O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
Em julho de 2012, foi Reeleito um dos "100" maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado por SBT com a BBC de Londres.
Biografia
Filho do migrante cearense, Francisco Alves Mendes e de Maria Rita Mendes, começou no ofício de seringueiro
ainda criança, acompanhando o pai em excursões pela mata. Só aprendeu a
ler aos 19 e 20 anos, já que na maioria dos seringais não havia
escolas, nem os proprietários de terras tinham intenção de criá-las em
suas propriedades. Chico Mendes afirmou que só aprendeu a ler quando ensinado pelo militante comunista Euclides Távora, que participara no levante comunista de 1935 na sua cidade, Fortaleza e na Revolução de 1952 na Bolívia. Em seu regresso ao Brasil pelo Acre, Euclides Távora, fixa residência em Xapuri, tornando-se aí o alfabetizador de Chico Mendes.
Iniciou a vida de líder sindical em 1975, como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos "empates" - manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organizava também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.
Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, e foi eleito vereador pelo MDB local. Recebe então as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros, e começa a ter problemas com seu próprio partido, que não se identificava com as suas lutas.
Em 1979 Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a interrogatórios. Sem apoio, não consegue registar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.
Chico Mendes foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no Acre, tendo participado de comícios com Lula na região.
Em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional
a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no
assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao
assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia, Wilson Sousa Pinheiro.
Em 1981 Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue ser eleito.
Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984.
Liderou o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança,
a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu
grande repercussão nacional e internacional. A proposta da "União dos Povos da Floresta" em defesa da Floresta Amazónica busca unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da reforma agrária
desejada pelos seringueiros: Chico Mendes formou uma aliança entre sua
gente e os índios amazónicos, o que persuadiu o governo a criar reservas
florestais para a colheita não predatória de produtos como o látex e a castanha do pará.
Em 1986, concorre às eleições pelo PT (Acre) como candidato a deputado estadual ao lado de outros candidatos, entre eles Marina Silva, para deputada federal, José Marques de Sousa, o Matias, como senador, e Hélio Pimenta para governador, não sendo eleitos.
Em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da ONU,
em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a
expulsão dos seringueiros causadas por projetos financiados por bancos
internacionais. Dois meses depois leva estas denúncias ao Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o BID.
Os financiamentos a esses projetos são logo suspensos. Na ocasião,
Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de
"prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião
pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prémios
internacionais, destacando-se o Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do meio ambiente e viajou aos EUA para promover sua causa.
Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas
extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações
organizadas após a instalação da UDR
no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários,
palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta
e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.
Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva,
agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que, por várias
vezes, denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis.
Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de
perder a vida e que necessita de garantias. No 3º Congresso Nacional da
CUT,
volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de
trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela
violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta,
é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao
término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da
CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos
Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para
março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.
Morte
Em 22 de dezembro de 1988,
exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi
assassinado com tiros de escopeta no peito na porta da traseira da sua
casa,
quando saía desta para tomar banho. Chico anunciou que seria morto em
função de sua intensa luta pela preservação da Amazónia e buscou
proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção.
Casado com Ilzamar Mendes (2ª esposa), deixou três filhos, Angela (do
primeiro casamento), Sandino e Elenira, na época com dezanove, dois e quatro
anos de idade, respetivamente.
Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades
sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e
ambientalistas se juntaram para formar o "Comité Chico Mendes". Eles
exigiam providências e através de articulação nacional e internacional
pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido.
Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros
Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte,
a 19 anos de prisão. A principal testemunha do caso foi um empregado de
13 anos da fazenda de Darly, Genésio Ferreira da Silva. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do INCRA, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazónia,
sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A
falsificação de documentos rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois
anos e 8 meses
de prisão.
A pressão da imprensa e da opinião pública fizeram Darly, Darci e um
irmão do fazendeiro, Alvarino Alves da Silva (a sua participação nunca foi
comprovada), serem julgados por júri popular. Pai e filho foram
condenados à prisão em 1990, com pena de 19 anos, facto considerado
inédito na justiça rural no Brasil.
Em julho de 2012, foi Reeleito um dos "100" maiores brasileiros de todos os tempos" em concurso realizado por SBT com a BBC de Londres.
