O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu com o
nome de João Leitão da Silva no Porto, a 4 de fevereiro de 1799, segundo filho
de António Bernardo da Silva Garrett, selador-mor da Alfândega
do Porto, e Ana Augusta de Almeida Leitão. Mais tarde viria a
escrever a este propósito: "Nasci no Porto, mas criei-me em Gaia". No
período de sua adolescência foi viver para os Açores, na ilha Terceira, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio, D. Alexandre, Bispo de Angra.
De seguida, em 1816 foi para Coimbra, onde acabou por se matricular no curso de Direito. Em 1821 publicou O Retrato de Vénus,
trabalho que fez com que lhe pusessem um processo por ser considerado
materialista, ateu e imoral. É também neste ano que ele e sua família
passam a usar o apelido de Almeida Garrett.
Em 1852 é eleito novamente deputado, e de 4 a 17 de agosto será
ministro dos Negócios Estrangeiros. A sua última intervenção no
Parlamento será em março de 1854, em que ataca o governo, na pessoa de
Rodrigo de Fonseca Magalhães.
Falece a 9 de dezembro de 1854, vítima de um cancro hepático, na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, Lisboa. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, tendo sido trasladado, a 8 de março de 1926, para o Panteão Nacional, à data no Mosteiro dos Jerónimos. Encontra-se actualmente no Panteão Nacional, na Igreja de Santa Engrácia.
Em 1801 o músico decide ir para França, contrariando o costume dos
músicos portugueses da época, que seria de uma eventual continuação dos
seus estudos em Itália. Assim, nesta data, no rescaldo da assinatura do
Tratado de Badajoz
e com o agravamento das condições políticas e militares, vai para
Paris, onde encontra o melhor ambiente para desenvolver a sua vocação
musical e onde conviveu com o grupo de exilados adeptos das novas
correntes filosóficas e políticas, que se reuniam à volta do egrégio
poeta Filinto Elísio.
Com esta atitude comprometeu a sua carreira no campo operático.
Acolhido por este grupo de emigrantes que partilham as suas ideias
liberais inicia uma carreira de pianista virtuoso à maneira de Clementi, Cramer, Dussek (músico muito apreciado por Chopin) e outros, ao mesmo tempo que estreia ele mesmo algumas das suas primeiras composições. São, dessa época, a Grande Sonata para Piano, dedicada a Sua Alteza Real, a Princesa de Portugal. Op. 1, o Primeiro Concerto em Mi bemol para Piano e Orquestra, Op. 2, o Segundo Concerto para Piano, Op. 3, as Variações sobre o «Minueto Afandangado», Op. 4 e ainda a Grande Sonate Pour le Forte Piano Composée et Dediée à Madame de Genlie, Op. 5.
As primeiras obras de Bomtempo foram muito apreciados pelos parisienses e prontamente publicadas pelas casas Leduc e Pleyel em Paris. Estas obras têm forte inspiração em Clementi.
Quando em 1804 atinge uma fama realmente importante, aparece, entre outros lugares, na Salle Olympique como pianista e compositor.
Entretanto, em Portugal, as tropas de Napoleão sofriam pesadas derrotas
infligidas pelo exército luso-inglês e a sua situação em França
começou a tornar-se delicada, pelo que vai para Londres em 1810, ano em
que a sua 1ª Sinfonia é alvo dos maiores elogios por parte da crítica
parisiense. Na capital britânica é uma vez mais bem recebido pela
comunidade portuguesa. Também algumas famílias da aristocracia inglesa
lhes dão as boas vindas especialmente como professor de piano. É então
que se começa a relacionar com alguns dos mais importantes músicos do
seu tempo como Muzio Clementi e John Field e é professor da filha de Lady Hamilton.
O contacto com Clementi, a quem o ligavam laços de amizade desde Paris,
torna-se mais frequente e é na editora do músico italiano que Bomtempo
publicará a maior parte das suas obras. Publica Variações sobre um tema de Paesiello - Nel cor piú non mi sento, Op. 6, o Terceiro Concerto para Piano, Op. 7, o Capricho e Variações sobre o «God Save The King», Op. 8, Três grandes sonatas para Piano,
Op. 9, entre muitas outras obras. Dado o perfil das pessoas com que se
relaciona é provável que date desta época a sua iniciação na Maçonaria.
Em 13 de maio de 1813, D. Domingos António de Sousa Coutinho,
Conde do Funchal, diplomata, ao tempo embaixador de Portugal em
Londres, realiza um grande festival com dois propósitos: o de celebrar o
aniversário daquele que viria a ser o rei D. João VI
e a expulsão do exército francês do território português, em
consequência da derrota de Massena. Influenciado pela euforia que se
instalara após a vitória luso-britânica, João Domingos Bomtempo compõe
uma cantata intitulada Hino Lusitano. Op. 10, sobre versos do
poeta liberal Dr. Vicente Pedro Nolasco da Cunha. Neste festival
apresentou-se perante uma audiência de personalidades que incluía a
quase totalidade do Conselho de Ministros britânico. As obras compostas
nesse período incluem a Primeira Grande Sinfonia. Op. 11, executada pela primeira vez em Londres em 1810, o Quarto Concerto para Piano. Op. 12, executado pelo autor em Hannover Square, Uma Sonata Fácil para Piano. Op. 13, Grande Fantasia para Piano. Op. 14, que dedica a um ilustre emigrado, liberal e seu particular amigo, Ferreira Pinto, Duas Sonatas e Uma Ária Popular com Variações para Piano. Op. 15 e um Quinteto para Piano. Op. 16.
