O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
No processo de transição democrática subsequente ao 25 de abril de 1974 Mário Soares afirmou-se como líder partidário no campo democrático, contra o Partido Comunista,
batendo-se pela realização de eleições. Foi ainda Ministro de alguns
dos governos provisórios - Ministro dos Negócios Estrangeiros, logo no I Governo Provisório,
ficou associado ao processo de descolonização, defendendo de forma
intransigente a independência e autodeterminação das províncias
ultramarinas.
Vencedor das primeiras eleições legislativas realizadas em democracia,
foi Primeiro-Ministro dos dois primeiros governos constitucionais, o I e II governos constitucionais, este último de coligação com o CDS. A sua governação foi marcada pela instabilidade democrática - nomeadamente, pela tensão entre o Governo e o Presidente da República - Conselho da Revolução - pela crise financeira e pela necessidade de fazer face à paralisação da economia ocorrida após o 25 de abril, que levou o Governo a negociar um grande empréstimo com os EUA.
Ao mesmo tempo, foi um período em que o Governo, e Soares em
particular, se empenhou em desenvolver contactos com outros líderes
europeus, tendentes à adesão de Portugal às Comunidades Europeias.
Foi, de novo, Primeiro-Ministro do IX governo, do chamado Bloco Central, num período marcado por uma nova crise financeira e pela intervenção do FMI em Portugal.
Posteriormente, foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996, vencendo de forma tangente, e à segunda volta, as eleições presidenciais de 1986, e com larga maioria as de 1991, em que contou não só com o apoio do PS como do PSD, de Cavaco Silva. Sendo o primeiro civil a exercer o cargo de Presidente da República, deixou patente um novo estilo presidencial, promovendo a proximidade com as populações e a projeção de Portugal no estrangeiro; sendo marcado ao mesmo tempo pela tensão política com os governos de Cavaco Silva e pelo polémico caso TDM (Teledifusão de Macau).
Biografia
Nascido em Lisboa, foi o segundo filho de João Lopes Soares, ex-padre e pedagogo, ministro na I República e combatente do Salazarismo, e de Elisa Nobre Baptista. Co-fundador do Partido Socialista de Portugal, a 19 de abril de 1973, Mário Soares foi um dos mais famosos resistentes ao Estado Novo, pelo que foi preso doze vezes (num total de cerca de três anos de cadeia) e deportado sem julgamento para a ilha de São Tomé, em 1968, até se exilar em França, em 1970.
Foi professor do Ensino Secundário Particular e chegou a dirigir o Colégio Moderno,
fundado pelo pai. Como advogado defensor de presos políticos,
participou em numerosos julgamentos, realizados no Tribunal Plenário e
no Tribunal Militar Especial. Representou a família de Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato e, juntamente com Adelino da Palma Carlos, defendeu também a causa dinástica da auto-intitulada Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança. Ainda na década de 50 foi membro da Resistência Republicana e Socialista,
redator e signatário do Programa para a Democratização da República em
1961, candidato a deputado pela Oposição Democrática, em 1965, e pela CEUD, em 1969.
Aquando do seu exílio em França, em 1970, foi chargé de cours nas universidades de Paris VIII (Vincennes) e Paris IV (Sorbonne), e igualmente professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes, que lhe atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa. Em 1973, foi o primeiro fundador do Partido Socialista, de que foi secretário-geral e ainda hoje é militante.
Estando ainda aí, em 1972, foi à loja à loja maçónica parisense "Les Compagnons Ardents", da "Grande Loge de France", pedir apoio para a luta política contra o Estado Novo e ingressou na maçonaria, segundo ele próprio, optando depois por ficar "adormecido".
A 28 de abril de 1974, três dias depois da Revolução de 25 de Abril, regressou do exílio em Paris, no chamado "Comboio da Liberdade". Dois dias depois, esteve presente na chegada a Lisboa de Álvaro Cunhal. Ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços dados, pela primeira e última vez, as ruas da Baixa Pombalina e a avenida da Liberdade.
Durante o período revolucionário que ficou conhecido como PREC foi o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975.
Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, de maio de 1974 a março de
1975, e um dos impulsionadores da independência das colónias
portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo.