Biografia
Filho do migrante cearense, Francisco Alves Mendes e de Maria Rita Mendes, começou no ofício de seringueiro
ainda criança, acompanhando o pai em excursões pela mata. Só aprendeu a
ler aos 19 e 20 anos, já que na maioria dos seringais não havia
escolas, nem os proprietários de terras tinham intenção de criá-las em
suas propriedades. Chico Mendes afirmou que só aprendeu a ler quando ensinado pelo militante comunista Euclides Távora, que participara no levante comunista de 1935 na sua cidade, Fortaleza e na Revolução de 1952 na Bolívia. Em seu regresso ao Brasil pelo Acre, Euclides Távora, fixa residência em Xapuri, tornando-se aí o alfabetizador de Chico Mendes.
Iniciou a vida de líder sindical em 1975, como secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. A partir de 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos "empates" - manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Organizava também várias ações em defesa da posse da terra pelos habitantes nativos.
Em 1977 participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, e foi eleito vereador pelo MDB local. Recebe então as primeiras ameaças de morte, por parte dos fazendeiros, e começa a ter problemas com seu próprio partido, que não se identificava com as suas lutas.
Em 1979 Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a interrogatórios. Sem apoio, não consegue registar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.
Chico Mendes foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e um dos seus dirigentes no Acre, tendo participado de comícios com Lula na região.
Em 1980 foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional
a pedido de fazendeiros da região, que procuraram envolvê-lo no
assassinato de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao
assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia, Wilson Sousa Pinheiro.
Em 1981 Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue ser eleito.
Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984.
Liderou o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança,
a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu
grande repercussão nacional e internacional. A proposta da "União dos Povos da Floresta" em defesa da Floresta Amazónica busca unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da reforma agrária
desejada pelos seringueiros: Chico Mendes formou uma aliança entre sua
gente e os índios amazónicos, o que persuadiu o governo a criar reservas
florestais para a colheita não predatória de produtos como o látex e a castanha do pará.
Em 1986, concorre às eleições pelo PT (Acre) como candidato a deputado estadual ao lado de outros candidatos, entre eles Marina Silva, para deputada federal, José Marques de Sousa, o Matias, como senador, e Hélio Pimenta para governador, não sendo eleitos.
Em 1987, Chico Mendes recebeu a visita de alguns membros da ONU,
em Xapuri, que puderam ver de perto a devastação da floresta e a
expulsão dos seringueiros causadas por projetos financiados por bancos
internacionais. Dois meses depois leva estas denúncias ao Senado norte-americano e à reunião de um banco financiador, o BID.
Os financiamentos a esses projetos são logo suspensos. Na ocasião,
Chico Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de
"prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião
pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prémios
internacionais, destacando-se o Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do meio ambiente e viajou aos EUA para promover sua causa.
Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas
extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações
organizadas após a instalação da UDR
no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários,
palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta
e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.
Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva,
agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que, por várias
vezes, denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis.
Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de
perder a vida e que necessita de garantias. No 3º Congresso Nacional da
CUT,
volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de
trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela
violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta,
é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao
término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da
CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos
Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para
março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.
Morte
Em 22 de dezembro de 1988,
exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi
assassinado com tiros de escopeta no peito na porta da traseira da sua
casa,
quando saía desta para tomar banho. Chico anunciou que seria morto em
função de sua intensa luta pela preservação da Amazónia e buscou
proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção.
Casado com Ilzamar Mendes (2ª esposa), deixou três filhos, Angela (do
primeiro casamento), Sandino e Elenira, na época com dezanove, dois e quatro
anos de idade, respetivamente.
Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades
sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e
ambientalistas se juntaram para formar o "Comité Chico Mendes". Eles
exigiam providências e através de articulação nacional e internacional
pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido.
Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros
Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte,
a 19 anos de prisão. A principal testemunha do caso foi um empregado de
13 anos da fazenda de Darly, Genésio Ferreira da Silva. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do INCRA, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazónia,
sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A
falsificação de documentos rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois
anos e 8 meses
de prisão.
