Placa do Memorial às vítimas da Primavera de Praga em Košice, atual Eslováquia
A Primavera de Praga - foi um período de liberalização política na Checoslováquia durante a época de sua dominação pela União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. Esse período começou em 5 de janeiro de 1968, quando o reformista eslovaco Alexander Dubček chegou ao poder, e durou até o dia 21 de agosto quando a União Soviética e os membros do Pacto de Varsóvia invadiram o país para interromper as reformas.
As reformas da Primavera de Praga foram uma tentativa de Dubček, aliado a intelectuais checoslovacos, de conceder direitos adicionais aos cidadãos num ato de descentralização parcial da economia e de democratização. As reformas concediam também um relaxamento das restrições às liberdades de imprensa, de expressão e de movimento e ficaram conhecidas como a tentativa de se criar um “socialismo com face humana”
Dubček também dividiu o país em duas repúblicas separadas; essa foi a única reforma que sobreviveu ao fim da Primavera de Praga
As reformas não foram bem recebidas pelos soviéticos que, após as falhas nas negociações, enviaram milhares de tropas e tanques do Pacto de Varsóvia para ocupar o país. Uma grande onda de emigração varreu o país. Apesar de ter havido inúmeros protestos pacíficos no país, inclusive o suicídio de um estudante, não houve resistência militar. A Checoslováquia continuou ocupada até 1990.
Após a invasão, a Checoslováquia entrou em um período de
normalização: Os lideres seguintes tentaram restaurar os valores
políticos e económicos que prevaleciam antes de Dubček ganhar poder no Partido Comunista da Checoslováquia (KSČ, em tcheco). Gustáv Husák, que substituiu Dubček e também tornou-se presidente, retirou quase todas as reformas de Dubček. A Primavera de Praga imortalizou-se na música e na literatura pelas obras de Karel Kryl e de Milan Kundera, como “A Insustentável Leveza do Ser”.
História
O movimento da Primavera de Praga foi liderado por intelectuais
reformistas do Partido Comunista Checo, interessados em promover
grandes mudanças na estrutura política, económica e social, na Checoslováquia. A proposta surpreendeu a sociedade checa, que em 5 de abril de 1968 soube das propostas reformistas dos intelectuais comunistas.
O objetivo de Dubcek era "desestalinizar" o país, removendo os vestígios de despotismo e autoritarismo, que considerava aberrações no sistema socialista. Com isso, o secretário-geral do partido prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria a liberdade do cidadão e os direitos civis. A abertura política abrangia o fim do monopólio
do partido comunista e a livre organização partidária, com uma
Assembleia Nacional que reuniria democraticamente todos os segmentos da
sociedade tcheca. A liberdade de imprensa, o Poder Judiciário independente e a tolerância religiosa eram outras garantias expostas por Dubcek.
As propostas foram apoiadas pela população. O movimento que propôs a
mudança radical da Checoslováquia, dentro da área de influência da União Soviética,
foi chamada de Primavera de Praga. Assim sendo, diversos setores
sociais se manifestaram em favor da rápida democratização. No mês de
junho, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Liternární Listy (Gazeta Literária), escrito por Ludvík Vaculík
e assinado por personalidades de todos sectores sociais, pedindo a
Dubcek que acelerasse o processo de abertura política. Eles acreditavam
que era possível transformar, pacificamente, um regime ortodoxo
comunista para um regime socialista democrático em moldes ocidentais.
Com estas propostas, Dubcek tentava provar a possibilidade de uma economia coletivizada conviver com ampla liberdade democrática.
A União Soviética, temendo a influência que uma Checoslováquia
democrática e socialista, independente da influência soviética e com
garantias de liberdades à sociedade, pudesse passar às nações
socialistas e às "democracias populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 21 de agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado a Moscovo.
Na cidade de Praga a população reagiu à invasão soviética de forma não
violenta, desnorteando as tropas. A organização quase espontânea foi em
parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores construídos
às pressas por membros do exército checo e aficcionados por radio transmissores:
a Rádio Checoslováquia Livre. Cada emissora transmitia instruções para
a população por não mais que 9 minutos e depois saia do ar, dando o
espaço para uma outra, impossibilitando assim a triangulação do sinal.
Suas instruções eram para a população manter a calma e, sobretudo, não
colaborar com os invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente
estação de rádio para criar interferências nos sinais, porém, os
ferroviários checos, com uma extrema competência, atrasaram a entrega
e, quando a estação chegou ao seu destino, estava inutilizável.
Os russos conseguiram uma ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um impasse político: as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista fracassaram e a população checa foi eficiente em minar a moral das tropas. No dia 23 se iniciou-se uma greve geral e, no dia 26, foi publicado o decálogo da não cooperação:
Não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
Através de uma rede de radioamadores,
a população era informada sobre ações que poderiam ser organizadas para
levar a cabo uma resistência não violenta. Tal reação foi espontânea,
devido à impossibilidade de se utilizar a ação violenta. De certa forma,
a população se inspirou em um livro picaresco muito popular, "O valente soldado Chveik", onde o personagem usava de travessuras para expulsar as tropas invasoras.
A paralisação dos trens interrompeu a comunicação com os países aliados,
e para evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas de
sinalização foram invertidas, e depois pintadas com uma tinta fácil de
se raspar. Quando os soldados raspavam as tintas para verem a indicação
correta, acabavam indo na direção de Moscovo (retirado do livro A Firmeza Permanente, Ed. Loyola, 1977, pp.142-145).
Enquanto isso, os raptores
contavam a Dubcek que a população checa estava sendo massacrada, como
fora a população húngara, 12 anos antes, o que o levou a assinar um
acordo de renúncia.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a
vigorar na Checoslováquia. Em protesto contra o fim das liberdades
conquistadas, o jovem Jan Palach ateou fogo ao próprio corpo numa praça de Praga em 16 de Janeiro de 1969.
Por sua vez, os comunistas checos mais conservadores apoiaram a invasão soviética,
uma vez que eles acreditavam que as reformas de Dubček trariam um
precoce desastre económico e social, o que mais tarde realmente
ocorreria em 1991 com o colapso soviético. Sinal disto, é a divisão do partido em dois lados, os liberais (reformistas) e os conservadores, que contariam com o apoio soviético, o poder mais influente.
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