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terça-feira, setembro 17, 2024

Hoje é dia de recordar um poeta angolano...

 

Agostinho Neto, por Nelson Paim

 

Havemos de voltar

 

Às casas, às nossas lavras
às praias, aos nossos campos
havemos de voltar

ÀS nossas terras
vermelhas do café
brancas de algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar

Às nossas minas de diamantes
ouro, cobre, de petróleo
havemos de voltar

Aos nossos rios, nossos lagos
às montanhas, às florestas
havemos de voltar

À frescura da mulemba
às nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar

À marimba e ao quissange
ao nosso carnaval
havemos de voltar


À bela pátria angolana
nossa terra, nossa mãe
havemos de voltar

Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente

 

Agostinho Neto

Agostinho Neto nasceu há cento e dois anos...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcão do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma atividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as atividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direção do movimento, a "Revolta Ativa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente e ditador de Angola durante cerca de 38 anos.
Ao falecer em Moscovo, a 10 de setembro de 1979, Agostinho Neto deixou atrás de si um país em chamas. Não era só Angola que vivia uma guerra civil. O MPLA também. Na cadeia de São Paulo, em Luanda, e em campos de concentração espalhados por diversos pontos do território angolano, antigos militantes e dirigentes do MPLA, que se haviam oposto à liderança de Agostinho Neto - dos simpatizantes de Nito Alves aos intelectuais da Revolta Activa -, partilhavam celas e desditas com os jovens da Organização Comunista de Angola, OCA, com mercenários portugueses, ingleses e americanos, militares congoleses e sul-africanos, e gente da UNITA e da FNLA.
José Eduardo Agualusa - Público, 26.08.2012
   

 

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão
Sacrificado pela pátria
Construo o meu sonho de união


Sobre o sangue ainda quente da minha irmã
Assassinada pelos carrascos
Construo o meu sonho de unidade


Unidade cimentada pelo sangue
União plantada sobre a terra
Germinando no meu gesto
Crescendo na minha voz
Gritando no teu olhar

 


Agostinho Neto

terça-feira, setembro 10, 2024

Agostinho Neto morreu há quarenta e cinco anos...

     
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que, em 1975, se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma atividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as atividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direção do movimento, a "Revolta Ativa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
   

 

 

Velho negro

 

Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido

É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se

Perdeu a pátria
e a noção de ser

Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente

Velho farrapo
negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!

Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silêncio das frases côncanas
murmuram eles:
pobre negro!

E os poetas dizem que são seus irmãos.
 
 
Agostinho Neto

segunda-feira, maio 27, 2024

Há 47 anos houve um golpe de estado falhado em Angola, seguido de um banho de sangue...

 

(imagem daqui)


Fraccionismo foi o nome dado a um movimento político angolano, liderado por Nito Alves, ex-dirigente do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), no poder desde a independência do país. Este movimento articulou-se como dissidência no seio do MPLA, após a independência de Angola, em oposição ao Presidente Agostinho Neto, e lançou em Luanda uma tentativa de golpe de estado a 27 de maio de 1977.
  
