domingo, janeiro 19, 2014

Elis Regina morreu há 32 anos

Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945  - São Paulo, 19 de janeiro de 1982) foi uma cantora brasileira. Conhecida pela sua presença de palco, a sua voz e a sua personalidade, Elis Regina é considerada por muitos críticos, comentadores e outros músicos, a melhor cantora brasileira de todos os tempos. Com os sucessos de Falso Brilhante e Transversal do Tempo, ela inovou os espetáculos musicais no país e era capaz de demonstrar emoções tão contrárias, como a melancolia e a felicidade, numa mesma apresentação ou numa mesma música.
Como muitos outros artistas do Brasil, Elis surgiu dos festivais de música na década de 60 e mostrava interesse em desenvolver o seu talento através de apresentações dramáticas. O seu estilo era altamente influenciado pelos cantores do rádio, especialmente Ângela Maria, e a fez ser a grande revelação do festival da TV Excelsior em 1965, quando cantou "Arrastão", de Vinicius de Moraes e Edu Lobo. Tal feito lhe conferiu o título de primeira estrela da canção popular brasileira na era da TV. Enquanto outras cantoras contemporâneas como Maria Bethânia haviam se especializado e surgido em teatros, ela deu preferência às rádios e televisões. Os seus primeiros discos, iniciando com Viva a Brotolândia (1961), refletem o momento em que se mudou do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro, e que teve a ver com exigências de mercado e dos media. Voltou a mudar, para São Paulo, em 1964, onde ficaria até à sua morte, logrando sucesso com os espetáculos do Fino da Bossa. Encontrou uma cidade efervescente, onde conseguiria realizar seus planos artísticos. Em 1967, casou-se com Ronaldo Bôscoli, diretor do Fino da Bossa, e ambos tiveram João Marcelo Bôscoli.
Elis Regina aventurou-se por muitos géneros; da MPB, passando pela bossa nova, o samba, o rock e até o jazz. Interpretando canções como "Madalena", "Como Nossos Pais", "O Bêbado e a Equilibrista", "Querelas do Brasil", que ainda continuam famosas e memoráveis, registou momentos de felicidade, amor, tristeza, patriotismo e ditadura militar no país. Ao longo de toda sua carreira, cantou canções de músicos até então pouco conhecidos, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Renato Teixeira, Aldir Blanc, João Bosco, ajudando a lançá-los e a divulgar suas obras, impulsionando-os no cenário musical brasileiro. Entre outras parcerias, são célebres os duetos que teve com Jair Rodrigues, Tom Jobim, Wilson Simonal, Rita Lee, Chico Buarque - que quase foi lançado por ela, não fosse Nara Leão ter gravado com ele pouco antes - e, por fim, o seu segundo marido, o pianista César Camargo Mariano, com quem teve os filhos Pedro Mariano e Maria Rita. Mariano também ajudou-a a arranjar muitas músicas antigas e dar novas roupagens a elas, como com "É Com Esse Que Eu Vou".
A sua presença artística mais memorável talvez esteja gravada nos álbuns Em Pleno Verão (1970), Elis & Tom (1974), Falso Brilhante (1976), Transversal do Tempo (1978), Saudade do Brasil (1980) e Elis (1980). Ela foi a primeira pessoa a inscrever a própria voz como se fosse um instrumento, na Ordem dos Músicos do Brasil. Elis Regina morreu, precocemente, em 1982, com apenas 36 anos, deixando uma vasta obra na música popular brasileira. Embora haja controvérsias e contestações, os exames comprovaram que havia morrido por conta de altas doses de cocaína e bebidas alcoólicas, e o facto chocou profundamente o país na época.
Em 2013, foi eleita a 2ª melhor voz da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil, ficando atrás apenas de Tim Maia. Elis foi citada também na lista dos maiores artistas da música brasileira, ficando na 14ª posição, sendo a mulher mais bem colocada. Em novembro de 2013 estreou um musical em sua homenagem Elis, a musical.


Eugénio de Andrade nasceu há 91 anos

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de janeiro de 1923 - Porto, 13 de junho de 2005) foi um poeta português.

Biografia
O poeta nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de janeiro de 1923. Fixou-se em Lisboa aos dez anos, com a mãe, que entretanto se separara do pai.
Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos quais, intitulado Narciso, publicou três anos mais tarde.
Em 1943 mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar, convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante 35 anos as funções de Inspector Administrativo do Ministério da Saúde. Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto em 1950, numa casa que só deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da extinta Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.
Durante os anos que se seguem até hoje, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel Serrão, Miguel Torga, Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny, José Luís Cano, Ángel Crespo, Luis Cernuda, Jaime Montestrela, Marguerite Yourcenar, Herberto Helder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Lopes e muitos outros.
Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Recebeu um sem número de distinções, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões (2001). A 8 de julho de 1982 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 4 de fevereiro de 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.
Faleceu a 13 de junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.
Literatura
Estreou-se em 1939, com a obra Narciso, torna-se mais conhecido em 1942 com o livro de versos Adolescente. A sua consagração acontece em 1948, com a publicação de As mãos e os frutos, que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998).
Em prosa, publicou Os afluentes do silêncio (1968), Rosto precário (1979) e À sombra da memória (1993), além das histórias infantis História da égua branca (1977) e Aquela nuvem e as outras (1986).
Foi também tradutor de algumas obras, como dos espanhóis Federico García Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega clássica Safo (Poemas e fragmentos, em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e do argentino Jorge Luís Borges.
Em setembro de 2003 a sua obra Os sulcos da sede foi distinguida com o Prémio de Poesia do Pen Clube Português.