Em 1815, após o congresso de Viena, regressou a Portugal no contexto de uma Europa pacificada. Nesta sequência compõe A Paz da Europa, Cantata. Op. 17, que teria uma edição em Portugal, em versão reduzida com o título O Anúncio da Paz.
Preocupado com o desconhecimento da música instrumental portuguesa do
período clássico, uma das ideias que trazia em mente era fundar em
Portugal uma sociedade de concertos ao estilo da Philharmonic Society londrina, esta fundada em Londres em 1812. Pretendia deste modo preencher uma grave lacuna na cultura musical portuguesa.
Mas o ambiente que se vivia em Portugal, tornara-se ainda mais difícil
do que aquele que deixara em 1801 devido à ingerência inglesa na
política portuguesa, à ausência da Corte portuguesa no Brasil e o
agravamento da repressão contra a Maçonaria Portuguesa e contra todos os
que ousavam defender os princípios liberais do constitucionalismo.
Deste modo decide regressar a Londres onde publica Três Sonatas para Piano e Violino. Op. 18 e, Elementos de Música e Método para Tocar Piano Forte, Op. 19, a sua principal obra pedagógica que dedicou à “nação portuguesa”. Além disso compôs ainda, Grande Sonata para Piano. Op. 20, Fantasia e Variações para Piano sobre a Ária de Mozart «Soyez Sensibles». Op. 21, uma Ária da Ópera Alessandro in Efeso composta e arranjada para Piano, Op. 22, uma Valsa e uma Marcha.
Em 1816, passa por Paris e regressa a Lisboa aquando da morte de D. Maria I no Brasil. Em 1817 o General Gomes Freyre
é enforcado no Forte de S. Julião da Barra e este ambiente de
repressão leva-o a Paris, de novo em 1818, mas também aí a crispação
política não propicia às artes. De regresso a Portugal, dedica-se à
composição da que é considerada a sua obra-prima, o Requiem Op.23, (À memória de Camões), integrada no mesmo espírito de revivalismo que tinha originado a publicação em França da famosa edição de Os Lusíadas pelo Morgado de Mateus (1817). Este requiem é talvez o mais importante composto entre o Requiem de Mozart (1791) e o de Berlioz (1837).
João Domingos Bomtempo volta a sair do país para, em 9 de março de
1821, apenas alguns meses depois da Revolução de 1820, oferecer ao
Soberano Congresso, uma nova missa de homenagem à regeneração política
portuguesa. Esta missa foi cantada na Igreja de S. Domingos no dia 28 de
março, seguida de um Te Deum mas, realizada a homenagem à nação, Bomtempo pode então assumir o que não podia antes e, compõe uma nova Missa de Requiem,
desta vez, à memória de Gomes Freyre de Andrade e aos supliciados de
1817. Agora, já o nome do prestigiado General e grão-mestre da Maçonaria
Portuguesa podia ser evocado, sem os riscos que essa atitude
comportaria, alguns anos antes.
João Domingos Bomtempo alcançou a estima de D. João VI e dirigiu as
exéquias fúnebres de D. Maria I, quando os seus restos mortais chegaram a
Lisboa. Conseguiu obter as condições que lhe permitiram fundar a
ambicionada Sociedade Filarmónica, que iniciou a sua actividade em
agosto de 1822, com a realização de concertos periódicos. No entanto, a
política interpõe-se uma vez mais no seu caminho, quando a reacção
miguelista lhe proíbe a realização dos concertos então levados a palco
na Rua Nova do Carmo e mesmo após a sua reabertura - no insuspeito
palácio velho do duque de Cadaval, onde é hoje a estação do Rossio –
pela influência de alguns fidalgos admiradores de Bomtempo, viu as suas
portas serem definitivamente fechadas após os acontecimentos de 1828
(aclamação do Rei D. Miguel - Guerras Liberais), altura em que o Absolutismo
volta ao poder. Este foi um período difícil na vida do compositor
português, quando até a sua integridade física esteve seriamente
ameaçada. Acabou por ter de se refugiar no Consulado da Rússia em
Portugal, mantendo-se aí durante cinco anos, até à chegada a Lisboa das
forças liberais de D. Pedro.
Com o constitucionalismo, João Domingos Bomtempo pôde retomar a sua
actividade artística e é nomeado, por D. Pedro IV, professor da rainha
D. Maria II. Em 1835, compõe para celebrar o primeiro aniversário da
morte de D. Pedro IV, uma Segunda Sinfonia e um Libera Me. Em
1836, é criado, sob inspiração de Almeida Garrett, o Conservatório Geral
de Arte Dramática, sendo entregue a Bomtempo a Direcção da sua Escola
de Música, mantendo-se como chefe da Orquestra da Corte e onde acumulou
também as funções de professor de piano. Aí pretendeu implantar um
novo modelo de pedagogia musical, contando para isso com o recurso aos
métodos do seu amigo Muzio Clementi, sem dúvida um dos mais notáveis
mestres do piano do seu tempo, na altura já falecido. Embora se dedique
mais ao ensino, continua a compor até 1842, data em que compõe e
dirige uma missa festiva que seria executada, na Igreja dos Caetanos,
por professores e alunos do Conservatório. Viria a morrer alguns dias
depois, a 18 de agosto de 1842, vítima de uma "apoplexia".
