terça-feira, outubro 09, 2018

Karl Schwarzschild nasceu há 145 anos

Karl Schwarzschild (Frankfurt am Main, 9 de outubro de 1873 - Potsdam, 11 de maio de 1916) foi um astrónomo e físico alemão e um dos fundadores da moderna astrofísica.
Karl era o mais velho de 6 irmãos, Alfred Schwarzschild foi um artista, Hermann Schwarzschild foi agricultor, Otto Schwarzschild foi consultor financeiro, Robert Schwarzschild foi um industrial e Klara Schwarzschild casou-se com o astrofísico e meteorologista suíço Robert Emden. O seu pai, Moisés Martin Schwarzschild de quem teria herdado a capacidade de sustentação do trabalho duro, foi ativo na comunidade de negócios da cidade e sua mãe Henrietta Francisca Sabel, uma pessoa vivaz e calorosa de quem teria herdado os traços que formariam sua personalidade. A sua grande família era conhecida por cultivar profundo interesse em arte e cultura. No entanto, Karl tornou-se o primeiro da família a seguir uma carreira na ciência.
  
Começo
Karl frequentou uma escola judaica até os 11 anos de idade, era uma espécie de criança prodígio, pois o seu talento manifestou-se muito cedo, ao se interessar por astronomia enquanto ainda estudava no Ginásio de Frankfurt, nesta época, economizou todo o dinheiro que podia para comprar os materiais necessários para construir o seu próprio telescópio para estudar os céus. O pai de Karl conheceu, através do interesse em música, o professor J. Epstein que lecionava na Philanthropin Academy e tinha um observatório privado. A partir desta proximidade Karl fez amizade com o seu filho Paul Epstein que era 2 anos mais velho que ele e partilhava dos mesmos interesses astronómicos, Karl aprendeu com ele a usar um telescópio, bem como princípios de matemática avançada.
Aos 16 anos Karl escreveu 2 artigos de sua compreensão e domínio da mecânica celeste com foco nas órbitas de estrelas binárias e teve os seus trabalhos publicados na Sociedade Astronómica em 1890. De 1891 a 1893 Karl estudou na Universidade de Estrasburgo onde se concentrou em astronomia prática e recebeu seu doutoramento na Universidade de Munique em 1896, com uma dissertação sobre a aplicação da teoria de Jules Henri Poincaré da rotação de corpos estelares (estabilidade do sistema solar). O seu orientador foi Hugo Von Seeliger, a quem mencionou diversas vezes ao longo de sua vida.
  
Início de carreira
Entre 1897 e 1899, Karl foi assistente no Observatório Von Kuffner, no distrito de Ottakring em Viena, na Áustria. Foi contratado para a investigação e medição da magnitude aparente (brilho observado) de estrelas, usando placas fotográficas, realizando um trabalho de investigação em desvios geométricos do sistema óptico a partir do qual produziu uma fórmula para calcular a densidade óptica do material fotográfico. Esta fórmula foi especialmente importante para trabalhar com as medições fotográficas de intensidades fracas distantes (objetos astronómicos). O expoente desta fórmula é conhecido hoje como o Expoente de Schwarzschild.
No verão de 1899, tornou-se professor na Munich University depois de apresentar a sua tese intitulada “Contribuições para o tratado da fotometria de estrelas”, que construiu a partir do trabalho astronómico realizado no Observatório Von Kuffner. Escolhendo 367 estrelas para fazer suas medições, incluindo duas estrelas variáveis, verificou que a gama de variação das magnitudes medida pelos seus métodos fotográficos foi muito maior do que o intervalo de variação de magnitude visual. Percebendo assim, corretamente, que isso se devia às mudanças na temperatura da superfície da estrela variável por meio de seu ciclo.
É interessante notar que em 1900, Karl já havia ponderado sobre a estrutura não-euclideana da geometria espacial e suas ideias foram expostas na reunião da Germany Astronomy Society em Heidelberg. Neste mesmo ano, publicou um artigo em que deu um limite inferior para o raio (mensurável) da curvatura do espaço como 64 anos-luz (supondo um espaço hiperbólico) ou 1600 anos-luz (um espaço elíptico). Ao lidar com a pressão da radiação solar, assumiu que as caudas de cometas consistiam de partículas esféricas que atuam como refletores de luz. Assim, foi capaz de calcular o tamanho destas partículas. Ele soube instintivamente que a pressão da radiação solar tendia de alguma forma a superar a gravidade o que fazia as partículas não dispersarem a luz. Desta forma, permitiu-se deduzir que os diâmetros exatos das partículas variavam entre 0,07 à 1,5 mícrons.
Em 1902, foi nomeado professor na Göttinghen University e também diretor do seu Observatório. Em Göttinghen teve a oportunidade de trabalhar com algumas figuras significativas que habitavam a Universidade, como os matemáticos David Hilbert, Felix Klein e Hermann Minkowski.
Karl estudou os fenómenos astrofísicos associados ao mecanismo de transporte de energias em uma estrela por meio de radiação e produziu um importante papel no equilíbrio radioativo dentro da atmosfera do sol. Inventou um interferómetro com múltiplas fendas e usou-o para medir a separação de sistemas duplos próximos. Durante um eclipse total do sol, em 1905, obteve espectrogramas que lhe forneceram informações sobre a composição química de várias regiões a diferentes altitudes na atmosfera solar. Mais tarde desenhou um espectrógrafo com o objetivo de determinar de uma forma mais rápida e confiável a velocidade radial das estrelas, bem como o seu tipo espectral, temperatura e cor.
Karl introduziu o conceito de equilíbrio radioativo em astrofísica e foi provavelmente o primeiro a compreender como tal processo era importante na transferência de energia em atmosferas estelares. Em 1906, Karl publicou um artigo que mostrava que estrelas já não podiam ser consideradas como um gás mantido por sua própria gravidade, mas que as questões da termodinâmica sobre a transferência de calor devido à radiação e convecção precisava ser tratada com todo o empreendimento matemático. No mesmo ano, publicou o seu trabalho sobre transferência de energia na superfície do Sol.
  
