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sábado, novembro 11, 2023

Yasser Arafat morreu há dezanove anos...


Yasser Arafat
(Cairo, 24 de agosto de 1929 - Clamart, 11 de novembro de 2004) foi o líder da Autoridade Palestiniana, presidente (desde 1969) da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), líder da Fatah, a maior das fações da OLP, e co-detentor do Nobel da Paz.
  
Morte suspeita

 

Túmulo de Arafat em Ramallah

      
Arafat, morreu dia 11 de novembro de 2004, aos 75 anos, após treze dias internado no hospital militar Percy, em Clamart, a sudoeste de Paris.
De acordo com Christian Estripeau, porta-voz do hospital, Arafat morreu por falência múltipla dos órgãos. No entanto, o seu biógrafo, Amnon Kapeliouk, levantou a possibilidade de a sua morte ter sido causada por anos de contínuo envenenamento, realizado pelos serviços secretos israelitas.
Em 3 de julho de 2012, foi divulgado pelo Instituto de Radiofísica do Hospital Universitário da Universidade de Lausanne, na Suíça, o resultado de um trabalho de nove meses de análises do material biológico encontrado em objetos de uso pessoal de Arafat (roupas, escova de dentes e keffiyeh). O relatório apontou a presença de altos níveis de polónio 210 no material recolhido. Segundo a rede de televisão Al Jazeera, o resultado do estudo reforça a possibilidade de que Arafat tenha sido envenenado com material radioativo. Em 9 de julho, o presidente palestino Mahmoud Abbas aprovou pedido de exumação do corpo de Arafat, apresentado por Suha Arafat, para teste do nível de polónio. O governo de Israel negou qualquer envolvimento com as recentes descobertas. A Justiça francesa, através do tribunal de Nanterre, decidiu iniciar uma investigação sobre a morte do líder palestino, depois que a viúva apresentou queixa de assassinato do seu marido, no final de julho.
Arafat, considerado como o mais importante líder palestino e tido, pelos israelitas, como um líder de intenções dúbias, não preparou um sucessor. Os testes realizados após a exumação de seu corpo mostraram um nível 20 vezes maior que o permitido para um ser humano normal do isótopo polónio 210, reforçando a tese que o líder foi envenenado. Contudo, uma equipa russa que examinou o seu corpo afirmou que não havia nada de anormal com Arafat e que, provavelmente, não foi envenenado. O assunto continua envolto em controvérsia.
  

segunda-feira, outubro 23, 2023

Um duplo atentado, há quarenta anos, acabou com Força Multinacional do Líbano...

Destruição do quartel americano, instalado no Aeroporto Internacional de Beirute

   
Os atentados contra os quartéis de Beirute em 1983 (Beirute, Líbano, 23 de outubro de 1983) foram dois ataques suicidas realizados durante a Guerra Civil Libanesa, quando dois camiões-bomba atingiram edifícios que alojavam militares dos Estados Unidos da América e da França, membros da Força Multinacional do Líbano, matando 299 soldados americanos e franceses. A organização Jihad Islâmica reivindicou a responsabilidade pelo atentado terrorista, mas, segundo o especialista Juan Cole, essa organização é o nome de guerra do Hezbollah ou um grupo que viria a se tornar parte do Hezbollah, recebendo ajuda da República Islâmica do Irão.
O ataque ao quartel de fuzileiros navais americanos, cujo contingente estava baseado no Aeroporto Internacional de Beirute, às 06.22 horas, deixou sessenta feridos e 241 militares americanos mortos (220 fuzileiros navais, 18 militares da Marinha e três soldados do Exército). Foi o maior número de fuzileiros americanos mortos em um único dia, desde a Batalha de Iwo Jima, na II Guerra Mundial. Foi também o maior número de militares dos Estados Unidos mortos num único dia desde o primeiro dia da Ofensiva do Tet, durante a Guerra do Vietname, e o pior ataque isolado sofrido pelos USA no exterior, desde a Segunda Guerra Mundial.
No ataque ao quartel francês - o edifício 'Drakkar', de oito andares - realizado dois minutos após o ataque aos fuzileiros americanos, 58 pára-quedistas do Primeiro Regimento de Caçadores Pára-quedistas foram mortos e 15 ficaram feridos. Para as forças francesas, foi o maior número de baixas já registado num único evento, desde o final da Guerra da Argélia.
Os atentados levaram à retirada da força de paz internacional do Líbano, onde estavam postadas desde a retirada da Organização pela Libertação da Palestina, que se seguiu à invasão do Líbano por Israel, em 1982.
          
   
in Wikipédia

quarta-feira, outubro 18, 2023

O terrorista Andreas Baader foi assassinado há quarenta e seis anos

   
Andreas Bernd Baader (Munique, 6 de maio de 1943 - Estugarda, 18 de outubro de 1977) foi um dos fundadores e líderes do grupo guerrilheiro de esquerda alemão Fração do Exército Vermelho, denominado pelo governo e pela imprensa de Baader-Meinhof. O grupo foi responsável por uma série de ações armadas - assaltos a bancos, sequestros e mortes - na RFA, na década de 70.
O seu pai era o historiador Berndt Philipp Baader, que, em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, servia o exército alemão quando foi feito prisioneiro pelas forças soviéticas, sendo posteriormente dado como desaparecido. A sua mãe, Anneliese Baader não voltou a casar. Andreas foi criado com carinho pela mãe, juntamente com a avó e uma tia. Na opinião dos seus professores, era uma criança inteligente, mas também voluntariosa, um tanto imprevisível, e não se empenhava nos estudos quando as matérias não o atraíam. Ao mesmo tempo que era generoso, capaz de tirar o seu próprio agasalho e dá-lo a alguém que estivesse com frio, também era capaz de roubar, se estivesse a precisar de dinheiro. Também se envolvia frequentemente em lutas, nem sempre em defesa dos próprios interesses.
Na adolescência considerado como um jovem desajustado, na conservadora sociedade alemã de após guerra; no final dos anos 60 Baader gravitou para o movimento estudantil de esquerda e para os protestos contra o capitalismo, a pobreza no Terceiro Mundo, o nuclear, a ocupação norte-americana do país, que agitavam a Alemanha Ocidental na altura, embora ele próprio não fosse estudante universitário.
No dia 2 de abril de 1968 Baader e a sua namorada, Gudrun Ensslin, incendiaram dois estabelecimentos comerciais em Frankfurt, que não provocaram nenhuma morte. De acordo com Gudrun, o acto seria uma forma de protesto contra a Guerra no Vietname. No mesmo ano, Baader foi condenado a quatro anos de prisão.
Na manhã de 14 de maio de 1970 Baader escapou da prisão, graças a um plano elaborado pela sua namorada, que contou com a participação da conhecida jornalista Ulrike Meinhof. Sob o pretexto de estar a trabalhar num livro sobre a juventude alemã, Ulrike Meinhof conseguiu que Andreas Baader fosse conduzido para a biblioteca do Instituto de Estudos Sociais em Berlim Ocidental onde seria entrevistado pela jornalista. Embora o plano não tenha sido executado exactamente como se pretendia, Baader conseguiria escapar pela janela da biblioteca. No dia seguinte a fuga foi noticiada pelos meios de comunicação social e o grupo ficou conhecido como Grupo Baader-Meinhof, em função das duas figuras mais conhecidas do grupo, Andreas Baader e Ulrike Meinhof.
Nos dois anos seguintes Baader dedicou-se a acções de guerrilha urbana até que foi capturado pela polícia, a 1 de junho de 1972, em Frankfurt, juntamente com outros militantes da Fração do Exército Vermelho, Jan-Carl Raspe e Holger Meins.
Baader foi depois julgado e condenado, naquele que foi um dos julgamentos mais caros da história da justiça alemã.
Na noite de 8 para 9 de maio de 1976, a jornalista Ulrike Meinhof foi encontrada morta na sua cela. A versão oficial a respeito da morte de Meinhof é que cometeu suicídio por enforcamento, mas há discordâncias sobre o tema, havendo alegações de que foi assassinada. Em 5 de setembro, membros da Fração do Exército Vermelho sequestraram o presidente da confederação da indústria alemã e, a seguir, militantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina sequestraram um avião da Lufthansa, com passageiros a bordo, e levaram-no para Mogadíscio, na Somália. As autoridades alemãs não aceitaram a troca e, em 18 de outubro, uma operação da GSG 9 libertou os passageiros e executou os militantes palestinianos. A seguir, Andreas Baader, Jan-Carl Raspe e Gudrun Ensslin foram encontrados mortos, nas suas celas de máxima segurança - os dois primeiros com tiros na nuca, à distância, com pistolas comummente usadas nas forças armadas da Alemanha. O Estado alemão não reconheceu o caso como execução dos prisioneiros.
     