Alguns esforços têm sido feitos para divulgar a música de João Domingos
Bomtempo, nomeadamente algumas gravações, mas a grande parte mantém-se
desconhecida e inédita. As suas composições compreendem concertos,
sonatas, fantasias e variações, compostas para piano-forte,
desde sempre o seu instrumento preferido e do qual foi exímio
intérprete. Conhecem-se também duas sinfonias, embora se admita a
existência de mais cinco, que transmitem de um modo mais flagrante a sua
personalidade musical e as suas influências invulgares para compositor
ibérico da época, nomeadamente influências germânicas clássicas. São
ainda de destacar alguns trabalhos corais-sinfónicos como o já o
referido Requiem em memória de Camões e outros e ainda alguns fragmentos a ópera Alessandro in Efeso.
A música de Bomtempo, apesar de revestida de inegável qualidade e de
ter alargado o panorama musical português da época, não é vanguardista,
sendo mesmo menos moderna que a de Haydn e Mozart e muito menos do que a de Beethoven
(seu contemporâneo e compositor de transição clássico-romântico). Por
último é importante referir que João Domingos Bomtempo foi sempre
defensor dos valores portugueses e na sua obra assumem posição de relevo
os valores da liberdade individual e da soberania da nação portuguesa.
Apesar de estreitamente ligado aos círculos do novo poder liberal (foi deputado às Cortes e precetor do futuro Rei D. Pedro V), recusou fazer parte do primeiro Governo da Regeneração, chefiado pelo Duque de Saldanha.
Recusou honrarias e condecorações e, a par da sua obra literária e
científica, de que nunca se afastou inteiramente, preferiu retirar-se
progressivamente para um exílio que tinha tanto de vocação como de
desilusão.
Minha Pátria onde existe? ..................................É lá somente! Oh lembrança da Pátria acabrunhada Um suspiro também tu me hás pedido; Um suspiro arrancado aos seios d'alma Pela ofuscada glória, e pelos crimes Dos homens que ora são, e pelo opróbrio Da mais ilustre das nações da terra! A minha triste Pátria era tão bela, E forte, e virtuosa! e ora o guerreiro E o sábio e o homem bom acolá dormem, Acolá, nos sepulcros esquecidos, Que a seus netos infames nada contam Da antiga honra e pudor e eternos feitos. O escravo português agrilhoado Carcomir-se lhes deixa junto às lousas Os decepados troncos desse arbusto, Por mãos deles plantado à liberdade, E por tiranos derribado em breve, Quando pátrias virtudes se acabaram, Como um sonho da infância!... .................................Oh vil escravo, Imerso em vícios, em bruteza e infâmia, Não erguerá os macerados olhos Para esses troncos, que destroem vermes Sobre as cinzas de heróis, e, aceso em pejo, Não surgirá jamais? - Não há na terra Coração português, que mande um brado De maldição atroz, que vá cravar-se Na vigília e no sono dos tiranos, E envenenar-lhes o prazer por noites De vil prostituição, e em seus banquetes De embriaguez lançar fel e amarguras? Não! - Bem como um cadáver já corrupto, A nação se dissolve: e em seu letargo O povo, involto na miséria, dorme.
XXV
Oh, talvez, como o vate, ainda algum dia Terei de erguer à Pátria hino de morte, Sobre seus mudos restos vagueando! Sobre seus restos? - Nunca! Eterno, escuta Minhas preces e lágrimas: - se em breve, Qual jaz Sião, jazer deve Ulisseia; Se o anjo do extermínio há-de riscá-la Do meio das nações, que d'entre os vivos Risque também meu nome, e não me deixe Na terra vaguear, órfão de Pátria.
A batalha da Asseiceira travou-se na povoação de Asseiceira, perto de Tomar, a 16 de maio de 1834. Fez parte das guerras civis entre liberais e miguelistas,
onde estes últimos foram derrotados. Além de mortos e feridos em grande
número, os absolutistas deixaram 1.400 prisioneiros nas mãos dos
liberais. Esta batalha pôs termo ao reinado de D. Miguel, obrigado a recolher-se a Évora Monte, onde foi assinada a paz e de onde o monarca partiu para o exílio.
Como liberal que era, teve como preocupação maior, estabelecida nas suas acções políticas e seus escritos, sobretudo em condenar o absolutismo e a intolerância da coroa no século XVI para denunciar o perigo do retorno a um centralismo da monarquia em Portugal.
Minha Pátria onde existe? ..................................É lá somente! Oh lembrança da Pátria acabrunhada Um suspiro também tu me hás pedido; Um suspiro arrancado aos seios d'alma Pela ofuscada glória, e pelos crimes Dos homens que ora são, e pelo opróbrio Da mais ilustre das nações da terra! A minha triste Pátria era tão bela, E forte, e virtuosa! e ora o guerreiro E o sábio e o homem bom acolá dormem, Acolá, nos sepulcros esquecidos, Que a seus netos infames nada contam Da antiga honra e pudor e eternos feitos. O escravo português agrilhoado Carcomir-se lhes deixa junto às lousas Os decepados troncos desse arbusto, Por mãos deles plantado à liberdade, E por tiranos derribado em breve, Quando pátrias virtudes se acabaram, Como um sonho da infância!... .................................Oh vil escravo, Imerso em vícios, em bruteza e infâmia, Não erguerá os macerados olhos Para esses troncos, que destroem vermes Sobre as cinzas de heróis, e, aceso em pejo, Não surgirá jamais? - Não há na terra Coração português, que mande um brado De maldição atroz, que vá cravar-se Na vigília e no sono dos tiranos, E envenenar-lhes o prazer por noites De vil prostituição, e em seus banquetes De embriaguez lançar fel e amarguras? Não! - Bem como um cadáver já corrupto, A nação se dissolve: e em seu letargo O povo, involto na miséria, dorme.