A partir de março de 1977 colaborou no processo de adesão de Portugal à CEE, vindo a subscrever, como primeiro-ministro, o Tratado de Adesão, em 12 de julho de 1985.
Presidente da República entre 1986 e 1996 (1.º mandato de 10 de março de 1986 a 1991, 2.º mandato de 13 de janeiro de 1991 a 9 de março de 1996).
Deputado ao Parlamento Europeu entre 1999 e 2004, foi candidato a presidente do parlamento, mas perdeu a eleição para Nicole Fontaine, a quem não teve problema em chamar «dona de casa» (no sentido pejorativo do termo).
Foi, em 2005, aos oitenta anos, o segundo candidato - após Jerónimo de Sousa pelo PCP - a assumir a candidatura à Presidência da República (o que seria um inédito terceiro mandato) após algumas crispações no PS, principalmente com o seu amigo de longa data Manuel Alegre. Na eleição, a 22 de fevereiro de 2006, obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos.
Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também presidia ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da UNESCO, desde 2010, e era patrono do International Ocean Institute, desde 2009 e até à sua morte. Era patrono do International Ocean Institute, desde 2009.
Dia 11 de outubro de 2010 recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa aquando das comemorações do centenário da mesma, coincidindo com as comemorações do centenário da República Portuguesa (5 de outubro).
Com 89 anos foi eleito a personalidade do ano de 2013 pela imprensa estrangeira radicada em Portugal. Foi pai de João Soares e Isabel Soares.
Os incêndios florestais em Portugal de outubro de 2017 deflagraram no dia 15 de outubro de 2017 no centro e norte do país, bem como na região da Galiza em Espanha. 440 incêndios estavam ativos em Portugal (523 ocorrências, segundo o primeiro-ministro), dos quais 33 de tamanho importante. A porta-voz da proteção civil descreveu este dia como "o pior dia do ano em matéria de incêndios florestais".
O fogo propagou-se rapidamente devido aos ventos fortes provocados pelo furacão Ophelia que assolaram o litoral da península Ibérica, às temperaturas invulgares, acima dos 30º, e à seca na Península Ibérica de 2017.
O mês de setembro de 2017 foi o mais seco em 87 anos e 81% do
território encontrava-se em seca severa (e 7,4% em seca extrema). No
mesmo ano, o número de incêndios na Europa duplicou, fenómeno que os
especialistas atribuem ao aquecimento global.
Os incêndios destruíram várias casas e edifícios industriais, e chegaram a cortar múltiplas estradas, incluindo autoestradas. Os incêndios resultaram em 50 vítimas mortais confirmadas.
Imagem de satélite do dia 15 de outubro, com nuvens de fumo no centro e norte de Portugal e na Galiza
Principais incêndios
Os dados aqui descritos são do dia 16 de outubro de 2017, às 19 horas e 30 minutos do fuso horário UTC+0.
Lousã, onde perto de 700 bombeiros combateram as chamas.
Pampilhosa da Serra
, o fogo começou no concelho da Sertã acabando por passar para o
concelho da Pampilhosa onde se perderam cerca de 500 infraestruturas e
arderam 30.000 hectares, deixando apenas 20% do município por arder.
Seia,
com mais de 400 bombeiros a tentar travar o incêndio. Neste concelho
houve dois incêndios em pontos distantes das populações mais próximas a
horas distintas, na área do Sabugueiro e depois em Sandomil. Apenas uma
das duas ignições fez chegar o fogo aos concelhos de Mangualde,
Gouveia; ambas fizeram depois uma única frente de fogo que atingiu o
concelho de Nelas.
Nelas, onde o fogo consumiu grande parte da zona sul do concelho, provocando uma vítima mortal, na aldeia de Caldas da Felgueira.
Penacova, São Pedro de Alva,
onde o fogo provocou 5 vítimas mortais e consumiu 28 habitações
permanentes, cerca de uma dezena de empresas e seis mil hectares de
floresta.
Quiaios, Tocha, Mira, Vagos e Ílhavo, com 115 operacionais, onde arderam cerca de 25.000 hectares de floresta.
Carregal do Sal, o incêndio consumiu cerca de 70 a 80% da mancha florestal de Carregal do Sal, uma dezena de casas e vitimou uma pessoa.
