O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
Urgentemente É urgente o Amor, É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros, e a luz impura até doer. É urgente o amor, É urgente permanecer.
Filha de emigrantes portugueses no Brasil e no Chile,
Aurélia de Sousa nasceu em Valparaíso, filha de António Martins de
Sousa e de Olinda Peres. Era a quarta de sete filhos do casal. Mudou-se
para Portugal, juntamente com os pais, com apenas três anos. Passou a habitar a Quinta da China, junto ao rio Douro, no Porto, comprada pelo seu pai, que veio a falecer em 1874, quando Aurélia tinha apenas oito anos.
Nas palavras da biógrafaRaquel Henriques da Silva, a obra de Aurélia de Sousa "regista a silenciosa narrativa da casa: a presença da velha mãe, os afazeres das mulheres e das crianças, os cantos escuros da cozinha e do atelier, as tardes em que a luz se confunde com os fatos de verão, os caminhos campestres ou as vistas do rio. Pratica uma pintura vigorosa, raramente volumétrica, detida na análise das sombras para nelas captar a luz".
Fernando Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul,
numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o
idioma inglês do que com o português ao escrever seus primeiros poemas
nesse idioma. O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitman
renascido", e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores
da civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa mas também
da inglesa.
Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras em inglês (v.g. de Shakespeare e Edgar Poe) para o português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para o inglês.
Enquanto poeta, escreveu sob múltiplas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro
–, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua
vida e obra. Robert Hass, poeta americano, diz: "outros modernistas como
Yeats, Pound, Elliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente... Pessoa inventava poetas inteiros."
A ÚLTIMA NAU Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, E erguendo, como um nome, alto o pendão Do Império, Foi-se a última nau, ao sol aziago Erma, e entre choros de ânsia e de pressago Mistério. Não voltou mais. A que ilha indescoberta Aportou? Voltará da sorte incerta Que teve? Deus guarda o corpo e a forma do futuro, Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro E breve. Ah, quanto mais ao povo a alma falta, Mais a minha alma atlântica se exalta E entorna, E em mim, num mar que não tem tempo ou ’spaço, Vejo entre a cerração teu vulto baço Que torna. Não sei a hora, mas sei que há a hora, Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora Mistério. Surges ao sol em mim, e a névoa finda: A mesma, e trazes o pendão ainda Do Império.
Era filha do embaixador Marcos Vieira da Silva, e neta de José Joaquim da Silva Graça, fundador do jornal O Século, tendo vivido na casa do avô, em Lisboa.
Devido ao facto de o seu marido ser judeu e de ela ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. Então, o casal decidiu residir por um longo tempo no Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entraram em contacto com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira. Ambos exerceram grande influência na arte brasileira, especialmente entre os modernistas.
Vieira da Silva foi autora de uma série de ilustrações para crianças que constituem uma surpresa no conjunto da sua obra. Kô et Kô, les deux esquimaux, é o título de uma história para crianças inventada por ela em 1933.
Não se sentindo capaz de a escrever, a pintora entregou essa tarefa ao
seu amigo Pierre Guéguen e assumiu o papel de ilustradora, executando
uma série de guaches.
Mais tarde a artista viveu e trabalhou em Paris, no número 34 da Rue Abbé Carton, no XIV Bairro da cidade.
A partir de 1948 o estado francês começa a adquirir as suas pinturas e,
em 1956, tanto ela como o marido obtêm a nacionalidade francesa. Em
1960 o Governo Francês atribui-lhe uma primeira condecoração, em 1966 é
a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts e, em 1979, torna-se cavaleiro da Legião de Honra francesa.
Participou na Europália, em 1992, e veio a morrer nesse ano.
Rivers Cuomo (New York City, June 13, 1970) is an American singer, songwriter, and musician. He
is the lead vocalist, guitarist, pianist, songwriter, and frontman of
the rock band Weezer.
Em 1984 lançou o seu segundo trabalho, intitulado Dar e Receber. Era fevereiro e, dois meses depois, a 22 de abril, Variações daria um concerto, na aldeia de Viatodos, concelho de Barcelos,
durante as festas da "Isabelinha". Depois disso, aparece pela última
vez em público no programa televisivo "A Festa Continua" de Júlio Isidro.