O golpe
Na madrugada de 27 de maio de 1977 (sexta-feira), Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou um movimento popular de protesto que se dirigiu para o Palácio Presidencial, para apelar ao Presidente Neto que tomasse uma posição contra o suposto rumo de influência maoísta que o MPLA estava a seguir e para que alterasse essa tendência com o retorno à linha marxista-leninista pura.
Virinha e Nandy, dirigentes do destacamento feminino das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), dirigem o assalto à cadeia de São Paulo, onde se encontrava, em visita de inspeção, Hélder Neto, chefe da INFANAL (serviço de Informação e Análise), órgão paralelo à DISA (Direção de Informação e Segurança de Angola). Para tentar impedir o ataque, Helder Neto, liberta alguns presos e entrega-lhes armas para o ajudarem a defender a cadeia. No entanto, Sambala, um cantor popular detido por delito comum, prende-o pelos braços, quando ele abre as portas da cadeia para negociar com Virinha e Nandy, acabando, supostamente, por se suicidar.
Luís dos Passos, o atual secretário-geral do Partido Renovador Democrático, num jipe com seis militares, dirigia a tomada da Rádio Nacional de Angola, enquanto, nos musseques, Sita Vales e José Van-Dúnem incitam os operários e os populares à revolta. Segundo o ex-delegado brasileiro Cláudio Guerra relatou em seu livro Memórias de uma Guerra Suja, o atentado a bomba que precedeu a tomada da Rádio Nacional e que matou a cúpula do MPLA presente na rádio foi executado por ele e mais dois polícias brasileiros, todos integrantes da extrema-direita brasileira, que haviam sido enviados em missão secreta a Angola.
Saidy Mingas, um dos irmãos de Rui Mingas, fiel a Agostinho Neto, entra no quartel da Nona Brigada para tentar controlar as tropas, sendo preso pelos soldados e levado com Eugénio Costa e outros militares contrários à revolta para o musseque Sambizanga, onde são, posteriormente, queimados vivos.
Por volta do meio-dia, o Governo, através de Onambwe, diretor-adjunto da DISA, reage com a ajuda das tropas cubanas. Os soldados retomam a cadeia e a rádio e abrem fogo sobre os manifestantes dispersando-os, abafando-se assim o golpe. Pelas 16 horas, a cidade já está controlada, e os manifestantes procuram refúgio. No musseque do Sambizanga, são queimados, vivos, os militares aprisionados, conseguindo escapar ileso o Comandante Gato. No começo da tarde, reinava o silêncio na cidade. Na Rádio Nacional, Agostinho Neto resume os acontecimentos que, por poucas horas, abalaram Luanda: Hoje de manhã, pretendeu-se demonstrar que já não há revolução em Angola. Será assim? Eu penso que não... Alguns camaradas desnortearam-se e pensaram que a nossa opção era contra eles.
Com o poder governamental precariamente restabelecido em Luanda, foi imposto o recolher obrigatório com início ao pôr do sol e a terminar ao nascer do sol, realizado com a ajuda de barreiras de rua por toda a cidade. Cubanos, em tanques e blindados, guardavam os edifícios públicos.
Numa última tentativa de levar o golpe em frente, dá-se um atentado contra Agostinho Neto, levado a cabo pelo seu segurança particular e organizado por Nito Alves. Escapa ileso mas fica abalado emocionalmente e pouco tempo depois, num discurso empolgado, afirmou: "Não haverá contemplações". "Não perderemos muito tempo com julgamentos".
Logo nessa mesma noite, a DISA, começou as buscas às casas à procura dos nitistas. No rescaldo do golpe, imensas pessoas foram submetidas a prisões arbitrárias, tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias, levadas a cabo pelo Tribunal Militar Especial vulgo Comissão Revolucionária, criado para substituir os julgamentos e que ficou conhecido por Comissão das Lágrimas.
Não se sabe a data exata em que Nito Alves foi preso, mas sabe-se que foi fuzilado e que se fez desaparecer o seu corpo, afundando-o no mar, amarrado a pedras. Sita Valles e José Van-Dúnem foram aprisionados a 16 de junho de 1977. Em 1978, o escritor australiano Wilfred Burchett confirmou que Nito Alves fora executado, bem como Sita Valles, José Van-Dúnem, Ministro do Comércio Interno, David Aires Machado, e dois comandantes superiores do exército do MPLA, Jacob João Caetano (popularmente conhecido como Monstro Imortal) e Ernesto Eduardo Gomes da Silva (Bakalof).
    
Consequências
As perseguições duraram cerca de dois anos. Tipicamente, após os julgamentos sumários, os ditos “traidores” eram apresentadas na TV angolana antes de serem fuzilados. Foram exibidos desta forma aproximadamente 15.000 pessoas
Foram mortos muitos dos melhores quadros angolanos, combatentes experientes, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e estudantes. Em julho de 1979, Agostinho Neto, levando em consideração os atos dos dois últimos anos, decide dissolver a DISA, pelos "excessos" que havia cometido.
Ironicamente, o golpe acabou por reescrever a história, levando o MPLA a fazer o que os golpistas reivindicavam. Em dezembro de 1977 no seu primeiro congresso, mudam de nome para MPLA-PT (MPLA - Partido do Trabalho) adotando oficialmente a ideologia marxista-leninista, pedida por Nito Alves.
De acordo com várias fontes, o número de militantes do MPLA, depois das depurações, baixou de 110.000 para 32.000. Estas ações de depuração do partido provocaram milhares de mortos não existindo um número oficial, oscilando segundo as fontes, entre os 15.000 e os 80.000.
   