Vítimas e danos
Houve
50 vítimas mortais e mais de 70 feridos, ligeiros e graves, um pouco em
todo o lado. O distrito onde mais vitimas houve foi o distrito de Coimbra, com 25 vitimas mortais, seguido do distrito de Viseu, com 15 mortes, por causa dos difíceis acessos para os bombeiros.
No concelho de Oliveira do Hospital, 10 pessoas morreram, e mais de uma centena de famílias foram desalojadas.
Mais de 50.000 hectares terão sido consumidos pelas chamas, incluindo perto de 80% da superfície do Pinhal do Rei, no distrito de Leiria, plantado no século XIII. Por causa do mesmo incêndio, um parque de campismo foi atingido na Praia da Vieira.
No mesmo distrito, vários estabelecimentos de ensino foram fechados
devido às dificuldades de respiração causadas pelas nuvens de fumo nas
cidades de Leiria e Marinha Grande e em Vieira de Leiria, entre outras localidades.
Outro incêndio ocorrido no mesmo dia, iniciado em Quiaios destruiu a Mata Nacional da região, e progrediu para norte, destruindo quase por completo as zonas florestais da Tocha e de Mira. O Parque de Campismo da Praia da Tocha foi evacuado ao final da tarde de dia 15 de outubro
e a estrada de acesso à praia foi cortada, isolando os habitantes da
localidade. A mesma foi reaberta por volta da 01:20 de segunda-feira, 16 de outubro.
A Zona Industrial de Mira foi afetada por este incêndio, tal como a
Zona Industrial da Tocha, onde ardeu a fábrica da Sanindusa, provocando
um prejuízo de mais de 25 milhões de euros. Esta área florestal já tinha ardido em julho de 1993, com a diferença de que esse incêndio tinha começado a norte, perto de Mira, evoluindo para o sul.
Morreu no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide,
a 10 de setembro de 2021, aos 81 anos de idade, vítima de problemas
respiratórios agravados pelas suas condições de saúde preexistentes, tendo sido declarado luto nacional, com funeral de Estado. Foi sepultado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, no jazigo da família, criado pelo bisavô, Marcelino Augusto Branco.
Ideias Honra, Brio, Dignidade: Onde estais? Quem vos preza? Não posso viver pobre: – A frialdade Que me dá toda a pobreza! Lembram-me bichos, carochas, centopeias, Musgo, paredes húmidas, bolores, Ao pensar na pobreza! Ideias. E causam-me suores.
Pois bem, confesso:
fui eu quem destruiu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite, a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-me meu tio-avô em testamento.
No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
— tudo por inspiração!
Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...
Talvez ainda venha a ser Presidente da República...
Elemento da Tuna Académica, foi intérprete do canto e da guitarra de Coimbra, devendo-se-lhe umas conhecidas Variações em ré menor, bem como a gravação de vários temas tradicionais, como Nossas mágoas são o fruto ou Balada do entardecer, que registou em EP 45 RPM.
Estabeleceu-se como advogado em Lourenço Marques (atual Maputo) em 1953,
onde viveu durante mais de 20 anos. Nesta província ultramarina, foi um
dos mais importantes defensores dos presos políticos, juntando-se
também à defesa da autodeterminação a partir do contacto com o ativista
nacionalista Filipe Mussongui Tembe Júnior, mais conhecido por Filipana.
Pertenceu ainda ao Grupo dos Democratas de Moçambique e foi candidato, por duas vezes, às eleições para a Assembleia Nacional, em listas da Oposição Democrática. Viu, em ambos os casos, anulada a sua candidatura por ato da Administração Colonial.
