Poeta essencialmente lírico, o que lhe renderia a alcunha "poetinha", que lhe teria atribuído
Tom Jobim, notabilizou-se pelos seus
sonetos. Conhecido como um boémio inveterado, fumador e apreciador do
uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O
poetinha casou-se nove vezes ao longo de sua vida e as suas esposas foram, respectivamente:
Beatriz Azevedo de Melo (mais conhecida como
Tati de Moraes), Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria (a Martita) e Gilda de Queirós Mattoso.
Vida
Vinicius de Moraes nasceu em 1913 no bairro da
Gávea, no
Rio de Janeiro, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violinista amador, e Lídia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de
Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto. Desde então, já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a
Ilha do Governador, ele e a sua irmã Lygia permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o ensino primário.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no
Colégio Santo Inácio, de padres
jesuítas, onde passou a cantar no
coral e começou a montar pequenas peças de
teatro. Três anos mais tarde, tornou-se amigo dos irmãos
Haroldo e
Paulo Tapajós, com quem começou a fazer as suas primeiras composições e a apresentar-se em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ensino secundário e, no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje
Faculdade Nacional de Direito (UFRJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do
romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico no Ministério da Educação e Saúde. Dois anos mais tarde, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na
Universidade de Oxford. Em
1941, retornou ao Brasil empregando-se como
crítico de cinema no
jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.
O poeta estava em Portugal, a dar uma série de espectáculos, alguns com
Chico Buarque e
Nara Leão, quando o regime militar emitiu o AI-5. O motivo apontado para o afastamento foi o seu comportamento boémio que o impedia de cumprir as suas funções. Vinícius foi amnistiado (depois da morte) pela Justiça, em 1998. A Câmara dos Deputados brasileira, aprovou em fevereiro de 2010, a promoção póstuma do poeta ao cargo de "ministro de primeira classe" do Ministério dos Negócios Estrangeiros - o equivalente a embaixador, que é o cargo mais alto da carreira diplomática. A lei foi publicada no Diário Oficial do dia 22 de junho de 2010 e recebeu o número 12.265.
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro
"Orfeu da Conceição", em 25 de setembro de 1956. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, a sua carreira musical começou a avançar em meados da década de 50 - época em que conheceu
Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como
Baden Powell,
Carlos Lyra e
Francis Hime.
Na década de 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista
Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.
Na noite de 9 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia seguinte Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreu pela manhã.
Carreira artística e poética
No fim da década de 1920 Vinicius de Moraes produziu letras para dez canções gravadas - nove delas parcerias com os
Irmãos Tapajós. Seu primeiro registro como letrista veio em 1928, quando compôs (com Haroldo) "Loira ou Morena", gravado em 1932 pela dupla de irmãos. Vinicius teve publicado seu primeiro livro de
poemas,
O Caminho para a Distância, em 1933, e lançou outros livros de poemas nessa década. Foram também gravadas outras canções de sua autoria, como "Dor de uma Saudade" (composta com
Joaquim Medina), gravada em 1933 por
João Petra de Barros e Joaquim Medina, "O Beijo Que Você Não Quis Dar" (composta com Haroldo Tapajós) e "Canção da Noite" (composta com Paulo Tapajós), ambas gravadas em 1933 pelos Irmãos Tapajós e também "Canção para Alguém" (composta com Haroldo Tapajós), gravada pelos mesmos um ano depois.
Mudança de fase
Na década de 1940 as suas obras literárias foram marcadas por versos em linguagem mais simples, sensual e excitante, por vezes, carregados de temas sociais. Vinicius de Moraes publicou os livros
Cinco Elegias (1943), que marcou esta nova fase, e
Poemas, Sonetos e Baladas (
1946); obra ilustrada com 22 desenhos de
Carlos Leão. Atuando como
jornalista e
crítico de cinema em diversos jornais, Vinicius lançou em
1947, com Alex Vianny, a revista
Filme. Dois anos depois, publicou em
Barcelona o livro
Pátria Minha.
Em 1953
Aracy de Almeida gravou "Quando Tu Passas Por Mim", primeiro
samba de sua autoria. Escrita com
Antônio Maria, a canção foi dedicado à esposa
Tati de Moraes - e marcava também o fim do seu casamento. Ainda naquele ano, Vinícius foi para
Paris como segundo secretário da embaixada brasileira. Aracy de Almeida também gravou "Dobrado de Amor a São Paulo" (outra parceria com Antônio Maria), em
1954.