Família
Em 22 de outubro de 1909, casou-se com Else Posenbach, filha de um professor de cirurgia na Göttinghen University. Juntos, tiveram 3 filhos: Agathe Schwarzschild, que se tornaria professora de Literatura, Martin Schwarzschild que seguiria os seus passos se tornando professor de Astrofísica em Princeton e Alfred Schwarzschild
  
Trabalho no Observatório de Potsdam
Logo após o seu casamento, no final de 1909, Karl deixou Göttinghen para assumir o cargo de diretor do Observatório de Astrofísica de Potsdam. Este foi o posto mais prestigioso disponível para um astrónomo na Alemanha e ocupou a posição com grande sucesso sendo mencionado por Arthur Eddington: “...Para um homem de seus amplos interesses em todos os ramos da matemática e da física estar nestas imediações deve ter sido muito agradável...”.
Em 1910 teve a oportunidade de estudar fotografias do retorno do cometa Halley, levado por uma expedição de Potsdam para Tenerife.
Em 1913, Karl foi eleito membro da Prussian Academy of Science de Berlim. Durante a sua eleição, ele produziu um memorável discurso que delineou a essência de sua atitude em relação à ciência.
"Matemática, física, química, astronomia, uma marcha em frente. Qualquer que seja a que fique atrás é desenhada depois. Qualquer que seja a que se apressa em frente ajuda as outras. O mais próximo de solidariedade entre astronomia e todo o círculo da ciência exata... a partir deste aspecto que pode contar bem que o meu interesse nunca foi limitado às coisas que estão além da Lua, mas seguiu os tópicos que giram de lá para o nosso conhecimento sublunar; muitas vezes tenho sido infiel para com os céus. Isso é um impulso para o universal, que foi fortalecido involuntariamente pelo meu professor Seeliger, e depois foi ainda mais alimentado por Felix Klein e todo o círculo científico em Göttingen. Lá o lema é que a matemática, a física e a astronomia constituem um conhecimento, que, como a cultura grega, só é compreendida como um todo perfeito".
  
I Guerra Mundial
Logo, em 1914, a Europa foi assolada com a eclosão da I Guerra Mundial. Karl ingressou no exército alemão como voluntário, apesar de estar acima dos 40 anos de idade. Atuou em ambas as frentes, oriental e ocidental, chegando à patente de tenente da divisão de artilharia. Serviu na Bélgica notavelmente, onde foi encarregado de uma estação meteorológica local, e na França, onde produziu cálculos da trajetória de mísseis.
Enquanto servia na Rússia, apesar de sofrer de uma doença de pele rara e dolorosa chamado pênfigo, ele conseguiu escrever três trabalhos fundamentais: dois contendo as soluções exatas para as equações de campo de Einstein da Teoria Geral da Relatividade, a nova teoria do espaço-tempo e gravitação, e um sobre a teoria quântica de Planck. Como são bem conhecidos, seus trabalhos sobre a Teoria Geral da Relatividade deram a primeira solução exata para as equações de campo de gravitação no espaço vazio em torno de massas esféricas de Einstein, solução que leva o seu nome, a Métrica de Schwarzschild, que na verdade, envolve uma ligeira modificação da solução original de Einstein. Além disso, Karl foi o primeiro cientista a introduzir o formalismo lagrangiano (Joseph Louis Lagrange, matemático italo-francês) correto do campo eletromagnético. Foi pioneiro no desenvolvimento da teoria de espectros atómicos proposto por Niels-Bohr. Independente de Arnold Sommerfeld (físico alemão que introduziu a constante da estrutura fina), Karl desenvolveu as regras gerais de quantização, definiu a teoria completa do efeito Stark (efeito de um campo elétrico da luz) e iniciou a teoria quântica de espectros moleculares.
  
Einstein vs. Schwarzschild
Ao receber manuscritos de Karl de 22 de dezembro de 1915, Einstein ficou agradavelmente surpreso ao saber que suas equações de campo de gravitação chegaram a admitir soluções exatas, que apesar de sua complexidade, segundo ele, foram elegantemente demonstradas por Karl em ...”uma forma tão simples...”. Antes disso, o próprio Einstein era capaz apenas de produzir uma solução aproximada, dado o seu famoso trabalho em 1915 sobre o avanço do periélio do Mercúrio. Nesse artigo, Einstein utilizando um sistema de coordenadas retilíneas, afim de aproximar o campo gravitacional em torno de uma massa esfericamente simétrica, estática, não-rotativa e não-carregada (a solução para um objeto de simetria esférica rotativa foi encontrado em 1963 por Roy Patrick Kerr, matemático neozelandês). Karl, em contraste com a abordagem inicial de Einstein, escolheu uma generalização do sistema de coordenadas polares (hoje conhecida como coordenadas de Schwarzschild) e foi assim, capaz de produzir uma solução exata de uma forma mais elegante, de maneira um pouco mais condizente com o esplendor e a subtileza da total natureza não-euclideana da Teoria Geométrica de Einstein. Karl finalizou a carta dizendo "...como você vê, a guerra me tratou gentilmente o suficiente, apesar da artilharia pesada, para permitir-me ficar longe de tudo e aproveitar esta caminhada na terra de suas ideias...".
Em 1916, Einstein escreveu a famosa e exultante carta a Karl a respeito de seu resultado obtido recentemente:
“Li a sua carta com o máximo interesse. Não esperava que podia-se formular a solução exata do problema de maneira tão simples. Gostei muito do seu tratamento matemático sobre o assunto. Na próxima quinta-feira apresentarei o trabalho à Academia com algumas palavras de explicação”.
  
Outras descobertas
Talvez ainda mais conhecido do que o seu trabalho com as soluções para a Teoria Geral da Relatividade, sejam suas contribuições para o aprofundamento da compreensão sobre o fenómeno dos buracos negros. O que agora é referido como o raio de Schwarzschild descreve quando uma estrela entra em colapso gravitacional diminuindo a um determinado tamanho e seu potencial de atração gravitacional se torna infinito onde nem mesmo um objeto que viaja à velocidade da luz consegue escapar da área denominada horizonte de eventos (raio de ação do buraco negro/raio de Schwarzschild). Outra teoria que leva seu nome é a dos buracos de verme de Schwarzschild que, hipoteticamente, trata-se de um “atalho” no espaço-tempo onde existem duas buracos ligados por um tubo que, se transponível, poderia levar a matéria a outro lugar do espaço, viajando mais rápido que a velocidade da luz, caracterizando uma viagem no tempo.
  
Uma grande perda para a Ciência
Pouco depois, Karl mandou seus dois últimos trabalhos sobre a Teoria Geral da Relatividade de Einstein e veio a sucumbir à doença de pele contraída anteriormente. A doença pênfigo é um tipo raro de erupção cutânea. Ocorrem erros do sistema imunológico que identificam as células da pele como organismos estranhos e os ataca, causando bolhas dolorosas. Na época de Karl, não havia tratamento médico conhecido ou cura para a doença. Foi libertado do seu dever militar e internado em casa em março de 1916, morrendo dois meses depois, a 11 de maio de 1916, com a idade de 42 anos, sendo sepultado no Stadtfriedhof de Göttingen.
Karl morreu no auge de suas descobertas e certamente foi um homem de grandes interesses científicos. Depois da sua morte prematura, o seu colega cientista Arthur Stanley Eddington observou, “...a ampla gama de suas contribuições para o conhecimento sugere uma comparação com Poincaré, mas Karl Schwartzschild era duplamente mais prático, ele encantou tanto na concepção de métodos instrumentais como nos triunfos da análise...sua alegria era variar sem restrições sobre os postos do conhecimento, e como um líder da guerrilha, os seus ataques caíram onde menos se espera...”. Além do seu trabalho em Astronomia, que incluiu a mecânica celeste, a fotometria estelar observacional, sistemas ópticos, a astronomia observacional e instrumental, estrutura estelar e estatística, cometas e espectroscopia e a sua excelente contribuição na área da Teoria Geral da Relatividade, também trabalhou em eletrodinâmica e óptica geométrica (enquanto trabalhava na Göttinghen University) e manteve profundo interesse na teoria quântica.
  
