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domingo, novembro 10, 2024

A Revolução Húngara (de 1956) terminou há sessenta e oito anos...

O símbolo da revolução de 56: a Bandeira da Hungria com o emblema comunista cortado

 

A Revolução Húngara de 1956 (em húngaro: 1956-os forradalom) foi uma revolta popular espontânea contra as políticas impostas pelo governo da República Popular da Hungria e pela União Soviética. O movimento durou de 23 de outubro até 10 de novembro de 1956.

A revolta começou como uma manifestação estudantil que atraiu milhares que marcharam pelo centro de Budapeste até o parlamento. Uma delegação de estudantes entrando no prédio da Rádio Free Europe numa tentativa de transmitir as suas demandas, mas foi detida. Quando a libertação da delegação foi exigida pelos manifestantes do lado de fora, eles foram alvejados pela Autoridade de Proteção de Estado (ÁVH) de dentro do prédio. As notícias espalharam-se rapidamente e a desordem e violência irromperam por toda a capital.
A revolta espalhou-se rapidamente por toda a Hungria e o governo caiu. Milhares organizaram-se em milícias, combatendo a Polícia de Segurança do Estado (ÁVH) e as tropas soviéticas. Comunistas pro-soviéticos e membros da ÁVH eram frequentemente executados ou aprisionados, enquanto os antigos prisioneiros eram libertados e armados. Conselhos improvisados tiraram o controle municipal do Partido dos Trabalhadores Húngaros e exigiram verdadeiras mudanças políticas. O novo governo dissolveu formalmente a ÁVH, declarou a sua intenção de se retirar do Pacto de Varsóvia e prometeu restabelecer eleições livres. No final de outubro, as lutas tinham quase parado e um senso de normalidade começava a retornar.
Depois de anunciar a boa vontade para negociar uma retirada das forças soviéticas, o Politburo mudou de ideia e decidiu suprimir a revolução. A 4 de novembro, um grande exército soviético invadiu Budapeste e outras regiões do país. A resistência húngara continuou até 10 de novembro. Mais de 2.500 soldados húngaros e cerca de 700 soldados soviéticos foram mortos no conflito, tendo 200.000 húngaros fugido, passando a ser refugiados. Prisões em massa e denúncias continuaram durante meses. Em janeiro de 1957, o novo governo soviético instalado suprimiu toda a oposição pública. Essas ações soviéticas fizeram duvidar das suas convicções muitos marxistas ocidentais, ainda mais pelo brutal reforço do controle soviético na Europa Central.
Discussões públicas sobre essa revolução foram reprimidas na Hungria durante trinta anos, mas desde os anos 80 ela tem sido objeto de intenso estudo e debate. Após se libertarem do jugo comunista, em 1989, o dia 23 de outubro foi declarado feriado nacional.
   
   

quarta-feira, outubro 23, 2024

A húngaros fartaram-se de comunismo há 68 anos

   
A Revolução Húngara de 1956 (em húngaro: 1956-os forradalom) foi uma revolta popular espontânea contra as políticas impostas pelo governo da República Popular da Hungria e pela União Soviética. O movimento durou de 23 de outubro até 10 de novembro de 1956.
A revolta começou como uma manifestação estudantil que atraiu milhares que marcharam pelo centro de Budapeste até o parlamento. Uma delegação de estudantes, entrando no prédio da rádio numa tentativa de transmitir as suas exigências, foi detida. Quando a libertação da delegação foi exigida pelo manifestantes do lado de fora, ele foram alvejados pela Autoridade de Proteção de Estado (ÁVH) de dentro do prédio. As notícias espalharam-se rapidamente e desordem e violência irromperam por toda a capital.
A revolta espalhou-se rapidamente pela Hungria, e o governo caiu. Milhares de pessoas organizaram-se em milícias, combatendo a Polícia de Segurança do Estado (ÁVH) e as tropas soviéticas. Comunistas pro-soviéticos e membros da ÁVH eram frequentemente executados ou aprisionados, enquanto os antigos prisioneiros eram libertados e armados. Conselhos improvisados tiraram o controle municipal do Partido dos Trabalhadores Húngaros e exigiram mudanças políticas. O novo governo formalmente dissolveu a ÁVH, declarou a sua intenção de se retirar do Pacto de Varsóvia e prometeu restabelecer livres eleições. No final de outubro, as lutas tinham quase parado e uma sensação de normalidade começava a retornar.
Depois de anunciar a boa vontade para negociar uma retirada das forças soviéticas, o Politburo mudou de ideia e decidiu suprimir a revolução. Em 4 de novembro, um grande exército soviético invadiu Budapeste e outras regiões do país. A resistência húngara continuou até 10 de novembro. Mais de 2.500 soldados húngaros e cerca de 700 soldados soviéticos foram mortos no conflito, tendo 200.000 húngaros fugido, passando a ser refugiados. Prisões em massa e denúncias continuaram durante meses. Em janeiro de 1957, o novo governo soviético instalado suprimiu toda a oposição pública. Estas ações soviéticas fizeram duvidar das suas convicções muitos marxistas ocidentais, ainda mais pelo brutal reforço do controle soviético na Europa Central.
Discussões públicas sobre essa revolução foram reprimidas na Hungria durante trinta anos, mas desde os anos 1980 ela tem sido objeto de intenso estudo e debate. No princípio da Terceira República da Hungria, em 1989, o dia 23 de outubro foi declarado feriado nacional.
   
