quinta-feira, julho 04, 2019

Piazzolla morreu há 27 anos

Ástor Pantaleón Piazzolla (Mar del Plata, 11 de março de 1921 - Buenos Aires, 4 de julho de 1992), filho dos imigrantes italianos Vicente Piazzolla e Asunta Manetti, foi um bandeonista e compositor argentino.
Aos quatro anos foi com a sua família viver em Nova York em busca de melhores condições de vida. No seu período norte-americano tornou-se fluente em espanhol, inglês, italiano e francês e iniciou o seu interesse pela música. Em 1929 teve o seu primeiro bandóneon, dado pelo seu pai, e em 1933 começou a ter aulas de piano com Bela Wilde, um pianista húngaro discípulo de Serguéi Rachmaninov. Em Nova York conheceu o cantor argentino de Tango Carlos Gardel, enquanto este estava na cidade para rodar o filme El día que me quieras, onde atuou como um rapaz entregador de jornais.
Compositor de tango mais importante da segunda metade do século XX, estudou harmonia e música erudita com a compositora e diretora de orquestra francesa Nadia Boulanger. Em sua juventude, tocou e realizou arranjos orquestrais para o bandoneonista, compositor e diretor Aníbal Troilo.
Quando começou a fazer inovações no tango, no ritmo, no timbre e na harmonia, foi muito criticado pelos tocadores de tango mais antigos. Ao voltar de Nova Iorque, Piazzolla já mostrava a forte influência do jazz em sua música, estabelecendo então uma nova linguagem, seguida até hoje.
Quando os mais ortodoxos, durante a década de 60, bradaram que a música dele não era de facto tango, Piazzolla respondia-lhes que era música contemporânea de Buenos Aires. Para seus seguidores e apreciadores, essa música certamente representava melhor a imagem da metrópole argentina.
Piazzola deixou uma discografia invejável, tendo gravado com Gary Burton, Tom Jobim, entre outros músicos que o acompanharam, como o também notável violinista Fernando Suarez Paz.
Entre seus mais destacados parceiros na Argentina estão a cantora Amelita Baltar e o poeta Horacio Ferrer, além do escritor Jorge Luís Borges.
Algumas de suas composições mais famosas são Libertango e Adiós Nonino. Libertango é uma das mais conhecidas, sendo que esta e constantemente tocada por diversas orquestras de todo o mundo.
A canção Adiós Nonino, outra das mais conhecidas composições, foi feita em homenagem a seu pai, quando este estava no leito de morte, Vicente “Nonino” Piazzolla em 1959. Após vinte anos, Astor Piazzola diria “Talvez eu estivesse rodeado de anjos. Foi a mais bela melodia que escrevi e não sei se alguma vez farei melhor.” Por muito tempo recusou escrever ou encaixar textos a sua grande obra-prima, porém, aceitou a proposta da cantora argentina Eladia Blásquez que lhe apresentou um poema que havia escrito soba a versão musical, e ele, comovido, concordou. Eladia renunciou qualquer direito de autor, enaltecendo ainda mais a grande obra do tango.
 
 

Hoje é o Dia da Independência dos Estados Unidos

O Dia da Independência dos Estados Unidos (em inglês: Independence Day of The Fourth of July) é um feriado nacional que celebra o dia 4 de julho nos Estados Unidos. Esse dia marca a Declaração de Independência de 1776, ano em que as Treze Colónias declararam a separação formal do Império Britânico. O Dia da Independência é o feriado mais festejado dos Estados Unidos e têm forte influência sobre a cultura americana em geral, tendo sido retratado nos mais diversos veículos dos media. O Dia da Independência é igualmente o dia nacional dos Estados Unidos.

Hoje é dia de Coimbra e da Rainha Santa Isabel!



quarta-feira, julho 03, 2019

Not Fade Away...!



