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terça-feira, novembro 26, 2024

Houve umas inacreditáveis cheias na zona de Lisboa há cinquenta e sete anos

      
As cheias de 1967 na região de Lisboa foram causadas por fortes chuvas na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967. Causaram cerca de 700 mortes e a destruição de 20 mil casas, constituindo a pior catástrofe na região lisboeta desde o grande sismo de 1755.

Apesar da gravidade da tragédia, as cheias e as suas consequências foram sub-noticiadas, devido às fortes limitações impostas pela censura do Estado Novo. Foi igualmente impedida a contabilização completa de mortes e estragos.

    

As condições meteorológicas

Na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, fruto de uma depressão meteorológica que percorreu todo o Vale do Tejo, precipitação intensa e concentrada provocou cheias em toda a região de Lisboa, atingindo sobretudo os concelhos de Loures - do qual fazia parte na altura o atual concelho de Odivelas, que foi afetado nas freguesias à época de Póvoa de Santo Adrião, Olival Basto e Odivelas —, Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos. A precipitação destas fortes chuvadas equivaleu a um quinto da precipitação anual. Na estação meteorológica da Gago Coutinho no concelho de Lisboa foram registados 115.6 mm de precipitação num período de apenas 24 horas e na de São Julião do Tojal, no concelho de Loures, 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19.00 e as 24.00 horas de dia 25 de novembro).

Várias causas contribuíram para a gravidade das cheias: as bacias hidrográficas da região lisboeta têm áreas reduzidas e tempos de resposta curtos (2 horas); a drenagem tinha sido dificultada pela construção ao longo dos cursos de água, pela falta de limpeza dos rios e ribeiras, e, em muitos pontos, pela canalização subterrânea com dimensão insuficiente. 

 

Destruição e mortes

As inundações, associadas às precárias condições de habitação e à falta de ordenamento, causaram cerca de 700 mortos e deixam milhares de pessoas sem abrigo, e destruíram casas, estradas e pontes. A título de exemplo aponta-se o seguinte número de mortos:

  • Arruda dos Vinhos: 12 mortos;
  • Vila Franca de Xira: 204 mortos.

 

Reação do Estado e censura - Mobilização da sociedade civil

O estado foi incapaz de dar o apoio adequado às vítimas. Ocorreu então uma mobilização da sociedade civil, nomeadamente de estudantes e de associações católicas. Recorda Mariano Gago:

"... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

 

As cheias na Imprensa 

50 anos depois podem-se rever os vários jornais que cobriram este acontecimento: Diário de Lisboa, Diário Popular, República, Flama e Século Ilustrado


sexta-feira, janeiro 12, 2024

Cheias e deslizamentos de terra, no Rio de Janeiro, mataram centenas de pessoas, há treze anos...

     
Enchentes e deslizamentos de terra atingiram o estado do Rio de Janeiro, localizado no Sudeste do Brasil, em 12 de janeiro de 2011. Os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim, na Região Serrana, e Areal, na Região Centro-Sul do estado. Os serviços governamentais contabilizaram 916 mortes e cerca de 345 desaparecidos. A Secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, reportou que 428 pessoas morreram em Nova Friburgo, 382 em Teresópolis, 71 em Petrópolis, 21 em Sumidouro, 4 em São José do Vale do Rio Preto e 1 em Bom Jardim. Já as desaparecidas foram 180 em Teresópolis, 85 em Nova Friburgo, 45 em Petrópolis e 2 em Sumidouro. Ainda de acordo com o MP, outras 32 pessoas não foram encontradas em outras localidades da Região Serrana, até aquele momento, nos quatro municípios. Por último, cerca de 35 mil pessoas ficaram desalojadas em consequência dos desastres naturais.
A tragédia foi considerada como o maior desastre climático da história do país, superando os 463 mortos do temporal que atingiu o município paulista de Caraguatatuba, em 1967. No entanto, a maior tragédia natural da história do Brasil ainda é a grande inundação ocorrida na Serra das Araras, em janeiro de 1967, que, entre mortos e desaparecidos, vitimou cerca de 1.700 pessoas.
   

domingo, novembro 26, 2023

Umas inacreditáveis cheias mataram cerca de 700 pessoas na zona de Lisboa há cinquenta e seis anos

      
As cheias de 1967 na região de Lisboa foram causadas por fortes chuvas na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967. Causaram cerca de 700 mortes e a destruição de 20 mil casas, constituindo a pior catástrofe na região lisboeta desde o grande sismo de 1755.

Apesar da gravidade da tragédia, as cheias e as suas consequências foram sub-noticiadas, devido às fortes limitações impostas pela censura do Estado Novo. Foi igualmente impedida a contabilização completa de mortes e estragos.

    

As condições meteorológicas

Na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, fruto de uma depressão meteorológica que percorreu todo o Vale do Tejo, precipitação intensa e concentrada provocou cheias em toda a região de Lisboa, atingindo sobretudo os concelhos de Loures - do qual fazia parte na altura o atual concelho de Odivelas, que foi afetado nas freguesias à época de Póvoa de Santo Adrião, Olival Basto e Odivelas —, Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos. A precipitação destas fortes chuvadas equivaleu a um quinto da precipitação anual. Na estação meteorológica da Gago Coutinho no concelho de Lisboa foram registados 115.6 mm de precipitação num período de apenas 24 horas e na de São Julião do Tojal no concelho de Loures 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19h e as 24h de dia 25 de novembro).

