D. Nuno Álvares Pereira (Ordem do Carmo), também conhecido como o
Santo Condestável,
Beato Nuno de Santa Maria, hoje
São Nuno de Santa Maria, ou simplesmente
Nun' Álvares (Paço do
Bonjardim ou
Flor da Rosa,
24 de junho de
1360 –
Lisboa,
1 de novembro de
1431) foi um
nobre e guerreiro
português do
século XIV que desempenhou um papel fundamental na
crise de 1383-1385, onde
Portugal jogou a sua independência contra
Castela. Nuno Álvares Pereira foi também 2.º Condestável de Portugal, 38.º Mordomo-Mor do Reino, 7.º
conde de Barcelos, 3.º
conde de Ourém e 2.º
conde de Arraiolos.
Camões, em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito, faz referência ao Condestável nada menos que 14 vezes em «
Os Lusíadas», chamando-lhe o
"forte Nuno" e logo no primeiro canto (12ª estrofe) é evocada a figura de São Nuno, ao dizer
"por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino um tal serviço".
Segundo Fernão Lopes, D. Nuno Álvares Pereira foi um dos filhos naturais de
D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior da
Ordem do Hospital, e Iria Gonçalves. D. Nuno Álvares Pereira cresceu na casa do seu pai até aos seus treze anos e foi lá que se iniciou
"como bom cavalgante, torneador, justador e lançador" e sobretudo onde ganhou gosto pela leitura, lia nos
"livros de cavallaria que a pureza era a virtude que tornara invenciveis os heroes da Tavola Redonda, e procurava que a sua alma e corpo se conservassem immaculados". Foi com essa idade que entrou para a corte de D.
Fernando de Portugal, onde foi feito cavaleiro com uma armadura emprestada por
D.João, o Mestre de Avis. Decidido a manter-se virgem, foi profundamente contrariado (e praticamente obrigado pelo pai) que aos 16 anos casou com
Leonor de Alvim cerca de 1376
em
Vila Nova da Rainha, freguesia do concelho de
Azambuja. O nobre casal estabeleceu-se no Minho (supõe-se que em Pedraça
Cabeceiras de Basto), em propriedade de D. Leonor de Alvim.
A
6 de abril de
1385, D. João é reconhecido pelas
cortes reunidas em Coimbra como
Rei de Portugal. Esta posição de força portuguesa desencadeia uma resposta à altura em Castela. D. João de Castela invade Portugal pela
Beira Alta com vista a proteger os interesses de sua mulher D. Beatriz. D. Nuno Álvares Pereira toma o controlo da situação no terreno e inicia uma série de cercos a cidades leais a Castela, localizadas principalmente no Norte do país.
A
14 de agosto, D. Nuno Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a
batalha de Aljubarrota. A batalha viria a ser decisiva no fim da instabilidade política de 1383-1385 e na consolidação da independência portuguesa. Finda a ameaça castelhana, D. Nuno Álvares Pereira permaneceu como condestável do reino e tornou-se Conde de Arraiolos e Barcelos. Entre 1385 e 1390, ano da morte de D. João de Castela, dedicou-se a realizar incursões contra a fronteira de Castela, com o objectivo de manter a pressão e dissuadir o país vizinho de novos ataques. Por essa altura, foi travada em terreno castelhano a célebre Batalha de Valverde. Conta-se que na fase mais crítica da batalha e quando já parecia que o exército português iria sofrer uma derrota completa, se deu pela falta de D. Nuno. Quando já se temia o pior, o seu escudeiro foi encontrá-lo em
êxtase, ajoelhado a rezar entre dois penedos. Quando o escudeiro aflito lhe chamou a atenção para a batalha que se perdia, o Condestável fez um sinal com a mão a pedir silêncio. Novamente chamado à atenção pelo escudeiro, que lhe disse:
"Nada de orações, que morremos todos! responde então D. Nuno, suavemente:
"Amigo, ainda não é hora. Aguardai um pouco e acabarei de orar.". Quando acabou de rezar, ergue-se com o rosto iluminado e dando as suas ordens, consegue que se ganhe a batalha de uma forma considerada milagrosa.
Nos últimos anos da sua vida Nuno Álvares Pereira recolheu-se no Convento do Carmo, onde morreu (ruínas da nave da igreja)
Vida religiosa
Após a morte da sua mulher, tornou-se
carmelita (entrou na Ordem em
1423, no
Convento do Carmo, que mandara construir como cumprimento de um voto). Toma o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Aí permanece até à morte, ocorrida em
1 de novembro de
1431, com 71 anos.