Cronologia
O levantamento popular húngaro começou a 23 de outubro de 1956, com uma manifestação pacífica de estudantes em Budapeste. Exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação do "socialismo verdadeiro". Quando os estudantes tentaram resgatar alguns colegas que haviam sido presos pela polícia política, esta abriu fogo contra a multidão.
No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas ruas da capital. A estátua de Estaline foi derrubada por manifestantes que entoavam, "Russos, voltem para casa", "Abaixo Gerő" e "Viva Nagy". Em resposta, o Comité Central do Partido Comunista Húngaro recomendou o nome de Imre Nagy para a chefia de governo.
Em 25 de outubro, tanques soviéticos dispararam contra manifestantes na Praça do Parlamento. Chocado com tais acontecimentos, o Comité Central do partido forçou a renúncia de Gerő e substituiu-o por Imre Nagy.
Nagy foi à Rádio Kossuth e anunciou a futura instalação das liberdades, como seja o multipartidarismo, a extinção da polícia política, a melhoria radical das condições de vida do trabalhador e a busca do socialismo condizente com as características nacionais da Hungria.
Em 28 de outubro, o primeiro-ministro Nagy vê as suas opções serem aceites por todos os órgãos do Partido Comunista. Os populares desarmam a polícia política.
Em 30 de outubro, Nagy comunicou a libertação do cardeal Mindszenty e de outros prisioneiros políticos. Reconstituíram-se os Partidos dos Pequenos Proprietários, Social-Democrata e Camponês Petőfi. O Politburo Soviético decide, numa primeira fase (30 de outubro) mandar as tropas sair de Budapeste, e mesmo da Hungria se viesse essa a ser a vontade do novo governo. Mas no dia seguinte volta a trás e decide-se pela intervenção militar e instauração de um novo governo. A 1 de novembro, o governo húngaro, ao tomar conhecimento das movimentações militares em direção a Budapeste, comunica a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a proteção das Nações Unidas.
A 3 de novembro, Budapeste está cercada por mais de mil tanques. Em 4 de novembro, o Exército Vermelho invade Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia a Hungria, derrotando rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20.000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e posteriormente executado) e substituído no poder pelo traidor e simpatizante soviético János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e cerca de treze mil foram presos. As tropas soviéticas apenas saíram da Hungria em 1991.
 
Cenas da revolução, em cinejornal da época
 
   

sexta-feira, outubro 11, 2024

A Cimeira de Reiquiavique foi há trinta e oito anos

  
A Cimeira de Reiquiavique (ou Conferência de Reykjavík) foi um encontro de trabalho entre o presidente norteamericano Ronald Reagan e o Secretário-Geral soviético Mikhail Gorbachev, realizado na famosa casa de Höfði, em Reykjavík, a capital da Islândia, em 11 e 12 de outubro de 1986. As negociações falharam no último minuto, mas o progresso alcançado até então, eventualmente, resultou no Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário de 1987, entre os EUA e a União Soviética.
 

Höfði, sede do encontro
 
As negociações falharam por causa da insistência de Gorbachev em incluir a Iniciativa Estratégica de Defesa (Strategic Defense Initiative, SDI) dos EUA em todo e qualquer acordo sobre a eliminação de mísseis nucleares de alcance intermediário da Europa, a redução das armas nucleares táticas da NATO e a redução das forças convencionais do Pacto de Varsóvia, e por causa da recusa de Reagan e da delegação norte-americana em negociar sobre a pesquisa SDI. O encontro foi prolongado, embora sem haver acordo algum no final. No entanto, participantes e observadores referem-se ao encontro como um enorme avanço, que eventualmente facilitou o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em Washington em 8 de dezembro de 1987.

quarta-feira, agosto 21, 2024

Uma bonita Primavera terminou, em Praga, há 56 anos...


(imagens daqui)
    
A Primavera de Praga foi um período de liberalização política na Checoslováquia durante a época de domínio pela União Soviética, após a Segunda Guerra Mundial. Esse período começou a 5 de janeiro de 1968, quando o reformista eslovaco Alexander Dubček chegou ao poder, e durou até ao dia 21 de agosto, quando a União Soviética e os países fantoches do Pacto de Varsóvia invadiram o país para interromper as reformas.
As reformas da Primavera de Praga foram uma tentativa de Dubček, aliado a intelectuais checoslovacos, de conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de descentralização parcial da economia e de democratização. As reformas concediam também um relaxamento das restrições às liberdades de imprensa, de expressão e de movimento e ficaram conhecidas como a tentativa de se criar um “socialismo com face humana”.
Dubček também dividiu o país nas duas repúblicas separadas; essa foi a única reforma que sobreviveu no fim da Primavera de Praga.
As reformas não foram bem recebidas pelos soviéticos que, após as falhas nas negociações, enviaram milhares de tropas e tanques do Pacto de Varsóvia para ocupar o país. Uma grande onda de emigração varreu o país. Apesar de ter havido inúmeros protestos pacíficos no país, inclusive o suicídio de um estudante, não houve resistência militar. A Checoslováquia continuou ocupada até 1990.
Após a invasão, a Checoslováquia entrou em um período de normalização: os lideres seguintes tentaram restaurar os valores políticos e económicos que prevaleciam antes de Dubček ganhar o poder no Partido Comunista da Checoslováquia (KSČ, em checo). Gustáv Husák, que substituiu Dubček e que também se tornou presidente, destruiu quase todas as reformas de Dubček. A Primavera de Praga imortalizou-se na música e na literatura pelas obras de Karel Kryl e de Milan Kundera, como A Insustentável Leveza do Ser.
    