   

quinta-feira, outubro 12, 2023

O terrorista conhecido como Carlos, o Chacal, faz hoje setenta e quatro anos

(imagem daqui)
        
Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como Carlos, o Chacal (Caracas, Venezuela, 12 de outubro de 1949) é um autodenominado revolucionário de esquerda e mercenário. A sua alcunha foi-lhe dada pela imprensa depois que foi encontrada no seu quarto de hotel, após o assassinato de dois policiais, de uma cópia da novela de Frederick Forsyth " O Dia do Chacal".
Em 1975, leva a cabo um dos mais espetaculares atos terroristas: sequestrou onze ministros dos países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que estavam reunidos em Viena, Áustria. Acabaram por morrer três pessoas. Nas décadas de 70 e 80 era o homem mais procurado do mundo, por todos os serviços secretos ocidentais.
   
Biografia
Nascido na Venezuela, filho de um advogado venezuelano comunista, preferência ideológica evidente na escolha dos nomes dos seus três filhos: Vladimir, Ilich e Lenine, referentes ao líder bolchevique russo, Lenine (cujo nome original é Vladimir Ilyich Ulyanov).
Carlos estudou numa escola de Caracas e juntou-se ao movimento da juventude comunista em 1959. Diz-se que ele fala correntemente espanhol, árabe, russo, inglês e francês.
Em 1966, após o divórcio dos seu pais, foi com a mãe e o seu irmão para Londres para continuar os seus estudos na faculdade de Stafford House Tutorial, em Kensington.
Em 1968 o seu pai tentou levá-lo para Universidade de Sorbonne, mas ele foi para a Universidade de Patrice Lumumba, em Moscovo, de onde foi expulso em 1970.
Em 1973, com 24 anos, ingressa na Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), onde tenta assassinar em Londres o empresário Joseph Shieff, presidente da Marks & Spencer e vice-presidente da Federação Sionista do Reino Unido e Irlanda, mas fracassa na tentativa.
Em 1975, executou o sequestro que lhe deu fama mundialmente: reteve onze ministros de países-membros da OPEP, que estavam reunidos em Viena, Áustria. O incidente acabou com a morte de três pessoas e a sua fuga.
O ataque aos membros da OPEP foi apenas o início, já que os ataques sucederam-se, Carlos lança um granada contra um banco israelita em Londres, duas bombas numa farmácia em Paris, atentados contra aviões de Israel estacionados no Aeroporto de Orly, ataque contra um comboio de passageiros que ia de Paris para Toulouse, onde era suposto ir o primeiro-ministro francês, Jacques Chirac. Em todas estas ações, ele sempre conseguia fugir às polícias secretas.
Carlos, o "Chacal", era naquele momento o "inimigo público", o mais procurado do mundo, pelas principais policias secretas. Ao contrário de Bin Laden, ele participava pessoalmente nas ações, onde ele era o responsável por tudo, apenas tinha colaboradores que o ajudavam. Quanto aos colaboradores de Carlos, a lista é igualmente extensa, suspeitando-se que tenha colaborado com os regimes líbio de Muammar al-Gaddafi, iraquiano de Saddam Hussein, sírio de Hafez al-Assad, cubano de Fidel Castro, e ainda com vários países do Leste Europeu, as Brigadas Vermelhas da Itália ou o movimento M19 da Colômbia.
A sua retirada de ação não é muito clara, visto que por várias vezes a CIA, a DST (Direction de la Surveillance du Territoire) e o Mossad tentaram, em vão, neutralizar as suas ações ao longo dos anos. Considera-se que com o fim da Guerra Fria, no início da década de 90, a falta de oferta de ações e a sua já debilitada saúde fizeram com que ele se retirasse da vida de terrorista, passando por uma série de países em busca de exílio, até fixar-se no Sudão, mas não há um consenso a respeito do porquê da sua inatividade de fim dos anos 80 ao inicio dos anos 90.
Em 14 de agosto de 1994, durante o seu internamento numa clínica em Cartum (capital do Sudão) para uma operação nos testículos, Carlos foi adormecido com anestesia geral, conduzido ao aeroporto e colocado num jato do Governo francês, com destino a uma das cadeias de alta segurança dos arredores de Paris.
Não são ainda claras as circunstâncias que levaram o governo do Sudão, um dos países que figurava na lista negra norte-americana dos Estados apoiantes do terrorismo, a entregar Carlos à DST e nem se a operação foi realmente da DST, do governo do Sudão ou se aconteceu em cooperação com outros serviços internacionais.
Mais tarde, já durante o seu julgamento pela morte de dois polícias da DST e um denunciante palestiniano, Carlos nunca mostrou arrependimento pelos ataques que perpetrou, logo na primeira audiência, questionado pelo presidente do tribunal acerca da sua profissão, respondeu: "Sou um revolucionário profissional na velha tradição leninista."
A 23 de dezembro de 1997 recebeu a sentença de prisão perpétua. Durante o seu julgamento, Carlos foi defendido por vários advogados. O principal foi o advogado francês Jacques Vergès, retratado no filme O Advogado do Terror (2007), que figura no filme numa entrevista dada por telefone da prisão. Outro detalhe apresentado no filme foi o seu relacionamento com Magdalena Kopp, com quem teve uma filha.

Em 15 de dezembro de 2011, Ilich Ramírez Sánchez recebeu nova sentença, agora pela justiça francesa, pelas mortes de 11 pessoas em atentados terroristas ocorrido na década de 80. A sua pena foi uma nova prisão perpétua.

Em março de 2018, foi condenado a uma terceira pena de prisão perpétua, neste caso por um atentado cometido em setembro de 1974 em Paris. O ataque a um centro comercial deixou dois mortos e 34 feridos, mas Carlos negou qualquer participação no ataque. De acordo com a acusação, o objetivo do atentado era facilitar a libertação de um membro do Exército Vermelho japonês detido em Orly.

