Vitória Eugénia Júlia Ena de Battenberg (24 de outubro de 1887 — 15 de abril de 1969) foi a rainha consorte de Afonso XIII da Espanha.
Nascida no Castelo de Balmoral, na Escócia, Vitória Eugénia era a única filha do príncipe Henrique de Battenberg e de sua esposa, a Princesa Beatriz, a última filha da rainha Vitória e do príncipe Alberto. Vitória recebeu o nome de suas avós e de sua madrinha, a imperatriz Eugénia, viúva de Napoleão III. Entre seus familiares, era conhecida como Ena.
A princesa Ena cresceu na corte da rainha Vitória, passando sua infância no Castelo de Windsor, Castelo de Balmoral e Osborne House, na Ilha de Wight. O seu pai, depois de contrair malária em Prahsu, em Gana, morreu em 1896, quando Vitória Eugénia tinha apenas oito anos de idade. Após a morte da rainha, em 1901, a família Battenberg estabeleceu residência no Palácio de Kensington, em Londres.
Em 1905, a princesa assistiu a uma festa organizada por seu tio, o rei Eduardo VII, dada em honra de Afonso XIII da Espanha. O monarca espanhol cortejou a jovem princesa, apesar da oposição materna a um possível matrimónio.
A rainha Maria Cristina, mãe de Afonso XIII,
não era partidária da união entre seu filho e Vitória Eugénia, por
causa das origens do ramo Battenberg. Além disso, a princesa ostentava
unicamente o tratamento de Alteza Sereníssima, o qual era considerado inferior por Maria Cristina.
Apesar da oposição, no dia 9 de março de 1906, a Casa Real da Espanha anunciou o compromisso matrimonial entre o rei Afonso XIII e a princesa Vitória Eugénia. A notícia preocupou o povo espanhol, tendo em vista que a noiva era protestante e não tinha nobreza suficiente.
Foi obrigada a converter-se ao catolicismo. Foi rebatizada na diocese católica de Nottingham e na Igreja de São Sebastião de Madrid, dois dias antes do casamento. O seu tio, Eduardo VII, concedeu-lhe o tratamento de Sua Alteza Real em 3 de abril de 1906. A cerimónia ocorreu na Igreja de São Jerónimo, no dia 31 de março daquele ano.
O casal dirigiu-se após a cerimónia para o Palácio Real de Madrid, sofrendo no caminho um atentado executado pelo anarquista Mateo Morral, mas ambos sobreviveram.
Depois do pouco auspicioso começo do seu reinado, Vitória Eugénia
ficou isolada do povo espanhol e tornou-se pouco popular no seu novo
país. A sua vida de casada melhorou quando deu à luz um filho, Afonso,
Príncipe das Astúrias. No entanto, quando o príncipe foi circuncidado,
os médicos reparam que a hemorragia não parava — os primeiros sinais de
que o infante tinha herdado a hemofilia. Vitória Eugénia era a óbvia
origem da doença, que também sido herdada pelos seus irmãos mais velho e
mais novo. Contrariamente ao que fez o Czar Nicolau II da Rússia, cujo
único filho herdou a doença através de outra neta da Rainha Vitória,
Afonso alegadamente nunca perdoou Vitória Eugénia por tal facto. Mesmo
assim, o Rei Afonso XIII e a Rainha Vitória Eugénia tiveram sete
filhos, cinco rapazes e duas raparigas. Curiosamente, nenhuma das filhas
era transmissora dos genes da hemofilia.
Depois do nascimento dos filhos, as relações de Vitória Eugénia com Afonso deterioram-se e ele teve numerosos affairs.
Vitória Eugénia dedicou-se a ajudar hospitais e serviços para os
pobres, bem como na área da educação e ensino, envolvendo-se ainda na
reorganização da Cruz Vermelha espanhola. Em 1929, a cidade de Barcelona
mandou erigir-lhe uma estátua em uniforme de enfermeira, pelo seu
trabalho e dedicação à Cruz Vermelha (tendo esta, posteriormente, sido
destruída). Vários locais e instituições receberam o nome de Vitória
Eugénia, em sua homenagem. Por exemplo, em 1909, a ponte neoclássica de
Madrid sobre o rio Manzanares foi apelidada de "Puente de la Reina
Victoria". Em 1912, a monumental Casa de Ópera "Teatro Victoria Eugenie",
em San Sebastián, recebeu o seu nome. Em 1920, ela batizou o barco da
Marinha Espanhola Reina Victoria Eugenie, em sua homenagem.
