooving and rounding the rocks over which they travelled, and in producing the striations and roches moutonnees seen in Alpine-style landscapes. He not only accepted Charpentier's and Schimper's idea that some of the alpine glaciers had extended across the wide plains and valleys drained by the Aar and the Rhône, but he went still farther. He concluded that, in the relatively recent past, Switzerland had been another Greenland; that instead of a few glaciers stretching across the areas referred to, one vast sheet of ice, originating in the higher Alps, had extended over the entire valley of northwestern Switzerland until it reached the southern slopes of the Jura, which, though they checked and deflected its further extension, did not prevent the ice from reaching in many places the summit of the range. The publication of this work gave a fresh impetus to the study of glacial phenomena in all parts of the world.
Thus familiarized with the phenomena associated with the movements of recent glaciers, Agassiz was prepared for a discovery which he made in 1840, in conjunction with William Buckland. The two visited the mountains of Scotland together, and found in different locations clear evidence of ancient glacial action. The discovery was announced to the Geological Society of London in successive communications. The mountainous districts of England, Wales, and Ireland were also considered to constitute centres for the dispersion of glacial debris; and Agassiz remarked "that great sheets of ice, resembling those now existing in Greenland, once covered all the countries in which unstratified gravel (boulder drift) is found; that this gravel was in general produced by the trituration of the sheets of ice upon the subjacent surface, etc."
In 1842–1846 he issued his Nomenclator Zoologicus, a classified list, with references, of all names employed in zoology for genera and groups — a work of great labour and research. With the aid of a grant of money from the King of Prussia, Agassiz crossed the Atlantic in the autumn of 1846 with the twin purposes of investigating the natural history and geology of North America and delivering a course of 12 lectures on “The Plan of Creation as shown in the Animal Kingdom,” by invitation from J. A. Lowell, at the Lowell Institute in Boston, Massachusetts. The financial and scientific advantages presented to him in the United States induced him to settle there, where he remained to the end of his life. He was elected a Foreign Honorary Member of the American Academy of Arts and Sciences in 1846.
His engagement for the Lowell Institute lectures precipitated the establishment of the Lawrence Scientific School at Harvard University in 1847 with him as its head. Harvard appointed him professor of zoology and geology, and he founded the Museum of Comparative Zoology there in 1859 serving as the museum's first director until his death in 1873. During his tenure at Harvard, he was, among many other things, an early student of the effect of the last Ice Age on North America.
He continued his lectures for the Lowell Institute. In succeeding years, he gave series of lectures on “Ichthyology” (1847–48 season), “Comparative Embryology” (1848–49), “Functions of Life in Lower Animals” (1850–51), “Natural History” (1853–54), “Methods of Study in Natural History” (1861–62), “Glaciers and the Ice Period” (1864–65), “Brazil” (1866–67) and “Deep Sea Dredging” (1869–70). In 1850 he married an American college teacher, Elizabeth Cabot Cary Agassiz, who later wrote introductory books about natural history and, after his death, a lengthy biography of her husband.
Agassiz served as a non-resident lecturer at Cornell while also being on faculty at Harvard. In 1852 he accepted a medical professorship of comparative anatomy at Charlestown, Massachusetts, but he resigned in two years. From this time his scientific studies dropped off, but he was a profound influence on the American branches of his two fields, teaching decades worth of future prominent scientists, including Alpheus Hyatt, David Starr Jordan, Joel Asaph Allen, Joseph Le Conte, Ernest Ingersoll, William James, Nathaniel Shaler, Samuel Hubbard Scudder, Alpheus Packard, and his son Alexander Agassiz, among others. He had a profound impact on the paleontologist Charles Doolittle Walcott. In return his name appears attached to several species, as well as here and there throughout the American landscape, notably Lake Agassiz, the Pleistocene precursor to Lake Winnipeg and the Red River.
During this time he grew in fame even in the public consciousness, becoming one of the best-known scientists in the world. By 1857 he was so well-loved that his friend Henry Wadsworth Longfellow wrote "The fiftieth birthday of Agassiz" in his honor. His own writing continued with four (of a planned ten) volumes of Natural History of the United States which were published from 1857 to 1862. During this time he also published a catalog of papers in his field, Bibliographia Zoologiae et Geologiae, in four volumes between 1848 and 1854.
Stricken by ill health in the 1860s, he resolved to return to the field for relaxation and to resume his studies of Brazilian fish. In April 1865 he led a party to Brazil. Returning home in August 1866, an account of this expedition, entitled A Journey in Brazil, was published in 1868. In December 1871 he made a second eight month excursion, known as the Hassler expedition under the command of Commander Philip Carrigan Johnson (brother of Eastman Johnson), visiting South America on its southern Atlantic and Pacific seaboards. The ship explored the Magellan Strait, which drew the praise of Charles Darwin.
Elizabeth Aggasiz wrote, at the Strait: '…the Hassler pursued her course, past a seemingly endless panorama of mountains and forests rising into the pale regions of snow and ice, where lay glaciers in which every rift and crevasse, as well as the many cascades flowing down to join the waters beneath, could be counted as she steamed by them.... These were weeks of exquisite delight to Agassiz. The vessel often skirted the shore so closely that its geology could be studied from the deck.'