História
O movimento da Primavera de Praga foi liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Checo, interessados em promover grandes mudanças na estrutura política, económica e social, na Checoslováquia. A proposta surpreendeu a sociedade checa, que em 5 de abril de 1968 soube das propostas reformistas dos intelectuais comunistas.
O objetivo de Dubcek era "desestalinizar" o país, removendo os vestígios de despotismo e autoritarismo, que considerava aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do monopólio do partido comunista e a livre organização partidária, com uma Assembleia Nacional que reuniria democraticamente todos os segmentos da sociedade checa. A liberdade de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram outras garantias expostas por Dubcek.
As propostas foram apoiadas pela população. O movimento que propôs a mudança radical da Checoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética, foi chamada de Primavera de Praga. Assim sendo, diversos setores sociais se manifestaram a favor da rápida democratização. No mês de junho, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Liternární Listy (Gazeta Literária), escrito por Ludvík Vaculík e assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo de abertura política. Eles acreditavam que era possível transformar, pacificamente, um regime ortodoxo comunista para um regime socialista democrático em moldes ocidentais. Com estas propostas, Dubcek tentava provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com ampla liberdade democrática.
A União Soviética, temendo a influência que uma Checoslováquia democrática e socialista, independente da influência soviética e com garantias de liberdade na sociedade, pudesse passar às nações socialistas e às "democracias populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 21 de agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado para Moscovo. Na cidade de Praga a população reagiu à invasão soviética de forma não violenta, desnorteando as tropas. A organização quase espontânea foi em parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores, construídos à pressa, por membros do exército checo e por aficionados por radio transmissores: a Rádio Checoslováquia Livre. Cada emissora transmitia instruções para a população por não mais que 9 minutos e depois saia do ar, dando o espaço para uma outra, impossibilitando assim a triangulação do sinal. As suas instruções eram para a população manter a calma e, sobretudo, não colaborar com os invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente estação de rádio para criar interferências nos sinais, porém, os ferroviários checoslovacos, com uma extrema competência, atrasaram a entrega e, quando a estação chegou ao seu destino, estava inutilizável.
Os russos conseguiram uma ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um impasse político: as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista fracassaram e a população checoslovaca foi eficiente em minar a moral das tropas. No dia 23 iniciou-se uma greve geral e, no dia 26, foi publicado o decálogo da não cooperação:

Não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
Através de uma rede de radioamadores, a população era informada sobre ações que poderiam ser organizadas para levar a cabo uma resistência não violenta. Tal reação foi espontânea, devido à impossibilidade de utilizarem a ação violenta. De certa forma, a população se inspirou num livro picaresco muito popular, "O valente soldado Chveik", onde o personagem usava travessuras para expulsar as tropas invasoras.
A paralisação dos comboios interrompeu a comunicação com os países aliados, e para evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas de sinalização foram invertidas, e depois pintadas com uma tinta fácil de se raspar. Quando os soldados raspavam a tinta para verem a direção correta, acabavam voltando na direção de Moscovo.
Enquanto isso, os raptores contavam a Dubcek que a população checoslovaca estava a ser massacrada, como fora a população húngara, doze anos antes, o que o levou a assinar um acordo de renúncia.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na Checoslováquia. Em protesto contra o fim das liberdades conquistadas, o jovem Jan Palach auto-imolou-se, ateando fogo ao próprio corpo numa praça de Praga, a 16 de janeiro de 1969.
Por sua vez, os comunistas checos mais conservadores apoiaram a invasão soviética, uma vez que eles acreditavam que as reformas de Dubček trariam um precoce desastre económico e social, o que mais tarde realmente ocorreria, em 1991, com o colapso soviético. Sinal disto, é a divisão do partido em dois lados, os liberais (reformistas) e os conservadores, que contariam com o apoio soviético, o poder mais influente.
     

terça-feira, maio 14, 2024

O Pacto de Varsóvia foi formado há 69 anos...

    
O Pacto de Varsóvia (ou Tratado de Varsóvia) foi uma aliança militar formada em 14 de maio de 1955 pelos países socialistas do Leste Europeu e pela União Soviética, países estes que também ficaram conhecidos como bloco socialista. O tratado correspondente foi firmado na capital da Polónia, Varsóvia, e estabeleceu o alinhamento dos países membros com Moscovo, estabelecendo um compromisso de ajuda mútua em caso de agressões militares.
  