segunda-feira, janeiro 15, 2024

O inacreditável acordo de Alvor (que deu a guerra civil a Angola e o regresso dos retornados a Portugal) faz hoje 49 anos

(imagem daqui)
 
O Acordo do Alvor, assinado entre o governo português e os três principais movimentos de libertação de Angola (MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola), em 15 de janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, e que estabeleceu os parâmetros para a partilha do poder na ex-colónia entre esse movimentos, após a concessão da independência a Angola.
Em entrevista à Agência Lusa, o dirigente socialista, António de Almeida Santos, que a 15 de janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Inter-Territorial e integrava a delegação portuguesa que assinou o acordo, refere que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".
De facto, pouco tempo depois do acordo assinado, os três movimentos envolveram-se num conflito armado pelo controlo do país e, em especial, da sua capital, Luanda, no que ficou conhecido como a Guerra Civil de Angola.
    

domingo, setembro 17, 2023

Hoje é dia de recordar a poesia de Agostinho Neto...

  

Agostinho Neto, por Nelson Paim

 

Havemos de voltar

 

Às casas, às nossas lavras
às praias, aos nossos campos
havemos de voltar

ÀS nossas terras
vermelhas do café
brancas de algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar

Às nossas minas de diamantes
ouro, cobre, de petróleo
havemos de voltar

Aos nossos rios, nossos lagos
às montanhas, às florestas
havemos de voltar

À frescura da mulemba
às nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar

À marimba e ao quissange
ao nosso carnaval
havemos de voltar


À bela pátria angolana
nossa terra, nossa mãe
havemos de voltar

Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente

 

Agostinho Neto

Agostinho Neto nasceu há cento e um anos...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcão do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma atividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as atividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direção do movimento, a "Revolta Ativa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
Ao falecer em Moscovo, a 10 de setembro de 1979, Agostinho Neto deixou atrás de si um país em chamas. Não era só Angola que vivia uma guerra civil. O MPLA também. Na cadeia de São Paulo, em Luanda, e em campos de concentração espalhados por diversos pontos do território angolano, antigos militantes e dirigentes do MPLA, que se haviam oposto à liderança de Agostinho Neto - dos simpatizantes de Nito Alves aos intelectuais da Revolta Activa -, partilhavam celas e desditas com os jovens da Organização Comunista de Angola, OCA, com mercenários portugueses, ingleses e americanos, militares congoleses e sul-africanos, e gente da UNITA e da FNLA.
José Eduardo Agualusa - Público (Lisboa), 26.08.2012
   

 

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão
Sacrificado pela pátria
Construo o meu sonho de união


Sobre o sangue ainda quente da minha irmã
Assassinada pelos carrascos
Construo o meu sonho de unidade


Unidade cimentada pelo sangue
União plantada sobre a terra
Germinando no meu gesto
Crescendo na minha voz
Gritando no teu olhar

 


Agostinho Neto

domingo, setembro 10, 2023

Agostinho Neto morreu há quarenta e quatro anos...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma atividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as atividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direcão do movimento, a "Revolta Ativa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
   

 

 

Velho negro

 

Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido

É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se

Perdeu a pátria
e a noção de ser

Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente

Velho farrapo
negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!

Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silêncio das frases côncanas
murmuram eles:
pobre negro!

E os poetas dizem que são seus irmãos.
 
 
Agostinho Neto

sábado, maio 27, 2023

Um golpe de estado falhado em Angola (seguido de um banho de sangue) foi há 46 anos


(imagem daqui)

Fraccionismo foi o nome dado a um movimento político angolano, liderado por Nito Alves, ex-dirigente do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), no poder desde a independência do país. Este movimento articulou-se como dissidência no seio do MPLA, após a independência de Angola, em oposição ao Presidente Agostinho Neto, e lançou em Luanda uma tentativa de golpe de estado a 27 de maio de 1977.
  