Várias causas contribuíram para a gravidade das cheias: as bacias hidrográficas da região lisboeta têm áreas reduzidas e tempos de resposta curtos (2 horas); a drenagem tinha sido dificultada pela construção ao longo dos cursos de água, pela falta de limpeza dos rios e ribeiras, e, em muitos pontos, pela canalização subterrânea com dimensão insuficiente. 

 

Destruição e mortes

As inundações, associadas às precárias condições de habitação e à falta de ordenamento, causaram cerca de 700 mortos e deixam milhares de pessoas sem abrigo, e destruíram casas, estradas e pontes. A título de exemplo aponta-se o seguinte número de mortos:

  • Arruda dos Vinhos: 12 mortos;
  • Vila Franca de Xira: 204 mortos.

 

Reação do Estado e censura - Mobilização da sociedade civil

O estado foi incapaz de dar o apoio adequado às vítimas. Ocorreu então uma mobilização da sociedade civil, nomeadamente de estudantes e de associações católicas. Recorda Mariano Gago:

"... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

 

As cheias na Imprensa 

50 anos depois podem-se rever os vários jornais que cobriram este acontecimento: Diário de Lisboa, Diário Popular, República, Flama e Século Ilustrado


quinta-feira, janeiro 12, 2023

Cheias e deslizamentos de terra, no Rio de Janeiro, mataram centenas de pessoas, há doze anos...

     
Enchentes e deslizamentos de terra atingiram o estado do Rio de Janeiro, localizado no Sudeste do Brasil, em 12 de janeiro de 2011. Os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim, na Região Serrana, e Areal, na Região Centro-Sul do estado. Os serviços governamentais contabilizaram 916 mortes e cerca de 345 desaparecidos. A Secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, reportou que 428 pessoas morreram em Nova Friburgo, 382 em Teresópolis, 71 em Petrópolis, 21 em Sumidouro, 4 em São José do Vale do Rio Preto e 1 em Bom Jardim. Já as desaparecidas foram 180 em Teresópolis, 85 em Nova Friburgo, 45 em Petrópolis e 2 em Sumidouro. Ainda de acordo com o MP, outras 32 pessoas não foram encontradas em outras localidades da Região Serrana, até aquele momento, nos quatro municípios. Por último, cerca de 35 mil pessoas ficaram desalojadas em consequência dos desastres naturais.
A tragédia foi considerada como o maior desastre climático da história do país, superando os 463 mortos do temporal que atingiu o município paulista de Caraguatatuba, em 1967. No entanto, a maior tragédia natural da história do Brasil ainda é a grande inundação ocorrida na Serra das Araras, em janeiro de 1967, que, entre mortos e desaparecidos, vitimou cerca de 1.700 pessoas.
   

sábado, novembro 26, 2022

As cheias na zona de Lisboa mataram cerca de 700 pessoas há cinquenta e cinco anos

      
As cheias de 1967 na região de Lisboa foram causadas por fortes chuvas na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967. Causaram cerca de 700 mortes e a destruição de 20 mil casas, constituindo a pior catástrofe na região lisboeta desde o grande sismo de 1755.

Apesar da gravidade da tragédia, as cheias e as suas consequências foram sub-noticiadas, devido às fortes limitações impostas pela censura do Estado Novo. Foi igualmente impedida a contabilização completa de mortes e estragos.

    

As condições meteorológicas

Na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, fruto de uma depressão meteorológica que percorreu todo o Vale do Tejo, precipitação intensa e concentrada provocou cheias em toda a região de Lisboa, atingindo sobretudo os concelhos de Loures - do qual fazia parte na altura o atual concelho de Odivelas, que foi afetado nas freguesias à época de Póvoa de Santo Adrião, Olival Basto e Odivelas —, Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos. A precipitação destas fortes chuvadas equivaleu a um quinto da precipitação anual. Na estação meteorológica da Gago Coutinho no concelho de Lisboa foram registados 115.6 mm de precipitação num período de apenas 24 horas e na de São Julião do Tojal no concelho de Loures 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19h e as 24h de dia 25 de novembro).

Várias causas contribuíram para a gravidade das cheias: as bacias hidrográficas da região lisboeta têm áreas reduzidas e tempos de resposta curtos (2 horas); a drenagem tinha sido dificultada pela construção ao longo dos cursos de água, pela falta de limpeza dos rios e ribeiras, e, em muitos pontos, pela canalização subterrânea com dimensão insuficiente. 

 

Destruição e mortes

As inundações, associadas às precárias condições de habitação e à falta de ordenamento, causaram cerca de 700 mortos e deixam milhares de pessoas sem abrigo, e destruíram casas, estradas e pontes. A título de exemplo aponta-se o seguinte número de mortos:

  • Arruda dos Vinhos: 12 mortos;
  • Vila Franca de Xira: 204 mortos.

 

Reação do Estado e censura - Mobilização da sociedade civil

O estado foi incapaz de dar o apoio adequado às vítimas. Ocorreu então uma mobilização da sociedade civil, nomeadamente de estudantes e de associações católicas. Recorda Mariano Gago:

"... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

 

As cheias na Imprensa 

50 anos depois podem-se rever os vários jornais que cobriram este acontecimento: Diário de Lisboa, Diário Popular, República, Flama e Século Ilustrado


quarta-feira, janeiro 12, 2022

Há onze anos, cheias e deslizamentos de terra, no Rio de Janeiro, mataram centenas de pessoas...