Laura Branigan nasceu há 62 anos

Laura Ann Branigan Kruteck (Brewster, 3 de julho de 1957East Quogue, 26 de agosto de 2004) foi uma cantora e atriz norte-americana conhecida mundialmente como Laura Branigan.
Laura nasceu em 3 de julho de 1957 em Brewster, no Condado de Putnam, estado de Nova Iorque.
Casou-se em 1981 com o advogado Lawrence Kruteck, 20 anos mais velho que ela. Pouco depois de ter sido diagnosticado um cancro do cólon ao seu marido, retirou-se temporariamente da cena musical, em 1994, para o acompanhar nos tratamentos, até à morte do seu companheiro, em 15 de junho de 1996.
Ficou mundialmente famosa devido a grandes hits músicais como "Gloria", "Solitaire", "How Am I Supposed To Live Without You, "Self Control", "Ti Amo", "Spanish Eddie", "I Found Someone", "Power of Love", "Shattered Glass", "Never In A Million Years" e "Over You".
Faleceu subitamente, em sua casa, em Long Island, Nova Iorque, a 26 de agosto de 2004, vítima de um aneurisma cerebral não-diagnosticado. Tinha apenas 47 anos de idade.
Laura Branigan começou a carreira fazendo coros para Leonard Cohen, nos anos 70, e no ano de 1973 entrou para a banda Meadow no qual fez alguns vocais a solo, porém a banda não obteve sucesso, e desapareceu no mesmo ano.
Em 1981 seria lançado o seu primeiro álbum solo, intitulado "Silver Dreams". Deste álbum algumas faixas chegaram a ser executadas em rádios, o single "Looking For A Number One" chegou a ser lançado oficialmente e a canção "Fools Affair" teve um video-clipe. Porém nas vésperas de lançamento o álbum foi cancelado.
Tornou-se conhecida do público em 1982, após o sucesso de "Gloria", versão de uma canção do cantor e compositor italiano Umberto Tozzi que lhe rendeu a sua primeira indicação ao Grammy. E assim, veio o primeiro álbum solo intitulado "Branigan", além de "Glória" o álbum tem outros sucessos como "All Night With Me".
Em 1983 lançou seu segundo álbum intitulado "Branigan 2" e trouxe as baladas românticas "Solitaire" e "How Am I Supposed to Live Without You" (gravada mais tarde por Michael Bolton) que conseguiram manter o nível de sucesso atingido por "Gloria". A cantora também gravou neste mesmo ano a canção "Imagination" para a trilha sonora de "Flashdance", e também fez sua primeira atuação como atriz no episódio "Fox Trap" do seriado CHiPs no qual interpretou a personagem "Sarah".
Em 1984 lançou o seu terceiro álbum intitulado "Self Control", versão do italiano Raf, cujo vídeo, dirigido por William Friedkin, foi inicialmente banido da MTV por ser muito "sexualmente sugestivo". Além de "Self Control" o álbum teve outros singles de sucesso como "The Lucky One" e "Ti Amo", nova versão de um sucesso de Tozzi. Foi o álbum mais vendido de Laura Branigan. No mesmo ano gravou a canção "Hot Night" para a banda sonora do filme "Ghostbusters" ("Os Caça-Fantasmas") e participou da série Automan no episódio "Murder MTV". Ainda em 1984 gravou a canção "Sharp-Shooter", para o filme "Body Rock".
1985 é o ano do álbum "Hold Me", o seu quarto álbum de estúdio. Este álbum trouxe grandes sucessos como "Spanish Eddie", "I Found Someone" (dois anos depois regravada por Cher) e "Maybe Tonight". Trouxe também sucessos moderados como "Forever Young" (regravação de um sucesso do grupo Alphaville) e "Tenderness". Neste mesmo ano Laura Branigan atua no seu primeiro papel de protagonista, no filme Mugsy's Girls, também conhecido como Delta Pi. No filme Laura interpreta "Monica", e contracena com Ruth Gordon.
Em 1987 foi lançado o quinto álbum, "Touch", que incluía o tema "Shattered Glass" produzido por Stock-Aitken & Waterman. Esse disco teve como grande sucesso a canção "The Power of Love", regravação da canção de Jennifer Rush que havia feito algum sucesso dois anos antes. Porém, na versão de Branigan o "The" foi omitido do título, ficando apenas "Power of Love". O álbum teve também sucessos moderados como "Cry Wolf" e "Spirit of Love".
No ano de 1988 Laura Branigan protagoniza o seu segundo filme chamado Backstage. No filme seu personagem é "Kate Lawrence" uma estrela pop americana. No mesmo ano gravou o dueto "Come Into My Life" com Joe Esposito, para a banda sonora de Um príncipe em Nova York; e também "Your Love" para o filme Salsa - O Filme Quente.
Em 1990 lançou o seu sexto álbum de estúdio como o nome de "Laura Branigan (álbum)". O álbum teve grande repercussão, e trouxe sucessos como "Moonlight On Water" e "Never In A Million Years". Músicas que não foram singles oficiais também ganharam popularidade como é o caso da balada romântica "No Promise, No Guarantee" e as dançáveis "Turn The Beat Around" e "Reverse Psychology".
Em 1991 atuou na série Monsters no episódio "A Face fo Radio", onde interpretou a personagem "Amanda Smith-Jones".
Em 1993 foi o ano de "Over My Heart", o sétimo álbum de estúdio da cantora. Este porém, não foi muito bem aceite pela crítica, talvez pelo facto de ser um álbum mais independente e pessoal de Laura Branigan. Mas mesmo assim teve como grande sucesso a canção "Over You", e sucessos moderados como "Didn't We Almost Win It All" e "It's Been Hard Enough Getting Over You".
Em 1995 lançou "Dim All the Lights", regravação da canção de Donna Summer, que seria o seu último single, para a sua primeira coletânea oficial chamada "The Best of Branigan" a coletânea trouxe também a regravação de "Show Me Heaven". Neste mesmo ano Laura Branigan afastou-se definitivamente da indústria musical para cuidar do marido, a quem havia sido diagnosticado cancro.
Em 2002 interpretou Janis Joplin na peça Love, Janis, sendo alternante da cantora Amy Jo Johnson. A peça musical, que ganhou notoriedade como um tributo à cantora Janis Joplin, foi exibida no circuito teatral fora da Broadway. Ainda nesse ano, "Self Control" foi incluída no popular jogo eletrónico Grand Theft Auto: Vice City.
Em 2004, ano da sua morte, foi lançado o álbum "Remember Me: The Last Recordings" que contém algumas faixas inéditas gravadas por Branigan e novos vocais para "Gloria" e "Self Control". O álbum teve quatro singles "The Challenge", "The Winner Takes It All" (regravação do grupo ABBA), "Gloria 2004" e "Self Control 2004".
Em 2006 o seu maior hit "Gloria" foi incluído na banda sonora do popular jogo eletrónico Grand Theft Auto: Vice City Stories
Em 2007 o seu hit "How Am I Supposed to Live Without You" apareceu na série Todo Mundo Odeia o Chris, no episódio "Everybody Hates the Bachelor Pad". E no mesmo ano o hit "Self Control" tocou na série Arquivo Morto no episódio "Shuffle, Ball Change".
  
 

A Batalha de Gettysburg foi há 156 anos

  
A Batalha de Gettysburg (1 a 3 de julho de 1863), ocorrida nos arredores e dentro da cidade de Gettysburg, Pensilvânia, foi a batalha com o maior número das vítimas na Guerra Civil dos EUA e ponto culminante da segunda invasão do norte pelo exército confederado do general Robert E. Lee. A vitória das forças federais é frequentemente citada, juntamente com a queda da Vicksburg, como o ponto de inflexão da guerra, a partir do qual a iniciativa passaria em definitivo para as mãos da União. Entretanto, a importância estratégica da batalha continua sendo um assunto de controvérsia.
  

Brian Jones morreu há cinquenta anos

Lewis Brian Hopkin Jones (Cheltenham, Gloucestershire, 28 de fevereiro de 1942 - Essex, 3 de julho de 1969) foi um músico inglês e membro-fundador da banda The Rolling Stones.
Filho de um engenheiro da marinha inglesa, Lewis Jones, com uma dona de casa, Brian era conhecido pela sua versatilidade musical, tocando vários instrumentos diferentes, ainda que se tenha notabilizado como guitarrista da banda. Músico de origem clássica (Brian aprendeu a tocar com sua mãe que ministrava aulas de piano numa igreja próxima) era inicialmente o único músico da banda capaz de ler e escrever partituras.
Durante o seu período nos Rolling Stones ele manteve uma imaginação que gerou o Rolling Stones Rock'n Roll Circus, entre outros. Costumava usar roupas extravagantes, além de um estilo de vida baseado no "sexo, drogas e rock'n roll".
Apesar da fama e fortuna originada pelo sucesso da banda, Brian acabou por ceder ao uso desregrado de drogas, o que lhe valeu a saída do grupo, a 8 de junho de 1969. Menos de um mês depois, no dia 3 de julho, Brian foi encontrado afogado na piscina da sua casa, Cotchford Farm, em Sussex, antiga casa do escritor A. A. Milne, criador do Ursinho Pooh, que o músico adorava. Desde a sua morte, tida oficialmente como acidental, muitas dúvidas e livros encheram os media, alimentando muitas teorias da conspiração.
Apesar dos poucos anos de vida é considerado um dos mentores do estilo adotado pela banda. Deixou um grande número de fãs que prestam culto à sua imagem e contribuição musical até aos dias de hoje.
  