Curiosidades
As características de Karl não eram aquelas que são normalmente associadas aos cientistas de sua nacionalidade. Ele era um alpinista entusiasmado e tinha realizado algumas das subidas mais complicadas dos Alpes. Ele tinha um espírito de aventura e praticava desportos de inverno na Suíça. Um voo de Zeppelin foi sua última grande aventura.
Como a sua morte muito prematura, as honras foram relativamente poucas durante sua vida. Recebeu honras póstumas de um observatório, fundado em 1960, em Tautenburg como Instituto afiliado da Academia Alemã de Ciências. A dedicação descreveu-o como: “...o maior astrónomo alemão dos últimos 100 anos...”. Após a reunificação da Alemanha o Instituto foi refundado em 1992 e renomeado "Observatório Karl Schwarzschild" do estado de Turíngia de Tautenburg, que possui o maior telescópio da Alemanha. A Sociedade Astronómica Alemã estabeleceu um eleitorado especial em sua homenagem em 1959 e uma medalha Karl Schwarzschild de Astronomia. O primeiro destinatário foi seu filho Martin Schwarzschild. O asteroide 837 Schwarzschild, descoberto em 23 de setembro de 1916 pelo astrónomo alemão Max Wolf, foi nomeado em sua homenagem bem como a cratera de Schwarzschild na Lua.
 

Jacques Brel morreu há quarenta anos...

Jacques Romain Georges Brel (Schaerbeek, Bélgica, 8 de abril de 1929 - Bobigny, França, 9 de outubro de 1978) foi um autor de canções, compositor e cantor belga francófono. Esteve ainda ligado ao cinema de língua francesa. Tornou-se internacionalmente conhecido pela música Ne me quitte pas, interpretada e composta por ele.
  
Infância e juventude
Jacques Brel nasceu em 8 de abril de 1929, no n.º 138 da Avenue du Diamant, em Schaerbeek, comuna de Bruxelas (Bélgica), de pai flamengo (mas francófono) e de mãe de sangue francês e italiano.
Ainda que em casa se falasse o francês, os Brel eram de ascendência flamenga, com uma parte da família originária de Zandvoorde, perto de Ieper. O pai de Brel era sócio de uma cartonaria e este estaria supostamente destinado a trabalhar na empresa da família.
A seguir à escola primária, onde entrou em 1935, frequentou o Colégio Saint-Louis, a partir de 1941. Aluno pouco brilhante, é neste colégio que Brel começa a mostrar interesse pelas artes: em 1944, aos 15 anos, colabora na criação do grupo de teatro, actua em várias peças, escreve três pequenas histórias e interpreta ao piano alguns improvisos para poemas que ele próprio escreveu.
Em 1946 adere a uma organização de solidariedade católica, a Franche Cordée, de ajuda aos doentes, pobres, órfãos e velhos. É aqui, e não no seu ambiente familiar ou escolar, que se inicia a sua formação cultural. Entre as actividades desta organização contava-se a realização de recitais onde Brel se iniciou nas apresentações públicas, acompanhando-se a si próprio à viola. É aqui que conhece Thérèse Michielsen ("Miche"), com quem se casa em 1950.
  
Carreira
No início dos anos 50, não se entusiasmando pelo trabalho na fábrica de cartão do pai (dizia-se "encartonado" neste trabalho), continua a escrever canções, que vai mostrando aos amigos e cantando pelos bares de Bruxelas sempre que se proporciona.
A pequena mas sólida fama na sua terra natal proporciona-lhe a gravação em 1953, do primeiro single, um 78 rpm, contendo as canções "Il y a" e "La foire". Persistente na sua ideia de fazer carreira com as suas canções, Brel deixa o emprego, a família, a sociedade burguesa de Bruxelas (que ele viria a retratar em "Les Bourgeois") e vai tentar a sorte na capital francesa, onde consegue ao fim de algum tempo ser ouvido pelo descobridor de talentos Jacques Canetti (irmão de Elias Canetti, o prémio Nobel da literatura de 1981). É apresentado no célebre cabaré parisiense Les Trois Baudets, do próprio Canneti, onde pouco tempo antes havia actuado em grande estilo Georges Brassens. Em 1959 é vedeta no Bobino, em Paris e canta em Bruxelas no "L’Ancienne Belgique" com Charles Aznavour.
A segunda metade da década de 50 é passada num grande ritmo de espectáculos (chega a participar em 7 espectáculos numa única noite). Para além dos sucessos conseguidos no Olympia e no Bobino, em Paris, vai fazendo espectáculos por todo o mundo. Em 1954 é publicado o seu primeiro álbum "Jacques Brel et ses chansons". Torna-se notado por Juliette Gréco, que grava uma das suas canções, "Le diable". Este encontro é marcante no futuro da carreira de Brel pois é então que se inicia uma frutuosa colaboração com Gérard Jouannest, pianista e acompanhante da cantora, e com o também pianista e orquestrador François Rauber. Em 1955 conhece Georges Pasquier ("Jojo"), percussionista no Trio Milson e de quem se torna amigo. O seu primeiro grande sucesso ocorre em 1956 com a música "Quand on a que l’amour". Em 1957 é laureado com o Grand Prix du Disque da Academia Charles Cros e a sua digressão faz grande sucesso pela França. Em 1958 Miche, a mulher, retorna a Bruxelas. Desde então ele e a família vivem vidas separadas.
Sob a influência do seu amigo "Jojo" e dos pianistas Gérard Jouannest (que o acompanhava em palco) e François Raubert (orquestrador e pianista de estúdio), o estilo de Brel foi mudando. A música tornou-se mais complexa e os temas mais diversificados. Um apurado sentido de observação, de ironia e de humor, associado à sua capacidade poética, permitiram-lhe criar temas que abordam, das mais diferentes maneiras, várias das realidades do dia a dia. Nele encontram-se canções cómicas como Les bonbons, Le lion ou Comment tuer l’amant de sa femme, mas também canções mais emotivas como Voir un ami pleurer, Fils de, Jojo. Os temas vão desde o amor, com Je t’aime, Litanies pour un retour, Dulcinéa, até à sociedade, com Les singes, Les bourgeois, Jaurès, passando por preocupações espirituais, como em Le bon Dieu, Si c’était vrai, Fernand.
O ritmo de espectáculos anuais continua intenso, chegando a ultrapassar os 365 num único ano. Em 1966 anuncia que irá deixar de actuar em público como cantor. Seguem-se vários espectáculos de despedida nomeadamente em Paris (Olympia) e em Bruxelas (Palais des Beaux-Arts). Apesar da insistência dos seus amigos, Brel não muda de ideias e, em 16 de maio de 1967 dá a sua última actuação ao vivo, em Roubaix.
  