XXV
Oh, talvez, como o vate, ainda algum dia Terei de erguer à Pátria hino de morte, Sobre seus mudos restos vagueando! Sobre seus restos? - Nunca! Eterno, escuta Minhas preces e lágrimas: - se em breve, Qual jaz Sião, jazer deve Ulisseia; Se o anjo do extermínio há-de riscá-la Do meio das nações, que d'entre os vivos Risque também meu nome, e não me deixe Na terra vaguear, órfão de Pátria.
A Batalha de Almoster (por vezes também referida como Batalha de Santa Maria ou da Ponte de Santa Maria) foi travada em 18 de fevereiro de 1834, saldando-se por uma vitória das tropas liberais, comandadas pelo Marechal Saldanha, sobre as chamadas tropas absolutistas, ou legitimistas, comandadas pelo General Lemos.
Santarém era o fulcro da guerra civil, mas o domínio da facção miguelista não existia apenas nesta cidade. Com efeito, apesar de várias vitórias liberais, no Norte as províncias de Trás-os-Montes, Minho e Beira Alta estavam ainda em poder de D. Miguel, que contava além disso com um vasto número de milícias que lhe eram fiéis no sul do País.
Foi então que Saldanha,
comandante das forças liberais, estabeleceu o plano de, sem deixar de
manter o cerco a Santarém, atacar com uma parte das suas tropas as
cidades de Leiria e Coimbra,
o que teria por efeito isolar os miguelistas que resistiam na capital
ribatejana. As tropas de Saldanha fizeram a sua junção, em Rio Maior, com as que ele mandara ir de Lisboa e, em 16 de janeiro de 1834,
foi lançado, por dois lados, o ataque a Leiria. Vendo-se na iminência
de ficar com a retirada cortada, os miguelistas abandonaram sem demora o
Castelo de Leiria e tentaram refugiar-se em Coimbra. Seguidamente, nos primeiros dias de fevereiro, o General Póvoas, comandante das tropas miguelistas, pôs em execução um plano para atacar os liberais que ocupavam Pernes e os que cercavam Santarém.
Prevendo a possibilidade de tal tentativa, Saldanha tomou as
precauções necessárias, fazendo com que o plano se gorasse. Póvoas
estabeleceu então novo projecto, que se baseava num ataque a Ponte de Asseca
- em poder dos liberais - a fim de abrir caminho para Lisboa, onde
deveria eclodir uma revolução miguelista. Dividindo-se em dois, no dia 18 de Fevereiro
os miguelistas fizeram marchar as cerca de 4000 tropas do general
Póvoas sobre Ponte de Asseca, embora sem efectuarem um ataque em larga
escala que lhes permitisse conquistar posições. O seu objectivo era
fazer uma manobra de diversão, para que fosse o General Lemos, que
enquanto isso avançava com entre 4500 e 5000 homens em direcção a
Almoster e Santa Maria, a romper as linhas dos liberais. Estes viam-se
assim obrigados a estender a sua cortina defensiva, enfraquecendo-a.
Contudo, os comandados de Saldanha tinham a seu favor o facto de o
terreno por si ocupado ser extremamente difícil de conquistar, pois
formava um desfiladeiro estreito, entre colinas cobertas de mato denso.
Embora Saldanha viesse mais tarde a ficar com a fama de ter
compreendido desde logo os intuitos de Lemos, armando por isso uma
cilada aos miguelistas, ao alegadamente permitir de forma deliberada que
estes subissem o desfiladeiro uma vez passada a ponte de Santa Maria,
tal teoria carece de qualquer fundamento tendo em conta os relatos da
batalha de Luz Soriano e de outras crónicas coevas, tais como a do Barão de Saint Pardoux
(A Guerra Civil em Portugal - 1833-1834). Segundo se depreende claramente
da leitura de Luz Soriano, os liberais
limitaram-se a seguir os movimentos dos miguelistas, respondendo-lhes
apressadamente quando estes decidiram avançar, tendo Saldanha, mesmo
nessa altura, dado mostras de grande indecisão.
Atacando então primeiro em campo aberto e, uma vez passada a ponte,
pelo desfiladeiro acima (sempre debaixo de fogo inimigo), a infantaria
miguelista foi conquistando terreno com grande bravura, mas à custa de
pesadas baixas. Assim perderam a vida o General Santa Clara, quando carregava o inimigo, à frente das suas tropas, e o Brigadeiro Brassaget,
que prontamente o substituiu na vanguarda, ao vê-lo cair. A sorte das
armas manteve-se indecisa até ao momento em que, "por iniciativa
própria", segundo Luz Soriano, o coronel Queirós
vislumbrou a hipótese de atacar os miguelistas de flanco e, à frente
dos Batalhões de Caçadores nº 2 e nº 12, cortou-lhes a retirada para a
ponte de Santa Maria, ao passo que, com os Regimentos de Infantaria nº 3 e
nº 6, o brigadeiro Brito lançava uma impetuosa carga à baioneta, ficando o nº1 de reserva. Quanto a Saldanha, comandava pessoalmente o Infantaria nº1 - o mesmo Regimento com que detivera, com notável mestria, mais de 20 anos antes, a célebre carga do Buçaco - e manteve-se sempre na retaguarda.