Orfeu e o amigo Tom
Em 1954, Vinícius publica a sua coletânea de poemas,
Antologia Poética, mesmo ano que publica sua peça teatral
Orfeu da Conceição, premiada no concurso do IV Centenário de São Paulo e publicada na revista
Anhembi. Dois anos depois, quando Vinicius buscava alguém para musicar a peça, e aceitou a sugestão do amigo
Lúcio Rangel para trabalhar com um jovem pianista,
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, que na época tinha 29 anos e vivia da venda de músicas e arranjos nos
inferninhos de
Copacabana.
Do encontro entre Vinícius e Tom nasceria uma das mais fecundas parcerias da música brasileira, que a marcaria definitivamente. Os dois compuseram a
banda sonora, que incluía "Lamento no Morro", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Um Nome de Mulher", "Mulher Sempre Mulher" e "Eu e Você" e foram lançadas em disco por Roberto Paiva, Luiz Bonfá e Orquestra. A peça estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Além destas canções, a dupla Vinicius e Tom compuseram, entre outros clássicos, "A Felicidade", "Chega de Saudade", "
Eu sei que vou te amar", "
Garota de Ipanema", "Insensatez", entre outras belas canções.
Em 1957 teve a sua carreira diplomática transferida para
Montevidéu, onde permaneceu por três anos.
Bossa Nova
O ano de 1958 marcaria o início de um dos movimentos mais importantes da música brasileira, a
Bossa Nova. A pedra fundamental do movimento veio com o álbum "Canção do Amor Demais", gravado pela cantora
Elizeth Cardoso. Além da faixa-título, o antológico LP contava ainda com outras canções de autoria da dupla Vinicius e Tom, como "Luciana", "Estrada Branca", "Outra Vez" e "Chega de Saudade", em interpretações vocais intimistas.
"Chega de Saudade" foi uma canção fundamental daquele novo movimento, especialmente porque o álbum de Elizeth contou com a participação de um jovem violonista, que com seu inovador modo de tocar o violão, caracterizado por uma nova batida, marcaria definitivamente a bossa nova e a tornaria famosa no mundo inteiro a partir dali. O nome deste violonista é
João Gilberto. A importância do disco "Canção do Amor Demais" é tamanha que ele é tido como referência por muitos artistas como
Chico Buarque e
Caetano Veloso.
Várias das composições de Vinicius foram gravadas na metade final daquela década por outros artistas.
Joel de Almeida gravou "Loura ou Morena" (1956). No ano seguinte, Aracy de Almeida gravou
"Bom Dia, Tristeza" (composta com
Adoniran Barbosa),
Tito Madi gravou "Se Todos Fossem Iguais A Você",
Bill Farr gravou "Eu Não Existo Sem Você",
Agnaldo Rayol gravou "Serenata do Adeus" e
Albertinho Fortuna gravou "Eu Sei Que Vou Te Amar". "O Nosso Amor" e "A Felicidade" foram duas das canções mais lançadas no final daquela década. A primeira foi gravada por
Lueli Figueiró e
Diana Montez, ambas em 1959. Já a segunda foi lançada por Lueli Figueiró,
Lenita Bruno,
Agostinho dos Santos e João Gilberto.
Servindo ao Itamaraty em
Montevidéu desde 1957, Vinicius de Moraes deixaria a embaixada brasileira no
Uruguai somente em 1960. As suas canções continuaram sendo gravadas por muitos artistas no início da década de 60. Foram lançadas "Janelas Abertas" (composta com Tom Jobim), por Jandira Gonçalves, e "Bate Coração", (composta com Antônio Maria), por Marianna Porto de Aragão, cantora de culto na época, com uma das vozes mais poderosas de toda uma geração de cantoras .
Novas parcerias
No ano seguinte, Vinicius registou pela primeira vez a sua voz, em um álbum contendo os sambas
"Água de Beber" e
"Lamento no Morro", novamente em parcerias com Tom Jobim. O poeta teria também um novo parceiro naquele período, o cantor, compositor e violonista
Carlos Lyra. Com ele, Vinicius iria compor clássicos como "Você e Eu", "Coisa Mais Linda", "A Primeira Namorada" e "Nada Como Te Amar". Ainda em 1961, o
Teatro Santa Rosa foi inaugurado no Rio de Janeiro com "Procura-se uma rosa", peça de autoria de Vinicius, Pedro Bloch e Gláucio Gil - filmada depois pelo cinema italiano com o nome de "Una Rosa per Tutti" (o
longa-metragem foi rodado no Rio e estrelado por Cláudia Cardinale).
