sexta-feira, fevereiro 01, 2019

A carbonária, braço armado da maçonaria, matou El-Rei D. Carlos I e o Principe D. Luís Filipe há 111 anos

  
O Regicídio de 1 de fevereiro de 1908, ocorrido na Praça do Comércio (na época mais conhecida por Terreiro do Paço) em Lisboa, marcou profundamente a História de Portugal, uma vez que dele resultou a morte do Rei D. Carlos e do seu filho e herdeiro, o Príncipe Real D. Luís Filipe, marcando o fim da última tentativa séria de reforma da Monarquia Constitucional, e consequentemente, uma nova escalada de violência na vida pública do País.
   

    
Antecedentes
O atentado foi uma consequência do clima de crescente tensão que perturbava o aspecto político português. Dois factores foram primordiais: em primeiro lugar o caminho traçado desde cedo pelo Partido Republicano Português como solução para a erosão do sistema partidário vigente, e em segundo lugar a tentativa, por parte do rei D. Carlos como árbitro do sistema político, papel que lhe era atribuído pela Constituição, de solucionar os problemas desse mesmo sistema, apoiando o Partido Regenerador Liberal de João Franco (que viria a instaurar uma ditadura). Desde a sua fundação que o objectivo primário do Partido Republicano era o da simples substituição do regime. Esta atitude teve a sua quota parte de responsabilidade no crime, mas os ânimos foram acirrados pelo estabelecimento de uma ditadura administrativa, por parte de João Franco, com o apoio do rei, em 1907.
O progressivo desgaste do sistema político português, vigente desde a Regeneração, em parte devido à erosão política originada pela alternância de dois partidos no Poder: o Progressista e o Regenerador, agravou-se nos primeiros anos do Século XX com o surgimento de novos partidos, saídos directamente daqueles. Em 1901 João Franco, apoiado por 25 deputados, abandonou o Partido Regenerador, criando o Partido Regenerador Liberal. Em 1905 surge a da Dissidência Progressista, fundado por José Maria de Alpoim, que entrou em ruptura com o Partido Progressista, do qual se separou com mais seis deputados eleitos pelo mesmo partido. À intensa rivalidade entre os partidos, agravada por ódios pessoais, juntou-se a atitude e acções críticas do Partido Republicano, contribuindo para o descrédito do regime, já de si bastante desacreditado devido às dividas da Casa Real.
Era esta a conjuntura quando D. Carlos se decidiu, finalmente, a ter uma intervenção activa no jogo político, escolhendo a personalidade de João Franco para a concretização do sempre falhado programa de vida nova. Este, dissidente do Partido Regenerador, solicitou ao Rei o encerramento do Parlamento para poder implementar uma série de medidas com vista à moralização da vida política. Tal pedido já havia sido antes feito ao monarca pelos líderes dos dois partidos tradicionais, mas este sempre recusara, atendendo ao princípio que o rei reina, mas não governa. Agora, no entanto, D. Carlos achou chegado o momento de intervir, depositando a sua confiança no homem que julgava à altura e encerrou o parlamento.
É evidente que o novo governo não podia ser bem recebido pelos que dele não beneficiariam, pelo que se acirrou toda a oposição, desde os partidos monárquicos aos republicanos. Estes, aos quais um renovar do sistema politico monárquico retiraria protagonismo, ou mesmo razão de ser, vão assumir uma atitude maquiavélica: como então dizia Brito Camacho, relativamente a João Franco, "havemos de obrigá-lo a transigências que rebaixam ou às violências que comprometem". Foram eficazes os ataques pessoais, tanto a D. Carlos como a João Franco, tanto da parte daqueles, como dos dissidentes progressistas, com os quais se entenderam. Vão aproveitar a questão dos adiantamentos, logo em novembro de 1906, visando principalmente um ataque à figura do monarca. Mobilizam-se particularmente com a questão da greve académica de 1907. O regicídio foi uma mera consequência indirecta dessa estratégia.
Já marcadas novas eleições, e prevendo-se um resultado favorável ao partido no poder, como era costume, decidiram-se os republicanos e os dissidentes pela força, estes apoiaram indirecta ou directamente organizações secretas como a Carbonária ou a Maçonaria. Esta tentativa de golpe de estado fracassa, devido à inconfidência de um conspirador. A 28 de janeiro de 1908 são presos vários líderes republicanos, naquele que ficou conhecido como o Golpe do Elevador da Biblioteca. Afonso Costa e o Visconde de Ribeira Brava são apanhados de armas na mão no dito elevador, conjuntamente com outros conspiradores, quando tentavam chegar à Câmara Municipal. António José de Almeida, o dirigente carbonário Luz Almeida, o jornalista João Chagas, João Pinto dos Santos, e Álvaro Poppe contavam-se entre os noventa e três conspiradores presos. José Maria de Alpoim consegue fugir para Espanha. Alguns grupos de civis armados, desconhecedores do falhanço, ainda fizeram tumultos pela cidade.
Em resposta a este golpe, e como reflexo de um endurecer de postura por parte do regime, até aí dominado por um fair play que permitia aos republicanos intervenções livres, o governo apresenta ao rei o Decreto de 30 de Janeiro de 1908. Este previa o exílio para o estrangeiro ou a expulsão para as colónias, sem julgamento, de indivíduos que fossem pronunciados em tribunal por atentado á ordem pública, e tem sido durante muito tempo considerado como a principal causa para o regicídio. Conta-se que, ao assiná-lo, o rei declarou: ”Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram.” É de notar, no entanto, que o decreto, assinado a 30 de janeiro, só foi publicado a 1 de Fevereiro, e os preparativos para o atentado datam com certeza de antes dessa data: atente-se ao testamento feito pelo regicida Buíça, datado de 28 de janeiro.
 (imagem daqui)
  