Retrato Ardente

Entre os teus lábios
é que a loucura acode
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

 

in Obscuro Domínio (1971) - Eugénio de Andrade

Edgar Allan Poe nasceu há 205 anos

Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, 19 de janeiro de 1809 - Baltimore, 7 de outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário americano que fez parte do movimento romântico americano, conhecido pelas suas histórias que envolvem aspetos de mistério e macabro. Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos, sendo considerado o inventor do género ficção policial, também recebendo crédito pela contribuição para o emergente género de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido a tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difícil.
Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, Massachusetts; quando jovem, ficou órfão de mãe, que morreu pouco depois do seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, Virginia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia durante um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com o seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos, antes de ser dispensado, depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. A sua carreira começou, humildemente, com a publicação de uma coleção anónima de poemas, Tamerlane and Other Poems (1827).
Poe mudou o seu foco para a prosa e passou os anos seguintes trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido pelo seu estilo próprio de crítica literária. O seu trabalho obrigou-o a mudar-se para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova York. Em Baltimore, em 1835, casou-se com Virginia Clemm, sua prima, de 13 anos de idade. Em janeiro de 1845, Poe publicou o seu poema The Raven, que foi um sucesso instantâneo. A sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planear a criação do seu próprio jornal, The Penn (posteriormente renomeado para The Stylus), porém morreu antes de conseguir. Em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, Poe morreu em Baltimore; a causa de sua morte é desconhecida e foi por diversas vezes atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças do coração, raiva, suicídio e tuberculose, entre outras causas.
Poe e as suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e em todo o mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias das casas onde viveu são museus atualmente.

Vida
Edgar Allan Poe nasceu no seio de uma família escocesa-irlandesa, filho do ator David Poe Jr., que abandonou a família em 1810, e da atriz Elizabeth Arnold Hopkins Poe, que morreu após o nascimento de Rosalie, a irmã mais nova de Poe, em 1811. Depois da morte da mãe, Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido, John Allan, um mercador de tabaco bem sucedido de Richmond, que nunca o adotou legalmente, mas lhe deu o seu sobrenome (muitas vezes erroneamente escrito "Allen").
Depois de frequentar a escola de Misses Duborg em Londres, e a Manor School em Stoke Newington, Poe regressou com a família Allan a Richmond em 1820, e inscreveu-se na Universidade da Virgínia, em 1826, que viria a frequentar durante um ano apenas, vindo a ser expulso por causa do seu estilo de vida, aventureiro e boémio.
Na sequência de desentendimentos com o seu padrasto, relacionados com as dívidas de jogo, Poe alistou-se nas forças armadas, sob o nome Edgar A. Perry, em 1827. Nesse mesmo ano, Poe publicou o seu primeiro livro, Tamerlane and Other Poems. Depois de dois anos de serviço militar, acabaria por ser dispensado. Em 1829, a sua madrasta faleceu e ele publicou o seu segundo livro, Al Aaraf, e reconciliou-se com o seu padrasto, que o auxiliou a entrar na Academia Militar de West Point. Em virtude da sua, supostamente propositada, desobediência a ordens, ele acabou por ser expulso desta Academia, em 1831, facto pelo qual o seu padrasto o repudiou até a sua morte, em 1834.
Poe mudou-se, de seguida, para Baltimore, para a casa da sua tia viúva, Maria Clemm, e da sua filha, Virgínia Clemm. Durante esta época, Poe usou a escrita de ficção como meio de subsistência e, no final de 1835, tornou-se editor do jornal Southern Literary Messenger em Richmond, tendo trabalhado nesta posição até 1837. Neste intervalo de tempo, Poe acabaria por casar, em segredo, com a sua prima Virgínia, de treze anos, em 1836.
Em 1837, Poe mudou-se para Nova Iorque, onde passaria quinze meses aparentemente improdutivos, antes de se mudar para Filadélfia, e pouco depois publicar The Narrative of Arthur Gordon Pym. No verão de 1839, tornou-se editor assistente da Burton's Gentleman's Magazine, onde publicou um grande número de artigos, histórias e críticas. Nesse mesmo ano, foi publicada, em dois volumes, a sua colecção Tales of the Grotesque and Arabesque (traduzido para o francês por Baudelaire como "Histoires Extraordinaires" e para o português como Histórias Extraordinárias), que, apesar do insucesso financeiro, é apontada como um marco da literatura norte-americana.
Durante este período, Virgínia Clemm soube que sofria de tuberculose, que a tornaria inválida e acabaria por levá-la à morte. A doença da mulher acabou por levar Poe ao consumo excessivo de álcool e, algum tempo depois, este deixou a Burton's Gentleman's Magazine para procurar um novo emprego. Regressou a Nova Iorque, onde trabalhou brevemente no Evening Mirror, antes de se tornar editor do Broadway Journal. No início de 1845, foi publicado, no jornal Evening Mirror, o seu popular poema The Raven (em português "O Corvo").
Em 1846, o Broadway Journal faliu, e Poe mudou-se para uma casa no Bronx, hoje conhecida como Poe Cottage e aberta ao público, onde Virgínia morreu no ano seguinte. Cada vez mais instável, após a morte da mulher, Poe tentou cortejar a poetisa Sarah Helen Whitman. No entanto, o seu noivado com ela acabaria por falhar, alegadamente em virtude do comportamento errático e alcoólico de Poe, mas bastante provavelmente também devido à intromissão da mãe de Miss Whiteman. Nesta época, segundo ele mesmo relatou, Poe tentou o suicídio por sobredosagem de láudano, e acabou por regressar a Richmond, onde retomou a relação com uma paixão de infância, Sarah Elmira Royster, então já viúva.
Ao contrário da maioria dos autores de contos de terror, Poe usa uma espécie de terror psicológico nas suas obras, os seus personagens oscilam entre a lucidez e a loucura, quase sempre cometendo atos infames ou sofrendo de alguma doença. Os seus contos são sempre narrados na primeira pessoa.

