terça-feira, setembro 06, 2011

Luciano Pavarotti morreu há 4 anos

Luciano Pavarotti, Cavaliere di Gran Croce OMRI (Módena, 12 de Outubro de 1935 - Módena, 6 de Setembro de 2007) foi um cantor (tenor lírico) italiano, grande intérprete das obras de Donizetti, Puccini e Verdi, dentre outros em seu grande repertório. É reconhecido como o tenor que popularizou mundialmente a ópera.
Pavarotti começou sua carreira profissional como tenor em 1961 na Itália. Em 1961, fez sua primeira performance internacional, em La Traviata de Giuseppe Verdi, em Belgrado, na Sérvia (então Jugoslávia). Cantou nas maiores casas de óperas da Itália, nos Países Baixos, em Viena, Londres, Ancara, Budapeste e Barcelona. O jovem tenor tornou-se conhecido durante uma turnê australiana ao lado da renomada soprano Joan Sutherland em 1965. Ele fez sua estreia nos Estados Unidos em Miami, também em convite da soprano. Sua posição como o tenor lírico líder de sua geração veio entre os anos de 1966 e 1972, durante suas performances no Teatro alla Scala de Milão e em outras casas de ópera italianas. No Metropolitan Opera House, ele cantou o papel de Tonio de La fille du régiment de Gaetano Donizetti e recebeu o título de "Rei dos Dós", quando ele cantou a aria "Ah mes amis...pour mon âme". Ganhou fama mundial com sua brilhante e bonito tom, especialmente pelo alcance. Ele foi o melhor tenor em bel canto, em Aida de Verdi e La Bohème, Tosca e Madama Butterfly (Giacomo Puccini) de sua geração. No fim da década de 1970 e 1980, ele continuou apresentando-se nos maiores teatros do mundo.
Tornou-se popular entre o público na Copa do Mundo de 1990 na Itália, com performances da ária "Nessun Dorma", da ópera Turandot, de Giacomo Puccini, na apresentação dos Os Três Tenores, ao lado dos tenores e amigos Plácido Domingo e José Carreras. Os três apresentaram-se novamente diversas vezes.
Sua última performance em uma ópera, no Metropolitan Opera foi em março de 2004. Um ano depois, a Fundação Ítalo-Americana nacional o indicou a Calçada Ítalo-Americana da Fama, em reconhecimento ao seu trabalho durante toda a vida. Sua última aparição em um palco foi na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Turim, em 2006, quando ele cantou pela última vez "Nessun Dorma" e recebeu uma ovação calorosa de milhares de pessoas.
No dia 6 de Setembro de 2007, ele morreu em sua casa, em Módena, devido a um cancro no pâncreas, aos 71 anos.
Pavarotti gravou duetos com Anastacia, Mariah Carey, James Brown, Frank Sinatra, Zucchero, Ricky Martin, Laura Pausini, Elton John, Spice Girls, Bryan Adams, Andrea Bocelli, Queen, Céline Dion, Eros Ramazzotti, Jon Bon Jovi, The Corrs, U2, Roberto Carlos, entre outros, especialmente para causas beneficentes, nas quais se envolveu bastante.


segunda-feira, setembro 05, 2011

Recordar Freddie Mercury...




Kaddish - recordar os mortos de Munique

Hoje é dia de ouvir música dos Queen...

Living on My Own

I want to break free...

Recordar os 39 anos que passaram sobre o Massacre de Munique

Placa memorial à frente dos quartos dos atletas israelitas. Na inscrição, em alemão e hebraico, lê-se: A equipa do Estado de Israel permaneceu neste edifício durante os Jogos Olímpicos de Verão de 21 de Agosto a 5 Setembro de 1972. Em 5 de Setembro, teve uma morte violenta. Honra à sua memória.