O Atentado
O Rei, a Rainha e o Príncipe Real encontravam-se então em Vila Viçosa, no Alentejo, onde costumavam passar uma temporada de caça no inverno. O infante D. Manuel havia regressado dias antes, por causa dos seus estudos como aspirante na marinha. Os acontecimentos acima descritos levaram D. Carlos a antecipar o regresso a Lisboa, tomando o comboio, na estação de Vila Viçosa, na manhã do dia 1 de Fevereiro. Com cuidado para que a sua já preocupada mãe não se aperceba, o Príncipe real arma-se com o seu revólver de oficial do exército. Durante o caminho o comboio sofre um ligeiro descarrilamento junto ao nó ferroviário de Casa Branca. Isto provocou um atraso de quase uma hora. A comitiva régia chegou ao Barreiro ao final da tarde, onde tomou o vapor "D. Luís", com destino ao Terreiro do Paço, em Lisboa, onde desembarcaram, na Estação Fluvial Sul e Sueste, por volta das 5 horas da tarde, onde eram esperados por vários membros do governo, incluindo João Franco, além dos infantes D. Manuel e D. Afonso, o irmão do rei. Apesar do clima de grande tensão, o monarca optou por seguir em carruagem aberta, envergando o uniforme de Generalíssimo, para demonstrar normalidade. A escolta resumia-se aos batedores protocolares e a um oficial a cavalo, Francisco Figueira Freire, ao lado da carruagem do rei.
Há pouca gente no Terreiro do Paço. Quando a carruagem circulava junto ao lado ocidental da praça ouve-se um tiro e desencadeia-se o tiroteio. Um homem de barbas, passada a carruagem, dirige-se para o meio da rua, leva à cara a carabina que tinha escondida sob a sua capa, põe o joelho no chão e faz pontaria. O tiro atravessou o pescoço do Rei, matando-o imediatamente. Começa a fuzilaria: outros atiradores, em diversos pontos da praça, atiram sobre a carruagem, que fica crivada de balas.
Os populares desatam a correr em pânico. O condutor, Bento Caparica, é atingido numa mão. Com uma precisão e um sangue frio mortais, o primeiro atirador, mais tarde identificado como Manuel Buíça, professor primário expulso do Exército, volta a disparar. O seu segundo tiro vara o ombro do rei, cujo corpo descai para a direita, ficando de costas para o lado esquerdo da carruagem. Aproveitando isto, surge a correr de debaixo das arcadas um segundo regicida, Alfredo Costa, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, que pondo o pé sobre o estribo da carruagem, se ergue à altura dos passageiros e dispara sobre o rei já tombado.
A rainha, já de pé, fustiga-o com a única arma de que dispunha: um ramo de flores, gritando “Infames! Infames!” O criminoso volta-se para o príncipe D. Luís Filipe, que se levanta e saca do revólver do bolso do sobretudo, mas é atingido no peito. A bala, de pequeno calibre, não penetra o esterno (segundo outros relatos, atravessa-lhe um pulmão, mas não era uma ferida mortal) e o Príncipe, sem hesitar, aproveitando porventura a distracção fornecida pela actuação inesperada da rainha sua mãe, desfecha quatro tiros rápidos sobre o atacante, que tomba da carruagem. Mas ao levantar-se D. Luís Filipe fica na linha de tiro e o assassino da carabina atira a matar: uma bala de grosso calibre atinge-o na face esquerda, saindo pela nuca. D. Manuel vê o seu irmão já tombado e tenta estancar-lhe o sangue com um lenço, que logo fica ensopado.
A fuzilaria continua. Dª Amélia permanece de pé, gritando por ajuda. Buíça volta a fazer pontaria (sobre o infante? sobre a rainha?) mas é impedido de disparar sobre a carruagem pela intervenção de Henrique da Silva Valente, simples soldado de Infantaria 12, que passava no local, e que se lança sobre ele de mãos nuas. Na breve luta que se segue o soldado é atingido numa perna, mas a sua intervenção é providencial. Tendo voltado o seu cavalo, o oficial Francisco Figueira carrega primeiro sobre o Costa, que ferido pelo príncipe é atingido por um golpe de sabre e preso pela polícia, e de seguida dirige-se a Buíça. Este ainda o consegue atingir numa perna com a sua última bala e tenta fugir, mas Figueira alcança-o e imobiliza-o com uma estocada.
Com os regicidas imobilizados, o zelo excessivo dos polícias presentes levou a que acabassem abatidos no local, o que dificultou as posteriores investigações sobre o atentado. Segundo alguns relatos, Alfredo Costa já estaria moribundo, mas sabe-se que Manuel Buíça, mesmo ferido, resistiu à sua apreensão pela polícia. Também vítima da polícia foi um transeunte inocente, Sabino Costa, empregado de ourivesaria e monárquico, provavelmente confundido com outro regicida oculto na multidão. De facto, o condutor, a golpes de chicote, fez arrancar a carruagem, virando a esquina para a rua do Arsenal, procurando aí refúgio. É nessa altura que um atirador desconhecido ainda consegue atingir D. Manuel num braço (segundo outras versões, o tiro de raspão atingiu-o ainda antes de a carruagem virar para a rua do Arsenal, mas esse tiro já não podia partir dos dois regicidas mencionados, já a braços com a polícia). A carruagem entra no Arsenal da Marinha, onde se verifica o óbito do Rei e o do Herdeiro do Trono. Quando o Infante D. Afonso, que havia começado a correr desde o seu carro no fim do cortejo, chegou ao Arsenal, teve como primeiro instinto acusar João Franco como responsável pela tragédia. A mãe de D. Carlos, a rainha Dª Maria Pia foi chamada ao Arsenal, onde encontrando-se com Dª Amélia lhe diz desolada: “Mataram-me o meu filho.”, ao que esta respondeu: “E o meu também.”
Julgando que se tratava de um novo golpe de estado, a população de Lisboa refugia-se nas suas casas e a cidade fica deserta. Mas as tropas permanecem nos quartéis e a situação permanece calma: o atentado não foi um sinal para o golpe, que já havia sido frustrado, antes o acto de quem ainda tinha armas na mão, porventura influenciados pela repressão que se previa da parte do governo. À noite as rainhas e o novo rei foram escoltados para o palácio das Necessidades, pois temia-se novo atentado. Depois veio a tarefa macabra de levar os corpos para o palácio, o que foi feito sentando-os em duas carruagens, como se fossem vivos, a cabeça de D. Luís Filipe tombando sobre o ombro do seu tio, o infante D. Afonso, agora o novo Príncipe Real. Não foram efectuadas autópsias, sendo os corpos embalsamados sob a supervisão do médico da Casa Real, Tomás de Melo Breyner, tarefa penosa não só pela proximidade às vitimas como também pelo estrago feito pelas balas.
  
(imagem daqui)
  
