Pode-se resumir brevemente sua atuação dizendo que foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de
1822 a julho de
1823. De início, colocou-se em apoio à regência de
D. Pedro de Alcântara. Proclamada a
Independência, organizou a ação militar contra os focos de resistência à separação de
Portugal, e comandou uma política centralizadora. Durante os debates da
Assembleia Constituinte, deu-se o rompimento dele e de seus irmãos
Martim Francisco Ribeiro de Andrada e
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva com o imperador. Em
16 de julho de 1823, D. Pedro I demitiu o ministério e José Bonifácio passou à oposição. Após o fechamento da Constituinte, em
11 de novembro de 1823, José Bonifácio foi banido e se exilou na
França por seis anos. De volta ao Brasil, e reconciliado com o imperador, assumiu a
tutoria de
seu filho quando Pedro I abdicou, em
1831. Permaneceu como tutor do futuro imperador até
1833, quando foi demitido pelo governo da
Regência.
Família
Membro de família da
aristocracia portuguesa, José Bonifácio nasceu nos fins do
século XVIII, em Santos, no litoral da então
Capitania de São Paulo. O pai,
Bonifácio José Ribeiro de Andrada, casado com sua prima Maria Bárbara da Silva,
era a segunda fortuna da cidade, possuidor de bens no valor de
8:000$000. José Ribeiro de Andrada, o avô, casado com Ana da Silva
Borges, pertencia a antiga família portuguesa do
Minho e de
Trás-os-Montes, parente dos condes de Amares e marqueses de Montebelo, ramo dos Bobadelas-Freires de Andrada. Bonifácio José, que morreria em
1789, era considerado ágil, desembaraçado e inteligente. Aumentou sua fortuna na
marinha mercante e ocupou diversos cargos e ofícios. Tinha dois irmãos formados em
Coimbra, e um terceiro irmão era
padre.
Sua mãe, D. Maria Bárbara da Silva, teve dez filhos, quatro mulheres e
seis homens. Seu pai foi seu primeiro mestre, mas em Santos não era
possível ir além do ensino primário. Mudou-se para
São Paulo em
1777.
Estudos
Em São Paulo, frequentou aulas de
gramática,
retórica e
filosofia, nos cursos abertos por Dom Frei
Manuel da Ressurreição, dono também de boa
biblioteca. Era o ensino preparatório para o ingresso na
universidade
em Coimbra, para onde iam os brasileiros com alguns recursos. Tinha 16
anos quando, com seus irmãos Bonifácio José, Antônio Carlos e Martim
Francisco, requereu habilitação
de genere, passo indispensável à carreira eclesiástica. Não havia universidades no Brasil nem qualquer prelo.
Além dos cursos, leu muito. Já versejava, e em uma
ode sua surgem os nomes de
Leibnitz,
Newton e
Descartes. Leu sobretudo
Rousseau e
Voltaire, mas leu também
Montesquieu,
Locke,
Pope,
Virgílio,
Horácio e
Camões, e indignou-se contra o "mostro horrendo do
despotismo". Seus versos apelavam para as promessas da independência recém-proclamada dos
Estados Unidos. Ainda estudante, cuidou de duas questões por cuja solução em vão se empenharia mais tarde: a
civilização dos índios, a
abolição do
tráfico negreiro e da
escravidão dos negros.
Carreira científica
Cedo demonstrou vocação para as pesquisas científicas. A exploração de
minas conhecia um auge considerável com o crescimento das necessidades ligadas à
revolução industrial. José Bonifácio concluiu, em
16 de junho de
1787, seu curso de Filosofia Natural e, a
5 de julho de
1788, o de Leis. Recebeu em Portugal apoio do
duque de Lafões,
D. João de Bragança, que em
1780 fundara a
Academia das Ciências de Lisboa e, a
8 de julho de
1789 fez, perante o Desembargo do Paço, a leitura que o habilitava a exercer os lugares da
magistratura. Cinco meses antes, em
4 de março, fora admitido como sócio livre da Academia, o que lhe abrira os caminhos de uma carreira de
cientista.
Por temperamento, interessava-se por estudos de que resultassem em
alguma utilidade, colocando a ciência a serviço do aperfeiçoamento
humano. Tinha por divisa:
Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria. Sua primeira memória apresentada à Academia foi
Memória sobre a Pesca das Baleias e Extração de seu Azeite: com algumas reflexões a respeito das nossas pescarias.
Assim, nos meados de 1790, José Bonifácio estava em
Paris na fase inicial da
Revolução Francesa. Cursou, de setembro de 1790 a janeiro de
1791, os estudos de
química e mineralogia e, até abril, aulas na Escola Real de Minas. Seus
biógrafos citam contatos com
Lavoisier,
Chaptal,
Jussieu
e outros. Foi eleito sócio-correspondente da Sociedade Filomática de
Paris e membro da Sociedade de História Natural, para a qual escreveria
uma
memória sobre
diamantes
no Brasil, desfazendo erros. Já não era um simples estudante - começava
a falar com voz de mestre. Partiu depois para aulas práticas na
Saxônia, em
Freiberga, cuja Escola de Minas frequentou em
1792, recebendo dois anos mais tarde um atestado de que havia frequentado um curso completo de
Orictognosia e outro de
Geognosia.