É autor de mais de uma dezena de livros, incluindo ensaios jurídicos. Em 2006, publicou Quase Memórias, uma autobiografia em dois volumes, grande parte da qual dedicada ao processo de descolonização entre 1974 e 1975. Neste livro, avança uma explicação para a mudança de atitude de Samora Machel
(que conheceu de perto) em relação aos portugueses. Com efeito, é quase
consensualmente admitido que uma das principais razões do colapso da
economia moçambicana após a independência foi a partida precipitada da
maioria dos cerca de 200 000 portugueses residentes em Moçambique até ao
25 de Abril de 1974, e que esse êxodo terá sido provocado por uma
mudança brusca de atitude por parte de Samora Machel. O governo de
transição que iria dirigir Moçambique entre o acordo de cessar-fogo
(assinado a 7 de setembro de 1974 em Lusaca pelo governo provisório português e pela Frelimo)
e a independência (prevista para 25 de junho do ano seguinte) tinha-se
mostrado bastante conciliador. O primeiro-ministro, Joaquim Chissano
(que se tornaria presidente da República depois da morte de Machel, doze
anos mais tarde), conseguiu convencer a maior parte dos brancos de que
somente os que tivessem graves responsabilidades nas páginas mais
sombrias da época colonial poderiam recear o governo da Frelimo. Ora, um
mês antes da independência, ou seja, em meados de maio de 1975, Samora
Machel entrou em Moçambique pela fronteira norte, vindo da Tanzânia,
e encetou um périplo com destino à capital, situada no extremo sul,
aonde deveria chegar na véspera da independência. Ao longo dessa viagem,
inflamava literalmente as massas com os seus discursos, nos quais não
cessava de repisar os aspetos mais odiosos e humilhantes do colonialismo
(na perspetiva dos colonizados). O mal-estar instalou-se
progressivamente entre a comunidade portuguesa, numerosos membros da
qual decidiram ir refazer a vida noutras paragens.
Almeida Santos dá a seguinte explicação para esta aparentemente
inusitada hostilidade: o presidente da Frelimo teria sido muito afetado
por dois episódios de violência, o primeiro dos quais causado por um
levantamento na capital, com tomada das instalações do Rádio Clube de
Moçambique, na sequência da assinatura do acordo de Lusaca de 7 de
setembro de 1974, que previa a concessão exclusiva do poder ao movimento
nacionalista: este levantamento foi dirigido pela FICO (Frente
Integracionista de Continuidade Ocidental), um movimento
maioritariamente branco ao qual se tinham aliado dissidentes da Frelimo e
outros membros da comunidade negra que não viam com bons olhos a
instauração de um regime de partido único em nome da Frelimo. Como
represália, eclodiram então motins sangrentos nos bairros negros da
cidade e, durante vários dias, milhares de habitantes, sobretudo
portugueses, foram barbaramente massacrados por apoiantes da Frelimo. O
segundo episódio de violência ocorreu poucas semanas mais tarde, a 21 de
outubro de 1974, na sequência de uma querela entre comandos portugueses
e guerrilheiros da Frelimo, provocando também motins sangrentos nos
bairros de maioria negra, com o assassinato de dezenas de brancos.
Segundo Almeida Santos, Machel ter-se-ia possivelmente convencido de que
a presença de uma numerosa comunidade portuguesa em Moçambique
constituiria sempre uma fonte de instabilidade e uma ameaça potencial
contra o poder da Frelimo. A isso ter-se-iam juntado as pressões da União Soviética,
para com quem a Frelimo tinha contraído uma pesada dívida, sobretudo
política, e que teria interesse em se desembaraçar dos portugueses a fim
de melhor exercer a sua influência a todos os níveis.
Ora, se os episódios de violência tinham ocorrido no início do
período de transição (o primeiro eclodira mesmo antes da entrada em
funções do governo presidido por Joaquim Chissano), a Frelimo teria,
portanto, tomado a decisão de expulsar os portugueses no próprio momento
em que o primeiro-ministro Chissano, por ela nomeado, parecia
encorajá-los a ficarem.
No livro Que Nova Ordem Mundial?, de 2009, defendeu convictamente a nova ordem mundial e a globalização e propôs soluções que envolvem a globalização da política, não só do comércio.
Em maio de 2007, defendeu a Ota
como localização preferencial do novo aeroporto de Lisboa, argumentando
que se o mesmo fosse construído na margem sul do Tejo, terroristas
poderiam dinamitar as diversas pontes sobre o Tejo, cortando o acesso ao
Aeroporto. Foi bastante criticado na altura.
Em maio de 2011, defendeu que José Sócrates deveria demitir-se no caso de perder as eleições.