A pressão da imprensa e da opinião pública fizeram Darly, Darci e um
irmão do fazendeiro, Alvarino Alves da Silva (a sua participação nunca foi
comprovada), serem julgados por júri popular. Pai e filho foram
condenados à prisão em 1990, com pena de 19 anos, facto considerado
inédito na justiça rural no Brasil.
Constitui-se no protocolo um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das investigações científicas, como causa antropogênicas do aquecimento global.
Discutido e negociado em Quioto no Japão em 1997, foi aberto para assinaturas em 11 de dezembro de 1997 e ratificado em 15 de março de 1999.
Sendo necessário que, para este entrasse em vigor, precisou que 55 países, que juntos,
produzem 55% das emissões, o ratificassem, assim entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, depois da Rússia o ratificar, em novembro de 2004.
Ele deu origem a um calendário pelo qual os países-membros (principalmente os desenvolvidos) têm a obrigação de reduzir a emissão de gases do efeito estufa em, pelo menos, 5,2% em relação aos níveis de 1990 no período entre 2008 e 2012, também chamado de primeiro período de compromisso (para muitos países, como os membros da UE, isso corresponde a 15% abaixo das emissões esperadas para 2008).
As metas de redução não são homogéneas a todos os países, colocando
níveis diferenciados para os 38 países que mais emitem gases. Países em
franco desenvolvimento (como Brasil, México, Argentina e Índia) não
receberam metas de redução, pelo menos momentaneamente.
A redução dessas emissões deverá acontecer em várias atividades
económicas. O protocolo estimula os países signatários a cooperarem
entre si, através de algumas ações básicas:
Reformar os setores de energia e transportes;
Promover o uso de fontes energéticas renováveis;
Eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da Convenção;
Limitar as emissões de metano na administração de resíduos e dos sistemas energéticos;
Proteger florestas e outros sumidouros de carbono.
Se o Protocolo de Quioto for implementado com sucesso, estima-se que a temperatura global reduza entre 1,4°C e 5,8 °C até 2100,
entretanto, isto dependerá muito das negociações pós período 2008/2012,
pois há comunidades científicas que afirmam categoricamente que a meta
de redução de 5,2% em relação aos níveis de 1990 é insuficiente para a redução do aquecimento global.
O Desastre de Bhopal, foi um acidente industrial que ocorreu na madrugada de 3 de dezembro de 1984, em Bhopal, quando houve uma fuga de 40 toneladas de gases tóxicos na fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide.
É considerado o maior desastre industrial e químico ocorrido até hoje,
quando mais de 500 mil pessoas foram expostas aos gases. A principal
causa do desastre foi negligência com a segurança.
O número total de mortes é controverso: houve num primeiro momento
cerca de 3.000 mortes diretas, mas estima-se que outras dez mil ocorreram
devido a doenças relacionadas com a inalação do gás. A Union Carbide,
empresa de pesticidas de origem americana, negou-se a fornecer
informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, e, como
consequência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente
os indivíduos expostos. Cerca de 150 mil pessoas ainda sofrem com os
efeitos do acidente e aproximadamente 50 mil pessoas estão incapacitadas
para o trabalho, devido a problemas de saúde. As crianças que nascem na
região filhas de pessoas afetadas pelos gases também apresentam
problemas de saúde. Mesmo hoje os sobreviventes do desastre e as
agências de saúde da Índia ainda não conseguiram obter da Union Carbide e
do novo dono, a Dow Chemicals,
informações sobre a composição dos gases que vazaram e os seus efeitos à
saúde humana. A fábrica da Union Carbide em Bhopal permanece abandonada
desde a explosão tóxica, enquanto que resíduos perigosos e materiais
contaminados ainda estão espalhados pela área, contaminando o solo e as
águas subterrâneas, dentro e na zona envolvente da antiga fábrica. Sabe-se
hoje que o composto químico era o isocianato de metilo.
Iniciou a sua vida profissional nos serviços da Câmara Municipal de Lisboa, ao mesmo tempo que lecionava no ISA, tornando-se discípulo de Francisco Caldeira Cabral, pioneiro da arquitetura paisagista em Portugal. Com este professor, publicará o livro A Árvore em Portugal, obra de referência sobre as espécies arbóreas existentes no nosso País.