     
Enchentes e deslizamentos de terra atingiram o estado do Rio de Janeiro, localizado no Sudeste do Brasil, em 12 de janeiro de 2011. Os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim, na Região Serrana, e Areal, na Região Centro-Sul do estado. Os serviços governamentais contabilizaram 916 mortes e cerca de 345 desaparecidos. A Secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, reportou que 428 pessoas morreram em Nova Friburgo, 382 em Teresópolis, 71 em Petrópolis, 21 em Sumidouro, 4 em São José do Vale do Rio Preto e 1 em Bom Jardim. Já as desaparecidas foram 180 em Teresópolis, 85 em Nova Friburgo, 45 em Petrópolis e 2 em Sumidouro. Ainda de acordo com o MP, outras 32 pessoas não foram encontradas em outras localidades da Região Serrana, até aquele momento, nos quatro municípios. Por último, cerca de 35 mil pessoas ficaram desalojadas em consequência dos desastres naturais.
A tragédia foi considerada como o maior desastre climático da história do país, superando os 463 mortos do temporal que atingiu o município paulista de Caraguatatuba, em 1967. No entanto, a maior tragédia natural da história do Brasil ainda é a grande inundação ocorrida na Serra das Araras, em janeiro de 1967, que, entre mortos e desaparecidos, vitimou cerca de 1.700 pessoas.
   

sexta-feira, novembro 26, 2021

As cheias de 25/26 de novembro de 1967 mataram cerca de 700 pessoas há 54 anos

      
As cheias de 1967 na região de Lisboa foram causadas por fortes chuvas na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967. Causaram cerca de 700 mortes e a destruição de 20 mil casas, constituindo a pior catástrofe na região lisboeta desde o grande sismo de 1755.

Apesar da gravidade da tragédia, as cheias e as suas consequências foram sub-noticiadas, devido às fortes limitações impostas pela censura do Estado Novo. Foi igualmente impedida a contabilização completa de mortes e estragos.

    

As condições meteorológicas

Na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, fruto de uma depressão meteorológica que percorreu todo o Vale do Tejo, precipitação intensa e concentrada provocou cheias em toda a região de Lisboa, atingindo sobretudo os concelhos de Loures - do qual fazia parte na altura o actual concelho de Odivelas, que foi afectado nas freguesias à época de Póvoa de Santo Adrião, Olival Basto e Odivelas —, Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos. A precipitação destas fortes chuvadas equivaleu a um quinto da precipitação anual. Na estação meteorológica da Gago Coutinho no concelho de Lisboa foram registados 115.6 mm de precipitação num período de apenas 24 horas e na de São Julião do Tojal no concelho de Loures 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19h e as 24h de dia 25 de novembro).

Várias causas contribuíram para a gravidade das cheias: as bacias hidrográficas da região lisboeta têm áreas reduzidas e tempos de resposta curtos (2 horas); a drenagem tinha sido dificultada pela construção ao longo dos cursos de água, pela falta de limpeza dos rios e ribeiras, e, em muitos pontos, pela canalização subterrânea com dimensão insuficiente. 

 

Destruição e mortes

As inundações, associadas às precárias condições de habitação e à falta de ordenamento, causaram cerca de 700 mortos e deixam milhares de pessoas sem abrigo, e destruíram casas, estradas e pontes. A título de exemplo aponta-se o seguinte número de mortos:

  • Arruda dos Vinhos: 12 mortos;
  • Vila Franca de Xira: 204 mortos.

 

Reacção do Estado e censura - Mobilização da sociedade civil

O estado foi incapaz de dar o apoio adequado às vítimas. Ocorreu então uma mobilização da sociedade civil, nomeadamente de estudantes e de associações católicas. Recorda Mariano Gago:

"... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

 

As cheias na Imprensa 

50 anos depois podem-se rever os vários jornais que cobriram este acontecimento: Diário de Lisboa, Diário Popular, República, Flama e Século Ilustrado


terça-feira, janeiro 12, 2021

Enchentes e deslizamentos de terra no Rio de Janeiro mataram centenas de pessoas há dez anos


  
Enchentes e deslizamentos de terra atingiram o estado do Rio de Janeiro, localizado no Sudeste do Brasil, em 12 de janeiro de 2011. Os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim na Região Serrana e Areal na Região Centro-Sul do estado. Os serviços governamentais contabilizaram 916 mortes e cerca de 345 desaparecidos. A Secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, reportou que 428 pessoas morreram em Nova Friburgo, 382 em Teresópolis, 71 em Petrópolis, 21 em Sumidouro, 4 em São José do Vale do Rio Preto e 1 em Bom Jardim. Já as desaparecidas foram 180 em Teresópolis, 85 em Nova Friburgo, 45 em Petrópolis e 2 em Sumidouro. Ainda de acordo com o MP, outras 32 pessoas não foram encontradas em outras localidades da Região Serrana, até aquele momento, nos quatro municípios. Por último, cerca de 35 mil pessoas ficaram desalojadas em consequência dos desastres naturais.
A tragédia foi considerada como o maior desastre climático da história do país, superando os 463 mortos do temporal que atingiu o município paulista de Caraguatatuba, em 1967. No entanto, a maior tragédia natural da história do Brasil ainda é a grande inundação ocorrida na Serra das Araras, em janeiro de 1967, que, entre mortos e desaparecidos, vitimou cerca de 1700 pessoas.
No dia 14 de janeiro, a notícia de queda de caixa de água causou pânico entre moradores de Nova Friburgo, assustando moradores da cidade, e da Região Serrana do Rio. Com medo, boa parte da população chegou a pensar que uma represa do município havia rompido. A região voltou a receber precipitação dias posteriores. Até mesmo a cidade do Rio de Janeiro entrou em estado de atenção no dia 15 de janeiro por fortes chuvas nas zonas norte e oeste, segundo o Centro de Operações Rio. Alerta para o dia 16 e 17 de janeiro foi repassado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), tendo a possibilidade de mais chuvas para toda a região, decorrente das condições favoráveis.

