terça-feira, outubro 09, 2018

O Papa Pio XII morreu há sessenta anos

Papa Pio XII (em italiano: Pio XII, em latim: Pius PP. XII; O.P., nascido Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli; Roma, 2 de março de 1876 - Castelgandolfo, 9 de outubro de 1958) foi eleito Papa no dia 2 de março de 1939 até a data da sua morte. Foi o primeiro Papa Romano desde 1724.
Foi o único Papa do século XX a exercer o Magistério Extraordinário da Infalibilidade papal – invocado por Pio IX – quando definiu o dogma da Assunção de Maria em 1950, na sua encíclica Munificentissimus Deus. A sua ação durante a Segunda Guerra Mundial tem sido alvo de debate e polémica devido a sua posição papal de imparcialidade, com relação ao conflito. Ao todo criou 57 cardeais em dois consistórios.
   
Início
Pacelli, primogénito de família da nobreza italiana, era neto de Marcantonio Pacelli, que foi subsecretário do Ministério das Finanças Papais e foi secretário do Interior, no pontificado de Pio IX, de 1851 a 1870, e foi o fundador do jornal oficial do Vaticano, L'Osservatore Romano, em 1861. O seu pai, Filippo Pacelli (1837-1916), é advogado da Rota Romana e depois advogado consistorial, mostra-se desfavorável à integração dos Estados Papais no Reino da Itália. A sua mãe, Virgínia Graziozi (1844-1920) vem de uma família distinguida pelos seus serviços prestados à Santa Sé. Finalmente, o seu irmão, Francesco Pacelli, médico e advogado, doutor em direito canónico na Santa Sé, será um dos negociadores dos acordos de Latrão, em 1929.
Eugenio Pacelli foi educado no Liceu Visconti, uma instituição pública. Em 1894 começou a estudar Teologia na Universidade Gregoriana, como pensionista do Colégio Capranica. De 1895 a 1896, faz um ano de filosofia na Universidade La Sapienza de Roma. Em 1899, ingressa no Instituto Apollinare da Pontifícia Universidade Lateranense, onde obteve três licenças, uma de teologia e outro em utroque jure (em "dois direitos", isto é, direito civil e direito canónico). No seminário, por motivos de saúde, é autorizado a pernoitar na casa dos pais. Iniciou os seus trabalhos apostólicos na igreja de Santa Maria Vallicella, integrando um grupo de jovens. Foi ordenado sacerdote a 2 de abril de 1899 pelo bispo Monsenhor Francesco di Paola Cassetta, um amigo da família.
   
Serviço na Cúria
Depois de dois anos como cura da Chiesa Nuova, onde fora sacristão, em 1901, ingressou na Congregação dos Assuntos Eclesiásticos Extraordinários, responsável pelas relações internacionais do Vaticano, por recomendação do cardeal Vincenzo Vannutelli. Pacelli assistiu ao conclave de agosto de 1903, quando vê um Imperador, Francisco José I da Áustria, opor pela última vez um "veto" à eleição de um cardeal a papa, que seria contra o Cardeal Rampolla.
Em 1904, foi nomeado pelo Cardeal Pietro Gasparri secretário da Comissão para a codificação do direito canónico, tornou-se também "Camareiro" de sua Santidade, sinal de confiança do papa. Publicou um estudo sobre "A Personalidade e territorialidade das leis, especialmente no direito canónico", em seguida, publicou um "Livro Branco" sobre "A separação entre Igreja e Estado na França". Pacelli declina do convite para lecionar em inúmeras cadeiras de Direito Canónico, bem como no "Apollinaire" e na Universidade Católica de Washington. Aceita, no entanto, ensinar na Pontifícia Academia Eclesiástica, sementeira da Cúria Romana. Em 1905, foi promovido a "prelado doméstico" de Sua Santidade.
Foi escolhido pelo papa Leão XIII para apresentar as condolências em nome do Vaticano a Eduardo VII do Reino Unido pela morte da Rainha Vitória. Em 1908 representou o Vaticano no Congresso Eucarístico Internacional em Londres onde esteve com Winston Churchill. Em 1911, representou a Santa Sé nas cerimónias de coroação de George V e foi nomeado Sub-secretário para Assuntos Eclesiásticos Extraordinários; em 1912, foi nomeado Secretário-Adjunto e passou a Secretário em 1 de fevereiro de 1914, sucedendo a Gasparri, que fora nomeado Secretário de Estado.
É mantido neste posto durante todo pontificado de Bento XV, como secretário conclui a concordata com governo da Sérvia quatro dias antes (24 de junho de 1914) do assassinato do Arquiduque da Áustria Francisco Ferdinando em Sarajevo, em seguida assume a missão de promover a política papal durante a Primeira Guerra Mundial, em particular, ela visa dissuadir a Itália para ir à guerra.
Em 1915, viaja para Viena e trabalha em colaboração com Monsenhor Scapinelli di Leguigno, então núncio apostólico em Viena, para convencer o Imperador Francisco José a ser mais paciente nas suas relações com a Itália. Desta forma, a Itália, não faria guerra contra os Impérios Centrais (Áustria-Hungria e Alemanha).
   