Em
1962, a Banda do Corpo de Bombeiros Fluminense gravou "Serenata do Adeus", um ano após gravarem "Rancho das Flores", marcha-rancho com versos do poeta sobre tema de
Jesus, Alegria dos Homens, de
Johann Sebastian Bach. Ainda naquele ano, enquanto "Canção da Eterna Despedida" (composta com Tom Jobim) "Em Noite de Luar" (composta com
Ary Barroso) foram gravadas por
Orlando Silva e
Ângela Maria, respectivamente, Vinicius de Moraes publicou três livros:
Antologia Poética,
Procura-se Uma Rosa e
Para Viver Um Grande Amor.
Com
Pixinguinha, compôs a banda sonora do filme
Sol sobre a Lama, de
Alex Vianny, escrevendo as letras para os
chorinhos "Lamento" e "Mundo Melhor". Também naquele período, nasceu a parceria com o compositor e violonista
Baden Powell. Desta, resultariam inúmeros sucessos, como "Apelo", "Canção de Amor", "Canto de Ossanha", "Formosa", "Mulher Carioca", "Paz", "Pra Quê Chorar", "Samba da Bênção",
"Samba Em Prelúdio", "Só Por Amor", "Tem Dó", "Tempo Feliz", entre outras.
Em agosto de 1962, com Tom Jobim, João Gilberto e o grupo
Os Cariocas, Vinicius de Moraes participou de "Encontro", um dos mais importantes concertos da bossa nova e realizado na discoteca
"Au Bon Gourmet", no Rio de Janeiro. Neste show, foram lançadas clássicos da música popular brasileira como "Ela é Carioca", "Garota de Ipanema", "Insensatez", "Samba do Avião" e "Só Danço Samba". Naquela mesma casa noturna foi montada "Pobre Menina Rica", mais uma peça do poeta, cuja banda sonora trazia canções como
"Sabe Você", "Primavera" e
"Samba do Carioca" (lançando a cantora
Nara Leão), ambas parcerias com Carlos Lyra. Ainda naquele ano, Vinicius comporia com Lyra
"Marcha da Quarta-feira de Cinzas" e
"Minha Namorada".
Naquele mesmo período, Vinicius de Moraes lançou com a
atriz Odete Lara seu primeiro álbum:
Vinicius e Odete Lara. Com arranjos e regência do poeta Moacir Santos, o LP continha canções da parceria com Baden Powell, como "Berimbau", "Mulher Carioca", "Samba em Prelúdio" e "Só por Amor", entre outras. Ainda em 1963, o selo Copacabana lançou o álbum
"Elizeth Interpreta Vinicius", contendo as parcerias do
poetinha com Baden Powell, Moacir Santos (e arranjos deste),
Nilo Queiroz e
Vadico.
Regresso ao Brasil
Em 1964 Vinicius retornou ao Brasil e logo se apresentou na discoteca "Zum Zum", ao lado de
Dorival Caymmi,
Quarteto em Cy e o
Conjunto de Oscar Castro Neves. O concerto teve grande repercussão nos meios artísticos e foi lançado em LP pelo selo Elenco, contendo composições como "Bom-dia, Amigo" (parceria com Baden Powell), "Carta ao Tom", "Dia da Criação" e "Minha Namorada" (parcerias com Carlos Lyra), e "Adalgiza", "...Das Rosas", "História de Pescadores" e "Saudades da Bahia" (parcerias com o cantor, compositor e violonista Dorival Caymmi).
Duas canções de Vinicius de Moraes concorreram, em 1965, o I Festival Nacional de Música Popular Brasileira (da extinta
TV Excelsior). "Arrastão" (composta com
Edu Lobo), defendida por
Elis Regina, ficou com o primeiro lugar, e "Valsa do Amor que Não Vem" (parceria com Baden Powell), defendida por Elizeth Cardoso, ficou com o segundo lugar. Também com o arranjador, cantor e instrumentista Edu Lobo, Vinicius compôs "Zambi" e "Canção do Amanhecer" - canções que se engajaram no clima de protesto da época e foram apresentadas em projetos do Centro Popular de Cultura da
União Nacional dos Estudantes (UNE). Por um breve período, Vinicius foi designado para trabalhar na delegação do Brasil junto à
UNESCO, na
Europa. O poeta também trabalhou com o diretor
Leon Hirszman no roteiro do filme
Garota de Ipanema, voltou a se apresentar no Zum Zum com Dorival Caymmi e lançou o livro "Cordélia e o Peregrino".