O Massacre de Munique também conhecido como Tragédia de Munique teve lugar durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1972, em Munique, quando, a 5 de Setembro, 11 membros da equipe olímpica de Israel foram tomados de reféns pelo grupo terrorista palestiniano denominado Setembro Negro.
O governo da RFA, então liderado pelo primeiro-ministro Willy Brandt, recusou-se a permitir a intervenção de uma equipe de operações especiais do Tzahal, conforme proposta da primeira-ministra de Israel, Golda Meir.

(...)
Como se viria a constatar depois, as forças policiais alemãs estavam muito mal preparadas e a situação fugiu do seu controle. Uma tentativa de libertação dos reféns levou à morte de todos os atletas, além de cinco terroristas e um agente da polícia alemã.
Os três terroristas que sobreviveram ao ataque foram encarcerados. O governo alemão federal ficou altamente embaraçado pelo fracasso e pela demonstração de incompetência da sua polícia. A operação foi mal planeada e foi executada por agentes sem qualquer preparação especial.
A ideia da operação era eliminar os terroristas num aeroporto próximo de Munique, o Fürstenfeldbruck. No entanto, os poucos polícias colocados nas torres do aeroporto não tinham capacidade de fogo suficiente para executar a tarefa, não dispunham de comunicações de rádio entre si para coordenar os disparos e foram surpreendidos por um número de terroristas superior ao esperado.
Após um tiroteio que durou 45 minutos, entre a polícia e os terroristas, um dos terroristas decidiu atirar uma granada contra o helicóptero em que se encontravam os reféns, matando os últimos sobreviventes. A divulgação dos pormenores do atentado, seguida atentamente pela media internacional, causou um forte abalo na imagem da Alemanha Federal no exterior. Os três prisioneiros não chegaram a ser julgados.

(...)
Os três terroristas sobreviventes passaram a ser perseguidos pela Mossad e crê-se que dois deles foram assassinados. Esta operação chamou-se Cólera de Deus. Mohammed Oudeh, o terceiro terrorista e líder do sequestro, conseguiu sobreviver a um atentado contra sua vida em 1981, na cidade de Varsóvia, mas faleceu dia 3 de Julho de 2010, em Damasco (capital da Síria),de falência renal.

Madre Teresa de Calcutá morreu há 14 anos

Agnes Gonxha Bojaxhiu (Skopje, 26 de Agosto de 1910 - Calcutá, 5 de Setembro de 1997), conhecida mundialmente como Madre Teresa de Calcutá ou Beata Teresa de Calcutá, foi uma missionária católica albanesa, nascida na República da Macedónia e naturalizada indiana, beatificada pela Igreja Católica em 2003. Considerada, por alguns, a missionária do século XX, fundou a congregação "Missionárias da Caridade", tornando-se conhecida ainda em vida pelo cognome de "Santa das sarjetas".

NOTA: post nº 6.000 do Blog Geopedrados...!

Hoje até o Google recorda Freddie Mercury

Google Doodle de hoje, dia 05.09.2011, data em que se celebra os 65 anos do nascimento de Freddie Mercury:

Freddie Mercury nasceu há 65 anos

 (imagem daqui)
Freddie Mercury, nome artístico de Farokh Bulsara (Stone Town, 5 de Setembro de 1946Londres, 24 de Novembro de 1991), foi o vocalista e líder da banda de rock britânica Queen. É considerado pelos críticos e por diversas votações populares um dos melhores cantores de todos os tempos e uma das vozes mais conhecidas do mundo.


domingo, setembro 04, 2011

Observação astronómica em Vieira de Leiria

Post conjunto com o Blog AstroLeiria:


No passado dia 26 de Agosto de 2011 participei numa observação astronómica da Ad Astra (Associação para a Divulgação da Astronomia de Amadores) na Praia de Vieira de Leiria.