(...) 
  
Na primavera de 1962, Jones convidou Jagger e Richards para formar uma banda, que se chamaria The Rolling Stones, inspirado numa citação de uma canção de Muddy Waters (Rollin' Stone) que dizia: "… pedras rolantes não criam musgo…", e cujo nome foi utilizado oficialmente, pela primeira vez, na sua apresentação no Marquee Club de Londres, em 12 de julho de 1962.
Embora não tivesse a mesma facilidade de Keith e Jagger para compor músicas, era um grande instrumentista, sendo, com George Harrison, um dos primeiros músicos de rock a introduzir a sitar nas suas músicas. Tocava harmónica tão bem quanto guitarra, assim como vários outros instrumentos, sendo responsável por várias contribuições marcantes em músicas dos Stones, como a harpa em "You got the Silver", saxofone em "Dandelion", acordeão em Back Street Girl, entre outras. Fez os slides de guitarra na versão dos Stones de "I wanna be your man", em "I'm king bee" e outros. Também tocou o saxfone na música dos Beatles, "You Know My Name (Look Up the Number)", em 8 de junho de 1967. Ainda em 1967, ele compôs a banda sonora do filme A Degree Of Murder, no qual Anita Pallenberg, (a sua namorada na época) atuou como protagonista.
Foi afastado da banda em 1969, por causa da sua dependência de drogas, sendo substituído por Mick Taylor. O seu último álbum feito com os Stones foi Let it Bleed, onde tocou apenas em algumas músicas.
   




Mark Sandman morreu há vinte anos...

Mark Sandman (Newton, 24 de setembro de 1952 - Palestrina, 3 de julho de 1999) foi um músico dos Estados Unidos. Fundou a banda de blues Treat Her Right, que lançou três discos: Treat Her Right (1986), Tied To The Tracks (1989) e What's Good For You (1991).
Inovou ao criar a banda Morphine, que fazia uma fusão vitoriosa de rock e jazz. Formada apenas por baixo, saxofone e bateria, além da intervenção eventual de alguns outros instrumentos, a música do grupo servia de base para que Sandman, com a sua voz aveludada, cantasse as suas belas poesias.
    
Mark veio a falecer, em 1999, durante um show na Itália, vítima de um ataque cardíaco fulminante.
  
   
 
ADENDA: recomendamos a leitura de um artigo no jornal on line Observador sobre Mark Sandman - AQUI.

terça-feira, julho 02, 2019

Música para terminar um triste dia...

 
EL-REI

Longe da luz
A que sonhou na infância
Em vez de predomínio e de conquista
Sonhos de amor
Entre visões de artista
Morreu de desconsolo e de distância.
 
Caminho aberto
À morte por essa ânsia
Que mais se exalta
Quanto mais contrista
De quem recorda o lar que nunca avista
E se consome em lúcida constância.
 
Porque acima do trono e da realeza
Havia o céu azul, a claridade
Da sua amada Terra Portuguesa
Havia a Pátria, e dizem, que impiedade
Dizem que não se morre de tristeza
Dizem que não se morre de saudade.
 
Branca Gonta Colaço

Os Estados Unidos deixaram legalmente de ostracizar negros e mulheres há 55 anos

A Lei de Direitos Civis de 1964 foi decretada em 2 de julho de 1964 com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população afro-americana e feminina, por causa do Movimento dos direitos civis. A lei também pôs fim às segregações raciais em locais públicos e privados, permitindo aos cidadãos negros frequentar os mesmos ambientes e gozar dos mesmos direitos legais que os brancos - Martin Luther King foi quem conseguiu que essa lei fosse criada em benefício dos negros e mulheres norte americanos.
  

Saudades de El-Rei...


Regulus

Não há sombra para nela abrigares
o olhar das estilhas da luz no amanhecer.

Nenhuma trama nasce dos teus passos
que o vento não apague, com o andar.

Sem passado, tens por céu um alvo
neutro como o horizonte. Não há intenção

por detrás do sono dos teus passos,
posto que é tudo deserto à tua volta.

As cidades foram o lugar de uma morte espaçosa
enquanto a chama ia medrando no calor.


in As Esperas e outros poemas (1997) - Paulo Teixeira 
  
 
(imagem daqui)
 

Sophia...

(imagem daqui)
  
Liberdade


O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos

 

in O Nome das Coisas (1977) - Sophia de Mello Breyner Andresen

El-Rei D. Manuel II morreu há 87 anos...

(imagem daqui)
  
D. Manuel II de Portugal (nome completo: Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha; Lisboa, 15 de novembro de 1889Londres, 2 de julho de 1932) foi o trigésimo-quinto e último Rei de Portugal. D. Manuel II sucedeu ao seu pai, o rei D. Carlos I, depois do assassinato brutal deste e do seu irmão mais velho, o Príncipe Real D. Luís Filipe, a 1 de fevereiro de 1908. Antes da sua ascensão ao trono, D. Manuel foi Duque de Beja e Infante de Portugal.
  
  
Biografia
Manuel II nasceu no Palácio de Belém, em Lisboa, cerca de um mês depois da subida do seu pai ao trono de Portugal. Baptizado alguns dias depois, no mesmo Paço de Belém, teve por padrinho o avô materno, o Conde de Paris, tendo participado na cerimónia o Imperador do Brasil, D. Pedro II, deposto do seu trono exactamente no dia do seu nascimento. Manuel recebeu à nascença os títulos reais de Infante de Portugal e de Duque de Beja.
Teve o tratamento e a educação tradicionais dos filhos dos monarcas da sua época, embora sem preocupações políticas, dado ser o filho segundo do rei e, como tal, não esperar um dia vir a ser rei. Como tal, é de notar que durante a infância e juventude posava para os fotógrafos com uma atitude mais altiva que o irmão. Este divertia-se com os tiques snobes do irmão mais novo, embora sempre tenham sido bons amigos. Paradoxalmente, depois de subir inesperadamente ao trono, Manuel teve uma atitude oposta, afastando-se regularmente dos costumes protocolares: foi o primeiro rei de Portugal a não dar a mão a beijar aos dignitários durante a cerimónia anual do beija-mão real, a 1 de janeiro.
Aos seis anos já falava e escrevia em francês. Estudou línguas, história e música (tendo como professor Alexandre Rey Colaço). Desde cedo se mostrou a sua inclinação pelos livros e pelo estudo, contrastando com o seu irmão, Luís Filipe, mais dado a actividades físicas. Viajou em 1903 com a mãe, a rainha Amélia de Orleães, e o irmão ao Egipto, no iate real Amélia, aprofundando assim os seus conhecimentos das civilizações antigas. Em 1907 iniciou os seus estudos de preparação para ingresso na Escola Naval, preparando-se para seguir carreira na Marinha.
  