Só nessa altura os soldados de D. Miguel compreenderam a terrível
situação em que se encontravam. Vendo a sua infantaria em riscos de ser
dizimada, o General Lemos ainda fez avançar a cavalaria, mas o Brigadeiro Bacon,
à cabeça dos experientes Lanceiros da Rainha (que, à semelhança do que
acontecia em todo o exército liberal, contavam com um assinalável número
de mercenários estrangeiros), gorou mais esse intento dos miguelistas. A
derrota destes foi pesada, e as suas perdas excederam um milhar de
homens. No entanto, a forma como retiraram foi, do ponto de vista
militar, irrepreensível, o que evitou um número de baixas ainda maior.
Do lado liberal houve também baixas de vulto a lamentar, tendo sido
particularmente sentida a morte do Coronel Miranda.
Esta Batalha de Almoster significou, na opinião de muitos, o desmoronar das esperanças do irmão de D. Pedro IV de reconquistar Lisboa e, possivelmente, de vencer a guerra.
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu com o
nome de João Leitão da Silva no Porto, a 4 de fevereiro de 1799, filho
segundo de António Bernardo da Silva Garrett, selador-mor da Alfândega
do Porto, e Ana Augusta de Almeida Leitão. Mais tarde viria a
escrever a este propósito: "Nasci no Porto, mas criei-me em Gaia". No
período de sua adolescência foi viver para os Açores, na ilha Terceira, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio, D. Alexandre, Bispo de Angra.
De seguida, em 1816 foi para Coimbra, onde acabou por se matricular no curso de Direito. Em 1821 publicou O Retrato de Vénus,
trabalho que fez com que lhe pusessem um processo por ser considerado
materialista, ateu e imoral. É também neste ano que ele e sua família
passam a usar o apelido de Almeida Garrett.
Em 1852 é eleito novamente deputado, e de 4 a 17 de agosto será
ministro dos Negócios Estrangeiros. A sua última intervenção no
Parlamento será em março de 1854, em que ataca o governo, na pessoa de
Rodrigo de Fonseca Magalhães.
Falece a 9 de dezembro de 1854, vítima de um cancro de origem hepática, na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, Lisboa. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, tendo sido trasladado, a 8 de março de 1926, para o Panteão Nacional, à data no Mosteiro dos Jerónimos. Encontra-se actualmente no Panteão Nacional, na Igreja de Santa Engrácia.
Era assim, tinha esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar,
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.
Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.
Era assim; o seu falar,
Ingénuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.
Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume ,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.
Mas não és tu... ai!, não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.
Na localidade de Pernes ocorreram, com pouco tempo a separar os dois eventos, duas refregas militares. A primeira, o Combate de Pernes foi uma batalha ocorrida na vila portuguesa de Pernes, em 1833.
Assim, a 11 de novembro de 1833, Pernes foi palco de uma batalha entre tropas do Marechal Saldanha e as tropas Miguelistas que guardavam os moinhos da Ribeira de Pernes, onde se abastecia de farinha o Rei D. Miguel e as suas tropas acantonadas em Almeirim.
As tropas do Marechal Saldanha, numa acção de surpresa, conseguem
destruir grande parte dos moinhos e pôr em debandada as tropas de D.
Miguel.
Já no ano seguinte, a 30 de janeiro de 1834, dá-se, porém, a Grande Batalha de Pernes, que ficou conhecida na história como a Retirada de Pernes, em que as tropas do Marechal (e futuro Duque) de Saldanha infligem pesada derrota às tropas de D. Miguel, chefiadas pelo Marechal de CampoCanavarro, com cerca de 900 baixas, a maior parte afogados no Rio Alviela.
Batalha decisiva para pôr termo à Guerra Civil entre Liberais e
Miguelistas, nesta batalha tem acção preponderante o Tenente General Pedro Paulo Ferreira de Sousa, a quem virá a ser atribuído o título de 1º Barão de Pernes.
A batalha da Asseiceira travou-se na povoação de Asseiceira, perto de Tomar, a 16 de maio de 1834. Fez parte das guerras civis entre liberais e miguelistas,
onde estes últimos foram derrotados. Além de mortos e feridos em grande
número, os absolutistas deixaram 1.400 prisioneiros nas mãos dos
liberais. Esta batalha pôs termos ao reinado de D. Miguel, obrigado a recolher-se a Évora Monte, onde foi assinada a paz e de onde o monarca partiu para o exílio.
A Batalha de Almoster (por vezes também referida como Batalha de Santa Maria ou da Ponte de Santa Maria) foi travada em 18 de fevereiro de 1834, saldando-se por uma vitória das tropas liberais, comandadas pelo Marechal Saldanha, sobre as chamadas tropas absolutistas, ou legitimistas, comandadas pelo General Lemos.
Santarém era o fulcro da guerra civil, mas o domínio da facção miguelista não existia apenas nesta cidade. Com efeito, apesar de várias vitórias liberais, no Norte as províncias de Trás-os-Montes, Minho e Beira Alta estavam ainda em poder de D. Miguel, que contava além disso com um vasto número de milícias que lhe eram fiéis no sul do País.