Cinema e teatro
O teatro torna-se a sua primeira experiência, com a adaptação da peça "L’homme de la manche". A personagem de Dom Quixote, que desempenhava, estava bem de acordo com o seu idealismo. A peça estreia em 1968 no Theatre Royal de la Monnaie, em Bruxelas e no mesmo ano no Theatre des Champs-Elysées em Paris, tendo ultrapassado as 150 representações. Entretanto volta-se para o cinema, participando durante os cinco anos seguintes como actor em mais de uma dezena de filmes e como realizador em dois deles Franz e Le Far West. Após este último filme, Brel diz um novo adeus ao espectáculo, desta vez muito mais radical: deixa Paris, a França, os seus próprios afectos.
  
Vagueando pelo mundo
Os seus brevets aéreos e marítimos abrem-lhe a porta à possibilidade de vaguear pelo mundo por ar ou por mar. Voa pela Europa, qual Saint-Exupéry (mito que o acompanhava desde há muito). Em 1974, após comprar um veleiro de 19 metros decide partir com Madly Bamy, que tinha conhecido na rodagem do filme L'Aventure c'est l'aventure para uma volta ao mundo de 3 anos. Em setembro, ao aportar nos Açores, toma conhecimento do falecimento do seu grande amigo Jojo, a quem vem a dedicar uma canção. Em outubro é-lhe detectado um pequeno tumor no pulmão e, no mês seguinte, é efectuada a ablação do lobo pulmonar superior esquerdo. Em dezembro, após um pequeno repouso, desloca-se ao local onde está o seu veleiro e decide prosseguir a sua viagem. Em novembro de 1975 chega à baía de Atuona, na ilha Hiva Oa, no arquipélago das Ilhas Marquesas, Polinésia Francesa.
Naquelas ilhas isoladas Brel não procura o isolamento mas antes o contacto com uma realidade totalmente desconhecida, e sob certos aspectos ainda não contaminada pela "civilização". Em 1976 aluga uma pequena casa em Hiva Oa, vende o veleiro e decide adquirir um pequeno avião bimotor. Ajuda a combater o isolamento das ilhas mais remotas do arquipélago, disponibilizando o seu avião para transporte de correio ou de pessoas.
Em 1977 desloca-se a Paris, onde grava discretamente em estúdio doze canções das 17 que havia escrito, e que virão a integrar o seu último álbum, esperado há mais de 10 anos, e chamado, simplesmente, "Brel". Gravado nas difíceis condições físicas e psicológicas de Brel que se pode antever, torna-se perturbador ler as últimas palavras da sua canção “Les Marquises”: "Veux-tu que je te dise / Gémir n'est pas de mise / Aux Marquises" ("Se queres que te diga / Gemer não é opção / Nas Ilhas Marquesas"). O disco teve um sucesso imediato: apesar de Brel ter pedido que não houvesse publicidade, mais de um milhão de exemplares estavam reservados antes da edição e setecentos mil foram adquiridos logo no primeiro dia da sua venda ao público. Alheio a esse sucesso, volta à ilha pela penúltima vez. Em 1978 a saúde começa-se a degradar e retorna a Paris, em julho, para novos tratamentos. Em outubro é internado no Hospital com uma embolia pulmonar, vindo a falecer com 49 anos, às 04.10 horas da madrugada do dia 9 de outubro de 1978. O regresso a Hiva Oa, dá-se uma última vez: Jacques Brel é sepultado no cemitério local.
  


Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas

Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit deja
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le coeur du bonheure
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...

Moi je t'offrirai
Des perles du pluie
Venues de pays
Ou il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'apres ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumiere
Je ferai un domaine
Ou l'amour sera roi
Ou l'amour sera loi
Ou tu seras reine
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...

Ne me quitte pas
Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te racont'rai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...

On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l'ancien volcan
Qu'on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu'un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu'un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s'épousent-ils pas
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...

Ne me quitte pas
Je ne veux plus pleurer
Je ne veux plus parler
Je me cacherai là
A te regarder
Danser et sourire
Et à t'écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main
L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas...

segunda-feira, outubro 08, 2018

Foi há vinte anos que Saramago ganhou o Nobel da Literatura

Foi galardoado com o Nobel de Literatura em 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. A 24 de agosto de 1985 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 3 de dezembro de 1998 foi elevado a Grande-Colar da mesma Ordem.
O seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Fiel Jardineiro e Cidade de Deus). Em 2010 o realizador português António Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
  
(...)
  
Em setembro de 1997, a agência publicitária sueca, Jerry Bergström AB, de Estocolmo, contratada pelo ICEP (órgão estatal português para a promoção do comércio e turismo nacional), organizou uma visita de José Saramago a Estocolmo, incluindo um seminário na Hedengrens, a principal cadeia de livrarias sueca, um discurso na Universidade de Estocolmo e várias entrevistas a jornais, revistas e rádios suecas. Nesses mesmos dias, a televisão estatal sueca produziu um programa especial dedicado ao escritor.
Em outubro do mesmo ano, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt tem neste ano Portugal como país em destaque, estando José Saramago neste local, em 8 de outubro de 1998, quando recebe a informação de ter ganho o prémio, que, em 7 de dezembro de 1998, Saramago recebe em Estocolmo.
Segundo o Diário de Notícias, o director da empresa sueca Jerry Bergström AB afirmou: "Portugal nunca tinha tido um Prémio Nobel da literatura e uma parte da nossa missão consistia em mudar essa situação".
Comentando esta atribuição, Sture Allén, então secretário da Academia Sueca, negou que a decisão tenha sido afectada por "campanhas publicitárias, comentários de académicos ou escritores, ou qualquer outro tipo de pressão".
Contradizendo Allén, Knut Ahnlund e Lars Gyllensten, membros da academia afirmaram que seria ridículo afirmar que os membros da academia sejam "imunes a agências publicitárias". Ahnlund foi crítico da atribuição do prémio Nobel a Saramago, que segundo ele foi o culminar de uma campanha profissional de relações públicas.

  
Química
  
Sublimemos, amor. Assim as flores
No jardim não morreram se o perfume
No cristal da essência se defende.
Passemos nós as provas, os ardores:
Não caldeiam instintos sem o lume
Nem o secreto aroma que rescende.
 