  
O organismo militar foi instituído em contraponto à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), organização internacional que uniu as nações democráticas da Europa Ocidental e os Estados Unidos para a prevenção e defesa dos países membros contra eventuais ataques vindos do Leste Europeu.
Os países que fizeram parte do Pacto de Varsóvia eram alguns nos quais foram instituídos governos socialistas pela URSS, após a Segunda Guerra Mundial. União Soviética, Alemanha de Leste, Bulgária, Hungria, Polónia, Checoslováquia, Roménia e Albânia foram os países membros, sendo que a estrutura militar seguia as diretrizes soviéticas. A Jugoslávia, por oposição do Marechal Tito, recusou-se a ingressar no bloco.
Porém, as principais ações do Pacto foram dentro dos países-membros para a repressão de revoltas internas. Em 1956, tropas reprimiram manifestações populares na Hungria e Polónia, e em 1968, na Checoslováquia, na chamada Primavera de Praga.
As mudanças no cenário geopolítico da Europa Oriental no final da década de 80, com a queda dos governos socialistas, o fim do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria e a crise na URSS levaram a extinção do Pacto em 31 de março de 1991. O fim do Pacto de Varsóvia representou, também, o fim da Guerra Fria.
Seis anos depois, a OTAN convida a República Checa, Hungria e Polónia a ingressarem na organização, demonstrando uma nova configuração das forças militares na Europa pós-Guerra Fria.

terça-feira, março 05, 2024

Churchill cunhou a expressão Cortina de Ferro há 78 anos


A divisão da Europa pela Cortina de Ferro

Cortina de Ferro foi uma expressão usada para designar a divisão da Europa em duas partes, a Europa Oriental e a Europa Ocidental como áreas de influência político-económica distintas, no pós-Segunda Guerra Mundial, conhecido como Guerra Fria. Durante este período, a Europa Oriental esteve sob o controle político e/ou influência da União Soviética, enquanto a Europa Ocidental esteve sob o controle político e/ou influência dos Estados Unidos.
A expressão foi celebrizada pelo então primeiro-ministro britânico Sir Winston Churchill, que a usou num discurso em Fulton, em 1946, para designar a política de isolamento adotada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e seus estados-satélites após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, já havia sido usada antes no mesmo contexto por Joseph Goebbels, Lutz Schwerin von Krosigk e pelo próprio Churchill em maio de 1945.

Extrato do discurso de Churchill no Westminster College, em Fulton, no Missouri, Estados Unidos, em 5 de março de 1946, citando a expressão "iron curtain" ou, em português, "cortina de ferro":
"From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic an iron curtain has descended across the Continent. Behind that line lie all the capitals of the ancient states of Central and Eastern Europe. Warsaw, Berlin, Prague, Vienna, Budapest, Belgrade, Bucharest and Sofia; all these famous cities and the populations around them lie in what I must call the Soviet sphere, and all are subject, in one form or another, not only to Soviet influence but to a very high and in some cases increasing measure of control from Moscow."
Numa tradução livre para a língua portuguesa:
"De Stettin, no [mar] Báltico, até Trieste, no [mar] Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o continente. Atrás dessa linha estão todas as capitais dos antigos Estados da Europa Central e Oriental. Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sofia; todas essas cidades famosas e as populações em torno delas estão no que devo chamar de esfera soviética, e todas estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não somente à influência soviética mas também a fortes, e em certos casos crescentes, medidas de controle emitidas de Moscovo."
Inicialmente, a Cortina de Ferro era separada da região integrada pelas repúblicas europeias da União Soviética (Rússia, Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estónia, Geórgia, Cazaquistão, Lituânia, Letónia, Moldávia, Ucrânia) e os estados-satélites da Alemanha Oriental, Polónia, Checoslováquia, Hungria, Bulgária e Roménia. Todos ficavam sob o estrito controle político e económico da URSS. Em 1955 uniram-se militarmente, por meio do Pacto de Varsóvia. O bloco desfez-se definitivamente em 1991, com a dissolução da URSS.
Os dois blocos de países divididos pela cortina de ferro divergiam em vários aspetos:
  • no plano económico, o Bloco Ocidental buscou a reconstrução no pós-guerra com o Plano Marshall, enquanto o Bloco Oriental utilizou um modelo concorrente, o COMECON;
  • No plano militar, o Bloco Ocidental constituiu a Organização do Tratado do Atlântico Norte em 1948, enquanto que o Bloco Oriental formou o Pacto de Varsóvia de 1955;
  • No plano político, o Bloco Ocidental se manteve como sistema económico o capitalismo liberal, incluindo diferentes tipos de regimes políticos (desde democracias até regimes autoritários), enquanto que o Bloco Oriental adotou o modelo do socialismo e a economia planificada, geralmente sob regimes autoritários de partido único.

terça-feira, janeiro 16, 2024

Hoje é dia de recordar Jan Palach...

 

Kasabian - Club Foot
 
One...take control of me?
Yer messing with the enemy
Said its 2..it's another trick
Messin with my mind, I wake up
Chase down an empty street
Blindly snap the broken beats
Said it's cut with a dirty trick
Its taken all these days to find ya
I tell you I want you
I tell you I need you
 
 I tell you I want you
I'll tell you I need you
I... the blood aint on my face
Just wanted you near me

sexta-feira, janeiro 05, 2024

A breve Primavera de Praga começou há 56 anos...