Morte
No dia 3 de outubro de 1849, Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore, com roupas que não eram as suas, em estado de delirium tremens, e levado para o Washington College Hospital, onde veio a morrer apenas quatro dias depois. Poe nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente coerente, de modo a explicar como tinha chegado à situação na qual foi encontrado. As suas últimas palavras teriam sido, de acordo com determinadas fontes, "Lord, please, help my poor soul", em português, "Senhor, por favor, ajude minha pobre alma."
Nunca foram apuradas as causas precisas da morte de Poe, sendo bastante comum, apesar de não comprovada, a ideia de a causa do seu estado ter sido embriaguez. Por outro lado, muitas outras teorias têm sido propostas ao longo dos anos, de entre as quais: diabetes, sífilis, raiva e doenças cerebrais raras.

Poe foi enterrado originalmente na parte de trás do cemitério de Westminster, sem uma lápide - a da imagem marca hoje em dia o lugar original

Estilo literário e temas

Géneros
As obras mais conhecidas de Poe são góticas, um género que ele seguiu para satisfazer o gosto do público. Seus temas mais recorrentes lidam com questões da morte, incluindo sinais físicos dela, os efeitos da decomposição, interesses por pessoas enterradas vivas, a reanimação dos mortos e o luto. Muitas das suas obras são geralmente consideradas partes do género do romantismo negro, uma reação literária ao transcendentalismo, do qual Poe não gostava claramente.
Além do horror, Poe também escreveu sátiras, contos de humor e hoaxes. Para efeito cómico, ele usou a ironia e a extravagância do ridículo, muitas vezes na tentativa de libertar o leitor da conformidade cultural. De fato, "Metzengerstein", a primeira história que Poe publicou, e sua primeira incursão em terror, foi originalmente concebida como uma paródia satirizando o género popular. Poe também reinventou a ficção científica, respondendo na sua escrita às tecnologias emergentes como balões de ar quente em "The Balloon-Hoax".
Poe escreveu muito de seu trabalho usando temas especificamente oferecidos para os gostos do mercado em massa. Para esse fim, sua ficção incluiu muitas vezes elementos da popular pseudociência, como frenologia e fisiognomia.

Teoria literária
A escrita de Poe reflete suas teorias literárias, que ele apresentou em sua crítica e também em peças literárias como "The Poetic Principle".
Ele não gostava de didaticismo e alegoria, pois acreditava que os significados na literatura deveriam ser uma subcorrente sob a superfície. Trabalhos com significados óbvios, ele escreveu, deixam de ser arte. Acreditava que o trabalho de qualidade deveria ser breve e concentrar-se em um efeito específico e único. Para isso, acreditava que o escritor deveria calcular cuidadosamente todos sentimentos e ideias.
Em "The Philosophy of Composition", uma peça na qual Poe descreve o seu método de escrita em "The Raven", ele afirma ter seguido estritamente este método. Porém, é questionável se ele realmente seguiu esse sistema.
T. S. Eliot disse: "É difícil para nós lermos esta peça sem pensar se Poe escreveu o seu poema com tanto cálculo". O biógrafo Joseph Wood Krutch descreveu a peça como "um exercício um tanto engenhoso na arte de racionalização".


Evening Star

'Twas noontide of summer,
..And mid-time of night;
..And stars, in their orbits,
Shone pale, thro' the light
..Of the brighter, cold moon,
..'Mid planets her slaves,
Herself in the Heavens,
..Her beam on the waves.
...I gazed awhile
....On her cold smile;
Too cold- too cold for me-
..There pass'd, as a shroud,
..A fleecy cloud,
And I turned away to thee,
..Proud Evening Star,
..In thy glory afar,
And dearer thy beam shall be;
..For joy to my heart
..Is the proud part
Thou bearest in Heaven at night,
..And more I admire
..Thy distant fire,
Than that colder, lowly light.


Edgar Allan Poe

Nara Leão nasceu há 72 anos

(imagem daqui)

Nara Lofego Leão Diegues (Vitória, 19 de janeiro de 1942 - Rio de Janeiro, 7 de junho de 1989) foi uma cantora brasileira.


Paul Cézanne nasceu há 175 anos!