Durante o seu último ano de vida, o Rei
D. João I fez-lhe uma visita no Carmo. D. João sempre considerou que fora Nuno Álvares Pereira o seu mais próximo amigo, que o colocara no trono e salvara a independência de Portugal.
O túmulo de Nuno Álvares Pereira foi destruído no
Terramoto de 1755. O seu epitáfio era:
"Aqui jaz aquele famoso Nuno, o Condestável, fundador da Sereníssima Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo."
Há uma história apócrifa, em que o embaixador castelhano teria ido ao
Convento do Carmo encontrar-se com Nun'Álvares, e ter-lhe-á perguntado qual seria a sua posição se Castela novamente invadisse Portugal. Nuno terá levantado o seu hábito, e mostrado, por baixo deste, a sua
cota de malha, indicando a sua disponibilidade para servir o seu país sempre que necessário e declarando que "se el-rei de Castela outra vez movesse guerra a Portugal, serviria ao mesmo tempo a religião que professava e a terra que lhe dera o ser". Conta-se também que no inicio da sua vida monástica correra em Lisboa o boato de que Ceuta estaria em risco de ser apresada pelos Mouros. De imediato Frei Nuno manifesta a sua vontade em fazer parte da expedição que iria acudir a Ceuta. Quando o tentaram dissuadir, apontando a sua figura alquebrada pelos anos e por tantas canseiras, pegou numa lança e atirou-a do varandim do convento. A lança atravessou todo o Vale da Baixa de Lisboa, indo cravar-se numa porta do outro lado do Rossio e disse Nuno Álvares:
"Em África a poderei meter, se tanto for mister!" (daqui nasceu a expressão "meter uma lança em África", no sentido de se vencer uma grande dificuldade).
Beatificação e canonização
Nuno Álvares Pereira foi
beatificado aos
23 de janeiro de
1918 pelo
Papa Bento XV através do Decreto
"Clementíssimus Deus" e foi consagrado o dia
6 de novembro ao, então,
beato. Iniciado em
1921, em
1940 o processo de
canonização foi interrompido por razões essencialmente políticas. O país festejava então os Centenários da Fundação de Portugal e da Restauração da Independência e Salazar desejava que a canonização do Beato Nuno se revestisse de uma pompa nunca vista e num ambiente de grande exaltação nacionalista, incluindo uma possível visita papal a Portugal, para que o
próprio Sumo Pontífice presidisse ás cerimónias da Canonização. O Papa de então (
Pio XII) recusou, profundamente incomodado com o significado altamente político em que o facto estava a descambar. O Processo foi então suspenso e por assim dizer, caiu num "semi-esquecimento". Entretanto, em 1953, foi inaugurada a Igreja do Santo Condestável, sede da Paróquia do mesmo nome, em
Campo de Ourique (Lisboa), que contou com a Procissão de Transladação das Relíquias desde o Largo do Carmo, no meio de honras militares e de um intenso entusiasmo popular (segundo testemunhos da época, mais de metade do povo de Lisboa esteve presente na consagração da Igreja e nas restantes cerimónias religiosas) e com a presença dos mais altos dignitários da Nação. Posteriormente, em
2004 o Processo foi reiniciado por vontade do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo.
No
Consistório de
21 de fevereiro de
2009 - acto formal no qual o Papa ordenou aos
Cardeais para confirmarem os processos de canonização já concluídos -, o
Papa Bento XVI anunciou para
26 de abril de 2009 a canonização do Beato Nuno de Santa Maria, juntamente com quatro outros novos santos. O processo referente a Nuno Álvares Pereira encontrava-se concluído desde a
Primavera de
2008, noventa anos após sua beatificação.
A
Conferência Episcopal Portuguesa, em nota pastoral sobre a canonização de Nuno de Santa Maria, declarou:
"(…) o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão de melhor humanismo ao serviço do bem comum.
Os Bispos de Portugal propõem, portanto, aos homens e mulheres de hoje o exemplo da vida de Nuno Álvares Pereira, pautada pelos valores evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais desprotegidos e pobres. Assim seremos parte activa na construção de uma sociedade mais justa e fraterna que todos desejamos."