Biografia
Jeanne Hébuterne nasceu a 6 de abril de 1898 em Arras, no norte da
França. O seu pai, Achille Casimir Hébuterne, trabalhava como chefe de
perfumaria da loja de departamentos
Bon Marché, era um ardente admirador de
Pascal,
lia sempre fragmentos da sua obra enquanto a família descascava
batatas para o jantar, o que sempre irritou a Jeanne. O seu irmão,
André Hébuterne (
1894-
1992),
ao escolher a arte como profissão, causou a primeira rutura na
conhecida respeitabilidade dos seus pais. Quando Jeanne seguiu seu
irmão no caminho da arte, escolheu estudar na
Academia Colarossi, na rua Grande Chaumière, desde pequena mostrou aptidão para a
pintura e para o desenho. Possuía estilo próprio e criava suas próprias roupas. De acordo com o escultor
Leon Indebaum, Jeanne "
no
era una luminaria de la vida de los cafés sino una figura menor,
interesante por sus exóticos turbantes, su capa marrón y sus botas altas".
Por influência de seu irmão, conheceu
Tsuguharu Foujita (1886-1968) pintor francês de ascendência
japonesa, personagem característico de
Montparnasse,
sendo retratada por ele diversas vezes. Jeanne tinha a rosto pálido e
ovalado com grandes olhos azuis, usava grandes tranças, era considerada
uma mulher tímida, porém de olhar intrigante.
Em
1917, Jeanne conheceu o pintor
Amedeo Modigliani
no Café de La Rotonde, todos disputavam para saber quem ficaria
primeiro com Jeanne, e como Modigliani tinha a fama de mulherengo,
ganhou. Primeiro ele desenhou-a, em seguida a levou para um hotel
miserável e pintou-a, depois dormiram juntos, tinha ela apenas dezoito
anos. Modigliani, que era treze anos mais velho do que ela, era um
homem muito considerado e com charme. Começaram a encontrar-se
imediatamente e acabaram apaixonando-se. Em
29 de novembro de
1918 dá a luz a uma menina, que recebe o mesmo nome da mãe,
Jeanne Modigliani (
1918-
1984), sendo reconhecida como filha por Modigliani.
No final de junho de
1919,
informa Modigliani que estava grávida novamente, ao que este,
surpreendido, teria dito: "Não temos sorte!". É afastada da sua família,
por escolher viver com
Modi. Logo fica comprometida a casar-se
com o pintor. A vida do casal não era um mar de rosas e Modigliani
tinha a saúde debilitada, devido a uma tuberculose mal curada e ao
consumo excessivo de álcool e drogas. Em janeiro de
1920
trouxeram Modigliani, com febre e delirando, não tinha carvão e nem
água, era necessário descer até o pátio para tirar água do poço, Jeanne
grávida de nove meses, estava muito fraca, quase não tinham comida,
pois alimentavam-se apenas de sardinhas enlatadas. Ficaram esquecidos
por todos e trancados no estúdio durante uma semana. Modigliani delirava
e Jeanne desenhava-se a si mesma.
Morte
No dia
21 de janeiro de
1920, quando o pintor
Ortiz de Zárate aparececeu no estúdio e horrorizado, fez com que Modigliani fosse internado no
Hospital de la Charité. Jeanne, atordoada, é levada a casa dos pais, sendo a última vez que viu Modigliani com vida, pois ele morre no dia
24 de janeiro, de
tuberculose
meningítica, aos 35 anos de idade. Ortiz levou a triste notícia a
Jeanne, que estava quase em trabalho de parto. Na manhã seguinte, ela
foi até ao hospital para ver Amedeo. Quando entrou no quarto em que o
corpo estava, aproximou-se e olhou para ele durante um longo período.
Depois, segundo Francis Carco, cortaram a mecha do cabelo de Jeanne e
colocaram-no sobre o peito do seu amado, saindo em seguida, sem dizer
uma palavra.
À tarde, Jeanne volta para a casa dos seus pais na rua Amyot, nº 8. O
seu irmão, André, passa grande parte da noite no quarto de Jeanne em sua
companhia, porém, com a proximidade do amanhecer, ele adormece.
Jeanne, companheira devotada e grávida de nove meses do segundo filho,
aproveita o momento e atira-se de costas do quinto andar da casa de seus
pais, tinha 21 anos. O corpo de Jeanne foi recolhido por um homem que o
levou até o apartamento da família. Apavorado, André Hébuterne não
quis recebê-lo e ordenou que o levasse ao ateliê de Modigliani. O corpo
fora então transportado numa carroça até o ateliê da Grand Chaumière ,
contudo a zeladora recusou-se a recebê-lo. De
novo aquele homem com compaixão exemplar conduziu os pobres e
rejeitados restos pelo bairro até a delegacia. A polícia acabou com a
grotesca peregrinação mostrando uma ordem que obrigava a zeladora do
estúdio a receber a defunta. E ali ficou abandonado o corpo de Jeanne.
Uma amiga de Jeanne da École des Arts Décoratifs e da Academia Colarossi, Chantal Quenneville e Jeanne Léger, esposa do pintor
Fernand Léger
foram até o ateliê. A visão da jovem dotada de tão incondicional amor
por Amadeo transtornou-as. Léger foi buscar uma enfermeira para limpar e
vestir o corpo.
O enterro de Modigliani, no dia
27 de janeiro de
1920,
foi um estrondoso acontecimento público, onde a essa alturas suas
obras já haviam experimentado uma vertiginosa valorização, do nada à
glória. O corpo de Jeanne Hébuterne foi sepultado no mesmo dia, às
escondidas e em penosa solidão, pelos pais, no cemitério de
Bagneux.
A sua filha foi criada pelas irmãs de Modigliani, e cresceu sem saber o
que ocorrera com os pais. Apenas nove anos depois, o irmão mais velho
de Modigliani conseguiu convencer a família Hébuterne a trasladar os
restos mortais de Jeanne e do seu filho que não nasceu para o
cemitério do Père Lachaise, onde, transfigurados pela imaginação e pela lenda, descansam enfim juntos.
Os trabalhos de Jeanne foram guardados pelo seu irmão André, a sete chaves, e apenas em
2000 foram mostrados em público, numa exposição na
Itália, com uma sala reservada apenas para obras do casal.