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quinta-feira, maio 16, 2024

O poeta Ronald de Carvalho nasceu há cento e trinta e um anos...

(imagem daqui)
       
Ronald de Carvalho (Rio de Janeiro, 16 de maio de 1893 - Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1935) foi um poeta e político brasileiro.       
Vida
Ronald de Carvalho era filho do engenheiro naval Artur Augusto de Carvalho e de Alice Paula e Silva Figueiredo de Carvalho, concluindo o curso secundário no Colégio naval.
Entrou na Faculdade Livre de Ciéncias Jurídicas e Sociaes do Rio de Janeiro, precursora da atual Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, fazendo um bacharelato em 1912. Desde 1910 trabalhava como jornalista, no Diário de Notícias, cujo diretor era Ruy Barbosa.
Na sua ida para a Europa, cursou Filosofia e Sociologia em Paris. Ao voltar para o Brasil, entrou para o Itamaraty. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, que decorreu em 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, a qual foi o momento determinante do modernismo brasileiro.
Em 1924 dirigiu a Secção dos Negócios Políticos e Diplomáticos na Europa. Durante a gestão de Félix Pacheco, esteve no México, como hóspede de honra daquele governo. Em 1926 foi oficial de gabinete do ministro Otávio Mangabeira. Em 1930, o seu poema Brasil foi entusiasticamente lido na conferência Poesia Moderníssima do Brasil, apresentada pelo professor Manoel de Souza Pinto, da Cadeira de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras de Coimbra (tal estudo saiu estampado depois no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, edição de domingo, 11 de janeiro de 1931). Exerceu cargos diplomáticos de relevância, servindo na Embaixada de Paris, com o embaixador Sousa Dantas, por dois anos, e depois em Haia (Países Baixos). Regressou a Paris, de onde, em 1933, voltou para o Rio de Janeiro.
Foi secretário da Presidência da República, cargo que ocupava quando morreu. Em concurso realizado pelo Diário de Notícias, em 1935, foi eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, em substituição a Coelho Neto. Colaborou, com destaque, em O Jornal e também se encontra colaboração da sua autoria nas revistas Alma nova (1914-1930) e Atlântida (1915-1920). Casou com Leilah Accioly de Carvalho, de quem teve quatro filhos.
Ronald de Carvalho faleceu, com 41 anos de idade, vítima de acidente de automóvel, no Rio de Janeiro, a 15 de fevereiro de 1935.
 
    
in Wikipédia

 

Sabedoria

Enquanto disputam os doutores gravemente
sobre a natureza
do bem e do mal, do erro e da verdade,
do consciente e do inconsciente;
enquanto disputam os doutores sutilíssimos,
aproveita o momento!

Faze da tua realidade
uma obra de beleza

Só uma vez amadurece,
efêmero imprudente,
o cacho de uvas que o acaso te oferece…


Ronald de Carvalho

domingo, maio 12, 2024

Georges Braque nasceu há 142 anos

   
Georges Braque (Argenteuil, 13 de maio de 1882 - Paris, 31 de agosto de 1963) foi um pintor e escultor francês, que fundou o cubismo, juntamente com Pablo Picasso.
Braque iniciou a sua ligação às cores na empresa de pintura decorativa de seu pai. A maior parte da sua adolescência foi passada em Le Havre, mas no ano de 1899, mudou-se para Paris onde, em 1906, no Salão dos Independentes, expôs as suas primeiras obras no estilo de formas simples e de cores puras (fauvismo).  
No outono de 1907, conheceu Picasso com quem se deu, quase diariamente até que, em 1914, devido à Grande Guerra se separaram.
Braque foi ferido na cabeça em 1915, tendo sido agraciado com a Cruz de Guerra e a Legião de Honra. Durante dois anos, devido ao ferimento esteve afastado da pintura, tendo retornado em 1917 focando-se em naturezas-mortas e pinturas figurativas, sempre dentro duma formulação cubista.
 
Georges Braque, 1908, Le Viaduc de L'Estaque
       
Georges Braque, 1908, Maisons et arbre
   

domingo, abril 28, 2024

O pintor Francis Bacon morreu há trinta e dois anos

Retrato de Francis Bacon feito por Reginald Gray - Londres, 1960
   
Francis Bacon (Dublin, 28 de outubro de 1909 - Madrid, 28 de abril de 1992) foi um pintor anglo-irlandês de pintura figurativa. Era descendente colateral de Francis Bacon, filósofo do período elisabetano. O seu trabalho é mais conhecido como audaz, austero, e frequentemente grotesco ou imagem de pesadelo.