Na Câmara de Lisboa integrou, desde 1951 até 1953, a Repartição
de Arborização e Jardinagem, passando em 1955 a arquiteto paisagista do
Gabinete de Estudos de Urbanização da CML, dirigido pelo engenheiro
Guimarães Lobato, onde permaneceu até 1960
De 1971 a 1974 dirigiu, igualmente enquanto arquiteto paisagista, o Setor de Planeamento Biofísico e de Espaços Verdes do Fundo de Fomento da Habitação.
Mas, também na capital, merece destaque o conjunto de projetos que concebeu, entre 1998 a 2002, por solicitação da Câmara Municipal, das estruturas verdes principal e secundária da Área Metropolitana de Lisboa, e que se encontram hoje em diferentes fases de implementação: o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica, o Vale de Chelas, o Parque Periférico, o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental.
Na qualidade de professor catedrático convidado, lecionou na Universidade de Évora, onde criou na década de 1990 as licenciaturas em Arquitetura Paisagista e em Engenharia Biofísica.
Em 1945, participou na fundação do Centro Nacional de Cultura,
da qual é hoje o associado número um, e ainda Presidente da Assembleia
Geral, em cujas sessões acentuou a sua oposição ao regime de Salazar.
Com Francisco Sousa Tavares, fundou, em 1957, o Movimento dos Monárquicos Independentes, a que se seguiria o Movimento dos Monárquicos Populares.
Enquanto deputado na Assembleia da Republica teve
responsabilidades nas propostas da Lei de Bases do Ambiente, da Lei da
Regionalização, da Lei Condicionante da Plantação de Eucaliptos, da Lei
dos Baldios, da Lei da Caça, e da Lei do Impacte Ambiental.
Em 2010,
integrando a Plataforma Cidadania e Casamento, manifestou-se
publicamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo,
recentemente legalizado em Portugal.
Em 2009 e 2013, apoiou a candidatura encabeçada por António Costa nas eleições autárquicas para o Município de Lisboa.
Em 2016, no festival de cinema IndieLisboa, foi apresentado o documentário A Vossa Terra - paisagens de Gonçalo Ribeiro Teles, do realizador João Mário Grilo.
Kenule "Ken" Beeson Saro-Wiwa (Bori, 10 de outubro de 1941 – Port Harcourt, 10 de novembro de 1995) foi um escritor, produtor e ativista ambiental da Nigéria. Saro-Wiwa pertencia ao povo Ogoni, um grupo étnico minoritário nigeriano radicado no delta do Níger e liderava - através do Movimento pela Sobrevivência do Povo Ogoni
- uma campanha não-violenta contra a degradação ambiental das terras e
das águas da região pelas petrolíferas, especialmente a Shell. Por conta de seu ativismo, ele acabou por ser preso em 1994,
a mando do regime militar que vigorava então. Num processo judicial
considerado vergonhoso, Saro-Wiwa foi condenado à morte e enforcado em 1995.
Em 2009 a empresa Shell,
reconhecendo a sua implicação na morte do ativista e dos seus oito
companheiros, com ele enforcados, pagou 15,5 milhões de dólares às
famílias das vítimas, esperando assim minimizar os efeitos negativos
para a sua imagem deste caso.
Em fevereiro de 1858, durante uma jornada de pesquisa nas ilhas Molucas, Indonésia, Wallace escreveu um ensaio no qual praticamente definia as bases da teoria da evolução e enviou-o a Charles Darwin,
com quem mantinha correspondência, pedindo ao colega uma avaliação do
mérito da sua teoria, bem como o encaminhamento do manuscrito ao geólogoCharles Lyell.
Darwin, ao dar conta de que o manuscrito de Wallace apresentava
uma teoria praticamente idêntica à sua - aquela em que vinha
trabalhando, em grande sigilo, ao longo de vinte anos - escreveu ao
amigo Charles Lyell: "Toda a minha originalidade será esmagada". Para evitar que isso acontecesse, Lyell e o botânico Joseph Hooker
- também amigo de Darwin e também influente no meio científico -
propuseram que os trabalhos fossem apresentados simultaneamente à Linnean Society of London,
o mais importante centro de estudos de história natural da
Grã-Bretanha, o que aconteceu a 1 de julho de 1858. Em seguida, Darwin
decidiu terminar e publicar rapidamente a sua teoria: A Origem das Espécies foi publicada logo no ano seguinte.