As consequências imediatas
A Europa ficou revoltada com o regicídio, uma vez que D. Carlos era estimado pelos restantes Chefes de Estado europeus, e ainda mais pelo facto de não se ter tratado de um acto isolado, mas sim uma organização metódica. Jornais de todo o mundo publicam imagens do atentado, baseadas nas descrições, com elementos mais ou menos fantasiosos, mas sendo sempre presente a imagem de Dª Amélia, de pé, indiferente ao perigo, fustigando os assassinos com um frágil ramo de flores. Em Londres, os jornais exibiam fotos das campas dos regicidas, cobertas de flores, com a legenda “Lisbon’s shame!”. É preciso não esquecer, para além do próprio carácter do acto, que se tratava de uma Europa à altura maioritariamente monárquica. No entanto, no próprio país, a reacção não foi a esperada, valendo do rei de Inglaterra, Eduardo VII, amigo de D. Carlos e do Príncipe D. Luis Filipe, a frase: “Matam dois cavaleiros da Ordem da Jarreteira na rua como cães e lá no país deles ninguém se importa!”
Após o atentado, pediu a demissão o Governo de João Franco, que não impedira a morte do Rei. De facto, à imprevidência do chefe de governo cabe a maior parte das responsabilidades pela falta de uma escolta adequada, ainda mais tendo em conta o contexto de um golpe falhado, quando civis armados ainda andariam pela cidade. João Franco sabia-se alvo de atentados planeados, mas nunca desconfiou que o ódio visava também o rei. Presidindo ao Conselho de Estado, na tarde de dia 2, com o braço ao peito e envergando o seu uniforme de aspirante da marinha, o novo rei D. Manuel II confessou a sua inexperiência e falta de preparação e pediu orientação ao conselho. Este votou a demissão de João Franco e a formação de um governo de coligação, a que se chamou o Governo "de Acalmação", presidido pelo independente contra-almirante Ferreira do Amaral. Este ministério incluía membros dos partidos Regenerador e Progressista além de independentes, e visava fazer o país voltar à normalidade parlamentar, acabando-se o governo em ditadura. De facto abandonou-se completamente a posição de força seguida por D. Carlos e pelo seu último ministério: anularam-se as medidas ditatoriais anteriormente publicadas, soltaram-se os presos politicos, amnistiaram-se os marinheiros que se haviam revoltado em 1906, e consentiu-se que se fizessem comícios republicanos em que se fazia a apologia do atentado e se considerava os assassinos como beneméritos da Pátria. Outro facto permitido foi a romagem de cerca de vinte e duas mil pessoas às sepulturas dos regicidas. O evento fora organizado pela Associação do Registo Civil, que fornecia as flores e dava além de 500 réis a cada pessoa, 200 réis a cada criança que aparecesse junto das campas.
Esteve presente na reunião do Conselho de Estado que votou estas decisões, e do qual fazia parte, o Marquês de Soveral, embaixador de Portugal em Inglaterra, e que por acaso se encontrava em Portugal à altura. Próximo da família real, também votou pela demissão de João Franco e pelo estabelecimento do Governo de Acalmação. Quando, pouco tempo depois, reassumiu as suas funções de embaixador e se encontrou com o rei da Grã-Bretanha, Eduardo VII, também este seu amigo pessoal, o monarca britânico brindou-o com as palavras: “Então que raio de país é esse, em que se mata um rei e um príncipe e a primeira coisa que se faz é demitir o ministério? A revolução triunfou, não é verdade?" ”Foi só então", diria mais tarde o marquês de Soveral “que compreendi o erro que tínhamos cometido.”
De facto, ao demitir-se o ministério o regime deu aos republicanos o argumento de que só eles é que tinham acabado com a ditadura. Depois da hesitação inicial, em que se chegou a propor um pacto de colaboração com o regime, cedo voltaram à carga, decidindo em congresso o derrube pela força do regime: Congresso de Setúbal, 24 a 25 de abril de 1909. Esta hesitação deveu-se aos próprios conceitos do partido. Aos republicanos mais distintos, alguns dos quais ficaram verdadeiramente chocados pelo crime, o regicídio não interessava a menos que fosse acompanhado pelo triunfar da revolução. Temiam a reacção do povo rural mais conservador, e estavam cientes do desagrado da Inglaterra para com qualquer atentado à pessoa física do rei. No entanto, não podiam virar as costas aos seus apoiantes, o povo miúdo da cidade de Lisboa, já exacerbado pela propaganda republicana no seu ódio ao regime. Condenavam o acto, mas como se fosse por obrigação enquanto piscavam o olho ao povo que lhes enchia os comícios e se filiava no partido. Foi isto, mais o idolatrar dos regicidas e o recurso à violência depois da Proclamação da República, que fez incidir sobre o partido as suspeitas posteriores da autoria do crime. Independentemente da questão de autoria moral, o certo é que, face à fraca reacção, ou mesmo a falta dela, por parte do regime, os republicanos organizaram-se nos seus propósitos de o derrubar pela força, o que viriam a conseguir pela intentona seguinte, a de 5 de outubro de 1910. É de notar que por esta altura, e não tendo nem voltado ao expediente da ditadura, nem evitado as suas costumeiras divisões, os políticos monárquicos já haviam percebido o seu erro: como consequência deste último golpe, o governo deu ao rei para assinar um decreto de suspensão de garantias, para poder lidar firmemente com os agitadores. Infelizmente para a monarquia, essa acção foi invalidada pela vitória republicana no golpe. Embora geralmente mal vista devido às associações negativas com o termo ‘ditadura’, o governo de João Franco, ou um outro do género, apresenta-se em retrospectiva como a única solução prática para a situação que tentou solucionar: basta lembrar que a Primeira República mostrou-se ainda mais ingovernável, e as únicas acções reformistas efectivamente levadas a cabo pelo novo regime tiveram lugar durante a vigência do Governo Provisório, que governou, efectivamente, em ditadura.
   
Os Responsáveis
Dos factos conhecidos não se considera geralmente o assassínio do rei como a execução de qualquer decisão vinda dos republicanos, dos maçons e da dissidência progressista, enquanto grupos. O que não quer dizer que os mesmos grupos não tenham a sua quota parte de responsabilidade neste crime. Admitiram como hipótese eventual esta consequência e não se importaram que esta se concretizasse. Isto porque se os regicidas actuaram por sua própria iniciativa, apenas se encontraram nessa posição pela iniciativa daqueles que os mobilizaram e armaram para outros fins. Certo é que os dois abatidos no local não eram nem os únicos aí presentes, nem os únicos implicados, como se fez crer na altura. Estudos recentes vieram trazer luz sobre os responsáveis e a sua motivação, embora muito ainda esteja envolto em dúvida. Quatro autores são a base principal sobre os factos que se apuraram: Raul Brandão, António de Albuquerque, Aquilino Ribeiro e José Maria Nunes. Destes, os dois primeiros não estavam envolvidos no atentado, tendo recolhido depoimentos de terceiros. Raul Brandão falou com várias pessoas próximas à trama, e extraiu do líder dos dissidentes, José Maria Alpoim, a confissão: “Só há duas pessoas em Portugal que sabem tudo, eu e outra(...) Só eu e outro sabemos em que casa foi a reunião, quem a presidiu e quem trocou ao Buíça o revólver pela carabina.” António da Albuquerque, que estava exilado em Espanha após a publicação do seu romance difamatório para a família real "O Marquês da Bacalhoa", recebeu o testemunho de Fabrício de Lemos, um dos regicidas presentes no Terreiro do Paço, e transcreveu-o no seu livro "A execução do Rei Carlos". Aquilino Ribeiro, embora não tenha participado directamente, esteve envolvido e conhecia o plano e os assassinos, como deixou testemunho na sua obra "Um escritor confessa-se." José Maria Nunes era também um dos regicidas e deixou o seu testemunho, tendencialmente auto elogioso mas no geral credível, no escrito: "E para quê?"
Destes quatro testemunhos, só Aquilino é que refere o plano de emboscar a família real como tendo sido adoptado na ocasião, derivado do plano de assassinar João Franco, e tomado no local. Do testemunho dos outros pode-se presumir que o plano teve lugar algures em fins de 1907. Nesta altura, José Maria Alpoim associa-se à Carbonária o que leva, consecutiva e complementarmente, a um plano de aquisição de armas, o plano para um levantamento revolucionário, um plano para assassinar o primeiro ministro e outro para assassinar o Rei.
Estes planos, segundo o testemunho de José Maria Nunes, teria sido abordado pela primeira vez em Paris, no Hotel Brébant, no Boulevar Poissóniere, entre 2 políticos portugueses e alguns revolucionários franceses. O regicida não nomeia esses políticos, nem nunca se foi capaz de identificá-los, mas os revolucionários franceses provavelmente pertenceriam ao movimento anarquista internacional, dado que o embaixador português em Paris chegou a avisar que se preparava um plano contra a família real portuguesa vindo desses sectores.
Os Dissidentes foram os principais financiadores, tendo a Carbonária fornecido os homens. Sabe-se que as armas usadas no regicídio foram levantadas do armeiro Gonçalo Heitor Freire (republicano e maçon) pelo Visconde da Ribeira Brava, um dos principais membros dos dissidentes.
Aquando do fracasso da intentona do Elevador da Biblioteca, estas armas, guardadas nos Armazéns Leal, foram com sucesso transportadas para casa do dito visconde, onde ficaram escondidas. No rescaldo do fracasso e reacção do governo, sabe-se que um grupo de 18 homens se reuniu num velho casarão de Xabregas, dia 30 ou 31 (os testemunhos são contraditórios quanto à data precisa) onde se decidiu pelo assassinato da família real.
Pelo depoimento dos dois já citados regicidas sabemos a identidade de 8 dos 18 membros. Destes, todos os 8 ou apenas 5 constituíam o primeiro grupo, posicionado no Terreiro do Paço: Alfredo Costa, Manuel Buíça, José Maria Nunes, Fabrício de Lemos, Ximenes, Joaquim Monteiro, Adelino Marques e Domingos Ribeiro. O segundo grupo tomaria posição em Santos e o terceiro em Alcântara, cobrindo assim todo o caminho até ao Paço das Necessidades. Os atacantes não esperavam sobreviver ao atentado: Manuel Buíça já havia feito o seu testamento e Alfredo Costa fez questão de pagar uma dívida a um amigo. Mesmo assim, a maior parte do primeiro grupo conseguiu fugir e esconder-se na multidão, e os outros grupos não tiveram qualquer intervenção.
Pelo conjunto dos relatos pode-se concluir que o plano para matar o rei já existia previamente, não de forma independente, mas como parte do plano geral da revolta. No entanto, existe um factor curioso, provocado pelo descarrilamento da carruagem real ocorrido durante a viagem para Lisboa, referido acima. No dia do atentado, pouco depois das 4 da tarde, a 300 km da capital, em Pínzio, perto da Guarda, dois criados de José Maria Alpoim, regressando de carro depois de terem transportado o seu patrão para e exílio em Salamanca, ficam sem gasolina e são forçados a parar. Numa taberna local, e perante várias testemunhas, afirmam que aquela hora já não havia rei em Portugal, pois já tinha sido morto. Como poderiam saber? Tal seria verdade se o comboio não tivesse descarrilado. Até que ponto estava o plano já estruturado antes do golpe do elevador como plano de recurso e até que ponto estava José Maria Alpoim envolvido nisso? Estas questões permanecem sem resposta. Embora os dois regicidas caídos tenham ficado com as maiores responsabilidades na altura, o envolvimento dos dissidentes não ficou esquecido. Mal grado a sua auto-promoção depois da implantação da República, não se conseguiram livrar do efeito negativo que a suspeita de envolvimento no regicídio lhes transmitiu, e que se nota pela alcunha de Buíssidentes com que foram apodados. José Maria Alpoim e o visconde da Ribeira Brava não conseguiram singrar no novo regime. O primeiro nunca passou de adjunto do procurador e o ex-visconde foi governador civil de Lisboa mas acabou vítima da "leva da morte" de outubro de 1918.

