Fraccionismo foi o nome dado a um movimento político
angolano, liderado por
Nito Alves, ex-dirigente do
MPLA
(Movimento Popular de Libertação de Angola), no poder desde a
independência do país. Este movimento articulou-se como dissidência no
seio do MPLA, após a independência de Angola, em oposição ao Presidente
Agostinho Neto, e lançou em Luanda uma tentativa de
golpe de estado a
27 de maio de
1977.
O golpe
Virinha e
Nandy, dirigentes do destacamento feminino das
FAPLA
(Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), dirigem o assalto à
cadeia de São Paulo, onde se encontrava, em visita de inspeção,
Hélder Neto, chefe da
INFANAL (serviço de Informação e Análise), órgão paralelo à
DISA
(Direção de Informação e Segurança de Angola). Para tentar impedir o
ataque, Helder Neto, liberta alguns presos e entrega-lhes armas para o
ajudarem a defender a cadeia. No entanto,
Sambala, um cantor popular detido por delito comum, prende-o pelos braços, quando ele abre as portas da cadeia para negociar com
Virinha e
Nandy, acabando, supostamente, por se
suicidar.
Saidy Mingas, um dos irmãos de
Rui Mingas, fiel a Agostinho Neto, entra no quartel da
Nona Brigada para tentar controlar as tropas, sendo preso pelos soldados e levado com
Eugénio Costa e outros militares contrários à revolta para o musseque Sambizanga, onde são, posteriormente, queimados vivos.
Por volta do meio-dia, o Governo, através de
Onambwe,
diretor-adjunto da DISA, reage com a ajuda das tropas cubanas. Os
soldados retomam a cadeia e a rádio e abrem fogo sobre os manifestantes
dispersando-os, abafando-se assim o golpe. Pelas 16 horas, a cidade já
está controlada, e os manifestantes procuram refúgio. No musseque do
Sambizanga, são queimados, vivos, os militares aprisionados, conseguindo
escapar ileso o
Comandante Gato. No começo da tarde, reinava o
silêncio na cidade. Na Rádio Nacional, Agostinho Neto resume os
acontecimentos que, por poucas horas, abalaram Luanda:
Hoje de manhã,
pretendeu-se demonstrar que já não há revolução em Angola. Será assim?
Eu penso que não... Alguns camaradas desnortearam-se e pensaram que a
nossa opção era contra eles.
Com o poder governamental precariamente restabelecido em Luanda, foi imposto o
recolher obrigatório com início ao pôr do sol e a terminar ao nascer do sol, realizado com a ajuda de barreiras de rua por toda a cidade.
Cubanos, em
tanques e
blindados, guardavam os edifícios públicos.
Numa última tentativa de levar o golpe em frente, surge um atentado
contra Agostinho Neto, levado a cabo pelo seu segurança particular e
organizado por Nito Alves. Escapa ileso mas fica abalado emocionalmente e
pouco tempo depois, num discurso empolgado, afirmou: "Não haverá contemplações". "Não perderemos muito tempo com julgamentos".
Logo nessa mesma noite, a DISA, começou as buscas às casas à procura dos
nitistas. No rescaldo do golpe, imensas pessoas foram submetidas a prisões arbitrárias,
tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias, levadas a cabo pelo
Tribunal Militar Especial vulgo
Comissão Revolucionária, criado para substituir os julgamentos e que ficou conhecido por
Comissão das Lágrimas.
Não se sabe a data exata em que Nito Alves foi preso, mas sabe-se que
foi fuzilado e que se fez desaparecer o seu corpo, afundando-o no mar
amarrado a pedras. Sita Valles e José Van-Dúnem foram aprisionados a
16 de junho de
1977. Em
1978, o escritor
australiano Wilfred Burchett confirmou que Nito Alves fora executado, bem como Sita Valles, José Van-Dúnem, Ministro do Comércio Interno,
David Aires Machado, e dois comandantes superiores do exército do MPLA,
Jacob João Caetano (popularmente conhecido como
Monstro Imortal) e
Ernesto Eduardo Gomes da Silva (
Bakalof).
Consequências
As perseguições duraram cerca de dois anos. Tipicamente, após os julgamentos sumários, os ditos “traidores” eram apresentadas na TV angolana antes de serem fuzilados. Foram exibidos desta forma aproximadamente 15.000 pessoas
Foram mortos muitos dos melhores quadros angolanos, combatentes
experientes, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e
estudantes. Em
julho de
1979, Agostinho Neto, levando em consideração os atos dos dois últimos anos, decide dissolver a DISA pelos "
excessos" que havia cometido.
Ironicamente, o golpe acabou por reescrever a história, levando o MPLA a fazer o que os golpistas reivindicavam. Em
dezembro de
1977
no seu primeiro congresso, mudam de nome para MPLA-PT (MPLA Partido do
Trabalho) adotando oficialmente a ideologia marxista-leninista,
pedida por Nito Alves.
De acordo com várias fontes, o número de militantes do MPLA, depois das
depurações, baixou de 110.000 para 32.000. Estas ações de depuração
do partido provocaram milhares de mortos não existindo um número
oficial, oscilando segundo as fontes, entre os 15.000 e os 80.000.