Foi uma sessão animada, com muitos portugueses mas também espanhóis, franceses e alemães, que nos proporcionaram imensa conversa em quatro línguas (como não sei alemão falei em inglês com um senhor). Enquanto o Carlos e o João mostravam uma estrela dupla (Alcor e Mizar, na Ursa Maior) e M13 (um fantástico aglomerado globular na constelação de Hércules) e muitas outras coisas (isto para além de irem respondendo às questões dos interessados) eu fui mostrando como funciona um telescópio, como se alinha, tipos e componentes de telescópios, usando, no final, o Telescópio Dobson da Escola Correia Mateus para mostrar Júpiter, os seus satélites de Galileu e as suas bandas paralelas ao equador.

Foi engraçado encontrar duas ex-alunas (uma da Escola D. Dinis e outra da Escola Correia Mateus) e uma futura aluna, com as respectivas famílias...!

Aos participantes, em especial os que aguentaram até depois da meia noite e nos obrigaram a mostrar Júpiter, os nossos agradecimentos. Esperamos que a próxima sessão, que será o encerramento das actividades deste ano da Astronomia no Verão da Ad Astra (que também está no Facebook), também tenha muitos clientes, pois terá Lua e Júpiter bem visíveis...

E agora algumas fotos da sessão de 26.08.2011:


























Hoje é dia de ouvir música de Beyoncé



NOTA: outra versão, mais divertida...

Raul de Carvalho nasceu há 91 anos

(imagem daqui)

A verdade é que fomos 

A verdade é que fomos
feitos do mesmo sangue
violento e humilde


A verdade é que temos
ambos a graça de compreender
todos os homens e todas as estrelas


A verdade é que Deus
nos ensinou
que este é o tempo da razão ardente.


Deus hoje deu-me um pouco
do que toda a vida lhe pedi
foi esta calma e simples aceitação
de que é preciso que estejas
longe de mim
(imagem daqui)

para que amando eu possa conservar
o meu coração puro.


As ruas hoje pareciam mais largas
e mais claras


As casas e as pessoas
pareciam diferentes


Foi só o tempo de pedir a Deus
que prolongasse o generoso engano.


Tu ensinaste-me as palavras simples
as palavras belas
as palavras justas


E fizeste com que eu já não saiba
falar de outra maneira.


O amor substitui
o Sol — que tudo ilumina.


Sonhar contigo é quase como
saber que existo para além de mim.


Se basta que de mim te lembres
para que o sono facilmente venha
porque não hás-de dar-me amor a paz
com que o meu coração de há tanto tempo sonha


Vês como é tão simples
ter o coração
tão perto da terra
e os olhos nos olhos
e a alma tão perto
da tua alma


Por que será
que quanto mais repartimos
o coração
maior e mais nosso ele fica?

Raul de Carvalho

A vocalista dos Flyleaf faz hoje 30 anos

Lacey Nicole Mosley (Arlington, Texas, 4 de Setembro de 1981), também conhecida como Lacey Sturm, é a vocalista e principal compositora da banda de metal alternativo Flyleaf. Ela revelou numa entrevista que as suas principais influências são Nirvana, Metallica e Pantera.


O álbum dos The Who intitulado It's Hard foi lançado há 29 anos

It's Hard is the tenth studio album by English rock band The Who. It is the last Who album to feature bassist John Entwistle and drummer Kenney Jones, as well as the last to be released on Warner Bros. Records in the US. It was their last album until 2006's Endless Wire. It was released in 1982 on Polydor in the UK, peaking at #11, and on Warner Bros. In the US where it peaked at #8 on the Billboard Pop Albums charts. The US rights to both this album and Face Dances subsequently reverted to the band, who then licensed them to MCA Records (later Geffen Records, itself once distributed by WB) for reissue. The album eventually achieved gold status by the RIAA in the US on November 1982.

