António Tomás Botto (
Concavada,
Abrantes,
17 de agosto de
1897 -
Rio de Janeiro,
16 de março de
1959) foi um
poeta, contista e dramaturgo
português - um dos mais originais e polémicos do seu tempo. A sua obra mais popular,
Canções, compreende um conjunto de poemas líricos que expressam o drama do sentir
homoerótico,
de modo subtil mas explícito, e foi um marco na lírica portuguesa pela
sua novidade e ousadia, causando grande escândalo e ultraje entre os
meios
reacionários da época. Amigo de
Fernando Pessoa,
que foi seu editor, defensor crítico e tradutor, conheceu igualmente
outras figuras cimeiras da literatura portuguesa. Ostracizado em
Portugal, em
1947 viajou para o
Brasil, onde viveu os últimos anos em grande atribulação e penúria. Morreu em
1959, no
Rio de Janeiro.
(...)
Na noite de
4 de março de
1959, ao atravessar a Avenida
Copacabana,
no Rio de Janeiro, foi atropelado por uma viatura do governo, sofrendo
uma fratura do crânio e ficando em coma. Cerca das 17.00 horas de 16 de
março de
1959,
no Hospital da Beneficência Portuguesa, Botto, expira, abraçado pela
sua inconsolável companheira, que o chora perdidamente. Contava ele 61
anos.
Anda, Vem
Anda, vem… por que te negas,
Carne morena, toda perfume?
Por que te calas,
Por que esmoreces
Boca vermelha,- rosa de lume!
Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos n'um beijo.
Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer,
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, - meu amor!
E ouve, mancebo alado,
Não entristeças, não penses,
— Sê contente,
Porque nem todo o prazer
Tem pecado…
Anda, vem… dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos;
Tenho Saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!
in Canções (1932) - António Botto
Sem comentários:
Enviar um comentário