Será a única interpretação no pequeno ecrã das faixas do novo disco,
usando o mesmo pijama com ursinhos e coelhinhos que usou na sua primeira
aparição televisiva. Variações cantou em Coimbra, na Queima das Fitas de
1984, no
dia 17 de maio, na Noite da Psicologia, já gravemente doente, sendo que
os seus amigos e familiares deixaram de receber notícias do cantor, que
ficou hospedado por alguns dias em casa de um amigo até ter sido levado
para o Hospital Pulido Valente no dia 18 de maio, devido a um problema
brônquico-asmático.
Quando Canção de Engate invadiu as rádios, já António
Variações se encontrava internado no hospital. Transferido para a
Clínica da Cruz Vermelha, morreu a 13 de junho, vítima de uma broncopneumonia, especula-se que provavelmente foi causada pelo VIH,
mas por causa do estigma que essa doença envolvia, o mistério permanece
até hoje. Foi sepultado no cemitério da terra natal, em Fiscal, Amares.
Hermínia Silva nasceu em 1907. Cedo se tornou presença notada nos retiros de Lisboa, que não hesitaram em contratá-la, pela originalidade com que cantava o Fado. A Canção dos Bairros de Lisboa estava-lhe nas veias, não fora ela nascida, ali mesmo junto ao Castelo de São Jorge. As "histórias" dos amores da Severa com o Conde de Vimioso estavam ainda frescas na memória do povo.
Rapidamente, a sua presença foi notada nos retiros, e passados poucos anos, em 1929, Hermínia Silva estreava-se numa Revista do Parque Mayer. Era a primeira vez que o Fado
vendia bilhetes na Revista. Alguns jornais da época, referiam-se a
ela, como a grande vedeta nacional, chegando a afirmar-se, que a fadista tinha "uma multidão de admiradores fanáticos". A sua melismática criativa, a inclusão no Fado, de letras menos tristes, por vezes com um forte cunho de crítica social, e o seu empenho em trazer para o Fado e para a guitarra portuguesa, fados não tradicionais, compostos por maestros como Jaime Mendes, compositores como Raul Ferrão,
criando assim o chamado "fado musicado", aquele fado cuja música
corresponde unicamente a uma letra, se bem que composto segundo a base
do Fado, e em especial, tendo em atenção as potencialidades da guitarra portuguesa.
Hermínia Silva torna-se assim, sem o haver planeado, num dos vértices do Fado, tal qual ele existe, enquanto estilo musical: Alfredo Marceneiro
foi o primeiro vértice, o da exploração estilística do Fado
Tradicional; Hermínia viria a trazer o Fado para as grandes salas do
Teatro de Revista, e viria a "inaugurar" a futura Canção Nacional, com
acompanhamentos de grandes orquestras, dirigidas por maestros, que também eram compositores. A sua fama atingiu um tal ponto que o Cinema, quis aproveitar o seu sucesso como figura de grande plano.
Efetivamente, nove anos depois de se ter estreado na Revista, Hermínia integra o elenco do filme de Chianca de Garcia, Aldeia da Roupa Branca (1938), num papel que lhe permite cantar no filme. Nascera assim, a que viria a ser considerada, a segunda artista mais popular do século XX português, depois de Amália Rodrigues, o terceiro vértice do Fado, ainda por nascer.
Depois de várias presenças no estrangeiro, com especial incidência no Brasil e em Espanha, Hermínia aposta numa carreira mais concentrada em Portugal. O seu conhecido e parodiado receio em andar de avião, inviabilizou-lhe muitos contratos que surgiam em catadupa. Mas, Hermínia estava no céu, na sua Lisboa das sete colinas.
Em 1943 é chamada para mais um filme, o Costa do Castelo, em 1946 roda o Homem do Ribatejo, passando regularmente pelos palcos do Parque Mayer,
fazendo sucesso com os seus fados e as suas rábulas de Revista.
Efetivamente, Hermínia consegue alcançar tal êxito no Teatro, que o
SNI, atribui-lhe o "Prémio Nacional do Teatro", um galardão muito cobiçado na época. Até 1969, em "O Diabo era Outro", a popularidade da fadista encheu os écrans dos cinemas de todo o país. Vieram mais Revistas, mais recitais, muitos discos de sucesso.