O golpe
Na madrugada de 27 de maio de 1977 (sexta-feira), Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou um movimento popular de protesto que se dirigiu para o Palácio Presidencial, para apelar ao Presidente Neto que tomasse uma posição contra o suposto rumo de influência maoísta que o MPLA estava a seguir e para que alterasse essa tendência com o retorno à linha marxista-leninista pura.
Virinha e Nandy, dirigentes do destacamento feminino das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), dirigem o assalto à cadeia de São Paulo, onde se encontrava, em visita de inspeção, Hélder Neto, chefe da INFANAL (serviço de Informação e Análise), órgão paralelo à DISA (Direção de Informação e Segurança de Angola). Para tentar impedir o ataque, Helder Neto, liberta alguns presos e entrega-lhes armas para o ajudarem a defender a cadeia. No entanto, Sambala, um cantor popular detido por delito comum, prende-o pelos braços, quando ele abre as portas da cadeia para negociar com Virinha e Nandy, acabando, supostamente, por se suicidar.
Luís dos Passos, o atual secretário-geral do Partido Renovador Democrático, num jipe com seis militares, dirigia a tomada da Rádio Nacional de Angola, enquanto, nos musseques, Sita Vales e José Van-Dúnem incitam os operários e os populares à revolta. Segundo o ex-delegado brasileiro Cláudio Guerra relatou em seu livro Memórias de uma Guerra Suja, o atentado a bomba que precedeu a tomada da Rádio Nacional e que matou a cúpula do MPLA presente na rádio foi executado por ele e mais dois polícias brasileiros, todos integrantes da extrema-direita brasileira, que haviam sido enviados em missão secreta a Angola.
Saidy Mingas, um dos irmãos de Rui Mingas, fiel a Agostinho Neto, entra no quartel da Nona Brigada para tentar controlar as tropas, sendo preso pelos soldados e levado com Eugénio Costa e outros militares contrários à revolta para o musseque Sambizanga, onde são, posteriormente, queimados vivos.
Por volta do meio-dia, o Governo, através de Onambwe, diretor-adjunto da DISA, reage com a ajuda das tropas cubanas. Os soldados retomam a cadeia e a rádio e abrem fogo sobre os manifestantes dispersando-os, abafando-se assim o golpe. Pelas 16 horas, a cidade já está controlada, e os manifestantes procuram refúgio. No musseque do Sambizanga, são queimados, vivos, os militares aprisionados, conseguindo escapar ileso o Comandante Gato. No começo da tarde, reinava o silêncio na cidade. Na Rádio Nacional, Agostinho Neto resume os acontecimentos que, por poucas horas, abalaram Luanda: Hoje de manhã, pretendeu-se demonstrar que já não há revolução em Angola. Será assim? Eu penso que não... Alguns camaradas desnortearam-se e pensaram que a nossa opção era contra eles.
Com o poder governamental precariamente restabelecido em Luanda, foi imposto o recolher obrigatório com início ao pôr do sol e a terminar ao nascer do sol, realizado com a ajuda de barreiras de rua por toda a cidade. Cubanos, em tanques e blindados, guardavam os edifícios públicos.
Numa última tentativa de levar o golpe em frente, dá-se um atentado contra Agostinho Neto, levado a cabo pelo seu segurança particular e organizado por Nito Alves. Escapa ileso mas fica abalado emocionalmente e pouco tempo depois, num discurso empolgado, afirmou: "Não haverá contemplações". "Não perderemos muito tempo com julgamentos".
Logo nessa mesma noite, a DISA, começou as buscas às casas à procura dos nitistas. No rescaldo do golpe, imensas pessoas foram submetidas a prisões arbitrárias, tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias, levadas a cabo pelo Tribunal Militar Especial vulgo Comissão Revolucionária, criado para substituir os julgamentos e que ficou conhecido por Comissão das Lágrimas.
Não se sabe a data exata em que Nito Alves foi preso, mas sabe-se que foi fuzilado e que se fez desaparecer o seu corpo, afundando-o no mar, amarrado a pedras. Sita Valles e José Van-Dúnem foram aprisionados a 16 de junho de 1977. Em 1978, o escritor australiano Wilfred Burchett confirmou que Nito Alves fora executado, bem como Sita Valles, José Van-Dúnem, Ministro do Comércio Interno, David Aires Machado, e dois comandantes superiores do exército do MPLA, Jacob João Caetano (popularmente conhecido como Monstro Imortal) e Ernesto Eduardo Gomes da Silva (Bakalof).
    