  

in Os Poemas Possíveis (1982 - 2ª edição) - José Saramago

Hoje é o aniversário de dois membros da banda Ramones

John William Cummings (Long Island, Nova Iorque, 8 de outubro de 1948 - Los Angeles, Califórnia, 15 de setembro de 2004), mais conhecido como Johnny Ramone, foi o guitarrista da banda de punk rock Ramones. Como o vocalista Joey Ramone, ele permaneceu membro da banda até o fim.
Quando criança tocava em uma banda chamada Tangerine Puppets. Depois ficou conhecido como "o gordo". Johnny era conhecido pela sua personalidade volúvel e controladora, postura anti-social, e extrema rigidez na gerência interna dos Ramones. O documentário End of the Century: The Story of the Ramones traz relatos de antigos amigos, e do próprio Johnny sobre a sua postura nada amigável durante a juventude. Era o empresário interno dos Ramones, criando e impondo regras a serem seguidas com o intuito do bom funcionamento e manutenção da banda.
Em 15 de setembro de 2004, ele morreu em Los Angeles, depois de 5 anos a lutar contra um cancro da próstata, com apenas 55 anos. Encontra-se sepultado no Hollywood Forever Cemetery, Hollywood, Condado de Los Angeles, Califórnia nos Estados Unidos.
Em 2003, a revista Time colocou-o na lista dos "10 Melhores Tocadores de Guitarra Elétrica". No mesmo ano, a 27 de agosto de 2003, a revista Rolling Stone colocou-o em 16ºlugar na lista dos "100 melhores guitarristas de todos os tempos", mas, em 2011, a Rolling Stone modificou a lista dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos, tendo passado para o 28º lugar de melhor guitarrista de sempre.
   
  
C. J. Ramone é o pseudónimo de Christopher Joseph Ward (Queens, New York, 8 de outubro de 1965), é um músico norte-americano, conhecido como baixista da banda de punk rock Ramones, na qual entrou em substituição de Dee Dee Ramone após a gravação de Brain Drain (1989) e onde ficou até o fim da banda, em 1996. Assim como seu antecessor Dee Dee, CJ também atuou como vocalista em algumas músicas, vindo a gravar Strengh to Endure, Cretin Family e Main Man dentre outras, além de bradar One, two, three, four! em shows da banda para introduzir as músicas. Além disso, ficou responsável por cantar todas as músicas que o seu antecessor fazia.
Mesmo em projetos posteriores, como as bandas Los Gusaños e Bad Chopper (tocando guitarra e cantando), Cristopher ainda continuou sendo chamado por fãs e crítica de CJ Ramone. Cristopher era guitarrista antes e depois de entrar nos Ramones e foi escolhido para entrar no quarteto nova-iorquino pela sua autenticidade, não imitando Dee Dee Ramone nas roupas e no corte de cabelo.
CJ Ramone foi casado com a sobrinha de Marky Ramone, Chelsea, de quem teve dois filhos, Liam (1998) e Liliana (2001). Em 1999, foi diagnosticado autismo ao seu filho Liam, o que levou Chistopher a participar da campanha a favor da luta contra o autismo, em 2009. Ele chegou a receber um convite para tocar com os Metallica mas teve que recusar, devido à doença do filho.
Hoje, Christopher é casado com Denise Barton Ward.
  

   

domingo, outubro 07, 2018

Cristovam Pavia nasceu há 85 anos

(imagem daqui)
  
Cristovam Pavia é pseudónimo de Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, que nasceu em Lisboa em 7 de outubro de 1933. O período determinante da infância passou-o, no entanto, numa casa que a família possuía nos arredores de Castelo de Vide, e a paisagem do Nordeste alentejano irá marcar profundamente a sua poesia. O pai, o “presencista” Francisco Bugalho, iniciara pouco antes o seu itinerário poético, que terá na ligação à terra e às actividades que nela se centram e nas gentes que a trabalham um dos vectores principais. O percurso escolar, desde o ensino primário, realiza-o Cristovam Pavia em Lisboa, mas as férias passa-as em Castelo de Vide, em contacto com o mundo rural, que o atrai e convida a um enraizamento. Decisivos na sua escolaridade foram os últimos anos do ensino secundário, no Liceu D. João de Castro, onde conheceu alguns dos seus maiores amigos, vários deles, como, por exemplo, Pedro Tamen, António Osório, Luís de Sousa Costa e Rogério Fernandes, dando já então sinais de uma nascente vocação literária. Em Janeiro do ano em que começa a frequentar o 6.° Ano no referido liceu, sofrera Cristovam Pavia um duro abalo, com a morte do pai. Para o adolescente sensível, estará aí, segundo alguns, a origem dos problemas psicológicos que o iriam atormentar ao longo da sua breve vida.
A frequência, a partir de 1951, de um curso, o de Direito, com o qual não se sentia minimamente sintonizado, agravará nele o sentimento de desajustamento com a realidade. Entretanto uma precoce maturidade poética antes de atingir os vinte anos fará com que, logo nos começos dos anos 50, o seu nome figure entre os dos colaboradores de duas das mais importantes revistas desse período, a Távola Redonda e a Árvore. Em meados da década, depois de desistir de Direito, acaba por matricular-se na Faculdade de Letras, em Filologia Germânica, curso de que completará o currículo da licenciatura, sem ter, todavia, apresentado a tese final. Por essa altura, mais concretamente, em 1956, começa a publicar-se o jornal dos universitários católicos 'Encontro’, e, pouco depois, é criado o Centro Cultural de Cinema, o que contribuirá para definir um seu enquadramento geracional entre os que estão, então, empenhados numa renovação da Igreja em Portugal e que, mais tarde, terão na revista de inspiração personalista O Tempo e o Modo um dos seus privilegiados veículos de intervenção. Também de 1956 é a entrada nos Dominicanos de Nuno Cardoso Peres, seu amigo desde os tempos do Liceu D. João de Castro e colega em Direito, a quem dedicará um dos textos mais emblemáticos de «35 Poemas», «Não fugir. Suster o peso da hora». Do núcleo central da «revista de pensamento e acção» O Tempo e o Modo, cuja publicação se inicia em janeiro de 1963, farão parte diversos membros da que João Bénard da Costa chamou «a geração do Encontro», ele próprio, Pedro Tamen, Nuno de Bragança, Alberto Vaz da Silva, e António Alçada Baptista, o principal animador do projecto, de uma geração anterior mas com ela plenamente identificado. Não por acaso, os subscritores dos textos de homenagem a Cristovam Pavia que a revista publica após a sua morte, em 1968, pertencem todos eles, Alberto Vaz da Silva, João Bénard da Costa, M.S. Lourenço, Nuno de Bragança e Pedro Tamen, a essa geração.
Em 1959, na colecção Círculo de Poesia, dirigida por Pedro Tamen, um dos amigos mais presentes, com Luís de Sousa Costa, na vida de Cristovam desde os anos da juventude, e inaugurada por Jorge de Sena no ano anterior, dá Cristovam Pavia, finalmente, a público «35 Poemas», depois de já se ter afirmado, através das revistas da época, como uma das vozes mais originais da poesia dos anos 50. Não voltará a publicar em livro. O consolo que a publicação do volume e a sua recepção crítica lhe trazem não o impede, todavia, de se dar conta do agravamento da sua condição psíquica. Procura, então, saída para os males que o afligem num programa de psicoterapia na Alemanha, em Heidelberg. Com interrupções mais ou menos longas em Portugal, aí seguirá, irregularmente, apesar da forte empatia com o médico, o programa entre Agosto de 1960 e o mesmo mês de 1962. Grande revelação constitui, para ele, o extenuante trabalho braçal que, episodicamente, conhece na cidade alemã como ajudante de pedreiro, o que, entre outras coisas, lhe vai permitir um contacto de igual para igual com gente fora dos meios intelectuais e académicos. Fará, aliás, amizade com alguns dos seus companheiros de trabalho, e na correspondência aos amigos portugueses falará mesmo com orgulho da sua condição de «Dachdecker» (telhador, digamos). Por outro lado, o admirador que há nele do eterno feminino deixa-se deslumbrar pelas raparigas alemãs, réplicas do tipo físico de algumas das mulheres que, em Portugal, lhe motivaram paixões infelizes.
O mal que o persegue e que, sem cura, traz de volta ao país, é bem real, e nada tem a ver com o «mal du siècle» de que, em diferentes tempos, se queixaram tantos poetas, afinal longevamente saudáveis. Só ele pode estar por detrás da morte que procura em 13 de outubro de 1968, por dolorosa coincidência no dia em que morreu Manuel Bandeira, um dos poetas que mais admirava.
  