Vida e obra
Este artista irlandês de nascimento, tratou com uma extraordinária complacência alguns temas que continuam a chocar a nossa vida em grupo. As fantasias masoquistas, a pedofilia, o desmembramento de corpos, a violência masculina ligada à tensão homoerótica, as práticas de dissecação forense, a atração pela representação do corpo (um especial fascínio pelos fluidos naturais, sangue, bílis, urina, esperma, etc.) e, no geral, com tudo o que está diretamente ligado à transgressão seja relacionada com o sexo, a religião (são paradigmáticos os seus retratos do Papa Inocêncio X que efetuou a partir da obra de Diego Velázquez) ou qualquer tabu, foram as peças com as quais Bacon construiu a sua visão "modernista" do mundo.
Nasceu em 28 de outubro de 1909, em Dublin e sofria de asma. Esta debilidade irritava o seu pai, um homem rude e violento, que o costumava chicotear para o "fazer homem". Devido a isto Bacon criou um comportamento de oposição a seu pai. Uma infância difícil, que sempre o influenciou na sua arte e lhe inspirou um certo desdém por essa Irlanda da sua infância, tal como Oscar Wilde e James Joyce.
A sua primeira exposição individual na Lefevre Gallery, em 1945, provocou um choque e não foi bem recebida. Toda a gente estava farta de guerra e de horrores, só se falava da "construção da paz" e as imagens de entranhas dos quadros de Bacon, com os seus tons sanguíneos, provocaram mais repulsa do que admiração.
Como homem do seu tempo, Bacon transmitiu a ideia de que o ser humano, ao conquistar e fazer uso da sua própria liberdade, também liberta a besta que existe dentro de si. Pouca diferença faz dos animais irracionais, tanto na vida - ao levar a cabo as funções essenciais da existência como o sexo ou a defecação - como na solidão da morte; representando o homem como um pedaço de carne.
A sua obra esteve em exposição, em Serralves, em 2003.


 

sexta-feira, abril 26, 2024

Mário de Sá-Carneiro morreu há 108 anos...

 

Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de maio de 1890 - Paris, 26 de abril de 1916) foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu.
  
(...)
  
Uma vez que a vida que trazia não lhe agradava, e aquela que idealizava tardava em se concretizar, Sá-Carneiro entrou numa cada vez maior angústia, que viria a conduzi-lo ao seu suicídio prematuro, perpetrado no Hôtel de Nice, no bairro de Montmartre em Paris, com o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina. Embora tivesse adiado por alguns dias o dramático desfecho da sua vida, numa carta de despedida para Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro revela as suas razões para se suicidar:
  
Meu querido Amigo:

A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e qual – mas custa-me tanto a escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas «cartas de despedida»... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero: o que tanto sempre quis – e eu, em verdade, já não fazia nada por aqui... Já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias – ou melhor: fui colocado por elas, numa áurea temeridade – numa situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre sonhei: tive tudo durante eles: realizada a parte sexual, enfim, da minha obra – vivido o histerismo do seu ópio, as luas zebradas, os mosqueiros roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre, psicologicamente, às mil maravilhas, mas não tenho dinheiro. [...]
Mário de Sá-Carneiro, carta para Fernando Pessoa, 31 de março de 1916
   
Contava tão-só vinte e cinco anos. Extravagante tanto na morte como em vida (de que o poema Fim é um dos mais belos exemplos), convidou para presenciar a sua agonia o seu amigo José de Araújo. E apesar de o grupo modernista português ter perdido um dos seus mais significativos colaboradores, nem por isso o entusiasmo dos restantes membros esmoreceu – no segundo número da revista Athena, Pessoa dedicou-lhe um belo texto, apelidando-o de «génio não só da arte como da inovação dela», e dizendo dele, retomando um aforismo das Báquides (IV, 7, 18), de Plauto, que «Morre jovem o que os Deuses amam» (tradução literal de Quem di diligunt adulescens moritur).
   

 

Quási

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quási vivido...

Quási o amor, quási o triunfo e a chama,
Quási o princípio e o fim - quási a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quási, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos d'alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

. . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . .

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
   


in
Dispersão - Mário de Sá-Carneiro

sexta-feira, abril 12, 2024

O escultor Mario Cravo nasceu há cento e um anos...