Casamento
Em 4 de setembro de 1913, Manuel casou-se com Augusta Vitória, princesa de Hohenzollern-Sigmaringen (1890-1966), sua prima (por ser neta da Infanta Antónia de Portugal), e filha do príncipe Guilherme de Hohenzollern-Sigmaringen. Durante a missa na manhã do enlace, que teve lugar na capela do castelo de Sigmaringen, Manuel assistiu de pé, ostentando a ordem da Jarreteira e o Grande cordão das Três Ordens Portuguesas, sobre um caixote cheio de terra portuguesa. A cerimónia foi presidida por José Neto, cardeal-patriarca de Lisboa, à altura exilado em Sevilha, e que já havia baptizado D. Manuel, e assistiram o príncipe de Gales, (futuro Eduardo VIII), bem como representantes das casas reinantes ou reais da Espanha, Alemanha, Itália, França, Roménia e de vários principados e reinos alemães próximos. O casamento, uma união calma e serena, durou até à morte súbita do rei, mas não teve descendência, fonte de grande descontentamento para os monárquicos portugueses. Nunca se ouviram falar em gravidezes de Augusta Vitória, pelo que se julga que os dois eram geneticamente incompatíveis.
  
Reinado
A sua futura carreira naval foi inesperadamente interrompida a 1 de fevereiro de 1908, com o Regicídio de 1908.
O infante havia regressado a Lisboa (depois de ter estado alguns dias em Vila Viçosa, com toda a família) para se preparar para os exames da escola naval, tendo ido esperar os pais e o irmão ao Terreiro do Paço. Minutos depois deu-se o atentado que vitimou o rei e o príncipe real, sendo Manuel atingido no braço.
O infante tornou-se assim Rei de Portugal. A sua primeira decisão consistiu em reunir o Conselho de Estado, a conselho do qual demitiu o primeiro-ministro João Franco, cuja política de força foi considerada responsável pela tragédia. Nomeou então um governo de aclamação partidária, presidido pelo Almirante Francisco Joaquim Ferreira do Amaral. Esta atitude acalmou momentaneamente os ânimos mas, em retrospectiva, acabou por enfraquecer a posição monárquica, pois foi vista como fraqueza perante os republicanos.
Foi solenemente aclamado "Rei" na Assembleia de Cortes a 6 de maio de 1908, perante os deputados da Nação, jurando cumprir a Carta Constitucional. Manuel manteve-se sempre fiel a este juramento mesmo quando, já no exílio, foi pressionado a apoiar outras formas de governo para uma possível restauração. O rei auferiu, no início, uma simpatia generalizada devido à sua tenra idade (18 anos) e à forma trágica e sangrenta como alcançou o trono. Foi então fortemente protegido pela sua mãe, Amélia, e procurou o apoio do experiente José Luciano de Castro.
Julgando que a intervenção directa na governação pelo seu pai havia sido a causa principal para o desfecho trágico do reinado deste, Manuel II absteve-se de intervir directamente nos assuntos do governo, seguindo a máxima de que o rei reina, mas não governa. No entanto, sobre um aspecto se debruçou directamente o rei, a Questão Social.

D. Manuel II e a Questão Social
Por “Questão Social” compreende-se a preocupação, por parte de alguns intelectuais e governantes, com a sorte do crescente proletariado urbano criado ao longo do século XIX com as mudanças impostas na sociedade pela Revolução Industrial. Em Portugal, dada a fraca industrialização, essa questão não teve o peso que teve noutros países, no entanto, o seu peso era exacerbado tanto pela crise económica do país, como pela acção reivindicativa do Partido Republicano.
Existia um partido socialista desde 1875, mas nunca chegou a ter representação parlamentar. Isto devia-se não só ao fraco peso do operariado no país e às divergências internas de carácter doutrinário, mas sobretudo ao facto de o Partido Republicano concentrar em si, pela sua natureza mais radical, todos os descontentes. Dado que era teoria dos socialistas, ao contrário dos republicanos, que a questão do regime era secundária face à melhoria de condições de vida para os operários e por conseguinte, estarem dispostos a colaborar com o regime, Manuel II vai tomar iniciativas de moto próprio. Pretendia com isto o rei, sem infringir os seus deveres constitucionais, incentivar o Partido Socialista de forma a que este retirasse apoios ao Partido Republicano, nomeadamente o apoio do proletariado urbano, dado que este último partido punha para depois da mudança de regime quaisquer medidas sociais concretas.
Assim, logo em 1909 Manuel convida para Portugal, a expensas suas, o sociólogo francês Léon Poinsard. Este percorreu o país com o fito de elaborar um extenso relatório. Neste documento defendia que, para se combater os clientelismos derivados do rotativismo, se devia reorganizar o trabalho e a administração locais, em consequência do qual a reforma política viria naturalmente.
Entusiasmado, o rei escreve, em Junho de 1909, ao então Presidente do Conselho de Ministros, Venceslau de Lima, pondo-o ao corrente da recente reorganização do Partido Socialista, então unido sob a chefia de Aquiles Monteverde, e lembrando-o da importância de uma colaboração do regime com os socialistas: “Desta maneira, vamos desviando o operariado do partido republicano e, orientando-o, o que virá a ser uma força útil e produtiva”.
Apesar de contactos anteriores do governo de Campos Henriques com o socialista Azedo Gneco, Venceslau de Lima considerou a acção difícil, dadas as dificuldades que surgiam então na realização do Congresso Nacional Operário, boicotado por anarquistas e republicanos com um congresso rival. Por seu lado, os socialistas entusiasmam-se com o apoio régio, iniciando-se correspondência entre o rei e Aquiles Monteverde. Este dá conta ao rei, em outubro de 1909, da falência do rival Congresso Sindicalista, agradecendo-lhe o interesse pelos operários. Apesar do apoio Real, e devido à instabilidade governativa, durante o ano de 1909 não se tomaram medidas legais que mostrassem concretamente essa aproximação aos socialistas, excepto nas portarias que de facto facilitaram e permitiram o trabalho de Poinsard.
Foi só já no governo de Teixeira de Sousa, em julho de 1910, que o governo criou uma comissão com o fito de estudar o estabelecimento de um Instituto de Trabalho Nacional. Desta comissão faziam parte três socialistas, incluindo Azedo Gneco. No entanto, Aquiles Monteverde queixava-se, que faltavam à comissão meios para ser eficaz, nomeadamente, que a comissão tivesse um carácter permanente e que aos delegados socialistas tivessem acesso ilimitado aos transportes do estado para prosseguirem a sua tarefa de propaganda pelo país. Informado, o rei passou palavra ao governo que, através do ministro das obras públicas, concordou com o estabelecimento de um Instituto de Trabalho Nacional. Estava-se em fins de Setembro de 1910, e no início do mês seguinte ocorria o golpe de estado do Partido Republicano, o que pôs fim à tentativa do monarca de revitalizar um partido que não se opusesse ao regime: de certa forma o mesmo que o seu pai tentara fazer, mas por meios menos drásticos e mais demorados. Mas faltou-lhe tempo para o conseguir.
 