Wallace foi o primeiro a propor uma "geografia" das espécies animais e, como tal, é considerado um dos precursores da ecologia e da biogeografia e, por vezes, chamado de "Pai da Biogeografia".
Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis (Assis, 5 de julho de 1182 - 3 de outubro de 1226), foi um fradecatólico da Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa, de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o catolicismo do seu tempo. Com o hábito da pregação itinerante, quando os religiosos de seu tempo costumavam fixar-se em mosteiros, e com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à risca, imitando-se a vida de Cristo,
desenvolveu uma profunda identificação com os problemas de seus
semelhantes e com a humanidade do próprio Cristo. A sua atitude foi
original também quando afirmou a bondade e a maravilha da Criação
num tempo em que o mundo era visto como essencialmente mau, quando se
dedicou aos mais pobres dos pobres, e quando amou todas as criaturas
chamando-as de irmãos. Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva
da natureza e do homem, que impregnou a imaginação de toda a sociedade
de sua época, foi uma das forças primeiras que levaram à formação da filosofia da Renascença.
Rachel Carson desafiou a indústria química há 60 anos. Faz-nos falta ler hoje Primavera Silenciosa?
Há
seis décadas, o Primavera Silenciosa alertava-nos para como o uso
excessivo de pesticidas estava a destruir ecossistemas e a própria saúde
humana. O livro de Rachel Carson impulsionou a proibição do DDT e o
movimento ambientalista. Hoje, está indisponível em Portugal. O que esta
obra nos pode ensinar em tempos de crise climática?
No dia 27 de setembro de 1962, chegava às livrarias nos Estados Unidos Primavera Silenciosa,
de Rachel Carson. Tinha uma capa verde-clara, com a ilustração de um
ribeiro tímido e plantas aquáticas – uma aparência despretensiosa para
uma obra tão controversa, que trazia em si a semente de uma revolução
social e acabaria por condicionar o curso da História.
As 368 páginas do livro encerravam uma mensagem que não era nova para muitos leitores. Capítulos do livro já haviam sido publicados em série na revista New Yorker
em junho de 1962, inflamando um debate nacional à volta do uso
desregrado de pesticidas e mobilizando cidadãos para aquele que viria a
ser o movimento ambientalista moderno. No mês seguinte, a manchete do New York Times condensava o ar do tempo: “Primavera Silenciosa é agora um Verão barulhento”. Em 1972, uma década depois, foi banido nos Estados Unidos o diclorodifeniltricloroetano (DDT).
Primavera Silenciosa tornou-se rapidamente um bestseller e,
em 1963, já estava traduzido em 14 línguas. Só foi publicado em Portugal
em 1966, pela Editorial Pórtico, com tradução de Raúl Correia. Hoje o
título está indisponível no mercado nacional, embora algumas livrarias
online vendam a edição brasileira. Faz-nos falta ler hoje Primavera Silenciosa? O que a obra nos ensina em tempos de crise climática?
O
filósofo Viriato Soromenho Marques acredita que os portugueses têm
“todas as razões” para ler ou revisitar Primavera Silenciosa. O
professor catedrático da Universidade de Lisboa explica que Rachel
Carson, quando aponta o dedo para a indústria química, não se limita a
mostrar falhas técnicas ou científicas.“Ela vai mais longe”, diz.
Rachel
Carson denuncia “a escassa capacidade humana” de produzir mecanismos de
regulação para as tecnologias que a própria humanidade engendrou. “Cabe
a nós, 60 anos depois, numa situação muito mais dramática do que aquela
que o mundo se encontrava em 1962, redobrar e prosseguir continuamente
[esse esforço]”, afirma o filósofo português ao PÚBLICO.
Viriato Soromenho Marques, que ensina Filosofia da Natureza na universidade, lamenta que Primavera Silenciosa
não seja lido no país como título de divulgação científica. “O público
leitor em Portugal acaba por ser mais académico, infelizmente”, refere o
professor da Universidade de Lisboa.