Núncio Apostólico
Foi nomeado Núncio Apostólico na Baviera pelo Papa Bento XV a 20 de abril de 1917,  sendo três dias depois nomeado arcebispo in partibus de Sardes, a sua ordenação ´feita na Capela Sistina, pessoalmente pelo próprio papa, no dia 13 de maio de 1917, data da primeira aparição da Virgem de Fátima, em plena Primeira Guerra Mundial. Começa o trabalho no momento da receção da nota de 1 de agosto de 1917, de Bento XV, trabalhará tendo a paz e o auxílio às vítimas do conflito como principal objetivo, mas só obtém resultados decepcionantes. Esforça-se por conhecer bem a Igreja Católica na Alemanha, visita as dioceses e frequenta os principais eventos católicos como o Katholikentag. Tomou ao seu serviço a alemã irmã Pasqualina, que se tornou a sua governanta até final de sua vida.
Desde 1919, a Nunciatura na Baviera foi reconhecida como competente para toda a Alemanha. Em 23 de junho de 1920 é criada uma nunciatura na Alemanha (República de Weimar) e Pacelli é então acreditado em Berlim, ao mesmo tempo que recebe a Nunciatura da Prússia, tarefa que desempenhou até 1929. Nesta época toma conhecimento das discussões entre o Vaticano e a União Soviética. Em 1926, ordena bispo o jesuíta D'Herbigny, encarregado de constituir um clero na Rússia. As tentativas de negociação do Núncio em Berlim com emissários soviéticos, com a finalidade de garantir condições mínimas de sobrevivência para a Igreja na União Soviética, que tiveram início em 1924, prolongaram-se por mais de três anos e resultaram em insucesso.
Para regularizar as relações da Santa Sé com outros Estados e defender as atividades católicas nestes países, exerce uma atividade diplomática intensa, assistiu e assinou várias concordatas com vários Estados: Letónia em 1922, Baviera em 1924, Polónia em 1925, Roménia em 1927, Prússia em 1929. Tais concordatas permitiam a Igreja Católica organizar grupos de jovens, fazer nomeações eclesiásticas, construir e manter escolas, hospitais e instituições de caridade, ou mesmo realizar serviços religiosos. Também asseguravam que o direito canónico seria reconhecido dentro de algumas áreas (por exemplo, decretos da Igreja na área de nulidade do casamento, etc.).
   