 

(imagens daqui)
 
A Primavera de Praga foi um período de liberalização política na Checoslováquia durante a época de domínio pela União Soviética, após a Segunda Guerra Mundial. Esse período começou a 5 de janeiro de 1968, quando o reformista eslovaco Alexander Dubček chegou ao poder, e durou até ao dia 21 de agosto, quando a União Soviética e os países fantoches do Pacto de Varsóvia invadiram o país para interromper as reformas.
As reformas da Primavera de Praga foram uma tentativa de Dubček, aliado a intelectuais checoslovacos, de conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de descentralização parcial da economia e de democratização. As reformas concediam também um relaxamento das restrições às liberdades de imprensa, de expressão e de movimento e ficaram conhecidas como a tentativa de se criar um “socialismo com face humana”.
Dubček também dividiu o país nas duas repúblicas separadas; essa foi a única reforma que sobreviveu ao fim da Primavera de Praga.
As reformas não foram bem recebidas pelos soviéticos que, após as falhas nas negociações, enviaram milhares de tropas e tanques do Pacto de Varsóvia para ocupar o país. Uma grande onda de emigração varreu o país. Apesar de ter havido inúmeros protestos pacíficos no país, inclusive o suicídio de um estudante, não houve resistência militar. A Checoslováquia continuou ocupada até 1990.
Após a invasão, a Checoslováquia entrou em um período de normalização: os lideres seguintes tentaram restaurar os valores políticos e económicos que prevaleciam antes de Dubček ganhar o poder no Partido Comunista da Checoslováquia (KSČ, em checo). Gustáv Husák, que substituiu Dubček e que também se tornou presidente, destruiu quase todas as reformas de Dubček. A Primavera de Praga imortalizou-se na música e na literatura pelas obras de Karel Kryl e de Milan Kundera, como A Insustentável Leveza do Ser.
  
História
O movimento da Primavera de Praga foi liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Checo, interessados em promover grandes mudanças na estrutura política, económica e social, na Checoslováquia. A proposta surpreendeu a sociedade checa, que em 5 de abril de 1968 soube das propostas reformistas dos intelectuais comunistas.
O objetivo de Dubcek era "desestalinizar" o país, removendo os vestígios de despotismo e autoritarismo, que considerava aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do monopólio do partido comunista e a livre organização partidária, com uma Assembleia Nacional que reuniria democraticamente todos os segmentos da sociedade checa. A liberdade de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram outras garantias expostas por Dubcek.
As propostas foram apoiadas pela população. O movimento que propôs a mudança radical da Checoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética, foi chamada de Primavera de Praga. Assim sendo, diversos setores sociais se manifestaram a favor da rápida democratização. No mês de junho, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Liternární Listy (Gazeta Literária), escrito por Ludvík Vaculík e assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo de abertura política. Eles acreditavam que era possível transformar, pacificamente, um regime ortodoxo comunista para um regime socialista democrático em moldes ocidentais. Com estas propostas, Dubcek tentava provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com ampla liberdade democrática.
A União Soviética, temendo a influência que uma Checoslováquia democrática e socialista, independente da influência soviética e com garantias de liberdade na sociedade, pudesse passar às nações socialistas e às "democracias populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 21 de agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado a Moscovo. Na cidade de Praga a população reagiu à invasão soviética de forma não violenta, desnorteando as tropas. A organização quase espontânea foi em parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores, construídos à pressa, por membros do exército checo e por aficionados por radio transmissores: a Rádio Checoslováquia Livre. Cada emissora transmitia instruções para a população por não mais que 9 minutos e depois saia do ar, dando o espaço para uma outra, impossibilitando assim a triangulação do sinal. As suas instruções eram para a população manter a calma e, sobretudo, não colaborar com os invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente estação de rádio para criar interferências nos sinais, porém, os ferroviários checoslovacos, com uma extrema competência, atrasaram a entrega e, quando a estação chegou ao seu destino, estava inutilizável.
Os russos conseguiram uma ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um impasse político: as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista fracassaram e a população checoslovaca foi eficiente em minar a moral das tropas. No dia 23 iniciou-se uma greve geral e, no dia 26, foi publicado o decálogo da não cooperação:
   
Não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
   
Através de uma rede de radioamadores, a população era informada sobre ações que poderiam ser organizadas para levar a cabo uma resistência não violenta. Tal reação foi espontânea, devido à impossibilidade de utilizarem a ação violenta. De certa forma, a população se inspirou num livro picaresco muito popular, "O valente soldado Chveik", onde o personagem usava travessuras para expulsar as tropas invasoras.
A paralisação dos comboios interrompeu a comunicação com os países aliados, e para evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas de sinalização foram invertidas, e depois pintadas com uma tinta fácil de se raspar. Quando os soldados raspavam a tinta para verem a direção correta, acabavam voltando na direção de Moscovo.
Enquanto isso, os raptores contavam a Dubcek que a população checoslovaca estava a ser massacrada, como fora a população húngara, doze anos antes, o que o levou a assinar um acordo de renúncia.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na Checoslováquia. Em protesto contra o fim das liberdades conquistadas, o jovem Jan Palach auto-imolou-se, ateando fogo ao próprio corpo numa praça de Praga, a 16 de janeiro de 1969.
Por sua vez, os comunistas checos mais conservadores apoiaram a invasão soviética, uma vez que eles acreditavam que as reformas de Dubček trariam um precoce desastre económico e social, o que mais tarde realmente ocorreria, em 1991, com o colapso soviético. Sinal disto, é a divisão do partido em dois lados, os liberais (reformistas) e os conservadores, que contariam com o apoio soviético, o poder mais influente.
   

 

sexta-feira, novembro 10, 2023

A Revolução Húngara de 1956 terminou há sessenta e sete anos...