quinta-feira, novembro 26, 2020

Há 53 anos, as cheias de 25/26 de novembro de 1967 mataram cerca de setecentas pessoas na zona de Lisboa

  
As cheias de 1967 na região de Lisboa foram causadas por fortes chuvas na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967. Causaram cerca de 700 mortes e a destruição de 20 mil casas, constituindo a pior catástrofe na região lisboeta desde o grande sismo de 1755.

Apesar da gravidade da tragédia, as cheias e as suas consequências foram sub-noticiadas, devido às fortes limitações impostas pela censura do Estado Novo. Foi igualmente impedida a contabilização completa de mortes e estragos.

  

As condições meteorológicas

Na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, fruto de uma depressão meteorológica que percorreu todo o Vale do Tejo, precipitação intensa e concentrada provocou cheias em toda a região de Lisboa, atingindo sobretudo os concelhos de Loures - do qual fazia parte na altura o actual concelho de Odivelas, que foi afectado nas freguesias à época de Póvoa de Santo Adrião, Olival Basto e Odivelas —, Vila Franca de Xira e Arruda dos Vinhos. A precipitação destas fortes chuvadas equivaleu a um quinto da precipitação anual. Na estação meteorológica da Gago Coutinho no concelho de Lisboa foram registados 115.6 mm de precipitação num período de apenas 24 horas e na de São Julião do Tojal no concelho de Loures 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19h e as 24h de dia 25 de novembro).

Várias causas contribuíram para a gravidade das cheias: as bacias hidrográficas da região lisboeta têm áreas reduzidas e tempos de resposta curtos (2 horas); a drenagem tinha sido dificultada pela construção ao longo dos cursos de água, pela falta de limpeza dos rios e ribeiras, e, em muitos pontos, pela canalização subterrânea com dimensão insuficiente. 

 

Destruição e mortes

As inundações, associadas às precárias condições de habitação e à falta de ordenamento, causaram cerca de 700 mortos e deixam milhares de pessoas sem abrigo, e destruíram casas, estradas e pontes. A título de exemplo aponta-se o seguinte número de mortos:

  • Arruda dos Vinhos: 12 mortos;
  • Vila Franca de Xira: 204 mortos.

 

Reacção do Estado e censura - Mobilização da sociedade civil

O estado foi incapaz de dar o apoio adequado às vítimas. Ocorreu então uma mobilização da sociedade civil, nomeadamente de estudantes e de associações católicas. Recorda Mariano Gago:

"... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

 

As cheias na Imprensa 

50 anos depois podem-se rever os vários jornais que cobriram este acontecimento: Diário de Lisboa, Diário Popular, República, Flama e Século Ilustrado


in Wikipédia

terça-feira, novembro 26, 2019

Umas cheias excecionais mataram cerca de quinhentas pessoas há 52 anos

Cheia no concelho de Odivelas
  
Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967 registou-se, na região de Lisboa, precipitação intensa e concentrada, tendo atingido, na estação de São Julião do Tojal, no concelho de Loures, 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19.00 e as 24.00 horas do dia 25). As estações da região de Lisboa registaram, nesta data, cerca de um quinto do total da precipitação anual.
Tal precipitação excepcional, cujo período de retorno está estimado em de 500 anos, provocaram a ocorrência de uma cheia repentina com duração inferior a 12 horas.
A cheia foi amplificada por vários factores, designadamente:
  • na região de Lisboa as bacias hidrográficas têm áreas reduzidas e tempos de resposta muito curtos (2 horas);
  • vastas zonas da região estão intensamente urbanizadas e impermeabilizadas;
  • grande parte do coberto vegetal tinha sido destruído;
  • ao longo do tempo tinham sido construídas estruturas transversais nos cursos de água, que dificultavam ou impediam a drenagem natural;
  • os rios e ribeiras da região careciam de limpeza, havendo locais onde existia vegetação muito densa que dificultava a escorrência, e outros onde, ao longo do tempo, se tinha acumulado lixo variado, inclusivamente mobiliário velho e electrodomésticos;
  • em muitos pontos a rede fluvial tinha sido canalizada, correndo, nalguns locais, de forma subterrânea (através de manilhas);
  • o sistema de drenagem pluvial estava mal dimensionado com limpeza deficiente;
  • a precipitação concentrada coincidiu com a preia-mar do Tejo, que ocorreu às 22.50 horas.
Acresce que os fortes caudais da escorrência superficial tinham grande carga sólida, arrastando quantidade muito grande de detritos de dimensões muito variadas (de micra a metros), designadamente solo erodido, árvores, fragmentos de muros e blocos de edificações destruídas. Nalguns pontos a corrente de cheia revelou características de corrente de densidade. Muitas vezes os danos foram provocados pelo impacte de detritos de grandes dimensões, que fragilizaram as estruturas, as quais acabariam por ceder perante a força da corrente.
A situação na região de Lisboa tornou-se completamente caótica. As cheias destrutivas causaram a morte de 462 pessoas e desalojaram ou afectaram cerca de 1.100, submergindo centenas de casas e infra-estruturas num rio de lamas e pedras. Todavia, permanecem muitas dúvidas sobre a dimensão deste evento, designadamente no que se refere ao número de vítimas mortais, pois que o regime político da altura nunca permitiu apurar as verdadeiras consequências desta catástrofe. Algumas estimativas apontam para prejuízos da ordem dos 3 milhões de dólares, a preços da época.
No dia seguinte as estruturas oficiais revelaram-se incapazes de ministrar o apoio necessário às vítimas, tendo-se, para tal, verificado mobilização da sociedade civil. Como recorda Mariano Gago "... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