Cardeal Secretário de Estado
Exerce a nunciatura na Alemanha até ser elevado a cardeal, em 16 de dezembro de 1929 pelo Pio XI, com o título de Cardeal-presbítero de "São João e São Paulo". Em 8 de fevereiro de 1930 é nomeado Secretário de Estado - por coincidência no mesmo dia que, em 1901, sem ter completado ainda vinte e cinco anos, atravessou pela primeira vez os umbrais da Secretaria de Estado - o cardeal Pacelli recebeu da Bulgária votos especiais, formulados por um idoso monge que invocava para ele a docilidade de David e a sabedoria de Salomão, quem escrevia ao futuro Papa Pio XII era aquele que lhe sucederia com o nome de João XXIII.
Por nove anos foi fiel e principal colaborador de Pio XI, numa época marcada pelo totalitarismo: os fascistas, nazistas e os comunistas soviéticos foram condenados, respectivamente, nas encíclicas Non abbiamo bisogno, Mit Brennender Sorge (Com profunda preocupação) e Divini Redemptoris e pela encíclica Firmissimam constantiam criticou as sangrentas perseguições do laicismo maçónico contra os católicos do México.
Juntamente com os Cardeais alemães Adolf Bertram, Michael von Faulhaber e Karl Joseph Schulte e os dois bispos alemães mais contrários ao regime, Clemens von Gallen e Konrad von Preysing e com a intervenção decidida do Cardeal Pacelli e dos seus auxiliares alemães Mons. Ludwig Kaas e dos jesuítas Robert Leiber e Augustin Bea chegou-se à encíclica Mit brennender Sorge que, ainda em 1937, condenou os erros dos nazis e da sua ideologia racista e pagã.
Em 1935 foi nomeado Cardeal Camerlengo. Promove, ainda, a celebração de concordatas com a Áustria (1933), Alemanha (1933), Jugoslávia (1935) e Portugal (Concordata entre a Santa Sé e Portugal, em 1940). Fez ainda visitas diplomáticas na Europa e América, incluindo uma longa visita aos Estados Unidos em 1936, onde se encontrou com Charles Coughlin e Franklin D. Roosevelt, que enviou interlocutores à Santa Sé em dezembro de 1939, para restabelecer relações diplomáticas que haviam sido rompidas desde 1870, quando o papa havia perdido o poder temporal. Os tratados de Latrão de 1929 foram concluídos antes de Pacelli se tornar o Secretário de Estado.
Em abril de 1935, em resposta à nota da Embaixada da Espanha do dia 15 comunicando a proclamação da República naquele país, o Cardeal Secretário de Estado, depois de ouvida a Congregação para os Assuntos Eclesiásticos Extraordinários e obtida a aprovação de Pio XI, emitiu nota diplomática do seguinte teor: A Santa Sé - disse Pacelli - toma em consideração esta comunicação. Ela está disposta a secundar o Governo provisório na obra de manutenção da ordem, confiante de que também o Governo por seu lado respeitará os direitos da Igreja e dos católicos numa nação na qual a quase totalidade da população professa a Religião católica. Esta nota diplomática foi o ato formal de reconhecimento por parte da Santa Sé do Governo provisório da Segunda República espanhola.
Ainda em 1935, a 6 de dezembro, recebe o hábito dominicano, tornando-se membro da Ordem Terceira de São Domingos, em virtude da sua grande «grande admiração pela doutrina e santidade dos exímios doutores da Ordem, Tomás de Aquino e Alberto Magno, tomou para a sua vida dominicana o nome de ambos, querendo ficar-se chamando «Tomás-Alberto».
O Arquivo Secreto do Vaticano publicou em 2010 I "flogli di udienza" del cardinale Eugenio Pacelli segretario di Stato. Pacelli, durante o período que vai de 8 de fevereiro de 1930 a 10 de fevereiro de 1939 começou a tomar notas dos encontros com o Papa Pio XI, e depois também daqueles com os diplomatas e eclesiásticos, com uma frequência que se manteve quase quotidiana durante um decénio, até poucas horas antes da morte de Pio XI. Estas anotações foram conservadas pelo autor depois da eleição papal, contendo 2.627 folhas e documentam 1.956 audiências. São apontamentos destinados ao trabalho da Secretaria de Estado e da Cúria Romana e eram até agora uma fonte desconhecida de interesse para a história contemporânea.
   