  

quinta-feira, janeiro 31, 2019

Hoje é dia de recordar o nascimento e morte do Cardeal-Rei D. Henrique

Henrique I de Portugal (Lisboa, 31 de janeiro de 1512 - Almeirim, 31 de janeiro de 1580) foi o décimo-sétimo Rei de Portugal, tendo governado entre 1578 e a sua morte, em 1580.
Ocasionalmente é chamado de D. Henrique II por alguns autores, em virtude de ser o segundo chefe de Estado de Portugal chamado Henrique, tendo-se em linha de conta o conde D. Henrique, por aqueles chamado de D. Henrique I. É conhecido pelos cognomes de O Casto (devido à sua função eclesiástica, que o impediu de ter descendência legítima), O Cardeal-Rei (igualmente por ser eclesiástico) ou O Eborense ou O de Évora (por ter sido também arcebispo daquela cidade e aí ter passado muito tempo, e inclusivamente fundado a primeira Universidade de Évora, entregue à guarda dos Jesuítas), transformando Évora num pólo cultural importante, acolhendo alguns vultos da cultura de então: Nicolau Clenardo, André de Resende, Pedro Nunes, António Barbosa, entre outros.

Fernando Namora morreu há trinta anos

Fernando Namora (Condeixa-a-Nova, 15 de abril de 1919 - Lisboa, 31 de janeiro de 1989) de nome completo Fernando Gonçalves Namora, médico e escritor português, autor de uma extensa obra, das mais divulgadas e traduzidas nos anos 70 e 80.
Licenciado em Medicina (1942) pela Universidade de Coimbra, pertenceu à geração de 40, grupo literário que reuniu personalidades marcantes como Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado ou João José Cochofel, moldando-o, certamente, como homem, à semelhança do exercício da profissão médica, primeiro na sua terra natal depois nas regiões da Beira Baixa e Alentejo, em locais como Tinalhas, Monsanto e Pavia, até que, em 1951, acabaria por se instalar em Lisboa - onde, curiosamente, muito jovem estudara no Liceu Camões -, como médico assistente do Instituto Português de Oncologia.
O seu volume de estreia foi Relevos (1937), livro de poesia, porventura sob a influência de Afonso Duarte e do grupo da Presença. Mas já publicara em conjunto com Carlos de Oliveira e Artur Varela, um pequeno livro de contos Cabeças de Barro. Em (1938) surge o seu primeiro romance As Sete Partidas do Mundo que viria a ser galardoado com o Prémio Almeida Garrett no mesmo ano em que recebe o Prémio Mestre António Augusto Gonçalves, de artes plásticas - na categoria de pintura. Ainda estudante e com outros companheiros de geração funda a revista Altitude e envolve-se activamente no projecto do Novo Cancioneiro (1941), colecção poética de 10 volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra, assinalando o advento do neo-realismo, tendo esta iniciativa colectiva, nascida nas tertúlias de Coimbra, de João José Cochofel, demarcado esse ponto de viragem na literatura portuguesa. Na mesma linha estética, embora em ficção, é lançada a colecção dos Novos Prosadores (1943), pela Coimbra Editora, reunindo os romances Fogo na Noite Escura, do biografado, Casa na Duna, de Carlos de Oliveira, Onde Tudo Foi Morrendo, de Vergílio Ferreira, Nevoeiro, de Mário Braga ou O Dia Cinzento, de Mário Dionísio, entre outros.
Com uma obra literária que se desenvolve ao longo de cinco décadas é de salientar a sua precoce vocação artística, de feição naturalista e poética, tal como a importância do período de formação em Coimbra, mais as suas tertúlias e movimentos estudantis. Ao dar-se o amadurecimento estético do neo-realismo e coincidente com as vivências dos anos 50, enveredaria por novos caminhos, através de uma interpretação pessoal da narrativa, que o levaria a situar-se entre a ficção e a análise social. Os muitos textos que escreveu, nos diferentes momentos ou fases da vida literária, apresentam retratos com aspectos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo. Independentemente do enquadramento, Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, inseparável de uma grande sensibilidade e linguagem poética. Escreveu, para além de obras de poesia e romances, contos, memórias e impressões de viagem, com destaque para os cadernos de um escritor, que proporcionam um diálogo vivo com o leitor, a abertura a outras culturas, terras e gentes, a visão de um mundo em transformação, de uma realidade emergente, expressa em Estamos no Vento (Fevereiro de 1974).
Entre os muitos títulos que publica em prosa contam-se Fogo na Noite Escura (1943), Casa da Malta (1945), As Minas de S. Francisco (1946), (capítulo inédito publicado no nº 16 da revista Mundo literário existente entre 1946 e 1948), Retalhos da Vida de um Médico (1949 e 1963), A Noite e a Madrugada (1950), O Trigo e o Joio (1954), O Homem Disfarçado (1957), Cidade Solitária (1959), Domingo à Tarde (1961, Prémio José Lins do Rego), Os Clandestinos (1972), Resposta a Matilde (1980) e O Rio Triste (1982, Prémio Fernando Chinaglia, Prémio Fialho de Almeida e Prémio D. Dinis). Ou, as biografias romanceadas de Deuses e Demónios da Medicina (1952). Além dos títulos já referidos, publicou em poesia Mar de Sargaços (1940), Marketing (1969) e Nome para uma Casa (1984). Toda a sua produção poética seminal foi reunida numa antologia(1959) denominada As Frias Madrugadas. Escreveu ainda sobre o mundo e a sociedade em geral, na forma de narrativas romanceadas ou de anotações de viagem e reflexões críticas, sendo disso exemplo Diálogo em Setembro (1966), Um Sino na Montanha (1968), Os Adoradores do Sol (1971), Estamos no Vento (1974), A Nave de Pedra (1975), Cavalgada Cinzenta (1977), URSS, Mal Amada, Bem Amada e Sentados na Relva, ambos de (1986). Porém, foram romances como os Retalhos da Vida de um Médico, O Trigo e o Joio, Domingo à Tarde, O Homem Disfarçado ou O Rio Triste, que vieram a ser traduzidos em diversas línguas, tendo inclusive, em 1981, sido proposto para o Prémio Nobel da Literatura, pela Academia das Ciências de Lisboa e pelo PEN Clube.
Se quisermos contextualizar, sistematizar a sua obra em fases distintas de criação literária, podemos identificar: (1) o ciclo de juventude, principalmente enquanto estudante em Coimbra, coincidente com o livro-poema Terra e o romance Fogo na Noite Escura; (2) o ciclo rural, entre 1943 e 1950, representado pelas novelas Casa da Malta (escrita em 8 dias) e Minas de San Francisco, ou pelos romances A Noite e a Madrugada, O Trigo e o Joio sem esquecer os Retalhos da Vida de um Médico, cuja edição espanhola (1ª tradução) apresenta o prefácio de (Gregório Marañón); (3) o ciclo urbano, coincidente com a sua vinda para Lisboa, marcado pela solidão e vivências do quotidiano, e que se terá reflectido no romance O Homem Disfarçado, em Cidade Solitária ou no Domingo à Tarde; (4) o ciclo cosmopolita, ou seja, dos cadernos de um escritor, balizado no final dos anos 60 e década de 70, explicado pelas muitas viagens que fez, nomeadamente à Escandinávia, e pela sua participação nos encontros de Genebra; (5) o ciclo final, entre a ficção contemporânea, onde se insere o romance O Rio Triste ou Resposta a Matilde, intitulado pelo próprio divertimento, e as reflexões íntimas de Jornal sem Data (1988).
Sendo talvez uma das suas obras mais conhecidas, Retalhos da Vida de um Médico, foi a primeira a ser adaptada ao cinema, por intermédio do realizador Jorge Brum do Canto (em 1962, filme seleccionado para o Festival de Berlim), seguindo-se a série televisiva, da responsabilidade de Artur Ramos e Jaime Silva (1979-1980).
O Trigo e o Joio foi adaptado para o cinema em 1965, por Manuel Guimarães, com Manuel da Fonseca. Do mesmo realizador, para televisão e em 1969, tem-se Fernando Namora.
Domingo à Tarde (seleccionado para o Festival de Veneza), foi realizado por António de Macedo em 1965 e contou com actores como Isabel de Castro, Ruy de Carvalho e Isabel Ruth.
Em 1975, surge Fernando Namora – Vida e Obra, realizado por Sérgio Ferreira. Também em 1975 Namora colaborou na publicação periódica Jornal do Caso República (1975).
A Noite e a Madrugada, de 1985, deve a sua realização a Artur Ramos. Resposta a Matilde, de 1986, foi adaptado a televisão por Dinis Machado e Artur Ramos, com a participação de Raúl Solnado e Rogério Paulo. Em 1990, regista-se O Rapaz do Tambor, curta metragem de Vítor Silva.