Paul Cézanne (Aix-en-Provence, 19 de janeiro de 1839 - 22 de outubro de 1906) foi um pintor pós-impressionista francês, cujo trabalho forneceu as bases da transição das concepções do fazer artístico do século XIX para a arte radicalmente inovadora do século XX. Cézanne pode ser considerado como a ponte entre o impressionismo do final do século XIX e o cubismo do início do século XX. A frase atribuída a Matisse e a Picasso, de que Cézanne "é o pai de todos nós", deve ser levada em conta.
Após uma fase inicial dedicada aos temas dramáticos e grandiloquentes próprios da escola romântica, Paul Cézanne criou um estilo próprio, influenciado por Delacroix. Introduziu nas suas obras distorções formais e alterações de perspectiva em benefício da composição ou para ressaltar o volume e peso dos objetos. Concebeu a cor de um modo sem precedentes, definindo diferentes volumes que foram essenciais para suas composições únicas.
Cézanne não se subordinava às leis da perspectiva. E sim, as modificava. A sua concepção da composição era arquitetónica; segundo as suas próprias palavras, o seu próprio estilo consistia em ver a natureza segundo as suas formas fundamentais: a esfera, o cilindro e o cone. Cézanne preocupava-se mais com a captação destas formas do que com a representação do ambiente atmosférico. Não é difícil ver nesta atitude uma reação de carácter intelectual contra o gozo puramente colorido do impressionismo.
Sobre ele, Renoir escreveu, rebatendo o crítico de arte Castagnary: Eu me enfureço ao pensar que ele [Castagnary] não entendeu que Uma Moderna Olympia, de Cézanne, era uma obra prima clássica, mais próxima de Giorgione que de Claude Monet, e que diante dele estava um pintor já fora do Impressionismo.
Cézanne cultivava sobretudo a paisagem e a representação de naturezas mortas, mas também pintou figuras humanas em grupo e retratos. Antes de começar as suas paisagens estudava-as e analisava os seus valores plásticos, reduzindo-as depois a diferentes volumes e planos que traçava à base de pinceladas paralelas. Árvores, casas e demais elementos da paisagem subordinam-se à unidade de composição. As suas paisagens são subtilmente geométricas. Cézanne pintou sobretudo a sua Provença natal (O Golfo de Marselha e as célebres versões sucessivas de O Monte de Sainte-Victoire).
Nas suas numerosas naturezas mortas, tipicamente compostas por maçãs, levava a cabo uma exploração formal exaustiva que é a terra fecunda de onde surgirá o cubismo poucos anos mais tarde. Entre as representações de grupos humanos, são muito apreciadas as suas cinco versões de Os Jogadores de Cartas. A Mulher com Cafeteira, pela sua estrutura monumental e serena, marca o grande momento classicista de Cézanne.

Primeiros anos e a família
A família Cézanne veio da pequena cidade de Cesana, no Piemonte, e foi assumido que o seu nome é de origem italiana.
Paul Cézanne nasceu no dia 19 de janeiro de 1839 em Aix-en-Provence, Provença, no Sul da França. No dia 22 de fevereiro, Paul foi batizado, tendo a sua avó e o seu tio como padrinhos. O pai, Louis-Auguste Cézanne (28 de julho de 179823 de outubro de 1886), foi o co-fundador de uma firma bancária que prosperou durante a vida do artista, o que lhe permitiu grande segurança financeira, que a maioria dos artistas da época não tinha, e lhe deu uma grande herança. A sua mãe, Anne-Elisabeth Honorine Aubert (24 de setembro de 181425 de outubro de 1897), era vívida e romântica, mas ofendia-se facilmente e influenciou decisivamente a visão de mundo de Paul. Ele também tinha duas irmãs mais jovens, Marie, com quem ele frequentava a escola primária todos os dias, e Rose.
Aos dez anos, Paul entrou na Escola São José, em Aix, onde estudou desenho, nas aulas de Joseph Gilbert, um monge espanhol. Em 1852, Cézanne ingressou no Colégio Bourbon (atual Colégio Mignet), onde conheceu e se tornou amigo de Émile Zola, que estava numa classe menos avançada. Lá permaneceu Cézanne durante seis anos. Entre 1859 e 1861, obedecendo aos desejos do pai, Cézanne ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Aix, enquanto recebia as suas lições de desenho. Apesar das objeções do seu pai, passou a perseguir o seu desenvolvimento artístico e deixou Aix para ir a Paris, em 1861, encorajado por Zola, que já vivia na capital nessa época. No final o pai reconciliou-se com ele e apoiou a sua escolha de carreira. Mais tarde, Cézanne receberá 400.000 francos (£218.363,62) de seu pai, o que o livraria de qualquer insegurança financeira.

Cézanne, o artista
Em Paris, Cézanne conheceu o impressionista Camille Pissarro. Inicialmente, a amizade feita em meados dos anos 1860 era a de um mestre e mentor - Pissarro exercendo uma influência formativa sobre o jovem artista. Ao longo da década seguinte, as excursões para pintar em Louveciennes e em Pontoise levaram a um trabalho colaborativo entre iguais.
Nos primeiros trabalhos, Cézanne preocupava-se com a figura na paisagem. Nesse período incluem-se várias pinturas de grupos de figuras grandes e pesadas na paisagem, pintadas a partir da imaginação. Mais tarde, ele passa a se interessar mais em trabalhar a partir da observação direta, e, gradualmente, desenvolveu um estilo de pintura mais leve e arejada, que iria influenciar imensamente os impressionistas. Não obstante, nos trabalhos de maturidade de Cézanne, percebe-se o desenvolvimento de um estilo solidificado, quase arquitetural de pintura.
Durante toda a sua vida, esforçou-se para desenvolver uma observação autêntica do mundo através do método mais acurado possível para representá-lo em pintura. Ordenava estruturalmente tudo o que percebesse em formas e planos de cor simples. A sua afirmação “Eu quero fazer do impressionismo algo sólido e duradouro, como a arte dos museus”, e sua declarada intenção de recriar Nicolas Poussin acentuou seu desejo de unir a observação da natureza à permanência da composição clássica.

Fenómenos óticos
Cézanne tinha interesse na simplificação das formas naturais em seus essenciais geométricos; ele queria “tratar a natureza pelo cilindro, pela esfera, pelo cone” (um tronco de uma árvore pode ser considerado um cilindro, e uma cabeça humana como uma esfera, por exemplo). Além disso, a atenção concentrada com a qual ele registava suas observações da natureza resultou em uma profunda exploração da visão binocular, o que resultou em duas percepções visuais simultâneas ligeiramente diferentes, e nos providencia uma percepção de profundidade e um conhecimento complexo das relações espaciais. Nós vemos duas vistas diferentes simultaneamente; Cézanne empregava este aspecto da percepção visual às suas pinturas em graus variados. A observação deste facto, junto com o desejo de Cézanne em capturar a verdade de sua própria percepção, muitas vezes o levou a modelar as linhas básicas das formas para tentar exibir as vistas distintamente diferentes do seu olho direito para o olho esquerdo. Assim, a obra de Cézanne aumenta e transforma os antigos ideais da perspectiva, em particular da perspectiva de ponto único.