Eleição - o conclave
Em 2 de março de 1939, quando já se podia antever a nova conflagração mundial, no dia de seu 63.º aniversário, na terceira votação, Pacelli tornou-se o primeiro Secretário de Estado, desde o Papa Clemente IX, em 1667, a ser eleito Papa; escolheu o nome de Pio XII, na continuidade do pontificado precedente, Pacelli foi ainda o primeiro Camerlengo desde Leão XIII em 1878, o primeiro membro da Cúria desde o Papa Gregório XVI (1831), e o primeiro romano desde o Papa Clemente X, em 1670, a ser eleito papa.

Opus iustitiae pax
  
O Papa e a Guerra
Nomeou seu Secretário de Estado o cardeal Maglione, antigo núncio em Paris. Evitar a guerra a todo custo foi a sua primeira preocupação. Pode-se dizer que Pio XII foi um dos principais protagonistas daqueles dias tão carregados de tragédia, porque procurou, com todas as suas forças, evitar a guerra. Tendo adquirido uma grande experiência diplomática, tem ciência de que o espera um dos mais agitados períodos da história.
Na sua primeira intervenção radiofónica com a mensagem Dum gravissimum, em 3 de março de 1939, manifesta preocupação pelo quanto se temia então: "Nestas ansiosas horas, enquanto muitas dificuldades parecem se opor à realização da verdadeira paz, que é a mais profunda aspiração de todos, levamos nossa suplica a Deus, uma oração especial por todos aqueles que têm a maior honra e o enorme peso de guiar o povo no caminho da prosperidade e do progresso civil." Em maio envia, sem sucesso, aos governos do Reino Unido, França, Polónia, Alemanha e Itália uma proposta para resolver, mediante uma reunião conjunta, os problemas inerentes à comprometida estabilidade política.
Dirigiu por rádio um novo apelo à paz no mundo: Iminente é o perigo, mas ainda é tempo. Nada é perdido com a paz. Tudo pode ser [perdido] com a guerra, era o seu brado naquela mensagem de rádio profética de 24 de agosto de 1939, a uma semana do início do conflito.
Em 20 de outubro de 1939 publica a sua primeira encíclica: Summi Pontificatus, em que exprime a sua angústia pelo sofrimento que cai sobre os indivíduos, famílias e toda a sociedade. Diz que a "hora das trevas" caiu sobre a humanidade, convida a todos a orar "para que a tempestade se acalme e sejam banidos os espíritos de discórdia que levaram a tão sangrento conflito." Recorre com frequência ao meio radiofónico para promover as suas mensagens, o mais moderno de comunicação de massa na época, são perto de duzentas mensagens radiodifundidas e dirigidas ao mundo em várias línguas, além de seus escritos.
Na noite de Natal de 1942, condenou a perseguição judia, na sua famosa alocução de Natal. Igualmente, em 1943 pronunciou um importante discurso aos cardeais, em que reafirmou a sua condenação da política alemã. Como Bispo de Roma entrou pessoalmente, em julho e agosto de 1943, nos populosos bairros de São Lourenço e São Giovanni para trazer conforto para as vítimas dos bombardeamentos anglo-americanos.
Quando, em 10 de setembro de 1943 os nazis invadiram Roma, o Papa abriu a Santa Sé aos refugiados, estimando-se que tenha concedido a cidadania do Vaticano a entre 800.000 e 1.500.000 de pessoas, e nos meses em que Roma se encontrava sob ocupação alemã, Pio XII instruiu o clero italiano sobre como salvar vidas usando de todos os meios possíveis. Cento e cinquenta e cinco conventos e mosteiros em Roma deram asilo a aproximadamente cinco mil judeus. Pelo menos três mil encontraram refúgio na residência de verão do pontífice, em Castel Gandolfo. Sessenta judeus viveram por nove meses dentro da Universidade Gregoriana e muitos foram escondidos no subsolo do Pontifício Instituto Bíblico. Seguindo as instruções de Pio XII, muitos padres, monges, freiras, cardeais e bispos italianos empenharam-se para salvar milhares de vidas judias. O cardeal Boetto, de Génova, salvou pelo menos oitocentas vidas. O bispo de Assis escondeu trezentos judeus durante mais de dois anos. O bispo de Campagna e dois seus familiares salvaram outros 961 em Fiume.
Hitler ameaçou sequestrar Pio XII. O general Karl Otto Wolff, das SS, recebeu ordem para ocupar o mais rapidamente possível o Vaticano, garantir a segurança dos arquivos e dos tesouros artísticos, e "transferir" (ou seja, sequestrar) o Papa, juntamente com a Cúria, para que não caíssem nas mãos dos Aliados e exercessem influência política. De acordo com historiadores, Hitler ordenou o sequestro porque ele tinha medo da possibilidade de Pio XII aumentar e agravar as suas críticas à perseguição judia levada a cabo pelos nazis. Ele também tinha medo de que a oposição de Pio XII pudesse inspirar mais resistência e oposição à ocupação alemã na Itália e em outros países católicos. Nessa eventualidade, o Papa disse à Cúria que a sua captura pelos nazis implicaria a sua resignação imediata, abrindo caminho à eleição de um sucessor. Os prelados teriam de se refugiar num país seguro e neutro, provavelmente Portugal, onde iriam restabelecer a liderança da Igreja Católica Romana e eleger um novo Papa.
Como consequência, e apesar do facto de Mussolini e dos fascistas terem cedido à exigência de Hitler de dar início às deportações também na Itália, muitos católicos italianos desobedeceram às ordens alemãs. É sabido que, enquanto cerca de 80% dos judeus europeus encontraram a morte durante a Segunda Guerra Mundial, 80% dos judeus italianos se salvaram.
Em 12 de março de 1944 profere a alocução Nella desolazione, dirigida aos "foragidos da guerra refugiados em Roma e aos habitantes da cidade reunidos na Praça de São Pedro" e em 2 de junho deste mesmo ano em outra alocução: È ormai passato, dirigida aos Cardeais repele mais uma vez a guerra. Em 29 de novembro de 1945 recebe no Vaticano oitenta delegados de campos de concentração alemães que foram pessoalmente manifestar o seu agradecimento pela "generosidade demonstrada pelo Santo Padre para com eles durante o terrível período do nazifacismo".
  