Foi Presidente da Assembleia Geral da GEO Capital - Investimentos estratégicos S.A., com sede em Macau, cujos acionistas de referência são Jorge Ferro Ribeiro, Stanley Ho e Ambrose So.
Foi também membro da Maçonaria Portuguesa, com o grau máximo, o Grau 33 do Grande Oriente Lusitano.
Morte
Faleceu a 18
de janeiro de 2016, pouco antes da meia-noite, aos 89 anos de idade, na
sua casa de Oeiras, após uma indisposição sentida a seguir ao jantar, à
qual não resistiu. A sua morte ocorreu pouco depois de ter manifestado apoio à candidatura de Maria de Belém Roseira nas eleições presidenciais de 2016; já se encontrava afetado com uma gripe durante esta campanha.
Escândalos da democracia: O livro que vendeu 30 mil exemplares e desapareceu
Não foi só o livro - o autor emigrou após as revelações que atingiram Mário Soares
Fixe bem esta data: 27 de janeiro de 1996. Era um sábado e o público
português assistiu a um fenómeno sem precedentes: um livro, escrito por
um autor nacional, vendeu 30.000 exemplares no lançamento. Depois foi
retirado do mercado e nunca mais reapareceu."Contos proibidos. Memórias de um PS desconhecido"
foi a obra "mais atrevida", segundo Nelson de Matos, a pessoa que o
publicou na Dom Quixote. Numa entrevista ao "Expresso", em 2004, o
editor negou ter sofrido pressões ou ameaças, mas denunciou a
existência de "comentários negativos" que lhe causaram "bastantes dificuldades pessoais".
"A todos expliquei que o livro existia", disse na altura. "Tinha
revelações importantes e procurava ser sério ao ponto de as provar.
Desse ponto de vista, achei que merecia ser discutido na sociedade."
Nelson de Matos é também, provavelmente, uma das poucas pessoas que
conhece o paradeiro do autor - a hipótese mais repetida é a
Suécia, mas ninguém está em condições de confirmar nada. O escritor,
tal como acontecera antes com o bestseller instantâneo,
desapareceu sem deixar rasto. Dez anos mais tarde, o jornalista Joaquim
Vieira publicou cinco textos sobre o assunto na "Grande Reportagem".
Em conversa com o i, recorda que "quando o livro saiu, o Rui Mateus foi
entrevistado pelo Miguel Sousa Tavares na SIC, e a primeira pergunta que este lhe fez foi: 'Então, como é que se sente na pele de um traidor?'
Toda a entrevista decorreu sob essa ideia."Mas o que continha o livro
afinal? Qual o motivo para as desaparições? Retomando a síntese de
Vieira, que o analisou a fundo, Rui Mateus diz que Mário Soares, "após
ganhar as primeiras presidenciais, em 1986, fundou com alguns amigos
políticos um grupo empresarial destinado a usar fundos financeiros
remanescentes da campanha.
(...)
Que, não podendo presidir ao grupo por
questões óbvias, Soares colocou os amigos como testas-de-ferro". O
investigador Bernardo Pires de Lima também leu o livro e conserva um
exemplar. "Parece-me evidente que desapareceu de circulação rapidamente
por ser um documento incómodo para muita gente, sobretudo altas
figuras do PS, metidas numa teia de tráfico de influências complicada
que o livro não se recusa a revelar com documentos", observa. A obra
consta de dez capítulos e 47 anexos. Ao todo, 455 páginas que arrancam
na infância do autor, percorrem o primeiro quarto de século do PS
(desde as origens na clandestinidade da Acção Socialista) e acabam em
1995, perto do final do segundo mandato de Soares. Na introdução,
Mateus escreve: "É um livro de memórias em redor do Partido Socialista,
duma perspetiva das suas relações internacionais, que eu dirigira
durante mais de uma década." Os últimos três capítulos abordam o caso Emaudio
- um escândalo rebentado pelo próprio Mateus e que motivou a escrita
de "Contos proibidos" para "repor a verdade". Para Joaquim Vieira e
Bernardo Pires de Lima, a credibilidade do livro é de oito sobre dez.