Situação interna e Revolução Republicana
Entretanto a situação política degradou-se, tendo-se sucedido sete governos em cerca de 24 meses. Os partidos monárquicos voltaram às costumeiras questiúnculas e divisões, fragmentando-se, enquanto o partido republicano continuava a ganhar terreno. As eleições legislativas de 28 de agosto de 1910 fizeram aumentar os deputados republicanos no parlamento para 14 deputados (9% de republicanos, contra 58 % de apoio ao governo, e 33% do bloco da oposição), o que parece ter favorecido bastante a causa revolucionária, embora já tivesse sido tomada a decisão de tomar o poder pela via revolucionária, no Congresso de Setúbal, 24 a 25 de abril de 1909.
Na verdade, a 4 de outubro de 1910, começou uma revolução e no dia seguinte, 5 de outubro deu-se a Proclamação da República em Lisboa. O Palácio das Necessidades, residência oficial do rei, foi bombardeado, pelo que o monarca terá sido aconselhado a dirigir-se ao Palácio Nacional de Mafra, onde a sua mãe, a rainha, e a avó, a rainha-mãe Maria Pia de Saboia viriam juntar-se a ele. No dia seguinte, consumada a vitória republicana, Manuel II decidiu-se a embarcar na Ericeira no iate real "Amélia" com destino ao Porto.
Os oficiais a bordo terão demovido Manuel dessa intenção, ou raptaram-no simplesmente, levando-o para Gibraltar. A família real desembarcou em Gibraltar, recebendo-os logo a notícia de que o Porto aderira à República. O golpe de Estado estava terminado. A família real seguiu dali para o Reino Unido, onde foi recebido pelo rei Jorge V.
   
Exílio
Manuel fixou residência em Fulwell Park, Twickenham, nos arredores de Londres, local para onde seguiram os seus bens particulares, e onde já sua mãe havia nascido, também no exílio. Ali procurou recriar um ambiente português, à medida que fracassavam as tentativas de restauração monárquica (em 1911, 1912 e 1919). Manteve-se sempre activo na comunidade, frequentando a igreja católica de Saint James, e sendo o padrinho de baptismo de várias dezenas de crianças. A sua passagem no lugar ainda se vê hoje em topónimos como "Manuel Road", "Lisbon Avenue" e "Portugal Gardens".
Continuou a seguir de perto a política portuguesa, gozando de alguma influência junto de alguns círculos políticos, nomeadamente das organizações monárquicas. Se preocupava de que a anarquia da Primeira República provocasse uma eventual intervenção espanhola e o seu perigo para a independência nacional.
Pelo menos um caso é conhecido em que a intervenção directa do rei teve efeito. Depois do afastamento de Gomes da Costa pelo general Fragoso Carmona, foi nomeado novo embaixador de Portugal em Londres, substituindo o anteriormente designado. Dada a aparente instabilidade e rápida sucessão de embaixadores designados o governo britânico recusou-se a reconhecer as credenciais do novo enviado. Ora acontece que na altura estava a ser negociada a liquidação da dívida de Portugal à Inglaterra, pelo que o assunto se revestia de grande importância. Nesta conjuntura, o ministro dos negócios estrangeiros da república pediu a Manuel que exercesse a sua influência para desbloquear a situação. O rei ficou encantado com esta oportunidade para ajudar o seu país e levou a cabo vários contactos (incluindo provavelmente o seu amigo, o rei Jorge V), o que teve de imediato os efeitos desejados.
Apesar de deposto e exilado, Manuel teve sempre um elevado grau de patriotismo, o que o levou, em 1915, a declarar no seu testamento a intenção de legar os seus bens pessoais ao Estado Português, para a fundação de um Museu, manifestando também a sua vontade de ser sepultado em Portugal.
 
Política externa
Durante o seu reinado visitou várias localidades do norte do país e visitou oficialmente a Espanha, a França e a Inglaterra, onde foi nomeado cavaleiro da prestigiada Ordem da Jarreteira, em Novembro de 1909. Recebeu as visitas de Afonso XIII, Rei de Espanha, em 1909 e de Hermes da Fonseca, Presidente eleito do Brasil, em 1910.
Procurou sempre seguir uma política de aproximação à Grã-Bretanha. Este imperativo era ditado não só por uma orientação geo-política já seguida pelo seu pai, mas também como um recurso para fortalecer o trono. Considerava-se que o casamento do rei com uma princesa inglesa colocaria definitivamente a casa de Bragança sob a protecção da Inglaterra. No entanto, a instabilidade do país, o recente regicídio e a lentidão das investigações sobre este atrasaram as negociações até que a morte do rei britânico, Eduardo VII, lhes pôs fim. O velho monarca, amigo pessoal de Carlos, havia sido o grande protector da Casa de Bragança e, sem ele, o governo liberal britânico não tinha especial interesse pela manutenção do regime monárquico em Portugal.
 