O marido da Rainha Vitória do Reino Unido morreu há 150 anos

Príncipe Alberto de Saxe-Coburgo-Gota (26 de agosto de 1819, Coburgo, Baviera - 14 de dezembro de 1861, Windsor, Berkshire) foi o marido e príncipe consorte da Rainha Vitória do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda e o pai do rei Eduardo VII.
Ele foi o único marido de uma rainha britânica que oficialmente deteve o título de príncipe consorte. Após a morte de Vitória, em 1901, a Casa de Saxe-Coburgo-Gota, nomeada a partir do ramo dinástico da família ducal saxônica à qual Alberto pertencia, sucedeu a Casa de Hanôver no trono britânico.

O físico e ativista dos direitos humanos Andrei Sakharov morreu há 22 anos

Andrei Dmitrievich Sakharov (Moscovo, 21 de maio de 1921 - Moscovo, 14 de dezembro de 1989) foi um físico nuclear da extinta União Soviética.
Recebeu o Nobel da Paz em 1975, pela defesa dos direitos humanos na União Soviética.
Filho de um professor de física e de uma pianista. Frequentou a Universidade de Moscovo a partir de 1938. Estudou os raios cósmicos. Desempenhou com Igor Kurchatov um papel de primeiro plano na preparação da primeira bomba de hidrogénio, que foi desenvolvida na União Soviética e cujos primeiros ensaios se realizaram em 1953. Este feito valeu-lhe a entrada na Academia das Ciências da União Soviética no mesmo ano; todavia, não tardou a pedir a limitação dos armamentos nucleares. Sakharov propôs a ideia de gravidade induzida como teoria alternativa à da gravitação quântica.
Em 1965 reclamou a desestalinização efectiva do país e do partido; a sua obra "A Liberdade Intelectual na URSS e a Coexistência Pacífica", publicada no exterior em 1967, deu-lhe um lugar destacado na oposição ao regime. Tal como Aleksandr Solzhenitsyn, a quem apoiou sem esconder o seu desacordo com o romantismo místico do escritor, denunciou os gulags, os internamentos arbitrários e outras violações da Constituição Soviética e dos Direitos Humanos.
Casa com a activista dos direitos humanos Yelena Bonner em 1972.
Galardoado com o Nobel da Paz em 1975, não foi autorizado a ir receber a sua distinção em Oslo. Com residência fixa a partir de 1980, só conseguiu a liberdade de movimentos após a chegada ao poder de Mikhail Gorbachev e a implementação da perestroika e da glasnost, apesar da pressão da opinião pública internacional e de uma greve de fome em 1984. Na sequência da revisão constitucional de 1989 o académico foi candidato ao Congresso, obteve a investidura da Academia das Ciências, malgrado uma forte obstrução processual, e chegou a deputado. Morreu em 14 de dezembro de 1989 por enfarte do miocárdio.
Em sua memória a União Europeia instituiu o Prémio Sakharov para destacar pessoas que lutam pela defesa dos direitos humanos e liberdade de expressão. Este prémio é atribuído desde 1988.


O místico e poeta João da Cruz morreu há 420 anos

São João da Cruz (Fontiveros, 24 de Junho de 1542 - Úbeda, 14 de Dezembro de 1591) foi um frade carmelita espanhol, famoso por suas poesias místicas e que foi proclamado 26º Doutor da Igreja pelo Papa Pio XI.
João da Cruz nasceu em 1542, provavelmente no dia 24 de Junho, em Fontiveros, província da cidade de Ávila, em Espanha. Os seus pais chamavam-se Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior”, foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda. Em 1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551 transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo. Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem do Carmo aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa. No entanto, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os Conventos Carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em Setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa de Ávila, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres, surgindo posteriormente os carmelitas descalços. O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de Novembro de 1568, juntamente com Frei António de Jesús Heredia, inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor da "Noite escura da alma", da "Subida ao Monte Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama de amor viva".