Foi então que Saldanha,
comandante das forças liberais, estabeleceu o plano de, sem deixar de
manter o cerco a Santarém, atacar com uma parte das suas tropas as
cidades de Leiria e Coimbra,
o que teria por efeito isolar os miguelistas que resistiam na capital
ribatejana. As tropas de Saldanha fizeram a sua junção, em Rio Maior, com as que ele mandara ir de Lisboa e, em 16 de janeiro de 1834,
foi lançado, por dois lados, o ataque a Leiria. Vendo-se na iminência
de ficar com a retirada cortada, os miguelistas abandonaram sem demora o
Castelo de Leiria e tentaram refugiar-se em Coimbra. Seguidamente, nos primeiros dias de fevereiro, o General Póvoas, comandante das tropas miguelistas, pôs em execução um plano para atacar os liberais que ocupavam Pernes e os que cercavam Santarém.
Prevendo a possibilidade de tal tentativa, Saldanha tomou as
precauções necessárias, fazendo com que o plano se gorasse. Póvoas
estabeleceu então novo projecto, que se baseava num ataque a Ponte de Asseca
- em poder dos liberais - a fim de abrir caminho para Lisboa, onde
deveria eclodir uma revolução miguelista. Dividindo-se em dois, no dia 18 de Fevereiro
os miguelistas fizeram marchar as cerca de 4000 tropas do general
Póvoas sobre Ponte de Asseca, embora sem efectuarem um ataque em larga
escala que lhes permitisse conquistar posições. O seu objectivo era
fazer uma manobra de diversão, para que fosse o General Lemos, que
enquanto isso avançava com entre 4500 e 5000 homens em direcção a
Almoster e Santa Maria, a romper as linhas dos liberais. Estes viam-se
assim obrigados a estender a sua cortina defensiva, enfraquecendo-a.
Contudo, os comandados de Saldanha tinham a seu favor o facto de o
terreno por si ocupado ser extremamente difícil de conquistar, pois
formava um desfiladeiro estreito, entre colinas cobertas de mato denso.
Embora Saldanha viesse mais tarde a ficar com a fama de ter
compreendido desde logo os intuitos de Lemos, armando por isso uma
cilada aos miguelistas, ao alegadamente permitir de forma deliberada que
estes subissem o desfiladeiro uma vez passada a ponte de Santa Maria,
tal teoria carece de qualquer fundamento tendo em conta os relatos da
batalha de Luz Soriano e de outras crónicas coevas, tais como a do Barão de Saint Pardoux
(A Guerra Civil em Portugal - 1833-1834). Segundo se depreende claramente
da leitura de Luz Soriano, os liberais
limitaram-se a seguir os movimentos dos miguelistas, respondendo-lhes
apressadamente quando estes decidiram avançar, tendo Saldanha, mesmo
nessa altura, dado mostras de grande indecisão.
Atacando então primeiro em campo aberto e, uma vez passada a ponte,
pelo desfiladeiro acima (sempre debaixo de fogo inimigo), a infantaria
miguelista foi conquistando terreno com grande bravura, mas à custa de
pesadas baixas. Assim perderam a vida o General Santa Clara, quando carregava o inimigo, à frente das suas tropas, e o Brigadeiro Brassaget,
que prontamente o substituiu na vanguarda, ao vê-lo cair. A sorte das
armas manteve-se indecisa até ao momento em que, "por iniciativa
própria", segundo Luz Soriano, o coronel Queirós
vislumbrou a hipótese de atacar os miguelistas de flanco e, à frente
dos Batalhões de Caçadores nº 2 e nº 12, cortou-lhes a retirada para a
ponte de Santa Maria, ao passo que, com os Regimentos de Infantaria nº 3 e
nº 6, o brigadeiro Brito lançava uma impetuosa carga à baioneta, ficando o nº1 de reserva. Quanto a Saldanha, comandava pessoalmente o Infantaria nº1 - o mesmo Regimento com que detivera, com notável mestria, mais de 20 anos antes, a célebre carga do Buçaco - e manteve-se sempre na retaguarda.
Só nessa altura os soldados de D. Miguel compreenderam a terrível
situação em que se encontravam. Vendo a sua infantaria em riscos de ser
dizimada, o General Lemos ainda fez avançar a cavalaria, mas o Brigadeiro Bacon,
à cabeça dos experientes Lanceiros da Rainha (que, à semelhança do que
acontecia em todo o exército liberal, contavam com um assinalável número
de mercenários estrangeiros), gorou mais esse intento dos miguelistas. A
derrota destes foi pesada, e as suas perdas excederam um milhar de
homens. No entanto, a forma como retiraram foi, do ponto de vista
militar, irrepreensível, o que evitou um número de baixas ainda maior.
Do lado liberal houve também baixas de vulto a lamentar, tendo sido
particularmente sentida a morte do Coronel Miranda.
Esta Batalha de Almoster significou, na opinião de muitos, o desmoronar das esperanças do irmão de D. Pedro IV de reconquistar Lisboa e, possivelmente, de vencer a guerra.
Na localidade de Pernes ocorreram, com pouco tempo a separar os dois eventos, duas refregas militares. A primeira, o Combate de Pernes foi uma batalha ocorrida na vila portuguesa de Pernes, em 1833.
Assim, a 11 de novembro de 1833, Pernes foi palco de uma batalha entre tropas do Marechal Saldanha e as tropas Miguelistas que guardavam os moinhos da Ribeira de Pernes, onde se abastecia de farinha o Rei D. Miguel e as suas tropas acantonadas em Almeirim.
As tropas do Marechal Saldanha, numa acção de surpresa, conseguem
destruir grande parte dos moinhos e pôr em debandada as tropas de D.
Miguel.