Depois da Guerra
Na sua mensagem na rádio Ecco alfine, de 9 de maio de 1945 Pio XII reafirma o que tanto já vinha repetindo, que "só a paz e a segurança imposta sob justiça podem garantir ao povo um ordenamento público conforme as exigências fundamentais da consciência humana e cristã".
Diante do crescimento do comunismo soviético denuncia a violência exercida contra os povos eslavos na alocução Nell’accogliere, de 5 de junho de 1945 e reage contra a perseguição religiosa é exercida nessas regiões. Na Mensagem Ecce ego declinabo, de 24 de dezembro de 1954, denuncia os males da Guerra Fria e na mensagem natalícia de 1955 Col cuore aperto rejeita mais uma vez de modo expresso a doutrina do comunismo afirmando-a contrária à doutrina cristã e ao direito natural.
Em fins de 1947, a Assembleia Constituinte italiana havia concluído o texto de um nova constituição que entraria em vigor em 1 de janeiro de 1948. Haviam sido convocadas eleições gerais para 18 de abril de 1948, comunistas e socialistas coligaram-se contra a Democracia Cristã, liderada por Alcide De Gasperi. À vista do bloqueio de Berlim naquele ano, a guerra fria entre a URSS e as democracias ocidentais e a perseguição religiosa por trás da "cortina de ferro" levaram Pio XII a declarar que "soara a hora capital da consciência cristã". Em suas palavras "toda a nação estava em plena transmutação dos tempos, que requeria por parte da Cabeça e dos membros da Cristandade, suma vigilância, incansável diligência e uma ação abnegada."
Coerente com o magistério da Igreja, que já condenava o marxismo como heresia desde antes do Papa Leão XIII e através da encíclica Rerum Novarum e de outros documentos pontifícios de seus sucessores, naquelas eleições prestou claro apoio a De Gasperi e à Democracia Cristã italiana que, afinal, saiu-se vitoriosa, e proibiu o clero católico de votar no PCI (Partito Communista D'Italia) o que, segundo seus críticos, seria mostra da sua feição conservadora.
Na verdade, Pio XII empenhara-se naquela eleição e com ele toda a Igreja Católica para garantir a vitória da Democracia Cristã na Itália e evitar que sucedesse na nascente democracia italiana o que vinha ocorrendo então, na denominada Cortina de Ferro. Em 1949, ordenou a publicação do Decreto contra o Comunismo, que levou à excomunhão de católicos que defendiam abertamente o comunismo. Também condenou o comunismo em outras ocasiões, como por exemplo na Carta Apostólica Dum maerenti animo - A Igreja perseguida na Europa do Leste (29 de junho de 1956) e na Carta Apostólica "Sacro vergente anno" - Consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria (7 de julho de 1952).
  