"O livro adianta imensos detalhes que reforçam a sua credibilidade e
nenhum deles foi alguma vez desmentido", argumenta o jornalista e
atual presidente do Observatório da Imprensa. Vieira lamenta o
"impacto político nulo e nenhuns efeitos" das revelações de Mateus. "Em
vez de investigar práticas porventura ilícitas de um chefe de Estado,
os jornalistas preferiram crucificar o autor pela 'traição' a Soares."
Apesar de, na estreia, terem tido todas as coberturas, livro e autor
caíram rapidamente no esquecimento. Hoje, a obra pulula na Internet em versão PDF.
O Acordo do Alvor, assinado entre o governo português e os três principais movimentos de libertação de Angola (MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola), em 15 de janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, e que estabeleceu os parâmetros para a partilha do poder na ex-colónia entre esse movimentos, após a concessão da independência de Angola.
Em entrevista à Agência Lusa, o dirigente socialista, António de Almeida Santos,
que a 15 de janeiro de 1975 era ministro da Coordenação
Inter-Territorial e integrava a delegação portuguesa que assinou o
acordo, refere que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".
De
facto, pouco tempo depois do acordo assinado, os três movimentos
envolveram-se em um conflito armado pelo controlo do país e, em
especial, da sua capital, Luanda, no que ficou conhecido como a Guerra Civil de Angola.
No processo de transição democrática subsequente ao 25 de abril de 1974 Mário Soares afirmou-se como líder partidário no campo democrático, contra o Partido Comunista,
batendo-se pela realização de eleições. Foi ainda Ministro de alguns
dos governos provisórios - Ministro dos Negócios Estrangeiros, logo no I Governo Provisório,
ficou associado ao processo de descolonização, defendendo de forma
intransigente a independência e autodeterminação das províncias
ultramarinas.
Vencedor das primeiras eleições legislativas realizadas em democracia,
foi Primeiro-Ministro dos dois primeiros governos constitucionais, o I e II governos constitucionais, este último de coligação com o CDS. A sua governação foi marcada pela instabilidade democrática - nomeadamente, pela tensão entre o Governo e o Presidente da República - Conselho da Revolução - pela crise financeira e pela necessidade de fazer face à paralisação da economia ocorrida após o 25 de abril, que levou o Governo a negociar um grande empréstimo com os EUA.
Ao mesmo tempo, foi um período em que o Governo, e Soares em
particular, se empenhou em desenvolver contactos com outros líderes
europeus, tendentes à adesão de Portugal às Comunidades Europeias.
Foi, de novo, Primeiro-Ministro do IX governo, do chamado Bloco Central, num período marcado por uma nova crise financeira e pela intervenção do FMI em Portugal.
Posteriormente, foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996, vencendo de forma tangente, e à segunda volta, as eleições presidenciais de 1986, e com larga maioria as de 1991, em que contou não só com o apoio do PS como do PSD, de Cavaco Silva. Sendo o primeiro civil a exercer o cargo de Presidente da República, deixou patente um novo estilo presidencial, promovendo a proximidade com as populações e a projeção de Portugal no estrangeiro; sendo marcado ao mesmo tempo pela tensão política com os governos de Cavaco Silva e pelo polémico caso TDM (Teledifusão de Macau).
Escândalos da democracia: O livro que vendeu 30 mil e desapareceu
Não foi só o livro. O autor emigrou após as revelações que atingiram Mário Soares
Fixe
bem esta data: 27 de janeiro de 1996. Era um sábado e o público
português assistiu a um fenómeno sem precedentes: um livro, escrito por
um autor nacional, vendeu 30.000 exemplares no lançamento. Depois foi
retirado do mercado e nunca mais reapareceu."Contos proibidos. Memórias de um PS desconhecido"
foi a obra "mais atrevida", segundo Nelson de Matos, a pessoa que o
publicou na Dom Quixote. Numa entrevista ao "Expresso", em 2004, o
editor negou ter sofrido pressões ou ameaças, mas denunciou a
existência de "comentários negativos" que lhe causaram "bastantes dificuldades pessoais".
"A todos expliquei que o livro existia", disse na altura. "Tinha
revelações importantes e procurava ser sério ao ponto de as provar.
Desse ponto de vista, achei que merecia ser discutido na sociedade."