Consequências
As perseguições duraram cerca de dois anos. Tipicamente, após os julgamentos sumários, os ditos “traidores” eram apresentadas na TV angolana antes de serem fuzilados. Foram exibidos desta forma aproximadamente 15.000 pessoas
Foram mortos muitos dos melhores quadros angolanos, combatentes experientes, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e estudantes. Em julho de 1979, Agostinho Neto, levando em consideração os atos dos dois últimos anos, decide dissolver a DISA, pelos "excessos" que havia cometido.
Ironicamente, o golpe acabou por reescrever a história, levando o MPLA a fazer o que os golpistas reivindicavam. Em dezembro de 1977 no seu primeiro congresso, mudam de nome para MPLA-PT (MPLA - Partido do Trabalho) adotando oficialmente a ideologia marxista-leninista, pedida por Nito Alves.
De acordo com várias fontes, o número de militantes do MPLA, depois das depurações, baixou de 110.000 para 32.000. Estas ações de depuração do partido provocaram milhares de mortos não existindo um número oficial, oscilando segundo as fontes, entre os 15.000 e os 80.000.
   

domingo, janeiro 15, 2023

O vergonhoso acordo de Alvor (que deu guerra civil a Angola e regresso dos retornados a Portugal) faz hoje 48 anos

(imagem daqui)
 
O Acordo do Alvor, assinado entre o governo português e os três principais movimentos de libertação de Angola (MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola e UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola), em 15 de janeiro de 1975, em Alvor, no Algarve, e que estabeleceu os parâmetros para a partilha do poder na ex-colónia entre esse movimentos, após a concessão da independência de Angola.
Em entrevista à Agência Lusa, o dirigente socialista, António de Almeida Santos, que a 15 de janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Inter-Territorial e integrava a delegação portuguesa que assinou o acordo, refere que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".
De facto, pouco tempo depois do acordo assinado, os três movimentos envolveram-se num conflito armado pelo controlo do país e, em especial, da sua capital, Luanda, no que ficou conhecido como a Guerra Civil de Angola.
    

sábado, setembro 17, 2022

Agostinho Neto nasceu há um século...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma actividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as actividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direcção do movimento, a "Revolta Activa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
Ao falecer em Moscovo, a 10 de setembro de 1979, Agostinho Neto deixou atrás de si um país em chamas. Não era só Angola que vivia uma guerra civil. O MPLA também. Na cadeia de São Paulo, em Luanda, e em campos de concentração espalhados por diversos pontos do território angolano, antigos militantes e dirigentes do MPLA, que se haviam oposto à liderança de Agostinho Neto - dos simpatizantes de Nito Alves aos intelectuais da Revolta Activa -, partilhavam celas e desditas com os jovens da Organização Comunista de Angola, OCA, com mercenários portugueses, ingleses e americanos, militares congoleses e sul-africanos, e gente da UNITA e da FNLA.
José Eduardo Agualusa - Público (Lisboa), 26.08.2012
   

 

Velho negro

Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido

É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se

Perdeu a pátria
e a noção de ser

Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente

Velho farrapo
negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!

Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silêncio das frases côncanas
murmuram eles:
pobre negro!

E os poetas dizem que são seus irmãos.
 
 
Agostinho Neto

sábado, setembro 10, 2022

Agostinho Neto morreu há 43 anos...