Ela foi a 976ª Dama da Ordem Real da Rainha Maria Luisa. Em 1923, o
Papa Pio XI conferiu-lhe a Rosa de Ouro, sendo a primeira vez que esta
honraria foi dada a uma princesa inglesa desde 1555, quando o Papa Júlio
III a deu à Rainha Maria I de Inglaterra. Ela recebeu também a Royal Order of Victoria and Albert
da sua avó, a Rainha Vitória. A Rainha também recebeu Ordem de Mérito
da Cruz Vermelha de Espanha (Primeira Classe) e o colar de jóias foi
pago por subscrição pública do Corpo das Enfermeiras da Cruz Vermelha
espanhola.
A Família Real Espanhola foi para o exílio em 14 de abril de 1931,
depois de umas eleições municipais terem colocado republicanos no poder
nas maiores cidades, levando à proclamação da Segunda República em
Espanha. Afonso XIII esperava que o seu exílio impedisse a guerra civil
entre republicanos e nacionalistas. A família foi primeiro para França e
depois para Itália. Ena e Alfonso viveram pouco tempo junto depois,
indo ela viver para o Reino Unido, e, depois de o governo do país lhe
ter pedido para sair, foi viver para a Suíça, onde ela comprou um
castelo, o Vieille Fontaine, perto de Lausanne.
Em 1938, toda a família juntou-se em Roma para o batismo do filho
mais velho de Don Juan, Juan Carlos de Espanha. Em 15 de janeiro de
1941, Afonso XIII, sentindo a morte próxima, abdicou dos seus direitos ao
trono, deixando-os ao filho Don Juan de Borbon, conde de Barcelona. Em
12 de fevereiro, Afonso sofreu um primeiro ataque do coração. Afonso
morreu a 28 de fevereiro de 1941. Em 1942 foi obrigada a deixar Itália
por se ter tornado persona non grata para o governo italiano - de
acordo com Harold Tittmann, um representante dos Estados Unidos no
Vaticano nessa altura, pelo "apoio à causa Aliada".
Ena voltou brevemente a Espanha em fevereiro de 1968, para ser
Madrinha de Batismo do seu bisneto, o Infante Don Felipe, filho do
Infante Don Juan Carlos de Borbón y Borbón Dos-Sicilias (mais tarde o Rei Juan Carlos I de Espanha) e da Princesa Sofia da Grécia e Dinamarca (posteriormente a Rainha Sofia).
A Rainha morreu em Lausanne a 15 de abril de 1969, com 81 anos, exatamente 38
anos depois de ela ter deixado a Espanha para o exílio. Foi sepultada
na Igreja do Sacré Coeur em Lausanne; em 25 de abril de 1985, o
seu caixão voltou para Espanha, ficando na Cripta Real no Mosteiro do
Escorial, próximo de Madrid, junto do túmulo do marido, Afonso XIII, e
dos filhos, os Infantes Don Alfonso, Don Jaime e Don Gonzalo.
Descendência
- Afonso Pio Cristino Eduardo, hemofílico Príncipe das Astúrias, renunciou ao trono em 1936 para contrair matrimónio com uma plebeia, tornando-se Conde de Covadonga, desde então.
- Jaime Leopoldo Isabelino Henrique, o chamado "infante surdo", devido à surdez, consequência de uma operação, renunciando aos seus direitos ao trono em 1933, tornando-se, desde então, Duque de Segóvia, e, mais tarde, Duque de Madrid, tal como pretendente ao trono de França, desde 1941 a 1975, e Duque de Anjou.
- Beatriz Isabel Frederica Afonsa Eugénia, infanta de Espanha, nascida em Madrid e falecida em Roma.
- Fernando de Borbón e Battenberg, nascido morto em 1910.
- Maria Cristina Teresa Alexandra, infanta de Espanha.
- João Carlos Teresa Silvestre Afonso, Conde de Barcelona, casou com Maria das Mercedes de Bourbon, Princesa das Duas Sicílias (pai do atual Rei de Espanha, ).
- Gonçalo Manuel Maria Bernardo, nascido hemofílico.
A tendência hemofílica desta família provém da Rainha Vitória, que já tinha o gene e que o espalhou, através dos seus filhos, pela maioria das casas reais europeias. Como Beatriz, a mãe de Vitória Eugénia, era filha da Rainha Vitória, alguns dos seus filhos e netos nasceram hemofílicos.
in Wikipédia
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