EL PASTORCICO

Un pastorcico solo está penando
Ajeno de placer y de contento
Y en su pastora puesto el pensamiento
Y el pecho del amor muy lastimado.

No llora por haberle amor llagado
Que no le pena verse así afligido
Aunque en el corazón está herido
Mas llora por pensar que está olvidado.

Que sólo de pensar que está olvidado
De su bella pastora con gran pena
Se deja maltratar en tierra ajena
El pecho del amor muy lastimado.

Y dice el pastorcico: "¡Ay desdichado
De aquel que de mi amor ha hecho ausencia
Y no quiere gozar la mi presencia
Y el pecho por su amor muy lastimado!"

Y al cabo de un gran rato se ha encumbrado
Sobre un árbol do abrió sus brazos bellos
Y muerto se ha quedado asido de ellos
Del pecho del amor muy lastimado.

A menina da franja do cinema português nasceu há 104 anos

(imagem daqui)


Beatriz Costa, pseudónimo de Beatriz da Conceição (Charneca do Milharado, Mafra, 14 de dezembro de 1907 - Lisboa, 15 de abril de 1996) foi uma actriz de teatro e cinema portuguesa, sendo um ícone da cultura popular lusa.

Estreou-se no teatro de revista aos quinze anos, como corista em Chá e Torradas (1923), no Éden Teatro. No ano seguinte, em 1924, actua pela primeira vez no Teatro Maria Vitória (Parque Mayer) na revista Rés Vés, após o que ingressa na companhia do Teatro Avenida estreando-se, no mesmo ano, no Rio de Janeiro onde é felicitada pela imprensa e pelos espectadores, nomeadamente nas revistas Fado Corrido e Tiro ao Alvo.
De regresso a Lisboa (1925) ocupa um lugar de relevo ao lado de Nascimento Fernandes em Ditosa Pátria, no Teatro da Trindade. Em Agosto do mesmo ano a Companhia do Trindade segue para o Porto apresentando-se no Sá da Bandeira e Beatriz faz a sua primeira ida como artista à cidade invicta
Em Outubro de 1925 integra uma Companhia de operetas sediada no Teatro São Luiz. De regresso à revista, passa pelos teatros Éden e Maria Vitória nas revistas Fox Trot, Malmequer, Olarila, Revista de Lisboa e Sete e meio.
Em 1927, traduzindo uma moda cinéfila, aparece pela primeira vez de franja e estreia-se no cinema em papéis episódicos de filmes de Rino Lupo - O Diabo em Lisboa - e, ainda no mesmo ano, havia dançado um tango em Fátima Milagrosa (do mesmo realizador) ao lado de Manoel de Oliveira.
Passou pelo Teatro Apolo, transferindo-se depois com a Companhia de Eva Stachino para o Teatro da Trindade. Aí se fez Pó de Maio, onde conheceu o maior êxito de popularidade com o celebrado número D. Chica e Sr. Pires ao lado de Álvaro Pereira.
Na sua segunda digressão ao Brasil (1929), com a Companhia de Eva Stachino, ao Rio de Janeiro, foi recebida sobre as mais efusivas manifestações e relembrada a sua revelação como actriz nos grandes órgãos de imprensa da América do Sul.
Após breve incursão aos palcos de São Paulo, Beatriz é convidada por Procópio Ferreira, comediante de relevo no teatro brasileiro, para ficar a trabalhar no Rio de Janeiro integrando o elenco da sua Companhia de comédias; mas a proposta seria recusada.
De volta ao continente, e ainda neste ano, Beatriz Costa aparece no documentário Memória de uma Actriz (com base nos artigos que já escrevia para O Século a contar episódios da sua carreira).
Em 1930 participa no filme Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros.
Em Dezembro de 1930, durante a visita de Ressano Garcia, gerente da Paramount em Lisboa, recebe um convite de Blumenthal e San Martin para um contrato muito vantajoso para o papel da protagonista de A Minha Noite de Núpcias (da versão original Her Wedding Night de Frank Tuttle e que na versão portuguesa foi dirigida por Alberto Cavalcanti), o terceiro fonofilme em português, a realizar-se em França.
Recebendo sempre provas de apreço desde o pessoal dos estúdios à mais considerada vedeta destaca das suas colegas estrangeiras Olga Tsehekova e Camila Horn.