Em setembro de 2021, Carlos voltou ao banco dos réus de um tribunal, para revisão da terceira condenação à prisão perpétua sentenciada pela justiça francesa. No tribunal, disse estar de "férias forçadas há 27 anos e meio" na França, referindo-se ao período em que esteve detido desde 1994. Carlos novamente negou sua participação no atentado de 1974, e acusou a justiça de ser corrupta e ter arquitetado o caso para incriminá-lo. No tribunal, Carlos reconheceu ter matado 83 pessoas durante a sua vida. Disse que foram "muitas, mas não o suficiente", alegando que os assassinatos ocorreram em um contexto de guerra e de luta revolucionária. O Tribunal Criminal de Paris confirmou a terceira pena de prisão perpétua contra Carlos.

   

Há vinte e um anos morreram mais duzentas pessoas nos atentados em Bali...

Monumento em memória das vítimas dos atentados
  
Os atentados em Bali em outubro de 2002 ocorreram no final do dia 12 de outubro de 2002 na zona turística de Kuta, na ilha de Bali, na Indonésia. O ataque terrorista foi o ato mais mortífero da história da Indonésia, com um total de 202 pessoas assassinadas, das quais 164 eram estrangeiros e 38 cidadãos indonésios. Houve ainda 209 pessoas que ficaram feridas nos atentados.
O ataque foi provocado com a detonação de três bombas: um dispositivo montado numa mochila levada por um terrorista suicida e um grande carro-bomba que foram detonados junto a centros noturnos populares em Kuta; e um terceiro dispositivo menor que foi detonado fora do consulado dos Estados Unidos da América, em Denpasar, e que apenas causou danos menores.
Vários membros do Jemaah Islamiya, um grupo terrorista islâmico, foram sentenciados pela participação no ato terrorista, incluindo três indivíduos que foram condenados à pena de morte. Abu Bakar Bashir, o suposto líder espiritual do Jemaah Islamiyah, foi julgado e considerado culpado, sentenciado a dois anos e meio de prisão. Riduan Isamuddin, geralmente conhecido como Hambali e suposto ex-líder operacional do Jemaah Islamiyah, está sob custódia dos Estados Unidos, em lugar não revelado, e não foi ainda formalmente acusado. Em 9 de novembro de 2008, Iman Samudra, Amrozi Nurhasyim e Ali Ghufron foram executados, por fuzilamento, numa prisão da ilha de Nusa Kambangan. Mais tarde, o então presidente, Abdurrahman Wahid e o ex-terrorista Umar Abdu alegaram que naquele atentado teria havido participação do exército indonésio e do serviço de inteligência. 
 
 
  

sábado, setembro 23, 2023

Aldo Moro nasceu há cento e sete anos...

        
Ocupou por cinco vezes o cargo de primeiro-ministro da Itália. Membro ativo da Igreja Católica, foi um dos líderes mais destacados da democracia cristã na Itália.
Sequestrado a 16 de março de 1978 pelo grupo terrorista das Brigadas Vermelhas, foi assassinado, depois de 55 dias de duro cativeiro.
     

domingo, setembro 17, 2023

O conde Folke Bernadotte foi assassinado há 75 anos...

   
Folke Bernadotte, conde de Wisborg (Estocolmo, 2 de janeiro de 1895 - Jerusalém, 17 de setembro de 1948), mais conhecido como Conde Bernadotte, foi um nobre e diplomata sueco,  conhecido pela negociação da libertação de cerca de 31.000 prisioneiros de campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo 423 judeus dinamarqueses de Theresienstadt, que foram libertados em 14 de abril de 1945
  
Vida

O conde era membro da Casa de Bernadotte, a família real sueca. Era filho do príncipe Óscar Bernadotte, duque de Götland e conde de Wisborg (que depois perderia o título de duque de Götland por não ter se casado com alguém pertencente à realeza ou alta nobreza - como dita a tradição nobiliárquica sueca -, mas permaneceria com o título nobiliárquico de conde de Wisborg, por este título ser do Luxemburgo) e da princesa Ebba (nascida Ebba Henrietta Munck af Fulkila, sendo filha do nobre e militar, coronel Carl Jacob Munck af Fulkila, e da baronesa Henrica Cederström). Era neto da rainha Sofia (nascida princesa de Nassau) e do rei Óscar II da Suécia e Noruega, rei dos dois países até 7 de junho de 1905; e depois somente Rei da Suécia até à data da sua morte, em decorrência da separação dos dois países na data supracitada.

O conde casou com a americana Estelle Manville, então titulada Estelle Bernadotte, condessa de Wisborg, tendo sido o primeiro membro da realeza europeia a casar-se em território americano.

Após a aprovação do Plano de Partição da Palestina, em 29 de novembro de 1947, agravaram-se os confrontos entre judeus e árabes na Palestina, então sob mandato britânico.

Em 20 de junho de 1948, o conde foi escolhido pelo Conselho de Segurança da ONU para ser o mediador entre as partes em conflito, fazer cessar as hostilidades e supervisionar a aplicação da partição territorial da Palestina Mandatária. Foi o primeiro mediador oficial da história da organização. Todavia, pouco depois do início da missão, em setembro do mesmo ano, Bernadotte foi assassinado em Jerusalém, pelo grupo sionista Lehi. A decisão de matá-lo foi tomada por Natan Yellin-Mor, Yisrael Eldad e Yitzhak Shamir, que mais tarde tornar-se-ia primeiro-ministro de Israel.

 
  
Brasão do conde de Wisborg  
   

segunda-feira, setembro 11, 2023

Poesia para recordar um dia triste...


(imagem daqui)

 
 
Ainda refulge a chama

Ainda refulge a chama
que perturbou um dia meus sentidos?

Não se apaga jamais
a luz de certo olhar que em segredo amei?

Chora, em meu coração,
a nostalgia do bem com que sonhei?

Da noite, abismo imenso,
oiço indistinta voz chamar por mim?

O que me falta e inquieta
serás tu, de quem não sei o nome?

Ou todo o sonho erguido é cinza ao vento,
estrela fria, cada vez mais longe
do puro silêncio em que se esvai a vida?
 
  
 
Luís Amaro

Hoje é dia de recordar um ataque terrorista que ocorreu há vinte e dois anos...

