Cerimónia de assinatura: Molotov a assinar, Ribbentrop atrás (com os olhos fechados), com Estaline à sua esquerda
Antecedentes
O resultado da Primeira Guerra Mundial foi desastroso tanto para o II Reich alemão como para a União Soviética. Durante o conflito, os bolcheviques lutavam pela sobrevivência, e Lenine não teve alternativa a não ser reconhecer a independência da Finlândia, da Estónia, da Letónia, da Lituânia e da Polónia. Além disso, diante do avanço militar alemão, Lenine e Trotsky foram forçados assinar o Tratado de Brest-Litovsk, que retirava o país da guerra e cedia alguns territórios ocidentais da Rússia ao Império Alemão. Após o colapso da Alemanha, tropas da Grã-Bretanha, da França e do Império Japonês intervieram na Guerra Civil Russa.
Em 16 de abril de 1922, a Alemanha e a União Soviética participaram no Tratado de Rapallo,
por cujos termos renunciavam às reivindicações territoriais e
financeiras contra os demais. As partes se comprometeram ainda à
neutralidade na eventualidade de um ataque de um contra um outro pelo Tratado de Berlim (1926).
No início da década de 30, a ascensão do Partido Nazi ao poder na Alemanha, aumentou as tensões entre estes países, a União Soviética e outros países de etnia eslava, que foram considerados "Untermenschen" ("sub-humanos") de acordo com a ideologia racial nazi. Além disso, os nazis, antissemitas, associavam a etnia judia com o comunismo e com o capitalismo financeiro,
aos quais se opunham. Por conseguinte, a liderança nazi declarou que
os eslavos na União Soviética estavam a ser governados por "judeus
bolcheviques".
Em 1939, a Alemanha nazi e a Itália fascista, apoiaram os nacionalistas espanhóis na Guerra Civil Espanhola, enquanto os soviéticos apoiaram a Segunda República Espanhola, sob a liderança do presidente Manuel Azaña. Naquele mesmo ano, a Alemanha e o Império Japonês entraram no "Pacto Anti-Comintern", e a que se juntou, um ano depois, a Itália.
A feroz retórica anti-soviética de Adolf Hitler foi uma das razões pelas quais a Grã-Bretanha e a França decidiram que a participação da União Soviética na Conferência de Munique, em 1938, sobre o destino da Checoslováquia, seria perigosa e inútil. O Acordo de Munique,
então assinado, marcou uma anexação parcial da Checoslováquia pela
Alemanha, no final de 1938, seguido da sua dissolução completa, em março
de 1939, o que é visto como parte de um apaziguamento da Alemanha realizado pelos gabinetes de Neville Chamberlain e Édouard Daladier.
Esta política levantou de imediato a questão de saber se a União
Soviética poderia evitar ser o próximo passo na lista de Hitler.
Nesse contexto, a liderança soviética acreditava que o Ocidente
poderia querer incentivar a agressão alemã a Oriente, e que a
Grã-Bretanha e a França poderiam ficar neutras no conflito iniciado pela
Alemanha Nazi. Pelo lado da Alemanha, devido a que uma aliança com a
Grã-Bretanha era impossível, tornava-se necessário estreitar relações
mais estreitas com a União Soviética para a obtenção de
matérias-primas. Além disso, um bloqueio naval britânico era esperado
em caso de guerra, o que iria provocar uma escassez crítica de
matérias-primas para o esforço de guerra da Alemanha. Depois do acordo
de Munique, aumentaram as necessidades alemãs em termos de
abastecimento militar, ao passo que, devido à implementação do
terceiro plano quinquenal na URSS, eram essenciais investimentos
maciços em tecnologia e equipamentos industriais.
Em 31 de março de 1939,
em resposta ao desafio da Alemanha nazi do Acordo de Munique e da
ocupação da Checoslováquia, a Grã-Bretanha garantiu o apoio da própria
França para garantir a independência da Polónia, da Bélgica, da Roménia, da Grécia e da Turquia. Em 6 de Abril, a Polónia e a Grã-Bretanha concordaram em formalizar a garantia de uma aliança militar. Em 28 de abril, Hitler denunciou o Pacto de Não-Agressão Polaco-Alemão de 1934 e o Acordo Naval Anglo-Germânico de 1935.
À esquerda, as fronteiras, conforme o Pacto Molotov-Ribbentrop; à direita, as fronteiras reais em 1939
O Pacto
Foi assinado em Moscovo na madrugada de 24 de agosto de 1939 (mas datada de 23 de agosto) pelo então ministro do exterior soviético Vyacheslav Molotov e pelo então ministro do exterior da Alemanha Joachim von Ribbentrop.
Em linhas gerais estabelecia que ambas as nações se comprometiam a
manter-se afastadas uma da outra em termos bélicos. Nenhuma nação
favoreceria os inimigos da outra, nem tão pouco invadiriam os seus
respetivos territórios, além do que, a União Soviética não reagiria a
uma agressão alemã à Polónia, e que, em contrapartida, a Alemanha apoiaria uma invasão soviética à Finlândia, entre outras concessões. De facto, à invasão nazi seguiu-se a Invasão Soviética da Polónia e também da Finlândia, ainda em 1939.
Em dois protocolos secretos, os dois governos organizaram a partilha
dos territórios da Europa de Leste em zonas de influência, decidindo que
a Polónia deveria deixar de existir (passando o seu território para a
Alemanha e para a URSS), que a Lituânia
ficaria sob alçada alemã (meses mais tarde a Alemanha trocou a
Lituânia por outra zonas de influência, ficando a Lituânia sob alçada
soviética), que a Estónia e a Letónia passariam para a URSS, bem como grande parte da Finlândia e vastas zonas da Roménia e da Bulgária.
O pacto estabelecia também fortes relações comerciais, vitais para os dois países, nomeadamente petróleo soviético da zona do Cáucaso e trigo da Ucrânia, recebendo em contrapartida ajuda, equipamento militar alemão e ouro.
Este novo facto nas relações internacionais alarmou a comunidade das
nações, não só porque os nazis eram supostos inimigos dos comunistas,
mas também porque, secretamente, objetivava a divisão dos estados da Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia e Roménia
segundo as esferas de interesses de ambas as partes. O pacto era
absolutamente vital para ambos os países: para os alemães assegurava que
se poderiam concentrar apenas na sua frente ocidental para além de
terem assegurado combustíveis que de outro modo impossibilitariam tais
operações. Do lado soviético, a paz e a ajuda militar eram
fundamentais, tanto mais que as forças militares não estavam
preparadas para qualquer grande combate, como se comprovou na mal
sucedida aventura finlandesa de novembro de 1939 - a chamada guerra de inverno.
O pacto durou até 22 de junho de 1941, quando a Alemanha nazi, sem prévio aviso, iniciou a invasão do território soviético na Operação Barbarossa.
Caricatura no jornal semanal "Mucha", de Varsóvia, em 8 de setembro de 1939, já com a invasão nazi em andamento (Ribbentrop faz reverência a Estaline, com Molotov a seu lado)
in Wikipédia
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