Exibições e temas
As pinturas de Cézanne foram exibidas na primeira mostra do Salon des Refusés (ou o Salão dos Recusados) em 1863, exibindo obras que não foram aceites pelos jurados do Salão de Paris oficial. O Salão rejeitou as obras de Cézanne durante todo o período de 1864 a 1869. Cézanne continuou a tentar apresentar suas obras ao Salão até 1882. Naquele ano, por intervenção do seu colega e artista Antoine Guillemet, Cézanne exibiu o Retrato de Louis-Auguste Cézanne, pai do artista, lendo ‘L’Evénement’, a sua primeira e última obra aceite no Salão.
Antes de 1895, Cézanne apresentou suas obras duas vezes com outros impressionistas - na primeira mostra impressionista de 1874 e na terceira, de 1877. Nos anos seguintes, algumas pinturas suas foram exibidas em vários locais, até que, em 1895, o marchand parisiense Ambroise Vollard deu ao artista a sua primeira mostra individual. Mesmo com o crescente reconhecimento público e o sucesso financeiro, Cézanne optou por trabalhar em isolamento, usualmente no Sul da França, na sua amada Provença, bem longe de Paris. Ele se concentrava em alguns temas e era bastante incomum que artistas do final do século XIX fossem igualmente proficientes em vários géneros: naturezas mortas, retratos, paisagens e estudos de banhistas. Neste último, Cézanne foi obrigado a desenhar a partir de sua imaginação, pois havia poucos modelos nus disponíveis. Assim como as paisagens, os seus retratos eram desenhados a partir do que ele tinha familiaridade, e, por isso, não apenas sua esposa e seu filho, mas também os passantes locais, as crianças e seu empresário artístico serviam como modelos. As suas pinturas de natureza morta são decorativas, pintadas com superfícies grossas e planas, mas ainda lembram as de Courbet.
Embora as imagens religiosas aparecessem menos frequentemente nas últimas obras de Cézanne, ele permaneceu devoto ao catolicismo romano, e dizia: “Quando eu preciso julgar uma arte, levo minhas pinturas e as deixo próximas de um objeto feito por Deus, como uma árvore ou uma flor. Se os dois lados entram em combate, elas não são arte”.

A morte de Cézanne
Um dia, Cézanne trabalhava em campo aberto quando foi surpreendido por uma tempestade. Só foi para casa após trabalhar duas horas com chuva. No caminho caiu, foi socorrido por um motorista que passava e o ajudou a ir para casa. Cézanne recuperou a consciência após ser tratado. No dia seguinte, pretendia continuar o seu trabalho, mas estava muito fraco e acabou por desfalecer. Foi colocado numa cama, de onde nunca mais se levantou. Morreu alguns dias após o acidente, em 22 de outubro de 1906, de pneumonia. Foi enterrado num antigo cemitério de sua amada cidade natal, Aix-en-Provence.


Principais períodos dos trabalhos de Cézanne

Vários períodos foram definidos na vida e na obra de Cézanne. Cézanne criou centenas de pinturas, algumas das quais alcançaram altos preços no mercado de arte, nos últimos anos. Em 10 de maio de 1999, o quadro Rideau, Cruchon et Compotier foi vendido por $60.5 milhões - o quarto maior preço já pago por uma pintura até aquele ano. Em maio de 2006, o quadro foi considerado como a pintura de natureza morta mais cara já vendida em leilão.

O período negro, em Paris, 1861-1870
Em 1863, Napoleão III criou, por decreto, o Salão dos Recusados, onde as pinturas que foram rejeitadas para mostra no Salão da Academia de Belas Artes eram exibidas. Entre os artistas proprietários das obras rejeitadas, estavam os jovens impressionistas, considerados revolucionários. Cézanne foi influenciado pelo estilo dos impressionistas, mas a sua dificuldade de relacionamento social – ele parecia rude, tímido, às vezes furioso e dado à depressão – resultaram em um período caracterizado pelas cores escuras e o grande uso do preto. As obras desse período diferem muito de seus rascunhos e aquarelas dos tempos da Escola Especial de Desenho de Aix-en-Provence (1859) ou de seus trabalhos subsequentes. Entre as obras do período negro, estão pinturas como O Assassino (cerca de 1867-1868).