De cima para baixo: o World Trade Center ardendo após o ataque; uma secção do Pentágono desabada; voo 175 chocando contra a Torre 2 do WTC; um bombeiro pedindo ajuda no Ground Zero; parte do voo 93 sendo recuperada; voo 77 chocando contra o Pentágono
 
Local Nova Iorque, NY
Condado de Arlington, VA
Shanksville, PA
Estados Unidos
Data 11 de setembro de 2001 - 08.46 - 10.28 (UTC-5)
Mortes 2.996 mortos (incluindo 19 terroristas)
Feridos >6.291
Responsável Al-Qaeda, planeado por Osama bin Laden
Número de participante(s) 19 terroristas

Os ataques ou atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 (às vezes, referido apenas como 11 de setembro) foram uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda em 11 de setembro de 2001. Na manhã daquele dia, dezanove terroristas sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros. Os sequestradores colidiram intencionalmente dois dos aviões contra as Torres Gémeas do complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, matando todos a bordo e muitas das pessoas que trabalhavam nos edifícios. Ambos os prédios desmoronaram duas horas após os impactos, destruindo edifícios vizinhos e causando vários outros danos. O terceiro avião de passageiros colidiu contra o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, no Condado de Arlington, Virgínia, nos arredores de Washington, D.C. O quarto avião caiu em um campo aberto próximo de Shanksville, na Pensilvânia, depois de alguns de seus passageiros e tripulantes terem tentado retomar o controle da aeronave dos sequestradores, que a tinham reencaminhado na direção da capital norte-americana. Não houve sobreviventes em qualquer um dos voos.
Quase três mil pessoas morreram durante os ataques, incluindo os 227 civis e os 19 sequestradores a bordo dos aviões. A esmagadora maioria das vítimas eram civis, incluindo cidadãos de mais de 70 países. Além disso, há pelo menos um óbito secundário - uma pessoa foi descartada da contagem por um médico legista, pois teria morrido por doença pulmonar devido à exposição à poeira do colapso do World Trade Center.
   

terça-feira, setembro 05, 2023

O Massacre de Munique foi há cinquenta e um anos...

  Memorial - a inscrição, em alemão e hebraico, diz:  
 A equipa do Estado de Israel permaneceu neste edifício durante os Jogos Olímpicos de Verão de 21 agosto a 5 setembro de 1972. Em 5 de setembro, teve uma morte violenta. Honra à sua memória.
    
O Massacre de Munique também conhecido como Tragédia de Munique teve lugar durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1972, em Munique, quando, a 5 de setembro, 11 membros da equipa olímpica de Israel foram tomados como reféns pelo grupo terrorista palestiniano denominado Setembro Negro.

O governo da RFA, então liderado pelo primeiro-ministro Willy Brandt, recusou-se a permitir a intervenção de uma equipa de operações especiais do Tzahal, conforme proposta da primeira ministra de Israel, Golda Meir.
Os onze desportistas israelitas acabaram sendo assassinados, em vários momentos do sequestro. 
   
          
Operação policial
Como se viria a constatar depois, as forças policiais alemãs estavam muito mal preparadas e a situação fugiu ao seu controle. Uma tentativa de libertação dos reféns levou à morte de todos os atletas, além de cinco terroristas e um agente da polícia alemã. Os três terroristas que sobreviveram ao ataque foram encarcerados. O governo alemão federal ficou altamente embaraçado pelo fracasso e pela demonstração de incompetência da sua polícia. A operação foi mal planeada e foi executada por agentes sem qualquer preparação especial.
A ideia da operação era eliminar os terroristas num aeroporto próximo de Munique, o Fürstenfeldbruck. No entanto, os poucos polícias colocados nas torres do aeroporto não tinham capacidade de fogo suficiente para executar a tarefa, não dispunham de comunicações de rádio entre si para coordenar os disparos e foram surpreendidos por um número de terroristas superior ao esperado.
Após um tiroteio que durou 45 minutos, entre a polícia e os terroristas, os terroristas fuzilam os atletas israelitas que estavam amarrados uns aos outros dentro de dois helicópteros, os atletas morrem fuzilados e carbonizados. A divulgação dos pormenores do atentado, seguida atentamente pelos media internacional, causou um forte abalo na imagem da Alemanha Federal no exterior. Os três prisioneiros não chegaram a ser julgados.
A 29 de outubro de 1972 foi desviado um avião da Lufthansa por um outro grupo terrorista, sendo exigida a libertação dos três terroristas aprisionados. Curiosamente, entre os passageiros desse misterioso voo da Lufthansa não havia nenhuma mulher nem criança. Os reféns eram todos homens adultos. Soldados alemães conseguiram libertar os reféns e mataram os sequestradores.
    
Consequências
Pouco depois do massacre dos atletas, o governo alemão decidiu fundar uma unidade policial contra-terrorista, o GSG 9, para lidar melhor com situações semelhantes no futuro. Esta unidade é hoje um  exemplo mundial no combate ao terrorismo.
Os três terroristas sobreviventes passaram a ser perseguidos pela Mossad e crê-se que dois deles foram assassinados. Esta operação chamou-se Ira de Deus.
Mohammed Oudeh, o terceiro terrorista e líder do sequestro, conseguiu sobreviver a um atentado contra sua vida em 1981, na cidade de Varsóvia, mas faleceu dia 3 de julho de 2010, em Damasco, capital da Síria, de falência renal.
Foi lançado em 2005 o filme Munique, dirigido por Steven Spielberg, tendo sido nomeado para cinco Óscares, incluindo melhor filme e melhor diretor. O filme conta a história da suposta operação de retaliação do governo israelita lançada logo após o massacre contra os responsáveis pelo atentado.
      

domingo, setembro 03, 2023

Poesia para recordar um dia triste...


 

beslan. canção das crianças mortas



o que mais dilacera
é que mate crianças
o abutre cego e surdo.
devora tudo em sangue,
com sangue escreve a morte,
com morte escreve a noite,

com noite, só com noite
os nomes dilacera
e dá o seu nome à morte
e a morte é com crianças
que suja tudo em sangue
que faz seu jogo absurdo

vil jogo a rogos surdo
turvo rumor da noite
só empapado em sangue,
que esmaga, dilacera
os corpos das crianças
e dá vivas à morte

e se nutre da morte
da mesma que o faz surdo.
não sabem as crianças
que vão entrar na noite
que a noite as dilacera
em carne viva e sangue,

e a carne viva e o sangue
a ave negra da morte
ávida os dilacera,
assim rasgando o surdo,
denso estertor da noite,
com nomes de crianças.

ah, braços de crianças
nadando em mar de sangue
à torpe luz da noite
assim tornada morte,
assim tornada um surdo
uivar que as dilacera.

noite sem dó, crianças
que dilacera um sangue
de morte espesso e surdo 

  

in
Poesia 2001/2005 - Vasco Graça Moura

O duplamente infame massacre de Beslan foi há dezanove anos...