Sereia de Itapuã - escultura na entrada do bairro
   
Mario Cravo Junior (Salvador, 13 de abril de 1923 - Salvador, 1 de agosto de 2018) foi  um escultor, pintor, gravador e desenhista  brasileiro. Fez parte da primeira geração de artistas plásticos modernistas da Bahia, ao lado de Carlos Bastos e Genaro de Carvalho. Em setenta anos de atividade como artista plástico, ele fez inúmeras exposições individuais e coletivas e teve prémios, esculturas em espaços abertos em muitos pontos do Brasil, sobretudo em Salvador, além de obras adquiridas por museus internacionais.

domingo, abril 07, 2024

Almada Negreiros nasceu há cento e trinta e um anos

  
José Sobral de Almada Negreiros (Trindade, 7 de abril de 1893 - Lisboa, 15 de junho de 1970) foi um artista multidisciplinar, pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista português ligado ao grupo modernista. Também foi um dos principais colaboradores da Revista Orpheu.
 
“Auto-retrato com Boné”, óleo sobre tela de Almada-Negreiros, circa 1927
 
 
...)

Em 1952 expõe individualmente na Galeria de Março (exposição inaugural dessa galeria) e participa na Exposição de Arte Moderna (Lisboa). Dois anos mais tarde pinta a primeira versão de Retrato de Fernando Pessoa para o restaurante Irmãos Unidos. Em 1957 participa na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, sendo galardoado com um prémio extra concurso. Ainda dentro da colaboração com Pardal Monteiro, entre 1957 e 1961 realiza grandes painéis decorativos para as fachadas de vários edifícios da Cidade Universitária de Lisboa (Faculdade de Direito; Faculdade de Letras; Reitoria). Em 1960 dá uma série de entrevistas, publicadas no Diário de Notícias, onde de algum modo encerra o seu "itinerário espiritual" e retoma a questão da reconstrução do Painéis de São Vicente de Fora; em 1963 expõe na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, e nesse mesmo ano é alvo de homenagem por ocasião do seu septuagésimo aniversário, sendo publicada a primeira monografia sobre a sua obra, da autoria de José Augusto França. Encomendas e atividades diversas preenchem os anos finais, entre as quais se destacam as tapeçarias para a Exposição de Lausana, para o Tribunal de Contas e para o Hotel Ritz, Lisboa; uma série de gravuras em vidro acrílico (1963) e cenários para o «Auto da Alma», de Gil Vicente, no Teatro Nacional de São Carlos, a sua última participação no teatro. É condecorado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a 13 de julho de 1967. Em 1968-1969 realiza o painel Começar, para o átrio do edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Em julho de 1969 faz a sua derradeira intervenção pública, participando no programa televisivo Zip-Zip.
Morre em Lisboa, a 15 de junho de 1970, no mesmo quarto em que faleceu Fernando Pessoa, no Hospital de São Luís dos Franceses, no Bairro Alto.
  
   
Átrio do edifício das Matemáticas - Universidade de Coimbra
 
Retrato de Fernando Pessoa, 1954, óleo sobre tela
 
  

 

Rondel do Alentejo

 

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

Meia-noite
do Segredo
no penedo
duma noite
de luar.

Olhos caros
de Morgada
enfeitava
com preparos
de luar.

Rompem fogo
pandeiretas
morenitas,
bailam tetas
e bonitas,
bailam chitas
e jaquetas,
são de fitas
desafogo
de luar.

Voa o xaile
andorinha
pelo baile,
e a vida
doentinha
e a ermida
ao luar.

Laçarote
escarlate
de cocote
alegria
de Maria
la-ri-rate
em folia
de luar.

Giram pés
giram passos
girassóis
os bonés,
os braços
estes dois
iram laços
o luar.

colete
esta virgem
endoidece
como o S
do foguete
em vertigem
de luar.

Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.

 

Almada Negreiros

sexta-feira, abril 05, 2024

O poeta Carlos Queirós nasceu há 117 anos...