Período impressionista, em Provença e Paris, 1870-1878
Após o início da guerra franco-prussiana, em julho de 1870, Cézanne e Marie-Hortense Fiquet deixaram Paris e foram para L’Estaque, perto de Marseille, onde ele passou a pintar predominantemente paisagens. Cézanne foi considerado como fugitivo do serviço militar, em janeiro de 1871, mas a guerra terminou em fevereiro e o casal regressou a Paris no verão de 1871. Após o nascimento do primeiro filho, Paul, em janeiro de 1872, em Paris, eles mudaram para Auvers, em Val D’Oise, nas proximidades da capital francesa.
Pissarro viveu em Pontoise. Lá e em Auvers, juntos, ele e Cézanne pintavam paisagens. Muito tempo depois, Cézanne descreveu a si mesmo como um aluno de Pissarro, dizendo que Todos nós surgimos de Pissarro. Sob a influência de Pissarro, Cézanne começou a abandonar as cores escuras e suas telas se tornaram muito mais luminosas.
Deixando Hortense na região de Marseille, Cézanne andou entre Paris e a Provença, exibindo suas obras na primeira (1874) e na terceira mostras impressionistas (1877). Em 1875, ele chamou a atenção do colecionador Victor Chocquet, cujas comissões providenciavam alívio financeiro. Mas as pinturas que Cézanne exibiu atraíram hilaridade, ultraje e sarcasmo. O revisor Louis Leroy disse, sobre o retrato que Cézanne fez de Chocquet: “Esta cabeça com uma aparência peculiar, e esta coloração de uma bota velha podem causar um choque (a uma mulher grávida) e febre amarela ao fruto de seu ventre antes mesmo de seu ingresso ao mundo.”.
Em março de 1878, o pai de Cézanne, Louis-Auguste, descobriu o caso do filho com Hortense e ameaçou cortar-lhe o suporte financeiro, mas, em setembro, decidiu dar 400 francos para sua família. Cézanne continuou a migrar entre a região de Paris e Provença até que se construísse um estúdio para ele em sua casa, Jas de Bouffan, no começo dos anos de 1880. O estúdio foi feito no andar superior, com direito a uma janela alargada, que permitia a entrada da luz vinda do Norte, mas interrompendo a linha do beiral. Cézanne estabeleceu sua residência em L’Estaque. Lá, ele pintou com Renoir, em 1882. Visitou Renoir e Monet em 1883.

Período maduro, em Provença, 1878-1890
No começo dos anos 1880, a família Cézanne fixou residência na Provença. Esta mudança reflete uma independência em relação aos impressionistas, concentrados em Paris, e uma preferência marcada pelo Sul, a terra nativa de Cézanne. O irmão de Hortense tinha uma casa dentro com vista para o Monte de Santa Vitória, em L'Estaque. Uma série de pinturas desta montanha entre 1880 e 1883, e outras, de Gardanne, entre 1885 e 1888, constituem o chamado “período construtivo”.
O ano de 1886 foi um ponto de transformação para a família. Cézanne casou com Hortense. Também naquele ano, o pai de Cézanne morre, tinha ele tinha 47 anos, e ele herda os bens do pai. Em 1888, a família se mudou para Jas de Bouffan, uma casa e terreno substanciais, o que permitiu um novo conforto. Esta casa, com um terreno menor, atualmente é propriedade da cidade e está aberta restritamente ao público.
Também naquele ano Cézanne rompeu sua amizade com Émile Zola, após Zola usá-lo, em grande parte, como base para compor o personagem, um artista sem sucesso e trágico afinal, Claude Lantier, no livro L'Œuvre. Cézanne considerou este ato como uma quebra de decoro, e a amizade iniciada na infância estava irreparavelmente danificada.

Período final, Provença, 1890-1905
O período idílico de Cézanne em Jas de Bouffan foi temporário. Desde 1890 até a sua morte, ele foi cercado por eventos problemáticos, eventualmente se isolando com suas pinturas e passando um longo tempo como um recluso virtual. As suas pinturas passaram a ser muito conhecidas e procuradas, e ele era o objeto de respeito na nova geração de pintores.
Os problemas começaram com a crise de diabetes em 1890, desestabilizando a sua personalidade até o ponto onde as suas relações com os outros foram, novamente, forçadas. Ele viajou para a Suíça, com Hortense e seu filho, talvez nas esperanças de restaurar as suas relações. Cézanne, porém, retornou à Provença para continuar sua vida; Hortense e Paul seguiram para Paris. As necessidades financeiras fizeram com que Hortense retornasse para a Provença, mas vivendo em quartos separados. Cézanne mudou-se com sua mãe e com a sua irmã. Em 1891, ele voltou-se para o catolicismo.
Cézanne alternou entre pintar na região de Jas de Bouffan e na região de Paris, como antes. Em 1895, ele fez uma visita germinal para Bibémus Quarries e escalou o Monte Santa Vitória. A paisagem labiríntica deve tê-lo inspirado, pois ele alugou uma cabana no local, em 1897, e pintou-a extensivamente. Acredita-se que as formas tenham inspirado o estilo embrionário do cubismo. Também naquele ano, a sua mãe morreu, um evento chocante, mas que também fez a reconciliação possível com a sua esposa. Ele vendeu a área vazia de Jas de Bouffan e alugou um local em Rue Boulegon, onde ele construiu um estúdio.
As suas relações, entretanto, continuavam tempestuosas. Ele precisava de um local para ser ele mesmo. Em 1901, ele comprou algumas terras, próximo da Estrada de Lauves, uma estrada isolada em Aix, e pediu que um estúdio fosse construído lá (o “ateliê”, agora aberto ao público). Ele mudou-se para lá em 1903. Enquanto isso, em 1902, ele escreveu um testamento que excluía a sua esposa do estado e deixava tudo para seu filho. A relação estava aparentemente quebrada novamente; é dito que ela queimou os pertences de sua mãe.
De 1903 até o fim de sua vida, ele pintou em seu estúdio, trabalhando por um mês em 1904 com Émile Bernard, quem permaneceu em sua casa como um convidado. Após a sua morte, o local se tornou um monumento, o Ateliê Paul Cézanne.