D. Manuel II na I Guerra Mundial
Sendo anglófilo, e admirador do espírito britânico, Manuel defende a partir da entrada de Portugal na guerra, uma participação activa, instando os monárquicos a não lutarem contra a república e a porem de lado as tentativas restauracionistas enquanto durasse o conflito, e a unirem-se como portugueses na defesa da Pátria, chegando mesmo, no exílio, a ter solicitado a sua incorporação no exército republicano português.
Mas ao contrário do que esperava, a maioria dos monárquicos não corresponde às suas expectativas, pois eram germanófilos, que esperavam que a vitória do kaiser se saldasse pela restauração da monarquia. O rei por seu lado acreditava que só o apoio à Grã-Bretanha garantia a manutenção das colónias portuguesas, que se perderiam para a ambição alemã em caso de vitória destes, quer Portugal fosse uma república ou uma monarquia. Mas apenas aqueles mais próximos do rei se ofereceram para lutar, embora a República não tenha aceite os serviços de nenhum monárquico.
O próprio monarca se pôs à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Ficou de início um pouco desapontado quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha britânica, mas o esforço que desenvolveu ao longo da guerra, participando em conferências e recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, acabou por ser muito gratificante. As visitas á frente foram dificultadas pelo governo francês, mas a amizade com Jorge V era suficiente para desbloquear esses entraves.
O seu esforço nem sempre foi reconhecido. Anos mais tarde, em entrevista a António Ferro, lamentou-se, "A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres'."
Ao rei se deveu a criação do departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por sua insistência continuou a funcionar até 1925, assistindo aos mutilados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos ingleses para Manuel e para com Portugal foi o facto de Jorge V tê-lo convidado a ocupar um lugar a seu lado na tribuna de honra do desfile da vitória, em 1919.
 
As incursões monárquicas
Desde 1911 que forças de monárquicos exilados se centram na Galiza, com o beneplácito do governo espanhol, para entrarem em Portugal e restaurarem o regime monárquico. Eram lideradas pelo carismático Henrique de Paiva Couceiro, veterano das campanhas de África e o único oficial que se havia batido com denodo pelo regime aquando do golpe de estado de 5 de outubro. Acreditava o Paladino (assim o alcunhava a imprensa republicana) que bastava uma demonstração de força para que o povo rural se erguesse em apoio da restauração. Os acontecimentos mostraram que estava enganado, pois além de mal preparadas e mal financiadas, a reacção do povo não correspondeu ao esperado, tendo a sua apatia e a defesa das forças republicanas batido as incursões de volta para a Galiza.
Manuel apoiou como pôde estas incursões, embora os seus recursos financeiros, nos primeiros anos de exílio, fossem bastante limitados. Acresce o facto de que esta primeira incursão ter sido feita sob a bandeira azul e branca, mas sem a coroa, e foi precedida de um manifesto de Paiva Couceiro que identificava o movimento como neutro, e reclamando um plebiscito para decidir a forma de regime. Ora como monarca constitucional legalmente jurado, Manuel II não aceitava ser sujeito a um referendo. Foi só após troca de correspondência e aceite que a restauração seria baseada na sua pessoa e na carta constitucional de 1826, que o rei passou a apoiar os exilados da Galiza.
A segunda incursão ocorreu em 1912 e apesar de melhor preparada, não encontrou maior sucesso. Isto deveu-se ao facto de que o governo espanhol, cedendo às pressões diplomáticas, agora que a república já gozava de um reconhecimento mais alargado, ter forçado os conjurados a escolherem, ou entrarem em Portugal, ou serem desarmados. Após o falhanço e retirada o governo espanhol desarmou os combatentes restantes, cuja presença na Galiza era, de resto, ilegal.
No entanto, é de notar que Manuel II nunca fez fé numa restauração baseada na força, e sempre defendeu que os monárquicos se deveriam organizar internamente para tentarem chegar ao poder legalmente, através do jogo eleitoral. Esta orientação não era acatada de bom grado pela maioria dos monárquicos, mais radicais nas suas acções, pelo que nos anos seguintes continuavam as mal preparadas tentativas restauracionistas (por exemplo, em 20 de outubro de 1914), que o monarca achava apenas contribuíam para agravar a situação anárquica do país. Esta preocupação agravou-se com o começo da Guerra Mundial. Temia que a situação de do país, combinada com a aproximação da Espanha às potências ocidentais, levasse a Inglaterra a substituir Portugal pelo seu vizinho como seu aliado, e que o próprio país fosse o preço cobrado por Afonso XIII pela sua entrada na guerra.
   
O Pacto de Dover
Depois do fracasso da primeira incursão monárquica, e perante o que parecia desinteresse da parte de Manuel, já que este não punha fé em movimentos baseados na força, ganhou vigor o ramo legitimista, que apoiava os descendentes de Miguel I, e que haviam participado no movimento. Para contrariar isto o monarca entrou em negociações directas com os representantes miguelistas. Pretendia-se que Miguel reconhecesse Manuel como rei e em troca que este reconhecesse a linhagem de Miguel como segunda na linha de sucessão, restabelecendo os direitos e cidadania portuguesa aos príncipes miguelistas. De facto parece que houve um encontro entre Manuel II e Miguel II, em Dover, em 30 de janeiro de 1912, onde se trocaram cartas protocolares. Os resultados efetivos ainda hoje são discutidos. Argumentaram os seus adversários que o conteúdo daquelas cartas não correspondia ao que se tinha previamente acordado, tendo ficado o encontro por acordos quanto ao modo de ação na luta contra a república, enquanto que no que toca à sucessão nenhum acordo efetivo teria sido levado a cabo. Manuel não teria abdicado dos seus direitos como rei. Por outro lado é possível que esta interpretação tenha surgido apenas em consequência de parcialidade por parte de alguns elementos constitucionalistas adversos ao acordo. A situação não ficou de todo resolvida, pois ainda houve uma posterior tentativa de entendimento – no Pacto de Paris.
 