  
José Carlos de Queirós Nunes Ribeiro, ou simplesmente Carlos Queirós (Lisboa, Santos-o-Velho, 5 de abril de 1907Paris, 27 de outubro ou 28 de outubro de 1949) foi um poeta português.
Poeta do segundo modernismo Português, identificado como um dos grandes nomes da revista Presença.
Desempenhou um importante papel na ligação entre o primeiro modernismo português da geração da revista Orpheu e o segundo modernismo da Presença. É Carlos Queirós, que por volta de 1927 estabelece a ligação entre Pessoa e a revista coimbrã Presença, dirigida por Gaspar Simões, José Régio e Branquinho da Fonseca, no qual Pessoa veio a publicar diversos textos. Foi no número 5 da Presença (1927) que Carlos Queirós, juntamente com Fernando Pessoa e Almada Negreiros, iniciou a sua participação neste periódico.
David Mourão-Ferreira, no prefácio do primeiro volume da Obra Poética de Carlos Queirós, refere que entre 1927 e 1937, ano em que Carlos Queirós deixou de colaborar com a Presença, terá publicado, nas edições que vão do n.º 5 ao n.º 49, cerca de 49 poemas e ainda dois textos em prosa, constituindo-se como um dos nomes de referência e de continuidade desta publicação.
É Carlos Queirós, num número especial da revista Presença, de homenagem a Fernando Pessoa, que dá a conhecer os amores de Fernando Pessoa por Ophélia Queiroz, a sua tia, publicando nesse número diversas cartas de amor de Pessoa escritas a Ofélia.
A participação literária de Carlos Queirós não se circunscreveu somente à celebre revista Presença. Publicou em diversas revistas e folhas literárias, tendo uma obra poética espalha por diversos periódicos: revista Ocidente, revista Atlântico, Revista de Portugal, revista Momento, revista Aventura, revista Vamos Ler e revista Litoral esta última dirigida pelo próprio.
Carlos Queirós publicou dois livros em vida o primeiro, intitulado Desaparecido, em 1935, tendo à data o poeta 28 anos de idade e que foi alvo dos maiores elogios. Destaca-se a crítica publicada por Pessoa na Revista de Portugal. Pessoa escreve no primeiro parágrafo do seu texto crítico:
  
A beleza do livro começa pelo livro. A edição é lindíssima. A beleza do livro continua pelo livro fora; os poemas são admiráveis.  
Mais à frente, no seu texto, Pessoa prossegue:  
Não se pode dizer deste livro o que é vulgar dizer-se, elogiosamente, de um primeiro livro, sobretudo de um jovem - que é uma bela promessa. O livro de Carlos Queirós não é uma promessa, porque é uma realização.
in Revista de Portugal, n.º 2 Coimbra, janeiro de 1938
 

O segundo livro publicado em vida foi Breve Tratado de Não Versificação, editado em 1948.

Entre 1945 e 1949, colaborou com Victor Buescu na tradução para português de uma selecção da obra poética de Mihai Eminescu, que veio a lume apenas em 1950.

A obra poética de Carlos Queirós, pouco divulgada, está atualmente editada em dois livros pela Editora Ática. O primeiro livro tem como data de publicação 1984, intitula-se Desaparecido – Breve Tratado de Não Versificação, sendo a compilação dos dois livros publicados em vida por Carlos Queirós. O segundo livro tem como data de publicação 1989 e intitula-se Epístola aos Vindouros e Outros Poemas, sendo constituído por uma coletânea de poemas dispersos, por diversas publicações da época e alguns inéditos recolhidos por David Mourão-Ferreira, com a ajuda de uma das filhas do poeta.
 
Casou com Guilhermina Maria Correia Manoel de Aboim Borges (Loures, Loures, 20 de dezembro de 1907 - Lisboa, 18 de outubro de 1975), sobrinha materna do 1.º Visconde de Idanha e sobrinha-neta do 1.º Visconde de Vila-Boim, de quem teve quatro filhas.
    

 

Libera Me

 

Livrai-me, Senhor,
De tudo o que for
Vazio de amor.

Que nunca me espere
Quem bem me não quer
(Homem ou mulher).

Livrai-me também
De quem me detém
E graça não tem,

E mais de quem não
Possui nem um grão
De imaginação. 


Carlos Queirós

quinta-feira, março 28, 2024

Marc Chagall morreu há 39 anos...

 

   