Athena - The Who


Athena, I had no idea how much I'd need her
In peaceful times I hold her close and I feed her
My heart starts palpitating when I think my guess was wrong
But I think I'll get along
She's just a girl - she's a bomb


Athena, all I ever want to do is please her
My life has been so settled and she's the reason
Just one word from her and my troubles are long gone
But I think I'll get along
She's just a girl - she's a bomb


Just a girl just a girl
Just a girl just a girl
Just a girl just a girl
She's just a girl


Athena, my heart felt like a shattered glass in an acid bath
I felt like one of those flattened ants you find on a crazy path
I'd of topped myself to give her time she didn't need to ask
Was I a suicidal psychopath?
She's just a girl - she's a bomb


Consumed, there was a beautiful white horse I saw on a dream stage
He had a snake the size of a sewer pipe living in his rib cage
I felt like a pickled priest who was being flambed
You were requisitioned blondie
She's just a girl - she's a bomb


I'm happy, I'm ecstatic
Just a girl just a girl
Just a girl just a girl
Just a girl just a girl
She's just a girl


Look into the face of a child
Measure how long you smiled
Before the memory claimed
How long would children remain
How long would children remain


Athena, you picked me up by my lapels and screamed "leave her"
It felt like waking up in heaven on an empty meter
And now you're stuck with a castrated leader
And I hate the creep, I didn't mean that
She's a bomb
I just said it
She's a bomb
I didn't mean it, please
She's a bomb


Athena, I had no idea how much I need her
My life has been so settled and she's the reason
Just one word from her and my troubles are long gone
But I get along
She's just a girl, she's a bomb
She's just a girl, she's a bomb

Georges Simenon morreu há 22 anos

Georges Joseph Chistian Simenon (Liège, 13 de Fevereiro de 1903Lausanne, 4 de Setembro de 1989) foi um escritor belga de língua francesa.
Foi um romancista de uma fecundidade extraordinária: escreveu 192 romances, 158 novelas, alem de obras autobiográficas e numerosos artigos e reportagens sob seu nome e mais 176 romances, dezenas de novelas, contos e artigos sob 27 pseudónimos diferentes.
As tiragens acumuladas de seus livros atingem mais de 500 milhões de exemplares. É o autor belga (e o quarto autor de língua francesa) mais traduzido em todo o mundo.
Seu personagem mais famoso é o Comissário Maigret, personagem de 75 novelas e 28 contos.

Beyoncé - 30 anos!