Consequências das cheias na Pontinha

segunda-feira, novembro 26, 2018

Hoje é dia de recordar as cheias de 25/26 de novembro de 1967

Cheia no concelho de Odivelas

Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967 registou-se, na região de Lisboa, precipitação intensa e concentrada, tendo atingido, na estação de São Julião do Tojal, no concelho de Loures, 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19.00 e as 24.00 horas do dia 25). As estações da região de Lisboa registaram, nesta data, cerca de um quinto do total da precipitação anual.
Tal precipitação excepcional, cujo período de retorno está estimado em cerca de 500 anos, provocaram a ocorrência de uma cheia repentina com duração inferior a 12 horas.
A cheia foi amplificada por vários factores, designadamente:
  • na região de Lisboa as bacias hidrográficas têm áreas reduzidas e tempos de resposta muito curtos (2 horas);
  • vastas zonas da região estão intensamente urbanizadas e impermeabilizadas;
  • grande parte do coberto vegetal tinha sido destruído;
  • ao longo do tempo tinham sido construídas estruturas transversais nos cursos de água, que dificultavam ou impediam a drenagem natural;
  • os rios e ribeiras da região careciam de limpeza, havendo locais onde existia vegetação muito densa que dificultava a escorrência, e outros onde, ao longo do tempo, se tinha acumulado lixo variado, inclusivamente mobiliário velho e electrodomésticos;
  • em muitos pontos a rede fluvial tinha sido canalizada, correndo, nalguns locais, de forma subterrânea (através de manilhas);
  • o sistema de drenagem pluvial estava mal dimensionado com limpeza deficiente;
  • a precipitação concentrada coincidiu com a preia-mar do Tejo, que ocorreu às 22.50 horas.
Acresce que os fortes caudais da escorrência superficial tinham grande carga sólida, arrastando quantidade muito grande de detritos de dimensões muito variadas (de micra a metros), designadamente solo erodido, árvores, fragmentos de muros e blocos de edificações destruídas. Nalguns pontos a corrente de cheia revelou características de corrente de densidade. Muitas vezes os danos foram provocados pelo impacte de detritos de grandes dimensões, que fragilizaram as estruturas, as quais acabariam por ceder perante a força da corrente.
A situação na região de Lisboa tornou-se completamente caótica. As cheias destrutivas causaram a morte de 462 pessoas e desalojaram ou afectaram cerca de 1.100, submergindo centenas de casas e infra-estruturas num rio de lamas e pedras. Todavia, permanecem muitas dúvidas sobre a dimensão deste evento, designadamente no que se refere ao número de vítimas mortais, pois que o regime político da altura nunca permitiu apurar as verdadeiras consequências desta catástrofe. Algumas estimativas apontam para prejuízos da ordem dos 3 milhões de dólares, a preços da época.
No dia seguinte as estruturas oficiais revelaram-se incapazes de ministrar o apoio necessário às vítimas, tendo-se, para tal, verificado mobilização da sociedade civil. Como recorda Mariano Gago "... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

Consequências das cheias na Pontinha

sábado, novembro 25, 2017

Há 50 anos uma cheia matou (provavelmente) mais de 500 pessoas na região de Lisboa

Cheia no concelho de Odivelas

Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967 registou-se, na região de Lisboa, precipitação intensa e concentrada, tendo atingido, na estação de São Julião do Tojal, no concelho de Loures, 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19.00 e as 24.00 horas do dia 25). As estações da região de Lisboa registaram, nesta data, cerca de um quinto do total da precipitação anual.
Tal precipitação excepcional, cujo período de retorno está estimado em de 500 anos, provocaram a ocorrência de uma cheia repentina com duração inferior a 12 horas.
A cheia foi amplificada por vários factores, designadamente:
  • na região de Lisboa as bacias hidrográficas têm áreas reduzidas e tempos de resposta muito curtos (2 horas);
  • vastas zonas da região estão intensamente urbanizadas e impermeabilizadas;
  • grande parte do coberto vegetal tinha sido destruído;
  • ao longo do tempo tinham sido construídas estruturas transversais nos cursos de água, que dificultavam ou impediam a drenagem natural;
  • os rios e ribeiras da região careciam de limpeza, havendo locais onde existia vegetação muito densa que dificultava a escorrência, e outros onde, ao longo do tempo, se tinha acumulado lixo variado, inclusivamente mobiliário velho e electrodomésticos;
  • em muitos pontos a rede fluvial tinha sido canalizada, correndo, nalguns locais, de forma subterrânea (através de manilhas);
  • o sistema de drenagem pluvial estava mal dimensionado com limpeza deficiente;
  • a precipitação concentrada coincidiu com a preia-mar do Tejo, que ocorreu às 22.50 horas.
Acresce que os fortes caudais da escorrência superficial tinham grande carga sólida, arrastando quantidade muito grande de detritos de dimensões muito variadas (de micra a metros), designadamente solo erodido, árvores, fragmentos de muros e blocos de edificações destruídas. Nalguns pontos a corrente de cheia revelou características de corrente de densidade. Muitas vezes os danos foram provocados pelo impacte de detritos de grandes dimensões, que fragilizaram as estruturas, as quais acabariam por ceder perante a força da corrente.
A situação na região de Lisboa tornou-se completamente caótica. As cheias destrutivas causaram a morte de 462 pessoas e desalojaram ou afectaram cerca de 1.100, submergindo centenas de casas e infra-estruturas num rio de lamas e pedras. Todavia, permanecem muitas dúvidas sobre a dimensão deste evento, designadamente no que se refere ao número de vítimas mortais, pois que o regime político da altura nunca permitiu apurar as verdadeiras consequências desta catástrofe. Algumas estimativas apontam para prejuízos da ordem dos 3 milhões de dólares, a preços da época.
No dia seguinte as estruturas oficiais revelaram-se incapazes de ministrar o apoio necessário às vítimas, tendo-se, para tal, verificado mobilização da sociedade civil. Como recorda Mariano Gago "... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."
Consequências das cheias na Pontinha