Mas, para quem quisesse conhecer a grande Hermínia bem mais de perto,
ainda tinha a oportunidade de ouro, de vê-la ao vivo e a cores, sem
microfone, na sua Casa - o Solar da Hermínia, restaurante que manteve
quase até ao fim da sua vida artística.
Felizmente, o estado português, o antigo e o contemporâneo, reconheceu
Hermínia Silva. São vários os prémios e condecorações, as distinções e
as nomeações, justíssimas para uma artista,
que fez escola, e que hoje, constitui um dos três maiores nomes da
Canção Nacional, ao lado de Marceneiro e de Amália, que por razões
diferentes, pelas novidades de forma e conteúdo distintos que
trouxeram à Canção de Lisboa, fizeram dela, o Fado, tal qual hoje é
entendido, cantado, tocado e formatado.
A fadista cantou quase até falecer, em 13 de junho de 1993. Morria assim uma das maiores vedetas do Fado e do Teatro de Revista Português. O seu corpo foi sepultado no cemitério dos Prazeres.
Nascido no seio de uma família da alta burguesia (origem inglesa por parte da avó paterna). Um ano depois foi viver para o Alentejo. O pai morre cedo, num desastre de viação. Em Sines passa toda a infância e adolescência, até que a família decide enviá-lo para o estabelecimento de ensino artístico Escola António Arroio, em Lisboa.
A 14 de abril de 1967, refratário militar, mudou-se para a Bélgica, onde estudou pintura na École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels (La Cambre), em Bruxelas.
Após concluir o curso, decide abandonar a pintura em 1971 e dedicar-se exclusivamente à escrita.
Regressa a Portugal a 17 de novembro de 1974 e escreve o primeiro livro inteiramente na língua portuguesa, À Procura do Vento num Jardim d'Agosto.
O Medo, uma antologia do seu trabalho desde 1974 a 1986, é
editado pela primeira vez em 1987. Este veio a tornar-se no trabalho
mais importante da sua obra e o seu definitivo testemunho artístico,
sendo adicionados em posteriores edições novos escritos do autor, mesmo
após a sua morte.
Deixou ainda textos incompletos para uma ópera, para um livro de fotografia sobre Portugal e uma «falsa autobiografia», como o próprio autor a intitulava. Morreu de linfoma. Homossexual assumido, tal facto só foi amplamente conhecido depois da sua morte.
Al Berto morreu em Lisboa, a 13 de junho de 1997.
Em 2009 a Companhia de Teatro O Bando estreia no Teatro Nacional Dona Maria II, em Lisboa, um espetáculo intitulado A Noite a partir de Lunário, Três cartas da memória das Índias, Apresentação da noite, O Medo, À procura do vento num jardim d'Agosto e Dispersos. O espetáculo foi encenado por João Brites
e interpretado por Ana Lúcia Palminha e Pedro Gil. Além de Lisboa, o
espetáculo esteve ainda no Teatro da Cerca de São Bernardo em Coimbra e
no espaço d'O Bando.
se te nomeasse cintilarias
no beco de uma cidade desfeita
e o chumbo dos labirintos derreter-se-ia
na veia branca da noite uma estátua
de areia talvez um barco sulcasse
a cabeleira aquática da fala e
nenhuma porta se abriria sob teus passos
onde estamos? onde vivemos?
no desaguar tenebroso deste rio de penumbra
não beberemos ao futuro do homem
nem festejaremos o rugido triste da fera
moribunda
mas se te nomeasse
que desejo de sexo e da mente a medrosa alegria
em mim permaneceria?
Pode-se resumir brevemente a sua atuação dizendo que foi ministro do
Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823. De
início, colocou-se em apoio à regência de D. Pedro de Alcântara. Proclamada a Independência, organizou a ação militar contra os focos de resistência à separação de Portugal, e comandou uma política centralizadora. Durante os debates da Assembleia Constituinte, deu-se o rompimento dele e de seus irmãos Martim Francisco Ribeiro de Andrada e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
com o imperador. Em 16 de julho de 1823, D. Pedro I demitiu o
ministério e José Bonifácio passou à oposição. Após o fechamento da
Constituinte, em 11 de novembro de 1823, José Bonifácio foi banido e exilou-se na França durante seis anos. De volta ao Brasil, e reconciliado com o imperador, assumiu a tutoria do seu filho quando Pedro I abdicou, em 1831. Permaneceu como tutor do futuro imperador até 1833, quando foi demitido pelo governo da Regência.
