Hermínia Silva (
Lisboa,
23 de outubro de
1907 -
Lisboa,
13 de junho de
1993) foi uma
fadista portuguesa.
Hermínia Silva nasceu em
1907. Cedo se tornou presença notada nos retiros de
Lisboa, que não hesitaram em contratá-la, pela originalidade com que cantava o
Fado. A Canção dos Bairros de Lisboa estava-lhe nas veias, não fora ela nascida, ali mesmo junto ao
Castelo de São Jorge. As "histórias" dos amores da
Severa com o
Conde de Vimioso estavam ainda frescas na memória do povo.
Rapidamente, a sua presença foi notada nos retiros, e passados poucos anos, em
1929, Hermínia Silva estreava-se numa Revista do
Parque Mayer. Era a primeira vez que o
Fado vendia bilhetes na Revista. Alguns jornais da época, referiam-se a ela, como a grande vedeta nacional, chegando a afirmar-se, que a
fadista tinha
"uma multidão de admiradores fanáticos". A sua melismática criativa, a inclusão no
Fado, de letras menos tristes, por vezes com um forte cunho de crítica social, e o seu empenho em trazer para o
Fado e para a
guitarra portuguesa, fados não tradicionais, compostos por
maestros como
Jaime Mendes, compositores como
Raul Ferrão, criando assim o chamado "fado musicado", aquele fado cuja música corresponde unicamente a uma letra, se bem que composto segundo a base do Fado, e em especial, tendo em atenção as potencialidades da
guitarra portuguesa.
Hermínia Silva torna-se assim, sem o haver planeado, num dos vértices do Fado, tal qual ele existe, enquanto estilo musical:
Alfredo Marceneiro foi o primeiro vértice, o da exploração estilística do Fado Tradicional; Hermínia viria a trazer o Fado para as grandes salas do Teatro de Revista, e viria a "inaugurar" a futura Canção Nacional, com acompanhamentos de grandes
orquestras, dirigidas por
maestros, que também eram
compositores. A sua fama atingiu um tal ponto que o
Cinema, quis aproveitar o seu sucesso como figura de grande plano.
Efectivamente, nove anos depois de se ter estreado na Revista, Hermínia integra o elenco do filme de
Chianca de Garcia,
Aldeia da Roupa Branca (
1938), num papel que lhe permite cantar no
filme. Nascera assim, a que viria a ser considerada, a segunda artista mais popular do
século XX português, depois de
Amália Rodrigues, o terceiro vértice do Fado, ainda por nascer.
Depois de várias presenças no estrangeiro, com especial incidência no
Brasil e em
Espanha, Hermínia aposta numa carreira mais concentrada em
Portugal. O seu conhecido e parodiado receio em andar de
avião, inviabilizou-lhe muitos contratos que surgiam em catadupa. Mas, Hermínia estava no Céu, na sua
Lisboa das sete colinas.
Em
1943 é chamada para mais um filme, o
Costa do Castelo, em
1946 roda o
Homem do Ribatejo, passando regularmente pelos palcos do
Parque Mayer, fazendo sucesso com os seus fados e as suas rábulas de Revista. Efectivamente, Hermínia consegue alcançar tal êxito no Teatro, que o SNI, atribui-lhe o "Prémio Nacional do
Teatro", um galardão muito cobiçado na época. Até
1969, em "O Diabo era Outro", a popularidade da fadista encheu os écrans dos
cinemas de todo o país. Vieram mais Revistas, mais recitais, muitos discos de sucesso.
Mas, para quem quisesse conhecer a grande Hermínia bem mais de perto, ainda tinha a oportunidade de ouro, de vê-la ao vivo e a cores, sem microfone, na sua Casa - o Solar da Hermínia, restaurante que manteve quase até ao fim da sua vida artística.
Felizmente, o estado português, o antigo e o contemporâneo, reconheceu Hermínia Silva. São vários os Prémios e Condecorações, as distinções e as nomeações, justíssimas para uma
artista, que fez escola, e que hoje, constitui um dos três maiores nomes da Canção Nacional, ao lado de Marceneiro e de Amália, que por razões diferentes, pelas
novidades de forma e conteúdo distintos que trouxeram à Canção de Lisboa, fizeram dela, o Fado, tal qual hoje é entendido, cantado, tocado e formatado.
A fadista cantou quase até falecer, em 13 de junho de
1993. Morria assim uma das maiores vedetas do Fado e do
Teatro de Revista Português. O seu corpo foi sepultado no cemitério dos Prazeres.
Marcos da carreira
- 1920 Canta para Alfredo Marceneiro e para os amigos, entre os quais Armandinho, que adoravam ouvir a "miúda".
- 1926 Começa a cantar no Valente das Farturas, no Parque Mayer. Alfredo Marceneiro canta ao lado, no Júlio das Farturas.
- 1929 Na Esplanada Egípcia, no Parque Mayer, interpreta Ouro Sobre Azul, De Trás da Orelha e Off-Side.
- 1932 Ainda no Parque, muda-se para o Teatro Maria Vitória, onde actua na opereta A Fonte Santa.
- 1933 Ingressa no Teatro Variedades, onde é segunda figura, logo a seguir a Beatriz Costa. Canta e representa em inúmeras revistas.
- 1958 Inaugura o Solar da Hermínia, no Bairro Alto, ao qual se dedicará de tal forma que deixa o teatro de revista. Estará à frente desta casa durante 25 anos.
- 1970 Faz uma digressão de 3 meses ao Brasil.
- 1982 Fecha o Solar da Hermínia, o ponto de referência da sua carreira e onde inúmeros artistas despontaram.
- 1987 Na discoteca Loucuras! dá um espectáculo memorável, na presença do então Presidente da República, Mário Soares.