Já no ano seguinte, a 30 de janeiro de 1834, dá-se, porém, a Grande Batalha de Pernes, que ficou conhecida na história como a Retirada de Pernes, em que as tropas do Marechal (e futuro Duque) de Saldanha infligem pesada derrota às tropas de D. Miguel, chefiadas pelo Marechal de CampoCanavarro, com cerca de 900 baixas, a maior parte afogados no Rio Alviela.
Batalha decisiva para pôr termo à Guerra Civil entre Liberais e
Miguelistas, nesta batalha tem acção preponderante o Tenente General Pedro Paulo Ferreira de Sousa, a quem virá a ser atribuído o título de 1º Barão de Pernes.
Em 1801 o músico decide ir para França, contrariando o costume dos músicos portugueses da época, que seria de uma eventual continuação dos seus estudos em Itália. Assim, nesta data, no rescaldo da assinatura do Tratado de Badajoz e com o agravamento das condições políticas e militares, vai para Paris, onde encontra o melhor ambiente para desenvolver a sua vocação musical e onde conviveu com o grupo de exilados adeptos das novas correntes filosóficas e políticas, que se reuniam à volta do egrégio poeta Filinto Elísio. Com esta atitude comprometeu a sua carreira no campo operático. Acolhido por este grupo de emigrantes que partilham as suas ideias liberais inicia uma carreira de pianista virtuoso à maneira de Clementi, Cramer, Dussek (músico muito apreciado por Chopin) e outros, ao mesmo tempo que estreia ele mesmo algumas das suas primeiras composições. São, dessa época, a Grande Sonata para Piano, dedicada a Sua Alteza Real, a Princesa de Portugal. Op. 1, o Primeiro Concerto em Mi bemol para Piano e Orquestra, Op. 2, o Segundo Concerto para Piano, Op. 3, as Variações sobre o «Minueto Afandangado», Op. 4 e ainda a Grande Sonate Pour le Forte Piano Composée et Dediée à Madame de Genlie, Op. 5.
As primeiras obras de Bomtempo foram muito apreciados pelos parisienses e prontamente publicadas pelas casas Leduc e Pleyel em Paris. Estas obras têm forte inspiração em Clementi.
Quando em 1804 atinge uma fama realmente importante, aparece, entre outros lugares, na Salle Olympique como pianista e compositor.
Entretanto, em Portugal, as tropas de Napoleão sofriam pesadas derrotas infligidas pelo exército luso-inglês e a sua situação em França começou a tornar-se delicada, pelo que vai para Londres em 1810, ano em que a sua 1ª Sinfonia é alvo dos maiores elogios por parte da crítica parisiense. Na capital britânica é uma vez mais bem recebido pela comunidade portuguesa. Também algumas famílias da aristocracia inglesa lhes dão as boas vindas especialmente como professor de piano. É então que se começa a relacionar com alguns dos mais importantes músicos do seu tempo como Muzio Clementi e John Field e é professor da filha de Lady Hamilton.
O contacto com Clementi, a quem o ligavam laços de amizade desde Paris, torna-se mais frequente e é na editora do músico italiano que Bomtempo publicará a maior parte das suas obras. Publica Variações sobre um tema de Paesiello - Nel cor piú non mi sento, Op. 6, o Terceiro Concerto para Piano, Op. 7, o Capricho e Variações sobre o «God Save The King», Op. 8, Três grandes sonatas para Piano, Op. 9, entre muitas outras obras. Dado o perfil das pessoas com que se relaciona é provável que date desta época a sua iniciação na Maçonaria.
Em 13 de maio de 1813, D. Domingos António de Sousa Coutinho, Conde do Funchal, diplomata, ao tempo embaixador de Portugal em Londres, realiza um grande festival com dois propósitos: o de celebrar o aniversário daquele que viria a ser o rei D. João VI e a expulsão do exército francês do território português, em consequência da derrota de Massena. Influenciado pela euforia que se instalara após a vitória luso-britânica, João Domingos Bomtempo compõe uma cantata intitulada Hino Lusitano. Op. 10, sobre versos do poeta liberal Dr. Vicente Pedro Nolasco da Cunha. Neste festival apresentou-se perante uma audiência de personalidades que incluía a quase totalidade do Conselho de Ministros britânico. As obras compostas nesse período incluem a Primeira Grande Sinfonia. Op. 11, executada pela primeira vez em Londres em 1810, o Quarto Concerto para Piano. Op. 12, executado pelo autor em Hannover Square, Uma Sonata Fácil para Piano. Op. 13, Grande Fantasia para Piano. Op. 14, que dedica a um ilustre emigrado, liberal e seu particular amigo, Ferreira Pinto, Duas Sonatas e Uma Ária Popular com Variações para Piano. Op. 15 e um Quinteto para Piano. Op. 16.
Em 1815, após o congresso de Viena, regressou a Portugal no contexto de uma Europa pacificada. Nesta sequência compõe A Paz da Europa, Cantata. Op. 17, que teria uma edição em Portugal, em versão reduzida com o título O Anúncio da Paz. Preocupado com o desconhecimento da música instrumental portuguesa do período clássico, uma das ideias que trazia em mente era fundar em Portugal uma sociedade de concertos ao estilo da Philharmonic Society londrina, esta fundada em Londres em 1812. Pretendia deste modo preencher uma grave lacuna na cultura musical portuguesa.