A monarquia do Norte
Depois do falhanço das incursões monárquicas continuam amiúde os levantamentos ocasionais, sem mais que repercussão local, e que o monarca condenava, exortando os seus correlegionários a organizarem-se e a fazerem propaganda, de forma a restaurar o regime pelo voto, e não pela força. Esta opção pareceu viável quando a ditadura do general Pimenta de Castro, em janeiro de 1915, quebrou momentaneamente o monopólio político do Partido Democrático e, numa tentativa de captar as simpatias mais conservadoras, retirou as restrições à liberdade de associação que desde o 5 de outubro limitavam os monárquicos. Entre abril e maio de 1915 abriram-se 55 centros monárquicos (33 no Norte e 12 no Centro do país), mas perante esta abertura cerrou fileiras todo o espectro republicano e em 14 de maio de 1915 a revolução saiu à rua. 15000 civis armados e a marinha em revolta manietaram o exército fiel ao governo e ao fim de três dias de combates, 500 mortos e mais de 1000 feridos, o Partido Democrático estava de volta ao poder e os monárquicos de volta à ilegalidade.
A opção das urnas voltou a ter possibilidade com a subida ao poder de Sidónio Pais. Apesar de claramente republicano, também ele procurou apoio no sector mais conservador da sociedade, estabelecendo o sufrágio universal. O assassinato do presidente-rei levou ao poder forças republicanas mais moderadas, mas não sem oposição. O estabelecimento de juntas militares na província, algumas com tendências monárquicas e em oposição ao governo criaram expectativas de que uma restauração através de um golpe militar. Por esta altura a guerra já tinha acabado, o que com a situação anárquica do país dava força aos que argumentavam por um golpe.
Manuel, no entanto, continuava a pedir calma e, não pondo de parte a ideia de uma acção pela força num futuro próximo, insistia que se esperasse pelo fim das negociações de paz em Paris. Temia que um aumento da anarquia prejudicasse a posição negocial do país. Mas para Paiva Couceiro e para os integralistas era chegado o momento, bastava apenas a autorização real na pessoa do seu lugar-tenente. Este, Aires de Ornelas, recebeu o memorando que pedia autorização para um movimento de carácter monárquico, e convencido de que não se tratava de uma acção imediata, escreveu à margem “Go on. Palavras de El-Rei” e assinava.
A 19 de janeiro de 1919, com um milhar de soldados e algumas peças de artilharia, Paiva Couceiro restaurava no Porto a Monarquia Constitucional, na pessoa de Manuel II. Um governo provisório foi estabelecido, aderindo o Minho, Trás-os-Montes (com excepção de Chaves, Mirandela e Vila Real) e parte do distrito de Aveiro. Mas, ao contrário do que esperava Couceiro, o resto do país não se levantou. O poder republicano continuava firme em Lisboa, onde Aires de Ornelas foi completamente apanhado de surpresa, e mais não pôde do que refugiar-se, com algumas centenas de monárquicos, no Regimento de Lanceiros 2, à Ajuda. Aumentando o número de refugiados que temiam represálias republicanas, o comandante do regimento, que era monárquico, fez retirar a guarnição e os civis, marchando para Monsanto, que na época tinha pouca vegetação. Aí juntaram-se a outras forças monárquicas, entrincheirando-se com parte das forças de cavalaria 4, 7 e 9, além da Bateria de Belém e do Regimento de Infantaria 30. Aires de Ornelas hesitou entre obedecer ao rei e ficar à margem, correndo o risco de os integralistas passarem a sua lealdade a Miguel, ou assumir a liderança deste movimento monárquico conjunto. Num terreno pouco propício para a arma de cavalaria, e cercados por forças republicanas, os monárquicos acabaram por se render em 24 de janeiro.
Com o falhanço da restauração no Centro e Sul do país, a sorte acabou por se virar contra Paiva Couceiro. A 13 de fevereiro, a parte da Guarda Nacional Republicana que o havia apoiado desertou e reinstaurou a república no Porto. Os monárquicos que não conseguiram fugir foram presos e condenados a pesadas penas. O rei, no exílio, poucas informações recebeu e acabou por saber do falhanço através dos jornais. As forças republicanas responsáveis pela vitória na escalada de Monsanto repuseram no poder a “Republica Velha”, o que não facilitava a vida aos monárquicos.
Nos meses seguintes, o monarca moveu a sua influência na corte britânica de modo a que tivesse lugar uma amnistia para os seus correlegionários. Esta teve finalmente lugar em aquando do 3º aniversário da batalha de La Lys. Além do fracasso do movimento em si, com o qual não concordara nem fora consultado, Manuel II ainda teve que se confrontar com as acusações de desinteresse em regressar ao país e a deserção de parte dos activistas monárquicos.
 
Os Integralistas
A queda da monarquia constitucional em Portugal teve como reacção a criação de um movimento monárquico de renovação nacional que se distanciou das formas parlamentares cujos defeitos se consideraram como responsáveis pela queda do regime. Esse movimento, conhecido como Integralismo Lusitano, começou por afirmar a sua lealdade a Manuel II, então já no exílio.
No entanto, os proponentes do movimento nunca deixaram de salientar que a forma monárquica que pretendiam diferia da que fora derrubada em 1910. A monarquia tradicional que defendiam, das corporações e dos municípios, renegava as formas de representação parlamentar assentes exclusivamente em partidos ideológicos. Esta atitude chocava contra os princípios do rei que, embora reconhecendo defeitos na constituição vigente antes de 1910, não se achava no direito de ditar ou defender quaisquer alterações, considerando-se preso por juramento à carta constitucional. Quaisquer mudanças, defendia o monarca, teriam que ser discutidas e implementadas pelas cortes gerais da nação uma vez restabelecida a monarquia.
À medida que crescia a força das ideias integralistas entre as hostes monárquicas, aumentava o tom das exigências daqueles sobre o monarca exilado. Dada a recusa de Manuel em faltar ao seu juramento, aliada ao fracasso da Monarquia do Norte, e acusando o monarca de falta de interesse na restauração, a Junta do Integralismo Lusitano declarou-se desobrigada de lealdade para com o antigo monarca em outubro de 1919. Em julho de 1920, representantes do movimento reunir-se-iam com os representantes do ramo legitimista de que resultaria a transferência de lealdades para o terceiro filho de Miguel II, o então ainda menor Duarte Nuno.
 