quinta-feira, janeiro 12, 2017

Há seis anos, enchentes e deslizamentos de terra no Rio de Janeiro mataram centenas de pessoas

Enchentes e deslizamentos de terra atingiram o estado do Rio de Janeiro, localizado no Sudeste do Brasil, em 12 de janeiro de 2011. Os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim na Região Serrana e Areal na Região Centro-Sul do estado. Os serviços governamentais contabilizaram 916 mortes e cerca de 345 desaparecidos. A Secretaria de Estado da Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, reportou que 428 pessoas morreram em Nova Friburgo, 382 em Teresópolis, 71 em Petrópolis, 21 em Sumidouro, 4 em São José do Vale do Rio Preto e 1 em Bom Jardim. Já as desaparecidas foram 180 em Teresópolis, 85 em Nova Friburgo, 45 em Petrópolis e 2 em Sumidouro. Ainda de acordo com o MP, outras 32 pessoas não foram encontradas em outras localidades da Região Serrana, até aquele momento, nos quatro municípios. Por último, cerca de 35 mil pessoas ficaram desalojadas em consequência dos desastres naturais.
A tragédia foi considerada como o maior desastre climático da história do país, superando os 463 mortos do temporal que atingiu o município paulista de Caraguatatuba, em 1967. No entanto, a maior tragédia natural da história do Brasil ainda é a grande inundação ocorrida na Serra das Araras, em janeiro de 1967, que, entre mortos e desaparecidos, vitimou cerca de 1700 pessoas.
No dia 14 de janeiro, a notícia de queda de caixa de água causou pânico entre moradores de Nova Friburgo, assustando moradores da cidade, e da Região Serrana do Rio. Com medo, boa parte da população chegou a pensar que uma represa do município havia rompido. A região voltou a receber precipitação dias posteriores. Até mesmo a cidade do Rio de Janeiro entrou em estado de atenção no dia 15 de janeiro por fortes chuvas nas zonas norte e oeste, segundo o Centro de Operações Rio. Alerta para o dia 16 e 17 de janeiro foi repassado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), tendo a possibilidade de mais chuvas para toda a região, decorrente das condições favoráveis.

quinta-feira, novembro 26, 2015

Há 48 anos uma cheia monstruosa afetou a região de Lisboa

As cheias de novembro de 1967 em Lisboa

Consequências das cheias na Pontinha

Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967 registou-se, na região de Lisboa, precipitação intensa e concentrada, tendo atingido, na estação de São Julião do Tojal, no concelho de Loures, 111mm em apenas 5 horas (entre as 19.00 e as 24.00 horas do dia 25). As estações da região de Lisboa registaram, nesta data, cerca de um quinto do total da precipitação anual.

Tal precipitação excepcional, cujo período de retorno está estimado em de 500 anos, provocaram a ocorrência de uma cheia repentina com duração inferior a 12 horas.

A cheia foi amplificada por vários factores, designadamente:

  • na região de Lisboa as bacias hidrográficas têm áreas reduzidas e tempos de resposta muito curtos (2 horas);
  • vastas zonas da região estão intensamente urbanizadas e impermeabilizadas;
  • grande parte do coberto vegetal tinha sido destruído;
  • ao longo do tempo tinham sido construídas estruturas transversais nos cursos de água, que dificultavam ou impediam a drenagem natural;
  • os rios e ribeiras da região careciam de limpeza, havendo locais onde existia vegetação muito densa que dificultava a escorrência, e outros onde, ao longo do tempo, se tinha acumulado lixo variado, inclusivamente mobiliário velho e electrodomésticos;
  • em muitos pontos a rede fluvial tinha sido canalizada, correndo, nalguns locais, de forma subterrânea (através de manilhas);
  • o sistema de drenagem pluvial estava mal dimensionado com limpeza deficiente;
  • a precipitação concentrada coincidiu com a preia-mar do Tejo, que ocorreu às 22.50 horas.
Acresce que os fortes caudais da escorrência superficial tinham grande carga sólida, arrastando quantidade muito grande de detritos de dimensões muito variadas (de micra a metros), designadamente solo erodido, árvores, fragmentos de muros e blocos de edificações destruídas. Nalguns pontos a corrente de cheia revelou características de corrente de densidade. Muitas vezes os danos foram provocados pelo impacte de detritos de grandes dimensões, que fragilizaram as estruturas, as quais acabariam por ceder perante a força da corrente.