Nascido Mojša Zacharavič Šahałaŭ, no seio de uma família judaica, na sua juventude entrou para o ateliê de um retratista famoso da sua cidade natal. Lá aprendeu não só as técnicas de pintura, como a gostar e a exprimir-se nesta arte. Ingressou, posteriormente, na Academia de Arte de São Petersburgo, de onde rumou para a próspera cidade-luz, Paris.
Ali entrou em contacto com as vanguardas modernistas que enchiam de cor, alegria e vivacidade a capital francesa. Conheceu também artistas como Amedeo Modigliani e La Fresnay. Todavia, quem mais o marcou, deste próspero e pródigo período, foi o modernista Guillaume Apollinaire, de quem se tornou grande amigo.
É também neste período que Chagall pinta dois dos seus mais conhecidos quadros: Eu e a aldeia e O Soldado bebé, pintados em 1911 e 1912, respetivamente.
Os títulos dos quadros foram dados por Blaise Cendrars. Coube a Guillaume Apollinaire selecionar as obras que seriam posteriormente expostas em Berlim, no ano em que a Primeira Guerra Mundial rebentou, em 1914.
Neste ano, após a explosão da guerra, Marc Chagall volta ao seu país natal, sendo, portanto, mobilizado para as trincheiras. Todavia, permaneceu em São Petersburgo, onde casou um ano mais tarde com Bella, uma rapariga que conheceu na sua aldeia.
Depois da grande revolução socialista na Rússia, que pôs fim ao regime autoritário czarista, foi nomeado comissário para as belas-artes, tendo inaugurado uma escola de arte, aberta a quaisquer tendências modernistas. Foi neste período que entrou em confronto com Kasimir Malevich, acabando por se demitir do cargo.
Retornou então, a Paris, onde iniciou mais um pródigo período de produção artística, tendo mesmo ilustrado uma Bíblia. Em 1927, ilustrou também as Fábulas de La Fontaine, tendo feito cem gravuras, somente publicadas em 1952. São também deste ano conhecidas as suas primeiras paisagens.
Visitou em 1931 a Palestina e, depois, a Síria, tendo publicado, em memória destas duas viagens o livro de carácter autobiográfico Ma vie (em português: "Minha vida").
Desde 1935, com a perseguição dos judeus e com a Alemanha prestes a entrar em mais uma guerra, Chagall começa a retratar as tensões e depressões sociais e religiosas que sentia na pele, já que também era judeu convicto.
Anos mais tarde, parte para os Estados Unidos, onde se refugia dos perigos dos alemães. Lá, em 1944, com o fim da guerra a emergir, Bella, a sua mulher, falece, facto que lhe causa uma enorme depressão, mergulhando novamente no mundo das evocações, dos chamamentos, dos sonhos. Conclui este período com um quadro que já havia iniciado em 1931: Em torno dela.
Dois anos depois do fim da guerra, regressa definitivamente à França, onde pintou os vitrais da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Na França e nos Estados Unidos pintou, para além de diversos quadros, vitrais e mosaicos. Explorou também os campos da cerâmica, tema pelo qual teve especial interesse.
Em sua homenagem, em 1973 foi inaugurado o Museu da Mensagem Bíblica de Marc Chagall, na famosa cidade do sul da França, Nice e, em 1977, o governo francês condecorou-o com a Grã-cruz da Legião de Honra.
Tendo sido um dos melhores pintores do século XX, Marc Chagall faleceu em Saint-Paul-de-Vence, no sul da França, em 1985.
 
O Violinista, 1912
 
  
Marc Chagall, 1912, Calvary (Golgotha), Museum of Modern Art, New York
    

terça-feira, março 26, 2024

Hoje é dia de recordar Walt Whitman...

 

SAUDAÇÃO A WALT WHITMAN

 
   
Portugal-Infinito, onze de junho de mil novecentos e quinze...
Hé-lá-á-á-á-á-á-á!
    
De aqui, de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Ó sempre moderno e eterno, cantor dos concretos absolutos,
Concubina fogosa do universo disperso,
Grande pederasta roçando-te contra a diversidade das coisas
Sexualizado pelas pedras, pelas árvores, pelas pessoas, pelas profissões,
Cio das passagens, dos encontros casuais, das meras observações,
Meu entusiasta pelo conteúdo de tudo,
Meu grande herói entrando pela Morte dentro aos pinotes,
E aos urros, e aos guinchos, e aos berros saudando Deus!
   
Cantor da fraternidade feroz e terna com tudo,
Grande democrata epidérmico, contíguo a tudo em corpo e alma,
Carnaval de todas as ações, bacanal de todos os propósitos
Irmão gémeo de todos os arrancos,
Jean-Jacques Rousseau do mundo que havia de produzir máquinas,
Homero do insaisissable do flutuante carnal,
Shakespeare da sensação que começa a andar a vapor,
Milton-Shelley do horizonte da Eletricidade futura!
Incubo de todos os gestos,
Espasmo p’ra dentro de todos os objetos de fora
Souteneur de todo o Universo,
Rameira de todos os sistemas solares, paneleiro de Deus!
   
Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,
Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser...
Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio,
Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te,
E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,
Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente.
Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste,
Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer,
Quer pela rua do Ouro acima pensando em tudo que não é a rua do Ouro,
E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos de mãos dadas,
De mãos dadas, Walt, de mãos dadas, dançando o universo na alma.
   
Quantas vezes eu beijo o teu retrato.
Lá onde estás agora (não sei onde é mas é Deus)
Sentes isto, sei que o sentes, e os meus beijos são mais quentes (em gente)
  
E tu assim é que os queres, meu velho, e agradeces de lá,
Sei-o bem, qualquer coisa mo diz, um agrado no meu espírito,
Uma ereção abstrata e indireta no fundo da minha alma.
   
Nada do engageant em ti, mas ciclópico e musculoso,
Mas perante o universo a tua atitude era de mulher,
E cada erva, cada pedra, cada homem era para ti o Universo.
    
