
Maria Clara Amado Pinto Correia (Lisboa, 30 de janeiro de 1960 - Estremoz, 9 de dezembro de 2025) foi uma professora universitária, bióloga, escritora e historiadora da ciência portuguesa.
Biografia
Filha de José Manuel Pinto Correia, Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada
a título póstumo, a 10 de junho de 1991, e de sua mulher Maria Adelaide
da Cunha e Vasconcelos de Carvalho Amado. Era irmã da jornalista Margarida Pinto Correia.
Viveu vários anos da sua infância em Angola, onde o pai, o professor de Medicina José Pinto Correia, foi obrigado a cumprir serviço militar como médico durante a Guerra colonial (Guerra do Ultramar). Aí lhe nasceu a paixão pela Biologia. Foi uma excelente aluna, primeiro frequentou o Liceu Francês Charles Lepierre, depois o Liceu Rainha D. Leonor.
Como escritora, foi autora de uma vasta obra, que iniciou em 1983. O seu mais conhecido romance é Adeus, princesa, que publicou aos 25 anos de idade, no qual retrata a alma da juventude do Alentejo no final da tentativa de Reforma agrária.
Tem meia centena de títulos publicados, incluindo ficção, literatura
infantil, ensaios, biografia, crónicas de opinião, divulgação científica
e estudos de História da ciência.
Formação e atividade académica
Motivada pelo sonho de um dia vir a ser Park Ranger numa reserva africana (nas revistas que o pai assinava, nomeadamente a National Geographic, fascinavam-na (particularmente as fotos de Jane Goodall com os chimpanzés), Clara Pinto Correia vai estudar biologia para a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Aí termina a licenciatura em 1984. No ano seguinte integra o corpo docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
como assistente estagiária de biologia celular e histologia e
embriologia e, simultaneamente, como doutoranda no Laboratório de
Biologia Celular do Instituto Gulbenkian de Ciência,
em ambos os casos sob orientação do professor J. David-Ferreira.
Deixa-se ficar aí até 1989, ano em que vai para o Estados Unidos como visiting scientist do laboratório de Sabina Sobel, na Universidade de Nova Iorque em Buffalo, para execução do projeto de doutoramento.
Em outubro de 1992, foi-lhe conferido, com distinção e louvor por
unanimidade, o grau de Doutor em Biologia Celular pelo Instituto de
Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Regressa aos EUA, agora como postdoctoral fellow no laboratório de James Robl,
no Department of Veterinary and Animal Sciences da University of
Massachusetts at Amherst, para desenvolver um projecto de investigação
relacionado com as interacções nucleo-citoplasmáticas na clonagem de
embriões de mamíferos. Em 1994 trocou o trabalho de bancada por um
contrato de dois anos para fazer uma especialização em História das
Ciências no Department of History of Science da Harvard University, e
escrever um livro sobre História das Teorias da Reprodução, em ambos os
casos sob orientação de Stephen Jay Gould e supervisão de Everett Mendelshon.
Publicado o livro "The Ovary of Eve - Egg & Sperm &
Preformation", em 1996 regressou a Portugal para criar na Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias a licenciatura em Biologia e o
mestrado em Biologia do Desenvolvimento. Paralelamente foi contratada
como «research associate» de Stephen Jay Gould no Museum of Comparative
Zoology da Harvard University, cargo que manteve até 2002, e como
«adjunt professor» no Department of Veterinary and Animal Sciences da
University of Massachusetts at Amherst, que manteve até 2001. Em 2004
prestou provas de agregação em História e Filosofia das Ciências na
Universidade de Lisboa.
Foi professora catedrática da Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias, onde dirigiu a licenciatura em Biologia e o
mestrado em Biologia do Desenvolvimento. Lecionou em ambos os cursos os
módulos associados à história do pensamento biológico e à história das
teorias da reprodução. Foi também «research associate» de John Murdoch
no Department of History of Science da Harvard University e
investigadora do Centro de Estudos de História das Ciências Naturais e
da Saúde do Instituto Rocha Cabral.
Investigação
Biologia
No laboratório do Prof. James Robl
na University of Massachusetts, que trabalhava com o objetivo de
clonar bovinos transgénicos em grande número, Clara Pinto Correia
introduziu novas técnicas de localização de estruturas intra-celulares
por imunofluorescência que tinha aprendido durante os seus trabalhos de
doutoramento. Era consensual entre todos os cientistas, pois era isso
que ensinavam os livros de biologia celular e do desenvolvimento, que o
centrossoma que preside à organização do primeiro ciclo celular era de
origem materna. Até então o modelo usado era única e exclusivamente o
rato e a extrapolação parecia natural. Acontece que Clara Pinto Correia,
depois de usar como modelo o coelho, descobriu que o centrossoma que
preside à organização do primeiro ciclo celular era de origem paterna.
Usando como modelo o bovino obteve os mesmos resultados. Entretanto
outros grupos de investigação internacionais à medida que ensaiavam
outros modelos chegavam à mesma conclusão. Os livros foram mesmo
reescritos.
História das ciências
O
interesse de Clara Pinto Correia pela História da Biologia vem dos
tempos de estudante. Porém, terá sido Stephen Jay Gould o seu guru
intelectual, que a levou pelos caminhos da história das ciências. Foi
com ele que Clara Pinto Correia fez a sua primeira grande investigação
sobre história das teorias da reprodução, na Harvard University que
viria a culminar na edição do livro "The Ovary of Eve - Egg & Sperm
& Preformation". Esta investigação levou-a a fazer a sua segunda
grande descoberta, sobre a história da preformação.
Tudo começou com o pressuposto de que os preformacionistas do século
XVII tinham desenhado pessoas pequeninas enroscadas dentro do núcleo do espermatozoide. E estas pessoas tinham até um nome. Eram os
"homúnculos". Porém, quando Clara Pinto Correia começou a investigar as
fontes, nomeadamente o precioso Traité de Dioptrique de Nicholas Hartsoeker
(1694), não encontrou o termo em lado algum. A investigadora acabaria
por concluir que o termo "homúnculo" nunca foi usado pelos
preformacionista dos séculos XVII e XVIII mas trata-se antes de uma
invenção da literatura secundária dos anos 30. Esta descoberta,
modesta na sua grandiosidade pois não salvou vidas nem deu a paz ao
mundo, acabaria por obrigar a uma revisão dos livros de texto. Um deles
foi o conhecido Developmental Biology de Scott Gilbert
que na sua 4ª edição apresentava o famoso espermatozóide de Hartsoeker
com o seu "homúnculo" em posição fetal, mas que na edição seguinte já
tinha segregado o termo "homúnculo".
Clara Pinto Correia foi investigadora responsável pelo projeto
MAPA MUNDI - O impacto das viagens imaginárias na organização do
pensamento ocidental (sécs. XIV-XVIII), a decorrer no Centro de Estudos
de História das Ciências Naturais e da Saúde do Instituto Rocha Cabral.
Este projeto visava proceder a uma análise inter-disciplinar (Ciências Naturais/Estudos do Género/Psicologia/Tradição Oral Portuguesa/Cartografia) de quatro grandes clássicos europeus da
narrativa de viagens, como "As viagens de John Mandeville", "O Livro do
Infante D.Pedro" de Gil de Santisteban, a Terra Austral Conhecida, de
Gabriel de Foigny, e o Suplemento à viagem de Bougainville, de Denis
Diderot.
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