Cedo demonstrou vocação para as pesquisas científicas. A exploração de minas conhecia um auge considerável com o crescimento das necessidades ligadas à revolução industrial.
José Bonifácio concluiu, em 16 de junho de 1787, o seu curso de Filosofia
Natural e, a 5 de julho de 1788, o de Leis. Recebeu em Portugal apoio
do duque de Lafões, D. João de Bragança, que, em 1780, fundara a Academia das Ciências de Lisboa e, a 8 de julho de 1789 fez, perante o Desembargo do Paço, a leitura que o habilitava a exercer os lugares da magistratura. Cinco meses antes, em 4 de março, fora admitido como sócio livre da Academia, o que lhe abrira os caminhos de uma carreira de cientista.
Por temperamento, interessava-se por estudos de que resultassem em
alguma utilidade, colocando a ciência a serviço do aperfeiçoamento
humano. Tinha por divisa: Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria. A sua primeira memória apresentada à Academia foi Memória sobre a Pesca das Baleias e Extração de seu Azeite: com algumas reflexões a respeito das nossas pescarias.
Visita à Europa
Foi comissionado, em 18 de fevereiro de 1790, para empreender, às custa do Real Erário, uma excursão científica pela Europa, para adquirir, por meio de viagens literárias e explorações filosóficas, os conhecimentos mais perfeitos de mineralogia e mais partes da filosofia e história natural.
Assim, nos meados de 1790, José Bonifácio estava em Paris na fase inicial da Revolução Francesa. Cursou, de setembro de 1790 a janeiro de 1791, os estudos de química e mineralogia e, até abril, aulas na Escola Real de Minas. Os seus biógrafos citam contactos com Lavoisier, Chaptal, Jussieu
e outros. Foi eleito sócio-correspondente da Sociedade Filomática de
Paris e membro da Sociedade de História Natural, para a qual escreveria
uma memória sobre diamantes
no Brasil, desfazendo erros. Já não era um simples estudante - começava
a falar com voz de mestre. Partiu depois para aulas práticas na Saxónia, em Freiburgo,
cuja Escola de Minas frequentou em 1792, recebendo dois anos mais tarde
um atestado de que havia frequentado um curso completo de Orictognosia e outro de Geognosia. Ali cursou também a disciplina de siderurgia, com o professor Abraham Gottlob Werner.
Percebia o atraso de Coimbra em relação a outros centros de estudo na
Europa - a escola de Freiberg marcaria a sua orientação. Ali teve como
amigos Alexander von Humboldt, Leopold von Buch e Del Río. Percorreu minas do Tirol, da Estíria e da Caríntia. Foi a Pavia, na Itália, ouvir lições de Alessandro Volta; em Pádua, investigou a constituição geológica dos Montes Eugâneos, escrevendo a respeito um trabalho em 1794, chamado Viagem geognóstica aos Montes Eugâneos. Onde deu completo desenvolvimento a seus estudos foi na Suécia e na Noruega, a partir de 1796, caracterizando em jazidas locais quatro espécies minerais novas (entre os quais a petalita e o diópsido) e oito variedades que se incluíam em espécies já conhecidas - a todos esses minerais descreveu pela primeira vez e deu nome.
Viajou mais de dez anos pela Europa, absorto em seus trabalhos
científicos e, aos 37 anos, era um cientista conhecido e consagrado.
Regressou a Portugal em setembro de 1800. Visitara, além dos países
citados, a Dinamarca, a Bélgica, os Países Baixos, a Hungria, a Inglaterra e a Escócia.
Estreou-se em 1939 com a obra Narciso, torna-se mais conhecido, em 1942, com o livro de versos Adolescente. A sua consagração acontece em 1948, com a publicação de As mãos e os frutos,
que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino
Nemésio. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica,
considerada por José Saramago como uma poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, Os amantes sem dinheiro (1950), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998).
Em prosa, publicou Os afluentes do silêncio (1968), Rosto precário (1979) e À sombra da memória (1993), além das histórias infantis História da égua branca (1977) e Aquela nuvem e as outras (1986).