Meu velho Walt, meu grande Camarada, evoé!
Pertenço à tua orgia báquica de sensações-em-liberdade,
Sou dos teus, desde a sensação dos meus pés até à náusea em meus sonhos,
Sou dos teus, olha pra mim, de aí desde Deus vês-me ao contrário:
De dentro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vês a minha alma —
Essa vês tu propriamente e através dos olhos dela o meu corpo —
Olha pra mim: tu sabes que eu, Álvaro de Campos, engenheiro,
Poeta sensacionista,
Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor,
Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso!
    
Nunca posso ler os teus versos a fio... Há ali sentir de mais...
Atravesso os teus versos como a uma multidão aos encontrões a mim,
E cheira-me a suor, a óleos, a atividade humana e mecânica
Nos teus versos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,
Não sei se o meu lugar real é no mundo ou nos teus versos,
Não sei se estou aqui, de pé sobre a terra natural,
Ou de cabeça p’ra baixo, pendurado numa espécie de estabelecimento,
No teto natural da tua inspiração de tropel,
No centro do teto da tua intensidade inacessível.
  
Abram-me todas as portas!
Por força que hei-de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma...
Passo sem explicações...
Se for preciso meto dentro as portas...
Sim — eu franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há-de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!
   
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui p’ra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida neste momento sou EU!
   
Que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo, deixa-me ir...
É comigo, com Deus, com o sentido-eu da palavra Infinito...
Prá frente!
Meto esporas!
Sinto as esporas, sou o próprio cavalo em que monto,
Porque eu, por minha vontade de me consubstanciar com Deus,
Posso ser tudo, ou posso ser nada, ou qualquer coisa,
Conforme me der na gana... Ninguém tem nada com isso...
Loucura furiosa! Vontade de ganir, de saltar,
De urrar, zurrar, dar pulos, pinotes, gritos com o corpo,
De me cramponner às rodas dos veículos e meter por baixo,
De me meter adiante do giro do chicote que vai bater,
De me (...)
De ser a cadela de todos os cães e eles não bastam,
De ser o volante de todas as máquinas e a velocidade tem limite,
De ser o esmagado, o deixado, o deslocado, o acabado,
E tudo para te cantar, para te saudar e (...)
Dança comigo, Walt, lá do outro mundo esta fúria,
Salta comigo neste batuque que esbarra com os astros,
Cai comigo sem forças no chão,
Esbarra comigo tonto nas paredes,
Parte-te e esfrangalha-te comigo
E (...)
Em tudo, por tudo, à roda de tudo, sem tudo,
Raiva abstracta do corpo fazendo maelstroms na alma...
  
Arre! Vamos lá prá frente!
Se o próprio Deus impede, vamos lá prá frente... Não faz diferença...
Vamos lá prá frente
Vamos lá prá frente sem ser para parte nenhuma...
Infinito! Universo! Meta sem meta! Que importa?
Pum! pum! pum! pum! pum!
Agora, sim, partamos, vá lá prá frente, pum!
Pum
Pum
  
Heia...heia...heia...heia...heia...
Desencadeio-me como uma trovoada
Em pulos da alma a ti,
Com bandas militares à frente [...] a saudar-te...
Com um [...] contigo e uma fúria de berros e saltos
Estardalhaço a gritar-te
E dou-te todos os vivas a mim e a ti e a Deus
E o universo anda à roda de nós como um carrocel com música dentro dos nossos crânios,
E tendo luzes essenciais na minha epiderme anterior
Eu, louco de [...] sibilar ébrio de máquinas,
Tu célebre, tu temerário, tu o Walt — e o [...],
Tu a [sensualidade porto?]
Eu a sensualidade com [...]
Tu a inteligência (...)

 