Ainda em 1965, o
Teatro Municipal de São Paulo foi o palco de uma homenagem para o poetinha, com o show
Vinicius: Poesia e Canção, espetáculo que contou com a participação da
Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo (sob a regência do maestro
Diogo Pacheco). As composições apresentadas receberam arranjos dos maestros Guerra Peixe, Radamés Gnattali, Luís Eça, Gaya e Luís Chaves e contou com intérpretes com
Carlos Lyra, Edu Lobo, Suzana de Morais,
Francis Hime,
Paulo Autran,
Cyro Monteiro e Baden Powell. Quando o poeta terminou a apresentação de "Se Todos Fossem Iguais A Você", a plateia respondeu com dez minutos ininterruptos de aplausos.
Em
1966, foi lançado o álbum
Os Afro-Sambas, com suas composições em parceria com Baden Powell. Constam do repertório do disco "Canto de Ossanha", "Canto de Xangô", "Canto de Iemanjá" e "Lamento de Exu", entre outras, além da participação de Powell tocando violão. Naquele mesmo período, Vinicius participou do concerto
Pois É, no Teatro Opinião, ao lado de
Maria Bethânia e
Gilberto Gil. No espetáculo dirigido pelo arranjador, compositor, maestro e pianista Francis Hime, o público carioca conheceu pela primeira vez as canções de Gilberto Gil. Ainda naquele ano, lançou o livro de crónicas
Para Uma Menina Com Uma Flor e também foi convidado a participar do júri do Festival de Cannes. Na ocasião, descobriu que sua canção "Samba da Bênção" havia sido utilizada, sem os devidos créditos, na trilha sonora do filme
Um Homem e Uma Mulher, do diretor francês
Claude Lelouch, vencedor do festival. Após uma ameaça de processo, a obra de Lelouch creditou a canção de Vinicius. O ano de 1967 marcou a estreia do filme
Garota de Ipanema, baseado no sucesso homónimo de Vínicius. É a canção brasileira mais conhecida no mundo depois de "
Aquarela do Brasil" (de Ary Barroso). Ainda naquele período, Vinícius organizou um festival de artes em Ouro Preto e fez um tour na
Argentina e no Uruguai.
Reforma compulsória
Em 1968 Vinicius de Moraes participou de shows em
Lisboa, na companhia de
Chico Buarque e Nara Leão. Também naquele ano, a convite do crítico
Ricardo Cravo Albin, Vinicius prestou histórico depoimento para o Museu da Imagem e do Som (de onde era membro do Conselho Superior de MPB).
Mas o ano de 1968 marcou o fim da carreira diplomática de Vinicius de Moraes. Após 26 anos de serviços prestados ao MRE, Vinicius foi aposentado pelo
Ato Institucional 5, criado pela
ditadura militar brasileira, facto que o magoou profundamente. No dia em que o ato era editado, Vinicius encontrava-se em Portugal, onde realizava um concerto. Após este espetáculo, estudantes
salazaristas estavam aglomerados na porta do teatro para protestar contra o poeta. Avisado disto e aconselhado a se retirar pelos fundos do teatro, o
poetinha preferiu enfrentar os protestos e, parando diante dos manifestantes, começou a declamar
"Poética I" ("De manhã escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De noite ardo"). Então, um dos jovens tirou a capa do seu traje académico e a colocou no chão para que Vinicius pudesse passar sobre ela - ato imitado pelos outros estudantes e que, em Portugal, é uma forma tradicional de homenagem académica.
Segundo entrevista publicada pela Revista Veja em 12 de janeiro de 2000 o ex-presidente
João Figueiredo explicou as reais causas da demissão do poeta do Itamaraty: "Ele até diz que muita gente do Itamaraty foi demitida ou por corrupção ou por pederastia. É verdade. Mas no caso dele foi por vagabundagem mesmo. Eu era o chefe da Agência Central do Serviço e recebíamos constantemente informes de que ele, servindo no consulado brasileiro de Montevidéu, ganhando 6.000 dólares por mês, não aparecia por lá havia três meses. Consultamos o Ministério das Relações Exteriores, que nos confirmou a acusação. Verificamos que ele não saía dos botequins do Rio de Janeiro, tocando violão, se apresentando por aí, com copo de uísque do lado. Nem pestanejamos. Mandamos brasa."
