Actividade humana terá contribuído para sismo em Espanha
O sismo de 11 de maio de 2011, na região de Múrcia, em Espanha, foi causado em parte por mão humana. A utilização de água subterrânea para irrigação fez baixar os níveis freáticos dos aquíferos da região e terá acelerado a ocorrência do tremor de terra, revela um artigo de uma equipa liderada por cientistas da Universidade do Ontário Ocidental, no Canadá, publicado na revista Nature Geoscience.
Nove pessoas morreram e muitos edifícios ficaram destruídos na cidade de Lorca, em Múrcia, em Março do ano passado. Para uma magnitude de 5,1 graus, o sismo foi especialmente violento. Pablo Gonzalez, da Universidade do Ontário Ocidental e os seus colegas perceberam porquê.
Através de estudos de satélite, os cientistas verificaram que o sismo deu-se na falha de Alhama de Múrcia, perto de Lorca, a apenas três quilómetros de profundidade. O foco do sismo foi muito mais superficial do que a maioria dos sismos com esta magnitude e, por isso, causou uma destruição anormal.
Mas, ao tentar desvendar o que causou a fractura na crosta terrestre, os cientistas aperceberam-se da interferência humana. Nos últimos 50 anos, o nível freático do aquífero que fica na bacia do Alto de Guadalentín, que está por baixo de Múrcia, baixou 250 metros devido à extracção de água para irrigação.
Stress acumulado
Os cálculos dos cientistas mostram que esta alteração condicionou a crosta, aumentando a pressão e o stress sobre a falha, o que terá ajudado a provocar o sismo. Segundo uma avaliação mais completa, a falha sofria várias tensões que, mais cedo ou mais tarde, iriam originar o tremor de terra, mas a descida do nível freático acelerou o processo.
Para Pablo Gonzalez, este é um estudo de um caso particular que não pode, por isso, resultar em nenhuma regra. “Mas as provas que obtivemos aqui poderão ser necessárias para a investigação futura em fenómenos que ocorrem perto de barragens, aquíferos ou glaciares que estão a derreter, e onde existem falhas tectónicas”, disse o cientista à agência noticiosa Reuters.
Para Jean-Philippe Avouac, este tipo de estudos não é novo. “Estão documentados muitos exemplos de sismicidade provocada pela construção de represas, extracção de hidrocarbonetos, pelas pedreiras ou pelas injecções [de água] feitas a profundidade”, disse o geólogo do Instituto Tecnológico da Califórnia, em Pasadena, nos Estados Unidos, num artigo de contexto que acompanha o estudo original.
Jean-Philippe Avouac sublinha que, no caso do sismo em Lorca, o estudo prova que alterações feitas pelo homem fizeram com que o stress existente na falha se fosse acumulando a uma velocidade muito maior. O que sugere “que a localização e a magnitude do sismo de Lorca foram influenciadas pela extracção de água humana. As consequências são vastas: se alguma vez se compreender totalmente o efeito que o stress induzido causado pelos humanos tem na sismicidade, e se for provado que é um processo determinístico, podemos sonhar em conseguir um dia domar as falhas naturais através da geoengenharia”, defende.
Mas, para já, o cientista aconselha cautela na forma como se utiliza a crosta terrestre, principalmente em relação aos grandes projectos de injecção de dióxido de carbono no solo. Muitos defendem esta técnica para tirar o gás da atmosfera e desacelerar as alterações climáticas. “Sabemos como os sismos começam, mas estamos longe de ser capazes de os controlar.”
Através de estudos de satélite, os cientistas verificaram que o sismo deu-se na falha de Alhama de Múrcia, perto de Lorca, a apenas três quilómetros de profundidade. O foco do sismo foi muito mais superficial do que a maioria dos sismos com esta magnitude e, por isso, causou uma destruição anormal.
Mas, ao tentar desvendar o que causou a fractura na crosta terrestre, os cientistas aperceberam-se da interferência humana. Nos últimos 50 anos, o nível freático do aquífero que fica na bacia do Alto de Guadalentín, que está por baixo de Múrcia, baixou 250 metros devido à extracção de água para irrigação.
Stress acumulado
Os cálculos dos cientistas mostram que esta alteração condicionou a crosta, aumentando a pressão e o stress sobre a falha, o que terá ajudado a provocar o sismo. Segundo uma avaliação mais completa, a falha sofria várias tensões que, mais cedo ou mais tarde, iriam originar o tremor de terra, mas a descida do nível freático acelerou o processo.
Para Pablo Gonzalez, este é um estudo de um caso particular que não pode, por isso, resultar em nenhuma regra. “Mas as provas que obtivemos aqui poderão ser necessárias para a investigação futura em fenómenos que ocorrem perto de barragens, aquíferos ou glaciares que estão a derreter, e onde existem falhas tectónicas”, disse o cientista à agência noticiosa Reuters.
Para Jean-Philippe Avouac, este tipo de estudos não é novo. “Estão documentados muitos exemplos de sismicidade provocada pela construção de represas, extracção de hidrocarbonetos, pelas pedreiras ou pelas injecções [de água] feitas a profundidade”, disse o geólogo do Instituto Tecnológico da Califórnia, em Pasadena, nos Estados Unidos, num artigo de contexto que acompanha o estudo original.
Jean-Philippe Avouac sublinha que, no caso do sismo em Lorca, o estudo prova que alterações feitas pelo homem fizeram com que o stress existente na falha se fosse acumulando a uma velocidade muito maior. O que sugere “que a localização e a magnitude do sismo de Lorca foram influenciadas pela extracção de água humana. As consequências são vastas: se alguma vez se compreender totalmente o efeito que o stress induzido causado pelos humanos tem na sismicidade, e se for provado que é um processo determinístico, podemos sonhar em conseguir um dia domar as falhas naturais através da geoengenharia”, defende.
Mas, para já, o cientista aconselha cautela na forma como se utiliza a crosta terrestre, principalmente em relação aos grandes projectos de injecção de dióxido de carbono no solo. Muitos defendem esta técnica para tirar o gás da atmosfera e desacelerar as alterações climáticas. “Sabemos como os sismos começam, mas estamos longe de ser capazes de os controlar.”
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