Beyoncé Giselle Knowles (Houston, 4 de Setembro de 1981), mais conhecida simplesmente como Beyoncé, é uma cantora, compositora, actriz, dançarina, coreógrafa, arranjadora vocal, produtora, directora de vídeo e empresária americana nascida e criada em Houston, no Texas. Cantora desde a infância, Beyoncé se tornou conhecida no ano de 1997, como vocalista do grupo feminino de R&B Destiny's Child, que mundialmente já vendeu mais de 50 milhões de discos.
Em 2003, ela lançou seu álbum de estreia em carreira solo, Dangerously in Love. O álbum teve um bom desempenho comercial e os singles "Crazy in Love" e "Baby Boy" foram os únicos a alcançar o primeiro lugar na Billboard Hot 100. No ano seguinte foi premiada com cinco Grammy Awards. Em 2006, lançou seu segundo álbum de estúdio, B'Day, dando continuidade a sua carreira solo depois da separação do grupo Destiny's Child em 2005. B'Day se tornou seu segundo disco consecutivo em primeiro lugar na Billboard 200. O single "Irreplaceable" deste trabalho foi o que mais se destacou por permanecer por dez semanas consecutivas em primeiro lugar na Billboard Hot 100. Seu terceiro álbum, I Am... Sasha Fierce, foi lançado em Novembro de 2008. Também teve um desempenho comercial muito favorável, sendo certificado pela ABPD como disco de diamante. A música "Single Ladies (Put a Ring on It)" foi uma das músicas do seu terceiro álbum que mais se destacou, se tornando o seu quinto single em primeiro lugar na Billboard Hot 100. Nos Grammy Awards de 2010, Beyoncé se tornou a artista feminina que mais foi premiada em apenas uma edição dos prémios, ao vencer seis das dez categorias em que estava concorrendo. Actualmente Beyoncé já ganhou ao longo de sua carreira 16 Grammys (13 em carreira solo e 3 com o grupo Destiny's Child). Ela é um dos artistas que mais ganhou esse prémio.
Sua carreira como actriz teve início em 2001, quando interpretou Carmen Brown no filme Carmen: A Hip Hopera. Beyoncé também actuou em outros filmes, como Austin Powers in Goldmember, Resistindo às Tentações, Dreamgirls e outros. Sua actuação no filme Dreamgirls lhe rendeu duas indicações ao Globo de Ouro nas categorias Melhor actriz em um filme, comédia ou musical e Melhor canção original para a música "Listen". Junto com a sua mãe, Tina Knowles, ela lançou em 2004 uma linha de roupas chamada House of Deréon. A maior inspiração foi sua avó, chamada Agnèz Deréon. Beyoncé já trabalhou para marcas como Pepsi, Tommy Hilfiger, Armani e L'Oréal. Em 2009 a revista Forbes elegeu Beyoncé como a cantora mais rica do mundo com menos de 30 anos de idade, por ter arrecadado mais de 87 milhões de dólares no período de 2008 a 2009.
Até 2010 Beyoncé possui cinco singles em primeiro lugar na Billboard Hot 100. Ao longo de sua carreira ela já vendeu mais de 75 milhões de discos em todo o mundo isso fez dela um dos artistas de música que mais venderam discos de todos os tempos. De acordo com a gravadora Sony Music em Outubro de 2009, se juntar as vendas de discos de Beyoncé e do Destiny's Child o resultado irá ultrapassar mais de 100 milhões de discos vendidos. A revista Billboard colocou Beyoncé em quarto lugar na lista dos melhores artistas da década de 2000, aparece também no nono lugar, com o grupo Destiny's Child. Em Fevereiro de 2010 a RIAA listou Beyoncé como a artista que mais recebeu certificações na década. No mesmo ano o VH1 colocou Beyoncé no número 52 em sua lista dos 100 Maiores Artistas de Todos os Tempos. Em 2011 durante a atribuição dos prémios do Billboard Music Awards, Beyoncé recebeu o prémio de Billboard Millennium Award. Em 2011 a revista Forbes listou as mulheres afro-americanas mais poderosas nos Estados Unidos e colocou Beyoncé em primeiro de sua lista.
 

sábado, setembro 03, 2011

Serenidade

RAUL DE CARVALHO (1920-1984) / serenidade és minha (1955)
MÁRIO VIEGAS (1948-1996) / humores, II (1980)
ALINHAMENTO MUSICAL: jan garbarek / soria maria (1980). pat metheny / waiting for an answer (1983). sufjan stevens / oh god, where are you now? (2003)

Serenidade És Minha (À Memória de Fernando Pessoa)


Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.


Vem, serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.
Carrega para a cama dos desempregados
todas as coisas verdes, todas as coisas vis
fechadas no cofre das águas:
os corais, as anémonas, os monstros sublunares,
as algas, porque um fio de prata lhes enfeita os cabelos.


Vem, serenidade,
com o país veloz e virginal das ondas,
com o martírio leve dos amantes sem Deus,
com o cheiro sensual das pernas no cinema,
com o vinho e as uvas e o frémito das virgens,
com o macio ventre das mulheres violadas,
com os filhos que os pais amaldiçoam,
com as lanternas postas à beira dos abismos,
e os segredos e os ninhos e o feno
e as procissões sem padre, sem anjos e, contudo
com Deus molhando os olhos
e as esperanças dos pobres.


Vem, serenidade,
com a paz e a guerra
derrubar as selvagens
florestas do instinto.


Vem, e levanta
palácios na sombra.
Tem a paciência de quem deixa entre os lábios
um espaço absoluto.


Vem, e desponta,
oriunda dos mares,
orquídea fresca das noites vagabundas,
serena espécie de contentamento,
surpresa, plenitude.