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
As suas obras iniciais eram caracterizadas por uma tendência romântica,
exuberante e fantasiosa, que transparece no título da sua coletânea de
1893, The Celtic Twilight ("O Crepúsculo Celta"). Posteriormente, por volta dos seus 40 anos, e como resultado da sua relação com poetas modernistas, como Ezra Pound, e também do seu envolvimento ativo no nacionalismo irlandês, o seu estilo torna-se mais austero e moderno.
Foi também senador irlandês, cargo que exerceu com dedicação e seriedade. Foi galardoado com o Prémio Nobel de Literatura de 1923.
O Comité de entrega do Prémio justificou a sua decisão pela "sua
poesia sempre inspirada, que através de uma forma de elevado nível
artístico dá expressão ao espírito de toda uma nação." Em 1934
compartilhou o Prémio Gothenburg para poesia com Rudyard Kipling.
A speckled cat and a tame hare Eat at my hearthstone And sleep there; And both look up to me alone For learning and defence As I look up to Providence. I start out of my sleep to think Some day I may forget Their food and drink; Or, the house door left unshut, The hare may run till it’s found The horn’s sweet note and the tooth of the hound. I bear a burden that might well try Men that do all by rule, And what can I That am a wandering witted fool But pray to God that He ease My great responsibilities?
II
I slept on my three-legged stool by the fire, The speckled cat slept on my knee; We never thought to enquire Where the brown hare might be, And whether the door were shut. Who knows how she drank the wind Stretched up on two legs from the mat, Before she had settled her mind To drum with her heel and to leap: Had I but awakened from sleep And called her name she had heard, It may be, and had not stirred, That now, it may be, has found The horn’s sweet note and the tooth of the hound.
Doutorou-se em 1979 com uma tese principal sobre "A Consequência da Literatura e do Real na Poesia de Dylan Thomas" e uma segunda tese sobre Frank O'Hara. A sua prova de Agregação consistiu numa proposta de estudo sobre a poesia inglesa posterior a 1945 e sobre «The Waste Land» de T. S. Eliot. (A sua tese de licenciatura foi sobre E. E. Cummings). Co-dirigiu a revista "As Escadas Não Têm Degraus" (1989), organizou a edição da "Obra Poética" de Ruy Belo, da "Antologia Poética" de Ruy Cinatti
e de uma antologia de João Miguel Fernandes Jorge. Tem publicadas
traduções de Anna Akhmatova (1992), Yorgos Seferis (1993) e Konstandinos
Kavafis (2005), bem como vários volumes de poetas espanhóis
contemporâneos, tanto traduzidos como, maioritariamente, anotados.
Autor de obras (iniciadas em 1974) de poesia, reuniu essa obra
poética em 2010 no volume «Um Toldo Vermelho». Em 2014 seguiu-se uma 2ª
edição, com novas alterações, intitulada com o mesmo nome. Um volume de
«derivas», sobretudo em prosa, «Do Corvo a Santa Maria», foi publicado
em 1993. Acerca de poesia, publicou os seguintes volumes: «Os dois
crepúsculos» (1981); «Dylan Thomas» (1982); «Um pouco da morte» (1989);
«Rima Pobre» (1999).
Extraordinariamente versátil e límpida, a poesia de Joaquim Manuel Magalhães impõe-se, segundo David Mourão Ferreira,
"de livro para livro, pela convocação de inúmeros aspectos do mundo
natural e do mundo social, através de um discurso que estabelece, entre
ambos, os mais inesperados nexos de cumplicidade ou recíprocos processos
de rejeição, em que "figuras" como a lítotes, a antífrase, a alusão e a
catacrese desempenham papéis preponderantes, em contextos só talvez
aparentemente regidos pelos princípios de uma livre associação de
imagens ou de um suposto automatismo verbal (…)"
Seria bom sentir no quarto qualquer música
enquanto nos banham os perfis ateados
pelo aroma da tília, sem voz, em abandono.
A entrada por detrás das ruas principais
onde a morrinha parece que nem molha
e se chega perdido onde se vai.
Não, não é só um beijo que te quero dar.
Quantas vezes nesta hora de desvalimento
vejo orion e as plêiades devagar no céu de inverno.