A situação na região de Lisboa tornou-se completamente caótica. As cheias destrutivas causaram a morte de 462 pessoas e desalojaram ou afectaram cerca de 1100, submergindo centenas de casas e infra-estruturas num rio de lamas e pedras. Todavia, permanecem muitas dúvidas sobre a dimensão deste evento, designadamente no que se refere ao número de vítimas mortais, pois que o regime político da altura nunca permitiu apurar as verdadeiras consequências desta catástrofe. Algumas estimativas apontam para prejuízos da ordem dos 3 milhões de dólares, a preços da época.

No dia seguinte as estruturas oficiais revelaram-se incapazes de ministrar o apoio necessário às vítimas, tendo-se, para tal, verificado mobilização da sociedade civil. Como recorda Mariano Gago "... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração.

terça-feira, novembro 26, 2013

Há 46 anos, as cheias de 25/26 de novembro de 1967 mataram cerca de 500 pessoas na região de Lisboa

Cheia no concelho de Odivelas

Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967 registou-se, na região de Lisboa, precipitação intensa e concentrada, tendo atingido, na estação de São Julião do Tojal, no concelho de Loures, 111 mm em apenas 5 horas (entre as 19.00 e as 24.00 horas do dia 25). As estações da região de Lisboa registaram, nesta data, cerca de um quinto do total da precipitação anual.

Tal precipitação excepcional, cujo período de retorno está estimado em de 500 anos, provocaram a ocorrência de uma cheia repentina com duração inferior a 12 horas.

A cheia foi amplificada por vários factores, designadamente:
  • na região de Lisboa as bacias hidrográficas têm áreas reduzidas e tempos de resposta muito curtos (2 horas);
  • vastas zonas da região estão intensamente urbanizadas e impermeabilizadas;
  • grande parte do coberto vegetal tinha sido destruído;
  • ao longo do tempo tinham sido construídas estruturas transversais nos cursos de água, que dificultavam ou impediam a drenagem natural;
  • os rios e ribeiras da região careciam de limpeza, havendo locais onde existia vegetação muito densa que dificultava a escorrência, e outros onde, ao longo do tempo, se tinha acumulado lixo variado, inclusivamente mobiliário velho e electrodomésticos;
  • em muitos pontos a rede fluvial tinha sido canalizada, correndo, nalguns locais, de forma subterrânea (através de manilhas);
  • o sistema de drenagem pluvial estava mal dimensionado com limpeza deficiente;
  • a precipitação concentrada coincidiu com a preia-mar do Tejo, que ocorreu às 22.50 horas.
Acresce que os fortes caudais da escorrência superficial tinham grande carga sólida, arrastando quantidade muito grande de detritos de dimensões muito variadas (de micra a metros), designadamente solo erodido, árvores, fragmentos de muros e blocos de edificações destruídas. Nalguns pontos a corrente de cheia revelou características de corrente de densidade. Muitas vezes os danos foram provocados pelo impacte de detritos de grandes dimensões, que fragilizaram as estruturas, as quais acabariam por ceder perante a força da corrente.

A situação na região de Lisboa tornou-se completamente caótica. As cheias destrutivas causaram a morte de 462 pessoas e desalojaram ou afectaram cerca de 1.100, submergindo centenas de casas e infra-estruturas num rio de lamas e pedras. Todavia, permanecem muitas dúvidas sobre a dimensão deste evento, designadamente no que se refere ao número de vítimas mortais, pois que o regime político da altura nunca permitiu apurar as verdadeiras consequências desta catástrofe. Algumas estimativas apontam para prejuízos da ordem dos 3 milhões de dólares, a preços da época.

No dia seguinte as estruturas oficiais revelaram-se incapazes de ministrar o apoio necessário às vítimas, tendo-se, para tal, verificado mobilização da sociedade civil. Como recorda Mariano Gago "... com as cheias de 1967 e com a participação na movimentação dos estudantes de Lisboa no apoio às populações (morreram centenas de pessoas na área de Lisboa e isso era proibido dizer-se). Só as Associações de Estudantes e a Juventude Universitária Católica é que estavam no terreno a ajudar as pessoas a tirar a lama, a salvar-lhes os pertences, juntamente com alguns raros corpos de bombeiros e militares. Talvez isso, tenha sido um dos primeiros momentos de mobilização política da minha geração."

Consequências das cheias na Pontinha

domingo, novembro 25, 2012

Uma notícia interessante, no dia em que passam 45 anos sobre a mais mortal cheia de sempre em Portugal

Chuvas mataram 1310 portugueses nos últimos 150 anos

Milhares de notícias sobre desastres naturais no país foram analisadas por investigadores. O resultado pode ajudar a elaborar planos de prevenção ou de ordenamento.

Mais de 1900 ocorrências, 1310 mortos, quase 42 mil desalojados. Este é a nova contabilidade das catástrofes naturais causadas pela chuva em Portugal nos últimos 150 anos, segundo os resultados de um projecto que será apresentado na segunda-feira, em Lisboa. É o retrato até agora mais sistematizado das cheias e deslizamentos de terra no país.

Durante dois anos, investigadores de três universidades – de Lisboa, de Coimbra e do Porto – debruçaram-se sobre milhares de notícias sobre desastres naturais. Nada menos do que 145.000 exemplares de jornais, de 1865 a 2010, foram lidos, à procura de episódios que tenham causado algum tipo de vítima – mortos, desaparecidos, feridos ou desalojados.