Nelson de Matos é também, provavelmente, uma das poucas pessoas que
conhece o paradeiro do autor - a hipótese mais repetida é a
Suécia, mas ninguém está em condições de confirmar nada. O escritor,
tal como acontecera antes com o bestseller instantâneo,
desapareceu sem deixar rasto. Dez anos mais tarde, o jornalista Joaquim
Vieira publicou cinco textos sobre o assunto na "Grande Reportagem".
Em conversa com o i, recorda que "quando o livro saiu, o Rui Mateus foi
entrevistado pelo Miguel Sousa Tavares na SIC, e a primeira pergunta que este lhe fez foi: 'Então, como é que se sente na pele de um traidor?'
Toda a entrevista decorreu sob essa ideia."Mas o que continha o livro
afinal? Qual o motivo para as desaparições? Retomando a síntese de
Vieira, que o analisou a fundo, Rui Mateus diz que Mário Soares, "após
ganhar as primeiras presidenciais, em 1986, fundou com alguns amigos
políticos um grupo empresarial destinado a usar fundos financeiros
remanescentes da campanha. (...) Que, não podendo presidir ao grupo por
questões óbvias, Soares colocou os amigos como testas-de-ferro". O
investigador Bernardo Pires de Lima também leu o livro e conserva um
exemplar. "Parece-me evidente que desapareceu de circulação rapidamente
por ser um documento incómodo para muita gente, sobretudo altas
figuras do PS, metidas numa teia de tráfico de influências complicada
que o livro não se recusa a revelar com documentos", observa. A obra
consta de dez capítulos e 47 anexos. Ao todo, 455 páginas que arrancam
na infância do autor, percorrem o primeiro quarto de século do PS
(desde as origens na clandestinidade da Acção Socialista) e acabam em
1995, perto do final do segundo mandato de Soares. Na introdução,
Mateus escreve: "É um livro de memórias em redor do Partido Socialista,
duma perspectiva das suas relações internacionais, que eu dirigira
durante mais de uma década." Os últimos três capítulos abordam o caso Emaudio
- um escândalo rebentado pelo próprio Mateus e que motivou a escrita
de "Contos proibidos" para "repor a verdade". Para Joaquim Vieira e
Bernardo Pires de Lima, a credibilidade do livro é de oito sobre dez.
"O livro adianta imensos detalhes que reforçam a sua credibilidade e
nenhum deles foi alguma vez desmentido", argumenta o jornalista e
actual presidente do Observatório da Imprensa. Vieira lamenta o
"impacto político nulo e nenhuns efeitos" das revelações de Mateus. "Em
vez de investigar práticas porventura ilícitas de um chefe de Estado,
os jornalistas preferiram crucificar o autor pela 'traição' a Soares."
Apesar de, na estreia, terem tido todas as coberturas, livro e autor
caíram rapidamente no esquecimento. Hoje, a obra pulula na Internet, em versão PDF.
No processo de transição democrática subsequente ao 25 de abril de 1974 Mário Soares afirmou-se como líder partidário no campo democrático, contra o Partido Comunista,
batendo-se pela realização de eleições. Foi ainda Ministro de alguns
dos governos provisórios - Ministro dos Negócios Estrangeiros, logo no I Governo Provisório,
ficou associado ao processo de descolonização, defendendo de forma
intransigente a independência e autodeterminação das províncias
ultramarinas.
Vencedor das primeiras eleições legislativas realizadas em democracia,
foi Primeiro-Ministro dos dois primeiros governos constitucionais, o I e II governos constitucionais, este último de coligação com o CDS. A sua governação foi marcada pela instabilidade democrática - nomeadamente, pela tensão entre o Governo e o Presidente da República - Conselho da Revolução - pela crise financeira e pela necessidade de fazer face à paralisação da economia ocorrida após o 25 de abril, que levou o Governo a negociar um grande empréstimo com os EUA.
Ao mesmo tempo, foi um período em que o Governo, e Soares em
particular, se empenhou em desenvolver contactos com outros líderes
europeus, tendentes à adesão de Portugal às Comunidades Europeias.
Foi, de novo, Primeiro-Ministro do IX governo, do chamado Bloco Central, num período marcado por uma nova crise financeira e pela intervenção do FMI em Portugal.