Soromenho
Marques leu o texto original, em inglês, uma edição comemorativa
publicada em 1992 e comprada pelo docente durante uma viagem a Berkeley,
nos Estados Unidos. O livro está todo sublinhado, anotado. “A primeira
leitura teve um impacto enorme em mim”, confessa.
O facto de Primavera Silenciosa estar indisponível não só nas livrarias, mas também para empréstimo
em bibliotecas também prejudica a democratização do texto no país.
“Acredito que há muitos leitores de Rachel Carson em Portugal, mas o
objetivo de chegar ao grande público ainda não foi conseguido”, afirma o
filósofo português numa conversa com o PÚBLICO, que pode ser ouvida na
íntegra no mais recente episódio do podcast do Azul.
Christof
Mauch, diretor do Centro Rachel Carson da Universidade de Munique, na
Alemanha, corrobora a ideia de que, passadas seis décadas, Primavera Silenciosa
continua a ser uma leitura necessária. “Acredito que a popularidade de
Carson só vai aumentar no futuro, em parte porque há algo de profético
na sua escrita”, afirma ao PÚBLICO.
“Os
textos de Rachel Carson não são apenas [a exposição de] factos. Eles
combinam uma advertência e uma visão do amanhã; ensinam-nos, acima de
tudo, que os humanos são organismos como todos os outros e que, para
termos um futuro, nós precisamos utilizar os recursos da Terra sem
perturbar o equilíbrio geral”, refere Christof Mauch.
Para
celebrar as seis décadas do livro, o Centro Rachel Carson está a
organizar para a segunda quinzena de outubro uma conferência intitulada “Primaveras Silenciosas” – assim mesmo, no plural –, com um programa
no qual serão exploradas “histórias globais sobre pesticidas e sobre o
nosso mundo tóxico”. As narrativas que emergiram da obra clássica dos
anos 60 parecem mostrar como Rachel Carson transformou a forma como
escrevemos hoje sobre a natureza.
“Carson tem sido uma inspiração maior. Os seus textos estão na mente de muitos romancistas também – como Margaret Atwood,
Richard Powers e muitos outros. Acredito que nenhum outro autor teve um
impacte parecido nas humanidades ligadas ao ambiente, seja porque a
autora concilia ciência pura com filosofia, seja porque Carson tem um
entendimento profundo da complexidade da vida – do microscópico ao
macroscópico”, observa Christof Mauch.
Conferência programada para outubro em Munique, na Alemanha
Tornar o microscópico visível
Os 17 capítulos de Primavera Silenciosa têm,
entre tantas outras coisas, o condão de tornar compreensíveis eventos
moleculares que não são visíveis a olho nu. Na parte intitulada
“Elixires da morte”, Rachel Carson demonstra a omnipresença do DDT.
“Pela primeira vez na história do mundo, todos os seres humanos estão
agora sujeitos ao contacto com químicos perigosos, desde o momento da
fecundação até à morte”, lê-se nas primeiras linhas do texto.
A
autora prossegue citando vários estudos que atestam que o corpo humano
não possui uma barreira protetora; aquilo que é capaz de matar insetos
também afeta todas as formas de vida num ecossistema, persistindo em tecidos e fluidos impensáveis como a placenta e o leite materno. O leitor do século XXI, que lê Primavera Silenciosa enquanto o planeta não para de aquecer, fará talvez um paralelo imediato com os microplásticos. Tal como o DDT, a poluição plástica está por todo lado, do gelo do Ártico ao sangue humano.
Hoje
parece-nos óbvio que haja moléculas persistentes nos solos, alimentos e
organismos vivos. Contudo, nos anos 60, em que os pesticidas modernos
eram vistos como o único caminho para uma agricultura capaz de alimentar
o mundo, esta não era uma ideia dominante no imaginário coletivo. O DDT
era apresentado ainda como a panaceia para a malária em países
africanos – e, por isso, os detratores acusaram Rachel Carson de “assassinar” milhões de crianças afetadas pela doença.