Álvaro de Campos

quarta-feira, março 20, 2024

Ibsen nasceu há 196 anos

  
Henrik Johan Ibsen (Skien, 20 de março de 1828 - Cristiânia, 23 de maio de 1906) foi um dramaturgo norueguês, considerado um dos criadores do teatro realista moderno. Foi o maior dramaturgo norueguês do século XIX. Foi também poeta e diretor teatral, sendo considerado o “pai do drama em prosa” e um dos fundadores do modernismo no teatro. Entre os seus maiores trabalhos destacam-se Brand, Peer Gynt, Um Inimigo do Povo, Imperador e Galileu, Casa de Bonecas, Hedda Gabler, Espectros, O Pato Selvagem e Rosmersholm
Muitas das suas peças foram consideradas escandalosas na época em que foram lançadas, pois o teatro europeu estava sujeito a um determinado conceito de vida familiar e propriedade. Os trabalhos de Ibsen analisavam a realidade contida por trás das convenções e costumes, o que trouxe muita inquietação aos seus contemporâneos. Ele lançou um olhar crítico e uma livre investigação sobre as condições de vida e as questões da moralidade da época. A poética peça Peer Gynt, no entanto, tem fortes elementos do surrealismo.
Ibsen é muitas vezes classificado como um dos verdadeiramente grandes dramaturgos da tradição europeia. Richard Hornby descreve-o como "um profundo e poético dramaturgo - o melhor desde Shakespeare". Ele influenciou outros dramaturgos e romancistas, tais como George Bernard Shaw, Oscar Wilde, James Joyce e Eugene O'Neill. Muitos críticos consideram-no o maior dramaturgo desde Shakespeare.
Embora a maioria de suas peças se passe na Noruega, muitas vezes em lugares que lembram Skien, a cidade portuária onde cresceu, Ibsen viveu vinte sete anos na Itália e Alemanha e raramente visitou a Noruega durante os seus anos mais produtivos.

sábado, março 16, 2024

António Botto morreu há 65 anos...

      
António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de agosto de 1897 - Rio de Janeiro, 16 de março de 1959) foi um poeta, contista e dramaturgo português - um dos mais originais e polémicos do seu tempo. A sua obra mais popular, Canções, compreende um conjunto de poemas líricos que expressam o drama do sentir homoerótico, de modo subtil mas explícito, e foi um marco na lírica portuguesa pela sua novidade e ousadia, causando grande escândalo e ultraje entre os meios reacionários da época. Amigo de Fernando Pessoa, que foi seu editor, defensor crítico e tradutor, conheceu igualmente outras figuras cimeiras da literatura portuguesa. Ostracizado em Portugal, em 1947 viajou para o Brasil, onde viveu os últimos anos em grande atribulação e penúria. Morreu em 1959, no Rio de Janeiro.
   
(...)
   
Na noite de 4 de março de 1959, ao atravessar a Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, foi atropelado por uma viatura do governo, sofrendo uma fratura do crânio e ficando em coma. Cerca das 17.00 horas de 16 de março de 1959, no Hospital da Beneficência Portuguesa, Botto, expira, abraçado pela sua inconsolável companheira, que o chora perdidamente. Contava ele 61 anos.
   

 

Anda, Vem

Anda, vem… por que te negas,
Carne morena, toda perfume?
Por que te calas,
Por que esmoreces
Boca vermelha,- rosa de lume!

Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos n'um beijo.

Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer,
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, - meu amor!

E ouve, mancebo alado,
Não entristeças, não penses,
— Sê contente,
Porque nem todo o prazer
Tem pecado…

Anda, vem… dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos;

Tenho Saudades da vida!

Tenho sede dos teus beijos!




in
Canções (1932) - António Botto

sexta-feira, março 15, 2024

Mário Eloy nasceu há 124 anos...

Autorretrato, circa 1936-39, óleo sobre tela

 

Mário Eloy de Jesus Pereira (Algés, 15 de março de 1900 - Lisboa, 5 de setembro de 1951) foi um pintor modernista português

 

Bailarico no Bairro, circa 1936, óleo sobre tela

 

domingo, março 10, 2024

A revista Presença foi lançada há 97 anos

 
A Presença - Folha de Arte e Crítica foi uma das mais influentes revistas literárias portuguesas do Século XX. Foi lançada em Coimbra, a 10 de março de 1927, sendo publicados 54 números até à sua extinção, em 1940.

 