Casa onde nasceu Fernando Namora em Condeixa-a-Nova
  
Casa-Museu Fernando Namora
Ali, a dois passos da Vila, o Rio de Mouros. Nasceu de um fio de água, do suor de uma rocha, entre urzes e montes. Ainda a meio da serra, é um ribeirito que não dá para matar a sede a um rebanho. Mas depois, a terra começa, subitamente, a ficar brava, com penedos que têm o ar de montanhas, e o rio despenha-se entre os silvais e as fragas em som e espuma, com um fragor que, de Inverno, com as cheias, estremece os ouvidos da serra e dos homens. – texto de 1941.
É possível visitar a casa onde Fernando Namora nasceu, e onde os seus pais abriram um pequeno estabelecimento comercial, situada no centro da vila de Condeixa, distrito de Coimbra.
Inaugurada em 30 de Junho de 1990, esta iniciativa resultou da ideia de um grupo de amigos, seus conterrâneos, que quiseram homenageá-lo através da proposta da criação de uma Casa-Museu, de modo a recordar a todos, e nas palavras do Sr. Ramiro de Oliveira, que é condeixense e que aqui viveu a sua infância e parte da mocidade.
Aberta ao público desde então, nela se pode encontrar o seu escritório, tal qual estava em Lisboa, com todos os seus livros e objectos pessoais, e que acabou por ser o destino do que fui acumulando ao longo dos anos, coisas minhas, coisas do que vi e vivi e ainda valiosas coisas alheias que de algum modo se relacionam comigo - carta de 7 de junho de 1984. 
  
  
A Mais Bela Noite do Mundo 
  
  
Hoje,
será o fim!
 
Hoje
nem este falso silêncio
dos meus gestos malogrados
debruçando-se
sobre os meus ombros nus
e esmagados!
  
Nem o luar, pano baço de cenário velho,
escutando
a minha prisão de viver
a lição que me ditavam:
- Menino! acende uma vela na tua vida,
que o sol, a luz e o ar
são perfumes de pecado.
Tem braços longos e tentadores – o dia!
  
- Menino! recolhe-te na sombra do meu regaço
que teus pés
são feitos de barro e cansaço!
  
(Era esta a voz do papão
pintado de belo
na máscara de papelão).
  
Eram inúteis e magoadas as noites da minha rua...
Noites de lua
que lembravam as grilhetas
da minha vida parada.
  
- Amanhã,
terás os mestres, as aulas, os amigos e os livros
e o espectáculo da morgue
morando durante dias
nos teus sentidos gorados.
  
Amanhã,
será o ultrapassar outra curva
no teu caminho destinado.
  
(Era esta a voz do papão
que acendia a vela, tinha regaço de sombra
e velava
as noites da minha rua e a minha vida
e pintava-se de belo
na máscara de papelão).
  
Hoje,
será o fim!
  
Hoje,
nem a sombra do que há-de vir,
nem os mestres, nem os amigos, nem os livros,
nem a fragilidade dos meus pés
feitos de barro e cansaço!
Todas as minhas revoltas domadas,
todos os meus gestos em meio
e as minhas palavras sufocadas
terão a sua hora de viver e amar!
  
Hoje,
nem o cadáver a sorrir na morgue,
nem as mãos que ficaram angustiosas,
arrepiadas
no seu medo de findar!
  
Hoje,
será a mais bela noite do mundo!
 
 
in Mar de Sargaços (1940) - Fernando Namora

quarta-feira, janeiro 30, 2019

A Grande Batalha de Pernes foi há 185 anos


(imagem daqui)
   
Na localidade de Pernes ocorreram, com pouco tempo a separar os dois eventos, duas refregas militares. A primeira, o Combate de Pernes foi uma batalha ocorrida na vila portuguesa de Pernes, em 1833.
  