Vem dos prédios sem almas e sem luzes,
dos números irreais de todas as semanas,
dos caixeiros sem cor e sem família,
das flores que rebentam nas mãos dos namorados
dos bancos que os jardins afogam no silêncio,
das jarras que os marujos trazem sempre da China,
dos aventais vermelhos com que as mulheres esperam
a chegada da força e da vertigem.


Vem, serenidade,
e põe no peito sujo dos ladrões
a cruz dos crimes sem cadeia,
põe na boca dos pobres o pão que eles precisam,
põe nos olhos dos cegos a luz que lhes pertence.


Vem nos bicos dos pés para junto dos berços,
para junto das campas dos jovens que morreram,
para junto das artérias que servem
de campo para o trigo, de mar para os navios.


Vem, serenidade!
E do salgado bojo das tuas naus felizes
despeja a confiança,
a grande confiança.
Grande como os teus braços,
grande serenidade!


E põe teus pés na terra,
e deixa que outras vozes
se comovam contigo
no Outono, no Inverno,
no Verão, na Primavera.


Vem, serenidade,
para que se não fale
nem da paz nem da guerra nem de Deus,
porque foi tudo junto
e guardado e levado
para a casa dos homens.


Vem, serenidade,
vem com a madrugada,
vem com os anjos de ouro que fugiram da Lua,
com as nuvens que proíbem o céu,
vem com o nevoeiro.


Vem com as meretrizes que chamam da janela,
o volume dos corpos saciados na cama,
as mil aparições do amor nas esquinas,
as dívidas que os pais nos pagam em segredo,
as costas que os marinheiros levantam
quando arrastam o mar pelas ruas.


Vem, serenidade,
e lembra-te de nós,
que te esperamos há séculos sempre no mesmo sítio,
um sítio aonde a morte tem todos os direitos.


Lembra-te da miséria dourada dos meus versos,
desta roupa de imagens que me cobre
o corpo silencioso,
das noites que passei perseguindo uma estrela,
do hálito, da fome, da doença, do crime,
com que dou vida e morte
a mim próprio e aos outros.


Vem, serenidade,
e acaba com o vício
de plantar roseiras no duro chão dos dias,
vicio de beber água
com o copo do vinho milagroso do sangue.


Vem, serenidade,
não apagues ainda
a lâmpada que forra
os cantos do meu quarto,
o papel com que embrulho meus rios de aventura
em que vai navegando o futuro.


Vem, serenidade!
E pousa, mais serena que as mãos de minha Mãe,
mais húmida que a pele marítima do cais,
mais branca que o soluço, o silêncio, a origem,
mais livre que uma ave em seu vôo,
mais branda que a grávida brandura do papel em que escrevo,
mais humana e alegre que o sorriso das noivas,
do que a voz dos amigos, do que o sol nas searas.


Vem, serenidade,
para perto de mim e para nunca.


....................................... ................


De manhã, quando as carroças de hortaliça
chiam por dentro da lisa e sonolenta
tarefa terminada,
quando um ramo de flores matinais
é uma ofensa ao nosso limitado horizonte,
quando os astros entregam ao carteiro surpreendido
mais um postal da esperança enigmática,
quando os tacões furados pelos relógios podres,
pelas tardes por trás das grades e dos muros,
pelas convencionais visitas aos enfermos,
formam, em densos ângulos de humano desespero,
uma nuvem que aumenta a vã periferia
que rodeia a cidade,
é então que eu te peço como quem pede amor:
Vem, serenidade!


Com a medalha, os gestos e os teus olhos azuis,
vem, serenidade!


Com as horas maiúsculas do cio,
com os músculos inchados da preguiça,
vem, serenidade!


Vem, com o perturbante mistério dos cabelos,
o riso que não é da boca nem dos dentes
mas que se espalha, inteiro,
num corpo alucinado de bandeira.