  
A Crise de reféns da escola de Beslan (conhecida também como Cerco à escola de Beslan ou Massacre de Beslan) teve início no dia 1 de setembro de 2004, quando terroristas armados fizeram mais de 1.200 reféns entre crianças e adultos, na Escola N.º 1, da cidade russa de Beslan, na Ossétia do Norte.
Os terroristas chechenos colocaram explosivos no prédio da escola e mantiveram os reféns sob a mira de armas por três dias. Em 3 de setembro, no terceiro dia da crise, as forças de segurança russas terão entrado na escola e atacado os sequestradores, que detonaram explosivos e dispararam contra os reféns. O resultado foi a morte de 344 civis, sendo 186 deles crianças e centenas de feridos.
O grupo terrorista liderado por Shamil Bassaiev, denominado "Brigada Chechena de Reconhecimento e Sabotagem", ligado aos separatistas chechenos, assumiu a responsabilidade pelo atentado terrorista à escola, que foi liderado pelo seu principal subalterno inguche, Magomet Yevloyev.
Em 1 de setembro de 2004 o Conselho de Segurança da ONU condenou o ataque em termos fortes e encorajou os Estados a cooperar ativamente com as autoridades russas para trazer à Justiça os perpetradores. O Secretário-geral Kofi Annan condenou o ocorrido como um "massacre de crianças brutal e sem sentido" e "terrorismo, puro e simples".
O presidente da Comissão Europeia Romano Prodi, em nome da Comissão, respondeu em 3 de setembro de 2004 dizendo que: "a matança dessas pessoas inocentes é um ato vil e maléfico de barbárie".
O presidente dos Estados Unidos George W. Bush, num discurso perante a Assembleia Geral da ONU em setembro de 2004 afirmou que os terroristas de Beslan "medem o seu sucesso [...] na morte de inocentes e na dor das famílias enlutadas". E em 2005 chamou-o de "massacre terrorista das crianças de Beslan".
No Vaticano, o papa João Paulo II condenou o ataque como uma "vil e impiedosa agressão contra crianças e famílias indefesas".
Nelson Mandela chamou o ataque "um bárbaro e violento ato de terrorismo", dizendo que "de nenhuma maneira pode a vitimização e morte de crianças inocentes ser justificada em qualquer circunstância, e especialmente não por razões políticas".
O primeiro-ministro britânico Tony Blair descreveu o ataque terrorista como "um ato bárbaro".
O governo de Israel ofereceu auxílio na reabilitação dos reféns libertos. Imediatamente após o ataque uma equipa israelita especializada em traumas foi enviada para Beslan e, posteriormente, psicólogos russos que trabalhavam com as vítimas receberam treino em Israel.
Um grupo de organizações de direitos humanos, inclusive a Amnistia Internacional, condenou a "ação [...] repugnante" e "demonstração cabal de desrespeito à vida de civis" e ainda afirmou que foi "um ataque ao mais fundamental direito - o direito à vida; nossas organizações denunciam este ato sem reservas".
        
in Wikipédia

sexta-feira, setembro 01, 2023

A crise de reféns da escola de Beslan começou há dezanove anos...

Vítimas do atentado terrorista na escola de Beslan, perpetrado pelos separatistas da Chechénia
     
A Crise de reféns da escola de Beslan (conhecida também como Cerco à escola de Beslan ou Massacre de Beslan) teve início no dia 1 de setembro de 2004, quando terroristas armados fizeram mais de 1.200 reféns entre crianças e adultos, na Escola n.º 1, da cidade russa de Beslan, na Ossétia do Norte.
Os terroristas chechenos colocaram explosivos no prédio da escola e mantiveram os reféns sob a mira de armas durante três dias. Em 3 de setembro, no terceiro dia da crise, as forças de segurança russas terão entrado na escola e atacado os sequestradores, que detonaram explosivos e atiraram nos reféns. O resultado foi a morte de 344 civis, sendo 186 deles crianças e centenas de feridos.
     

quinta-feira, agosto 31, 2023

Otelo Saraiva de Carvalho nasceu há 87 anos

   
Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho (Maputo, ex-Lourenço Marques, 31 de agosto de 1936Lisboa, Lumiar, 25 de julho de 2021) foi um coronel de artilharia português, tendo sido um dos principais estrategas do 25 de abril de 1974, tendo posteriormente fundado e dirigido a organização terrorista «Forças Populares 25 de abril – FP-25».
  
Biografia
Foi capitão em Angola de 1961 a 1963 e também na Guiné entre 1970 e 1973, sendo um dos principais dinamizadores do movimento de contestação ao Decreto Lei nº 353/73, que deu origem ao Movimento dos Capitães e ao MFA. Entre 1964 a cerca de 1968, foi professor na "Escola Central de Sargentos" em Águeda.
Era o responsável pelo sector operacional da Comissão Coordenadora do MFA e foi ele quem dirigiu as operações do 25 de Abril, a partir do posto de comando clandestino instalado no Quartel da Pontinha.
Graduado em brigadeiro, foi nomeado comandante-adjunto do COPCON e comandante da região militar de Lisboa a 13 de julho de 1974, tendo passado a ser comandante do COPCON a 23 de junho de 1975 (cargo que na prática já exercia desde setembro de 1974). Foi afastado destes cargos após os acontecimentos de 25 de novembro de 1975, por realizar de ânimo leve uma série de ordens de prisão e de maus tratos de elementos moderados.
Fez parte do Conselho da Revolução desde que este foi criado, a 14 de março de 1975, até dezembro de 1975. A partir de 30 de julho do mesmo ano integra, com Costa Gomes e Vasco Gonçalves, o Diretório, estrutura política de cúpula durante o V Governos Provisório na qual os restantes membros do Conselho da Revolução delegaram temporariamente os seus poderes (mas sem abandonarem o exercício das suas funções).
Conotado com a ala mais radical do MFA, viria a ser preso em consequência dos acontecimentos do 25 de novembro. Solto três meses mais tarde, foi candidato às eleições presidenciais de 1976.
Em 1980 cria o partido Força de Unidade Popular (FUP) e volta a concorrer às eleições presidenciais de 1980.
Na década de 80 foi acusado de liderar a organização terrorista FP-25, responsável pelo assassinato de 17 pessoas. Foi detido em 1984.
Em 1985 foi julgado e condenado em tribunal pelo seu papel na liderança das FP-25 de Abril. Após ter apresentado recurso da sentença condenatória, ficou em prisão preventiva cinco anos, passando a aguardar julgamento em liberdade provisória. Mais tarde acusou o PCP de ter estado por trás da sua detenção e de ter feito com que ficasse em prisão preventiva tanto tempo. Acusou ainda alguns nomes então na Polícia Judiciária, como a antiga diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Cândida Almeida, então na PJ, de, devido à militância no PCP, ter estado por trás da sua detenção.
Em 1996 a Assembleia da República aprovou o indulto, seguido de uma amnistia, para os presos do caso FP-25.

A propósito do aniversário de um reles canalha já desaparecido...

    
Otelo assume bigamia

 

Na biografia Otelo, o Revolucionário, o cérebro do 25 de abril assume a sua bigamia. De segunda a quinta-feira, vive com Filomena. De sexta a domingo, mora com Dina. As múltiplas facetas de um ícone.

Figura proeminente do Movimento dos Capitães, cérebro do plano operacional do 25 de Abril, importante chefe militar no período do PREC, todo poderoso comandante do Comando Operacional do Continente (COPCON) nesse período, duas vezes candidato à Presidência da República, duas vezes preso, uma das quais por envolvimento na rede terrorista Forças Populares 25 de abril (FP-25), idolatrado por uns, odiado por outros, Otelo Saraiva de Carvalho, 75 anos, é o grande ícone vivo da revolução portuguesa.

Para figurar nas t-shirts das gerações do pós-revolução, falta-lhe, talvez, apenas, uma foto tão feliz como a que Alberto Korda captou de Che Guevara. E, depois, algum espírito empreendedor de uma qualquer marca comercial de vestuário... Mas a maior surpresa da sua biografia, agora dada à estampa, em livro, pela pena do jornalista Paulo Moura (Otelo, o Revolucionário, da D. Quixote, a lançar no próximo dia 25) é, afinal, uma história de amor.