Deixa a Companhia e é contratada por Corina Freire para participar nos êxitos de revistas como A Bola, Pato Marreco, O Mexilhão ou Pirilau.
Numa ida a Espanha, a convite da Casa da Imprensa de Badajoz para uma festa no Teatro Lopez Ayola, obteve estrondoso êxito ao representar Burrié, sendo homenageada juntamente com os outros artistas portugueses que a acompanhavam (Amarante e Nascimento Fernandes).
Em 1933 a sua imagem imortalizava-se o filme A Canção de Lisboa, de Cotinelli Telmo, ao lado de António Silva e Vasco Santana, e em 1936, ao participar na revista Arre Burro.
Em 1937 Beatriz ganha, ao lado de Vasco Santana, os votos de preferência dos cinéfilos portugueses e são eleitos "príncipes do cinema português". Dois anos depois, em 1939, protagoniza A Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia, aquele que seria o seu último filme.
Neste mesmo ano de 1939, Beatriz Costa aceitou novo convite para o Brasil para uma temporada que se prolongou por 10 anos (de 1939 a 1949), a que chamou "os melhores anos da sua vida". Quase sempre actuou no Casino de Urca, no Rio de Janeiro, desde os tempos da peça Tiro-Liro-Liro, até ao final da década, altura do seu único casamento em 1947, com Edmundo Gregorian (poeta, escritor, escultor), de quem se divorciou dois anos depois.
Em 1949, regressa aos palcos de Lisboa para uma revista no Teatro Avenida, cujo título diz tudo sobre o mito que continuava a ser: Ela aí está!. E, aos 41 anos, repetiu os êxitos de há 20 anos atrás.
Ainda apareceu em Lisboa em revistas de sucesso como Com Jeito Vai, mas em 1960 despediu-se dos palcos em Está Bonita a Brincadeira.
É a partir da década de 1960 que começa a viajar por todo o mundo, assistindo a festivais de teatro, de Ocidente a Oriente. Conheceu personalidades como Salvador Dali, Pablo Picasso, Sophia Loren, Greta Garbo, Edith Piaf ou o Rei Hassan II de Marrocos.
Depois da Revolução dos Cravos - quando já vivia no Hotel Tivoli, onde viveu até morrer - começou a publicar livros sobre a sua espantosa vida (já anteriormente a "publicara" em vários capítulos nas Páginas das Minhas Memórias nos anos 1930), aconselhada e incentivada por Tomás Ribeiro Colaço. Ela que aprendera a ler aos 13 anos de idade e sozinha, seguindo a sua ambição de saber, começou a sua alfabetização à mesa do Café "A Brasileira", rodeada por figuras como Almada Negreiros, Gualdino Gomes, Aquilino Ribeiro, Vitorino Nemésio, entre outros.
Após o seu reaparecimento num espectáculo da Casa da Imprensa que decorreu no Coliseu dos Recreios foi sistematicamente solicitada pelos órgãos de comunicação social e espantou-se com as óptimas reacções do público leitor em relação a essa outra faceta da sua vida - escrever.
Em 1977 é editado pela Emi-Valentim de Carvalho um álbum que compila vários dos seus sucessos musicais e que em 1996 seria reeditado com o título Grande Marcha de Lisboa na Colecção Caravela da mesma editora. Apesar das muitas propostas para regressar aos palcos (por Vasco Morgado) preferiu ficar longe deles por considerar o teatro de revista muito diferente do que era, por "estar decadente".
Muitos foram também os convites para programas de televisão (por Joaquim Letria) e, de facto, viria a participar como membro de júri no concurso Prata da Casa (RTP) apresentado por Fialho Gouveia e que visava lançar jovens no mundo do espectáculo.
Um grupo de jovens chegaria mesmo a propor a sua candidatura simbólica nas eleições presidenciais de 1985 como meio de comemorar O Ano Internacional da Juventude do ano seguinte.
Morreu na manhã de 15 de abril de 1996, aos 88 anos, num quarto do 6º andar do Hotel Tivoli Lisboa. Estando sepultada no cemitério da Malveira, cumprindo o seu último desejo.
Em 2007, por ocasião dos 100 anos do seu nascimento, o Museu Municipal Raul de Almeida, de Mafra, assinalou a data com uma exposição existindo ainda neste concelho o Cine-Teatro com o seu nome e o Museu Popular Beatriz Costa, na Malveira.