O símbolo da revolução: a Bandeira da Hungria com o emblema comunista cortado

 

A Revolução Húngara de 1956 (em húngaro: 1956-os forradalom) foi uma revolta popular espontânea contra as políticas impostas pelo governo da República Popular da Hungria e pela União Soviética. O movimento durou de 23 de outubro até 10 de novembro de 1956.

A revolta começou como uma manifestação estudantil que atraiu milhares que marcharam pelo centro de Budapeste até o parlamento. Uma delegação de estudantes entrando no prédio da Rádio Free Europe numa tentativa de transmitir as suas demandas, mas foi detida. Quando a libertação da delegação foi exigida pelos manifestantes do lado de fora, eles foram alvejados pela Autoridade de Proteção de Estado (ÁVH) de dentro do prédio. As notícias espalharam-se rapidamente e a desordem e violência irromperam por toda a capital.
A revolta espalhou-se rapidamente por toda a Hungria e o governo caiu. Milhares organizaram-se em milícias, combatendo a Polícia de Segurança do Estado (ÁVH) e as tropas soviéticas. Comunistas pro-soviéticos e membros da ÁVH eram frequentemente executados ou aprisionados, enquanto os antigos prisioneiros eram libertados e armados. Conselhos improvisados tiraram o controle municipal do Partido dos Trabalhadores Húngaros e exigiram verdadeiras mudanças políticas. O novo governo dissolveu formalmente a ÁVH, declarou a sua intenção de se retirar do Pacto de Varsóvia e prometeu restabelecer eleições livres. No final de outubro, as lutas tinham quase parado e um senso de normalidade começava a retornar.
Depois de anunciar a boa vontade para negociar uma retirada das forças soviéticas, o Politburo mudou de ideia e decidiu suprimir a revolução. A 4 de novembro, um grande exército soviético invadiu Budapeste e outras regiões do país. A resistência húngara continuou até 10 de novembro. Mais de 2.500 soldados húngaros e cerca de 700 soldados soviéticos foram mortos no conflito, tendo 200.000 húngaros fugido, passando a ser refugiados. Prisões em massa e denúncias continuaram durante meses. Em janeiro de 1957, o novo governo soviético instalado suprimiu toda a oposição pública. Essas ações soviéticas fizeram duvidar das suas convicções muitos marxistas ocidentais, ainda mais pelo brutal reforço do controle soviético na Europa Central.
Discussões públicas sobre essa revolução foram reprimidas na Hungria durante trinta anos, mas desde os anos 80 ela tem sido objeto de intenso estudo e debate. Na inauguração da Terceira República da Hungria, em 1989, o dia 23 de outubro foi declarado feriado nacional.
   
   

sábado, novembro 04, 2023

A União Soviética (e os estados fantoches do pacto de Varsóvia) invadiram a Hungria há 67 anos...

         
A Revolução Húngara de 1956 (em húngaro: 1956-os forradalom) foi uma revolta popular espontânea contra as políticas impostas pelo governo da República Popular da Hungria e pela União Soviética. O movimento durou 23 de outubro até 10 de novembro de 1956.
        
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Em 4 de novembro, o Exército Vermelho invade Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia, derrotando rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20 000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e posteriormente executado) e substituído no poder pelo traidor simpatizante soviético János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e cerca de 13 mil foram presos. As tropas soviéticas apenas saíram da Hungria em 1991.
     

segunda-feira, outubro 23, 2023

A Hungria fartou-se do comunismo há 67 anos

   
A Revolução Húngara de 1956 (em húngaro: 1956-os forradalom) foi uma revolta popular espontânea contra as políticas impostas pelo governo da República Popular da Hungria e pela União Soviética. O movimento durou de 23 de outubro até 10 de novembro de 1956.
A revolta começou como uma manifestação estudantil que atraiu milhares que marcharam pelo centro de Budapeste até o parlamento. Uma delegação de estudantes, entrando no prédio da rádio numa tentativa de transmitir as suas exigências, foi detida. Quando a libertação da delegação foi exigida pelo manifestantes do lado de fora, ele foram alvejados pela Autoridade de Proteção de Estado (ÁVH) de dentro do prédio. As notícias espalharam-se rapidamente e desordem e violência irromperam por toda a capital.
A revolta espalhou-se rapidamente pela Hungria, e o governo caiu. Milhares de pessoas organizaram-se em milícias, combatendo a Polícia de Segurança do Estado (ÁVH) e as tropas soviéticas. Comunistas pro-soviéticos e membros da ÁVH eram frequentemente executados ou aprisionados, enquanto os antigos prisioneiros eram libertados e armados. Conselhos improvisados tiraram o controle municipal do Partido dos Trabalhadores Húngaros e exigiram mudanças políticas. O novo governo formalmente dissolveu a ÁVH, declarou a sua intenção de se retirar do Pacto de Varsóvia e prometeu restabelecer livres eleições. No final de outubro, as lutas tinham quase parado e uma sensação de normalidade começava a retornar.
Depois de anunciar a boa vontade para negociar uma retirada das forças soviéticas, o Politburo mudou de ideia e decidiu suprimir a revolução. Em 4 de novembro, um grande exército soviético invadiu Budapeste e outras regiões do país. A resistência húngara continuou até 10 de novembro. Mais de 2.500 soldados húngaros e cerca de 700 soldados soviéticos foram mortos no conflito, tendo 200.000 húngaros fugido, passando a ser refugiados. Prisões em massa e denúncias continuaram durante meses. Em janeiro de 1957, o novo governo soviético instalado suprimiu toda a oposição pública. Estas ações soviéticas fizeram duvidar das suas convicções muitos marxistas ocidentais, ainda mais pelo brutal reforço do controle soviético na Europa Central.
Discussões públicas sobre essa revolução foram reprimidas na Hungria durante trinta anos, mas desde os anos 1980 ela tem sido objeto de intenso estudo e debate. No princípio da Terceira República da Hungria, em 1989, o dia 23 de outubro foi declarado feriado nacional.
   