Vem, serenidade,
antes que os passos da noite vigilante
arranquem as primeiras unhas da madrugada,
antes que as ruas cheias de corações de gás
se percam no fantástico cenário da cidade,
antes que, nos pés dormentes dos pedintes,
a cólera lhes acenda brasas nos cinco dedos,
a revolta semeie florestas de gritos
e a raiva vá partir as amarras diárias.


Vem, serenidade,
leva-me num vagão de mercadorias,
num convés de algodão e borracha e madeira,
na hélice emigrante, na tábua azul dos peixes,
na carnívora concha do sono.


Leva-me para longe
deste bíblico espaço,
desta confusão abúlica dos mitos,
deste enorme pulmão de silêncio e vergonha.
Longe das sentinelas de mármore
que exigem passaporte a quem passa.


A bordo, no porão,
conversando com velhos tripulantes descalços,
crianças criminosas fugidas à policia,
moços contrabandistas, negociantes mouros,
emigrados políticos que vão
em busca da perdida liberdade,
Vem, serenidade,
e leva-me contigo.
Com ciganos comendo amoras e limões,
e música de harmônio, e ciúme, e vinganças,
e subindo nos ares o livre e musical
facho rubro que une os seios da terra ao Sol.


Vem, serenidade!
Os comboios nos esperam.
Há famílias inteiras com o jantar na mesa,
aguardando que batam, que empurrem, que irrompam
pela porta levíssima,
e que a porta se abra e por ela se entornem
os frutos e a justiça.


Serenidade, eu rezo:
Acorda minha Mãe quando ela dorme,
quando ela tem no rosto a solidão completa
de quem passou a noite perguntando por mim,
de quem perdeu de vista o meu destino.


Ajuda-me a cumprir a missão de poeta,
a confundir, numa só e lúcida claridade,
a palavra esquecida no coração do homem.


Vem, serenidade,
e absolve os vencidos,
regulariza o trânsito cardíaco dos sonhos
e dá-lhes nomes novos,
novos ventos, novos portos, novos pulsos.


E recorda comigo o barulho das ondas,
as mentiras da fé, os amigos medrosos,
os assombros daÍndia imaginada,
o espanto aprendiz da nossa fala,
ainda nossa, ainda bela, ainda livre
destes montes altíssimos que tapam
as veias ao Oceano.


Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.


E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.


E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome.
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros
na chaminé do sangue.


Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retrácteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.


Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo.


Vem, com teu frio de esquecimento,
com tua alucinante e alucinada mão,
e põe, no religioso ofício do poema,
a alegria, a fé, os milagres, a luz!


Vem, e defende-me
da traição dos encontros,
do engano na presença de Aquele
cuja palavra é silêncio,
cujo corpo é de ar,
cujo amor é demais
absoluto e eterno
para ser meu, que o amo.


Para sempre irreal,
para sempre obscena,
para sempre inocente,
Serenidade, és minha.


Raul de Carvalho

Raul de Carvalho morreu há 27 anos

(imagem daqui)

Nome: Raul Maria Penedo de Carvalho
Nascimento: 4-9-1920, Alvito
Morte: 3-9-1984, Porto