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Segundo o diplomata e historiador judeu Pinchas Lapide, que foi cônsul em Milão, na sua obra "Three Popes and Jews" (Londres, 1967), "Pio XII, a Santa Sé, os núncios do Vaticano e toda a Igreja Católica teriam salvo de 700.000 a 850.000 hebreus da morte certa, no regime nazi."
Em 23 de dezembro de 1940, na revista "Time", Albert Einstein afirmava: "Somente a Igreja ousou opor-se à campanha de Hitler de suprimir a verdade. Nunca tive um interesse especial pela Igreja antes, mas agora sinto um grande afeto e admiração porque somente a Igreja teve a coragem e a força constante de estar da parte da verdade intelectual e da liberdade moral".
Por ocasião de sua morte o mundo prestou-lhe extraordinárias homenagens. Eisenhower, então presidente dos Estados Unidos declarou: "O mundo tornou-se mais pobre depois de sua morte". De sua parte a então ministra do Exterior de Israel e mais tarde primeira-ministra Golda Meir afirmou: "Nós choramos um grande servidor da paz" e, ainda, que na ocasião do "terrível martírio que se abateu sobre nosso povo, a voz do Papa se elevou em favor de suas vítimas." Certo é que o Papa desenvolveu na sombra uma forte campanha de apoio aos judeus, e os seus críticos, todavia, não perdoam o facto de ter mantido silêncio, ao não falar publicamente contra os nazis durante a guerra, por temer represálias nazis contra os católicos e os judeus.
Provas escritas de ordem direta de Pio XII para proteger os judeus foram encontradas no Memorial das Religiosas Agustinas do mosteiro romano "Dei Santissimi Quattro Coronati" onde se lê: "O Santo Padre quer salvar os seus filhos, também os Judeus, e ordena que em todos os Mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos". A anotação é de novembro de 1943 e inclui a lista de 24 pessoas acolhidas neste Mosteiro como adesão ao desejo do Sumo Pontífice.
A Pave the Way Foundation, uma fundação que se dedica à promoção da paz no mundo por meio do diálogo interreligioso, liderada pelo judeu Gary Lewis Krupp comunicou, em setembro de 2009, ao Papa Bento XVI uma iniciativa que busca dar a Pio XII o título de "Justo entre as Nações" – o que seria equivalente ao reconhecimento que faz a Igreja Católica dos santos - e assim colocar o seu nome no elenco do conhecido jardim dos justos no Yad Vashem de Jerusalém.
   

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