Posteriormente, foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996, vencendo de forma tangente, e à segunda volta, as eleições presidenciais de 1986, e com larga maioria as de 1991, em que contou não só com o apoio do PS como do PSD, de Cavaco Silva. Sendo o primeiro civil a exercer o cargo de Presidente da República, deixou patente um novo estilo presidencial, promovendo a proximidade com as populações e a projeção de Portugal no estrangeiro; sendo marcado ao mesmo tempo pela tensão política com os governos de Cavaco Silva e pelo polémico caso TDM (Teledifusão de Macau).
Biografia
Nascido em Lisboa, foi o segundo filho de João Lopes Soares, ex-padre e pedagogo, ministro na I República e combatente do Salazarismo, e de Elisa Nobre Baptista. Co-fundador do Partido Socialista de Portugal, a 19 de abril de 1973, Mário Soares foi um dos mais famosos resistentes ao Estado Novo, pelo que foi preso doze vezes (num total de cerca de três anos de cadeia) e deportado sem julgamento para a ilha de São Tomé, em 1968, até se exilar em França, em 1970.
Foi professor do Ensino Secundário Particular e chegou a dirigir o Colégio Moderno,
fundado pelo pai. Como advogado defensor de presos políticos,
participou em numerosos julgamentos, realizados no Tribunal Plenário e
no Tribunal Militar Especial. Representou a família de Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato e, juntamente com Adelino da Palma Carlos, defendeu também a causa dinástica de Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança. Ainda na década de 1950 foi membro da Resistência Republicana e Socialista,
redactor e signatário do Programa para a Democratização da República em
1961, candidato a deputado pela Oposição Democrática, em 1965, e pela CEUD, em 1969.
Aquando do seu exílio em França, em 1970, foi chargé de cours nas universidades de Paris VIII (Vincennes) e Paris IV (Sorbonne), e igualmente professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes, que lhe atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa. Em 1973, foi o primeiro fundador do Partido Socialista, de que foi secretário-geral e ainda hoje é militante.
Estando ainda aí, em 1972, foi à loja à loja maçónica parisense "Les Compagnons Ardents", da "Grande Loge de France", pedir apoio para a luta política contra o Estado Novo e ingressou na maçonaria, segundo ele próprio, optando depois por ficar "adormecido".
A 28 de abril de 1974, três dias depois da Revolução de 25 de Abril, regressou do exílio em Paris, no chamado "Comboio da Liberdade". Dois dias depois, esteve presente na chegada a Lisboa de Álvaro Cunhal. Ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços dados, pela primeira e última vez, as ruas da Baixa Pombalina e a avenida da Liberdade.
Durante o período revolucionário que ficou conhecido como PREC foi o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975.
Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, de maio de 1974 a março de
1975, e um dos impulsionadores da independência das colónias
portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo.
A partir de março de 1977 colaborou no processo de adesão de Portugal à CEE, vindo a subscrever, como primeiro-ministro, o Tratado de Adesão, em 12 de julho de 1985.
Presidente da República entre 1986 e 1996 (1.º mandato de 10 de março de 1986 a 1991, 2.º mandato de 13 de janeiro de 1991 a 9 de março de 1996).
Deputado ao Parlamento Europeu entre 1999 e 2004, foi candidato a presidente do parlamento, mas perdeu a eleição para Nicole Fontaine, a quem não teve problema em chamar «dona de casa» (no sentido pejorativo do termo).
Foi, em 2005, aos oitenta anos, o segundo candidato - após Jerónimo de Sousa pelo PCP - a assumir a candidatura à Presidência da República (o que seria um inédito terceiro mandato) após algumas crispações no PS, principalmente com o seu amigo de longa data Manuel Alegre. Na eleição, a 22 de fevereiro de 2006, obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos.
Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também presidia ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da UNESCO, desde 2010, e era patrono do International Ocean Institute, desde 2009 e até à sua morte. Era patrono do International Ocean Institute, desde 2009.
Dia 11 de outubro de 2010 recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa aquando das comemorações do centenário da mesma, coincidindo com as comemorações do centenário da República Portuguesa (5 de Outubro).
Com 89 anos foi eleito a personalidade do ano de 2013 pela imprensa estrangeira radicada em Portugal. É pai de João Soares e Isabel Soares.