Ronald de Carvalho era filho do capitão-tenente e engenheiro naval
Artur Augusto de Carvalho e de Alice Paula e Silva Figueiredo de
Carvalho, concluindo o curso secundário no Colégio Abílio.
Em
1924, dirigiu a Seção dos Negócios Políticos e Diplomáticos na Europa. Durante a gestão de
Félix Pacheco, esteve no
México, como hóspede de honra daquele governo. Em
1926, foi oficial de gabinete do ministro
Otávio Mangabeira.
Em 1930, o seu poema Brasil foi entusiasticamente lido na conferência
Poesia Moderníssima do Brasil, apresentada pelo professor Manoel de
Souza Pinto, da Cadeira de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras de
Coimbra. Exerceu cargos diplomáticos de relevância, servindo na
Embaixada de Paris, com o embaixador Sousa Dantas, por dois anos, e
depois em
Haia (
Países Baixos). Retornou a
Paris, de onde, em
1933, foi removido para o Rio de Janeiro.
Foi secretário da Presidência da República, cargo que ocupava quando morreu. Em concurso realizado pelo
Diário de Notícias, em
1935, foi eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, em substituição
de Coelho Neto. Colaborou, com destaque, em
O Jornal. Casou com Leilah Accioly de Carvalho, com quem teve quatro filhos.
Ronald de Carvalho faleceu com 41 anos de idade, vítima de acidente automobilístico, no
Rio de Janeiro, em 15 de fevereiro de 1935.
Na biblioteca de Fernando Pessoa da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, existe um exemplar do livro Luz Gloriosa - Poema de Ronald de Carvalho, com o seguinte colofon:
- « Terminou-se a impressão deste livro em Novembro do anno de MCMXIII, nas officinas graphicas da Casa Crès et Cie, Paris. »
Este exemplar foi oferecido a
Fernando Pessoa pelo autor e enviado através de
Luís de Montalvor,
no seu regresso a Lisboa após dois anos como secretário da Embaixada
de Portugal no Rio de Janeiro. O livro tem uma dedicatória escrita pelo
punho de Ronald de Carvalho:
- « Para as mãos de Fernando Pessôa, fraternalmente Ronaldo de Carvalho. Rio MCMXIV »
Em 29 de fevereiro de 1915,
Fernando Pessoa escreveu ao autor, agradecendo o livro que este lhe oferecera e fazendo uma apreciação de
Luz Gloriosa:
- «O seu Livro é dos mais belos que
recentemente tenho lido. Digo-lhe isto para que, não me conhecendo, me
não julgue posto a severidade sem atenção às belezas do seu Livro. Há
em si o com que os grandes poetas se fazem. De vez em quando a mão do
escultor faz falar as curvas irreais da sua Matéria. E então é o seu
poema sobre o Cais e a sua impressão do Outono, e este e aquele verso,
caído dos deuses como o que é azul no céu nos intervalos da tormenta.
Exija de si o que sabe que não pode fazer. Não é outro o caminho da
Beleza.»
Fernando Pessoa in Correspondência (1905-1922)
A crítica de Fernando Pessoa parece ter influenciado o escritor brasileiro, que iria aderir ao
modernismo, destacando-se a sua intervenção na
Semana de Arte Moderna. cinco anos mais novo do que
Fernando Pessoa, Ronald de Carvalho viria a morrer, por coincidência, no mesmo ano do escritor português.
Ronald de Carvalho foi, em conjunto com
Luís de Montalvor, diretor do primeiro número da revista literária
Orpheu,
publicada em Lisboa em Março de 1915, causando enorme polémica. Esta
revista, de que se publicaram apenas dois números, foi uma das mais
importantes no panorama literário português, contribuindo decisivamente
para a introdução do modernismo em Portugal e exercendo uma duradoura
influência na literatura portuguesa do século XX. Para além desses
dois escritores,
Orpheu publicou grandes nomes das letras portuguesas, como
Fernando Pessoa,
Mário de Sá-Carneiro e
José de Almada-Negreiros.
Na folha de rosto do primeiro número da «revista trimestral de literatura»
Orpheu, correspondente ao primeiro trimestre de 1915, pode ler-se:
DIRECÇÃO
PORTUGAL
Luiz de Montalvor - 17, Caminho do Forno do Tijolo—LISBOA
BRAZIL
Ronald de Carvalho - 104, Rua Humaytá—RIO DE JANEIRO
Nas páginas 21 a 25 a mesma revista contém os poemas de Ronald de
Carvalho «A Alma que Passa», «Lampada Nocturna», «Torre Ignota», «O
Elogio dos Repuxos» e «Reflexos (Poema da Alma enferma)».
Écloga Tropical
Entre a chuva de ouro das carambolas
e o veludo polido das jabuticabas,
sobre o gramado morno,
onde voam borboletas e besouros,
sobre o gramado lustroso
onde pulam gafanhotos de asas verdes e vermelhas,
Salta uma ronda de crianças!
O ar é todo perfume,
perfume tépido de ervas, raízes e folhagens.
O ar cheira a mel de abelhas...
E há nos olhos castanhos das crianças
a doçura e o travor das resinas selvagens,
e há nas suas vozes agudas e dissonantes
um áureo rumor de flautas, de trilos, de zumbidos
e de águas buliçosas...
in Epigramas Irônicos e Sentimentais (1922) - Ronald de Carvalho