Uma das não-notícias do ano foi a anunciada catástrofe vulcânica do El Hierro. Crónica do vulcanólogo Victor Hugo Forjaz a propósito dos recentes fenómenos vulcânicos que têm ocorrido na ilha de El Hierro, nas Canárias:
1 - O vulcão submarino da Restinga, nos mares da ilha de
El Hierro, tem sido noticia em todo o mundo (menos em terras açorianas, julgo eu…)! Aliás dos Açores deslocou-se apenas a
vulcanóloga Prof.ª Doutora
Zilda França. A permanência da nossa Colega nas Canárias foi extremamente
representativa e útil. As autoridades locais cientificas e políticas acolheram-na com muito respeito e amizade. Os colegas, de diversas origens, foram cooperantes e
incansáveis. Por esse motivo temos mantido relatos diários
internéticos junto de milhares (sim - milhares) de peritos e de curiosos assim constituindo um
fórum entusiasmante.
2 -
Entretando, com o passar das semanas manteve-se o "comportamento"
inusual do novo vulcão do tipo
serretiano (ora se afastava ora se aproximava,ora se desenvolvia sem tremor vulcânico,ora emitia largos volumes de produtos vulcânicos,
finíssimos, em silêncio
sísmico, ora emitia ténues vapores ora se assinalava por borbulhantes
cachões de espuma e de vapores
pestilentos. Registaram-se milhares de micro a
macroeventos sísmicos. Entretanto surgiram os profetas da desgraça. É sempre assim- no Faial,em Maio de 1958, durante
os Capelinhos, também foi assim: segundo um jornalista lisboeta, a ilha teria a forma de cálice pelo que as
sismotremuras diárias iriam fracturar o pé do cálice e depois…. pum, ficávamos todos afogados (e eu com 17 anos!). Muitos fugiram para o Pico e S. Jorge. Regressaram no fim do mês, com a chegada de
Tazieff, tido como um "
deus" da
vulcanologia (que ajudou o Governador Freitas Pimentel e o Eng.º
Frederico Machado a consolidarem a calma e a sensatez). No caso de
El Hierro os profetas da desgraça brotaram outra "previsão",ou seja, papaguearam os medos do cientista
inglês Simon
Day, vaticinaram que os milhares de tremores telúricos, uns vulcânicos outros tectónicos, teriam abalado a ilha,"
enfraquecendo-a" de tal modo que uma grande fatia de
El Hierro iria deslizar para o oceano, abruptamente, assim gerando uma gigantesca vaga (um tsunami). O
vagalhão iria arrasar imensas extensões costeiras, na África, no Brasil, nos EUA, na Europa… Enfim, um cataclismo
inesquecível! Os promotores repetiam o já anunciado para a ilha de La Palma por Simon
Day.
Adios tapas e tasquitas!
3 -
Mega-abatimentos ou colapsos em estruturas vulcânicas são desde há muito conhecidos: na vertente sul da montanha do Pico, no segmento sul do vulcão das Furnas (em estudo), em diversas ilhas das Canárias (sendo os de La Palma
aparatosamente divulgados por
Simom Day;
Tenerife…)
Réunion, Cabo Verde,
Hawaii, Japão, etc. Pouco se sabe sobre o mecanismo desses colapsos, ou seja, se foram bruscos, se foram lentos e do tipo "
creep", se foram excitados por terramotos, se foram accionados por excesso de água, se existiram condicionantes topográficas, se resultaram de
incoesões gravíticas, etc. A realidade é que nenhum desses
megacolapsos com
megatsunamis ocorreram em tempos históricos. Não se duvida da respectiva existência mas as causas e as
consequências variam de região para região. Essa é a verdade - os
megatsunamis transoceânicos, ligados a colapsos de territórios vulcânicos, não se encontram bem
sustentabilizados, quer documentalmente quer
sedimentologicamente. Ou seja, num determinado continente não se conhecem, sem dúvidas, depósitos
transportados por megatsunamis gerados em geografia oposta. Assim os terríveis deslizamentos das Canárias, com repercussões nos Açores, devem ser tomados como suposições para datas de
impossível adivinhanço.
29 DEZ 2011 V-H Forjaz