Legado
Após a morte de Cézanne em 1906, as suas pinturas foram exibidas em Paris em uma retrospectiva de grande porte, em setembro de 1907, no Salon D’Automne. A mostra causou um grande impacto na direção da vanguarda parisiense, tornando-o um dos artistas mais influentes do século XIX e o responsável pelo advento do cubismo.
As explorações de simplificação geométrica e dos fenómenos óticos inspiraram Picasso, Braque, Gris e outros, que passaram a experimentar múltiplas visões, mais complexas, de um mesmo objeto chegando, finalmente, à fratura da forma. Cézanne, assim, abriu uma das mais revolucionárias possibilidades de exploração artística no século XX, influenciando profundamente o desenvolvimento da arte moderna.

Natureza morta com maçãs e laranjas, 1895-1900 - Museu d'Orsay

Fiama Hasse Pais Brandão morreu há sete anos

(imagem daqui)

Fiama Hasse Pais Brandão (Lisboa, 15 de agosto de 1938 - Lisboa, 19 de janeiro de 2007) foi uma escritora, poetisa, dramaturga, ensaísta e tradutora portuguesa.
A sua infância foi passada entre uma quinta em Carcavelos e o St. Julian's School. Foi estudante de Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido um dos fundadores do Grupo de Teatro de Letras. Foi casada com Gastão Cruz.
Estreou-se como autora com Em Cada Pedra Um Voo Imóvel (1957), obra que lhe valeu o Prémio Adolfo Casais Monteiro. Ganha notoriedade no meio literário com a revista/movimento Poesia 61, em que publica o texto «Morfismos». É considerada como uma das mais importantes escritoras do movimento, que revolucionou a poesia nos anos 60. Foi premiada, em 1996, com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores. O seu livro Cenas Vivas foi distinguido, em 2001, com o prémio literário do P.E.N. Clube Português.
A sua actividade no teatro iniciou-se com um estágio, em 1964, no Teatro Experimental do Porto e com a frequência de um seminário de teatro de Adolfo Gutkin na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1970. Em 1974, foi um dos fundadores do Grupo Teatro Hoje, sendo a sua primeira encenação a obra Marina Pineda, de Federico García Lorca. Em 1961 recebeu o Prémio Revelação de Teatro, pela obra Os Chapéus de Chuva. É autora de várias peças de teatro.
Colaborou em publicações como Seara Nova, Cadernos do Meio-Dia, Brotéria, Vértice, Plano, Colóquio-Letras, Hífen, Relâmpago, A Phala e Quadrante (revista da Faculdade de Direito de Lisboa, iniciada em 1958).


Vozes Minhas

O súbito fraseador que mimava
a sua fala pela do vento
não me disse Heraclito fui,
tal como eu o pensei.
Disse só deste lado do recorte
da serra sopra mais.
Ouvir por dentro. Clarear
traços que nos separam
da figura falante. O amanho
da Terra liga-nos.
Ouvinte do vento, não me
disse como eu: Verdade
e substância, na primeira apanha.
Quietude. Êxtase, na eclosão.

Cavou ao longo da esticada corda
que orienta as leiras. Esteve
em movimento ali um dia: Ó terra,
tudo está nos sentidos
antes do senso, voz certa,
som áspero, vento de rajadas grossas.

 

in Três Rostos - Ecos (1989) - Fiama Hasse Pais Brandão

sábado, janeiro 18, 2014

Música para colega que fez hoje anos...

Para a Maria João Torres, colega de curso e amiga e que hoje é bebé, aqui fica uma música, para celebrar o seu aniversário, recordando que, tal como os marinheiros, os professores estão a ficar um bocadinho fora de prazo (e ainda não viram o que vão receber de salário no final do mês):

Jonathan Davis, o vocalista e baterista dos Korn, faz hoje 43 anos

Jonathan Houseman Davis (18 de janeiro de 1971) é o vocalista dos Korn, nascido e criado em Bakersfield, Califórnia, onde viveu com o pai e a madrasta. Na infância, sofreu vários traumas (abuso infantil pela madrasta, abuso sexual por uma vizinha pedófila e bullying na escola), que depois lhe serviram de inspiração para escrever músicas, o que se torna evidente na música Falling Away From Me, uma das melhores dos KoRn, onde a letra mostra temas da sua infância. Além de vocalista, ele é baterista. Ele tocou no álbum Issues, e também durante o cover de "Earache My Eye" em Live and Rare. Jonathan toca também gaita-de-foles. Aos doze anos já sabia tocar nove instrumentos, incluindo clarinete, violino e piano.
Jonathan foi o último elemento a entrar para os Korn. Munky e Head descobriram-no num bar, onde pretendiam ficar apenas alguns minutos. Mas ao verem Jonathan apresentar-se com a sua banda da época, Sexart, ficaram até o final e convidaram-no para se juntar aos Korn. Após consultar um médium, Jonathan aceitou o convite.
Com Jonathan na banda, os Korn tornaram-se uma banda sensação, e mantiveram-se populares desde então. Desde 1993, lançaram 10 álbuns de estúdio, dois álbuns ao vivo e uma compilação, e conquistaram várias Platinas, além de 2 Grammys.


César Cui nasceu há 179 anos

César Antonovitch Cui (Vilnius, 18 de janeiro de 1835 - Petrogrado, 13 de março de 1918) foi um compositor e crítico musical russo de ascendência francesa e lituana. Foi um compositor extremamente prolífico, escrevendo muitas peças para piano, música de câmara, centenas de canções, peças para orquestra e várias óperas.
Cui nasceu em Vilnius. Estudou piano e teoria musical na infância, e entrou na Escola de Engenharia Militar de São Petersburgo, iniciando uma carreira militar. Tornou-se especialista em fortificações. Quando, em 1857, conhece Mily Balakirev, passando a dedicar-se seriamente à música, tornando-se membro do Grupo dos Cinco.
Como crítico, Cui escreveu mais de 800 artigos, entre 1864 e 1918, sobretudo entre 1864 e 1900, para vários jornais e outras publicações na Rússia e resto da Europa. Vários dos artigos foram agrupados tematicamente em monografias: Kol'tso Nibelungov (O Anel do Nibelungo, 1876); A música na Rússia (1880); Russkii romans (O Romance Russo, 1896). Na década de 1860, a sua crítica no jornal são-petersbuguense Vedomosti valeu-lhe a alcunha "niilista musical", devido ao desdém pela antiga música clássica (como a da época de Mozart) e o seu apelo à originalidade musical.