in SNPC
   
   
   
Requiem



(ao menino morto, eu próprio)
 
A tarde declina com uma luz ténue.
Estou grave e calmo.
E não preciso de ninguém
Nem a luz da tarde me comove: entendo-a.
Até as imagens me são inúteis porque contemplo tudo.

Os ventos rodam, rodam, gemem e cantam
E voltam. São os mesmos.
Como os conheço desde a infância!
E a terra húmida das tapadas da quinta...
O estrume da égua morta quando eu tinha seis anos
Gira transparente nesta brisa fria...
(Na noite gotas de orvalho sumiam-se sob as folhas das ervas)
Oh, não há solidão, nas neblinas de inverno
Pela erma planície...

E foi engano julgar-te morto e tão só nas tapadas em silêncio...

Agora sei que vives mais
Porque começo a sentir a tua presença, grande como o silêncio...
Já me não vem a vaga tristeza do teu chamamento longínquo
Já me confundo contigo.
  
 
Cristovam Pavia

O Massacre de Ipatinga foi há 55 anos

Corpo do operário Sebastião Tomé da Silva recolhido nas dependências da Usiminas após o massacre

O Massacre de Ipatinga foi um evento acontecido no então distrito de Ipatinga, em Coronel Fabriciano, Minas Gerais, no dia 7 de outubro de 1963. Considerado por alguns estudiosos como uma ação prévia do que seria a exibição do poder militar que tomaria posse do governo brasileiro no ano seguinte, o facto consistiu em um atrito entre militares e funcionários da Usiminas, revoltados com as más condições de trabalho e a humilhação que sofriam, ao serem revistados antes de entrar e sair da empresa para a sua jornada de trabalho.
A situação de tensão culminou com a polícia militar responsável pela vigilância patrimonial da Usiminas, então sob ordens do governador mineiro Magalhães Pinto, que mais tarde participaria com afinco na ditadura brasileira, atirando, inclusive com metralhadoras, contra os funcionários desarmados que se manifestavam na portaria da empresa, resultando oficialmente em 8 mortos (inclusive uma criança, no colo da sua mãe) e 80 feridos.
Os números sempre foram contestados pelas testemunhas presentes que tiveram a verdadeira noção da tragédia ocorrida. Daniel Miranda Soares narra, em seu artigo nos Cadernos do CEAS, n. 64, de nov/dez de 1979 "O Massacre de Ipatinga" que foram mais de 3 mil feridos e 33 teriam morrido até o dia seguinte, por causa  dos ferimentos. O jornal "Em Tempo" apresentou depoimentos de que seriam mais de 80 mortos. O padre Abdala Jorge do distrito de Timóteo, então parte da mesma cidade, afirma que, apesar de não poder precisar o número de mortos, contou pessoalmente 11 cadáveres no Hospital Nossa Senhora do Carmo (atual Hospital Unimed, em Coronel Fabriciano) para onde foram levadas as vítimas.
Na noite anterior ao dia 7 os trabalhadores saíram do turno da noite e foram para o alojamento, que ficava no bairro Santa Mónica, logo após chegarem alguns polícias e começarem a atirar, matando um dos moradores do alojamento. No dia 7 de manhã os trabalhadores saiam da fábrica e os vigilantes começaram a revistar as suas marmitas, logo depois, um polícia em cima de um camião e com uma metralhadora giratória começou a atirar para todos os lados.
O massacre foi fotografado por José Isabel Nascimento, fotógrafo amador, que foi um dos únicos a fotografar o crime. Porém, foi atingido por vários tiros da Polícia Militar durante esse episódio e faleceu dez dias depois, na Casa de Saúde Santa Terezinha.
A Câmara Municipal de Ipatinga realizou em 2 de outubro de 2007 uma Audiência Pública sobre "A memória do incidente conhecido como Massacre de Ipatinga, ocorrido em 7 de outubro de 1963". 
Em 2009, o Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, IHG (em conjunto com o Movimento Anarquista Libertário e as Brigadas Populares), realizou um evento em memória aos trabalhadores assassinados no massacre, que levou o nome de "Velada Libertária do IHG".

Thom Yorke - 50 anos!