Assim, a 11 de novembro de 1833, Pernes foi palco de uma batalha entre tropas do Marechal Saldanha e as tropas Miguelistas que guardavam os moinhos da Ribeira de Pernes, onde se abastecia de farinha o Rei D. Miguel e as suas tropas acantonadas em Almeirim. As tropas do Marechal Saldanha, numa acção de surpresa, conseguem destruir grande parte dos moinhos e pôr em debandada as tropas de D. Miguel.
Já no ano seguinte, a 30 de janeiro de 1834, dá-se, porém, a Grande Batalha de Pernes, que ficou conhecida na história como a Retirada de Pernes, em que as tropas do Marechal (e futuro Duque) de Saldanha infligem pesada derrota às tropas de D. Miguel, chefiadas pelo Marechal de Campo Canavarro, com cerca de 900 baixas, a maior parte afogados no Rio Alviela.
Batalha decisiva para pôr termo à Guerra Civil entre Liberais e Miguelistas, nesta batalha tem acção preponderante o Tenente General Pedro Paulo Ferreira de Sousa, a quem virá a ser atribuído o título de 1º Barão de Pernes.
  

O historiador e humanista Damião de Góis morreu há 445 anos

Damião de Góis em desenho de Dürer, Galeria Albertina, Viena
Damião de Góis (Alenquer, 2 de fevereiro de 1502 - Alenquer, 30 de janeiro de 1574) foi um historiador e humanista português, relevante personalidade do renascimento em Portugal. De mente enciclopédica, foi um dos espíritos mais críticos da sua época, verdadeiro traço de união entre Portugal e a Europa culta do século XVI.
Biografia
De família nobre, Damião de Góis era filho do almoxarife Rui Dias de Góis, valido do Duque de Aveiro, e da sua quarta esposa, Isabel Gomes de Limi, descendente de Nicolau de Limi, fidalgo flamengo que se estabeleceu em Portugal.
Devido à morte do seu pai, a formação de Damião de Góis foi feita na corte de D. Manuel I, a qual integrou aos nove anos, como moço de câmara, e onde passou 10 anos contactando com figuras como Cataldo Sículo. Em 1523 foi colocado por D. João III como secretário da Feitoria Portuguesa de Antuérpia - também, em atenção à sua ascendência flamenga.
Efetuou várias missões diplomáticas e comerciais na Europa entre 1528 e 1531. Em 1533 abandonou o serviço oficial do governo português e dedicou-se exclusivamente aos seus propósitos de humanista. Em viagens pela Europa do Norte, contactou com eminentes humanistas e reformadores, conhecendo pessoalmente Lutero, Melanchthon e tornando-se amigo íntimo do humanista holandês Erasmo de Roterdão, com quem conviveu em Basileia em 1534 e que o guiou nos seus estudos, assim como nos seus escritos.
Estudou em Pádua entre 1534 e 1538 onde foi contemporâneo dos humanistas italianos Pietro Bembo e Lazzaro Buonamico. Pouco tempo depois fixou-se em Lovaina por um período de seis anos. Damião de Góis foi feito prisioneiro durante a invasão francesa da Flandres mas foi libertado pela intervenção de Dom João III, que o trouxe para Portugal. Versátil e culto, tornou-se escritor, músico, compositor, colecionador de arte e mecenas. Entre as obras por si coleccionadas é frequentemente atribuído o tríptico de As Tentações de Santo Antão, do pintor holandês Hieronymus Bosch.
Publicou diversas obras humanistas e historiográficas, que lhe valeram a perseguição por alguns elementos do clero português. Quando regressou definitivamente a Portugal, em 1545, foram-lhe movidos dois processos no Tribunal do Santo Ofício. Arquivados os mesmos, em 1548 foi nomeado guarda-mor dos Arquivos Reais da Torre do Tombo, e dez anos mais tarde foi escolhido pelo cardeal D. Henrique para escrever a crónica oficial do rei D. Manuel I, que foi completada em 1567.
No entanto, apesar do rigor historiográfico, este seu trabalho desagradou a algumas famílias nobres, e em 1571 Damião de Góis caiu nas garras do Santo Ofício (Inquisição). Sem a protecção do cardeal-regente, foi preso, sujeito a processo e depois, em 1572, foi transferido para o Mosteiro da Batalha. Abandonado pela sua família, apareceu morto, com suspeitas de assassinato, na sua casa de Alenquer, em 30 de janeiro de 1574, sendo enterrado na igreja de Santa Maria da Várzea, da mesma vila, que mandara restaurar em 1560.
Em 1940, devido a ruína, a capela, que incluía o túmulo de Damião de Góis e da sua mulher, Joana van Hargen, foi trasladada para a atual igreja de São Pedro, de Alenquer, onde se encontra hoje e está classificado como Monumento Nacional desde 1910. Nas paredes laterais foi inserida a pedra com as armas de Damião de Góis, dadas ao escritor pelo imperador Carlos V, e as de Joana van Hargen e o curioso epitáfio tumular de Damião de Góis, escrito pelo próprio em 1560, cerca de quinze anos antes da morte, com o busto e o texto em latim: "Ao maior e óptimo Deus. Damião de Goes, cavaleiro lusitano fui em tempos; corri toda a Europa em negócios públicos; sofri vários trabalhos de Marte; as musas, os príncipes e os varões doutos amaram-me com razão; descanso neste túmulo em Alenquer, aonde nasci, até que aquele dia acorde estas cinzas."

O príncipe-herdeiro Rodolfo de Habsburgo morreu há 130 anos

O arquiduque Rodolfo de Habsburgo (Viena, 21 de agosto de 1858 - Mayerling, 30 de janeiro de 1889) foi o único filho do imperador Francisco José I da Áustria e da sua consorte, a imperatriz Sissi.
  
Infância
O Arquiduque Rudolfo Francisco Carlos José (mais tarde príncipe-herdeiro) nasceu no dia 21 de agosto de 1858, no Schloss Laxenburg, um castelo perto de Viena, filho do Imperador Francisco José I e da Imperatriz Isabel da Áustria. Influenciado pelo seu tutor, Ferdinand von Hochstetter, que mais tarde se tornaria no primeiro director do Museu Imperial de História Natural, Rudolfo interessava-se muito pelas ciências naturais, começando uma colecção de minerais ainda em criança. Após a sua morte, esta colecção ficou na posse da Universidade de Agricultura de Viena.
Rudolfo foi educado ao lado da sua irmã mais velha, Gisela, pela sua avó paterna, a Arquiduquesa Sofia. A filha mais velha dos seus pais, Sofia, morreu aos dois anos de idade, antes de Rudolfo nascer enquanto que a sua irmã mais nova, Maria Valéria, nasceu dez anos depois dele. Assim, Gisela e Rudolfo cresceram juntos e eram muito chegados. Quando Rudolfo completou seis anos de idade, os dois foram separados, uma vez que ele começou a sua educação para se tornar no futuro Imperador. Isto não afectou a relação dos dois e Gisela continuou muito chegada a ele até deixar Viena devido ao seu casamento com o Príncipe Leopoldo da Baviera. A despedida entre os dois irmãos foi muito emotiva.
  
Casamento
Rodolfo recebeu uma educação destinada a convertê-lo em digno sucessor de seu pai e continuador do seu regime político, mas o príncipe-herdeiro tinha o temperamento artístico da sua mãe. Foi um reconhecido mulherengo e, na política, simpatizava com as ideias liberais e os movimentos nacionalistas húngaros.
O seu casamento, de conveniência, em 1881, com Estefânia da Bélgica, filha do rei Leopoldo II da Bélgica, foi uma farsa desde o início, pois Rodolfo jamais renunciou às suas aventuras amorosas. Eles tiveram apenas uma filha, Elisabeth Marie da Áustria, que ficou conhecida na história como a "arquiduquesa vermelha".
Em 1888, conheceu Mary Vetsera, uma bela e aristocrata de origem húngara.
   