Mas o ambiente que se vivia em Portugal, tornara-se ainda mais difícil do que aquele que deixara em 1801 devido à ingerência inglesa na política portuguesa, à ausência da Corte portuguesa no Brasil e o agravamento da repressão contra a Maçonaria Portuguesa e contra todos os que ousavam defender os princípios liberais do constitucionalismo. Deste modo decide regressar a Londres onde publica Três Sonatas para Piano e Violino. Op. 18 e, Elementos de Música e Método para Tocar Piano Forte, Op. 19, a sua principal obra pedagógica que dedicou à “nação portuguesa”. Além disso compôs ainda, Grande Sonata para Piano. Op. 20, Fantasia e Variações para Piano sobre a Ária de Mozart «Soyez Sensibles». Op. 21, uma Ária da Ópera Alessandro in Efeso composta e arranjada para Piano, Op. 22, uma Valsa e uma Marcha.
Em 1816, passa por Paris e regressa a Lisboa aquando da morte de D. Maria I no Brasil. Em 1817 o General Gomes Freyre é enforcado no Forte de S. Julião da Barra e este ambiente de repressão leva-o a Paris, de novo em 1818, mas também aí a crispação política não propicia às artes. De regresso a Portugal, dedica-se à composição da que é considerada a sua obra-prima, o Requiem Op.23, (À memória de Camões), integrada no mesmo espírito de revivalismo que tinha originado a publicação em França da famosa edição de Os Lusíadas pelo Morgado de Mateus (1817). Este requiem é talvez o mais importante composto entre o Requiem de Mozart (1791) e o de Berlioz (1837).
João Domingos Bomtempo volta a sair do país para, em 9 de março de 1821, apenas alguns meses depois da Revolução de 1820, oferecer ao Soberano Congresso, uma nova missa de homenagem à regeneração política portuguesa. Esta missa foi cantada na Igreja de S. Domingos no dia 28 de março, seguida de um Te Deum mas, realizada a homenagem à nação, Bomtempo pode então assumir o que não podia antes e, compõe uma nova Missa de Requiem, desta vez, à memória de Gomes Freyre de Andrade e aos supliciados de 1817. Agora, já o nome do prestigiado General e grão-mestre da Maçonaria Portuguesa podia ser evocado, sem os riscos que essa atitude comportaria, alguns anos antes.
João Domingos Bomtempo alcançou a estima de D. João VI e dirigiu as exéquias fúnebres de D. Maria I, quando os seus restos mortais chegaram a Lisboa. Conseguiu obter as condições que lhe permitiram fundar a ambicionada Sociedade Filarmónica, que iniciou a sua actividade em agosto de 1822, com a realização de concertos periódicos. No entanto, a política interpõe-se uma vez mais no seu caminho, quando a reacção miguelista lhe proíbe a realização dos concertos então levados a palco na Rua Nova do Carmo e mesmo após a sua reabertura - no insuspeito palácio velho do duque de Cadaval, onde é hoje a estação do Rossio – pela influência de alguns fidalgos admiradores de Bomtempo, viu as suas portas serem definitivamente fechadas após os acontecimentos de 1828 (aclamação do Rei D. Miguel - Guerras Liberais), altura em que o Absolutismo volta ao poder. Este foi um período difícil na vida do compositor português, quando até a sua integridade física esteve seriamente ameaçada. Acabou por ter de se refugiar no Consulado da Rússia em Portugal, mantendo-se aí durante cinco anos, até à chegada a Lisboa das forças liberais de D. Pedro.
Com o constitucionalismo, João Domingos Bomtempo pôde retomar a sua actividade artística e é nomeado, por D. Pedro IV, professor da rainha D. Maria II. Em 1835, compõe para celebrar o primeiro aniversário da morte de D. Pedro IV, uma Segunda Sinfonia e um Libera Me. Em 1836, é criado, sob inspiração de Almeida Garrett, o Conservatório Geral de Arte Dramática, sendo entregue a Bomtempo a Direcção da sua Escola de Música, mantendo-se como chefe da Orquestra da Corte e onde acumulou também as funções de professor de piano. Aí pretendeu implantar um novo modelo de pedagogia musical, contando para isso com o recurso aos métodos do seu amigo Muzio Clementi, sem dúvida um dos mais notáveis mestres do piano do seu tempo, na altura já falecido. Embora se dedique mais ao ensino, continua a compor até 1842, data em que compõe e dirige uma missa festiva que seria executada, na Igreja dos Caetanos, por professores e alunos do Conservatório. Viria a morrer alguns dias depois, a 18 de agosto de 1842, vítima de uma "apoplexia".
Alguns esforços têm sido feitos para divulgar a música de João Domingos Bomtempo, nomeadamente algumas gravações, mas a grande parte mantém-se desconhecida e inédita. As suas composições compreendem concertos, sonatas, fantasias e variações, compostas para piano-forte, desde sempre o seu instrumento preferido e do qual foi exímio intérprete. Conhecem-se também duas sinfonias, embora se admita a existência de mais cinco, que transmitem de um modo mais flagrante a sua personalidade musical e as suas influências invulgares para compositor ibérico da época, nomeadamente influências germânicas clássicas. São ainda de destacar alguns trabalhos corais-sinfónicos como o já o referido Requiem em memória de Camões e outros e ainda alguns fragmentos a ópera Alessandro in Efeso.
A música de Bomtempo, apesar de revestida de inegável qualidade e de ter alargado o panorama musical português da época, não é vanguardista, sendo mesmo menos moderna que a de Haydn e Mozart e muito menos do que a de Beethoven (seu contemporâneo e compositor de transição clássico-romântico). Por último é importante referir que João Domingos Bomtempo foi sempre defensor dos valores portugueses e na sua obra assumem posição de relevo os valores da liberdade individual e da soberania da nação portuguesa.