Excessivo, inconvencional, indisciplinado, romântico, Otelo levou para a vida pessoal a transgressão que, nos anos da Revolução, o tornaram célebre. Na página 13 do livro de Paulo Moura, logo a abrir, o autor revela-nos a outra faceta do revolucionário: "Sente-se bem em família. Tanto, que tem duas. Casou cedo, com uma colega de liceu. Mais tarde, na prisão, teve outro amor. Não foi capaz de abandonar a primeira mulher, nem a segunda. (...) Otelo assume as suas duas mulheres. Aparece em público com elas, não mente a nenhuma, trata-as por igual. Também nisso é organizado. De segunda a quinta vive numa casa; sexta, sábado e domingo passa-os na outra."


in Visão

   
Boca do Inferno - Ricardo Araújo Pereira
'Otelo, o Revolucionário': recensão crítica da primeira página

A higiene pessoal desvenda a personalidade do biografado. Na de Otelo, reconhecemos o ímpeto transformador do revolucionário

Só li ainda a primeira página da nova biografia Otelo, o Revolucionário, de Paulo Moura. Não por falta de tempo, mas porque a primeira página do livro oferece tanto material para reflexão que ainda não me sinto preparado para avançar na leitura. A primeira frase é esta: "Otelo demora, todos os dias, cerca de duas horas na casa de banho, a tratar da higiene pessoal." Sou um velho apreciador de biografias que investigam os hábitos de higiene do biografado. Gostei de saber, por Walter Isaacson, que Steve Jobs cheirava tão mal que foi colocado no turno da noite, quando trabalhava na Atari, para incomodar menos. Ou que gostava de andar descalço e enfiar os pés na sanita da casa de banho privada do seu gabinete, para refrescar. É natural que uma pessoa desenvolva capacidades especiais para inventar aparelhos que permitem comunicar à distância quando percebe que os outros evitam aproximar-se. Era tomar banho ou inventar o iPhone. Jobs optou pela segunda. Também descobri com interesse que os dentes de Mao Tse Tung, de tão sujos, se revestiam de uma película verde e as suas gengivas vertiam pus. Percebi então que a autocrítica maoísta não abrangia a higiene oral, facto que nenhum manual de ciência política ensina.
Otelo rompe com esta tradição de biografados badalhocos - e de que maneira. De acordo com o relato de Paulo Moura, que exibe marcas extremamente inquietantes de testemunho ocular, Otelo começa por tomar um "duche demorado e meticuloso. Depois limpa-se, com igual minúcia, e dá início ao tratamento capilar integral. Com um curto ancinho de plástico, uma pequena carda adequada, remove as pilosidades corporais que vão caindo. A seguir escova os abundantes pelos do peito, costas, pernas, etc. Usa uma vassourinha própria (...). Após esta operação, certas zonas da pele podem estar a precisar de uma limpeza adicional. Otelo procede então à lavagem localizada, servindo-se de várias águas. Depois, nu, em frente ao espelho, com a porta aberta, faz a barba. Como é espessa, exige várias passagens da lâmina, o que torna frequentes os ferimentos".
Mais uma vez, a higiene pessoal desvenda a personalidade do biografado. Na de Otelo, reconhecemos o ímpeto transformador do revolucionário, aqui dedicado a modificar a paisagem corporal. Otelo mune-se de um curto ancinho (utensílio próprio do campesinato) e de uma vassourinha (ferramenta do operariado menos qualificado). Há um cheirinho a reforma agrária no ato de desembaraçar a pelagem do corpo com um ancinho. E o processo termina com derramamento de sangue, circunstância que um revolucionário, por vezes, não consegue evitar.
Por outro lado, a higiene pessoal de Otelo revela-o também como um homem do seu tempo. Recordo que "escova os abundantes pelos do peito, costas, pernas, etc." Ou seja, trata-se de um homem sem tabus. Começa por dedicar a devida atenção aos pelos do peito, costas e pernas, mas não deixa de escovar os pelos do etc. E tudo isto é feito "com a porta aberta". Aberta para onde? Para o futuro, digo eu.
    
in Visão

 
Forças Populares 25 de Abril (FP-25) foram uma organização armada clandestina de extrema-esquerda que operou em Portugal entre 1980 e 1987.
Parte significativa dos seus militantes procediam das antigas Brigadas Revolucionárias e, ainda que em menor número, da LUAR e da ARA.
Entre 1980 e 1987, as FP 25 foram diretamente responsáveis por 13 mortes - às quais acrescem ainda as mortes de 4 dos seus operacionais - dezenas de atentados a tiro e com explosivos e de assaltos a bancos,viaturas de transporte de valores, tesourarias da fazenda pública e empresas.
No plano legal o julgamento dos atos imputados à organização foi incompleto, quer por prescrição de alguns dos processos, quer pela dificuldade em identificar os autores materiais dos factos.
A figura mais conhecida vinculada às FP-25 foi Otelo Saraiva de Carvalho.