Como o próprio nome “pesticidas” sugere,
estes produtos deveriam matar apenas pestes agrícolas. Daí Rachel
Carson ter dito certa vez que a denominação induzia em erro, e que a
molécula deveria ser chamada de biocida, e não pesticida. Porque não
mata apenas insetos – também aniquila ou causa dano a outras formas de vida, alterando processos celulares em plantas, animais e seres humanos.
O
título do livro remete exatamente para a potência destruidora dos
inseticidas. Se moléculas desenhadas para aniquilar pestes são dispersas
de forma desregrada, as aves também serão afetadas e a Primavera
chegará sem o canto destes animais.
Esta
imagem emerge de uma balada de John Keats, cujos versos servem de
epígrafe ao livro: “O carriço desapareceu do lago / E nenhum pássaro
canta.” Com a metáfora do silêncio, Carson conseguiu transformar uma
denúncia grave, alicerçada em sólidos argumentos científicos, numa clara
mensagem de causa e efeito.
“Rachel
Carson mostrou com muita coragem nos anos 60 – e ainda hoje há poucas
pessoas que o fazem – que, se nós analisarmos, dos departamentos e
institutos que trabalham na área dos insetos [nos Estados Unidos], só 2%
focam-se em controlo biológico (controlo natural das pragas), sendo que
os restantes 98% recebem financiamento da indústria química. E esta
entrada em cena do dinheiro faz toda a diferença”, afirma Soromenho
Marques.
O lobby da
indústria química nos Estados Unidos não tardou a reagir, tentando
desacreditar não apenas o livro mas também a autora. Um sector que
movimentava milhões de dólares não poderia permitir que, nos anos 60,
uma mulher solteira, sem um doutoramento ou afiliação a uma universidade
(Carson interrompeu os estudos para sustentar a família), denunciasse
os mecanismos que permitiam expor populações inteiras a agentes tóxicos.
Um texto fundador do ambientalismo
Robert Musil explica, no livro Rachel Carson and Her Sisters,
por que razão a obra é considerada o texto fundador do ambientalismo
contemporâneo. Primeiro, porque consegue aliar boa ciência a uma escrita
impecável. Por mais urgente que seja uma mensagem, ela não chegará ao
destinatário se não for bem articulada, encapsulada pelo emissor. E aí
residia uma das destrezas de Carson: dominava, desde muito nova, a arte da comunicação de ciência.
Carson
nasceu a 27 de maio de 1907 em Springdale, Pensilvânia. Cresceu numa
casa repleta de livros e era encorajada por uma mãe culta, Maria McLean
Carson. Ainda muito jovem, publicou artigos de história natural no
jornal The Baltimore Sun e, já madura, fez carreira como editora-chefe das publicações do Departamento de Pescas e Natureza do Governo norte-americano.
Antes de Primavera Silenciosa, já era uma celebridade literária: o livro The Sea Around Us foi publicado em capítulos na The New Yorker, em 1951, e granjeou uma resposta calorosa dos leitores. Carson venceu prémios e repetiu o sucesso editorial com The Edge of the Sea.
Por outras palavras, a autora conhecia bem os meandros editoriais – e
isto nos leva à segunda razão, de acordo com Robert Musil, para o livro
de 1962 tornar-se um marco da literatura ambiental.
O lançamento de Primavera Silenciosa
foi cuidadosamente desenhado para ser uma ferramenta de ativismo
ambiental, sugere Musil. Carson movia-se bem tanto na academia como na
política. A bióloga rodeou-se de cientistas de peso como George Wallace,
na Universidade de Michigan, e Edward O. Wilson, na de Harvard. Contava ainda com apoiantes nas associações civis.
Rachel Carson aos 55 anos, com binóculos para observação da natureza
O
terreno foi bem preparado; os próprios editores sabiam que a obra seria
atacada pelo poderoso sector da indústria química. Eles tentaram, por
isso, dissociar o livro de expressões ecologistas vistas como radicais –
como o vegetarianismo, por exemplo.
“Carson
esteve a pensar nas recomendações para a legislação e mudanças de
políticas públicas desde o início da investigação, cinco anos antes.
Durante a escrita de Primavera Silenciosa, contactou vários
especialistas para discutir as suas ideias de reformas. Rachel queria
que o seu testemunho oferecesse recomendações específicas que pudessem
trazer melhorias mas que, ao mesmo tempo, fossem politicamente
exequíveis”, escreve a biógrafa Linda Lear no livro Rachel Carson: Witness for Nature.