Poeta português, nasceu a 4 de Setembro de 1920, no Alvito, Alentejo, e morreu a 3 de Setembro de 1984, no Porto. Colaborou, nos anos 40, em Cadernos de Poesia, revelando-se com a publicação de As Sombras e as Vozes, ainda próximo de uma poesia tradicional a que não é alheio o influxo neo-realista. Co-dirigiu, com os poetas António Luís Moita, António Ramos Rosa, José Terra e Luís Amaro, entre 1951 e 1953, a revista Árvore, subscrevendo, no n.° 1, em "A Necessidade da Poesia", como imperativos da escrita poética, a liberdade e a isenção ("Não pode haver razões de ordem social que limitem a altitude ou a profundidade dum universo poético, que se oponham à liberdade de pesquisa e apropriação dum conteúdo cuja complexidade exige novas formas, o ir-até-ao-fim das possibilidades criadoras e expressivas."). É durante esta década que Raul de Carvalho escreve ou publica alguns dos seus títulos mais significativos, recebendo, como reconhecimento da sua actividade, em 1956, o Prémio Simon Bolivar no Concurso Internacional de Poesia de Siena. Colaboraria ainda em Cadernos do Meio-Dia, num itinerário poético de cerca de quarenta anos, permeável por vezes a um imediatismo, herdado de Campos ou Whitman, e onde ecoam "os sinais de um doloroso percurso pessoal" (cf. FERREIRA, Serafim - "Nos Oitenta Anos do Nascimento de Raul de Carvalho", in A Página da Educação, n.° 94, Setembro de 2000). Para Eduardo Lourenço, "a outra metade da inesgotável imagem de Campos, recriação e aprofundamento original de uma similar sensibilidade, revive na obra de Raul de Carvalho, um dos mais autênticos e puros poetas do seu e nosso tempo. A torrente admirável do seu lirismo encobre um pouco o secreto gesto que nela está empurrando sem cessar a solidão do Homem para um ponto que fica algures no universo. Na sua poesia se unificam e resgatam até os bocados que havia a mais na jarra definitivamente partida de Pessoa." (LOURENÇO, Eduardo - Tempo e Poesia, Ed. Inova, Porto, 1974, p. 219).

Há 253 anos, um ataque ao Rei de Portugal deu origem ao processo dos Távoras

 Atentado a D. José

Na noite de 3 de Setembro de 1758, D. José I seguia incógnito numa carruagem que percorria uma rua secundária nos arredores de Lisboa. O rei regressava para as tendas da Ajuda de uma noite com a amante. Pelo caminho, a carruagem foi interceptada por três homens, que dispararam sobre os ocupantes. D. José I foi ferido num braço, o seu condutor também ficou ferido gravemente, mas ambos sobreviveram e regressaram à Ajuda.
Sebastião de Melo tomou o controle imediato da situação. Mantendo em segredo o ataque e os ferimentos do rei, ele efectuou julgamento rápido. Poucos dias depois, dois homens foram presos e torturados. Os homens confessaram a culpa e que tinham tido ordens da família dos Távoras, que estavam a conspirar pôr o duque de Aveiro, José Mascarenhas, no trono. Ambos foram enforcados no dia seguinte, mesmo antes da tentativa de regicídio ter sido tornada pública. Nas semanas que se seguem, a marquesa Leonor de Távora, o seu marido, o conde de Alvor, todos os seus filhos, filhas e netos foram encarcerados. Os conspiradores, o duque de Aveiro e os genros dos Távoras, o marquês de Alorna e o conde de Atouguia foram presos com as suas famílias. Gabriel Malagrida, o jesuíta confessor de Leonor de Távora foi igualmente preso.
Foram todos acusados de alta traição e de regicídio. As provas apresentadas em tribunal eram simples: a) As confissões dos assassinos executados, b) A arma do crime pertencia ao duque de Aveiro e c) O facto de apenas os Távoras poderem ter sabido dos afazeres do rei nessa noite, uma vez que ele regressava de uma ligação com Teresa de Távora, presa com os outros. Os Távoras negaram todas as acusações mas foram condenados à morte. Os seus bens foram confiscados pela coroa, o seu nome apagado da nobreza e os brasões familiares foram proibidos. A varonia Távora e morgadio foram então transferidos para a casa dos condes de São Vicente.
A sentença ordenou a execução de todos, incluindo mulheres e crianças. Apenas as intervenções da Rainha Mariana e de Maria Francisca, a herdeira do trono, salvaram a maioria deles. A marquesa, porém, não seria poupada. Ela e outros acusados que tinham sido sentenciados à morte foram torturados e executados publicamente em 13 de Janeiro de 1759 num descampado, perto de Lisboa, próximo à Torre de Belém.