Morte
A 30 de janeiro de 1889, Rodolfo foi encontrado morto no seu quarto do pavilhão de caça de Mayerling, no que ficou conhecido como incidente de Mayerling. Junto a ele, estava a pistola que supostamente teria usado para disparar sobre si e, sobre a cama, o corpo, também sem vida, da sua amante, Mary Vetsera, de dezassete anos, com uma bala na cabeça. Tudo apontava para um caso de pacto de suicídio, mas ninguém podia acreditar que Rodolfo, de trinta anos, tivesse tirado a sua própria vida voluntariamente.
Além disso, as torpes tentativas do governo austríaco para ocultar os pormenores do acontecimento e a presença de alguns estranhos em Mayerling induziam a pensar que poderia tratar-se de um assassinato. Houve mesmo rumores de que o cadáver do arquiduque tinha cortes feitos por sabre e que lhe faltava uma mão, que havia sido cortada pelos seus supostos assassinos e que, para ocultá-lo, lhe teriam posto luvas com recheio a fingir de mão.
A partir daí, formularam-se todos os tipos de teorias sobre a sua morte:
  • Que se suicidou com a sua amante porque a sua conspiração política contra o pai tinha fracassado;
  • Que se suicidou "por amor", já que não podia divorciar-se da sua esposa, que detestava e que não podia dar-lhe filhos varões, e casar-se com a sua amante húngara. Tinha chegado a pedir ao Papa que anulasse o seu matrimónio para casar-se com a baronesa Vetsera, o que evidentemente lhe foi negado;
  • Que não se suicidou, mas que foi assassinado pelos próprio serviço secreto austríaco, já que as suas ideias tinham colocado em perigo o Império em caso de suceder a seu pai, ou porque já tinha conspirado com os nacionalistas húngaros, ou porque poderia proclamar-se Rei de uma Hungria independente. Tal teoria acusa Francisco José I de mandar assassinar o filho;
  • A Imperatriz da Áustria, Zita de Bourbon-Parma, disse antes de morrer que Rodolfo tinha sido vítima de um golpe organizado pelos serviços secretos franceses, obrigados a silenciá-lo após o herdeiro arrepender-se de ter chegado a um acordo com eles para trair o seu pai e ocupar o trono, com o fim de isolar a Alemanha;
  • Outras versões sustentam que se trata de um simples caso de amor e ciúme, um crime organizado pela mulher de Rodolfo depois da sua decisão de repudiá-la para casar-se com Vetsera.
      

O último concerto dos Beatles foi ha cinquenta anos

The Beatles foi uma banda de rock britânica, formada em Liverpool em 1960. É o grupo musical mais bem-sucedido e aclamado da história da música popular. A partir de 1962, o grupo era formado por John Lennon (guitarra rítmica e voz), Paul McCartney (baixo e voz), George Harrison (guitarra solo e coros) e Ringo Starr (bateria e coros). Surgida a partir do skiffle e do rock and roll da década de 1950, a banda veio mais tarde a assumir diversos géneros que vão do folk rock ao rock psicadélico, muitas vezes incorporando elementos da música clássica e outros, em formas inovadoras e criativas. A sua crescente popularidade, que a imprensa britânica chamava de "Beatlemania", fez com que eles crescessem em sofisticação. Os Beatles vieram a ser reconhecidos como a encarnação de ideais progressistas e a sua influência se estendeu até às revoluções sociais e culturais da década de 60.

(...)

Prédio da Apple Records, Savile Row, n.º 3, o lugar do concerto Let It Be, feito no telhado do prédio

Último concerto
Em janeiro de 1969, os Beatles iniciaram um projeto cinematográfico que documentaria a realização de sua próxima gravação, originalmente intitulado Get Back. Durante as sessões de gravação, a banda realizou a sua última apresentação ao vivo, no último andar do edifício da Apple Corps, em Londres, na tarde fria de 30 de janeiro de 1969. A maior parte da apresentação foi filmada e, posteriormente, incluída no filme Let It Be. A ideia de tocar no telhado do prédio foi de Lennon. O concerto parou a rua inteira do prédio e, rapidamente, o lugar ficou lotado de pessoas; inclusive, os vizinhos da rua logo começaram a ver das janelas, varandas e telhados o concerto. Os Beatles tocaram durante quarenta minutos, até a polícia londrina interferir, pedindo que baixassem o volume dos instrumentos; Mal Evans explicou que não era um qualquer que estava tocando, mas sim os Beatles. A apresentação terminou antes do previsto, e tornou-se famosa.
   
in Wikipédia
   

O Domingo Sangrento foi há 47 anos

O Padre Edward Daly (futuro Bispo de Derry) com a bandeira branca manchada de sangue, tentando levar Jackie Duddy, ferido de morte
  
Domingo Sangrento (em gaélico: Domhnach na Fola, Bloody Sunday, em inglês) foi um confronto entre manifestantes católicos e protestantes, e o exército inglês ocorrido na cidade de Derry, na Irlanda do Norte, no dia 30 de janeiro de 1972. O movimento teve início com um protesto de dez mil manifestantes que pretendiam, saindo do bairro de Creggan em marcha pelas ruas católicas da cidade, chegar até a Câmara Municipal. Antes disso, entretanto, os soldados ingleses partiram para ofensiva e disparam contra os manifestantes, deixando 14 ativistas católicos mortos e 26 feridos.
Das catorze vítimas mortas, seis eram menores de idade e um sétimo ferido faleceu meses depois do incidente. Todas as vítimas estavam desarmadas e cinco delas foram alvejadas pelas costas. Os manifestantes protestavam contra a política do governo norte-irlandês de prender sumariamente pessoas suspeitas de atos terroristas. O incidente, que entrou para a história da ilha, era para apoiar o Exército Republicano Irlandês, o IRA, uma organização clandestina que lutava pela separação da Irlanda do Norte da Grã-Bretanha e posterior união com a República da Irlanda. Após o "Domingo Sangrento", o IRA ganhou um número enorme de jovens voluntários, dando força ainda maior a esse movimento de guerrilha. Em memória da data, foi feita a canção "Sunday Bloody Sunday!" em 1983, pela banda irlandesa U2. Paul McCartney também tratou do incidente, na canção "Give Ireland Back To The Irish", lançada em compacto com sua então nova banda, os Wings, em fevereiro de 1972.
Duas investigações foram realizadas pelo Governo britânico. O Widgery Tribunal, realizada no rescaldo do evento, ilibou em grande parte os soldados britânicos e as autoridades da responsabilidade, mas foi criticado por muitos como um "branqueamento" do incidente, incluindo pelo antigo chefe de equipe de Tony Blair, Jonathan Powell. O Inquérito Saville, iniciado em 1998 para analisar os acontecimentos novamente (presidida por Lord Saville de Newdigate), apresentou um relatório, em 2010,  que mostrava que os soldados e autoridades do Reino Unido procederam de forma errada, levando à apresentação de desculpas às famílias das vítimas por parte do Primeiro Ministro do Reino Unido.
O Exército Republicano Irlandês (IRA) iniciara a sua campanha contra a Irlanda do Norte ser uma parte do Reino Unido havia dois anos antes do Bloody Sunday, mas a interpretação do evento impulsionaram enormemente o recrutamento e o apoio à organização.
O Bloody Sunday continua entre os mais importantes eventos dos apelidados Troubles da Irlanda do Norte, principalmente devido ao facto de ter sido levado a cabo pelo exército britânico.
  