A reabilitação ao corpo diplomático brasileiro só ocorreu trinta anos depois de sua morte por meio da Lei 12.265 de 21 de junho de 2010. Em cerimónia no Palácio do Itamaraty, Vinicius de Moraes foi elevado ao cargo de ministro de exterior, cargo semelhante ao de
embaixador.
Em 1969 Vinicius de Moraes publicou o livro
Obra Poética e se apresentou ao lado de
Maria Creuza e
Dorival Caymmi em
Punta del Este. O poetinha também fez recital na Livraria Quadrante, em Lisboa, apresentando, entre outros, os poemas "A Uma Mulher", "O Falso Mendigo", "Sob o Trópico de Câncer" (no qual trabalhou durante nove anos) e "Soneto da Intimidade". O evento foi gravado ao vivo e lançado em LP pelo selo Festa. Ainda naquele ano, Vinicius fez apresentações em
Buenos Aires, ao lado de Caymmi, Baden Powell, Quarteto em Cy e
Oscar Castro Neves.
Parceria com Toquinho
Naquele mesmo período, iniciou suas primeiras composições com um novo parceiro, o violonista
Toquinho. Desta parceria, viriam clássicos como "Como Dizia o poeta", "Tarde em Itapoã" e "Testamento".
Em 1970 Vinicius se apresentou na casa de espetáculo carioca Canecão, com o parceiro Tom Jobim, o violonista Toquinho e a cantora
Miúcha. O show, que relembrou a trajetória do poeta, ficou quase um ano em cartaz devido ao grande sucesso obtido. Outra apresentação marcante de Vinícus de Moraes, ao lado de Toquinho e da cantora Maria Creuza, foi em a cidade argentina de Mar del Plata, na boate La Fusa. O concerto resultaria no LP ao vivo
Vinicius En La Fusa, uma das mais belas joias gravadas ao vivo da música brasileira. No repertório, interpretado de modo espetacular pela cantora
baiana, estavam entre outras "A Felicidade", "Garota de Ipanema", "Irene", "Lamento no Morro", "Canto de Ossanha" (canção muito aplaudida pela plateia argentina), "Samba em Prelúdio", "Eu Sei Que Vou Te Amar" (canção que contou ainda com a declamação do poetinha de "Soneto da Fidelidade", para delírio do público argentino), "Minha Namorada" e "Se Todos Fossem Iguais A Você", que encerrou o magnífico concerto. No ano seguinte, Vinicius voltou à Fusa para gravar um novo LP ao vivo, também com Toquinho, mas desta vez com a cantora
Maria Bethânia nos vocais. Neste álbum estão presentes canções com "A Tonga da Mironga do Kabuletê", "Testamento" e "Tarde em Itapoã". Também em 1971, assinou com Chico Buarque, sobre antigo choro de Garoto, a canção "Gente Humilde", grande sucesso gravada pelo próprio Chico e, pouco depois, por Ângela Maria.
A parceria Vinicius/Toquinho excursionou por várias cidades brasileiras e também pelo exterior. Ainda em 1971, a dupla lançou seu primeiro LP de estúdio, com destaque para
"Maria Vai com as Outras",
"Morena Flor",
"A Rosa Desfolhada" e
"Testamento". Em
1972, eles lançaram o álbum
"São Demais os Perigos Dessa Vida", contendo - além da faixa-título - grandes sucessos como
"Cotidiano nº 2",
"Para Viver Um Grande Amor" e
"Regra três". Com Toquinho, também compôs a trilha sonora da
telenovela "Nossa Filha Gabriela" (da extinta
TV Tupi), registrada em disco naquele mesmo ano. No ano seguinte, a dupla se apresentou no show
"O Poeta, a Moça e o Violão", com a cantora
Clara Nunes no Teatro Castro Alves, em
Salvador.
Em 1974 Vinicius e Toquinho compuseram "As Cores de Abril" e "Como É Duro Trabalhar", ambas incluídas na trilha sonora da novela
Fogo Sobre Terra, da
Rede Globo. Naquele mesmo ano, a parceria lançou o álbum
Toquinho, Vinicius e Amigos. O disco teve as participações de Maria Bethânia (em "Apelo" e "Viramundo"),
Cyro Monteiro ("Que Martírio" e "Você Errou", últimas gravações deste cantor), Maria Creuza ("Tomara" e "Lamento no Morro"),
Sergio Endrigo ("Poema Degli Occhi" e "La Casa") e Chico Buarque ("Desencontro"). Ainda naquele ano, a dupla lançou "Vinicius e Toquinho", quarto álbum de estúdio da parceria, que trazia composições de autoria deles, como "Samba do Jato", "Sem Medo" e "Tudo Na Mais Santa Paz", e ainda "Samba pra Vinicius", homenagem ao poetinha de Toquinho e Chico Buarque, que fez uma participação especial no disco.
