A
Revolta de Haymarket foi um conflito que eclodiu após a
explosão de uma bomba numa manifestação em prol da jornada de oito
horas de trabalho, em 4 de maio de 1886, na
Haymarket Square, em
Chicago, nos
Estados Unidos.
Durante a manifestação, inicialmente pacífica, uma bomba rebentou junto
ao local onde os polícias estavam posicionados, matando um e ferindo
outros sete. A polícia imediatamente reagiu, abrindo fogo contra os
manifestantes numa ação que resultou em dezenas de feridos, quatro
mortos e mais de cem manifestantes presos.
Nos processos que se seguiram, oito anarquistas foram acusados de
conspiração, sob a acusação de que um deles teria fabricado a bomba
lançada contra os polícias, embora não houvesse provas concretas contra
os réus.
Sete deles foram condenados à morte, e o outro foi condenado a 15 anos
de prisão. A pena de morte de dois réus foi comutada em pena de prisão
perpétua pelo governador de Illinois Richard J. Oglesby,
e um deles suicidou-se na prisão. Os outros quatro acusados foram
enforcados, em 11 de novembro de 1887. Em 1893, os réus sobreviventes
foram perdoados pelo novo governador de Illinois, John Peter Altgeld, que também criticou duramente o julgamento dos réus.
Contexto histórico
Após a Guerra de Secessão, mais especificamente após a Depressão de 1873,
houve uma rápida expansão da produção industrial nos Estados Unidos.
Chicago era um importante centro industrial e centenas de emigrantes germânicos
foram empregados ganhando $ 1,50 dólares por dia. Os trabalhadores
americanos tinham uma jornada de pouco mais de 60 horas semanais,
trabalhando 6 dias por semana. A cidade tornou-se palco para várias
tentativas de organização sindical, exigindo melhorias nas condições de
trabalho. Empregadores reagiam com medidas anti-sindicais, demitindo e
"marcando" participantes, bloqueando empregados (tática que consiste em
trancar trabalhadores do lado de fora do local de trabalho, impedindo-os
de trabalhar), recrutando fura-greves; contratando espiões, criminosos e
segurança privada e incitando conflitos étnicos numa tentativa de
desunir os trabalhadores. Os jornais locais apoiavam os interesses
burgueses e se opunham aos media sindicais e imigrantes. Durante o
abrandamento económico entre 1882 e 1886, organizações anarquistas e
socialistas estiveram ativas. A organização sindical " Knights of Labor"
("Cavaleiros do Trabalho"), que rejeitava o socialismo e radicalismo,
mas apoiava a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, teve
um aumento de 70 mil associados em 1884 para mais de 700 mil em 1886. O
movimento anarquista em Chicago, composto por milhares de trabalhadores
(na sua maioria imigrantes), centrava-se sobre o jornal de língua alemã
"Arbeiter-Zeitung" ("Times Workers"), editado por August Spies. Outros
anarquistas construíam uma militância revolucionária armada. Sua
estratégia revolucionária era guiada pela crença de que operações bem
sucedidas contra a polícia e a tomada dos meios de produção em
importantes centros industriais resultariam num apoio em massa dos
trabalhadores, sendo o início de uma revolução e a consequente queda do
capitalismo para a instauração de uma economia socialista.
Desfile e greves do Primeiro de MaioEm
outubro de 1884, uma convenção presidida pela Federação de Ofícios e
Sindicatos Organizados decidiu por unanimidade que o dia 1 de maio de
1886 seria a data em que a jornada de 8 horas diárias se tornaria
padrão. Com a proximidade da data escolhida, os sindicatos
norte-americanos organizaram uma greve geral em apoio à causa.
No dia 1 de maio, milhares de trabalhadores entraram em greve e
saíram às ruas por todo o país, com o lema "Oito horas por dia sem
cortes no pagamento" ("Eight-hour day with no cut in pay"). As
estimativas do número de grevistas variam de 300 mil a meio milhão.
Estima-se que em Nova Iorque o número de manifestantes chegava a 10 mil e
em Detroit, 11 mil. Em Milwaukee, Winsconsin, foram cerca de 10 mil. Em
Chicago, o centro do movimento, a estimativa é de 30 mil a 40 mil
grevistas, e havia talvez o dobro de pessoas nas ruas participando dos
atos e protestos em forma de apoio, como por exemplo uma passeata de 10
mil empregados dos estaleiros de Chicago. Embora os participantes
desses eventos tenham somado até 80 milhares de pessoas, é discutido se
houve uma marcha desse número na Avenida Michigan, liderada pelo
anarquista Albert Parsons, fundador da Associação Internacional de Trabalhadores (International Working People's Association [IWPA]), sua esposa Lucy Parsons e seus filhos.