"Folha de Arte e Crítica", publicada em Coimbra, em 1927, sob a direção de José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões. Foi editada em duas séries: a primeira, entre 1927 e 1939, com cinquenta e três números, e a segunda com apenas dois números, entre 1939 e 1940. Em 1977, saiu um número especial, comemorativo do cinquentenário do seu lançamento. Distinguindo-se por um cuidadoso grafismo, enriquecido com reproduções de trabalhos de Almada, Sarah Afonso, Mário Eloy, Júlio, Dórdio Gomes, entre outros, a Presença recebeu colaboração de José Régio, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, António Navarro, Carlos Queirós, Adolfo Casais Monteiro (que entra para a direção a partir do n.° 33), Miguel Torga, Alberto de Serpa, Francisco Bugalho, Saul Dias, João Falco (Irene Lisboa), Fausto José e João Gaspar Simões, entre outros. Acolheu textos de autores do primeiro modernismo como Luís de Montalvor, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Ângelo de Lima, aí vindo a colaborar ainda Vitorino Nemésio, Teles de Abreu (Jorge de Sena), Tomás Kim, Mário Saa, António Botto, Pedro Homem de Mello, Afonso Duarte, António de Sousa, João de Castro Osório, José Gomes Ferreira, Fernando Namora, João José Cochofel, Mário Dionísio ou Joaquim Namorado.
No n.° 1, na primeira página, José Régio publicou o texto "Literatura Viva", que pode ser entendido como manifesto programático da publicação. Defende nesse texto inaugural que "Em arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística", pelo que, "A primeira condição duma obra viva é pois ter uma personalidade e obedecer-lhe". Reclama, assim, para a obra artística, o carácter de "documento humano", os critérios de originalidade e sinceridade, definindo "literatura viva" como "aquela em que o artista insuflou a sua própria vida, e que por isso mesmo passa a viver de vida própria." Com efeito, a descoberta, pelas leituras de Freud e Bergson, "do inconsciente e a sua colaboração nas mais rudimentares manifestações psíquicas" (J. G. Simões - "Individualismo e Universalismo", Presença, n.° 4, 1927), inspirará o pendor psicologista da criação literária revelada pela Presença, marcada por um lirismo e dramatismo na exploração das inquietações mais profundas do Homem. Em prefácio à edição fac-similada da Presença, David Mourão-Ferreira enumera os valores defendidos pela publicação: "Primado absoluto [...] de uma liberdade de criação tanto mais ameaçada [...] quanto pretendia exercer-se em período político de crescentes limitações à mesma"; "preeminência, pelo menos aparente, ou mais visível na doutrina do que em obras concretas, do individual sobre o coletivo", e do "psicológico" [...] sobre o chamado "social"; "afirmada valorização do intuitivo sobre o racional [...]"; "assumido princípio, a cada passo posto em prática, da total independência da arte e da crítica em relação a qualquer poder"; "exercício, enfim, de uma tónica intransigência perante as expressões inautênticas, todas as glórias fáceis ou fabricadas artificialmente, todos os produtos e todas as manobras de mediocridade mais ou menos organizada".
A história da revista foi marcada por uma cisão entre os colaboradores - em 1930, Adolfo Rocha (Miguel Torga), Edmundo de Bettencourt e Branquinho da Fonseca endereçam a José Régio e João Gaspar Simões uma carta de dissidência - e pela polémica aberta com publicações defensoras de conceções estético-literárias de sinal oposto. Por volta de 1935, declara-se um conflito entre o grupo presencista e a geração neorrealista, que desponta em publicações como Seara Nova, O Diabo ou Sol Nascente, o primeiro acusando a segunda de não servir a arte, mas ideais sociais e políticos, e esta acusando os primeiros de alheamento num esteticismo egoísta. Em 1939, a revista inicia uma segunda série, que reafirma, em editorial, a opção por uma arte não-empenhada, embora consciente de que "a alguns parecerá desumanidade, mania, esta prova de atenção e amor às questões da arte, da crítica, da cultura, quando a questão social, a questão política e a questão económica deveriam, segundo esses, absorver todo o interesse de todos.", interessando-lhe exclusivamente "as criações de arte, as pesquisas ou conclusões da crítica" (Presença, nº 1, 2.a série, 1939, p. 1).
Coube à Presença, entre outros méritos, o de reabilitar as propostas artísticas da geração de Orpheu (o n.° 48 é dedicado a Fernando Pessoa), consagrando a modernidade literária veiculada pelos homens de 1915, e a exigência de isenção e rigor no exercício da crítica literária. Ao mesmo tempo, a Presença desempenhou um papel cultural determinante na divulgação de autores estrangeiros, como Proust, Gide, Pirandello, Dostoievsky, Ibsen, ou os brasileiros Jorge Amado, José Lins do Rego, Cecília de Meireles, Ribeiro Couto e Jorge de Lima.
     

quinta-feira, março 07, 2024

Mondrian nasceu há 152 anos

    
Pieter Cornelis Mondrian, geralmente conhecido por Piet Mondrian (Amersfoort, 7 de março de 1872 - Nova Iorque, 1 de fevereiro de 1944) foi um pintor neerlandês modernista. Participou do movimento artístico neoplasticismo e colaborou com a revista De Stijl.

   

Piet Mondrian, Evening; Red Tree (Avond; De rode boom), 1908–1910 - Gemeentemuseum Den Haag
  

sexta-feira, março 01, 2024

Camilo Pessanha morreu há 98 anos...

Camilo de Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de setembro de 1867 - Macau, 1 de março de 1926) foi um poeta português.
É considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação.
   
  
  
Inscrição
   
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...
 
 
Camilo Pessanha