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domingo, dezembro 17, 2023

Notícia interessante sobre património arqueológico português...

25 anos depois, o “Menino do Lapedo” vai ou não ser mostrado ao público?

     

Menino de Lapedo (conceito artístico)

 

Vinte e cinco anos depois da sua descoberta, o esqueleto do “Menino do Lapedo”, a criança neandertal portuguesa descoberta em 1998, permanece depositado no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa — e está por decidir se algum dia será exposto ao público.

No Lagar Velho, no vale do Lapedo, a cerca de 150 km de Lisboa, foi descoberto em 1998 o esqueleto conhecido como Menino do Lapedo - o esqueleto português que sugere que neandertais e humanos se cruzaram.

Com cerca de 4 anos, a criança foi enterrada neste local há cerca de 29 mil anos.

Na altura da descoberta, algo diferente no seu corpo chamou a atenção dos arqueólogos que começaram a escavar o sítio arqueológico.

“Havia algo estranho na anatomia da criança. Quando encontramos a mandíbula, sabíamos que seria um humano moderno, mas quando expusemos o esqueleto completo […] vimos que tinha as proporções corporais de um Neandertal”, explica João Zilhão, arqueólogo e líder da equipa que trabalhou na descoberta.

A única coisa que poderia explicar essa combinação de características é que a criança era, de facto, evidência de que os neandertais e os humanos modernos se cruzaram”.

Mas a teoria do cientista português provocou então uma revolução nos estudos evolutivos, e imortalizou o Menino de Lapedo — que está depositado, desde então, nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia (MNA).

Agora, no âmbito das comemorações dos 25 anos da descoberta, o MNA organizou uma visita ao esqueleto.

O MNA está encerrado ao público há mais de um ano, para remodelação no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas algumas das obras e coleções, como o esqueleto do “Menino do Lapedo”, e laboratórios estão depositados em oito contentores climatizados, numa área ao ar livre do edifício.

Na visita conduzida pelo diretor do MNA, António Carvalho, foi possível ver as caixas onde estão colocadas as dezenas de fragmentos e ossos da “Criança do Lapedo”, com cerca de 29.000 anos, classificados como tesouro nacional.

A descoberta marcou a paleoantropologia internacional, por se tratar do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica e porque a criança apresenta traços de ‘Neandertal’ e de ‘homo sapiens‘.

Questionado pela Lusa, António Carvalho disse que ainda está a ser debatido, e não há uma decisão tomada, sobre o futuro deste achado arqueológico: se permanecerá nas reservas do museu nacional, se poderá integrar a exposição permanente quando reabrir, ou se regressará ao sítio arqueológico, classificado como monumento nacional.

“No quadro da intervenção do museu certamente que esta questão e outras vão ser debatidas, porque é normal. Um museu que depois se oferece com todas as condições de conservação e de alguma projeção das suas reservas que vá ser objeto de reflexão, se se vão juntar determinados bens arqueológicos”, disse.

“Até para respeitar um princípio legal que é a da não-dispersão dos bens arqueológicos. Vamos ver”, detalhou António Carvalho.

Presente na visita, a antropóloga Cidália Duarte, que em 1998 fez parte da equipa de escavações, e que atualmente ainda trabalha no projeto de conservação, falou na “enorme responsabilidade” em lidar com este tesouro nacional.

“É uma descoberta tão importante que é uma responsabilidade que recai em cima de nós se isto se deteriora por alguma ação que queiramos fazer. Já o imaginei exposto de várias maneiras, mas eu tenho receio, todos nós temos de tratar dessa memória para o futuro”, acrescentou a antropóloga.

A antropóloga recordou que o esqueleto só esteve uma vez exposto ao público, numa exposição temporária, na Alemanha, no âmbito da exposição de 2011 que assinalou os 150 anos da descoberta do Homem de Neandertal nesse país.

A visita realizada esta quinta-feira é uma das várias iniciativas que assinalam os 25 anos da descoberta do Menino do Lapedo — agora também conhecido como a “Criança do Lapedo”.

O programa prolongar-se-á até ao final de 2024 e “inclui conferências, conversas, mesas-redondas, exposições, residências artísticas, publicações, em vários formatos, percursos pedestres e atividades performativas e educativas, de distintas naturezas”, anunciou a Câmara de Leiria.

 

 

in ZAP

 

sábado, março 18, 2023

sábado, janeiro 09, 2010

Notícia sobre o Menino do Lapedo

Dentes do menino do Lapedo são "pouco modernos"

A análise aos dentes do menino do Lapedo aproximam este exemplar de hominídeo do Paleolítico Superior encontrado em Dezembro de 1998, em Leiria, mais dos Neandertais do que dos homens modernos.


É esta a conclusão de um artigo publicado esta semana na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS), e assinado por uma equipa internacional de que fazem parte os investigadores portugueses João Zilhão e Cidália Duarte, a par com o especialista norte-americano Erik Trinkaus, da Universidade de Washington.

Tanto Zilhão como Trinkaus protagonizaram desde o achado do Lapedo uma acesa discussão na comunidade científica internacional ao defenderem que a criança provava que Neandertais e os primeiros homens modernos não só coexistiram como procriaram. E que aquele achado era a prova disso.