Em 1975 Vinicius de Moraes lançou o álbum "O Poeta e o Violão". Gravado em
Milão, o LP teve a participação especial dos maestros Bacalov e Bardotti. No mesmo ano, a gravadora Philips lançou o álbum
"Vinicius e Toquinho". Deste LP, destaca-se "Onde Anda Você" - parceria com
Hermano Silva e que alcançou grande sucesso. Ainda naquele ano, Vinicius lançou o livro de poemas infantis
A Arca de Noé. Foram lançados em no ano seguinte os álbuns
Ornella Vanoni, Vinicius de Moraes e Toquinho - La voglia, la pazzia, l'incoscienza e l'allegria e
Deus lhe Pague - este com as composições da parceria Vinicius e Edu Lobo.
Vinicius teve publicado, em 1977, o livro
O Breve Momento, com 15
serigrafias de
Carlos Leão. Naquele ano, o selo Philips lançou o álbum
"Antologia Poética", uma seleção da obra poética do poetinha e que teve a participação especial de Tom Jobim, Francis Hime e Toquinho. A gravadora Som Livre disponibilizou no mercado o LP
Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha - Ao Vivo no Canecão. Em 1978 foi lançado o álbum
Vinicius e Amália, gravado em Lisboa com a cantora portuguesa
Amália Rodrigues. Naquele mesmo ano, foi editado o álbum
"10 Anos de Toquinho e Vinicius" - uma coletânea de uma década de trabalhos da dupla. Em 1980 foi lançado o álbum
Arca de Noé, que trouxe diversos intérpretes para as composições infantis do poeta, musicadas a partir do livro homónimo. O disco gerou um especial infantil na Rede Globo, naquele mesmo ano.
Falecimento
Na madrugada de 9 de julho de 1980 Vinicius de Moraes começou a se sentir mal na banheira da casa onde morava, na Gávea, vindo a falecer pouco depois. O poeta passara o dia anterior com o parceiro e amigo Toquinho, com quem planeava os últimos detalhes do volume 2 do álbum "Arca de Noé". Em 1981, este LP foi lançado.
Mesmo após a morte, a obra musical de Vinicius manteve-se prestigiada na música brasileira. Foram lançados os álbuns
Toquinho, Vinicius e Maria Creuza - O Grande Encontro (1988) e
A História dos Shows Inesquecíveis - Poeta, Moça e Violão: Vinicius, Clara e Toquinho (1991), além de terem sido lançados livros sobre o poeta, como
Vinicius de Moraes - Livro de Letras (1993), de
José Castello,
Vinicius de Moraes (1995), também de
José Castello,
"Vinicius de Moraes" (1997), de
Geraldo Carneiro (uma edição ampliada do livro publicado em 1984). Ainda em 1993, Almir Chediak editou os três volumes do
Songbook Vinicius de Moraes.
Em 2003, ano em que o poeta completaria seu 90º aniversário, foram lançados vários projetos em tributo à sua criação artística. Também foi lançado o
website oficial de Vinicius.
Em 2005 "The Girl from Ipanema", versão em inglês de "Garota de Ipanema", interpretada por
Astrud Gilberto, Tom Jobim, João Gilberto e
Stan Getz e gravada em 1963, foi escolhida como uma das 50 grandes obras musicais da Humanidade pela
Biblioteca do Congresso Americano. Ainda em 2005, estreou, na abertura da sétima edição do Festival do Rio, o
documentário Vinicius, dirigido por
Miguel Faria Jr. e produzido por
Suzana de Moraes, filha do poeta, com a participação de Chico Buarque, Carlos Lyra, Caetano Veloso, Maria Bethânia,
Adriana Calcanhoto,
Mariana de Moraes e
Olívia Byington, entre outros convidados. A trilha sonora do filme foi lançada em CD.
Em 2006 foi lançada a caixa "Vinicius de Moraes & Amigos", com cinco álbuns do poetinha, contendo 70 canções compiladas de fonogramas gravados por vários intérpretes e pelo próprio Vinicius (a solo ou em dueto). A caixa incluiu ainda um libreto com a biografia do homenageado e as letras de todas as canções.
Em 2011 a escola
Império Serrano falou sobre ele com o enredo : "A Benção, Vinicius".