Thomas Edward "Thom" Yorke (Wellingborough, 7 de outubro de 1968) é o vocalista e compositor da banda britânica de rock alternativo Radiohead. Geralmente, toca guitarra e piano. Atualmente, vive em Oxford com a sua companheira de longa data, a artista plástica, com um doutoramento em História de Arte, Rachel Owen. O casal tem dois filhos: Noah e Agnes.
Biografia
Nascido com o olho esquerdo paralisado, Thom Yorke submeteu-se a um total de cinco operações de correção nos seus primeiros cinco anos de vida, a última das quais foi mal-sucedida e quase lhe tirou toda a visão desse olho e, devido a isto, ficou com o seu característico "olho-caído". Os seus colegas de turma costumavam insultá-lo, pondo-lhe a alcunha de "Salamandra".
Thom Yorke ganhou a sua primeira guitarra aos sete anos de idade, ao ver a performance do guitarrista do Queen, Brian May na televisão. A primeira canção que ele escreveu chamava-se Mushroom Cloud sobre a formação de uma nuvem seguindo uma explosão nuclear. Ele formou a primeira banda aos onze anos de idade, quando frequentava a escola privada para rapazes Abingdon School, onde conheceu seus futuros companheiros de banda, Ed O'Brien, Colin Greenwood, o baterista Phil Selway e o irmão mais novo de Colin, Jonny Greenwood.
Inicialmente eles chamavam-se On a Friday ("Numa Sexta", em português), pois sexta-feira era o único dia em que eles podiam ensaiar. O irmão mais novo de Thom Yorke, Andy, formou vários grupos na mesma época de On a Friday, incluindo "The Illiterate Hands", da qual Jonny Greenwood era um membro antes de se juntar ao seu irmão em On a Friday. Os integrantes de On a Friday continuaram a praticar e escrever novos materiais, mesmo estudando em universidades diferentes. Quando estava na Universidade de Exeter, Thom Yorke foi um membro dos Headless Chickens, e trabalhou num hospital psiquiátrico, como assistente hospitalar. Em Exeter, ele conheceu Stanley Donwood, que mais tarde trabalharia na banda de 1994 até hoje.
A pedido da EMI, a banda mudou seu nome de On a Friday para Radiohead, e o nome foi inspirado numa música do álbum True Stories da banda americana Talking Heads.
Radiohead
Quando o grande sucesso do hit Creep (escrito num WC masculino do clube de estudantes The Lemmy, da Universidade de Exeter) conduziu a banda a escrevê-lo como o seu maior hit, uma sucessão de álbuns cada vez mais complexos fez dos Radiohead uma das bandas mais respeitadas do mundo, em parte devido aos temas de existencialismo urbano, maldade e amor nas letras de Yorke. Algumas das suas músicas tem mensagens políticas, o mais proeminente no álbum Hail to the Thief (Saudações ao Ladrão, em português) - o título é visto como uma referência direta à eleição para presidente dos Estados Unidos em 2002, quando George W. Bush foi acusado por seus críticos de ter "roubado" as eleições, mas isso tem sido repetidamente negado pela banda. Na época de 1997, OK Computer, as letras de Yorke foram notadas pela sua ambiguidade.
Tom Yorke e o vocalista do R.E.M, Michael Stipe, são amigos íntimos e frequentemente participam dos shows um do outro. Yorke disse que Stipe inspirou muitas de suas músicas e o ajudou a sair de um período de depressão depois da turnê de OK Computer e antes do lançamento de Kid A (2000). A música How to Disappear Completely, do último álbum, foi inspirada por Stipe, que aconselhou Yorke a falar para si mesmo, "I'm not here/this isn't happening" ("Eu não estou aqui/isto não está a acontecer") quando ele estava deprimido ou ansioso. Stipe notou que muitas das músicas dos Radiohead, como "A Wolf at the Door" e "There There", inspiraram-se na sua própria maneira de escrever.
Yorke explicou em várias entrevistas que ele não gosta da "mitologia", que sente ser endémica com o género rock, e odeia a obsessão dos media com celebridades. Parte da razão dele ter passado um período de depressão e de incapacidade de escrever depois de OK Computer foi por ter sentido que a música que os Radiohead criaram estava abafando as personalidades (particularmente a dele mesmo) e daqueles de trás dela.
Yorke é conhecido por seu falseto distinto (Fake Plastic Trees, How to Disappear Completely) e habilidade para achar, e sustentar notas elevadas (Creep, Exit Music (For a Film)). A sua voz é inspirada etem semelhanças vocais com a de Jeff Buckley. Durante as gravações de The Bends em 1994, a banda assistiu a um concerto de Buckley; Yorke disse depois que o concerto teve um efeito direto na sua prestação vocal em Fake Plastic Trees.
Enquanto Yorke não conseguia ler a música, ele teve de aprender a tocar baixo e bateria, por ocasião das gravações dos álbuns do Radiohead.
Yorke já disse que ele prefere computadores às guitarras, e pensa que programas como Pro Tools dão ao músico maior poder na direção de uma música do que instrumentos tradicionais.
   
Outros trabalhos
A personalidade enigmática de Yorke tornou-o uma figura de culto, mas também tem sido citado em várias questões políticas e sociais contemporâneas (apesar disso, disse que "deve se ter cuidado para não fazer sermões.") A banda leu No Logo, de Naomi Klein durante as sessões de Kid A, e Yorke é um fã declarado do trabalho de Noam Chomsky. Ele é amigo do escritor ecologista, académico e jornalista George Monbiot; Yorke emprestou uma declaração para figurar na capa do livro de Monbiot, Captive State: The Corporate Takeover of Britain. Tem chamado atenção como um ativista político fazendo campanha para várias causas, incluindo o comércio justo, movimentos antiguerra, como a Campanha para Desarmamento Nuclear, a Amnistia Internacional e, mais recentemente, a campanha "The Big Ask", dos Friends of the Earth. Ele tocou no concerto Free Tibet em 1999.
Questionado sobre o seu ativismo, Yorke disse que "a diferença entre mim e Bono Vox é que ele fica completamente feliz em elogiar pessoas para conseguir o que ele quer, e ele é muito bom nisso, mas eu simplesmente não posso fazer isso. Eu provavelmente acabaria dando um murro na cara deles em vez de apertar as suas mãos, mas isso é melhor do que ficar fora do caminho deles. Eu não posso simpatizar com esse nível de maluquices. É uma vergonha, é verdade, e na procura de um objectivo isso pode ajudar, se eu quiser, mas eu não consigo. Eu admiro o facto de Bono o conseguir fazer, e poder passar depois disso cheirando a rosas."
Além de seu extenso trabalho com os Radiohead, Yorke também colaborou com outros músicos; ele trabalhou com Björk, Beck, PJ Harvey, James Lavelle, The Flaming Lips, U.N.K.L.E. e DJ Shadow. Em dezembro de 2004, Tom Yorke e Jonny Greenwood contribuíram para o single de caridade Do They Know It's Christmas.
Foi lançado no ano de 2006 o primeiro trabalho a solo de Tom Yorke, o álbum "The Eraser", com nove músicas inéditas. Yorke negou qualquer intenção de abandonar a banda, dzendo tratar-se apenas de um trabalho que não se encaixa no perfil dos Radiohead.
  
Vida pessoal
Tom Yorke é vegan e é conhecido pelo seu ativismo político e defesa dos direitos humanos e movimentos anti-guerra.

sábado, outubro 06, 2018

Amália Rodrigues morreu há dezanove anos

Amália da Piedade Rodrigues (Lisboa, 23 de julho de 1920 - Lisboa, 6 de outubro de 1999) foi uma fadista, cantora e actriz portuguesa, considerada o exemplo máximo do fado, comummente aclamada como a voz de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX. Está sepultada no Panteão Nacional, entre os portugueses ilustres.
Tornou-se conhecida mundialmente como a Rainha do Fado e, por consequência, devido ao simbolismo que este género musical tem na cultura portuguesa, foi considerada por muitos como uma das suas melhores embaixadoras no mundo. Aparecia em vários programas de televisão pelo mundo fora, onde não só cantava fados e outras músicas de tradição popular portuguesa, como ainda canções contemporâneas (iniciando o chamado fado-canção) e mesmo alguma música de origem estrangeira (francesa, americana, espanhola, italiana, brasileira). Marcante contribuição sua para a história do Fado, foi a novidade que introduziu de cantar poemas de grandes autores portugueses consagrados, depois de musicados. Teve ainda ao serviço da sua voz a pena de alguns dos maiores poetas e letristas seus contemporâneos, como David Mourão Ferreira, Pedro Homem de Mello, Ary dos Santos, Manuel Alegre, Alexandre O’Neill. Rodrigues falava e cantava fluentemente em Espanhol, Francês, Italiano e Inglês. Até à sua morte, em outubro de 1999, 170 álbuns haviam sido editados com o seu nome, vendendo mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo.
    