Do outro lado da barricada estão outros nomes sonantes da arqueologia, como os espanhóis Juan Luis Arsuaga, co-director de investigação da importante jazida fóssil da serra de Atapuerca, em Espanha, e Carles Lalueza-Fox, da Universidade de Barcelona, que afirmam que, mesmo sendo mestiça, a criança do Lapedo não prova nada em relação à evolução do homem moderno. E continuam a acreditar que os Cro-Magnons, os primeiros homens modernos, substituíram por completo os Neandertais, sem miscigenação. A revista PNAS foi, aliás, palco da publicação de vários artigos sobre este lado da discussão.

Mas Zilhão e Trinkaus voltam agora ao ataque: "Esta nova análise dos dentes da criança do Abrigo do Lagar Velho [sítio onde foi encontrado] traz um conjunto de informação nova e mostra que estes primeiros homens modernos não eram tão modernos como isso", diz João Zilhão. A equipa descreve que os dentes da frente da criança eram muito subdesenvolvidos para serem considerados de um homem moderno. E que tinham uma formação diferente da dos homens modernos, com mais dentina, o tecido logo abaixo do esmalte do dente, e com mais polpa, a parte nervosa responsável pela nutrição do dente. Tinham também muito menos esmalte.

"O estudo confirma que a anatomia da criança do Lagar Velho, nomeadamente a dentição, não coincide com os primeiros ou com os mais recentes homens modernos e só se encontra entre os Neandertais", insistem os investigadores.

A criança do Lapedo, que teria quatro a cinco anos à altura da morte, datada de há 30 mil anos, é um tesouro para a arqueologia na medida em que tem 90 por cento do esqueleto intacto. A análise aos dentes foi feita com recurso a microtomografia e reconstrução tridimensional, diz a equipa no artigo.

Adornos milenares

No mesmo número da PNAS, João Zilhão assina um segundo artigo sobre um tema que tem fascinado a arqueologia: quando é que a humanidade começou a usar adornos, jóias e maquilhagem?

Em 2006, uma equipa britânica descobriu na Argélia vestígios de conchas para fazer colares com 100 mil anos.

Mas Zilhão afirma neste novo artigo que estas manifestações de pensamento simbólico eram partilhadas com os Neandertais chegados à Europa, depois de ter descoberto vestígios de adornos e de pigmentação para uso ornamental numa jazida espanhola datada de há 50 mil anos.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Novo Museu em Leiria...?!?

Esqueleto de uma criança com cerca de 25 mil anos
Arqueologia: "Menino do Lapedo" regressa a Leiria em 2010
04.01.2009 - 11h21 Lusa


O "Menino do Lapedo", o esqueleto de uma criança com cerca de 25 mil anos descoberto há uma década em Santa Eufémia, Leiria, deve regressar ao concelho em 2010, quando estiver concluído o Museu de Arqueologia.


"Esperamos, com a criação do Museu de Arqueologia, que deve estar pronto no final de 2010, ter as condições para receber o 'Menino do Lapedo'", revelou o vereador com o pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Leiria, Vítor Lourenço.

O museu, cujo investimento previsto é de 2,3 milhões de euros, ficará instalado no Convento de Santo Agostinho, na cidade de Leiria, e "vai ter o 'Menino do Lapedo' como peça principal", garantiu o autarca, que reconheceu: "Sem ele não faria sentido inaugurar o espaço". "Não queremos levar a réplica", ironizou ainda Vítor Lourenço, lembrando que o achado está "à guarda do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico".

A réplica é a maior atracção do Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho, que completa amanhã o primeiro aniversário sobre a inauguração em Santa Eufémia, próximo do sítio arqueológico com o mesmo nome, onde foi encontrada a primeira sepultura do Paleolítico Superior na Península Ibérica.

Até à passada sexta-feira, o centro recebeu "cerca de cinco mil visitantes", adiantou o vereador da Câmara Municipal de Leiria, que se afirmou "muito satisfeito" com os números.

O autarca destacou que o centro é visitado por um grande número de alunos, mas também por pessoas interessadas no estudo do património arqueológico e natural do Vale do Lapedo.

Além de um espaço dedicado ao "Menino do Lapedo", o centro faz a contextualização do achado, podendo-se observar objectos que explicam a história de há 25 mil anos.

O visitante é ainda "atraído" ao património natural do Vale do Lapedo.

Entretanto, Vítor Lourenço não esconde o desejo de ver o sítio arqueológico Abrigo do Lagar Velho classificado como monumento nacional, admitindo mesmo que tal possa estar "para breve". "Todo o trabalho que sistematiza a decisão está feito", referiu o responsável, destacando que a eventual classificação "vem confirmar a importância do achado".

Por outro lado, lembrou a sua "importância para a protecção do local", como para continuar a potenciar os "trabalhos de investigação no vale", que definiu como "um pequeno 'Canyon' geológico".

O vice-presidente da Câmara Municipal de Leiria apontou a hipótese de classificação também como uma forma de potenciar a candidatura do Vale do Lapedo a Património Mundial da UNESCO. Lembrou, contudo, que este é um "trabalho moroso", apontando a necessidade de primeiro "desenvolver mais conhecimentos" da zona, não apenas do ponto de vista arqueológico como natural.

Antes, vai nascer um centro de apoio aos trabalhos arqueológicos no vale, a instalar numa escola do primeiro ciclo desactivada na freguesia de Santa Eufémia, assim como um centro de investigação em arqueologia no futuro museu, adiantou Vítor Lourenço.

Este centro de investigação pretende ser o "motor" dos trabalhos a desenvolver no Vale do Lapedo, esclareceu Vítor Lourenço, justificando a importância do investimento: "O nosso ouro negro é o património arqueológico".

in Público -ler notícia (foto Fernando Martins)