Cronologia
O levantamento popular húngaro começou a 23 de outubro de 1956, com uma manifestação pacífica de estudantes em Budapeste. Exigiam o fim da ocupação soviética e a implantação do "socialismo verdadeiro". Quando os estudantes tentaram resgatar alguns colegas que haviam sido presos pela polícia política, esta abriu fogo contra a multidão.
No dia seguinte, oficiais e soldados juntaram-se aos estudantes nas ruas da capital. A estátua de Estaline foi derrubada por manifestantes que entoavam, "Russos, voltem para casa", "Abaixo Gerő" e "Viva Nagy". Em resposta, o Comité Central do Partido Comunista Húngaro recomendou o nome de Imre Nagy para a chefia de governo.
Em 25 de outubro, tanques soviéticos dispararam contra manifestantes na Praça do Parlamento. Chocado com tais acontecimentos, o Comité Central do partido forçou a renúncia de Gerő e substituiu-o por Imre Nagy.
Nagy foi à Rádio Kossuth e anunciou a futura instalação das liberdades, como seja o multipartidarismo, a extinção da polícia política, a melhoria radical das condições de vida do trabalhador e a busca do socialismo condizente com as características nacionais da Hungria.
Em 28 de outubro, o primeiro-ministro Nagy vê as suas opções serem aceites por todos os órgãos do Partido Comunista. Os populares desarmam a polícia política.
Em 30 de outubro, Nagy comunicou a libertação do cardeal Mindszenty e de outros prisioneiros políticos. Reconstituíram-se os Partidos dos Pequenos Proprietários, Social-Democrata e Camponês Petőfi. O Politburo Soviético decide, numa primeira fase (30 de outubro) mandar as tropas sair de Budapeste, e mesmo da Hungria se viesse essa a ser a vontade do novo governo. Mas no dia seguinte volta a trás e decide-se pela intervenção militar e instauração de um novo governo. A 1 de novembro, o governo húngaro, ao tomar conhecimento das movimentações militares em direção a Budapeste, comunica a intenção húngara de se retirar do Pacto de Varsóvia e pede a proteção das Nações Unidas.
A 3 de novembro, Budapeste está cercada por mais de mil tanques. Em 4 de novembro, o Exército Vermelho invade Budapeste, com o apoio de ataques aéreos e bombardeamentos de artilharia a Hungria, derrotando rapidamente as forças húngaras. Calcula-se que 20.000 pessoas foram mortas durante a intervenção soviética. Nagy foi preso (e posteriormente executado) e substituído no poder pelo traidor e simpatizante soviético János Kádár. Mais de 2 mil processos políticos foram abertos, resultando em 350 enforcamentos. Dezenas de milhares de húngaros fugiram do país e cerca de treze mil foram presos. As tropas soviéticas apenas saíram da Hungria em 1991.
 
Cenas da revolução, em cinejornal da época
 
   

quarta-feira, outubro 11, 2023

A Cimeira de Reiquiavique foi há trinta e sete anos

  
A Cimeira de Reiquiavique (ou Conferência de Reykjavík) foi um encontro de trabalho entre o presidente norteamericano Ronald Reagan e o Secretário-Geral soviético Mikhail Gorbachev, realizado na famosa casa de Höfði, em Reykjavík, a capital da Islândia, em 11 e 12 de outubro de 1986. As negociações falharam no último minuto, mas o progresso alcançado até então, eventualmente, resultou no Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário de 1987, entre os EUA e a União Soviética.
 

Höfði, sede do encontro
 
As negociações falharam por causa da insistência de Gorbachev em incluir a Iniciativa Estratégica de Defesa (Strategic Defense Initiative, SDI) dos EUA em todo e qualquer acordo sobre a eliminação de mísseis nucleares de alcance intermediário da Europa, a redução das armas nucleares táticas da NATO e a redução das forças convencionais do Pacto de Varsóvia, e por causa da recusa de Reagan e da delegação norte-americana em negociar sobre a pesquisa SDI. O encontro foi prolongado, embora sem haver acordo algum no final. No entanto, participantes e observadores referem-se ao encontro como um enorme avanço, que eventualmente facilitou o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em Washington em 8 de dezembro de 1987.

segunda-feira, agosto 21, 2023

A Primavera terminou, em Praga, há cinquenta e cinco anos...