  
Mural by Bogside Artists depicting all who were killed by the British Army on the day
The death
  • John (Jackie) Duddy. Shot in the chest in the car park of Rossville flats. Four witnesses stated Duddy was unarmed and running away from the paratroopers when he was killed. Three of them saw a soldier take deliberate aim at the youth as he ran. He is the uncle of the Irish boxer John Duddy.
  • Patrick Joseph Doherty. Shot from behind while attempting to crawl to safety in the forecourt of Rossville flats. Doherty was the subject of a series of photographs, taken before and after he died by French journalist Gilles Peress. Despite testimony from "Soldier F" that he had fired at a man holding and firing a pistol, Widgery acknowledged that the photographs showed Doherty was unarmed, and that forensic tests on his hands for gunshot residue proved negative.
  • Bernard McGuigan. Shot in the back of the head when he went to help Patrick Doherty. He had been waving a white handkerchief at the soldiers to indicate his peaceful intentions.
  • Hugh Pius Gilmour. Shot through his right elbow, the bullet then entering his chest as he ran from the paratroopers on Rossville Street. Widgery acknowledged that a photograph taken seconds after Gilmour was hit corroborated witness reports that he was unarmed, and that tests for gunshot residue were negative.
  • Kevin McElhinney. Shot from behind while attempting to crawl to safety at the front entrance of the Rossville Flats. Two witnesses stated McElhinney was unarmed.
  • Michael Gerald Kelly. Shot in the stomach while standing near the rubble barricade in front of Rossville Flats. Widgery accepted that Kelly was unarmed.
  • John Pius Young. Shot in the head while standing at the rubble barricade. Two witnesses stated Young was unarmed.
  • William Noel Nash. Shot in the chest near the barricade. Witnesses stated Nash was unarmed and going to the aid of another when killed.
  • Michael M. McDaid. Shot in the face at the barricade as he was walking away from the paratroopers. The trajectory of the bullet indicated he could have been killed by soldiers positioned on the Derry Walls.
  • James Joseph Wray. Wounded then shot again at close range while lying on the ground. Witnesses who were not called to the Widgery Tribunal stated that Wray was calling out that he could not move his legs before he was shot the second time.
  • Gerald Donaghey. Shot in the stomach while attempting to run to safety between Glenfada Park and Abbey Park. Donaghey was brought to a nearby house by bystanders where he was examined by a doctor. His pockets were turned out in an effort to identify him. A later police photograph of Donaghey's corpse showed nail bombs in his pockets. Neither those who searched his pockets in the house nor the British army medical officer (Soldier 138) who pronounced him dead shortly afterwards say they saw any bombs. Donaghey had been a member of Fianna Éireann, an IRA-linked Republican youth movement. Paddy Ward, a police informer who gave evidence at the Saville Inquiry, claimed that he had given two nail bombs to Donaghey several hours before he was shot dead.
  • Gerard (James) McKinney. Shot just after Gerald Donaghey. Witnesses stated that McKinney had been running behind Donaghey, and he stopped and held up his arms, shouting "Don't shoot! Don't shoot!", when he saw Donaghey fall. He was then shot in the chest.
  • William Anthony McKinney. Shot from behind as he attempted to aid Gerald McKinney (no relation). He had left cover to try to help Gerald.
  • John Johnston. Shot in the leg and left shoulder on William Street 15 minutes before the rest of the shooting started. Johnston was not on the march, but on his way to visit a friend in Glenfada Park. He died 4½ months later; his death has been attributed to the injuries he received on the day. He was the only one not to die immediately or soon after being shot.
 

Carlos I, rei de Inglaterra, Escócia e Irlanda, foi executado há 370 anos

Carlos I (Dunfermline, 19 de novembro de 1600Londres, 30 de janeiro de 1649) foi o rei dos três reinos da Inglaterra, Escócia e Irlanda de 27 de março de 1625 até à sua execução em 1649.
Carlos era o segundo filho do rei Jaime VI da Escócia; quando seu pai herdou o trono inglês em 1603 ele foi para a Inglaterra, onde passou a maior parte de sua vida. Ele tornou-se herdeiro aparente das três coroas quando o seu irmão Henrique Frederico morreu em 1612. Uma tentativa, mal sucedida e impopular, de casar Carlos com uma princesa espanhola, culminou com uma visita de oito meses a Espanha em 1623, demonstrando a futilidade das negociações de casamento. Dois anos depois, ele casou com a francesa Henriqueta Maria.
Depois de sua sucessão, Carlos começou uma luta pelo poder contra o parlamento inglês, tentando obter uma receita enquanto o parlamento tentava restringir sua prerrogativa real. Ele acreditava no direito divino dos reis e achou que podia governar de acordo com a sua consciência. Muitos de seus súbditos eram contra as suas políticas, particularmente as suas interferências nas igrejas inglesa e escocesa e o aumento de impostos, sem o consentimento parlamentar, vendo as suas ações como de um monarca absoluto tirano.
As políticas religiosas de Carlos, junto com o seu casamento com uma católica, geraram antipatia e desconfiança entre grupos reformistas, como os puritanos e calvinistas, que o viam como muito católico. Ele apoiava clérigos controversos como Ricardo Montagu e Guilherme Laud, quem Carlos nomeou Arcebispo da Cantuária, falhando em ajudar as forças protestantes durante a Guerra dos Trinta Anos. As suas tentativas de forçar reformas religiosas na Escócia gerou as Guerras dos Bispos, aumentou a oposição dos parlamentos inglês e escocês e ajudou a precipitar sua queda.
A partir de 1642, Carlos lutou contra as forças dos dois parlamentos na Guerra Civil Inglesa. Depois de ser derrotado, em 1645, ele entregou-se às forças escocesas, que o entregaram ao parlamento inglês. Carlos recusou-se a aceitar as exigências de uma monarquia constitucional e fugiu em novembro de 1647. Recapturado na Ilha de Wight, criou uma aliança com a Escócia, porém o Exército Novo de Oliver Cromwell consolidou o seu controle da Inglaterra, no final de 1648. Carlos foi julgado, condenado e executado por traição, em janeiro de 1649. A monarquia foi abolida e uma república foi declarada. O Interregnum inglês terminou em 1660 e a monarquia foi restaurada com seu filho Carlos II.

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Gravura contemporânea alemã da decapitação de Carlos I
  
Julgamento, execução e canonização pela Igreja Anglicana
Em 1649, a Câmara dos Comuns cria uma corte para o julgamento de Carlos. Era a primeira vez que um monarca seria julgado na história da Inglaterra. No dia 29 de janeiro do mesmo ano, Carlos foi condenado a morte por decapitação. Ele foi decapitado no dia seguinte, do lado de fora da Banqueting House. O monarca foi enterrado no dia 7 de fevereiro na Capela de São Jorge (Castelo de Windsor), no Castelo de Windsor, numa cerimónia privada.
Durante o reinado de seu filho, Carlos II, Carlos I foi oficialmente canonizado pela Igreja Anglicana como "Rei Carlos, o Mártir" e "São Carlos Stuart", o único santo a ser oficialmente canonizado pela Comunhão Anglicana. A data de sua festa litúrgica varia dependendo dos calendários anglicanos locais. Ele é considerado um mártir que morreu pela preservação da sucessão apostólica na Igreja Anglicana. Há muitas sociedades dedicadas à sua devoção.
  
Brasão de Carlos como Rei da Inglaterra