Cronologia das FP-25
Março de 1980 - formação da coligação Força de Unidade Popular;
20 de abril de 1980 - apresentação pública da organização Forças Populares 25 de Abril com o rebentamento por todo o país de dezenas de engenhos explosivos de fraca potência contendo o documento “Manifesto ao Povo Trabalhador”;
Maio de 1980 - assalto simultâneo a dois bancos no Cacém que resulta na morte do soldado da GNR Henrique Hipólito durante a confrontação com elementos da organização;
Maio de 1980 - morte do militar da GNR Agostinho Francisco Ferreira durante a detenção de elementos de um comando da organização em Martim Longo, Algarve;
Maio de 1980 - atentado frustrado com explosivos em Bragança;
Julho de 1980 - destruição por incêndio de viaturas da PSP;
Julho de 1980 - assalto à Conservatória do Registo Civil de Vila Nova de Gaia para roubo de impressos para bilhetes de identidade;
Setembro de 1980 - rebentamento de explosivos no consulado e na embaixada do Chile respetivamente no Porto e em Lisboa;
Outubro de 1980 - rebentamento de explosivos nas sedes dos ex-Comandos em Faro e Guimarães; esta associação era considerada pelas FP-25 como a tropa de choque das desocupações de terras no Alentejo;
Outubro de 1980 - assalto simultâneo a dois bancos na Malveira na sequência do qual são mortos dois elementos da organização (Vítor David e Carlos Caldas) e um cliente de um dos bancos (José Lobo dos Santos), ficando ainda feridos dois elementos da população local;
Inicio de 1981 - atentado com explosivos na filial do Banco do Brasil em Lisboa que causa um ferido;
Março de 1981 - ferimentos ligeiros num comerciante da Malveira (Fernando Rolo) acusado de ser o autor dos disparos que causam a morte de um dos elementos da organização aquando de um assalto frustrado naquela povoação em outubro do ano anterior;
Março de 1981 - disparos nas pernas de um dos administradores da empresa SAPEC, no Dafundo, na sequência de conflitos laborais na empresa;
Março de 1981 - assalto a um banco na Trofa;
Abril de 1981 - ação de solidariedade para com o Exército Republicano Irlandês, cuja bandeira é hasteada numa sucursal da British Airways no Porto;
Maio de 1981 - disparo de um rocket no interior do Royal British Club em Lisboa, em solidariedade com o Exército Republicano Irlandês;
Julho de 1981 - disparos sobre o diretor-delegado da empresa Standard Eléctrica em Cascais causando-lhe ferimentos ligeiros; na mesma ação é ferido o seu motorista; a ação é justificada pela organização como uma resposta aos despedimentos e conflitos laborais que afetavam a empresa;
Julho de 1981 - roubo de explosivos de uma empresa de construção, nos arredores de Coimbra;
Julho de 1981 - assalto a um banco de Vila da Feira;
Meados de 1981 - assalto a um banco de Leça do Balio;
Outubro de 1981 - disparos nas pernas de um administrador da empresa Carides, em Vila Nova de Famalicão; a ação é justificada como uma resposta aos salários em atraso e aos despedimentos efetuados na empresa;
Outubro de 1981 - morte de dois militares (Adolfo Dias e Evaristo Ouvidor da Silva) da GNR vitimas da explosão de um carro armadilhado em Alcaínça, arredores da Malveira; a acção inseria-se ainda no processo de retaliação relativo às mortes de dois elementos (Vítor David e Carlos Caldas) da organização num assalto a um banco desta localidade;
Outubro de 1981 - morte de um elemento da organização (António Guerreiro) na sequência de um assalto a um banco na Póvoa de Santo Adrião; no mesmo assalto é morto um transeunte (Fernando de Abreu) que, armado de pistola, faz frente aos elementos da organização;
Dezembro de 1981 - atentado com explosivos ao posto da GNR de Alcácer do Sal;
Finais de 1981 - atentados com explosivos nos postos da GNR do Fundão e da Covilhã;
Janeiro de 1982 - atentado com explosivos ao posto da GNR do Cacém;
Janeiro de 1982 - atentado com explosivos à residência de um industrial no Cacém;
Janeiro de 1982 - assalto a uma carrinha de transporte de valores;
Abril de 1982- atentados com explosivos sobre o automóvel e a residência de dois administradores da empresa SAPEC;
Junho de 1982 - disparos sobre a viatura onde se deslocavam dirigentes da cooperativa “Boa Hora”;
Agosto de 1982 - atentado com explosivos colocados numa viatura, em Montemor-o-Novo;
Outubro de 1982 - assalto a um banco em Pataias;
Outubro de 1982 - assalto a um banco em Cruz da Légua;
Outubro de 1982 - assalto a uma empresa de Vila Nova de Gaia;
Dezembro de 1982 - um militante da organização evade-se da cadeia de Pinheiro da Cruz, em Grândola;
Dezembro de 1982 - atentado mortal sobre o administrador da Fábrica de Louças de Sacavém, Diamantino Monteiro Pereira, em Almada; a organização justifica a ação como uma resposta aos graves conflitos laborais e despedimentos verificados na empresa;
Janeiro de 1983 - elementos da organização libertam da prisão um militante das FP-25, em Coimbra;
Fevereiro de 1983 - assalto a um banco em Espinho;
Fevereiro de 1983 - assalto a um banco no Carregado;
Abril de 1983 - assalto a um banco no Tramagal;
Junho de 1983 - assalto a uma empresa;
Agosto de 1983 - assalto a um banco de Matosinhos;
Setembro de 1983 - assalto a uma empresa, em Pereiró;
Novembro de 1983 - atentado com explosivos ao posto da GNR de Leiria;
Novembro de 1983 - atentado com explosivos visando um administrador da empresa Cometna;
Novembro de 1983 - atentados com explosivos em residências de empresários na Cruz de Pau e Seixal;
Dezembro de 1983 - atentado com explosivos a instalações bancárias em Leiria e Caldas da Rainha;
Dezembro de 1983 - rebentamento de engenhos explosivos com difusão de panfletos em Setúbal;
Janeiro de 1984 - assalto a um banco em Caneças;
Janeiro de 1984 - atentado com explosivos visando administradores das empresas Entreposto, Tecnosado e Tecnitool;
Janeiro de 1984 - atentado a tiro contra a residência do administrador da empresa Ivima, na Marinha Grande;
Janeiro de 1984 - assalto a uma viatura de transporte de valores na Marinha Grande que resulta em ferimentos graves (paraplegia num dos casos) em dois dos seus ocupantes;
Fevereiro de 1984 - atentados com explosivos visando empresários na Covilhã e Castelo Branco;
Fevereiro de 1984 - assalto a uma carrinha de transporte de valores que resulta no roubo de 108.000 contos, em Lisboa;
Abril de 1984 - atentado com explosivos em Évora;
Abril de 1984 - atentado com explosivos na residência de um agricultor em S. Manços, Alentejo; os efeitos da explosão provocam a morte de uma criança de 4 meses de idade (Nuno Dionísio);
Maio de 1984 - sabotagem da Estrada Nacional nº1 através do lançamento de pregos na via;
Maio de 1984 - atentado mortal contra o administrador da empresa Gelmar, Rogério Canha e Sá, em Santo António dos Cavaleiros; a ação é justificada pela organização como uma resposta aos sucessivos despedimentos e falências registados não só na Gelmar como em outras unidades fabris onde o referido administrador havia exercido funções;
Junho de 1984 - atentado a tiro, causando ferimentos graves, contra o administrador Arnaldo Freitas de Oliveira, da empresa Manuel Pereira Roldão, em Benfica; a organização justifica a ação, que deveria resultar na morte do referido administrador, como uma punição pelas alegadas irregularidades e despedimentos verificados na referida empresa;
Junho de 1984 - operação policial ‘Orion’ destinada a desmantelar a organização e da qual resultaria a detenção de cerca de quarenta pessoas a maior parte das quais militantes e dirigentes da Frente de Unidade Popular;
Agosto de 1984 - atentado frustrado com explosivos numa serração de Proença-a-Nova resultando em ferimentos graves no elemento da organização que se preparava para os colocar;
Setembro de 1984 - disparos sobre o posto da GNR de Barcelos na sequência de uma carga desta força policial sobre populares que se manifestavam contra a poluição emitida por uma fábrica de barros contígua;
Setembro de 1984 - disparos nas pernas do proprietário da empresa Cerâmica Modelar, António Liquito, em Barcelos; a organização justifica a ação como uma punição pela recusa do empresário em regularizar uma situação de emissão de resíduos que afetava a população local;
Setembro de 1984 - atentado com explosivos na residência de um agrário, no Alentejo;
Setembro de 1984 - atentados com explosivos em residências de agrários em Montemor-o-Novo;
Setembro de 1984 - atentado com explosivos na Penitenciária de Coimbra;
Janeiro de 1985 - ataque falhado com granadas de morteiro contra navios da NATO ancorados no rio Tejo, em Lisboa;
Março de 1985 - atentado mortal sobre o empresário da Marinha Grande, Alexandre Souto, levado a cabo no recinto da Feira Internacional de Lisboa; a organização justifica a acção como uma resposta à morte de um sindicalista da Marinha Grande alegadamente morto pelo empresário na sequência de uma disputa pessoal;
Abril de 1985 - na sequência de uma operação da Polícia Judiciária perto da Maia, são detidos três operacionais da organização e um quarto (Luís Amado) é morto a tiro;
Julho de 1985 - atentado mortal sobre um dos ‘arrependidos’ da organização (José Barradas), no Monte da Caparica, Almada;
Setembro de 1985 - fuga do Estabelecimento Prisional de Lisboa de um grupo de presos da organização;
Fevereiro de 1986 - atentado mortal sobre o Diretor-geral dos Serviços Prisionais, Gaspar Castelo Branco, em Lisboa; a ação é justificada pela organização como uma resposta às duras condições de detenção dos seus militantes e à alegada intransigência dos Serviços Prisionais na pessoa do seu Diretor-geral;
Abril de 1986 - disparos sobre a esquadra da PSP dos Olivais em retaliação pelos alegados maus tratos aí sofridos por um elemento da organização aquando da sua detenção; desta acção resulta um ferido ligeiro;
Setembro de 1986 - atentado com explosivos a um empreendimento turístico no Algarve; esta ação é reivindicada pela ORA (Organização Revolucionária Armada) um grupo formado por dissidentes das Forças Populares 25 de Abril;
Agosto de 1987 - morte do agente da Polícia Judiciária Álvaro Militão durante a detenção de elementos da organização, em Lisboa;
Meados de 1992 - detenção dos últimos militantes ainda clandestinos;
1996 - É aprovada pela Assembleia da República e promulgada por Mário Soares, então Presidente da República, uma amnistia relativa ao caso FUP-FP-25, amnistia que exclui os chamados "crimes de sangue".