Num laborioso trabalho de marketing, os simpatizantes de Carson terão feito circular exemplares da obra nos circuitos de poder. Primavera Silenciosa
terá chegado às mãos de figuras políticas de relevo como congressistas,
secretários do Governo de Kennedy e líderes associativos influentes. A
erradicação do DDT nos Estados Unidos não aconteceu num vácuo
sociopolítico. Se por um lado esta vitória deve muito a Rachel Carson,
por outro, seria ingénuo ignorar que a rede de contactos foi previamente
sensibilizada em prol da proteção dos ecossistemas.
“Rachel
Carson não acordou de repente um movimento de conservação meio
adormecido, vamos salvar os papinhos e os falcões, nem baniu o DDT
sozinha. Ela teve ajuda. Mesmo muita”, defende Robert Musil, que hoje
dirige o Rachel Carson Council em Maryland, nos Estados Unidos.
Viriato
Soromenho Marques concorda com a ideia de que “Rachel Carson não está
sozinha”, citando, por exemplo, o trabalho precursor do naturalista e
filósofo Aldo Leopold (1887-1948), que fazia o elogio de uma “ética da
terra”. Há um lastro prévio mas, do ponto de vista de transposição das
ideias para as políticas públicas, Rachel Carson afirma-se como uma
divisora de águas.
“A lei-quadro do ambiente, de 1969, e o Dia da Terra,
[celebrado pela primeira vez a 22 de abril de 1970], por exemplo, têm a
sua marca”, recorda Soromenho Marques. Carson, que já escreveu o livro
com um cancro de mama avançado, não sobreviveu para testemunhar estas
vitórias. Morreu em 1964, dois anos após a publicação de Primavera Silenciosa.
Carson
inspirou gerações de ativistas e ecólogos, sobretudo nos Estados
Unidos. A ambientalista Erin Greeson, hoje com 45 anos, vê desde muito
jovem Rachel Carson como “uma heroína”. “Rachel Carson incentivou os
movimentos. Ela seria inspirada pelos movimentos que acontecem hoje, em
grande parte encabeçados por jovens líderes que se recusam a aceitar o
mundo fraturado e os sistemas destrutivos que lhes estamos a entregar”,
diz ao PÚBLICO diretora de comunicação do Instituto para as Energias Renováveis e a Vida Selvagem, sediado em Washington.
Para
Greeson, a voz de Carson continua a ecoar hoje e, de algum modo,
deu-nos ferramentas enquadrar e comunicar os riscos que a crise
climática coloca à humanidade. Ainda assim, parece faltar-nos uma
metáfora poderosa para condensar a urgência de um planeta a arder, cada
vez mais fustigado com eventos climáticos extremos.
“Talvez não precisemos mais de metáforas. Rachel Carson descrevia em Primavera Silenciosa
algo que ainda não podia ser realmente visto. Carson falava sobre
futuro. Agora, temos muitos exemplos de incêndios e inundações – as
metáforas tornaram-se desnecessárias”, afirma o escritor e ativista
climático Bill McKibben, à margem de uma entrevista ao PÚBLICO.
Já
Soromenho Marques, acredita que “a crise climática é uma janela
perturbante, gravíssima para algo mais amplo: a crise global do
ambiente”. Por isso, quando enunciamos o problema em busca de soluções,
devemos nos desviar de “expressões redutoras” como “transição
energética” e focar no primordial: “a nossa principal crise é a do modo
como habitamos a Terra”.
A solução
passa, portanto, pela transformação, pela possibilidade – que ainda
temos – de escolher outra estrada. Para Soromenho Marques, trata-se de
um ensinamento válido que, seis décadas depois, Primavera Silenciosa
continua a oferecer. Como nestas palavras de Rachel Carson, que o
filósofo português lê em voz alta: “A estrada pela qual temos estado a
viajar por tão longo tempo é ilusoriamente fácil: uma auto-estrada de
pavimentação lisa, pela qual avançamos em grande velocidade; mas, na sua
extremidade final, o que há é o desastre.”