O Pacto de Paris
Tendo em conta o afastamento dos integralistas, e mais ainda o facto de depois de quase uma década de casamento Manuel e Augusta Victória ainda não terem filhos, o monarca exilado tentou uma nova aproximação ao ramo miguelista. O encontro teve lugar em 17 de abril de 1922, em Paris, sendo representante do rei, o seu lugar-tenente Aires de Ornelas, e pelos miguelistas do Conde de Almada, a pedido de Aldegundes de Bragança, Duquesa de Guimarães e Condessa de Bardi, tutora de Duarte Nuno.
Concordou-se que, a faltar sucessor directo a Manuel, se reconhecia que era aceite o Sucessor indicado pelas Cortes Gerais da Nação Portuguesa. Ambos os lados colaborariam, cessando actividade conflituosas.
Os monárquicos constitucionalistas ficaram satisfeitos, mas entre as hostes integralistas isso não aconteceu. Devia-se o desagrado ao facto do acordo, como publicado, não fazer referência ao aspecto tradicionalista da monarquia a ser restaurada, algo em que a junta do Integralismo considerava fundamental. Embora nessa altura, em 4 de maio de de 1922, tivesse sido retirado o seu apoio público ao acordo, este ainda se manteve, se bem com utilidade limitada, dado o seu falhanço em unir as forças monárquicas, até que em setembro de 1925 foi formalmente repudiado por Aldegundes, em carta a Manuel, alegando não cumprimento pela outra parte, dado continuar a funcionar o jornal constitucionalista, enquanto o órgão integralista já havia sido fechado, e nenhum legitimista ou integralista ter sido convidado para o conselho superior monárquico. Terminava assim a última tentativa de reconciliação entre os dois ramos da casa de Bragança.
  
O Bibliófilo
Manuel sempre se havia interessado pelos livros, e nos seus anos de exílio dedicou-se aos estudos e escreveu um tratado sobre literatura medieval e renascentista em Portugal. Nos tempos a seguir à Grande Guerra, e com mais tempo livre, embora sem descurar os contactos com as organizações monárquicas, o rei passou a dedicar-se mais aos estudos, seguindo assim a tradição que já vinha de seu pai.
Inicialmente planeou fazer uma biografia, assente em fontes primárias, sobre a vida de Manuel I, que achava ter sido mal tratado pelos historiadores recentes. Para isso contratou os serviços do bibliófilo Maurice Ettinghausen em 1919, que se encarregou de lhe achar os livros antigos de que necessitava. Esta acção foi beneficiada pela dissolução de inúmeras bibliotecas privadas em Portugal depois da implantação da república. Teria sido Ettinghausen que lhe sugira que precedesse o seu estudo pela feitura de uma lista de todos os livros antigos da sua biblioteca.
Cerca de 1926 o objectivo do real investigador já havia mudado e, abandonando a ideia da biografia, concentrou-se na descrição dos livros antigos da sua biblioteca. Mais do que uma simples lista, a obra foi aproveitada pelo autor para descrever as glórias passadas de Portugal, descrevendo cada obra não só bibliograficamente mas acompanhando-o com um ensaio sobre cada autor e cada assunto do livro, inserindo-o no seu contexto histórico. A sua interpretação era fundamentada com documentos e rigor científico, e o resultado final só pode ser criticado pelo marcado amor à sua pátria, bem patente na leitura e que o leva a uma exaltação dos valores ancestrais da Grei, ainda assim desculpáveis num exilado.
Sendo uma obra de tema especifico, o número de exemplares era de tiragem limitada e obtido por subscrição. Estava ilustrado por fac-similis das obras tratadas e escrito em português e em inglês. O primeiro volume da obra “Livros Antigos Portuguezes 1489-1600, da Bibliotheca de Sua Magestade Fidelíssima Descriptos por S. M. El-Rey D. Manuel em Três volumes foi publicado em 1929, tendo Manuel se deslocado ao palácio de Windsor para entregar em mão o exemplar ao rei Jorge V, que havia sido o primeiro subscritor da obra. O volume debruça-se sobre dois manuscritos, cinco incunábulos e trinta e três livros impressos em Portugal até 1539.
A obra recebeu excelentes criticas dos especialistas e o rei dedicou-se de imediato ao segundo volume, que abrangia o período de 1540 a 1569. O trabalho foi estafante, mas, com excepção das sobrecapas, estava terminado em 1932. O rei faleceria inesperadamente pouco depois, tendo o terceiro volume sido publicado, sob a supervisão da sua bibliotecária, Miss Margery Withers, já postumamente. Este volume já só é uma listagem de obras, sem os ensaios que enriqueciam os anteriores, e que deram ao rei a merecida reputação de historiador e mais erudito dos reis portugueses. O seu busto está hoje no átrio de entrada da Biblioteca Nacional em Lisboa.
  
Sucessão
Embora nenhum dos pactos entre os dois ramos da dinastia tenha levado, como se viu, a um acordo definitivo para além de qualquer dúvida, é de notar que ao longo de todo o exílio Manuel nunca se procurou entender quer com o ramo brasileiro dos Orléans e Bragança, quer com a linhagem do Duque de Loulé no que toca à sua própria sucessão. Apesar de todas as dificuldades criadas quer pelas diferentes inclinações políticas e pela mudança de lealdade dos integralistas, o rei nunca duvidou onde estava a legitimidade.
Tendo isto em conta, além do próprio peso do movimento integralista, aquando do falecimento súbito do rei a Causa Monárquica declarou-se como cortes gerais da Nação e aclamaram Duarte Nuno de Bragança como rei de Portugal. Para este príncipe, seu primo, neto do rei Miguel I, passou a chefia da casa real portuguesa, ao abrigo das regras de sucessão e no respeito da alegada vontade do falecido monarca, uma vez que este tinha procurado aproximar os dois ramos desavindos da família, através dos referidos Pacto de Dover e Pacto de Paris.
  
(...)
  
Após a morte de Manuel II, o governo de António de Oliveira Salazar instituía a Fundação D. Manuel II com os seus bens pessoais e a Fundação da Casa de Bragança com os da extinta Casa de Bragança.
     
Morte
Faleceu inesperadamente na sua residência, a 2 de julho de 1932, sufocado por um edema da glote. O governo português, chefiado por António de Oliveira Salazar, autorizou a sua sepultura em Lisboa, organizando o funeral com honras de Estado. Os seus restos mortais chegaram a Portugal, em 2 de agosto, sendo sepultados no Panteão dos Braganças, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.
  
Balanço
Passou à história com os cognomes O Patriota, pela preocupação que os assuntos pátrios sempre lhe causaram; O Desventurado, em virtude da Revolução que lhe retirou a coroa; O Estudioso ou o Bibliófilo (devido ao seu amor pelos livros antigos e pela literatura portuguesa). Os monárquicos chamavam-lhe O Rei-Saudade, pela saudade que lhes deixou, após a abolição da monarquia.