(imagens daqui)
 
A Primavera de Praga foi um período de liberalização política na Checoslováquia durante a época de domínio pela União Soviética, após a Segunda Guerra Mundial. Esse período começou a 5 de janeiro de 1968, quando o reformista eslovaco Alexander Dubček chegou ao poder, e durou até ao dia 21 de agosto, quando a União Soviética e os países fantoches do Pacto de Varsóvia invadiram o país para interromper as reformas.
As reformas da Primavera de Praga foram uma tentativa de Dubček, aliado a intelectuais checoslovacos, de conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de descentralização parcial da economia e de democratização. As reformas concediam também um relaxamento das restrições às liberdades de imprensa, de expressão e de movimento e ficaram conhecidas como a tentativa de se criar um “socialismo com face humana”.
Dubček também dividiu o país nas duas repúblicas separadas; essa foi a única reforma que sobreviveu no fim da Primavera de Praga.
As reformas não foram bem recebidas pelos soviéticos que, após as falhas nas negociações, enviaram milhares de tropas e tanques do Pacto de Varsóvia para ocupar o país. Uma grande onda de emigração varreu o país. Apesar de ter havido inúmeros protestos pacíficos no país, inclusive o suicídio de um estudante, não houve resistência militar. A Checoslováquia continuou ocupada até 1990.
Após a invasão, a Checoslováquia entrou em um período de normalização: os lideres seguintes tentaram restaurar os valores políticos e económicos que prevaleciam antes de Dubček ganhar o poder no Partido Comunista da Checoslováquia (KSČ, em checo). Gustáv Husák, que substituiu Dubček e que também se tornou presidente, destruiu quase todas as reformas de Dubček. A Primavera de Praga imortalizou-se na música e na literatura pelas obras de Karel Kryl e de Milan Kundera, como A Insustentável Leveza do Ser.
    
História
O movimento da Primavera de Praga foi liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Checo, interessados em promover grandes mudanças na estrutura política, económica e social, na Checoslováquia. A proposta surpreendeu a sociedade checa, que em 5 de abril de 1968 soube das propostas reformistas dos intelectuais comunistas.
O objetivo de Dubcek era "desestalinizar" o país, removendo os vestígios de despotismo e autoritarismo, que considerava aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do monopólio do partido comunista e a livre organização partidária, com uma Assembleia Nacional que reuniria democraticamente todos os segmentos da sociedade checa. A liberdade de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram outras garantias expostas por Dubcek.
As propostas foram apoiadas pela população. O movimento que propôs a mudança radical da Checoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética, foi chamada de Primavera de Praga. Assim sendo, diversos setores sociais se manifestaram a favor da rápida democratização. No mês de junho, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Liternární Listy (Gazeta Literária), escrito por Ludvík Vaculík e assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo de abertura política. Eles acreditavam que era possível transformar, pacificamente, um regime ortodoxo comunista para um regime socialista democrático em moldes ocidentais. Com estas propostas, Dubcek tentava provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com ampla liberdade democrática.
A União Soviética, temendo a influência que uma Checoslováquia democrática e socialista, independente da influência soviética e com garantias de liberdade na sociedade, pudesse passar às nações socialistas e às "democracias populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 21 de agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado para Moscovo. Na cidade de Praga a população reagiu à invasão soviética de forma não violenta, desnorteando as tropas. A organização quase espontânea foi em parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores, construídos à pressa, por membros do exército checo e por aficionados por radio transmissores: a Rádio Checoslováquia Livre. Cada emissora transmitia instruções para a população por não mais que 9 minutos e depois saia do ar, dando o espaço para uma outra, impossibilitando assim a triangulação do sinal. As suas instruções eram para a população manter a calma e, sobretudo, não colaborar com os invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente estação de rádio para criar interferências nos sinais, porém, os ferroviários checoslovacos, com uma extrema competência, atrasaram a entrega e, quando a estação chegou ao seu destino, estava inutilizável.
Os russos conseguiram uma ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um impasse político: as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista fracassaram e a população checoslovaca foi eficiente em minar a moral das tropas. No dia 23 iniciou-se uma greve geral e, no dia 26, foi publicado o decálogo da não cooperação:

Não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
Através de uma rede de radioamadores, a população era informada sobre ações que poderiam ser organizadas para levar a cabo uma resistência não violenta. Tal reação foi espontânea, devido à impossibilidade de utilizarem a ação violenta. De certa forma, a população se inspirou num livro picaresco muito popular, "O valente soldado Chveik", onde o personagem usava travessuras para expulsar as tropas invasoras.
A paralisação dos comboios interrompeu a comunicação com os países aliados, e para evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas de sinalização foram invertidas, e depois pintadas com uma tinta fácil de se raspar. Quando os soldados raspavam a tinta para verem a direção correta, acabavam voltando na direção de Moscovo.
Enquanto isso, os raptores contavam a Dubcek que a população checoslovaca estava a ser massacrada, como fora a população húngara, doze anos antes, o que o levou a assinar um acordo de renúncia.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na Checoslováquia. Em protesto contra o fim das liberdades conquistadas, o jovem Jan Palach auto-imolou-se, ateando fogo ao próprio corpo numa praça de Praga, a 16 de janeiro de 1969.
Por sua vez, os comunistas checos mais conservadores apoiaram a invasão soviética, uma vez que eles acreditavam que as reformas de Dubček trariam um precoce desastre económico e social, o que mais tarde realmente ocorreria, em 1991, com o colapso soviético. Sinal disto, é a divisão do partido em dois lados, os liberais (reformistas) e os conservadores, que contariam com o apoio soviético, o poder mais influente.