Beatriz Costa, pseudónimo de
Beatriz da Conceição (Charneca do
Milharado,
Mafra,
14 de dezembro de
1907 -
Lisboa,
15 de abril de
1996) foi uma
actriz de
teatro e
cinema portuguesa, sendo um ícone da cultura popular portuguesa.
De regresso a Lisboa (
1925) ocupa um lugar de relevo ao lado de
Nascimento Fernandes em
Ditosa Pátria, no
Teatro da Trindade. Em agosto do mesmo ano a Companhia do Trindade segue para o Porto apresentando-se no
Sá da Bandeira e Beatriz faz a sua primeira ida como artista à cidade invicta
Em outubro de
1925 integra uma Companhia de Operetas sediada no
Teatro São Luiz. De regresso à revista, passa pelos teatros Éden e Maria Vitória nas revistas
Fox Trot,
Malmequer,
Olarila,
Revista de Lisboa e
Sete e meio.
Em
1927, traduzindo uma moda cinéfila, aparece pela primeira vez de franja e estreia-se no cinema em papéis episódicos de filmes de
Rino Lupo -
O Diabo em Lisboa - e, ainda no mesmo ano, havia dançado um tango em
Fátima Milagrosa (do mesmo realizador) ao lado de
Manoel de Oliveira.
Passou pelo
Teatro Apolo, transferindo-se depois com a Companhia de Eva Stachino para o
Teatro da Trindade. Aí se fez
Pó de Maio, onde conheceu o maior êxito de popularidade com o celebrado número
D. Chica e Sr. Pires, ao lado de Álvaro Pereira.
Na sua segunda digressão ao Brasil (
1929), com a Companhia de Eva Stachino, ao Rio de Janeiro, foi recebida sobre as mais efusivas manifestações e relembrada a sua revelação como actriz nos grandes órgãos de imprensa da América do Sul.
Após breve incursão aos palcos de
São Paulo, Beatriz é convidada por
Procópio Ferreira, comediante de relevo no teatro brasileiro, para ficar a trabalhar no
Rio de Janeiro integrando o elenco da sua Companhia de comédias; mas a proposta seria recusada.
De volta ao continente, e ainda neste ano, Beatriz Costa aparece no documentário Memória de uma Actriz (com base nos artigos que já escrevia para O Século, a contar episódios da sua carreira).
Em dezembro de
1930, durante a visita de Ressano Garcia, gerente da Paramount em Lisboa, recebe um convite de Blumenthal e San Martin para um contrato muito vantajoso para o papel da protagonista de
A Minha Noite de Núpcias (da versão original
Her Wedding Night de Frank Tuttle e que na versão portuguesa foi dirigida por Alberto Cavalcanti), o terceiro fonofilme em português, a realizar-se em França.
Recebendo sempre provas de apreço, desde o pessoal dos estúdios à mais considerada vedeta, destaca das suas colegas estrangeiras Olga Tsehekova e Camila Horn.
Deixa a Companhia e é contratada por Corina Freire para participar nos êxitos de revistas como A Bola, Pato Marreco, O Mexilhão ou Pirilau.
Numa ida a Espanha, a convite da Casa da Imprensa de Badajoz para uma festa no Teatro Lopez Ayola, obteve estrondoso êxito ao representar
Burrié, sendo homenageada juntamente com os outros artistas portugueses que a acompanhavam (Amarante e
Nascimento Fernandes).
Neste mesmo ano de
1939, Beatriz Costa aceitou novo convite para o Brasil para uma temporada que se prolongou por 10 anos (de 1939 a 1949), a que chamou "os melhores anos da sua vida". Quase sempre actuou no Casino de Urca, no Rio de Janeiro, desde os tempos da peça
Tiro-Liro-Liro, até ao final da década, altura do seu único casamento em 1947, com Edmundo Gregorian (poeta, escritor, escultor), de quem se divorciou dois anos depois.
Em 1949, regressa aos palcos de Lisboa para uma revista no Teatro Avenida, cujo título diz tudo sobre o mito que continuava a ser: Ela aí está!. E, aos 41 anos, repetiu os êxitos de há 20 anos atrás.
Ainda apareceu em Lisboa em revistas de sucesso como Com Jeito Vai, mas em 1960 despediu-se dos palcos em Está Bonita a Brincadeira.
Depois da
Revolução dos Cravos - quando já vivia no Hotel Tivoli, onde ficou até morrer - começou a publicar livros sobre a sua espantosa vida (já anteriormente a "publicara", em vários capítulos, nas
Páginas das Minhas Memórias , nos anos 30), aconselhada e incentivada por Tomás Ribeiro Colaço. Ela, que aprendera a ler aos 13 anos de idade e sozinha, seguindo a sua ambição de saber, começou a sua alfabetização à mesa do Café "A Brasileira", rodeada por figuras como
Almada Negreiros, Gualdino Gomes,
Aquilino Ribeiro e
Vitorino Nemésio, entre outros.
Após o seu reaparecimento num espectáculo da Casa da Imprensa que decorreu no
Coliseu dos Recreios, foi sistematicamente solicitada pelos órgãos de comunicação social e espantou-se com as óptimas reações do público leitor em relação a essa outra faceta da sua vida - escrever.
Em
1977 é editado pela Emi-Valentim de Carvalho um álbum que compila vários dos seus sucessos musicais e que, em 1996, seria reeditado com o título
Grande Marcha de Lisboa, na Colecção Caravela da mesma editora. Apesar das muitas propostas para regressar aos palcos (por
Vasco Morgado) preferiu ficar longe deles por considerar o teatro de revista muito diferente do que era, por "estar decadente".
Muitos foram também os convites para programas de televisão (por
Joaquim Letria) e, de facto, viria a participar como membro de júri no concurso
Prata da Casa (RTP) apresentado por
Fialho Gouveia e que visava lançar jovens no mundo do espectáculo.
Um grupo de jovens chegaria mesmo a propor a sua candidatura simbólica nas eleições presidenciais de 1985 como meio de comemorar o Ano Internacional da Juventude do ano seguinte.
Morreu na manhã de 15 de abril de 1996, aos 88 anos, num quarto do 6º andar do Hotel Tivoli Lisboa. Estando sepultada no cemitério da Malveira, cumpriu-se o seu último desejo.
Em
2007, por ocasião dos 100 anos do seu nascimento, o Museu Municipal Raul de Almeida, de Mafra, assinalou a data com uma exposição existindo ainda neste concelho o Cine-Teatro com o seu nome e o Museu Popular Beatriz Costa, na
Malveira.