O resultado é uma base de dados com 1903 ocorrências relacionadas com chuvas – 1622 cheias e 281 deslizamentos de terras – que será disponibilizada publicamente até ao final do ano. Não estão incluídos desastres causados pelo vento.

“Em Portugal, a informação relativamente a catástrofes está mal organizada”, afirma José Luís Zêzere, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa e coordenador do projecto Disaster.

A fonte mais utilizada a nível internacional sobre desastres naturais, a base de dados EM-DAT, da Universidade Católica de Lovaina (Bélgica), tem grandes falhas sobre Portugal. Há 14 registos de cheias e deslizamentos desde 1900, somando 610 mortos. Seguindo os mesmos critérios da EM-DAT – que considera apenas eventos com pelo menos dez mortos, 100 afectados, declaração de estado de emergência ou pedido de auxílio internacional – o projecto Disaster encontrou 57 ocorrências, com 894 mortos.

O pior ano desde 1865, em número de casos (77), foi 1909. Foi o ano em que o Douro chegou a menos de um metro do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I, depois de subir assustadoramente entre 17 e 25 de Dezembro.

Os casos mais dramáticos ocorreram, porém, em 1967, nas cheias na região de Lisboa. Foi um episódio instantâneo, causado por forte chuva, concentrada em pouco tempo, na madrugada do dia 26 de novembro, há exactamente 45 anos. A contabilidade oficial é de 449 mortos.

Só as cheias causaram, no território continental, 1071 mortos desde 1865. Os deslizamentos de terra fizeram 281 vítimas mortais. A base de dados não inclui por ora as regiões autónomas, palco de episódios dramáticos, como os aluimentos que mataram 29 pessoas na Ribeira Quente, nos Açores, em 1997, ou as enxurradas de 2010 na Madeira, com 40 mortos.

Lisboa e Coimbra são os concelhos com mais cheias e inundações registadas pelo projecto Disaster – 133 e 129. Mas onde morreram mais pessoas foi na zona de Loures, o epicentro do drama de 1967. Só no actual concelho de Odivelas, que na altura pertencia a Loures, há registo de 96 mortos e 1057 desalojados na base de dados Disaster.

O mapa das cheias ao longo do tempo mostra padrões diferentes. Para algumas décadas, sobressaem os episódios concentrados ao longo dos grandes rios. São tipicamente cheias de Inverno, causadas após muito tempo de chuva – como as do Tejo, Douro e Mondego. Noutras, há muitas ocorrências aglomeradas numa área muito restrita – como a região de Lisboa, entre 1960 e 1970.

Nos últimos anos, há uma maior dispersão. “Começámos a ter ocorrências onde antes não tínhamos”, diz José Luís Zêzere. “Isto pode indicar que os erros de ordenamento do território, que ocorreram mais cedo nas áreas metropolitanas, estão a chegar a outros lados”, especula o investigador, dizendo, porém, que é cedo para se tirarem conclusões.

Há diferentes equipas a trabalhar agora os dados iniciais do projecto Disaster. Investigadores do Instituto Dom Luiz, da Universidade de Lisboa, estão a cruzar as ocorrências com os registos meteorológicos do passado.

Uma das conclusões a que já se chegou no projecto é a de que o período em que houve mais desastres foi entre 1935 e 1969. É uma aparente contradição com a expectativa de que, com o aumento da temperatura média no país, os episódios meteorológicos extremos fossem mais numerosos. José Luís Zêzere chama a atenção, no entanto, para a variabilidade natural do clima e para o facto de mais da metade (6 em 11) dos anos com mais de 40 ocorrências se concentrarem desde 1978 até ao presente. “Não são os maiores picos, mas são picos mais frequentes”, afirma.

A forma como os jornais tratam estes episódios também está a ser matéria de investigação, pelo Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra. Uma das conclusões preliminares é que tais temas ocupam cada vez mais espaço nas páginas da imprensa.

O projecto Disaster vai disponibilizar dados individuais para cada concelho, em fichas com a localização das catástrofes. Pode ser um contributo para a elaboração de planos de prevenção ou de ordenamento, segundo Zêzere.

Um dado importante: em meia centena de concelhos não se registou uma única cheia ou deslizamento de terra relevante em 150 anos. Cada um terá as suas razões. Algumas zonas urbanas históricas, como Óbidos, terão beneficiado do facto de terem crescido sobretudo intramuros. “Não se expandiram para zonas de risco”, conclui José Luís Zêzere.


NOTA: a nova versão do Público online está muito interessante - nesta notícia há uma componente multimédia web 2.0 (ver AQUI) muito boa: mostra, decénio a decénio, os locais dos eventos (deslizamentos e cheias) em Portugal Continental, com os respetivos números de mortos, feridos e desalojados. Esperamos que a versão final do projeto esteja rapidamente disponível (e que inclua as região autónomas...) para vermos o que foi esquecido neste levantamento (v.g., no município de Leiria, em 2001, houve um deslizamento, em Opeia, que afetou uma área considerável - um dos maiores de sempre do país e que não foi noticiado em nenhum jornal - há só um acervo fotográfico do mesmo, meu e de mais duas ou três pessoas, sobre este). Sobre as cheias de 25 de novembro de 1967, em que provavelmente morreram mais de 500 pessoas (Salazar encarregou-se de que não se soubesse o número final de vítimas mortais...) sugere-se os seguintes links: 1, 2, 3, 4 e 5.