"Folha de Arte e Crítica", publicada em Coimbra, em 1927, sob a direção
de José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões. Foi editada
em duas séries: a primeira, entre 1927 e 1939, com cinquenta e três
números, e a segunda com apenas dois números, entre 1939 e 1940. Em
1977, saiu um número especial, comemorativo do cinquentenário do seu
lançamento. Distinguindo-se por um cuidadoso grafismo, enriquecido com
reproduções de trabalhos de Almada, Sarah Afonso, Mário Eloy, Júlio,
Dórdio Gomes, entre outros, a
Presença recebeu colaboração de
José Régio, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, António
Navarro, Carlos Queirós, Adolfo Casais Monteiro (que entra para a
direção a partir do n.° 33), Miguel Torga, Alberto de Serpa, Francisco
Bugalho, Saul Dias, João Falco (Irene Lisboa), Fausto José e João Gaspar
Simões, entre outros. Acolheu textos de autores do primeiro modernismo
como Luís de Montalvor, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro,
Raul Leal, Ângelo de Lima, aí vindo a colaborar ainda Vitorino Nemésio,
Teles de Abreu (Jorge de Sena), Tomás Kim, Mário Saa, António Botto,
Pedro Homem de Mello, Afonso Duarte, António de Sousa, João de Castro
Osório, José Gomes Ferreira, Fernando Namora, João José Cochofel, Mário
Dionísio ou Joaquim Namorado.
No n.° 1, na primeira página, José
Régio publicou o texto "Literatura Viva", que pode ser entendido como
manifesto programático da publicação. Defende nesse texto inaugural que
"Em arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da
parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade
artística", pelo que, "A primeira condição duma obra viva é pois ter uma
personalidade e obedecer-lhe". Reclama, assim, para a obra artística, o
carácter de "documento humano", os critérios de originalidade e
sinceridade, definindo "literatura viva" como "aquela em que o artista
insuflou a sua própria vida, e que por isso mesmo passa a viver de vida
própria." Com efeito, a descoberta, pelas leituras de Freud e Bergson,
"do inconsciente e a sua colaboração nas mais rudimentares manifestações
psíquicas" (J. G. Simões - "Individualismo e Universalismo",
Presença, n.° 4, 1927), inspirará o pendor psicologista da criação literária revelada pela
Presença,
marcada por um lirismo e dramatismo na exploração das inquietações mais
profundas do Homem. Em prefácio à edição
fac-similada da
Presença,
David Mourão-Ferreira enumera os valores defendidos pela publicação:
"Primado absoluto [...] de uma liberdade de criação tanto mais ameaçada
[...] quanto pretendia exercer-se em período político de crescentes
limitações à mesma"; "preeminência, pelo menos aparente, ou mais visível
na doutrina do que em obras concretas, do individual sobre o coletivo",
e do "psicológico" [...] sobre o chamado "social"; "afirmada
valorização do intuitivo sobre o racional [...]"; "assumido princípio, a
cada passo posto em prática, da total independência da arte e da
crítica em relação a qualquer poder"; "exercício, enfim, de uma tónica
intransigência perante as expressões inautênticas, todas as glórias
fáceis ou fabricadas artificialmente, todos os produtos e todas as
manobras de mediocridade mais ou menos organizada".
A história da
revista foi marcada por uma cisão entre os colaboradores - em 1930,
Adolfo Rocha (Miguel Torga), Edmundo de Bettencourt e Branquinho da
Fonseca endereçam a José Régio e João Gaspar Simões uma carta de
dissidência - e pela polémica aberta com publicações defensoras de
conceções estético-literárias de sinal oposto. Por volta de 1935,
declara-se um conflito entre o grupo
presencista e a geração
neorrealista, que desponta em publicações como
Seara Nova,
O Diabo ou
Sol Nascente,
o primeiro acusando a segunda de não servir a arte, mas ideais sociais e
políticos, e esta acusando os primeiros de alheamento num esteticismo
egoísta. Em 1939, a revista inicia uma segunda série, que reafirma, em
editorial, a opção por uma arte não-empenhada, embora consciente de que
"a alguns parecerá desumanidade, mania, esta prova de atenção e amor às
questões da arte, da crítica, da cultura, quando a questão social, a
questão política e a questão económica deveriam, segundo esses, absorver
todo o interesse de todos.", interessando-lhe exclusivamente "as
criações de arte, as pesquisas ou conclusões da crítica" (
Presença, nº 1, 2.
a série, 1939, p. 1).
Coube à
Presença, entre outros méritos, o de reabilitar as propostas artísticas da geração de
Orpheu
(o n.° 48 é dedicado a Fernando Pessoa), consagrando a modernidade
literária veiculada pelos homens de 1915, e a exigência de isenção e
rigor no exercício da crítica literária. Ao mesmo tempo, a
Presença desempenhou
um papel cultural determinante na divulgação de autores estrangeiros,
como Proust, Gide, Pirandello, Dostoievsky, Ibsen, ou os brasileiros
Jorge Amado, José Lins do Rego, Cecília de Meireles, Ribeiro Couto e
Jorge de Lima.