   


  
A Força de Unidade Popular (FUP), foi um partido político português, fundado em 1980 e extinto em 2004.
Fundado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho na área do "socialismo participado", defendia nos seus estatutos, "promover a unidade popular no seio do povo português para a construção do Socialismo" e "praticar a solidariedade com todos os povos do mundo que lutam pela sua libertação e pelo Socialismo".
Nunca concorreu a eleições, tendo apoiado Otelo Saraiva de Carvalho às eleições presidenciais de 1980, onde este obteve um resultado desastroso, com somente 85.896 votos (1,49%).

A ideia de criação do partido foi lançada pelo major Otelo Saraiva de Carvalho, em 30 de janeiro de 1980, e concretizada em 28 de março seguinte através de um acordo constitutivo subscrito pelo mesmo, por representantes do MES - Movimento de Esquerda Socialista, OUT - Organização Unitária de Trabalhadores, PCP(m-l) - Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), PC(R) - Partido Comunista (Reconstruído), PRP - Partido Revolucionário do Proletariado, UC - Unidade Comunista, UDP - União Democrática Popular e quatro independentes.
O partido foi vítima própria de um certo culto de personalidade ou otelismo. A partir de junho de 1984, após a operação "Orion" da Polícia Judiciária, incidindo sobre as FP25 e que levou à detenção de dezenas de militantes da FUP e do próprio Otelo, o partido assistiu ao encerramento sucessivo das suas sedes.
Comprovada a ligação do partido às FP25 e ao "Projecto Global", por ser a sua componente da "organização política de massas" (OPM), foi decretada a sua extinção em 2004.
  
   

    
Óscar um assassino pouco inteligente

O Óscar fez uma revolução. Houve quem pensasse que o fazia pelo País. Engano. Rapidamente se tornou conhecido por emitir mandatos de captura em branco, discricionários e sem critério. O País generoso, perdoou-lhe as loucuras do PREC, mas logo Óscar achou que o poder era seu por direito e voltou a aterrorizar. Desta vez contra a democracia, com mais sangue e cobardia. Com o seu gang de revolucionários, Óscar assaltou bancos, e assassinou 17 pessoas e chantageou o Estado de direito.
O País foi novamente magnânimo e perdoou-lhe por algo, do qual ele nunca se arrependeu. Até o promoveu. Passou-lhe um salvo conduto vitalício,  o que lhe permite dizer as maiores atrocidades, ter eco na imprensa, sem que haja alguém a lembrar o seu cadastro.

Óscar não foi generoso nem tão pouco corajoso, foi muito pouco inteligente e nunca se retratou. Óscar continua a achar-se acima da lei. Já o Estado, não pode permitir que haja cidadãos, mesmo que  intelectualmente indigentes, mas não inimputáveis, digam atrocidades  e incitem a motins e revoluções.

Um Estado pequeno não implica que seja fraco. Mas, se a justiça não reage e não funciona, deixa fragilidades com marcas profundas e difíceis de curar.

PS. Óscar - Nome de código de Otelo Saraiva de Carvalho, enquanto líder operacional das FP-25 de Abril. Facto julgado e provado em tribunal. Entre os crimes de que foi  acusado e condenado, esteve o assassinato de 17 pessoas inocentes, de uma forma fria, brutal e cobarde. Apesar disso, Otelo foi promovido a Coronel, por proposta do Almirante Martins Guerreiro e despacho conjunto do Ministro da Defesa Severiano Teixeira e das Finanças Teixeira dos Santos, com uma indemnização três vezes superior, aquela que receberam as vitimas que assassinou.
 



Dias contados
Uma anedota chamada Otelo
por ALBERTO GONÇALVES - 13 novembro 2011


Antes de 1974, o capitão Otelo Saraiva de Carvalho serviu diligentemente a ditadura salazarista. Após o 25 de Abril, de que ele próprio foi operacional destacado, ajudou a impor uma ditadura comunista. Derrotada esta no 25 de Novembro de 1975, prosseguiu a defesa dos macaquinhos que lhe habitam o sótão quase sozinho e literalmente à bomba até ser preso. Hoje, seria de esperar que duas tiranias, um golpe de Estado e uma apreciável incursão pelo terrorismo, satisfizessem as ambições profissionais do major Otelo Saraiva de Carvalho, que aproveitaria o Outono da vida para contemplar o passado heroico e gozar de uma reforma pacífica. Evidentemente, não satisfazem.
Há homens que não sossegam enquanto um único dos seus semelhantes estiver privado de exercer o direito de voto. O tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho não é desses. O que o aflige é justamente a possibilidade de os semelhantes escolherem os respetivos destinos em liberdade. Parafraseando As Vinhas da Ira, onde houver o vestígio de um sistema democrático, o coronel Otelo Saraiva de Carvalho lá irá tentar acabar com ele. Ou pelo menos fica no sofá de casa a pedir a outros que o façam.
A última do brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho é aquela espécie de entrevista na qual explica que "os militares têm a tendência para estabelecer um determinado limite à atuação da classe política", que o poder político "está próximo de exceder os limites aceitáveis", que, "ultrapassados os limites", os militares devem "fazer uma operação militar e derrubar o Governo", e que "bastam 800 homens".
Em troca, alguém de bom senso deveria explicar ao general Otelo Saraiva de Carvalho que, grosso modo, a coisa funciona ao contrário. Os limites da política são decididos pela Constituição e pela lei. O poder militar está submetido ao político. O poder político, tontinho que seja, está submetido ao voto dos cidadãos e não aos apetites de 800 hipotéticos valentes. As sugestões em causa configuram o crime de incitação à violência. Etc.
Pensando melhor, não vale a pena. Há muito, provavelmente desde sempre, que o marechal Otelo Saraiva de Carvalho se encontra além da racionalidade, da imputabilidade e da paciência. Evangelizá-lo na exata democracia que lhe permite ostentar os delírios seria tão inútil quanto pregar o feminismo aos aiatolas. Mais do que um déspota falhado e arcaico, o sr. Otelo é uma anedota, só perigosa na medida em que alguns ainda a ouvem sem se rir.
    
in DN