    

A Guerra do Yom Kippur começou há 45 anos

Mapa descritivo dos conflitos Árabe-Israelitas

A Guerra do Yom Kippur, também conhecida como Guerra Árabe-Israelita de 1973, Guerra de Outubro, Guerra do Ramadão ou ainda Quarta Guerra Árabe-Israelita, foi um conflito militar ocorrido de 6 a 26 de outubro de 1973, entre uma coligação de estados árabes, liderados por Egipto e Síria, contra Israel. O episódio começou com um contra-ataque inesperado do Egipto e Síria. Coincidindo com o dia do feriado judaico do Yom Kippur, Egipto e Síria cruzaram as linhas de cessar-fogo no Sinai e nos Montes Golã, respectivamente, que tinham sido ocupadas, por Israel, já em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias.
Inversamente ao fator surpresa, usado pelos israelitas na guerra dos seis dias, durante os primeiros dias, egípcios e sírios avançaram recuperando partes dos seus territórios. O cenário começou a  inverter-se para o lado de Israel na segunda semana de luta, pois Israel fez com que os sírios retrocederem nos Montes Golã, enquanto o Egito manteve a sua posição no Sinai, fechando a comunicação entre a linha Bar-Lev e Israel, porém este também sem comunicação com o Egito.
Ao sul do Sinai, os israelitas encontraram uma "brecha" entre os exércitos egípcios e conseguiram cruzar para o lado oeste do canal de Suez no local onde a a grande muralha Bar-Lev não havia sido tomada, e ameaçaram a cidade egípcia de Ismaília.
Este desenvolvimento levou as duas superpotências da época, os EUA, a defender os interesses de Israel, e a URSS, dos países árabes, a uma tensão diplomática. Mas um cessar-fogo das Nações Unidas entrou em vigor de forma cooperativa em 25 de outubro de 1973.
Ao término das hostilidades, as forças israelitas, já recuperadas das baixas iniciais e com um esmagador poderio militar, tinham entrado profundamente no território dos países árabes e encontravam-se a 40 km de Damasco, capital da Síria, a qual foi intensamente bombardeada, e 101 km do Cairo, capital egípcia.
Resumo
O Presidente Gamal Abdel Nasser do Egito, morreu em setembro de 1970. Sucedeu-lhe o vice-presidente Anwar Sadat, considerado mais moderado e pragmático que Nasser. Como meta do seu governo, resolve neutralizar a política expansionista do Estado de Israel e ao mesmo tempo assegurar a sua posição de liderança no mundo árabe. Decide, então, retomar a península do Sinai. O plano para um ataque a Israel sem aviso, em conjunto com a Síria, recebeu o nome de código Operação Badr (palavra árabe que significa "lua cheia"), sugerindo usar a maré cheia (fenómeno da atração gravitacional exercido entre a lua e a terra) para transpor os obstáculos bélicos instalados por israelitas ao longo do canal de Suez.
Para tanto, os egípcios, recorrem a utilização possantes bombas de sucção e usam as águas do canal como agente de erosão hídrica, destruindo as fundações da (até então) intransponível e elaborada barreira, de 50 metros de altura, construída pelos israelitas com a areia do deserto para guarnecer toda a margem ao norte do canal de Suez contra os exércitos árabes.
Com o corte, feito à custa de jatos de água, os soldados egípcios, em questões de horas, puderam abrir diversas passagens ao longo dos 160 quilómetros das fortificações integrantes da linha Bar-Lev, alcançando o lado desprotegido das casamatas israelitas e, consequentemente, obrigando os israelitas a render-se.
Enquanto o Egito atacava as posições israelitas desprotegidas na Península do Sinai, as forças sírias atacaram os baluartes dos Montes Golã. Nessa investida, graves perdas foram infligidas ao exército israelita. Contudo, após três semanas de luta, as Forças de Defesa de Israel (FDI) obrigaram as tropas árabes a retroceder, e as fronteiras iniciais reconfiguraram-se.
Batalhas navais
A Batalha de Latakia entre os sírios e os israelitas aconteceu a 7 de outubro, segundo dia do conflito. Com uma nítida vitória israelita, que demonstrou a eficácia dos barcos militares equipados com sistema de autodefesa ECM. A marinha israelita também demonstrou a sua superioridade naval no Mediterrâneo com uma segunda vitória em 9 de outubro, na Batalha de Baltim, afundando três barcos da marinha egípcia. As batalhas de Latakia e Baltim "mudaram favoravelmente a situação para Israel".
Cinco noites depois da Batalha de Baltim, cinco barcos da marinha israelita entraram no porto egípcio de Ras Ghareb, onde mais de cinquenta pequenas embarcações do Egito estavam ancoradas, incluindo barcos de pesca armados e carregados com tropas e munições. Na batalha que se seguiu 19 destes foram afundados.
Quando terminou o conflito, pode-se dizer que o balanço foi muito positivo para Israel.
 
Consequências
A guerra teve implicações profundas para muitas nações. O Mundo Árabe, que havia sido humilhado pela derrota desproporcional da aliança Egípcio-Sírio-Jordaniana, durante a Guerra dos Seis Dias, sentiu-se psicologicamente vingado pelos seus momentos de vitórias no início do conflito, apesar do resultado final. Esse sentimento de vingança pavimentou o caminho para o processo de paz que se seguiu, assim como liberalizações como a política de infitah do Egito. Os Acordos de Camp David (1978), que vieram pouco depois, levaram a relações normalizadas entre Egito e Israel - a primeira vez que um país árabe reconheceu o estado israelita. O Egito, que já vinha se afastando da União Soviética, então deixou a esfera de influência soviética completamente.
Uma das consequências desta guerra foi a crise do petróleo, já que os estados árabes, membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) boicotaram os Estados Unidos e os países europeus que apoiavam a sobrevivência de Israel. Se a curto prazo a medida agravou a crise económica mundial, a longo prazo a comunidade internacional aprendeu a usar fontes alternativas de energia, e inclusive algumas áreas do planeta começaram a descobrir que também possuíam petróleo, como foi o caso da região do Mar do Norte, na Europa, do Alasca, nos Estados Unidos, da Venezuela, do México, da África do Sul, da União Soviética e, também, no Brasil.
 
Forças do Egito cruzando o Canal de Suez, a 07 de outubro de 1973