Mas hoje
com a calma inesperada de chuvas que não cessam
acordo já depois. Caí numa hibernação que não norteia
o desequilíbrio do sentimento.
Espelhos sem paz tocam-nos no rosto.
Na cega mancha de roupagem aconchego
cada intempérie com sua mentira
e depois sigo pela torrente, pelo enredo
dos outeiros, cada espelho continua
a caução pacificadora do engano.
É isso que te levo, isso que me dás
quando dizes, já sem o dizeres, eu amo-te.
Pela berma da humidade cerrada
um risco de mercúrio trespassa.
Na gravilha passos que não há
esmagam a música que ninguém escuta.
Sabiam de cor tudo o que falhava,
a insónia repentina, o entorpecimento.
Ouve a espessura dos nervos, a sua câmara
de conchas escavadas, a roseira azul do vime,
pastos químicos que transformam
o gradeamento acolhedor detrás do cérebro
na fauce lacerada
por onde o alibi imóvel parece fugir.
Ao lado cantam os arpões.
Eu passo com as mãos no seu cabelo.
E o passado é um tempo que não passa
em cada uma das dores que me pertence
e me roubaram.
Aquele que tem fome desconhece
o alimento, pede apenas folhas,
a farinha de um vestuário com uso
e desmedido.
Mas o que sempre comeu
não sabe os caminhos que sangram
e um dia a morte só lhe trará terror.
Acordei cansado com os sonhos.
O rosto que foi amado e se perdeu
cintilava na roldana de corrente cega,
a floresta em carvão acorrentava
o pavor agrícola da pobreza,
e dentro do sonho um sonho mais disforme
mãos que sabiam sempre agarrar tudo
o que não fosse qualquer outra mão.
Sorria para o asfalto. Com o casaco
desabotoado e o embrulho em cima da carrinha.
As nuvens corriam pelo chão de aguaceiro.
Findavam para si minúsculas assombrações.
Correu a mão sobre a testa, ergueu
o cabelo que fervia.
Vi-o inclinado sobre nada,
o pó fazia goma nos seus pés,
estava eu defrontado com um vulto
entregue à felicidade.
Quando me viu levou o embrulho
para o banco de trás e trancou as portas.
Tinha a cara azul, os olhos de vinho antigo,
fez-me um sinal desconhecido
antes de reabrir a porta e me fechar
na cidade inteira onde já não existia.
Um fato de flanela cai muito bem
numa tez esguia, batida pela neblina.
Cortei-lhe as calças com a lâmina pequena
e guardei a maior para a suavidade tardia
junto do empedrado
onde num clamor sem verdade
o morto caminho de volta diz
tristes de todas as coisas.
Os braços por cima do seu tronco
a lua nova as constelações o ruído da terra
um vivo círculo mortal em seu redor.
Primeiramente foi frade agostinho no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde aprofundou os seus estudos religiosos através da leitura da Bíblia e da literatura patrística, científica e clássica. Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois na Itália e na França. No ano de 1221 fez parte do Capítulo Geral da Ordem de Assis, a convite do próprio São Francisco de Assis, o fundador, que o convidou também a pregar contra os albigenses em França. Foi transferido depois para Bolonha e de seguida para Pádua, onde morreu aos 36 (ou 40) anos.
A sua fama de santidade levou-o a ser canonizado pela Igreja Católica pouco depois de falecer, distinguindo-se como teólogo, místico, asceta e sobretudo como notável orador e grande taumaturgo.
Santo António de Lisboa é também tido como um dos intelectuais mais
notáveis de Portugal do período pré-universitário. Tinha grande cultura,
documentada pela coletânea de sermões escritos que deixou, onde fica
evidente que estava familiarizado tanto com a literatura religiosa como
com diversos aspetos das ciências profanas, referenciando-se em
autoridades clássicas como Plínio, o Velho, Cícero, Séneca, Boécio, Galeno e Aristóteles,
entre muitas outras. O seu grande saber tornou-o uma das mais
respeitadas figuras da Igreja Católica do seu tempo. Lecionou em
universidades italianas e francesas e foi o primeiro Doutor da Igreja
franciscano. São Boaventura
disse que ele possuía a ciência dos anjos. Hoje é visto como um dos
grandes santos do Catolicismo, recebendo larga veneração e sendo o
centro de rico folclore.