João Aguardela deixou-nos há 5 anos...

(imagem daqui)

João Aguardela (Lisboa, 2 de fevereiro de 1969 - Lisboa, 18 de janeiro de 2009) foi um cantor, músico e compositor português, conhecido por fazer parte das bandas Sitiados, Linha da Frente, Megafone e A Naifa.
Cedo mostrou apetência musical, tendo-se destacado como líder da banda Sitiados, que apareceu num dos concursos do Rock Rendez-Vous e que logo no início dos anos 1990 registou inúmeros êxitos musicais. Frequentou a escola de artes António Arroio, em Lisboa.
Foi uma pessoa activista em muitas causas. Manifestou o seu repúdio pela extrema-direita - mais concretamente pela morte do membro do PSR, José Carvalho, por skinheads - tendo participado em inúmeras manifestações sociais e políticas. Aquando da invasão do Iraque por parte dos EUA, também mostrara o seu total descontentamento.
João Aguardela foi distinguido, em 1994, com o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Autores.
Depois do fim dos Sitiados fez parte dos projetos Linha da Frente e A Naifa. Tinha ainda o seu projecto mais pessoal: Megafone, com quatro discos.
Faleceu no Hospital da Luz, em Lisboa, a 18 de janeiro de 2009, vítima de cancro do estômago, aos 39 anos de idade.


Passos Manuel morreu há 152 anos

Manuel da Silva Passos (São Martinho de Guifões, 5 de janeiro de 1801 - Santarém, 18 de janeiro de 1862), mais conhecido por Passos Manuel, bacharel formado em Direito, advogado, parlamentar brilhante, ministro em vários ministérios e um dos vultos mais proeminentes das primeiras décadas do liberalismo, encarnando a esquerda do movimento vintista na fase inicial da monarquia constitucional, tendo depois assumido o papel de líder incontestado dos setembristas. Foi seu irmão mais velho, e inseparável aliado na vida política, José da Silva Passos, um também proeminente político da esquerda liberal. Ficou célebre a sua declaração de princípios: A Rainha é o chefe da nação toda. E antes de eu ser de esquerda já era da Pátria. A Pátria é a minha política.

Há 80 anos os Vidreiros da Marinha Grande tomaram o poder durante algumas horas

Posto da GNR
Posto da GNR - Armas apreendidas aos revoltosos
 Estação dos CTT sob ocupação militar
Estação dos C.T.T. sob ocupação militar

Em 1934 a estabilidade do Estado Novo Português, e a sua Constituição de 1933 que, em moldes fascistas e corporativos, estabelece sindicatos verticais, vai ser contestada de uma forma dramática na Marinha Grande.
Preparado inicialmente como uma greve, as acções previstas para o dia 18 de janeiro nos centros fabris de Silves, Barreiro e na Marinha Grande, foram acções descoordenadas e mal preparadas, que condenaram ao fracasso a contestação que os anarco-sindicalistas, até à altura a principal força a representar o operariado português, queriam transformar num grande braço de ferro com o Estado Novo, e abrir caminho para a ascensão do PCP como principal força de contestação junto da população trabalhadora
Contudo, na Marinha Grande este dia viria ter características únicas. À semelhança do que sucedeu em outros lugares, a contestação seguiu o padrão habitual, com a paragem das fábricas, manifestações de rua, cortes de comunicações, mas rapidamente evoluiu para algo maior: a instituição de um Soviete numa clara afirmação de oposição, e de tentativa de derrube do regime.
Operários, sobretudo da indústria vidreira, elegem um conselho operário que toma o poder e governa a Marinha Grande durante algumas horas. Entre as primeiras acções do Soviete conta-se a prisão do destacamento da GNR e a tomada da estação dos correios.
Todas estas acções são realizadas com grande serenidade, e sem derramamento de sangue. Os revoltosos, sem um plano de acção prévio, acabam por levar a família do comandante do posto da GNR para uma pensão, e os guardas são entregues à custódia do administrador da fábrica de vidro estatal. Nos correios, o chefe da estação pede para falar com a família, e é levado a casa onde usa o telefone para alertar as autoridades.
Uma vez alertadas, as autoridades militares fazem avançar para a Marinha Grande um contingente para repor a ordem pública, que chega na madrugada seguinte, pondo fim ao Soviete.
Ao contrário da acção dos revoltosos, a repressão movida pelo Estado Novo foi implacável, com perseguições ferozes, despedimentos, julgamentos fantoche que terminaram em pesadas penas, nomeadamente com o envio para o degredo nas colónias, e em particular para o campo do Tarrafal.

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Alguns vidreiros presos e imagem do campo do Tarrafal

Dos 152 primeiros presos enviados para o Tarrafal, 37 tinham participado na revoltada dos vidreiros de 18 de janeiro de 1934, entre os quais António Guerra, que liderou a ocupação da Estação dos Correios, e que, condenado a 20 anos de degredo, viria a morrer no Tarrafal em 1948.

1718
António Costa, que morreu no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, em 22 de setembro de 1937

in Wikipédia (imagens daqui)