Percebia o atraso de Coimbra em relação a outros centros de estudo na
Europa - a escola de Freiberg marcaria sua orientação. Ali teve como
amigos
Alexander von Humboldt,
Leopold von Buch e
Del Río. Percorreu minas do
Tirol, da
Estíria e da
Caríntia. Foi a
Pavia, na
Itália, ouvir lições de
Alessandro Volta; em
Pádua, investigou a constituição geológica dos
Montes Eugâneos, escrevendo a respeito um trabalho em
1794, chamado
Viagem geognóstica aos Montes Eugâneos. Onde deu completo desenvolvimento a seus estudos foi na
Suécia e na
Noruega, a partir de
1796,
caracterizando em jazidas locais quatro espécies minerais novas e oito
variedades que se incluíam em espécies já conhecidas - a todos esses
minerais descreveu pela primeira vez e deu nome.
Viajou mais de dez anos pela Europa, absorto em seus trabalhos
científicos e, aos 37 anos, era um cientista conhecido e consagrado.
Regressou a Portugal em setembro de
1800. Visitara, além dos países citados, a
Dinamarca, a
Bélgica, os
Países Baixos, a
Hungria, a
Inglaterra e a
Escócia.
Regresso a Portugal
Ocupou a cátedra de
Metalurgia, especialmente criada para ele, na
Universidade de Coimbra, por Carta Régia de
15 de abril de
1801.
Era obrigado a ali permanecer pelo prazo mínimo de seis anos. Foi
nomeado intendente-geral das Minas e Metais do Reino, e membro do
Tribunal de Minas, pela Carta Régia de
18 de maio de
1801, e deveria dirigir as Casas da Moeda, Minas e Bosques de todos os domínios portugueses. Por decreto de
8 de julho de 1801, recebeu o encargo de administrar as antigas minas de
carvão de
Buarcos e restabelecer as abandonadas
fundições de
ferro de
Figueiró dos Vinhos e
Avelar. Por decreto de
12 de novembro de 1801, foi feito diretor do Real Laboratório da
Casa da Moeda de
Lisboa e incumbido de remodelar o estabelecimento; pela Carta Régia de
1º de julho de
1802 recebeu o encargo de superintender e ativar as sementeiras de
pinhais nos areais das costas marítimas; pelo alvará de
13 de julho de
1807, foi nomeado superintendente do
rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra. Mas pouco ou nada pôde levar a cabo, pois tinha de enfrentar a rotina portuguesa, em resistência
"ora passiva a qualquer esforço renovador, ora ativa, insidiosa, mal dissimulando sentimentos subalternos de inveja ou despeito". Lutou em vão contra o desleixo da
administração pública
e não lhe facultaram jamais os recursos indispensáveis ao trabalho. Não
desejou a cátedra e não se sentia com dons de professor. E, em Coimbra,
a reforma do
Marquês de Pombal "não passara afinal de bons propósitos", segundo Octávio Tarquínio de Sousa, pois a universidade não possuía museu científico. Escreveu carta em
1806 ao conde de Linhares em que dizia:
"Estou
doente, aflito e cansado e não posso com tantos dissabores e desleixos.
Logo que acabe meu tempo em Coimbra e obtenha a minha jubilação, vou
deitar-me aos pés de S.A.R. para que me deixe acabar o resto dos meus
cansados dias nos sertões do Brasil, a cultivar o que é meu".
Na Academia Real atingiria o cargo de secretário perpétuo (
1812). Sonhava com uma fábrica de
aço e foi o responsável pela vinda para Portugal, e depois ao Brasil, de
Guilherme von Eschwege, barão e mineralogista.
Integrou o grupo de intelectuais que se reunia em torno de
Domenico Vandelli,
partilhando a visão de que o domínio da natureza era capaz de gerar
riquezas e que, portanto, necessitava ser conhecido e explorado
cientificamente.
Regresso ao Brasil
Retornou ao Brasil em
1819, com 56 anos. Passara trinta anos na Europa e a
colónia agora era
reino unido e a sede da
monarquia. Alguns dos velhos pecados continuavam, e o principal, a seus olhos, era a
escravidão, pois o trabalhador era quase exclusivamente o
negro, e a
economia
se organizara em benefício de uma classe privilegiada. Apontou
imediatamente os pontos necessários a um extenso programa de trabalho:
abolição do
tráfico,
extinção da escravidão, incorporação dos
índios à sociedade,
miscigenação orientada para suprimir choques de
raças e de
classes e de constituir uma "nação homogénea", transformação do regime de propriedade agrária com a substituição do
latifúndio pela
subdivisão de terras, preservação e renovação das
florestas, localização adequada das novas vilas, aproveitamento e distribuição das águas e exploração das minas.