   
António Agostinho Neto (Catete, Ícolo e Bengo, 17 de setembro de 1922 - Moscovo, 10 de setembro de 1979) foi um médico angolano, formado nas Universidades de Coimbra e de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola, até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prémio Lenine da Paz". Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela PIDE, a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde; sendo-lhe depois fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962. Em paralelo, desenvolveu uma actividade literária, escrevendo nomeadamente poesia.
Agostinho Neto dirigiu a partir de Argel e de Brazzaville as actividades políticas e de guerrilha do MPLA durante a Guerra de Independência de Angola, entre 1961 e 1974, e durante o processo de descolonização, 1974/75, que opôs o MPLA aos dois outros movimentos nacionalistas, a FNLA e a UNITA Tendo o MPLA saído deste último processo como vencedor, declarou a independência do país em 11 de novembro de 1975, assumindo as funções de Presidente da República, mantendo as de Presidente do MPLA, e estabelecendo um regime mono-partidário, inspirado no modelo então praticado nos países do leste europeu.
Durante este período, houve graves conflitos internos no MPLA que puseram em causa a liderança de Agostinho Neto. Entre estes, o mais grave consistiu no surgimento, no início dos anos 70, de duas tendências opostas à direcção do movimento, a "Revolta Activa" constituída no essencial por elementos intelectuais, e a "Revolta do Leste", formada pelas forças de guerrilha localizadas no Leste de Angola; estas divisões foram superadas num intrincado processo de discussão e negociação que terminou com a reafirmação da autoridade de Agostinho Neto. Já depois da independência, em 1977, houve um levantamento, visando a sua liderança e a linha ideológica por ele defendida; este movimento, oficialmente designado como fracionismo, foi reprimido de forma sangrenta, por suas ordens.
Agostinho Neto, que era casado com a portuguesa Eugénia Neto, morreu num hospital em Moscovo no decorrer de complicações ocorridas durante uma operação a um cancro hepático de que sofria, poucos dias antes de fazer 57 anos de idade. Foi substituído na presidência do país e do MPLA por José Eduardo dos Santos, presidente de Angola durante cerca de 38 anos.
   

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão

Sobre o sangue ainda quente do meu irmão
Sacrificado pela pátria
Construo o meu sonho de união


Sobre o sangue ainda quente da minha irmã
Assassinada pelos carrascos
Construo o meu sonho de unidade


Unidade cimentada pelo sangue
União plantada sobre a terra
Germinando no meu gesto
Crescendo na minha voz
Gritando no teu olhar



Agostinho Neto

sexta-feira, maio 27, 2022

Há 45 anos uma tentativa de golpe de estado em Angola foi seguido de um banho de sangue


(imagem daqui)

Fraccionismo foi o nome dado a um movimento político angolano, liderado por Nito Alves, ex-dirigente do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), no poder desde a independência do país. Este movimento articulou-se como dissidência no seio do MPLA, após a independência de Angola, em oposição ao Presidente Agostinho Neto, e lançou em Luanda uma tentativa de golpe de estado a 27 de maio de 1977.
  
O golpe
Na madrugada de 27 de maio de 1977 (sexta-feira), Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou um movimento popular de protesto que se dirigiu para o Palácio Presidencial, para apelar ao Presidente Neto que tomasse uma posição contra o suposto rumo de influência maoísta que o MPLA estava a seguir e para que alterasse essa tendência com o retorno à linha marxista-leninista pura.
Virinha e Nandy, dirigentes do destacamento feminino das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), dirigem o assalto à cadeia de São Paulo, onde se encontrava, em visita de inspeção, Hélder Neto, chefe da INFANAL (serviço de Informação e Análise), órgão paralelo à DISA (Direção de Informação e Segurança de Angola). Para tentar impedir o ataque, Helder Neto, liberta alguns presos e entrega-lhes armas para o ajudarem a defender a cadeia. No entanto, Sambala, um cantor popular detido por delito comum, prende-o pelos braços, quando ele abre as portas da cadeia para negociar com Virinha e Nandy, acabando, supostamente, por se suicidar.
Luís dos Passos, o atual secretário-geral do Partido Renovador Democrático, num jipe com seis militares, dirigia a tomada da Rádio Nacional de Angola, enquanto, nos musseques, Sita Vales e José Van-Dúnem incitam os operários e os populares à revolta. Segundo o ex-delegado brasileiro Cláudio Guerra relatou em seu livro Memórias de uma Guerra Suja, o atentado a bomba que precedeu a tomada da Rádio Nacional e que matou a cúpula do MPLA presente na rádio foi executado por ele e mais dois polícias brasileiros, todos integrantes da extrema-direita brasileira, que haviam sido enviados em missão secreta a Angola.
Saidy Mingas, um dos irmãos de Rui Mingas, fiel a Agostinho Neto, entra no quartel da Nona Brigada para tentar controlar as tropas, sendo preso pelos soldados e levado com Eugénio Costa e outros militares contrários à revolta para o musseque Sambizanga, onde são, posteriormente, queimados vivos.
Por volta do meio-dia, o Governo, através de Onambwe, diretor-adjunto da DISA, reage com a ajuda das tropas cubanas. Os soldados retomam a cadeia e a rádio e abrem fogo sobre os manifestantes dispersando-os, abafando-se assim o golpe. Pelas 16 horas, a cidade já está controlada, e os manifestantes procuram refúgio. No musseque do Sambizanga, são queimados, vivos, os militares aprisionados, conseguindo escapar ileso o Comandante Gato. No começo da tarde, reinava o silêncio na cidade. Na Rádio Nacional, Agostinho Neto resume os acontecimentos que, por poucas horas, abalaram Luanda: Hoje de manhã, pretendeu-se demonstrar que já não há revolução em Angola. Será assim? Eu penso que não... Alguns camaradas desnortearam-se e pensaram que a nossa opção era contra eles.
Com o poder governamental precariamente restabelecido em Luanda, foi imposto o recolher obrigatório com início ao pôr do sol e a terminar ao nascer do sol, realizado com a ajuda de barreiras de rua por toda a cidade. Cubanos, em tanques e blindados, guardavam os edifícios públicos.
Numa última tentativa de levar o golpe em frente, surge um atentado contra Agostinho Neto, levado a cabo pelo seu segurança particular e organizado por Nito Alves. Escapa ileso mas fica abalado emocionalmente e pouco tempo depois, num discurso empolgado, afirmou: "Não haverá contemplações". "Não perderemos muito tempo com julgamentos".
Logo nessa mesma noite, a DISA, começou as buscas às casas à procura dos nitistas. No rescaldo do golpe, imensas pessoas foram submetidas a prisões arbitrárias, tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias, levadas a cabo pelo Tribunal Militar Especial vulgo Comissão Revolucionária, criado para substituir os julgamentos e que ficou conhecido por Comissão das Lágrimas.
Não se sabe a data exata em que Nito Alves foi preso, mas sabe-se que foi fuzilado e que se fez desaparecer o seu corpo, afundando-o no mar amarrado a pedras. Sita Valles e José Van-Dúnem foram aprisionados a 16 de junho de 1977. Em 1978, o escritor australiano Wilfred Burchett confirmou que Nito Alves fora executado, bem como Sita Valles, José Van-Dúnem, Ministro do Comércio Interno, David Aires Machado, e dois comandantes superiores do exército do MPLA, Jacob João Caetano (popularmente conhecido como Monstro Imortal) e Ernesto Eduardo Gomes da Silva (Bakalof).
    
Consequências
As perseguições duraram cerca de dois anos. Tipicamente, após os julgamentos sumários, os ditos “traidores” eram apresentadas na TV angolana antes de serem fuzilados. Foram exibidos desta forma aproximadamente 15.000 pessoas
Foram mortos muitos dos melhores quadros angolanos, combatentes experientes, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e estudantes. Em julho de 1979, Agostinho Neto, levando em consideração os atos dos dois últimos anos, decide dissolver a DISA pelos "excessos" que havia cometido.
Ironicamente, o golpe acabou por reescrever a história, levando o MPLA a fazer o que os golpistas reivindicavam. Em dezembro de 1977 no seu primeiro congresso, mudam de nome para MPLA-PT (MPLA Partido do Trabalho) adotando oficialmente a ideologia marxista-leninista, pedida por Nito Alves.
De acordo com várias fontes, o número de militantes do MPLA, depois das depurações, baixou de 110.000 para 32.000. Estas ações de depuração do partido provocaram milhares de mortos não existindo um número oficial, oscilando segundo as fontes, entre os 15.000 e os 80.000.